O COMPLEXO MILHO, AVES E SUÍNOS NA REGIÃO DE RIO VERDE:
Integração Atual e Potencial
Antônio Paulo Mendes Júnior
Mestrando em Desenvolvimento Regional e Agronegócio na Universidade Estadual do
Oeste do Paraná (Unioeste/Campus de Toledo). Economista pela PUC-GO. Membro do
Grupo de Estudos e Pesquisas Urbanas e Regionais do Centro-Oeste (GEPUR-CO). Rua da
Faculdade, 645, Sala de Pesquisa de Economia – Jardim La Salle. CEP: 85.903-000.
Toledo – PR. E-mail: [email protected]. Cpf: 806204341-04
Mirian Beatriz Schneider Braun
Economista, Professora da Unioeste – Campus de Toledo – Doutora em História
Econômica pela UNILEÓN/ES. Pesquisadora do GEPEC. Email: [email protected].
Rua da Faculdade, 645. Jr La Salle, Toledo Paraná. CEP 85903-000
CPF – 603775009-25
Área temática
Sistemas agroalimentares e cadeias agroindustriais
Forma de apresentação
Apresentação em sessão sem debatedor
O COMPLEXO MILHO, AVES E SUÍNOS NA REGIÃO DE RIO VERDE:
Integração Atual e Potencial
RESUMO: O objetivo desse trabalho é tentar focaliza-se a integração existente e potencial
dos complexos milho, aves e suínos na Região de Rio Verde. Para tanto, centrou-se a
análise no conceito de Complexos Agro-industriais (CAIs), o que levou a perceber a
correlação existente entre cada complexo a montante e a jusante do complexo milho.
Destarte, esse estudo pode ser de grande importância para os institutos de planejamento, no
mais, os órgãos públicos, podendo os mesmos aplicar políticas públicas para que haja
crescimento e desenvolvimento regional.
Palavras-chave: complexo agro-industrial, integração a jusante e a montante, milho, aves e
suínos.
O COMPLEXO MILHO, AVES E SUÍNOS NA REGIÃO DE RIO VERDE:
Integração Atual e Potencial
1 INTRODUÇÃO
A modernização agropecuária estabelecida nos últimos tempos no Brasil,
principalmente a partir da década de 1970, quando ocorre a chamada revolução verde, e em
especial no Centro-Oeste tem mudado toda a configuração existente no campo, inclusive
as relações sociais que se estabelecem em torno do trabalho neste espaço. Não tem sido
diferente o que está ocorrendo na agricultura e pecuária do sudoeste goiano, principalmente
quando se analisa produtos específicos, como é o caso do milho, das aves e dos suínos. O
que mais caracteriza esse processo de intensa transformação é a atração da agroindústria
para a região, fruto das condições naturais, humanas e econômicas existentes em Rio Verde
e seu entorno. É claro, que essa atração não é fruto exclusivamente da modernização
agrícola ali verificada - os incentivos fiscais, a logística etc. colaboram também para essa
atração - mas sem ela seria muito difícil atrair outras empresas para Região.
Essas transformações fazem com que a Região de Rio Verde 1 ganhe destaque como
pólo econômico no segmento agropecuário e de agroindústria no Estado de Goiás e no país.
Essa tendência tem sido evidenciada, por um lado, pela presença de uma agricultura (soja,
milho, sorgo etc.) competitiva e de empresas bem sucedidas que estão estabelecidas nesse
local; por outro lado, pela atração de outras empresas importantes no plano nacional para a
Região. A dinâmica provocada pela interação dos setores produtivos tem sido elemento
fundamental para tornar a Região referida um pólo importante, pois o processo de
encadeamento aí estabelecido tende a dar maior vigor à economia local e ao próprio Estado.
Neste sentido, destaca-se como produtos importantes o milho, as aves e os suínos, que,
1
Compreende-se neste estudo por Região de Rio Verde o município que leva este nome e os municípios que
estabelecem divisa com ele, que são Montividiu, Aparecida do Rio Doce, Caiapônia, Jataí, Quirinópolis,
Santa Helena de Goiás, Chapadão do Céu, Cachoeira Alta, Castelândia, Maurilândia, Paraúna e Santo
Antônio da Barra.
apesar de se colocarem como complexos independentes uns dos outros, possuem forte
integração. E é a integração desses complexos o objeto de estudo deste trabalho, que tem
como objetivo caracterizar a correlação existente e potencial entre o complexo milho e os
complexos avícola e suinícola na Região de Rio Verde.
