O CÂNONE ROMÂNTICO E O POETA SEM LIVRO1 Wilton José Marques (UFSCar/UNESP) Como riscar este homem de nossa história literária, se sua produção maítresse é um dos mais saborosos frutos da poesia nacional? Sílvio Romero, História da literatura brasileira O CÂNONE ROMÂNTICO Em qualquer sociedade culturalmente letrada, a gestação da tradição literária e, por consequência, a própria escolha das obras que devam ou não figurar nos respectivos cânones literários são resultantes de longos e lentos processos históricos, marcados pela natural pluralidade de juízos de valor. Tais definições, além de passarem pela inevitável prova de fogo do necessário reconhecimento de valores culturais em comum ajustados às especificidades da consciência coletiva local, passam tanto pela necessidade cotidiana de fixação e/ou revisão de leituras, estabelecidas a partir de olhares críticos dos mais diversos matizes, inclusive, ideológicos, e relacionando-se, dessa forma, com a própria manutenção e reprodução do poder social;2 quanto pela eventual força de ressonância pública que, porventura, determinada obra possa, individualmente, vir a estabelecer com a sociedade em que está inserida, seja no seu presente tempo histórico, seja num incerto tempo futuro. Afinal de contas, não custa lembrar que as diversas literaturas ocidentais não são formadas apenas e tão somente por obras de alta qualidade estética, a obra de menor qualidade – como já observou Antonio Candido – também atua na consolidação de um movimento literário,3 notadamente, acrescente-se aqui, em nações periféricas, onde a literatura, mais sensível aos influxos externos, necessita de muito mais tempo para a devida maturação. Aliás, nesse sentido, Machado de Assis, em famoso ensaio, já 1 O presente texto é parte integrante da pesquisa – O poeta sem livro – que procura reavaliar a importância da “Nênia ao meu bom amigo o Dr. Francisco Bernardino Ribeiro”, de Firmino Rodrigues Silva, na tradição romântica brasileira. Este poema, que sempre aparece ao longo da história literária oitocentista, é considerado, por alguns críticos, um dos primeiros de feição propriamente indianista do Romantismo brasileiro. 2 Cf. Terry Eagleton. “O que é literatura?”. In: Teoria da literatura: uma introdução. Trad. Waltensir Dutra. São Paulo: Martins Fontes, 1983, pp. 1-17. 3 Cf. Antonio Candido. “O direito à literatura”. In: Vários escritos, 4ª Ed., Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul, 2004, p. 182. havia chamado a atenção dos literatos brasileiros para o fato de que a desejada “independência literária”, tão acalentada pelos românticos, não teria “Sete de Setembro nem campo do Ipiranga”, já que, para o autor carioca, tal independência “não se fará num dia, mas pausadamente, para sair mais duradoura; não será obra de uma geração nem duas; muitas trabalharão para ela até perfazê-la de todo”.4 De todo modo, convém não perder de vista que cabia aos críticos românticos a tarefa de não apenas indicar para o cânone as obras mais representativas ou de melhor fatura estética, mas também de mostrar que outras obras, tidas eventualmente como menores, podiam ter – e de fato muitas tiveram – uma efetiva importância no processo de configuração da literatura local nos mais diversos países. Como toda atividade intelectual, e nesse sentido, sujeita obviamente a acertos e a erros, a valoração estético-social das obras literárias que deviam ou não pertencer aos mais diversos cânones foi sendo sistematicamente construída pela crítica literária e sua nova orientação de perspectiva historiográfica, notadamente ao longo do século XIX. De maneira geral, para ficar no exemplo emblemático da crítica literária francesa, que teve repercussões fundantes na crítica brasileira, houve um deliberado abandono da velha retórica e, por tabela, do recorrente olhar verificatório que se preocupava em aferir nas obras literárias o maior ou o menor grau de afastamento das regras prescritas, e tidas como intemporais, da poética clássica, para, em seu lugar, criar uma visada analítica de nítido viés histórico, dedicada a mostrar como a literatura era, antes de tudo, “a expressão da sociedade”.5 Nessa direção, muito contribuiu para a brusca mudança da perspectiva crítica, ao lado obviamente da afirmação e consequente disseminação do pensamento romântico, a também novidade do nacionalismo, o que, por sua vez, reforçava ainda mais o comprometimento político do artista com a própria sociedade. Nas palavras de Hobsbawm: O elo entre os assuntos públicos e as artes é particularmente forte nos países onde a consciência nacional e os movimentos de libertação ou unificação nacional estavam se desenvolvendo. [Assim], é bastante natural que [o] nacionalismo encontrasse sua expressão mais óbvia na literatura e na música, ambas artes públicas, que podiam, além disso, contar com a poderosa herança criadora do povo comum – a linguagem e as canções folclóricas. 