CONCEITO, PROPOSTA OU OBJETIVOS APPD Manter elevada, na solução do solo, a concentração de determinada composição de íons, colocando o máximo de raízes em contato com o máximo de água capilar e converter o máximo de solutos em fotoassimilados (produção). Favorecer a difusão de P e K Favorecer a nutrição Favorecer a adsorção coloidal de K ÁGUAS NO SOLO Ilustração: Luiz Carlos Ferreira A parte que mais nos interessa neste caso, é a água capilar, pois é nela que se encontra a solução do solo (sopão). É que a planta não come, ela bebe. Ingere os nutrientes que estão solutos (dissolvidos) pelo complexo equilíbrio químico do solo através de seus canudinhos (pêlos radiculares / micro radicelas). É necessário, portanto, falarmos e compreendermos parte desta complexidade para enxergarmos a importância de um sistema como o APPD. Vamos relacionar alguns fatos: • Os microporos são ocupados pela água capilar (solução do solo), que variam em quantidade, de acordo com a textura do solo (arenosa-média-argilosa) • As quantidades de solutos na solução (macro e micronutrientes) são controladas pelo meio e por suas características, ao que chamamos de equilíbrios químicos (alguns muito complexos) • O fator que mais impacta na solução do solo e na eficácia da nutrição mineral de plantas é o pH • A dinâmica de movimentação de P e K na solução do solo é quase que total por difusão. Isto posto, podemos observar que a ciência e a natureza nos ensinam (recomendam) que o correto seria colocar P e K em área total, pois isto favoreceria a dinâmica dos elementos no sistema solo-solução-plantas. TEORES DE P (mg/dm3 em resina) NO PERFIL DO SOLO SISTEMA CONVENCIONAL X SISTEMA APPD Fazenda Santa Rosa – Naviraí/MS – Proprietário: Gervásio Kamitani ADUBAÇÃO CONVENCIONAL (Figura 01) Área: 1.500 ha Cultura: soja Espaçamento: 45 cm Cultura anterior: milho Espaçamento: 90 cm Área de quinto ano de plantio direto, adubação na linha. ADUBAÇÃO DE PERFIL – APPD (Figura 02) Área: 173 ha Cultura: soja Espaçamento: 45 cm Área com 120 dias de APPD (era pastagem degradada). O teor de P de 0-10 cm era 3 e de 10-30 cm era 2. Solo com 17% de argila. FONTE: Luiz Carlos Ferreira, janeiro de 2010 OBSERVAÇÕES / COMENTÁRIOS: Fica claro que a adubação localizada esconde o fósforo da fixação... e também da planta!!!! Mas como assim? Ele está logo ali, ao lado e abaixo de onde foi colocada a semente!!! Isto é fato, e a maior parte dele continua ali, se acumulando, plantio após plantio, sabe por quê? Por um detalhe muito simples, a planta não come adubo, ela se alimenta na fase líquida do solo, na água capilar, onde está a solução do solo, que habita os microporos e que através de inúmeros equilíbrios químicos com cinéticas características e alguns de extrema complexidade “propicia ou não” condições para que haja sucesso na transferência iônica no sistema produto-solo-solução-planta. E o óbvio acontece, pois a ciência nos ensina (está escrito nos livros, é só piratear). A movimentação básica de P na solução do solo é por difusão (sai do ponto de maior para o de menor concentração) e de forma muito lenta (curtíssima distância em longos prazos). Certa ocasião, em 1.986, visitando minha lavoura de algodão em Presidente Venceslau / SP, fitando uma planta, E. Malavolta fumava um cigarro (e como fumava) e me ensinava uma mania (tática)... conversar com as plantas... Parecia coisa de louco, mas ele levava a sério (depois eu ensinei outras pessoas também, aposto que quando lerem isso darão boas risadas), falava sobre compreender a linguagem vegetal (interação em tempo real durante os ciclos vegetativos e reprodutivos) através da diagnose visual... ele era bom nisso (afinal era o grande mestre, né). Aí me saiu com uma sobre o fósforo, que dá para aproveitar bem agora; como era cabeça dura e tinha dificuldade de compreender na época sobre esta questão de difusão, ele disse assim: “Luiz, fósforo é igual tartaruga no solo e igual coelho na planta (movimenta-se lentamente na solução do solo e rapidamente na planta)”. Segundo Malavolta, além desta paciência toda, cerca de 0,5 cm em 30 dias (média aproximada), ainda tem a questão da baixa concentração de P na solução do solo, que vai de 0,01 a 0,3 