MODELAGEM MATEMÁTICA COM RÉGUA E COMPASSO: UMA ALTERNATIVA PARA A EDUCAÇÃO EM GEOMETRIA? Dirceu dos Santos Brito Secretaria de Estado de Educação do Paraná – SEED PR [email protected] Lourdes Maria Werle de Almeida Universidade Estadual de Londrina - UEL [email protected] Resumo: Este trabalho apresenta um estudo realizado com alunos do ensino fundamental para verificar a viabilidade de abordar problemas de otimização em geometria via atividades de modelagem matemática. Nesse estudo, os alunos foram convidados a analisar imagens aéreas de praças públicas e propor possíveis alterações na sua forma geométrica com o objetivo de otimizar alguma de suas medidas. Mais especificamente, utilizando materiais de desenho (régua, compasso, esquadro e transferidor), calculadora e imagens impressas obtidas no Google Earth, os alunos investigaram a possibilidade de construir caminhos de comprimentos mínimos para essas praças. Conclui-se que a abordagem de problemas de otimização com geometria plana em atividades de modelagem matemática pode ser uma alternativa interessante para a educação em geometria. Palavras-chave: Educação em Geometria. Modelagem Matemática. Problema de Heron. Otimização Geométrica. Abstract: This paper presents a study of elementary school students to verify the feasibility of addressing problems in geometry optimization via mathematical modeling activities. In this study, students were asked to analyze aerial images of public squares and propose possible changes in its geometry in order to optimize some of its measures. More specifically, using drawing materials (ruler, compass, protractor and triangle), calculator and printed images obtained from Google Earth, students investigated the possibility of constructing roads of minimum lengths for these squares. It is concluded that the approach of optimization problems with plane geometry in mathematical modeling activities can be an interesting alternative for education in geometry. Keywords: Education in geometry. Mathematical modeling. Heron´s problem. Geometric optimization. XII EPREM – Encontro Paranaense de Educação Matemática Campo Mourão, 04 a 06 de setembro de 2014 ISSN 2175 - 2044 Introdução De acordo com Almeida e Brito (2005, p. 487) “[...] aplicações e modelagem matemática têm sido apontadas como uma alternativa pedagógica que visa relacionar a matemática escolar com questões não matemáticas de interesse dos alunos”. Esses autores defendem que a inclusão no currículo de problemas oriundos da realidade pode capturar o interesse dos alunos, desenvolver competências e habilidades específicas para resolver problemas matemáticos, apreciar o poder da matemática além de aprofundar a compreensão de conceitos e métodos dessa disciplina. (ALMEIDA; BRITO, 2005, p. 487) Todavia, o trabalho com aplicações e modelagem empregando geometria na educação básica ainda é insatisfatório. Em particular, as publicações acadêmicas sobre modelagem matemática (artigos, dissertação de mestrado, tese de doutorado ou livros) apresentam poucos trabalhos abordando o ensino dos conteúdos de geometria via modelagem matemática. De fato, numa pesquisa visando mapear as produções brasileiras em modelagem matemática, Biembengut (2011, p.199) analisou uma amostra de 64 produções relativas ao Ensino Médio e constatou que: “Nos exemplos apresentados nos artigos, em 14 não são indicados os conteúdos matemáticos desenvolvidos e em 43 os conteúdos restringem-se a alguns conceitos de razão e proporção e sistemas de medida (12), funções de 1º e 2º graus e exponencial (21), geometria plana e espacial (7), análise combinatória e probabilidade (2), geometria analítica (1), sistemas lineares (1) e trigonometria (2)”. Essa autora chama a atenção para a concentração das produções em torno de uma parte relativamente pequena dos conteúdos de matemática do ensino médio e, em particular, verifica a quantidade relativamente pequena de trabalhos de modelagem utilizando os conteúdos de geometria, comparativamente aos conteúdos de razão e proporção, sistemas de medida e funções. Poder-se-ia supor que, por um lado, as