6 4 Machado de Assis. “Notícia da atual literatura brasileira: instinto de nacionalidade”. In: Obra completa. 9ª Ed., Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1999, v.3, p. 801. 5 Cf. George de Plinval. História da literatura francesa. Trad. de Ilídia Ribeiro Pinto Portella. Lisboa: Editorial Presença, 1982, p.189. 6 Eric J. Hobsbawm. A era das revoluções. Trad. Maria Tereza Teixeira e Marcos Penchel. 25ª Ed., Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2011, p. 404. Em outras palavras, guiados de perto tanto pelo espírito romântico quanto pelo atuante discurso nacionalista, a configuração do cânone, importada do modelo teológico para a literatura, transformava os escritores em verdadeiros heróis nacionais. Assim, não somente a crítica francesa, mas também a crítica literária dos demais países ocidentais, como forma de definição da literatura em âmbito local, preocupouse em dar contornos próprios aos seus respectivos cânones. Já que, nessa mesma perspectiva e ancorado no novo conceito interpretativo de história,7 a própria urgência do momento também levou grande parte dos autores românticos, a exemplo dos historiadores, a querer traçar em suas obras “a trajetória de cada povo, país ou nação como se fosse imbuída de um telos, de uma finalidade a presidir-lhe o sentido de sua existência”.8 No afã de singularizar o cânone nacional, a crítica literária, de um lado, mirava as obras do passado para também reconhecer nelas indícios que contribuíssem para a afirmação desse suposto telos, e, de outro, buscava reconhecer no presente as eventuais obras que, acima de tudo, viessem a confirmá-lo. Dessa forma, é importante destacar que a preocupação particularizante, e, portanto, a recorrente soberania da chamada cor local, explica por si a grande força que o “instinto de nacionalidade” terá ao longo do século XIX, influenciando tanto na fatura quanto na escolha das obras que deviam compor o cânone. No caso do Brasil oitocentista, em função de sua condição periférica e, nesse sentido, ainda permeado pela sensação de incompletude, de que tudo estava por fazer, e dado a quase inexistência de estudos literários, ou pelos menos realizados por críticos brasileiros, a configuração inicial do cânone, além de assunto complexo, era tarefa urgente, pois, a necessidade de se produzir, o quanto antes, uma factível proposta de sistematização histórica da literatura passada também fazia parte do amplo projeto de legitimação da independência política. O caminho da empreita, no entanto, foi longo e tortuoso, mas, a despeito dos eventuais percalços, vários autores, cada um a sua maneira, deram suas contribuições, publicando parnasos, bosquejos, florilégios com o intuito primeiro de se estabelecer um corpus literário que permitisse, posteriormente, o desenvolvimento de reflexão crítica sobre ele. No limite, o trabalho de elaboração de uma história literária brasileira, que formalizasse o cânone e 7 No Romantismo, segundo o crítico J. Guinsburg, opera-se uma mudança do conceito de história, há um abandono do pensamento então predominante que considerava a história apenas como um produto das “vidas ilustres”, para em seu lugar impor-se uma concepção que sobrevaloriza a relevância da consciência histórica. Ou seja, “o discurso histórico sofre mudança revolucionária. Deixa de ser meramente descritivo e repetitivo, para se tornar basicamente tanto interpretativo quanto formativo, genético. É a história que produz a civilização. Mas não a História, e sim as histórias”. Cf. J. Guinsburg. “Romantismo, Historicismo e História”. In: O romantismo. 2ª Ed., São Paulo: Perspectiva, 1985, p. 14. 8 Idem, p. 18. exprimisse a imagem da inteligência nacional na sequência do tempo, foi um projeto de natureza coletiva e que, de modo algo satisfatório, somente seria concretizado meio século depois do início do Romantismo brasileiro com o aparecimento da História da literatura brasileira, de Silvio Romero, já no decênio de 1880.9 No entanto, ainda nos primeiros tempos românticos, não bastava apenas voltar os olhos para o passado em si, era preciso também, em contraposição à percepção geral de que a literatura de feição clássica identificava-se aos tempos coloniais, criar no presente a própria literatura nacional. E no que propriamente consistia uma literatura nacional? Para alguns – responde Antonio Candido – era a celebração da pátria, para outros o indianismo, para outros, enfim, algo indefinível, mas que nos exprimisse. (...) a literatura foi considerada parcela dum esforço construtivo mais amplo, denotando o intuito de contribuir para a grandeza da nação. Manteve-se durante todo o Romantismo este senso de dever patriótico, que levara os escritores não apenas a cantar a sua terra, mas a considerar as suas obras como contribuição ao progresso.10 