2 COMPLEXOS AGRO-INDUSTRIAIS
Existe muita discussão em torno do conceito de complexos agro-industriais. Pode-se
identificar, grosso modo, duas concepções do termo em questão. A primeira refere-se a um
macrocomplexo ou CAI (Complexo Agro-industrial), que é derivada da concepção de
agribuness 2 . A segunda é resultado da evolução histórica do conceito de complexo rural,
que se refere a vários complexos agro-industriais - CAIs.
Graziano da Silva (1996), nesse debate, ao fazer críticas ao conceito de CAI,
argumenta que:
“tem-se num nível muito agregado um conjunto de atividades interrelacionadas que englobam, além da agricultura em sentido lato, as
indústrias a ela vinculadas e a agroindústria; e abaixo do CAI, apenas as
empresas ou grupos econômicos, conglomerados, grupos de empresas,
etc.”. (p. 80)
Seguindo esse pensamento, ele afirma que:
“a idéia de um grande complexo agro-industrial tem o perigo de ignorar
todos os segmentos que não têm esse tipo de integração e regulação. No
caso brasileiro, esse ‘resíduo’ não é tão pequeno a ponto de ser
desprezado. Em termos de produtos e regiões brasileiras, a integração é
muito diversa. Ao tratá-las agregadamente, passa-se a idéia de que a
centralização de capitais é muito maior do que efetivamente o é”. (p. 80)
2
Sobre este assunto ver Davis & Goldberg (1957); para um crítica aprofundada desse termo ver Graziano da
Silva (1996)
Nesse sentido, ele completa sua crítica dando elementos para se pensar o conceito
em termos dinâmicos, afirmando que a compreensão do complexo deve ser pensada como
uma etapa de transição em que agricultura se industrializará.
A partir dessas considerações feita ao macrocomplexo, Graziano da Silva (1996)
apresenta o conceito por ele utilizado descrevendo a abordagem histórica que faz surgir o
que ele chama de Complexos Agro-industriais. Assim, é apresentado, em primeira
instância, o conceito de complexo rural, de onde se derivou os CAIs, como sendo:
“um conjunto intricado de atividades agrícolas e manufatureiras
indissoluvelmente ligadas e internalizadas nas fazendas, que reproduzem
em âmbito local as articulações mais gerais do D1 com o D2 de toda a
economia colonial”. (1996: 85)
E continua descrevendo como tem se dado o processo de modernização da
agricultura evoluindo do complexo rural aos complexos agro-industriais:
“Vale a pena destacar a importância atribuída à ‘internalização do D1’. De
um lado, do ponto de vista da implantação no país das indústrias químicas
e mecânicas, fabricantes de insumos e máquinas agrícolas: é a partir daí
que se torna possível aprofundar o processo de modernização, com a
industrialização da agricultura e a constituição dos vários CAIs. De outro,
no sentido de que apenas quando se estabelecem relações específicas para
trás com a indústria de insumos e máquinas agrícolas é que se tem um
CAI completo”. (Graziano da Silva, 1996: 87)
Neste sentido, Graziano da Silva (1996) afirma,
“Isso, de um lado, permite tratar os CAIs como o resultado datado de um
processo de transformações em curso, não necessariamente final ou
estático; de outro, impõe que a sua delimitação seja multideterminada,
tornando flexível a inclusão/exclusão de seus componentes em função da
ênfase que se queira imprimir à análise”. (1996: 88)
Por este motivo, definiu-se pela utilização dos Complexos Agro-industriais (CAIs)
para a abordagem do objeto desse estudo. A escolha decorreu dos instrumentos oferecidos
pelo conceito aqui utilizado, que contribui com o entendimento do que se investiga.