pesquisas em modelagem matemática no ensino refletem o quadro geral de omissão e abandono dos conteúdos geométricos na educação básica e que, por outro lado, alunos e professores veem esses conteúdos como menos aplicáveis do que razão, proporção ou funções. XII EPREM – Encontro Paranaense de Educação Matemática Campo Mourão, 04 a 06 de setembro de 2014 ISSN 2175 - 2044 Assim, entendemos que um problema a ser abordado na pesquisa em educação matemática é o de compreender o papel que os conteúdos de geometria da educação básica desempenham na realização de atividades de modelagem. Neste trabalho, apresentamos um estudo realizado com alunos do ensino fundamental sobre a viabilidade de abordar problemas de otimização geométrica, utilizando atividades de modelagem. Modelagem no ensino de matemática Modelos matemáticos são geralmente entendidos como representações simplificadas da realidade. Nesse sentido, Bassanezi (2002, p174) afirma que: “um modelo matemático é um conjunto consistente de equações ou estruturas matemáticas, elaborado para corresponder a algum fenômeno – este pode ser físico, biológico, social, psicológico, conceptual ou até mesmo outro modelo matemático”. O processo de obtenção de modelos matemáticos é usualmente chamado de modelagem. A modelagem matemática de uma situação-problema engloba um conjunto de ações normalmente agrupadas em etapas. Para Almeida (2012, p. 32) as etapas de uma Modelagem podem ser as seguintes: Inteiração: representa o primeiro contato com uma situaçãoproblema. Implica, portanto, cercar-se de informações sobre essa situação por meio de coleta de dados quantitativos e qualitativos. A inteiração conduz a formulação do problema e a definição de metas para sua resolução. Essa fase envolve como processos cognitivos a compreensão e a estruturação da situação-problema. Matematização: Tendo sido identificado o problema e também estruturado esse problema numa linguagem natural. A transformação da representação da linguagem natural para a linguagem matemática constitui-se a fase da matematização. Essa fase envolve como processo cognitivo a matematização da situação-problema. Reconhecer os aspectos matemáticos da situação, selecionar variáveis e formular hipóteses fazem parte dessa etapa. Resolução: Com a simplificação da situação-problema, sua abordagem com estruturas matemáticas resultam num modelo matemático. Esse modelo e seus resultados são usualmente interpretados à luz das informações obtidas na situação investigada. Essa fase envolve como processo cognitivo a síntese das informações coletadas. Interpretação de resultados e validação: O modelo matemático obtido e seus resultados são interpretados à luz das informações XII EPREM – Encontro Paranaense de Educação Matemática Campo Mourão, 04 a 06 de setembro de 2014 ISSN 2175 - 2044 obtidas na situação investigada. Esta fase implica na análise da solução obtida para o problema original e se constitui numa avaliação do modelo que resulta na sua aceitação ou rejeição. O retorna à situação-problema original na validação faz com que a modelagem tenha um caráter cíclico. Experiências de ensino com modelagem têm sido conduzidas em sala de aula não só no Brasil, mas em muitos outros países. A condução de atividades de modelagem em sala de aula envolve um conhecimento empírico que não pode ser transferido acriticamente de uma situação para outra. Trata-se de um conhecimento que se constrói a partir da reflexão crítica sobre os erros e acertos. Uma maneira de encaminhar atividades de modelagem em cursos regulares é introduzir essas atividades de forma gradativa, respeitando diferentes momentos do processo de ensino e aprendizagem. Almeida (2012, p. 21) defende que a familiarização dos alunos com as atividades de Modelagem em cursos regulares deve ocorrer de forma gradativa em três momentos: Momento 1: O professor propõe à turma de alunos uma situaçãoproblema, juntos com os dados e demais informações relevantes para sua compreensão. As demais ações da atividade de Modelagem são acompanhadas pelo professor que orienta e avalia o trabalho dos alunos. Momento 