Portanto, ao lado do resgate de obras do passado que justificassem e ao mesmo tempo dessem vida à tradição desejada, os autores e críticos românticos, por razões e necessidades históricas, empenharam-se, de um lado, na construção da literatura local com a missão de corroborar a independência política também em termos estéticos, e, de outro, na produção do ideário crítico que, em primeira instância, viesse a legitimar a existência autônoma dessa mesma literatura. O duplo movimento, criando no país uma estratégia de ilusão, encobridora de desigualdades sociais, também ajudou a legitimar o passado coletivo brasileiro que, elaborado com base nas tradições e costumes, permitiu a construção de uma história feita e refeita segundo as necessidades do poder presente. Em outras palavras, instrumento fundante na construção do país desejado, a nascente crítica literária, em consonância com o particularismo temático inerente à estética romântica, elegeu programaticamente temas ligados à cor local como imprescindíveis ao artista nacional. Ao lado da figura também emblemática do então jovem Imperador Pedro II, a natureza edenizada e o índio são escolhidos não apenas para expressarem a nacionalidade em si por serem elementos diferenciadores e inerentes ao país, mas também pelo fato – sobretudo, no caso dos dois últimos – de se localizarem num passado distante que poderia ser “reescrito” histórica e literariamente em função da elaboração de uma realidade 9 Cf. Antonio Candido. Formação da literatura brasileira. 10 ª Ed., Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul, 2006, p. 663. 10 Idem, pp. 327-328. suspensa que, em última instância, teria a vantagem adicional de, pelo menos no plano do simbólico, não representar qualquer ameaça à manutenção da ordem escravista.11 De todo modo, dentro do trabalho crítico de configuração do cânone local, a temática indianista ocupou provavelmente o lugar mais importante no interior do ideário estético do Romantismo brasileiro, pois, com seu progressivo desenvolvimento, o índio foi “simultaneamente guindado à posição de objeto estético, herói literário e antepassado mítico histórico”.12 Por isso, não chega a ser surpreendente que, no Brasil, ao invadir todas as artes além propriamente da literária, o indianismo praticamente tenha se confundido com o próprio Romantismo. Por consequência, as várias obras que versaram sobre a temática indianista ocuparam, desde sempre, lugares de destaque no cânone, algumas, inclusive, tornaram-se verdadeiros topos literários. O POETA SEM LIVRO Nesse sentido, e levando-se em conta para as letras brasileiras a importância da estreita relação entre o indianismo romântico e o cânone nacional, o problema que se apresenta aqui é o seguinte: poderia um poeta sem livro, autor de pouco mais de meia dúzia de poemas, ter ou não alguma influência decisiva no processo de configuração temática do indianismo romântico brasileiro? De imediato, ainda que se possa objetar que, à primeira vista, a pergunta talvez se revele um tanto pretensiosa pelo suposto raio de seu alcance, ela, no entanto, justifica-se inteiramente, sobretudo quando se pensa no caso singular de um autor, hoje praticamente esquecido, como Firmino Rodrigues Silva (1815-1879). Jornalista e panfletário de grande destaque nos quadros do Partido Conservador e que, mais tarde, seria juiz, deputado e, finalmente, senador do Império, Firmino Rodrigues, sem 11 Segundo o historiador José Murilo de Carvalho, no que se refere à escrita da história, e ao contrário do conceito de história nacional, a “memória”, escolhida pelos intelectuais ligados ao Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB) para construir a história do país, caracterizava-se pela possibilidade de ser ajustada “às necessidades da construção da identidade nacional”. Ainda segundo o historiador, ancorando-se na famosa conferência de Renan – “Que é uma Nação?” (1892) – “a criação de uma nação exigia o esquecimento e até mesmo o erro histórico. A unidade nacional se constrói quase sempre, (...), mediante o uso de muita violência”. E no caso brasileiro, referindo-se, por exemplo, ao Primeiro Reinado e ao Período Regencial, complementa o historiador, “as violências tem que ser esquecidas ou interpretadas de maneira a não impedir o sentimento de unidade, a permitir, (...) a produção de uma narrativa coerente, uma escritura, da nação”. Cf. José Murilo de Carvalho. “A memória nacional em luta contra a história”. Folha de São Paulo. Caderno Mais, 12 de novembro de 2000, pp. 18-19. 