Desse modo, como este estudo tratará de três complexos (milho, aves e suínos), que
ao mesmo tempo possui forte integração, tomar-se-á como referencial o complexo milho.
Assim, na abordagem que será utilizada os complexos a montante e a jusante dizem
respeito ao complexo milho, mesmo sabendo que o milho pode estar a montante do
complexo avícola e suinícola ou a jusante, conforme o potencial na integração que ora
investiga-se.
Sob este arcabouço metodológico, o estudo da integração dos complexos avícola e
suinícola e o complexo milho, na região de Rio Verde, será focado na relação que estes
complexos realizam entre si quando, de um lado, a avicultura e a suinocultura recebem o
farelo de milho que comporá a ração utilizada por estes complexos; e de outro lado, os
excrementos ou dejetos oriundos dos complexos suinícola e a cama de frango oriundos do
complexo avícola tendem a desempenhar um papel importante na composição do adubo do
milho, servindo, portanto, de fertilizante em sua lavoura.
Desta forma, não compete a este trabalho aprofundar em abordagens mais
detalhadas sobre cada um dos complexos em estudo, mas perceber o nível de
funcionamento em que tais complexos se envolvem. Assim a análise deste estudo estará
voltada exclusivamente para os pontos de integração, entendendo como um movimento
dinâmico e resultado de forças antagônicas e/ou complementares que levaram à
modernização da agricultura.
3 A INTEGRAÇÃO A JUSANTE
A produção de milho na Região de Rio Verde registrou em 2000 um patamar de
1.065.375 toneladas. Mais de dois terços decorreram da participação dos municípios de
Jataí (33,55%), Rio Verde (22,29%) e Montividiu (16,19%). Essa produção participa com
16,94% da composição da Região Centro-Oeste, conforme dados do Levantamento
Sistemático da Produção Agrícola de 2000, elaborado pelo IBGE, que registraram nesse
ano uma produção de 6.289.384 toneladas, considerando a primeira e a segunda safras. Ao
considerar a área produzida de milho na Região de Rio Verde, que registrou, em 2000, um
total de 262.024 hectares, percebeu-se que Jataí, Rio Verde e Montividiu, nesta ordem, são
os que mais participam com 38,27%, 22,90% e 15,27%, respectivamente. Ao contrário dos
dados apresentados anteriormente não são esses municípios que têm melhor desempenho,
pois o rendimento médio da produção de milho, que mostra a relação da produção e a área
produzida, é maior nos Municípios de Santa Helena de Goiás, Quirinópoilis e Paraúna. Rio
Verde, apesar de possuir maior desempenho em relação a Jataí, ocupa a 12ª posição no
ranking do rendimento médio da Região.
A configuração da criação de aves na Região de Rio Verde apresentou modificações
nos últimos anos da década de 1990. Em 1998, foi registrado 2.553.500 efetivos. Desse
total, 73,04% decorriam da participação do Município de Jataí, e muito atrás, em segundo
lugar, aparecia Rio Verde com 7,28%. Em 1999, houve um aumento de 33% do número de
efetivos na Região, passando para 3.399.310 cabeças. Neste ano, a participação de Jataí
caiu para 69,62%, apesar de ter aumentado seu efetivo em 27%, e o Município de Rio
Verde registrou crescimento do número de efetivos em 128% e na composição da Região,
participando com 12,47%. Em 2000, o aumento de efetivos em relação ao ano anterior foi
de 99%, o que fez com que neste ano registra-se um total de 6.779.290 efetivos. Desse
total, o Município de Jataí, apesar de aumentado o número de efetivos em 0,23% em
relação a 1999, participou com apenas 34,99%. Essa queda da participação de Jataí no
número de efetivos na Região de Rio Verde decorreu do aumento do número de efetivos do
Município de Rio Verde, que foi de 659,43% em relação ao ano anterior, o que levou este
Município a participar com 47,50% do efetivo da Região. Esse impacto ocorrido no
Município de Rio Verde foi fruto do funcionamento da agroindústria da Perdigão S/A. O
crescimento de efetivos de aves na Região foi de 165%, no período de 1998 a 2000. Em
todos os anos Jataí e Rio Verde participaram com mais de 80% do efetivo da Região.
