O acervo DOPS e a (re) construção da Memória dos Trabalhadores: uma análise sobre preservação e o uso social da informação. Sandra Maria Veríssimo Soares Historiadora e Mestre em Ciência da Informação Cícero Albuquerque de Souza Historiador e Mestrando em Educação Introdução O presente texto discorre sobre a temática dos registros dos trabalhadores no acervo da DOPS – Delegacia de Ordem Política Social, custodiado pelo Arquivo Público do Estado de Pernambuco e do uso social da informação, aqui entendido como instrumento a serviço da pesquisa e da educação e, por conseguinte uma variável do desenvolvimento social das nações. A prática arquivística é considerada um dos mais antigos ofícios de gestão do patrimônio intelectual que evoluiu a partir da necessidade do resgate, da preservação e da garantia de acesso de longo termo, para os registros da produção do conhecimento humano, através de vários suportes. Já a Ciência da Informação nasceu no momento em que o aumento considerável do registro do conhecimento no mundo foi caracterizado como “explosão informacional”, existindo assim a necessidade da recuperação da informação, porque esta preocupação não se restringia a uma categoria profissional específica, mas a vários profissionais. Segundo Oliveira (2005, p.13) “a ciência da informação nasceu para resolver um grande problema, que foi também a grande preocupação tanto da documentação, quanto da recuperação da informação, que é o de reunir, organizar e tornar acessível o conhecimento cultural, científico e tecnológico produzido em todo o mundo”. Os pioneiros que se aprofundaram nos estudos sobre documentação foram dois advogados belgas chamados Paul Otlet e Henri La Fontaine, onde segundo Malheiro & Ribeiro (2008, p.46), criaram um “catálogo que permitiu o acesso por assunto ao conteúdo informacional dos documentos, concretizando um sistema de classificação universal”. Os estudos continuaram com outros autores que evoluiu da importância do conceito documento para o conceito informação, que Segundo Le Coadic (1996, p.77) existe três domínios que dizem respeito à informação: a teoria matemática da informação, a teoria dos meios de comunicação de massa e a teoria da comunicação interativa. A primeira estuda a transmissão da informação através dos sinais elétricos, a segunda diz respeito à difusão da informação junto ao público através dos meios de comunicação e a terceira trata da revolução tecnológica e suas influências: os satélites, a digitalização dos textos, o som, a imagem e o enorme crescimento das capacidades de transporte da informação eletrônica. Portanto, a Informação tem uma relação com o comportamento humano caracterizado pelo desenvolvimento de seu conhecimento e a sua forma de expressão. Para Pinheiro e Loureiro (1995), a inteligência artificial, fonte de inovação dos sistemas de informações voltada para a interação homem computador é um dos caminhos onde a Ciência da Informação pode contribuir diretamente. Outro espaço de reflexão da CI são as novas tecnologias da informação e da comunicação também chamadas de TIC que ampliaram a capacidade de produção e distribuição de informações a nível global. Nesta área a CI estuda a organização, o tratamento, a preservação, a disseminação e o uso das informações digitais neste novo paradigma que estamos vivenciando. Inclusive para os profissionais das bibliotecas, dos arquivos e museus, onde se reúnem os centros de memória da sociedade. O Sistema Memorial Para a presente reflexão é útil a noção de Sistemas Memoriais definida por Galindo como categoria de trabalho, ou ainda como instrumental metodológico que nos permite “enxergar cadeias de relações entre partes cooperantes, permitindo a análise e geração de explicativos sobre domínios complexos e funcionamento de sistemas sociais”. Para este autor, o Sistema Memorial pode ser entendido como: “conjunto de organizações e aparelhos públicos, programas estratégicos de promoção, preservação e acesso ao patrimônio memorial, bem como a informação de interesse histórico custodiada por instituições de missão memorial, tais como arquivos, museus e bibliotecas.” Galindo (2009, pp.252-253). O modelo sistema memorial propõe uma leitura do conjunto de segmentos interdependentes de missão memorial atuante no universo dos arquivos, bibliotecas, museus e outros serviços públicos e/ou privados que, por sua natureza, são operadores no campo do resgate, preservação e acesso aos bens do patrimônio memorial. São também componentes naturais dos sistemas memoriais os programas estratégicos de promoção, preservação e acesso ao patrimônio memorial, bem como a informação de interesse histórico custodiada por instituições de missão memorial. Esta abordagem pretende analisar a evolução da cultura, da preservação, do acesso e da gestão da