Anais do SITED Seminário Internacional de Texto, Enunciação e Discurso Porto Alegre, RS, setembro de 2010 Núcleo de Estudos do Discurso Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul O USO DO CONECTOR PORTANTO EM TEXTOS DE PAULO SANT’ANA E MARTHA MEDEIROS Fernanda Knecht 1 Introdução O presente trabalho tem como base a Teoria da Argumentação na Língua (doravante TAL), desenvolvida por Oswald Ducrot e seus colaboradores. O objetivo aqui é analisar como se dá o uso do conector portanto, à luz da TAL, em encadeamentos argumentativos de textos de blogs de dois colunistas do Jornal Zero Hora (a saber, Martha Medeiros e Paulo Sant’Ana). De acordo com a referida teoria, o sentido de um enunciado do tipo A portanto C é construído através da linguagem, e não através de uma relação lógica entre os dois segmentos (A e C), pois, como afirma Ducrot (2009, p.22), “os segmentos A e C não exprimem fatos fechados sobre eles mesmos, compreensíveis independentemente do encadeamento, e suscetíveis de serem em seguida ligados entre si”. O que se pretende mostrar aqui é que, como postula Ducrot (2009, p.22), não há transporte de verdade, de aceitabilidade, de A até C, já que o encadeamento apresenta portanto C como já incluído no primeiro termo A. Ou seja, em um encadeamento argumentativo do tipo A portanto C, o sentido do argumento A contém em si mesmo a indicação de que ele deve ser completado pela conclusão. (Ducrot, 2009, p.22) A justificativa deste trabalho se dá devido ao fato de que esta visão de Ducrot se opõe à visão de muitos gramáticos e linguistas que interpretam A como sendo uma justificativa lógica para C, tomando, dessa forma, C como segmento válido e verdadeiro. Nesse sentido, Ducrot (2009, p.20) observa que muitas vezes sua pesquisa é analisada sob a ótica da Retórica, cujo objeto de estudo é a inferência e não a linguagem em uso, como no caso da TAL. Inicialmente, faz-se necessária uma breve revisão de conceitos fundamentais a este trabalho. A isso se seguem as análises dos textos de blogs selecionados e uma rápida discussão acerca dos resultados evidenciados. Teoria da Argumentação na Língua - TAL A TAL, de acordo com Ducrot (2005, p.11), é, em termos gerais, uma aplicação do estruturalismo saussureano a uma semântica linguística. Nesse sentido, a teoria trabalha com alguns conceitos desenvolvidos por Saussure, modificando-os. A frase, de acordo com Ducrot, é uma entidade abstrata (pois está no nível da língua, não da fala) que depende do enunciado (que é a realização da frase, ficando no nível da fala) para fazer sentido. O sentido, por sua vez, é descrito como sendo o valor semântico do enunciado. Já um conjunto de enunciados articulados recebe o nome de discurso e, segundo Ducrot (2005), somente o discurso é doador de sentido. Ou seja, o sentido 1 Mestranda em Linguística do Programa de Pós-Graduação em Letras da PUCRS; bolsista CAPES. E-mail: [email protected] 161 Anais do SITED Seminário Internacional de Texto, Enunciação e Discurso Porto Alegre, RS, setembro de 2010 Núcleo de Estudos do Discurso Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul provém do enunciado, algo que, como acabamos de ver, é linguístico e não extralinguístico (como a inferência, por exemplo). O sentido do enunciado, em outras palavras, o seu valor semântico, está na linguagem, e não na realidade. Por exemplo, se uma pessoa diz “Aquela casa é bonita”, isso não quer dizer que a casa é, de fato, bonita. Na verdade, este enunciado expressa o ponto de vista do locutor sobre a casa, ou seja, sobre a realidade. Para Ducrot e seus colaboradores, falar é argumentar. Assim, a argumentação é de ordem estritamente linguística (2005, p.13). A esta altura, é imprescindível esclarecer que, para a TAL, argumentar não é convencer o outro de algo (como o é a argumentação retórica), e sim, mostrar um ponto de vista, direcionando o diálogo para uma conclusão sem, necessariamente, ter o intuito de convencer alguém daquele ponto de vista. A fase atual da TAL, denominada Teoria dos Blocos Semânticos (doravante TBS) postula que uma entidade linguística é