Macro Visão
quarta-feira, 5 de março de 2014
Desemprego, queda da taxa de participação e o
FIES
Há evidências empíricas de que a desaceleração da economia, o aumento do Fundo de
Financiamento Estudantil e os ganhos de renda contribuíram para a queda na oferta de trabalho
dos jovens, mantendo o desemprego baixo no Brasil.
A queda no crescimento econômico no Brasil causou uma desaceleração no mercado de trabalho.
Na pesquisa do IBGE realizada em seis regiões metropolitanas (PME), a quantidade de
trabalhadores (população ocupada) em janeiro de 2014 caiu 0,1% em relação ao mesmo mês do
ano anterior. Esta taxa de crescimento anual já alcançou 2,1% entre 2011 e 2012 e em torno de
3,0% entre 2006 e 2008, antes da crise financeira mundial. A criação de emprego formal divulgada
pelo Ministério do Trabalho (CAGED) também desacelerou. A média mensal em 2013 limitou-se a
60 mil, e em janeiro de 2014 a criação de vagas alcançou só 53 mil, com ajuste sazonal. Estes
valores são bastante inferiores à média mensal de 100 mil observada entre 2011 e 2012 e de 120
mil entre 2006 e 2008.
No entanto, apesar da desaceleração ou até redução
do emprego, a taxa de desemprego permanece em
patamares historicamente baixos. Isto ocorre porque
a
População
Economicamente
Ativa
(PEA,
empregados mais desempregados) também está
desacelerando. O crescimento anual da PEA recuou
de 3,0% ao final de 2012 para -0,8% em janeiro deste
ano. Em outras palavras, ao mesmo tempo em que
ocorre uma redução do emprego há uma diminuição
de pessoas procurando trabalho. Como somente
aqueles que não têm trabalho e tomaram alguma
medida para conseguir emprego são classificados
como desempregados, a taxa de desemprego não
sobe, mesmo com a queda na criação de emprego.
PO e PEA desaceleram
5%
População ocupada
PEA
4%
3%
2%
1%
0%
-1%
Variação anual
-2%
jan-06
jan-08
jan-10
jan-12
jan-14
Fonte: IBGE, Itaú
Uma parte da explicação para o recuo da PEA são as mudanças demográficas. A população
cresce menos e, por consequência, há menos trabalhadores disponíveis para a economia. Mas
ocorre que mesmo pessoas em idade ativa estão desistindo de trabalhar. Observamos que a taxa
de participação (razão entre a população economicamente ativa e a população em idade ativa)
recuou de 57,8% ao final de 2012 para 56,8% com ajuste sazonal em janeiro deste ano.
Logo, existem fatores, além da demografia, levando à menor procura por emprego. A análise da
taxa de participação por faixa etária mostra que a maior queda ocorreu entre os jovens de 18 a 24
anos. Desde dezembro de 2012, a taxa de participação deste grupo recuou 3,1 pontos percentuais,
de 70,2% para 67,1%, com ajuste sazonal. No mesmo período, a taxa de participação recuou 0,4
ponto percentual entre os adultos de 25 a 49 anos e 0,9 ponto percentual entre aqueles acima de
50 anos, valores próximos à volatilidade usual destes indicadores. Há também sinais de redução
da taxa de participação das mulheres. Porém, o destaque é, de fato, a menor procura por trabalho
entre os jovens de 18 a 24 anos.
A última página deste relatório contém informações importantes sobre o seu conteúdo. Os investidores não
devem considerar este relatório como fator único ao tomarem suas decisões de investimento.
Macro Visão – quarta-feira, 5 de março de 2014
Taxa de participação Total
Taxa de participação Jovens (18 a 24)
73%
59%
PEA/PIA
PEA/PIA
72%
58%
71%
70%
57%
69%
68%
56%
67%
com ajuste
sazonal
55%
jan-06
jan-08
jan-10
jan-12
jan-14
com ajuste
sazonal
66%
jan-06
jan-08
jan-10
jan-12
jan-14
Fonte: IBGE, Itaú
Fonte: IBGE, Itaú
A desaceleração das contratações provavelmente explica parte da queda na taxa de participação
dos jovens na economia. À medida que as empresas demandam menos trabalho, dado o recuo no
crescimento econômico, uma parcela da população em idade ativa desiste de procurar emprego
avaliando que não há oportunidades condizentes com suas aspirações.
