XI ENCONTRO NACIONAL DA ECOECO
Araraquara-SP - Brasil
ENERGIA E PADRÕES DE CONSUMO: AVALIAÇÃO DA IMPLANTAÇÃO SISTEMA DE
AQUECIMENTO SOLAR NO PROGRAMA MINHA CASA MINHA VIDA
Maria Cecilia Junqueira Lustosa (UFAL) - [email protected]
Economista, pós-doutora pela Universidade de Bordeaux IV, professora associada da Faculdade de Economia,
Administração e Contabilidade e do Curso de Mestrado em Economia da Universidade Federal de Alagoas (UFAL)
Jackson Medino da Silva (UFAL) - [email protected]
Graduando do Curso de Economia da UFAL e diretor da Hidrosol Energia Solar
Energia e Padrões de Consumo: avaliação da implantação Sistema de
Aquecimento Solar no Programa Minha Casa Minha Vida
O Brasil é um país com alta concentração de rendas e parte de seus 191 milhões
de habitantes (IBGE, 2013) vivem na condição de pobreza e de extrema pobreza. Essa
disparidade de rendas também está refletida nas condições desiguais de consumo de
energia e acesso à casa própria.
Este artigo tem por objetivo discutir a implantação do Sistema de Aquecimento
Solar (SAS) no Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV). O argumento central é
que, apesar do discurso favorável à implantação do SAS em habitações populares, não
foram considerados os hábitos e costumes regionais, como não tomar banho quente em
regiões com elevadas temperaturas médias anuais, fazendo com que a disponibilidade
de água quente possa ter reflexos negativos nos hábitos de consumo futuros desses
usuários.
A metodologia utilizada foi a revisão de literatura sobre consumo de energia e
classes de renda, além de estudos de caso sobre utilização do SAS em habitações
populares. Foram realizadas entrevistas com moradores de um conjunto habitacional do
PMCMV, localizado no município de Coruripe (AL), que possui esse sistema
implantado em suas residências. Apesar de não ser um estudo estatístico, os resultados
das entrevistas foram corroborados com dados da literatura.
No intuito de reduzir o déficit habitacional da população de baixa renda, o
governo federal estabeleceu o PMCMV em 2009 (BRASIL, 2015a). Em sua segunda
fase (2011-2014), foi incentivado o uso do SAS, sendo obrigatório nas moradias
destinadas às famílias com renda mensal de até R$ 1,6 mil (CEF, 2015), visando reduzir
o custo do aquecimento de água para os usuários, criar vantagens para as
concessionárias de energia elétrica, reduzir das emissões de gases do efeito estufa e
adiar a instalação de geração e distribuição de energia elétrica (BRASIL, 2015b).
Esse incentivo decorre do fato de o chuveiro elétrico ser um dos grandes
responsáveis pelo pico da demanda de energia elétrica que ocorre entre as 17 e 20 horas,
trazendo como consequência a necessidade de se prover esta quantidade de energia
durante esse período e pelo resto do dia. Todo sistema precisa permanecer ligado
aguardando o momento de pico, que ninguém sabe a hora exata que vai ocorrer. O custo
contábil é repassado para o consumidor, porém existe também o custo ambiental, ou
seja, o custo da degradação do meio ambiente, pois para gerar a quantidade de energia
necessária a fim de garantir a demanda na hora do pico, além dos investimentos na
expansão da capacidade da geração, é necessário também abdicar de alguns recursos
ambientais para que sejam criadas essas novas fontes geradoras de energia.
O problema surge quando se trata a região em que esses equipamentos são
instalados. No Sudeste, no Sul e em lugares frios, a aplicação do SAS cumpre fielmente
os dois propósitos descritos anteriormente, pois o chuveiro elétrico é utilizado em mais
de 85% das residências (DADALTO, 2008). Porém, em se tratando de regiões quentes,
como o Nordeste, o efeito é contrário. A população de baixa renda que utiliza o sistema
instalado, em sua maioria, não utilizava água quente antes de morar nas casas do
PMCMV. Seu uso, portanto, está associado ao hábito e não à necessidade. Achão (2003,
p. 60) corrobora esta afirmação: “Nas regiões Norte e Nordeste, o uso da água quente é
reduzido, devido ao menor nível de renda e às temperaturas médias maiores”. Dessa
forma, como não se tem o hábito de utilizar água quente e o governo está estimulando
seu uso, obviamente, haverá um crescimento expressivo de pessoas que desenvolverão
esse novo hábito. Há também a nova geração que já nasce neste ambiente, onde
adquirirão o hábito do banho quente, o que tende a se perpetuar.