informação nos sistemas memoriais, o papel e a influência da tecnologia da informação na formatação dos conceitos reconstruídos do conhecimento. Preservação e Conservação Ante ao crescente número de documentos e suas mais variadas procedências e destinações, além do mero ato de registro da informação em suporte, é preciso também que se tenha um planejamento de modo que, mesmo com uma quantidade volumosa de documentos, se tenha ferramentas capazes de gerar não apenas os relatórios, mas de definir com exatidão onde estão localizados frente aos diversos documentos catalogados e guardados no acervo. Para CONWAY no início, os defensores da proteção dos artefatos culturais, incluindo livros, fontes documentais primarias e objetos de museu, utilizaram os termos “conservação” e “preservação” reciprocamente. Hoje, preservação é uma palavra que envolve inúmeras políticas de ações, incluindo tratamentos de conservação. (Conway, 1997, p.6). E afirma que “preservação é aquisição, organização e distribuição de recursos a fim de impedir posterior deterioração ou renovar a possibilidade de utilização de um seleto grupo de materiais”. Preservar, (...) “em latim praeservare, significa observar previamente, ou seja, prever riscos, as possíveis alterações e danos, que colocam em riscos a integridade física de um bem cultural, os quais devem ser prontamente respondidos pelo trabalho sistemático de conservação”. (Drumond, 2006, p.108). Consequentemente, a preservação em arquivo depende de cuidados especiais por parte daqueles que, no trabalho diário, lidam diretamente com o acervo. Segundo o Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, conservação é “o conjunto de medidas de caráter operacional – intervenções técnicas e científicas, periódicas ou permanentes – que visam a conter as deteriorações em seu início” (Conservação, 2001, p. 177). A conservação preventiva enfoca todas as medidas que devem ser tomadas para se aumentar a vida útil do documento ou retardar seu envelhecimento. Identificação precisa dos danos, suas causas e formas no que se refere ao clima, poluição do ar, químicas nocivas, acondicionamento e manuseio, como também com os acidentes. A avaliação do estado de conservação de um acervo parte sempre da observação do documento e requer o conhecimento dos principais danos que este possa sofrer. De acordo com Santos, durante muito tempo os conceitos de preservação e acesso foram conflitantes, pois se tratava de atividades excludentes. A ampla utilização do acervo era vista como fator prejudicial a sua preservação, causando deterioração cada vez maior do original. A preservação se baseava, no isolamento do acervo, mantendo-o em ambiente higienizado e climatizado, pois era a melhor forma de garantir a sua integridade para as futuras gerações. Santos (2007, p. 154). Assim, tornou-se contraditório para as instituições que cuidavam dos acervos, isolar a memória da sociedade, pois a tornaria estanque, afetaria o principal objetivo da preservação que é dar acesso aos conteúdos informacionais existentes. E foi exatamente pensando em acesso que a reprodução dos suportes de memória, encontrou terreno fértil para se desenvolver a partir do século XIX. Primeiro com o microfilme e depois com a tecnologia digital. O Arquivo Público do Estado de Pernambuco A Sede do Arquivo Público Estadual Jordão Emerenciano (APEJE) localiza-se na Rua do Imperador Dom Pedro II, no. 371, no Bairro Santo Antônio, em Recife, Pernambuco. Seu anexo está estabelecido à Rua Imperial, no. 1069, no Bairro São José, nesta mesma cidade. Foi criado pelo Decreto nº 1265, de dezembro de 1945, com a finalidade de guardar, conservar e disponibilizar para o cidadão e para o público pesquisador a documentação produzida e acumulada pelo Poder Executivo Estadual. De acordo com o organograma atual, o APEJE está vinculado a Secretaria de Educação do Estado de Pernambuco. Possui um Coordenador de Documentação e subordinados divididos pelo setor administrativo, hemeroteca, biblioteca de apoio, arquivo intermediário e permanente. Emite certidões de documentos quando solicitadas (pesquisadores, parentes de anistiados, entre outros) para fins de direito e prova com cópias autenticadas dos Diários Oficiais do Estado e da União. O acervo do APEJE foi desenvolvido com documentação da Secretaria do Governo, abrangendo o expediente administrativo de Pernambuco, compreendendo os períodos Colonial, Imperial e Republicano. Outros fundos documentais foram sendo incorporados posteriormente, através de recolhimentos de algumas secretarias, repartições extintas e doações de arquivos particulares. As datas limites do acervo compreendem o período de 1534 aos dias atuais. A documentação sob a guarda do APEJE espelha, sobretudo, a ação do Governo de Pernambuco, nos seus mais variados aspectos: político, religioso, educacional, cultural, econômico, administrativo, de segurança pública, de repressão ao crime, de obras e de serviços públicos; ou seja, inúmeros temas que possibilitam o embasamento de pesquisas em diversas áreas do conhecimento. O conjunto documental da extinta Delegacia de Ordem Política Social – DOPS compreende 125.000 fichas e 33.481 prontuários (21.317 individuais, 12.059 funcionais e 105 administrativos). São dossiês organizados pelos agentes da polícia, através de investigações de indivíduos e instituições (associações, agremiações, sindicatos entre outros). É um acervo aberto para pesquisadores e familiares das vítimas que sofreram perseguições políticas, inclusive a partir da Lei de Anistia nº 10.559 de 13 de novembro de 2002, vêm sendo utilizado como prova para recebimento de indenizações de diversas famílias, como também para aqueles que buscam efetivar correções administrativas de seus dados nas diversas secretarias do estado. Não está digitalizado, todavia as listagens estão digitadas facilitando o uso da informação. A riqueza documental destacada acima tem despertado interesse de pesquisadores e instituições nacionais e internacionais, resultando na recente parceria do Arquivo Público Estadual Jordão Emerenciano / APEJE com o Arquivo Nacional, onde será realizada a exposição Memórias do Mundo, evento que ocorrerá entre os dias 04 de dezembro 2012 a 15 de fevereiro de 2013, comemorando os 20 anos da existência do Programa Memórias do Mundo da UNESCO/ Memory of the World – MOW e o quinto ano de instalação do Comitê Nacional do Brasil. Segundo Montenegro, “surpreende qualquer historiador que estuda os documentos da Dops-PE o amplo aparelho de vigilância e controle criado pela polícia e os detalhados relatórios enviados aos superiores, em que diálogos com trabalhadores rurais e proprietários rurais, lideranças sindicais e políticas são amplamente transcritos, demarcando uma complexa teia de compromisso e antagonismo social” (Montenegro, 2010, p. 15). Portanto, é a partir desse acervo documental que caminharemos para entendermos o potencial repressivo montado no estado de Pernambuco, a partir de uma “cadeia do medo”, que torturou, silenciou, matou e ocultou corpos de centenas de presos, mas, no entanto, não conseguiu destruir a memória dos contestadores da ordem vigente, já que ficaram os registros da vigilância, perseguições, intimidações e trucidamentos, tudo levantados pelos agentes da “ordem” e que agora estão sob guarda do Arquivo estadual. O golpe militar ocorrido em 1964 teve em Pernambuco seu principal alvo, afinal o estado vivenciava um governo que procurava fazer uma leitura da realidade social principalmente no campo, buscando aproximação com lideranças sindicais, seja urbanas ou rurais. Diante situação, a elite principalmente agrária temia um possível radicalismo. Apesar da ausência direta no apoio aos militares que ocupavam o poder, a elite esteve a todo instante exigindo uma ação mais firme por parte do estado, objetivando assim não perder sua força política e econômica. O brasilianísta Thomas Skidmore procura assim destacar: “embora a elite tenha sempre preferido ver seu país como fundamentalmente não violento, esta é uma leitura muito imprecisa da história brasileira”. (Skidmore, 2003, p.245). O acervo presente o Arquivo estadual apresenta inúmeras provas das atrocidades cometidas pelos detentores do poder político pós-golpe, desmitificando assim a concepção de não violência de uma camada privilegiada frente aos contestadores de uma ordem vigente. O acervo preserva leitura da situação no campo, possibilitando encontrar registros de centenas de sindicatos rurais, associações, bem como atuação de lideranças em defesa de trabalhadores ou até mesmo de grandes proprietários rurais que em nome da “segurança e proteção ao patrimônio privado” exerceram o mando de maneira mais atroz até então. “A resistência não se materializou. Os militares e a polícia prenderam rapidamente figuras-chave do aparato populista. Líderes sindicais foram os primeiros alvos, mas o expurgo logo se expandiu para incluir políticos e burocratas considerados subversivos ou não confiáveis. A violência foi relativamente limitada, sendo mais severa no Nordeste, onde pelo menos uma dúzia de organizadores das ligas Camponesas e líderes de esquerda foram torturados ou mortos”. ( Skidmore, 2003, p.216) A atuação marcante de Francisco Julião, como também a de Antônio Pedro Teixeira (Sapé/ PB) são apenas exemplos dos registros da violência cometida por proprietários rurais, agentes infiltrados nos movimentos ou por organizações do Aparelho repressivo. Por outro lado, não foi menor à atuação do aparelho do estado frente aos grupos, sindicatos ou organizações realizadas na esfera urbana. A repressão militar no