2: O professor sugere a escolha de um tema. Os alunos, organizados em grupos, realizam a coleta de informações, a formulação das hipóteses, a dedução e a validação do modelo. A diferença principal do primeiro momento para o segundo é a independência do estudante na realização das ações de Modelagem. Momento 3: Os alunos organizados em pequenos grupos, escolhem um tema e realizam, com a orientação do professor, todas as ações da atividade de Modelagem. Cabe aos alunos, nesta fase, identificar a situação-problema, coletar e analisar os dados, enunciar o problema em linguagem matemática, identificar conceitos matemáticos, obter e validar o modelo e discutir seu uso para a comunidade escolar. A familiarização gradativa dos alunos com atividades de Modelagem é uma forma de evitar obstáculos que normalmente são apontados em seu uso em cursos regulares. De acordo com Almeida (2012, p. 28): “Este encaminhamento para a introdução de atividades de Modelagem Matemática em aulas com alunos ainda não familiarizados com este tipo de atividade, embora não seja uma prescrição rigorosa, tem se mostrado adequada em inúmeras experiências realizadas”. XII EPREM – Encontro Paranaense de Educação Matemática Campo Mourão, 04 a 06 de setembro de 2014 ISSN 2175 - 2044 Neste trabalho, a atividade que apresentamos foi desenvolvida tendo em vista a familiarização dos alunos com atividades de modelagem matemática. Por isso, a escolha do tema, a formulação do problema e a coleta de dados foi realizada conjuntamente com os alunos, sendo que a simplificação, resolução do problema e validação do modelo foram feitas de modo mais independente. Educação em geometria e modelagem matemática Os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN (1998, p.51) afirmam que a aprendizagem da geometria no ensino fundamental é importante porque, por meio dela, “o aluno desenvolve um tipo especial de pensamento que lhe permite compreender, descrever e representar, de forma organizada, o mundo em que vive”. Adicionalmente, os PCN (1998, p. 51) afirmam que a geometria é: “um campo fértil para se trabalhar com situações-problema” e que pode contribuir “para a aprendizagem de números e medidas, pois estimula a criança a observar, perceber semelhanças e diferenças, identificar regularidades e viceversa”, além disso, permite “ao aluno estabelecer conexões entre a matemática e outras áreas do conhecimento”. No entanto, o ensino dos conteúdos geométricos no Brasil tem sido historicamente deficitário. De acordo com Fainguelernt (1995), Lorenzato (1995) e Pavanello (1989) entre as várias causas e consequências da omissão e abandono do ensino da geometria na educação básica do Brasil ao longo das últimas décadas está a concepção de geometria presente no contexto escolar e na formação dos professores. Nesse sentido, Freudenthal (1973, p. 342) observou que a questão “O que é geometria?” pode ter muitas respostas e em diferentes níveis. Uma resposta possível, para esse autor é: “a geometria ocorre pela experiência e pela interpretação do espaço no qual as pessoas vivem, respiram e se movem”. Por sua vez, Coxeter (1969, p. 137) afirma que “a geometria é a mais elementar das ciências que habilita o homem a fazer predições baseadas em observações sobre o mundo físico a partir de processos unicamente intelectuais.” As concepções de Freudenthal e Coxeter apontam para uma visão de geometria como “ciência do espaço físico”. XII EPREM – Encontro Paranaense de Educação Matemática Campo Mourão, 04 a 06 de setembro de 2014 ISSN 2175 - 2044 Todavia, Usiskin (1994, p. 137) observa que “nem os geômetras concordam quanto à natureza de sua matéria” e que ao invés de se adotar uma definição única para a geometria, “o currículo deveria refletir as diferentes visões que as pessoas têm da geometria”. Para Usiskin (1994, p. 137) as diferentes maneiras de conceber a geometria no currículo, chamadas de dimensões, podem ser classificadas em quatro categorias: “(i) a geometria como estudo da visualização, do desenho e da construção de figuras; (ii) a geometria como estudo do mundo real, físico; (ii) a geometria