ppm. Agora fica fácil compreender a questão: Localizar alta dose de P em um ponto no solo (sulco de adubação) não dificulta colocar todo produto no solo, mas sim todo o nutriente na solução. Aí em uma cultura anual com ciclo de 115 dias, soja, por exemplo, cria-se um descompasso entre a marcha de absorção (quantidade exigida diariamente pela planta) x capacidade de reabastecimento da solução do solo (quantidade x velocidade) x ciclo da cultura. Conclusão? Sobra fósforo no sulco, falta fósforo na entrelinha, na solução e na produção!!!! E para trazer mais emoção (confusão) ainda, deixa o solo extremamente heterogêneo nos teores de P no quesito logístico (latitude x longitude x profundidade). Imagine como amostrar corretamente um solo como este da Figura 01? Como confiar no resultado da análise? Minha opinião, mais uma vez, respeitando a todos e sem querer polemizar o assunto, mas, fundamentado nestes e em muitos outros fatos é de que, com acompanhamento, e boa orientação técnica, mesmo as fontes monocálcicas produzidas por via ácida, que constituem o grande volume de fertilizantes do nosso país e que dão contribuição fundamental para sermos a 1ª potência mundial na produção de alimentos, poderiam ser aplicadas em superfície, em área total via formulações, como já fazem nossos amigos do MT e outras regiões há alguns anos, com excelentes resultados. É óbvio que está tudo muito superficial, até 05, 08 ou 10 cm em alguns casos, e traz preocupações para muitos pesquisadores, como para o Dr. Valter Casarin (IPNI), manifestado em bate papo na ESALQ há poucos dias. Mas como diria o grande humorista Marco Luque, tudo isto nos coloca diante de um grande “xilema para flexionarmos as ideias”. Vejamos: O que é melhor (ou menos pior)? Colocar todo o fósforo localizado estrategicamente a 05 ou 06 cm de profundidade (é o que vemos na prática) e utilizar apenas 8,00 m³ * (8.000 litros de solução do solo / ha) limitando a difusão do P ou colocar todo P em área total, mas em superfície, e aproveitar as intensas e freqüentes atividades microbianas, químicas, físicas e mecânicas que ocorrem nos primeiros 05 cm de solo, ampliando o volume da solução do solo para difusão de P em quase 10 vezes ** (75.000 litros de solução do solo / ha). LEMBRANDO: SÃO CÁLCULOS APROXIMADOS!!! * ADUBAÇÃO NA LINHA (1,0 ha) Em cultura de soja com espaçamento de 0,45 m entrelinhas, solo com textura média e capacidade de armazenar água capilar em 15% de seu volume, teor de P na solução igual a 0,2 ppm (0,0002 gramas/litro). Considerando-se que a adubação localizada ocupe uma área próxima de 05 cm x 05 cm x 22.222 m lineares, temos: 0,05 m x 0,05 m x 22.222 m = 55,55 m³ 55,55 m³ x 15% = 8,33 m³ x 1000 = 8.333 litros de solução do solo 8.333 litros de solução x 0,0002 g P / litro de solução = 1,66 g P / ha ** ADUBAÇÃO EM ÁREA TOTAL (SUPERFÍCIE) Considera-se 0,5 cm x 100 m x 100 m (1,0 ha): 0,05 m x 100 m x 100 m = 500 m³ 500 m³ x 15% = 75,00 m³ x 1000 = 75.000 litros de solução do solo 75.000 litros de solução do solo x 0,0002 g P / litro de solução = 15 g P / ha Então, dividindo-se: 15 g P / ha por 1,66 g P / ha (adubação na linha) = + 9 vezes. Como se pode observar, matematicamente as plantas das áreas que exploram maiores volumes de solo e de água capilar, terão acesso a quantidade muito maior (9 vezes neste caso) de solutos, permitindo maiores produtividades no campo. Com o sistema APPD objetivamos trabalhar o perfil do solo a profundidades bem maiores que esta, é claro que respeitando as características e limitações de cada solo, inclusive as físicas. Em culturas anuais, a princípio estabelecemos metas e critérios dentro de três faixas de profundidade para solos com teor de argila maior que 50%, sendo: 0-05 cm 05-10 cm 10-30 cm Em solos com teor de argila menor que 50% usamos duas faixas apenas: 0-10 cm 10-30 cm * Trabalhar com profundidades abaixo de 30 cm, somente quando houver viabilidade econômica. OBSERVAÇÃO: Apesar da sigla APPD estar associada à plantio direto, este sistema se aplica perfeitamente em outras culturas. Já estamos trabalhando com batata, pastagens, teca e hortaliças e iniciando trabalhos com café, citrus, cana de açúcar, amendoim, feijão e eucalipto.