Do mesmo modo que as aves, a configuração da criação de suínos na Região de Rio
Verde sofreu modificações nos últimos anos da década de 1990. Porém seu comportamento
se deu de forma diferenciada. Em 1998, o número de efetivos de suínos registrado na
Região foi de 107.480 cabeças. Desse total, Rio Verde ocupava a primeira posição no
ranking da participação com 26,98%, logo atrás aparecia Jataí com 21,72%, seguida de
Quirinópolis com 10,05% e de Paraúna com 9,49%. Apenas estes quatro Municípios
somaram mais de dois terço dos efetivos da Região. Em 1999, foi registrado 186.830
efetivos na Região de Rio Verde, um aumento, se comparado ao ano anterior, de 73,83%.
Esse aumento decorreu, principalmente, do aumento de efetivos no Município de Rio
Verde, que foi de 260,97%, o que levou este Município a aumentar sua participação na
composição da Região, atingindo 56,03%, visto que o número de efetivo absoluto do
demais Municípios mostraram-se estáveis se comparado 1998 e 1999. Em 2000, o efetivo
de suínos cresceu 33,79% em relação a 1999 e 132,56% em relação a 1998, registrando
249.960 cabeças. Desta vez, esse crescimento não se deu em decorrência do Município de
Rio Verde, este teve sua participação e efetivo reduzidos. O crescimento foi fruto do
aumento ocorrido nos Municípios de Aparecida do Rio Doce, Jataí, Montividiu, Santa
Helena de Goiás, entre outros.
3.1 PARTICIPAÇÃO DO MILHO NA PRODUÇÃO DE AVES E SUÍNOS
ABATIDOS
Para poder perceber qual a participação do milho na produção de aves e suínos na
região de Rio Verde recorreu-se a Pires & Fonseca (2001). Segundo estes autores,
utilizando-se de dados fornecidos pela Coperguaçu no Município de Descalvado (SP),
“a alimentação média das aves consome, em média, 4,973 quilos de ração
para cada unidade de animal vivo, num período de 51 dias. Este total
corresponde ao somatório de quatro tipos de rações que são dados às aves
durante seu período de vida” (p. 2).
Mais abaixo eles afirmam que “em um quilo de ração há 0,6314 quilos de milho”
(2001: 2). Tomando-se isso como verdade e transferindo para a realidade que este estudo se
propôs investigar, observa-se que para produzir uma ave são necessários 3,14 quilos de
farelo de milho. Desse modo, como na região de Rio Verde, em 2000, houve um efetivo de
6.779.290 cabeças de aves, somente para estas foram necessários 21.286,65 toneladas de
farelo de milho.
Por outro lado, de acordo com a informação obtida na empresa Perdigão S/A, que
diz que somente ela necessitou, em 2000, de 500 mil toneladas de farelo de milho para sua
agroindústria de aves e de suínos existentes no Município de Rio Verde, revela que a
principal destinação do milho vai para a composição da ração de aves e suínos, ao contrário
dos dados anteriores.
Ao analisar o preço dos suínos abatidos na região de Rio Verde, pegou-se como
referencial dados fornecidos pela empresa Dalland Comigo, pertencente ao grupo Comigo.
De acordo com essa empresa a arroba do suíno é cotada a R$ 34,00. Como um porco
abatido possui em torno de 72 quilos, o quilo do suíno abatido gira em torno de R$ 2,27, ou
seja, o preço de cada suíno é equivalente a R$ 163,20.
Nesse estudo não se obteve o preço do frango abatido pelo fato de todas as granjas
existentes no Município de Rio Verde destinarem sua produção para a empresa Perdigão.
Como elas possuem um contrato de fornecimento diferenciado, tornava-se complicado
compreender a formação de preço do frango aí existente, uma vez que os frangos não
pertencem aos produtores e sim à empresa Perdigão, que repassa os pintinhos de um dia
para serem cuidados pelos produtores, que recebem toda assistência técnica necessária.