12 Walnice Nogueira Galvão. “Indianismo revisitado”. In: Esboço de figura: homenagem a Antonio Candido. São Paulo: Duas Cidades, 1979, p. 383. nunca ter publicado um livro de poemas, sempre aparece ao longo da história literária oitocentista, citado aqui e ali, como o autor de um poema que é considerado, por alguns críticos, um dos primeiros de feição propriamente indianista do Romantismo brasileiro, trata-se da “Nênia à morte do meu bom amigo o Dr. Francisco Bernardino Ribeiro”. O POEMA E A CRITICA Apesar de datada em 15 de setembro de 1837, isto é, apenas três meses após da morte do “Mestrinho”, em 15 de junho, a “Nênia a morte de meu bom amigo o Dr. Francisco Bernardino Ribeiro”, de Firmino Rodrigues Silva, somente foi publicado, à maneira de folhetim, nas páginas do jornal O Brasil, em 16 de março de 1841.13 No entanto, e mesmo considerando que O Brasil era um periódico de viés eminentemente político, as primeiras repercussões do poema logo apareceram. Ainda em 1841, o poeta sem livro já seria, por assim dizer, incluído no primeiro esboço de cânone poético do Romantismo brasileiro levado a termo pelo então jovem crítico literário Joaquim Norberto de Souza Silva no seu Bosquejo da história da poesia brasileira. Depois de ter publicado alguns fragmentos do estudo, ao longo do ano de 1840, no mesmo jornal O Despertador, o texto crítico de Joaquim Norberto seria publicado na íntegra como estudo introdutório ao seu primeiro livro de poemas Modulações poéticas. No bosquejo, cuja importância maior para a historiografia literária reside justamente na proposta de periodização para a literatura brasileira, a referência a Firmino aparece no último período literário – “Sexta Época: da reforma da poesia” –, em que Joaquim Norberto trata da então poesia contemporânea e que, também para ele, iniciou-se mesmo em 1836 com a publicação dos Suspiros poéticos e saudades. Nesse sentido, depois de tecer louvores, sobretudo a Gonçalves de Magalhães como “um jovem nascido sobre o pitoresco solo do Rio de Janeiro, abrasado nas chamas da poesia” e que “ergueu o estandarte da reforma”, pondo-se a frente da mocidade para iniciar uma nova época para a poesia brasileira,14 a Manuel de Araújo Porto-Alegre e ainda a Odorico Mendes, o crítico continua seu texto, afirmando que “em números são os autores que conta a nova escola”, pois “o público aprecia as composições inéditas ou imprensas”, para, em seguida, citar, entre outros 13 Firmino Rodrigues Silva. “Nênia à morte do meu bom amigo o Dr. Francisco Bernardino Ribeiro”. In: O Brasil. Rio de Janeiro, Nº 107, 16 de março de 1841, pp.1-2. 14 Joaquim Norberto de Sousa Silva. “Bosquejo da história da poesia brasileira”. In: Modulações poéticas. Rio de Janeiro: Tipografia Francesa, 1841, pp. 49-50. autores contemporâneos, Firmino Rodrigues Silva e alguns de seus poucos poemas, incluindo-se, obviamente, a Nênia.15 Da afirmação de Joaquim Norberto, é importante destacar não somente a valiosa informação de que “o público aprecia as composições inéditas”, o que já sugere outro indício de ressonância social do poema, dado a proximidade temporal entre a publicação do Bosquejo da história da poesia brasileira e o aparecimento do próprio poema,16 como também o seu juízo crítico a respeito do poeta Firmino Rodrigues Silva de que ele também pertence à “nova época” literária, liderada por Gonçalves de Magalhães.17 Três anos depois da referência no Bosquejo de Joaquim Norberto, o poema de Firmino seria republicado na revista Minerva Brasiliense (Jornal de Ciências, Letras e Artes). Esse importante periódico tanto para a história quanto para a consolidação da literatura românica no Brasil circulou entre 1843 e 1845 e foi inicialmente dirigido por Francisco de Sales Torres Homem, um dos fundadores da revista Niterói (1836).18 Em 15 de julho de 1844, foi publicado um número praticamente dedicado à memória do Dr. Francisco Bernardino Ribeiro. Assim, e além propriamente da Nênia de Firmino, também foram publicados tanto um biografia do “Mestrinho” quanto um ensaio do mesmo sobre economia política. Ainda que se considere aqui a possibilidade de que a Minerva quisesse homenagear o “Mestrinho” e que, portanto, a republicação do poema apenas complementasse tal homenagem, não é possível deixar de considerar também a possibilidade igualmente plausível de que, ao sair num dos mais importantes periódicos do Romantismo brasileiro, o poema poderia vir a 15 Além de se referir à Nênia, Joaquim Norberto cita os seguintes poemas de Firmino: “A saudade”, “A inconstância”, “O desengano” e “As lágrimas”. Desses textos, o único não encontrado foi “O desengano”. Cf. Idem, p. 52. 16 Há em O despertador, de 2 de julho de 1841, um pequeno texto, anunciando a abertura de subscrições para a compra do livro de Joaquim Norberto. Posteriormente, na edição de 19 de agosto de 1841, há outro anuncio já oferecendo o livro, o que, evidentemente, indica que o livro ficou pronto em agosto. Cf. O Despertador comercial e político. Rio de Janeiro. Nº 1034, 2 de julho de 1841, p. 4 e Nº 1080, 19 de agosto de 1841, p.4. 