como veículo para representar conceitos matemáticos, ou outros, cuja origem não é visual ou física; (iv) a geometria como um exemplo de um sistema matemático”. Essas quatro dimensões da geometria englobam aspectos tanto experimentais quanto teóricos o que permite uma interpretação voltada diretamente para a educação em geometria. De fato, a relação entre geometria como ciência do espaço e geometria como teoria matemática é de enorme importância do ponto de vista da educação, pois, como afirma Hershkowitz (1990, p. 56): “Existe o consenso de que estes dois aspectos estão relacionados, porque alguns dos níveis da geometria encarada como ciência do espaço são necessários para a aprendizagem da geometria como uma estrutura lógica”. Assim, o trabalho com aplicações e modelagem empregando conteúdos geométricos pode ser um veículo interessante para a educação em geometria. A inclusão no currículo de problemas oriundos da realidade pode capturar o interesse dos alunos, desenvolver competências e habilidades específicas para resolver problemas matemáticos, apreciar o poder da matemática além de aprofundar a compreensão de conceitos e métodos dessa disciplina. Aspectos metodológicos Verificar viabilidade de elaborar, implementar e avaliar atividades de modelagem com geometria exige a construção de um encaminhamento metodológico adequado para organizar o experimento, selecionar os instrumentos de coleta de dados e analisar os resultados obtidos. Nesse caso, os resultados obtidos estão presentes nos dados coletados nas produções dos alunos que incluem diálogos, registros escritos, XII EPREM – Encontro Paranaense de Educação Matemática Campo Mourão, 04 a 06 de setembro de 2014 ISSN 2175 - 2044 esboços, construções geométricas feitas no caderno, os painéis e a maquete confeccionada para a apresentação final do projeto. Além disso, entendemos que a avaliação das atividades de modelagem com geometria se evidencia nas produções dos alunos, quando demonstram as capacidades de identificar o problema, buscar, selecionar e interpretar informações relativas ao problema, formular hipóteses e prever resultados, selecionar estratégias de resolução, interpretar e criticar resultados em face da realidade, distinguir e utilizar raciocínios dedutivos e indutivos, fazer e validar conjecturas, experimentar e recorrer a modelos, esboços, fatos conhecidos, relações e propriedades, discutir ideias e produzir argumentos convincentes. Para identificar essas competências optamos pela abordagem qualitativa, que segundo Bogdan e Biken (1986, p. 147) “tem o ambiente natural como sua fonte direta de dados e o pesquisador como seu principal instrumento” e, “envolve a obtenção de dados descritivos, obtidos no contato direto do pesquisador com a situação estudada, enfatiza mais o processo do que o produto e se preocupa em retratar a perspectiva dos participantes”. A parte experimental desse projeto de modelagem matemática foi realizada ao longo de quatro semanas com 13 adolescentes, faixa etária de 14 a 16 anos, internados no Centro de Socioeducação de Londrina – CENSE II. A internação desses adolescentes decorre da aplicação de medidas socioeducativas em função da prática de atos infracionais. A internação desses adolescentes é relevante nesse estudo por três razões: Primeiro, o fato dos adolescentes estarem internados implica em mais tempo dedicado a atividades de natureza educativa (aulas de matemática, por exemplo, são 8 por semana). Segundo, essas atividades devem obrigatoriamente promover o fortalecimento dos princípios éticos da vida social, deve trabalhar os valores humanos e novos e apropriados conceitos de vida. Terceiro, por causa da segurança, o número de alunos por turma é muito reduzido, girando em torno de cinco alunos por turma. XII EPREM – Encontro Paranaense de Educação Matemática Campo Mourão, 04 a 06 de setembro de 2014 ISSN 2175 - 2044 A atividade desenvolvida e resultados A atividade proposta aos alunos consiste no problema de encontrar caminhos mais curtos numa praça, em particular, encontrar um caminho mínimo ligando dois pontos da Praça do Jardim