constituída pelos discursos que a referida entidade evoca. Estes discursos recebem o nome de encadeamentos discursivos, e podem ser de dois tipos: normativo ou transgressivo (Ducrot, 2005, p.14). Os encadeamentos normativos são aqueles constituídos por dois segmentos unidos pelo conector portanto. Já os encadeamentos transgressivos são aqueles constituídos por dois segmentos unidos pelo conector no entanto. Ducrot (2005, p.16) explica o porquê do interesse em estudar estes dois tipos de encadeamentos: em ambos se manifesta um fato fundamental; cada um dos segmentos encadeados ganha sentido somente em relação ao outro, ou seja, há uma interdependência semântica entre eles. Por exemplo, analisemos os seguintes segmentos: Isso é um verdadeiro problema e deixemo-lo para depois. Tanto se construirmos um encadeamento normativo com estes segmentos (Isso é um verdadeiro problema, portanto, deixemo-lo para depois) como um transgressivo (Isso é um verdadeiro problema, no entanto, deixemo-lo para depois), os dois segmentos só têm sentido na relação que estabelecem um com o outro, ou seja, na relação que há entre todas as palavras que formam o enunciado. Em outras palavras, conectores como portanto e no entanto introduzem uma interdependência entre o sentido do primeiro segmento e o do segundo (Ducrot, 2005, p.17). Outro ponto interessante de se notar aqui é que o que faz possível ou impossível o uso de determinado conector é a conclusão a que o locutor quer que o interlocutor chegue. No caso dos exemplos acima, os segmentos encadeados são os mesmos, mas o sentido formado por eles é completamente diferente, devido ao conector que foi usado. No encadeamento normativo, entendemos que o problema será deixado para depois por ser muito complexo, difícil de resolver. Já no encadeamento transgressivo, o problema será deixado para depois porque não é tão urgente. Há, talvez, algo mais importante a ser feito antes. Dessa forma, o sentido de A sempre vai depender da conclusão que dermos a ele; antes de concluirmos o pensamento, não temos sentido. Ou seja, de acordo com a TAL, no exemplo acima, não havia nada no primeiro segmento que levasse à conclusão lógica do segundo segmento. O sentido de ambos os encadeamentos foi todo construído através da relação entre as palavras, pois tudo passa pela linguagem. Para Ducrot (2009, p.21), os encadeamentos discursivos não constituem, como tais, meios diretos de persuasão, nem mesmo meios parciais. Além disso, Ducrot (2009, p.23) diz que toda proposição A que contém em sua significação a possibilidade de que lhe seja encadeado portanto C contém também a possibilidade de que lhe seja encadeado no entanto não C. A este respeito, analisemos outro exemplo. O sentido do segmento A (faz calor) é construído na sua relação com o segmento B (ir à praia): Está calor, portanto, vou à 162 Anais do SITED Seminário Internacional de Texto, Enunciação e Discurso Porto Alegre, RS, setembro de 2010 Núcleo de Estudos do Discurso Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul praia e Está calor, no entanto, não vou à praia. O autor diz que, em condições como as descritas neste último exemplo, é impossível dizer que, apresentando o argumento A e fazendo-o seguir por portanto C, eu justifico C. Na verdade, o mesmo argumento, em virtude de sua significação intrínseca poderia igualmente ser seguido por não C, com a condição de mudar de conector. Assim, é um esforço que faz escolher C em vez de não C depois de A. Essa escolha não é comandada pela significação de A, que não favorece C mais do que não C. A única coisa que ela impõe é a escolha de donc (portanto) num caso ou de pourtant (no entanto) no outro. Não vejo, então, como a proposição A poderia levar a crer C. (Ducrot, 2009, p.23) No que tange especificamente ao encadeamento normativo, o autor ainda afirma que ele não é necessariamente marcado pelo conector portanto (2005, p.14). Para o mesmo exemplo descrito anteriormente (Isso é um verdadeiro problema, portanto, deixemo-lo para depois), poderíamos ter algo como Se isso é um verdadeiro problema, deixemo-lo para