Outro fator, além da fraqueza na atividade
econômica, que pode ter contribuído para a
redução da participação dos jovens no mercado de
trabalho é o Fundo de Financiamento Estudantil
(FIES), um programa do Ministério da Educação
destinado a financiar a graduação na educação
superior.
O
programa
sofreu
mudanças
importantes no período recente. Em 2010, o
governo implementou diversas alterações no FIES
de forma a facilitar o acesso dos estudantes aos
recursos: por exemplo, (i) a taxa de juros de
financiamento caiu de 9,0% para 3,4%, (ii) os
prazos de carência foram ampliados e (iii) o
estudante passou a poder pedir o financiamento
bancário a qualquer momento, sem precisar
passar pelo processo seletivo.
Impacto do FIES na PEA
71%
escala
invertida
70%
69%
Taxa de Participação
18 a 24 anos
Fies - estudante/PIA
(dir)
68%
67%
2003
2005
2007
2009
2011
0%
2%
4%
6%
8%
10%
12%
14%
16%
18%
20%
22%
24%
26%
28%
30%
2013
Fonte: IBGE, Itaú
Assim, o número de matrículas no FIES, que era de 50 mil por ano em média entre 1999 a 2009,
saltou para 76 mil em 2010, 154 mil em 2011, 377 mil em 2012 e 556 mil em 2013. O gráfico acima
compara a taxa de participação dos jovens de 18 a 24 anos com o estoque dos estudantes do
FIES (admitindo 5 anos de permanência de cada estudante no programa) dividido pela população
em idade ativa da PME1.
Esta análise é corroborada pelos microdados da PME, que mostram alta significativa de jovens
inativos estudantes (que não trabalham, não procuram emprego, mas estão estudando) na faixa
1
Se o número estimado de estudantes no Fies for dividido pela população total no lugar das seis
regiões metropolitanas, a proporção muda, mas a tendência é similar, o que não altera os resultados da
análise.
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etária de 18 a 24 anos, enquanto o número de inativos que não estudam tem ficado relativamente
estável.
Entre 2012 e 2013, a média de jovens de 18 a 24 anos inativos subiu de 1,58 milhão para 1,62
milhão, uma alta de 47 mil. Pode parecer pouco, mas não é, quando consideramos que a
população nessa faixa etária diminuiu em 115 mil
Jovens Inativos (fora da PEA)
nesse período. Ao mesmo tempo, a quantidade de
120
Estudantes
inativos que estudam aumentou em 38,7 mil, enquanto
Não estudantes
110
o aumento entre aqueles que não estudam foi de 8,7
mil. Desta forma, 82% do aumento nos inativos
100
ocorreram entre aqueles que estudam e 18% naqueles
que não estudam. No gráfico ao lado, mostramos
90
médias móveis de 3 meses de índices ajustados
80
sazonalmente de jovens inativos que estudam e que
não estudam. Observamos que, desde o início de 2012
70
Índice com ajuste sazonal,
há uma tendência de alta nos jovens inativos que
média móvel de 3 meses
60
estudam, enquanto o índice de jovens inativos que não
jan-04
jan-06
jan-08
jan-10
jan-12
jan-14
estudam tem ficado relativamente estável no mesmo
Fonte: IBGE, Itaú
período.
Jovens 18-24 anos (em milhares)
Total
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
5,739
5,686
5,628
5,554
5,452
5,308
5,216
5,173
5,059
Inativos (I) (I) que estudam (I) que não estudam
1,751
857
893
1,672
819
854
1,642
812
830
1,633
801
832
1,643
813
830
1,587
768
820
1,586
768
818
1,581
770
811
1,628
808
820
Fonte: IBGE, Itaú
Os dados indicam que o FIES pode ter contribuído para a queda na taxa de participação entre os
jovens, especialmente diante do desaquecimento do mercado de trabalho. Na verdade, o Fies
pode potencializar o efeito da desaceleração da economia na taxa de participação. Com as
condições mais fáceis e com menor custo para conseguir financiamento dos estudos, um
enfraquecimento da economia que reduz as opções no mercado de trabalho pode levar os
estudantes a optarem por estudar mais.