Portanto, constitui-se como fator importante de integração entre os complexos
milho, aves e suínos a presença do milho barato. E isso faz com que empresas de grande
porte, como é o caso da Perdigão, se instale na Região, pois torna-se mais rentável realizar
o processamento das aves e suínos próximos do mercado fornecedor de insumos, o que
leva à redução dos custos de produção e, consequentemente, ao aumento
da
competitividade. Esses elementos explicam a integração a jusante do complexo milho.
Por isso, é importante ainda sob o ponto de vista da integração destacar o Projeto
Buriti que trata da implantação da Empresa Perdigão S.A no município de Rio Verde. Isso
porque apenas esse projeto ousa abater 281 mil cabeças de aves por dia, 3.500 cabeças de
suínos por dia, além de uma fábrica de ração para 60 mil toneladas por mês, duas granjas
matrizes de aves para 1.738.000 ovos por semana, um incubatório de aves para 1.460.000
pintos por semana e 860 módulos de integração de aves e suínos. (Faveret Filho & Paula,
1997: 3).
Nesse projeto desenvolvido pela Perdigão a empresa, a exemplo de sua matriz em
Santa Catarina, possui uma relação diferente com os produtores. Não é ela que produz as
aves e suínos que utilizam no abate para fabricação de seus produtos. A empresa se
compromete a fornecer pintinhos de um dia, rações e medicamentos para os produtores,
presta assistência técnica, transporta as aves e rações e remunera o produtor, que é chamado
de integrado, conforme o resultado técnico. (Faveret Filho & Paula, 1997: 3-4).
Nessa relação que se estabelece a empresa consegue obter um fluxo contínuo e
padronizado de matéria-prima para a indústria. Para que isso ocorra a empresa analisa a
disponibilidade de grãos, principalmente o milho que é o principal componente da ração,
além da distância da empresa à “fazenda”. As granjas devem ter uma capacidade média de
24 mil frangos. Deve haver ainda boa infra-estrutura na propriedade. Em contrapartida o
integrado deve, segundo Faveret Filho & Paula:
“arcar
com
os
investimentos
em
instalações
e
equipamentos,
compreendendo construção e manutenção, sob supervisão da empresa;
fornecer mão-de-obra para cuidados do aviário; fornecer mão-de-obra
para carga e descarga; fornecer água, gás e energia elétrica; seguir
orientações técnicas e sistemas de controle indicados pela empresa;
permitir livre acesso dos técnicos aos aviários; e aderir a um sistema de
retenção de fundo de equalização das prestações”. (2001: 6)
Este modelo adotado pela Perdigão S/A, tendo em vista o volume da produção de
aves e suínos, possibilita a alavancagem da economia e prova que a Região de Rio Verde
possui poder de competitividade em relação a outras regiões do país.
4 A INTEGRAÇÃO A MONTANTE
Agora a discussão irá centrar no outro lado da integração possível de se realizar
entre o complexo milho e os complexos avícola e suinícola, a chamada integração a
montante. Este estudo decorre do projeto elaborado pela empresa Perdigão S/A que se
instalou no município de Rio Verde, mas que já possui forte relação em toda a Região. O
projeto em questão denominado “Viabilidade e uso correto dos dejetos de suínos e cama de
aves na agropecuária” foi divulgado pelo informativo técnico da empresa, em dezembro de
2000. Esse projeto compara o custo auferido pela adubação química com o custo decorrente
do uso de dejetos de suínos e/ou cama de aves na lavoura de soja e milho, conforme
apresentaremos a seguir.
4.1 DEJETOS DE SUÍNOS
As vantagens de utilização dos dejetos orgânicos de suínos como fertilizantes do
solo em detrimento de adubos químicos são de ordem ambiental e econômico. Sob este
último aspecto a empresa Perdigão S/A utiliza-se de cálculos matemáticos a partir dos
produtos existentes no adubo químico e do adubo alternativo por ela desenvolvido,
considerando a quantidade de cada medida de valor que incorpora cada um dos adubos.
Esses cálculos são desenvolvidos tanto para a produção de soja como a de milho.