depois. Este exemplo indica a mesma relação que há quando os referidos segmentos estão unidos pelo conector portanto. Em outras palavras, o portanto representa várias outras possibilidades de conector (se, por isso, então etc). A análise neste trabalho foca apenas encadeamentos normativos, ou seja, dois segmentos unidos pelo conector portanto. É a essa análise que nos voltamos agora. Uso do conector portanto em trechos de blogs O objetivo deste trabalho é analisar o uso do conector portanto em textos de blogs dos colunistas Paulo Sant’Ana e Martha Medeiros. Foram analisados dois textos, um do blog de Paulo Sant’Ana e um do blog de Martha Medeiros. A reprodução de cada texto encontra-se junto à respectiva análise, e o conector em questão está em negrito em ambos os textos. Comecemos, então, com o texto escrito por Paulo Sant’Ana. Análise do uso do conector portanto em um texto de Paulo Sant’Ana O texto de Paulo Sant’Ana a ser analisado chama-se Maldita Mega Sena e foi publicado no blog do autor, no site clicrbs, no dia 30 de dezembro de 2009. Maldita mega sena Na verdade, eu e muita gente não queremos ganhar na Mega Sena da Virada de amanhã. Pela simples razão de que não queremos nos mudar de Porto Alegre ou de qualquer lugar em que morem os outros. Ganhar na Mega Sena da Virada significa perdermos a nossa identidade. Se eu ganhar R$ 100 milhões, não serei o mesmo, não serei eu mesmo, serei outro. Dirá o imbecil da obviedade que basta ganhar os R$ 100 milhões e não contar para ninguém, manter em sigilo que foi o ganhador. Como se fosse possível manter em segredo que foi o ganhador! Mesmo que, ganhando, você não mude de cidade e não conte nada para ninguém, as pessoas vão começar a desconfiar: um cunhado seu compra uma fazenda, um filho vai morar numa mansão, os familiares começam a usar carros estrangeiros do ano, em seguida o segredo será desvendado. Ninguém acredita, mas uma bolada dessas vira um inferno na vida de um ganhador. 163 Anais do SITED Seminário Internacional de Texto, Enunciação e Discurso Porto Alegre, RS, setembro de 2010 Núcleo de Estudos do Discurso Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul Simplesmente porque não há nada mais difícil que esconder dinheiro. Esconder dinheiro tornase impossível para qualquer pessoa. E, cá para nós, o bom de ganhar R$ 100 milhões é espalhar para todos que ganhou. E, espalhando, em que virará a sua casa? Será uma romaria interminável até sua casa, obrigatoriamente você terá de se mudar. Mas não se mudar de casa, mudar-se de cidade. Nem de cidade chega, mudar-se de país. Mas quem é que disse que se torna feliz quem muda de país? Pelo contrário, o que todos nós sonhamos é em sermos felizes no nosso país, na nossa cidade, na nossa rua, na nossa casa. Ganhar na Mega Sena da Virada, portanto, é uma encrenca. E Deus nos livre dessa encrenca. No final do texto acima, temos o seguinte enunciado: “Ganhar na Mega Sena da Virada, portanto, é uma encrenca”. Este encadeamento discursivo é do tipo normativo, visto que são dois segmentos (A e B) unidos pelo conector portanto. Podemos organizar estes segmentos da seguinte maneira: segmento A – Ganhar na mega sena; segmento B – encrenca. No texto de Paulo Sant’Ana, estes segmentos, unidos por portanto, constroem o sentido de que ganhar na mega sena é uma coisa ruim, coisa que ninguém quer, ou seja, uma encrenca. Se assumíssemos a perspectiva de que o segmento A leva a uma conclusão lógica C, com certeza modificaríamos o segmento B, dizendo algo como solução ao invés de encrenca (Ganhar na mega sena, portanto, é solução). Isso aconteceria porque, é consenso do ser humano que ganhar na mega sena não é uma encrenca, e sim uma solução, algo bom e bem-vindo. Entretanto, como já foi visto, Ducrot afirma que o sentido do enunciado está na linguagem, e não na realidade. É por isso que só é possível entender o encadeamento ganhar na mega sena portanto encrenca quando nos atemos ao texto de Paulo Sant’Ana. É preciso analisar as informações que o texto traz para, de fato, compreender sua conclusão. Nesse momento, é muito importante separar o