estado foi direcionada visando anular ação dos grupos “subversivos”, sejam os que buscaram armas para lutar contra os regimes ou mesmo contra sindicatos de trabalhadores que lutavam não apenas por direito a livre expressão, mas também contra o arrocho salarial, mas principalmente pelo direito de reivindicar direitos trabalhistas muitas vezes negados. “Escutas telefônicas, violação de correspondências e denúncias informantes tornaram-se lugar-comum” (Skidmore, 2003, p.232). por Assim, estão registradas nos milhares de prontuários (individuais e funcionais) no acervo DOPS-PE as mais variadas maneiras que os militares encontram para manter o “status quo” e a legitimação de um regime que gradativamente mostrava seu enfraquecimento. O historiador Hélio Silva na obra “1964: vinte anos de Golpe Militar” destaca dois pontos importantes a serem abordados “...... Restaurar a legalidade; restabelecer a federação; eliminar o desenvolvimento do plano comunista de posse do poder; defender as instituições militares que começam a ser destruídas; estabelecer a ordem para o advento de reformas legais”. (Silva, 1985, p.30) “Analisando o curto período de sua gestão, mais curto de todos os consulados militares, deve-se concluir que , não fez tudo que pretendia, evitou muito mal que pretenderam”. (Silva, 1985, p.30) Primeiramente “restaurar a legalidade” era a principal bandeira dos generais militares que governaram o país, mas a própria divisão interna e o endurecimento do regime (Linha-dura) tornaram “a missão” mais que inviável, resultando assim na progressiva abertura política iniciada durante o governo do General Ernesto Geisel. Mas, segundo Hélio Silva coube ao velho general impedir atrocidades maiores que até então os documentos e a história transmitiu para a sociedade atual. A memória dos trabalhadores ao longo do período de Ditadura militar foi ofuscada, uma vez que a força das baionetas acabou por desmobilizá-los (bancários, taxistas, estivadores, comerciários, operariados, portuários, jornalistas entre outros). Tendo como resultado: prisões, deportações, exílio e morte, causando a “dor que desmobilizaria” não apenas um indivíduo, mas um grupo com forte representação social”, já que para Michel Foucault: ” A lembrança de uma dor pode impedir a reincidência, do mesmo modo que o espetáculo, mesmo artificial, de uma pena física pode prevenir o contágio do crime”. (Foucault, 1997, p. 91). Portanto, os vestígios deixados pelos detentores do poder político (19641985) em Pernambuco estão ainda presentes, fato bem representado principalmente com advento da Comissão da Verdade e Memória Estadual Dom Helder Câmara, que juntamente com a equipe do acervo DOPS-PE, está buscando resgatar a memória da organização e dos trabalhadores em nosso estado. Cientes que “a construção de uma memória segue muitas trilhas, algumas vezes obedecendo às margens que o tempo lhe ofereceu, outras vezes rompendo os limites e ocupando vastos territórios” (Montenegro, 2012 p.101), possamos ousar e dizer que (re) construir preservar e possibilitar o uso social da informação é o caminho possível em que acreditamos. O Uso Social da Informação O documento, que traz em si esta memória coletiva, para o arquivo é o registro da informação original, única e autêntica resultante das atividades dos órgãos produtores, independente do suporte onde estão contidos; sendo utilizada como valor de prova para as instituições que dela é proveniente, para se ter uma maior eficiência administrativa quando da necessidade de responder alguns problemas. Segundo a lei nº 8.159 de 8 de janeiro de 1991, que dispõe sobre a política nacional de arquivos públicos e privados, arquivos são: Os conjuntos de documentos produzidos e recebidos por órgãos públicos, instituições de caráter público e entidades privadas, em decorrência do exercício de atividades específicas, bem como por pessoa física, qualquer que seja o suporte da informação ou a natureza dos documentos. Um dos importantes usos que se faz nos acervos documentais é a pesquisa científica em diversas áreas do conhecimento (antropologia, sociologia, história, etc.). A história, por exemplo, se faz com documentos, com a informação neles veiculada, como afirmam os historiadores Samaran e Lefebvre (Le Goff, 2003, p.529): “não há história sem documento”, pois os documentos fornecem tantas informações quantos os historiadores lhe tiverem acesso e o pesquise. E mesmo que este acervo possa ser utilizado por diversos pesquisadores, nunca o estudo pode ser dado por encerrado. Para Pierre Nora (Le Goff, p.467) define a memória coletiva como “o que fica do passado no vivido dos grupos ou o que os grupos fazem do passado” afirmando a importância desta memória coletiva que é conquista, mas também é instrumento e objeto de poder. O que para Randall