17 É igualmente importante informar que admiração literária e a completa fidelidade a Gonçalves de Magalhães é tão explícita que o poema que abre o livro de Joaquim Norberto – “Ao meu mestre” – era dedicado ao “distinto poeta brasileiro, o Ilmo. Sr. Dr. D. J. G. de Magalhães”. Cf. Joaquim Norberto de Sousa Silva. Modulações poéticas. Op. cit., pp.59-60. 18 Para ilustrar a importância das revistas para o próprio desenvolvimento da literatura brasileira, bem como destacar o papel da Minerva, basta citar a seguinte passagem pinçada junto à História da literatura brasileira (1888), de Sílvio Romero. Referindo-se especificamente ao movimento romântico no Brasil, o crítico sergipano afirma que “o estudo das revistas do tempo, nomeadamente a Revista do Instituto [IHGB], a Minerva brasilense e a Guanabara facilita-nos a reconstrução histórica do romantismo brasileiro”. Cf. Silvio Romero. Romero, Sílvio. História da literatura brasileira. 6ª Ed., Rio de Janeiro: José Olympio, 1960, p. 787. ganhar – e de fato veio – não somente maior visibilidade no cenário literário brasileiro como também maior raio de influência sobre outros eventuais autores. Aliás, o desejo de oferecer maior visibilidade ao poema vem expresso na própria revista, tanto que, ao término da referida biografia, o articulista da Minerva prontamente observa: Oh! Se nos fosse dado erguer-lhe um padrão mais durável do que o bronze! (...) Já, pois, que a boa vontade sobra-nos para fazê-lo, mas a deficiência de talento o não permite, seja-nos lícito transcrever a terna e saudosa nênia, que o Sr. Dr. Firmino Rodrigues Silva consagrou à memória do amigo. Impressa numa folha quase exclusivamente consagrada aos debates políticos, não terá chegado à notícia de muitos dos pacíficos amadores das belas-letras, entre os quais não poucos, ou por melhor dizer, quase todos, são nossos subscritores.19 De fato, ao sair publicado na Minerva, o poema de Firmino parece mesmo ter chegado “à notícia de muitos dos pacíficos amadores das belas-letras”, mesmo porque, apenas quatro anos depois, reapareceria no segundo tomo do Parnaso Brasileiro (1848), organizado por João Manuel Pereira da Silva. De Firmino, então classificado por Pereira da Silva na significativa categoria de “jovens esperançosos”, além propriamente da Nênia, que, aliás, diferente do título que havia saído em O Brasil, aparece apenas como “Nênia a Francisco Bernardino Ribeiro”, foram também publicados os seguintes poemas: “Conselho”; Ode às lágrimas”; “Ode à saudade”; “Ode ao Sr. José Maria do Amaral” e “Coroação”.20 Já no ano seguinte, o poeta Álvares de Azevedo adiciona um novo ingrediente crítico à discussão sobre a importância da Nênia, isto é, estabelece uma possível relação entre ela e os poemas americanos de Gonçalves Dias. No discurso, proferido em 14 de agosto de 1849 por ocasião das comemorações do aniversário de implantação dos cursos jurídicos no Brasil, Azevedo compara a missão política das Academias, suas influências no progresso e na civilização dos povos, como, por exemplo, o desenvolvimento da literatura, tecendo várias considerações sobre o papel histórico desempenhado pelas “falanges acadêmicas (...) na vanguarda do progresso literário”.21 Depois de historiar a importância de alguns autores da literatura ocidental, o poeta pede desculpas aos ouvintes por até então ter se mantido em silêncio em relação “às emoções que me desperta o dia das grandes reminiscências, a verdadeira 19 “Biografia do Dr. Francisco Bernardino Ribeiro” In: Minerva brasiliense (Jornal de Ciências, Letras e Artes). Rio de Janeiro: Tipografia Austral, Nº 18, 15 de julho de 1844, p. 558. 20 Cf. Idem, pp. 193-213. 21 Álvares de Azevedo. “Discurso recitado no dia 11 de agosto de 1849”. In: Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2000, p. 752. era da nossa Nacionalidade”,22 para, logo em seguida, ao fecho de seu discurso, complementar: Bem haja àqueles de vós que tão bem compreendem [a missão civilizadora], a esses que aí por nossa terra vão acordando o amor libertário, a essa mocidade que seguindo o impulso de um livro fadado a fazer época em nossa literatura, porque foi um livro criador – os Primeiros cantos, do Sr. Gonçalves Dias – que veio regenerar-nos a rica poesia nacional de Basílio da Gama e Durão, assinalada por essa melancólica Nênia de um gênio brasileiro que há dez anos sentou-se aqui nos bancos acadêmicos!... bem haja essa mocidade que nos tem dado as suas inspirações de poeta.23 Evidentemente, das afirmações de Álvares de Azevedo, deve-se ressaltar tanto a sua consciência em relação à importância histórica do primeiro livro de Gonçalves Dias, “fadado a fazer época em nossa literatura”, sobretudo pela ênfase ao seu aspecto criador no que se refere à poesia nacional e que, no próprio contexto do discurso, pode se reconhecida como sinônimo de poesia indianista; quanto à menção da contribuição à poesia nacional da “melancólica Nênia” de Firmino Rodrigues Silva. Aliás, em relação