No caso da soja o custo por hectare de adubo químico é calculada em R$ 139,30, ao
passo que o custo por hectare de dejetos de suínos fica em cerca de R$ 22,75, uma
economia por hectare da ordem de R$ 116,55. No caso do milho o custo por hectare de
adubo químico é calculada em R$ 232,30, sendo que o custo por hectare de dejetos de
suínos resulta em R$ 39,00, a economia neste caso é da ordem de R$ 193,30 por hectare.
Considerando que o produtor faça um investimento de suinocultura para 3.000 a
4.000 animais no Sistema Vertical Terminador (SVT) ou 1.040 matrizes no Sistema
Produtor de Leitões (SPL), sua produção média de dejetos por projeto será da ordem de
11.000 m³/ano. A partir dessa informação é feito o cálculo em que se divide, no caso da
soja, 11.000, correspondente à produção média de dejetos por projeto por ano, por 35
m³/ha, que é a quantidade recomendada de dejetos para se igualar a adubação química,
conforme testes realizados em experimentos com lavouras adubadas com dejetos na região
de Rio Verde. O resultado dessa divisão é multiplicada pela economia obtida na utilização
de dejetos em um hectare (R$ 116,55), que oferece uma economia anual de R$ 36.596,70.
No caso do milho, divide-se o mesmo valor correspondente à produção média de
dejetos por projeto por ano (11.000 m³/ano) por 60 m³/ha, que corresponde à quantidade
recomendada de dejetos para se igualar à adubação química. Desse resultado multiplica-se
pelo valor obtido na economia de um hectare (R$ 193,30). Esse cálculo resulta numa
economia de R$ 35.373,90 por ano.
4. 2 CAMA DE FRANGOS
De acordo com o mesmo projeto elaborado pela Perdigão S.A., a renda líquida
obtida por ano, realizando a retirada da cama de frango a cada 3 lotes, é de R$ 5.954,00.
Para chegar nesse montante, foi considerado um aviário de 1.600 m², com capacidade de
alojamento de 24.000 aves. O custo da cama foi estimada em R$ 1.900,00, a partir do custo
inicial de 15 t por R$ 60,00, que corresponde a R$ 900,00; dois adicionais de 10 t por R$
60,00, resultante em R$ 600,00; mais custo da retirada da cama calculada em R$ 400,00.
A cada três lotes tem um volume de cama para a venda, composta por 15 t inicial,
10 t adicionais e 50 t incorporação (dejetos das aves), obtendo 75 t por R$ 60,00, que é
igual a R$ 4.500,00. Esse valor corresponde ao valor bruto a cada 3 lotes. Ao se retirar dele
a diferença das despesas de 3 lotes (R$ 1.900,00), a renda líquida resulta em R$ 2.600,00.
O ganho por ano, considerando que se fará 6,87 lotes, que corresponde a 2,29
retiradas por ano, é de R$ 5.954,00, quando se multiplica a quantidade de retiradas/ano pela
renda líquida a cada 3 lotes.
No mesmo projeto é apresentado o custo do adubo químico para a produção de soja
e de milho em comparação com a utilização da cama de frango. O adubo químico para a
lavoura de soja possui um custo de R$ 139,30, ao passo que utilizando-se da cama de
frango o custo é R$ 50,60, que representa uma economia de R$ 88,70 por hectare. Em um
ano a economia corresponde a R$ 7.610,46, ao considerar 85,8 hectare. Como o adubo
químico para a lavoura de milho foi calculada em R$ 232,30 e a cama de frango em R$
75,90, a economia, neste caso, corresponde a R$ 156,10 por hectare. No ano essa economia
é acumulada em R$ 8.928,90, considerando 57,2 hectare.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como foi visto, de um lado, quando a integração se realiza a jusante, observa-se que
o farelo do milho que entra na composição da ração das aves e dos suínos, torna esses
produtos competitivos pelo fato de o milho ser um produto barato na Região e um
importante componente da ração das aves e dos suínos e isso colabora para a integração
desses complexos. De outro lado, ao analisar a integração a montante, observa-se que o
potencial que se configura na Região favorecerá mais ainda à competitividade das aves e
suínos, por utilizar dejetos orgânicos de suínos e a cama de frangos na lavoura de milho, o
que torna mais barato a produção do milho, além de contribuir para preservação do meio
ambiente.
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