Botânico de Curitiba. O problema apresentado aos alunos é o seguinte: Problema da praça Qual é o caminho mais curto para, num passeio, uma pessoa que sai do ponto chegar ao ponto , passando antes por um ponto qualquer no lado da praça? Figura 1 Praça do Jardim Botânico de Curitiba O objetivo desse problema é familiarizar os alunos com a ideia de percurso de comprimento mínimo e, com isso, permitir que eles aprendam a: realizar medidas de distâncias e ângulos; construir figuras simétricas utilizando reflexão; reconhecer ângulos opostos pelo vértice e resolver e utilizar o problema de Heron. Inicialmente, nessa atividade o professor apresenta o problema e discute com os alunos que entre dois pontos de um plano um percurso mínimo é dado por um segmento de reta. Mas, se esse percurso incluir algum outro ponto que desliza sobre uma reta, então o problema de encontrar o percurso de comprimento mínimo deve ser dado por dois segmentos de reta. XII EPREM – Encontro Paranaense de Educação Matemática Campo Mourão, 04 a 06 de setembro de 2014 ISSN 2175 - 2044 Em seguida, o professor orienta os alunos para que obtenham com uma régua os comprimentos dos caminhos possíveis e, que tentem encontrar, experimentalmente o caminho mais curto. Comparando as medidas obtidas, os alunos perceberam que o caminho mais é o que forma ângulos iguais com o lado oposto. Nas palavras dos alunos é onde o “ângulo da ida e o ângulo da volta” são iguais. A figura a seguir mostra um exemplo de solução apresentada e que foi retirada de um painel elaborado pelos alunos para apresentação final da atividade de modelagem. Nesse caso, a figura mostra que o ponto para ir dos pontos que chamou de e alunos na apresentação final, esse ponto determina o caminho mais curto da praça. E, conforme, argumentação dos é tal que os ângulos formados pelos lados do percurso com o lado oposto da praça medem cada um. Figura 2 Solução apresentada por um aluno que mostra o caminho formando ângulos iguais. Encontrar e exibir uma solução para o problema não foi muito difícil para os alunos. Nem mesmo foi difícil perceber que, no caminho mais curto “o ângulo de ida deve ser igual ao ângulo da volta”. A dificuldade dos alunos, em geral, foi justificar porque o caminho mais tem curto tem essa propriedade. O professor então propõe aos alunos a realização de uma atividade para ajudá-los a entender e explicar essa propriedade do caminho mínimo. XII EPREM – Encontro Paranaense de Educação Matemática Campo Mourão, 04 a 06 de setembro de 2014 ISSN 2175 - 2044 Em seguida, o professor pede que cada aluno, recorte de uma folha de cartolina, uma figura igual ao trapézio , da imagem anterior, explicando a eles que o problema a ser investigado é equivalente ao da Praça do Jardim Botânico de Curitiba. O professor pede aos alunos que escolham um ponto qualquer sobre o lado , marcando com caneta esse ponto e desenhando o caminho e . Em seguida, os alunos mediram o comprimento total desse caminho. Em seguida, solicitamos que fizessem a reflexão desse caminho no trapézio de cartolina, do caminho feito na imagem da praça. Desse modo, os alunos obtiveram assim os pontos e como ilustrado na figura a seguir. Essa figura também foi retirada do painel utilizado na apresentação final do trabalho e mostra como foi obtida a justificativa do fato de que o caminho mais curto possui ângulos de “ida e volta” com medidas iguais. Figura 3 Reflexão do caminho na praça em recorte de cartolina Com essa construção, os alunos foram convidados a pensar na relação entre o caminho . Como , seu simétrico e os ângulos que formavam com o lado foi escolhido arbitrariamente pelos alunos, em todas as construções exibidas pelos alunos, não determinava o caminho mais curto, mas por quê? Pensar por que esse caminho não é o mais curto levou os alunos a perceberem o seguinte fato: para que o caminho e fosse o mais curto possível, os segmentos deveriam estar ambos contidos numa mesma reta, pois como , XII EPREM – Encontro Paranaense de Educação Matemática Campo Mourão, 04 a 06 de setembro de 2014 ISSN 2175 - 2044 então . Mas quando e tem