a este, Péricles Eugenio da Silva Ramos aventa, inclusive, a possibilidade de a Nênia ter influído diretamente na fatura de alguns poemas de Álvares de Azevedo, seja pelo uso recorrente em sua poesia do verbo “arroiar” e de expressões como “seios d’alma” ou “turma de donzelas”, seja pelo fato, é certo que de natureza um tanto quanto imponderável, mas que sugere uma aproximação entre ambos, de Firmino Rodrigues e Ignácio Manuel, pai do poeta, frequentarem-se com alguma assiduidade.24 De todo modo, e mesmo diante de possíveis conjecturas subjetivas, e agora relacionado com a poesia americana de Gonçalves Dias, é importante destacar não apenas o viés nacionalista atribuído ao poema de Firmino como também constatar mais um indício da ressonância pública que parece rondá-lo. Em 1856, o nem sempre pacato ambiente cultural do Romantismo brasileiro foi sacudido por aquela que, desde então, é considerada a mais vigorosa polêmica literária de todo o século XIX, isto é, a polêmica em torno de A Confederação dos Tamoios, de Gonçalves de Magalhães. Impresso as expensas do Imperador Pedro II, o livro do poeta carioca, que se queria como o “definitivo” poema nacional, foi duramente criticado pelo futuro romancista José de Alencar, o que, obviamente, gerou um intenso debate pelos jornais, incluindo, além de amigos do poeta, o próprio 22 Idem, p. 759. Idem, p. 759. (grifos meus) 24 Cf. Péricles Eugênio da Silva Ramos. “Uma nênia famosa”. In: Do barroco ao modernismo. 2ª Ed., Rio de Janeiro: LTC, 1979, p. 90. 23 Imperador D. Pedro II. Ainda no início da polêmica, já que as respostas dos defensores de Magalhães e o consequente acirramento do debate só viriam depois da quinta carta, José de Alencar, em sua terceira carta, ao também aproximar a poesia de Gonçalves Dias do poema de Firmino repetindo o mesmo raciocínio de Álvares de Azevedo, sugere nas entrelinhas o possível caráter antecipador da Nênia: Bem sei que o Sr. Magalhães não teve pretensões de fazer uma Ilíada ou Odisseia americana; mas quem não é Homero deve ao menos imitar os mestres; quem não é capaz de criar um poema, deve ao menos criar no poema alguma coisa. O Sr. Gonçalves Dias, nos seus cantos nacionais, mostrou quanta poesia havia nesses costumes índios, que nós ainda não apreciamos bem, porque os vemos de muito perto. A poesia é como pintura, cujos quadros devem ser olhados a uma certa distância para produzirem efeito. Há também uma pequena nênia americana, uma flor que a pena de escritor político fez desabrochar nos seus primeiros ensaios, e que para mim ficou como o verdadeiro tipo da poesia nacional; há aí o encanto da originalidade e como um eco das vozes misteriosas de nossas florestas e dos nossos bosques.25 Pode-se dizer que, nessa passagem do texto, a coisa muda um pouco de figura, pois, ao criticar Gonçalves de Magalhães, instando-o a imitar os mestres, para em seguida referir-se a Gonçalves Dias e a Firmino Rodrigues Silva, abrindo obviamente a possibilidade de o leitor inferir a referência aos dois autores como modelos para a poesia nacional, José de Alencar acaba por conferir outro status de importância ao poema de Firmino. Em outras palavras, se, para o escritor cearense, Gonçalves Dias “mostrou quanta poesia havia nesses costumes índios”; no caso de Firmino, há de se concordar que o julgamento crítico alencariano, reconhecendo a “pequena nênia americana” como o “verdadeiro tipo da poesia nacional”, é um elogio e tanto para o autor de um poema só. Além do mais, a opinião é ainda reforçada pelo reconhecimento do escritor cearense de que, nela, há “o encanto da originalidade”, o que, no limite, pode ser entendido como o ápice do desejo de todo e qualquer poeta romântico, isto é, ser considerado original. Ainda que seja possível pensar que as opiniões de Álvares de Azevedo e de José de Alencar sobre a Nênia de Firmino possam trazer em si um suposto espírito de solidariedade acadêmica, já que ambos também cursaram a mesma Faculdade de Direito de São Paulo, é inegável que a opinião de ambos revela um aspecto novo e 25 José de Alencar. “Terceira carta”. Op. cit., p. XXXII. (grifos meus) que não pode ser subestimado, isto é, o de que o poema de Firmino Rodrigues Silva teve, de fato, uma efetiva importância literária na definição do temário indianista. Ao longo do século XIX, segundo o levantamento feito pelo crítico Hélio Lopes, o poema de Firmino, mesmo mutilado em vários de seus versos, ainda seria republicado pelo menos mais quatro vezes. Em 1870, na primeira edição do Curso de literatura brasileira, de Alexandre José de Melo Morais Filho. Em 1881, no Parnaso Acadêmico paulistano, de Paulo Antonio do Vale. Em 1885, no Parnaso brasileiro, organizado pelo mesmo Melo Morais Filho e, finalmente, em 1888, por Silvio Romero em sua História da literatura brasileira e que, ao contrário do descuido dos autores anteriores