que está escrito no texto do nosso conhecimento de mundo acerca do mesmo tópico abordado no texto, para que não caiamos no erro de interpretar erroneamente o que está escrito. Ao longo do texto, Sant’Ana apresenta uma série de argumentos que levam ao entendimento do enunciado ganhar na mega sena portanto encrenca: ganhar na mega sena significa perder a identidade; é impossível esconder que ganhou na mega sena; quando as pessoas descobrirem quem é o ganhador da mega sena vão fazer romaria a casa dele, e, consequentemente, ele vai ter que mudar de país. Ao ler todos estes argumentos o leitor estranharia se, ao final do texto, Paulo Sant’Ana dissesse ganhar na mega sena da virada, portanto, não é uma encrenca. Um enunciado deste teor soaria contraditório e não faria sentido para o leitor. Vimos anteriormente que um segmento que tem a possibilidade de ser encadeado com portanto C também pode ser encadeado com no entanto não C. Neste caso, o enunciado analisado ficaria ganhar na mega sena, no entanto, não é uma encrenca. Este enunciado mudaria o sentido da conclusão do texto: de acordo com esse enunciado o sentido seria de que, mesmo com vários contras, ganhar na mega sena não é uma coisa ruim. Ou seja, como Ducrot postula, é um esforço que faz escolher portanto C ao invés de no entanto C. Essa escolha não é determinada pela significação de A, ela sempre vai depender do que o interlocutor (no caso desta análise, o autor) quer dizer. Em outras palavras, não há relação lógica que nos diga que portanto C é conclusão para o segmento A. Passemos agora à análise do segundo texto escolhido. 164 Anais do SITED Seminário Internacional de Texto, Enunciação e Discurso Porto Alegre, RS, setembro de 2010 Núcleo de Estudos do Discurso Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul Análise do uso do conector portanto em um texto de Martha Medeiros O texto de Martha Medeiros analisado aqui se chama Roubo de Livros e foi publicado em 26 de novembro de 2009 no blog da autora, também no site clicrbs. Roubo de Livros Não sei para o que serve a história que vou contar, mas vou contar assim mesmo. Estava no aeroporto de Granada (Espanha), cerca de duas semanas atrás, esperando meu voo para Madri, de onde eu embarcaria de volta para o Brasil. Estava numa loja de conveniências que vendia de tudo (camisetas, gadgets, brinquedos, livros, revistas). Peguei uma Elle espanhola e fui pro caixa. Quando fui pagar, vi que havia ali um calendário poético do Mario Benedetti, que é um autor uruguaio que faleceu recentemente e por quem sou apaixonada. Mais apaixonada que eu, só um grande amigo que estaria fazendo aniversário dali a quatro dias. Pensei na hora: vou levar esse calendário de presente pro meu amigo. “Quanto custa?”, perguntei pra moça do caixa. Ela respondeu que não tinha preço. Não entendi. Ela me explicou: o calendário recém havia chegado na loja e ainda estava sem preço, portanto ela não poderia me vender. Putz, era muito azar. Pedi a ela que sugerisse um preço maior do que ela imaginava que custaria o calendário, mas ela argumentou que não poderia fazer isso, teria que registrar, coisa e tal. Caramba, então por que exibem o produto se não podem vendê-lo?? Ela deu de ombros e foi embora. Sumiu da minha vista. Escafedeu-se. Achei estranho ela deixar o caixa a descoberto. Fiquei eu olhando para aquela caixinha (o calendário era de mesa, não era grande), e aquela caixinha olhando pra mim, nós duas em flerte descarado, ela praticamente ordenando: “me pegue, sua boba!”