Jimerson (2003, p.91) foi uma constante no período antigo ao moderno: “Nos arquivos, dos tempos antigos ao moderno, há uma preponderância de registros que documentam as atividades e interesses dos grupos mais poderosos da sociedade. Educação, literatura e o acesso ao poder têm reforçado os interesses intrínsecos das classes privilegiadas. Representações em arquivos têm privilegiado a história destes grupos, desde que suas vozes foram mais frequentemente registradas e, portanto mais frequentemente ouvidas nas considerações históricas”. Cabe aos pesquisadores que se dedicam ao resgate da memória denunciar essas formas elitizadas utilizadas no passado para servir de exemplo à forma abusiva e buscar democratizar a memória coletiva. E que só dessa forma a democratização da informação será uma luta de todos e que deve ser vista como uma forma de desenvolvimento, como afirma Capurro (2007 p.149): “a informação como condição básica para o desenvolvimento econômico juntamente com o capital, o trabalho e a matériaprima”. Isto se dá no sentido do conhecimento comunicado, que se transmite aos sujeitos e estes constroem os significados. Nesta mesma linha de reflexão Regina Marteleto afirma: “a educação vem sendo reconhecida, a partir desse século, como uma variável importante no desenvolvimento econômico e social, seja através da formação de recursos humanos para o setor produtivo, seja na construção de uma sociedade moderna, preparada para promover e absorver os resultados alcançados no campo econômico, e que são estimulados pelos avanços da ciência e tecnologia”. (Marteleto,1986, p.50) A educação como pressuposto para a reflexão dos indivíduos diante dos problemas da sociedade e que estes passem a intervir em seu cotidiano na solução destas crises. Principalmente quando sabemos que em nome do progresso se tem miséria, desemprego e marginalização de enormes contingentes humanos. Portanto os arquivos não devem ser instituições que apenas guardam de forma contemplativa os seus acervos, urge que tomem para si a função de promotores do uso de seus acervos e invistam na capacidade e potencial de gerar novos conhecimentos através do uso social dos estoques de informações sob sua guarda, que prevaleça em suas operações a condição de fonte sobre a de depósito. Considerações Finais Diante do exposto e, considerando os fatores limitantes do acesso livre do cidadão à informação, há dois aspectos a observar. O primeiro é quando a informação existe enquanto registro físico e está preservada, mas por razões circunstanciais não permanece acessível. Neste caso o pesquisador fica na dependência da decisão da gestão do arquivo, torcendo para que ela conceda a abertura dos registros, disponibilizando os acervos. Um segundo aspecto diz respeito à impossibilidade do cidadão de acessar a informação produzida e acumulada, simplesmente pela inexistência de apoio a pesquisa. Faltando daí recursos humanos especializados e materiais que na maioria dos arquivos são escassos, conforme foi evidenciado na pesquisa de Vanderlei Santos (2005, p.107): “os dados demonstram que apenas sete instituições estaduais e o Arquivo Nacional possuem áreas responsáveis pelos recursos informáticos”. Comprometendo assim o desempenho da gestão na medida em que não dispõe de instrumentos necessários para a execução dos trabalhos. Dessa forma cabe ressaltar: a política pública precisa redefinir o papel dos arquivos na sociedade para que o cidadão tenha mais disponibilidade à informação? Este é um desafio político que não se resolve só com a tecnologia, mas também com os sujeitos que definem o potencial que vai ser desenvolvido, através das políticas de preservação que poderá resultar na preservação da informação. Por fim, conclui-se que o uso social da informação aponta para pesquisa e para educação como principais caminhos a se trilhar na tarefa da construção e da inclusão social. Referências Bibliográficas BELLOTTO, Heloísa Liberalli. Arquivos Permanentes: tratamento documental. 2ª Ed. Rio de Janeiro: FGV, 2004. CAPURRO, R; HJORLAND, B. O conceito de Informação. Perspectivas em Ciência da Informação, Belo Horizonte, v.12, n.1, p.148-207, jan./abr, 2007. CONWAY, Paul. Preservação no universo digital. Projeto conservação preventiva em bibliotecas e arquivos. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 1997. DRUMOND, Maria Cecília de Paula. Prevenção e Conservação em Museus. Caderno de Diretrizes museológicas I. Ministério da Cultura / Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional / Departamento de Museus e Centro Culturais. 2ª edição. Belo Horizonte, 2006 FERREIRA, Aurélio B. de Holanda. Novo dicionário da língua portuguesa. 2. Ed. Nova Fronteira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. 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