comprimento mínimo somente estão ambos contidos numa mesma reta. Essa conclusão obtida com os alunos permitiu que entendessem o “método” para encontrar o ponto que determina o caminho mínimo. Basta refletir o quadrilátero em relação ao lado traçando a reta entre e , obtendo os pontos simétricos e . Nessa construção, , obtemos o ponto , intersecção da reta e o lado como mostram as figuras a seguir, retiradas dos painéis elaborados pelos alunos para apresentação final do trabalho. Figura 4 Solução do problema de Heron Portanto, o caminho mínimo intersecção do segmento com o segmento é obtido encontrando o ponto na . Mas, como isso determina ângulos iguais? Para compreender esse fato, o professor retomou a definição e propriedade dos ângulos opostos pelo vértice. Dois ângulos opostos pelo vértice são ângulos não adjacentes formados entre duas retas. Assim, os alunos puderam verificar que ângulos opostos pelo vértice possuem medidas iguais. A partir dessa constatação, os alunos concluíram que, como construção do caminho mínimo, determinam os ângulos vértice e , então, observaram nessa construção que os ângulos e na , opostos pelo e devem também possuir medidas iguais. Com essa atividade, os alunos tiveram a oportunidade de aprofundar no estudo das definições do conceito de ângulo, de ângulos opostos pelo vértice, simetria, reflexão no plano e eixo de simetria. XII EPREM – Encontro Paranaense de Educação Matemática Campo Mourão, 04 a 06 de setembro de 2014 ISSN 2175 - 2044 Discussão dos resultados Ao longo da realização dessa atividade de modelagem os alunos perceberam a relevância dos conteúdos de geometria para resolver um problema real. Nesse sentido, essa experiência de ensino representou para os alunos uma “aplicação autêntica” da matemática, pois aprenderam que conceitos e resultados da geometria podem, de fato, melhorar vários aspectos de uma praça pública. Além disso, os alunos utilizaram, na atividade, sua própria experiência para discutir aspectos do problema abordado. Problemas de otimização geométrica em que se minimizam comprimentos ou maximiza áreas de figuras podem ser perfeitamente compreensíveis quando falamos em obter caminhos mais curtos ou canteiros que cabem mais plantas numa praça. Os alunos tiveram que levantar conjecturas, testar hipóteses, realizar experimentos, enfim, empregar seus próprios saberes para chegar no saber sistematizado da geometria. A utilização de imagens aéreas do Google Earth para abordar conteúdos de geometria foi outro aspecto positivo dessa atividade. De fato, os alunos conhecem e gostam desse tipo de tecnologia. Além da motivação, as imagens do Google Earth também tornaram mais plausíveis os problemas estudados, afinal, a imagem que tínhamos ali não era uma figura geométrica fora de contexto, mas sim a representação de um objeto real que o Google Earth permitia explorar e na qual nossa percepção reconhecia formas geométricas. Finalmente, os alunos foram convidados a explicar para as pessoas que “não sabiam matemática” como foram obtidas as soluções dos problemas. Essa necessidade de explicar para as outras pessoas (famílias, funcionários, professores e outros alunos) o que foi feito na atividade de modelagem tornou o trabalho com argumentação e raciocínio dedutivo possível ao longo dessa experiência de ensino. De fato, os alunos romperam o costume da “fórmula pronta” e do “teorema tirado da cartola”, inserindo-se em situações em que são chamados para argumentar, justificar e defender uma solução ou um procedimento adotado. XII EPREM – Encontro Paranaense de Educação Matemática Campo Mourão, 04 a 06 de setembro de 2014 ISSN 2175 - 2044 Referências ALMEIDA, L. M. W. ; SILVA, K.A. P. Semiótica e as ações cognitivas dos alunos em atividades de modelagem matemática: um olhar sobre os modos de inferência. Ciência e Educação (UNESP. Impresso), v. 18, p. 623-642, 2012. ALMEIDA, L. M. W., & BRITO, D. S. (2005). Atividades de Modelagem Matemática: que sentido os alunos podem lhe atribuir?. Ciência e Educação (UNESP), v. 11, p. 1-16. ALMEIDA, L. M. 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