com o poema, retoma a versão da Nênia publicada na revista Minerva.26 Aliás, em relação a Sílvio Romero, é preciso ainda destacar que coube a ele fazer a primeira análise crítica do poema de Firmino, dedicando-lhe, inclusive, uma atenção especial seu livro. Na divisão de sua história literária, sobretudo na divisão que propôs ao estudo do Romantismo brasileiro, o crítico sergipano insere Firmino Rodrigues da Silva num capítulo chamado “Poetas de transição entre clássicos e românticos”. Figurando, entre outros, ao lado de Odorico Mendes e do próprio Francisco Bernardino Ribeiro, Firmino é colocado pelo crítico numa categoria de autores que é marcada pelo fato de terem escassa produção literária. “Entre nós – observa Sílvio – há tal poeta, cujo título de benemerência é uma só poesia. Odorico Mendes é o poeta do Hino à tarde; Rodrigues Silva é o poeta da nênia Niterói”.27 A despeito de isso representar um suposto problema, o crítico vai além, perguntando-se com todas as letras: “Como riscar este homem de nossa história literária, se sua produção maítresse é um dos mais saborosos frutos da poesia nacional?”.28 Obviamente, além de tocar na questão do nacionalismo literário, a pergunta de Sílvio Romero traz de novo à tona o problema de inseri-lo ou não no cânone nacional, e a sua consequente resposta dependia de uma “prova dos nove” da leitura. Foi o que o crítico fez. Depois de reproduzir integralmente o poema, Silvio Romero escreveu: Esta poesia é uma das mais autênticas manifestações do gênio brasileiro. Há aí uma tão profunda aliança entre as crenças cristãs e as tradições indígenas, e essa aliança se traduz tão espontaneamente diante da natureza americana, que aí influi como também atora, que é impossível desconhecer que se está diante de um produto sui generis, que a musa européia seria incapaz de produzir. 26 Cf. Hélio Lopes. “Histórico de um texto”. In: Revista do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB). São Paulo: Nº 16, 1975, pp. 131-132. 27 Silvio Romero. Op. cit., p. 763. 28 Idem, p. 763. Aquela personalização da natureza tropical sob as formas de uma selvagem que chora um filho civilizado; aquele prantear fetichista por um cristão; aquele Deus e aquelas súplicas a Tupá, tão naturais, tão intimamente ligadas, mostram bem nitidamente que no espírito de Rodrigues Silva tinham-se fundido as duas almas de que em grande parte descendem os brasileiros. O poeta era um desses mestiços morais de que falei a propósito de Gregório de Matos. O nosso romantismo nacionalista foi estimulado, entre outras coisas, por esses majestosos versos. Gonçalves Dias já encontrou em seu tempo o caminho aberto. Como força diferenciadora em nossa evolução literária Firmino Silva pesa mais com aqueles poucos versos, do que algumas dúzias de certos paspalhões com seus indigestos cartapácios.29 Sem meias palavras, o julgamento crítico de Sílvio Romero confere, por sua “força diferenciadora”, um papel fundante à Nênia na literatura brasileira, seja pela percepção de que, como manifestação sui generis do “gênio brasileiro”, ela tematiza algo que “a musa européia seria incapaz de produzir”; seja pela opinião de que “o nosso romantismo nacionalista foi estimulado, entre outras coisas, por esses majestosos versos”; seja, enfim, pela última afirmação de que Gonçalves Dias “já encontrou em seu tempo o caminho aberto”. A PERGUNTA Diante dos indícios aqui levantados, a pergunta que naturalmente se apresenta ao crítico de hoje é a de saber por que então a “Nênia a morte de meu bom amigo o Dr. Francisco Bernardino Ribeiro”, de Firmino Rodrigues Silva praticamente desapareceu da historiografia literária brasileira? Quando muito, ela se transformou em simples menção, ou melhor, em simples nota de pé de página do próprio Romantismo brasileiro. Como se pode perceber, a resposta é um tanto difícil de ser encontrada. Antonio Candido, por exemplo, sugere que: Firmino (...) abandonou logo a poesia e atirou-se com êxito à política e ao jornalismo. A sua limitada importância provém desse lampejo, graças ao qual deu ao tema do índio um tom moderno, diretamente ligado à melancolia e ao patriotismo, preparando-o, deste modo, para ser manipulado não apenas como assunto (à maneira de Durão e Basílio), mas como correlativo da sensibilidade romântica e nacionalista.30 29 Idem, pp.766-767. Antonio Candido. Formação da literatura brasileira: momentos decisivos. 10ª Ed., Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul, 2006, p. 322. 