. Não pensei em câmeras de segurança nem em alarme, não foi o medo de ser flagrada que evitou que eu consumasse o roubo, eu simplesmente não consegui fazer isso por travamento mesmo. Não seria o fim do mundo, seria apenas um gesto errado, por mais que esse “errado” estivesse sendo estimulado pela própria vendedora, não tenho dúvida disso. Deixei pra lá e fui me embora, frustrada, sem o presente que agradaria em cheio o meu amigo. No meio do texto de Martha Medeiros, temos o seguinte enunciado: “O calendário recém havia chegado na loja e ainda estava sem preço, portanto ela não poderia me vender”. Este encadeamento, assim como o analisado no texto de Paulo Sant’Ana, é normativo, visto que o segmento A e B são ligados pelo conector portanto. Chamemos A o segmento o calendário estava sem preço e B o segmento não poderia ser vendido. No texto, o segmento B é apresentado como conclusão do segmento A (o calendário estava sem preço e, por isso, não poderia ser vendido). Mas será que esta é a única conclusão que pode ser depreendida do segmento A? Se fizermos uma pequena alteração neste encadeamento, seu sentido mudará completamente, por exemplo: o calendário estava sem preço, no entanto, poderia ser vendido. Isso mostra que o segmento B (não poderia ser vendido) não é conclusão lógica para o segmento A (o calendário estava sem preço), porque este mesmo segmento A comporta conclusões diferentes. Mais uma vez, voltamos à ideia de Ducrot de que o sentido é produzido através da linguagem, da relação entre os segmentos, entre as palavras. No texto de Martha Medeiros não teria sentido um enunciado como o calendário estava sem preço, no entanto poderia ser vendido, visto que a autora justamente está narrando o fato de que não conseguiu comprar o calendário porque a vendedora não quis vendê-lo, pois o mesmo estava sem preço. Esse fato é evidenciado pelo enunciado Putz, era muito azar, que aparece logo depois do enunciado unido pelo conector portanto. Assim, conforme a 165 Anais do SITED Seminário Internacional de Texto, Enunciação e Discurso Porto Alegre, RS, setembro de 2010 Núcleo de Estudos do Discurso Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul análise do texto de Paulo Sant’Ana, verifica-se que aqui é feito um esforço para decidir a favor de portanto C ao invés de no entanto C. É um trabalho linguístico, que não tem relação com inferência, com o que é extralinguístico. É necessário verificar as informações que o texto apresenta para que um enunciado inserido nele faça sentido. Conclusão O objetivo deste trabalho foi analisar o uso do conector portanto em textos de blogs de dois colunistas do jornal Zero Hora, Paulo Sant’Ana e Martha Medeiros. Através da análise dos textos, procuramos evidenciar que não há relação lógica entre o segmento A e a conclusão relacionada a ele. Na verdade, a conclusão sempre vai depender do que o interlocutor quer dizer, é um trabalho linguístico que envolve escolhas. Prova disso é que, como vimos, um mesmo segmento A, se analisado isoladamente, comporta mais de uma conclusão, e o que determina essa conclusão é um esforço, como postula Ducrot, e não um raciocínio lógico. Além disso, esperamos ter mostrado a importância de o leitor se ater, durante a leitura, às informações contidas no texto, sem misturá-las à sua opinião ou conhecimento de mundo, pois esses dois campos representam coisas diferentes. Uma coisa é o que o texto diz, outra coisa, às vezes bem diferente, é a opinião de quem lê a respeito do assunto tratado no texto. O leitor precisa ter bem claro esta diferenciação para que não caia no erro de atribuir ao texto informações que, na verdade, não estão escritas nele. Para concluir, acreditamos que, se a abordagem de leitura de textos proposta pela TAL fosse utilizada desde cedo com os estudantes, nos níveis fundamental e médio, contribuiria para o crescimento destes alunos como leitores. Referências DELANOY, Cláudio Primo. O papel do leitor pela Teoria da Argumentação na Língua. Letras de Hoje, v.43, n.1, jan/mar, 2008. DUCROT, Oswald. Conferencia 1. In: CAREL, Marion; DUCROT, Oswald. La Semántica Argumentativa. Buenos Aires: Colihue, 2005. DUCROT, Oswald. Conferencia 2. In: CAREL, Marion; DUCROT, Oswald. La Semántica Argumentativa. Buenos Aires: Colihue, 2005. DUCROT, Oswald. Argumentação retórica e argumentação linguística. Letras de Hoje, v.44, n.1, jan/mar, 2009. MEDEIROS, Martha. Roubo de Livros. Disponível em http://wp.clicrbs.com.br/marthamedeiros/2009/11/26/roubo-delivros/?topo=52,1,1,,170,e170. Acesso em 02.07.2010. SANT’ANA, Paulo. Maldita Mega Sena. Disponível em http://wp.clicrbs.com.br/paulosantana/tag/mega-sena-da-virada/. Acesso em 02.07.2010. 166