Utilizando um modelo empírico simples para estimar se o desaquecimento da economia, o
aumento do Fies e a elevação da renda média da economia ajudam a explicar a redução da taxa
de participação dos jovens, encontramos significância desses três fatores.
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Macro Visão – quarta-feira, 5 de março de 2014
1
2
3
4
5
Variável dependente: Taxa de Participação – 18 a 24 anos
Amostra: 2002T2 - 2013T4
Constante
0.69 0.71 0.97 0.70 0.84
(0.00) (0.00) (0.00) (0.00) (0.00)
Var. PIB(-1)
0.12
(0.01)
0.08 0.08
(0.04) (0.04)
-0.13
(0.00)
Fies/PIA
-0.12 -0.08
(0.00) (0.01)
-0.06
(0.00)
Salário médio
R2 - Ajustado
0.08
0.32
0.27
-0.03
(0.04)
0.35
0.38
( ) P-valor
Esta informação de que a maioria dos jovens se tornando inativos está estudando é útil para a
expectativa da dinâmica futura da taxa de desemprego. Jovens inativos que não estudam
(usualmente chamados de “nem-nem”) tendem a permanecer durante pouco tempo nesta
situação[1]. Porém, é menos provável que o jovem que está estudando volte, no curto prazo, a
procurar emprego. A tendência é que isso ocorra com o término do curso ou com a melhora das
condições econômicas.
Conclusão
A desaceleração da economia impactou negativamente a criação de emprego e a população
economicamente ativa. A queda na taxa de participação ocorreu com maior intensidade entre os
jovens de 18 a 24 anos e uma parte significativa destes jovens que saíram do mercado de trabalho
está estudando. Há evidências empíricas de que a desaceleração da economia, o aumento do
Fundo de Financiamento Estudantil e os ganhos de renda contribuíram para a queda na oferta de
trabalho dos jovens, mantendo o desemprego baixo no Brasil.
Assim, a parcela dos jovens que saíram do mercado de trabalho para estudar e contam com
financiamento não deve, no curto prazo, voltar ao mercado de trabalho. Desta maneira, a taxa de
desemprego tende a manter-se em patamares historicamente baixos nos próximos trimestres,
mesmo com a economia crescendo moderadamente.
Neste cenário, o mercado de trabalho segue sem ociosidade. Isto exerce pressão sobre a inflação,
pois mantém os custos de produção crescendo em ritmo forte. No médio prazo, o aumento da
educação entre os jovens tende a contribuir para que a economia tenha maiores ganhos de
produtividade.
Aurélio Bicalho
Luka Barbosa
Bibliografia
Menezes, Naercio A., Cabanas, Pedro Henrique F. e Komatsu, Bruno K., 2013. A Condição
“Nem-nem” entre os Jovens é Permanente?. Insper Policy Paper 7.
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Pesquisa macroeconômica – Itaú
Ilan Goldfajn – Economista-Chefe
Para acessar nossas publicações e projeções visite nosso site:
http://www.itau.com.br/itaubba-pt/analises-economicas/publicacoes/
Informações Relevantes
Este relatório foi preparado e publicado pelo Departamento de Pesquisa Macroeconômica do Banco Itaú Unibanco S.A. (“Itaú Unibanco”). Este
relatório não é um produto do Departamento de Análise de Ações do Itaú Unibanco ou da Itaú Corretora de Valores S.A. e não deve ser considerado
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2.
Este relatório tem como objetivo único fornecer informações macroeconomias, e não constitui e nem deve ser interpretado como sendo uma oferta
de compra ou venda ou como uma solicitação de uma oferta de compra ou venda de qualquer instrumento financeiro, ou de participação em uma
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(em dias úteis das 9h00 às 18h00), ou entre em contato por meio da Caixa Postal 67.600, São Paulo-SP, CEP 03162-971.
1.
* Custo de uma Chamada Local.
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