30 De certa maneira, apesar de considerar limitada a importância do “lampejo” de Firmino, a resposta de Antonio Candido corrobora com a de Sílvio Romero ao menos num aspecto, isto é, no seu caráter antecipatório, “como correlativo da sensibilidade romântica e nacionalista”. Em outras palavras, ao que tudo indica, a Nênia ajudou mesmo a preparar o “assunto” para os românticos. Em outro ensaio, Antonio Candido ainda bate na mesma tecla, com o traço adicional de também estabelecer um vínculo direto entre o poema de Firmino e a obra de Gonçalves Dias: (...) nela [Nênia], o sentimento de amizade se exprimia de um modo já próximo às tonalidades românticas. Ao lamento se incorpora uma figura simbólica da índia – alegoria do Rio de Janeiro – que formula, pela primeira vez no Brasil, certos torneios indianistas, como seriam desenvolvidos na obra de Gonçalves Dias: (...) Quando a obra do maranhense dominou o meio literário, dando a impressão de que, afinal, havia poesia brasileira, o terreno já estava preparado em São Paulo, graças a Firmino.31 Talvez, esse último fragmento de Candido, contenha uma melhor resposta que ajude a explicar o “sumiço” da Nênia das histórias literárias brasileiras. Ao que tudo indica, e apesar de ter preparado o terreno, a sua importância talvez tenha sido mesmo abafada pela ressonância social da obra de Gonçalves Dias. Ainda que o indianismo literário seja apenas uma de suas muitas preocupações temáticas, a poesia americana do autor maranhense, seja pela qualidade estética, seja pela legitimação tanto da crítica quanto de autores posteriores, literalmente “dominou o meio literário” romântico. Aliás, essa suposta “dominação literária” foi percebida pelo próprio Firmino Rodrigues Silva. Num artigo sobre o aparecimento dos Primeiros cantos, publicado no dia 10 de maio de 1847, no Jornal do Comércio, Firmino, além de afirmar que “o amor do país Brasil nos chamou ao estudo consencioso de nossa grandeza, e à observação de nós mesmos”,32 tece uma série de comentários elogiosos ao livro de estreia de Gonçalves Dias, louvando-lhe, sobretudo: Os sentimentos mais nobres do coração humano [que] se abrigam nessa alma de poeta, que se manifesta sempre tão impressionável quer na contemplação das harmonias da natureza, quer no jogo das paixões, quer na elevação do 31 Antonio Candido. “A literatura na evolução da comunidade”. In: Literatura e Sociedade. 8ª Ed., São Paulo: T. A. Queiroz/ Publifolha, 2000, pp. 134-135. 32 Firmino Rodrigues Silva. “Primeiros cantos do Sr. Gonçalves Dias”. In: Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 10 de maio de 1847, p.1. pensamento quando admira os atributos da onipotência divina.33 Ao fecho de seu artigo, talvez até reconhecendo o decisivo passo adiante que o poeta maranhense dera em relação ao seu poema, Firmino não apenas saúda o “novo vate do amor e da melancolia”, mas, sobretudo, conclama-o “a ocupar entre seus colegas o lugar que tão merecidamente lhe compete. Nós o saudamos como um astro luminoso que desponta no horizonte literário da pátria”.34 Em suma, se, por um lado, esse artigo sugere que o aparecimento dos Primeiros cantos, de Gonçalves Dias, causou um forte impacto renovador na literatura romântica brasileira; e por outro, Firmino Rodrigues Silva de fato abandonou a poesia pela política, tanto que exatamente um mês depois do artigo no Jornal do Comércio, ele lançaria contra os liberais o panfleto político A dissolução do Gabinete de 5 de maio ou a Facção Áulica,35 o problema em relação à efetiva importância da Nênia na literatura brasileira ainda permanece.36 Nesse sentido, quando críticos do porte de um Sílvio Romero ou de um Antonio Candido se permitem reconhecer algum mérito literário na pequena nênia americana, é o caso de voltar ao texto, afinal tanto em literatura quanto no exercício da crítica, a leitura é tudo. 33 Idem, p.1. Idem, p.1. 35 Segundo Wilson Martins, “O folheto de Firmino Rodrigues Silva, A dissolução do gabinete de 5 de maio ou a Facção Áulica, circulou a 10 de junho de 1847. Era o libelo acusatório dos conservadores, então temporariamente alijados do governo, contra os liberais, chamados depreciativamente de ‘facção áulica’ por estarem mancomunados com os validos do Imperador (então com 22 anos) para denegar ao parlamento o exercício normal de seus direitos constitucionais”. Ainda segundo Martins, “o panfleto teve extraordinária e merecida repercussão (...)”. Cf. Wilson Martins. História da inteligência brasileira. São Paulo; Cultrix, V. II, 1977, p. 263. 36 Segundo levantamento feito por Hélio Lopes, ao longo do século XX a Nênia de Firmino Rodrigues Silva ainda foi reproduzida mais sete vezes: Antologia brasileira (1900), de Eugênio Werneck; A Academia de São Paulo: Tradições e Reminiscências (1910), de José Luiz Almeida Nogueira; História do romantismo brasileiro (1937), de Haroldo Maranhão; Panorama da poesia brasileira (1959), organizado por Edgard Cavalheiro; Um jornalista do Império (1961), de Nelson Lage Mascarenhas; Antologia da poesia romântica (1965), organizada por Péricles Eugênio da Silva Ramos e finalmente através de uma tradução espanhola de Ángel Crespo publicada na Revista de cultura brasileña (1970). Cf. Hélio Lopes. Op. cit. p.132. 34