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A questão é que, mesmo que o SAS não exija muito esforço de conservação, há
a depreciação do equipamento e sua manutenção e, provavelmente, haverá uma
dificuldade financeira para manter esses equipamentos em pleno funcionamento, dado
que para as populações de baixa renda o custo dessa manutenção pode tornar-se
elevado, pois os equipamentos são reparados por empresas especializadas. Uma vez o
hábito estabelecido, talvez seja mais racional, caso o usuário não tenha as condições de
fazer a manutenção do SAS, abandoná-lo e implantar o chuveiro elétrico, ou seja,
haverá um aumento significativo da demanda provocado por um setor que
anteriormente não demandava energia para tal tipo de consumo.
Quando se trata das questões técnicas do PMCMV, o sistema só pode ser
utilizado se houver água fria na caixa geral do condomínio, caso contrário não será
possível utilizar o SAS. Assim, transfere-se a responsabilidade do bom funcionamento
do sistema para infraestrutura do condomínio.
Deveria, portanto, ter sido feita uma avaliação do consumo de energia elétrica
em residências, que de acordo com Achão (2003), devem ser considerados aspectos
socioeconômicos e culturais, além das características das regiões brasileiras, que são
muito diversas. O consumo de energia está, portanto, associado a classes de renda, que
dão prioridades diferentes aos usos finais.
Os moradores do conjunto habitacional pesquisado prefeririam descontar o valor
pago pelo SAS nas parcelas da casa ou até mesmo substituir outros equipamentos que
utilizasse menos energia, como lâmpadas de Led, TV de Led ou um sistema solar para
geração de energia elétrica.
Conclui-se, portanto, que a preocupação com a sustentabilidade não foi o foco
do governo ao adotar o SAS para o PMCMV no caso da maior parte do Norte-Nordeste.
O benefício é evidente para quem oferta esse sistema, mas não para o consumidor, nem
tampouco para o meio ambiente. Se a sustentabilidade fosse a preocupação central, as
fases de pré-construção e construção do PMCMV, com uso dos recursos naturais para
maior conforto ambiental, térmico e acústico, além de utilização de novos materiais e
técnicas, além de aperfeiçoar os já existentes, teriam sido utilizados (VISINTAINER et
al., 2012).
A redução das desigualdades sociais com conservação ambiental deve pensar em
políticas que levem em conta questões específicas de cada região. Incentivar o uso de
SAS para as classes de maior renda talvez seja uma política complementar para redução
do consumo de energia, dado que estas classes consomem mais energia.
Referências
ACHÃO, C.C. L.. Análise da Estrutura de Consumo de Energia pelo Setor
Residencial Brasileiro. Dissertação do Curso de Mestrado em Planejamento
Energético, COPPE/ Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: UFRJ,
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http://www.sedhab.df.gov.br/mapas_sicad/conferencias/programa_minha_casa_minha_
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_______. 2015b. Sistema de aquecimento solar de água no Programa Minha Casa
Minha
Vida.
Disponível
em:
http://www.solarthermalworld.org/sites/gstec/files/Minha%20Casa%20Minha%20Vida.
pdf. Acesso em: 29 abr. 2015.
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http://www1.caixa.gov.br/imprensa/noticias/asp/popup_box.asp?codigo=7013177.
Acesso em: 29 abr. 2015.
COHEN, C.. Padrões de Consumo e Energia: efeitos sobre o meio ambiente e o
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VISINTAINER, M. R. M.; CARDOSO, L. A.; VAGHETTI, M. A. O.. Habitação
popular sustentável: sustentabilidade econômica e ambiental. Revista de Arquitetura
da IMED, v. 1, n.2, p. 133-140, 2012.
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