P A S S A V A N T E , J o s é Z a n o n de O l iv e ir a . P r o d u ç ã o f it o p l a n ct ô n ic a d o e s t uá r io d o r i o C a p i ba r i b e ( R e c if e , P er n a m b u c o, B r a s i l ) I n. C O N G R ES S O N O R D ES T I N O D E E C O L O G IA , 1 0 . , 2 0 0 3 , R e c if e A n a i s . . . R e c if e : 2 0 0 3 , C D - R O M , p . 1- 2 . Introdução O ser humano ao deixar sua vida nômade para formar os aglomerados urbanos o fez pensando nas facilidades de circulação, disponibilidade de alimentos e principalmente água potável. Assim, os ambientes aquáticos inicialmente contemplavam tais necessidades humanas, pois nas margens dos rios, lagos, lagoas etc. podiam ser utilizados na busca de alimentos através da pescaria; escoamento de produção, tanto de pesca quando agrícola. A água poderia também ser, também, utilizada para o consumo humano e para o lazer. Devido a esta ótima qualidade de vida, o ser humano multiplicava-se vertiginosamente atraindo cada vez mais outros grupos e de pequenos núcleos originaram grandes cidades com milhões de habitantes não só naquele local, mas no seu entorno e ao longo de toda bacia hidrográfica. A cidade do Recife, não é uma exceção, pois os rios, Capibaribe e Beberibe, que a embelezam formando a Veneza Brasileira, é considerada uma das grandes cidades com todos os problemas como em quaisquer partes do Mundo. Esgotos domésticos e industriais que são lançados em suas águas, destroem a vida, eutrofiza o ambiente; condicionam o aparecimento de espécies de microalgas oportunistas, muitas vezes altamente tóxicas, que inviabilizam o consumo da água e de seus peixes pelo próprio ser humano. Ao ser fundado o Instituto de Biologia Marítima e Oceanografia da Universidade do Recife em 1952, seus pesquisadores começaram a montar os Laboratórios e já em 1959 publicaram os primeiros trabalhos oceanográficos da região. Um corpo d’água que chamou de imediato a atenção, como não poderia deixar de ser, foi o rio Capibaribe. Ottmann e Otmann (1959a) publicaram dados sobre a maré de salinidade e os mesmos autores (1959b) fizeram a descrição sobre a parte hidrológica do citado rio. Travassos (1991), Travassos; Macêdo; Koening: Passavante, (1991) realizando pesquisas sobre o fitoplâncton e hidrologia do estuário do rio Capibaribe, verificaram que a biomassa primária, apresentou variações bastante definidas, chegando a considerá-lo eutrófico. O rio Capibaribe, nasce na serra do Jacaré no município de Porções percorrendo 240km até sua foz, passando por inúmeras cidades, que apesar de ter sido o impulsionador do progresso, por onde passa, o ser humano não teve a mesma consideração com ele, despejando em suas águas todos os produtos nocivos produzidos pela civilização. Tais produtos alteraram sensivelmente a biota do meio aquático e os organismos fitoplanctônicos, mais sensíveis a tais alterações, e por ser o primeiro elo da teia trófica aquática transmitem aos demais níveis tróficos todos os poluentes que vão absorvendo no seu ciclo de vida. Material e Métodos Mensalmente (junho/1987 a junho/1988) foram coletadas amostras para análise de produção fitoplanctônica em quatro pontos ao longo do estuário do rio Capibaribe, abaixo descrita: Estação 1 – Localizada à jusante da Ponte Princesa Isabel, entre a Assembléia Lesgislativa e o Palácio do Campo das Princesas, distando 1,5km da foz; Estação 2 – Localizada em frente a Estação Central do Metrô do Recife, distando 2,7km da foz; Estação 3 – Situada a jusante da Ponte Prefeito Lima de Castro, entre o Sport Club do Recife e a Clínica São Marcos, distando 5,1km da foz; Estação 4 – Localizada entre o Parque da Jaqueira e o Hospital Evangélico distando 8,2km da foz. Para a determinação da produção fitoplanctônica utilizou-se um marcador, a base de carbono radioativa (14C) Seguindo-se o método de Steemann-Nielsen (1952) e a incubação foi in situ por um período de 3 horas. Resultados e Discussão A produção fitoplanctônica variou entre 0,99 a 342,27mg C.h-1.m-3, ocorrendo respectivamente na estação 3 no mês de maio e na estação 1 no mês de setembro. Passavante (1979), iniciou as pesquisas para análise de biomassa (clorofila) e produção fitoplanctônica no nordeste do Brasil. Agora, com uma planilha de dados dos últimos 28 anos é possível classificar os estuários em cinco índices tróficos: a) Oligotrófico ou de baixa produção fitoplanctônica, com teores de clorofila a entre 0 e 5mg.m-3; b) Mesotrófico ou de média produção fitoplanctônica, com teores de clorofila a entre 5 e 10mg.m-3; c) Eutrófico ou de alta produção fitoplanctônica, com teores de clorofila a entre 10 e 20mg.m3 ; d) Hipereutrófico ou de altíssima produção fitoplanctônica, com teores de clorofila a superior a 20mg.m-3. Assim devem ser considerados os ecossistemas que apresentem mais de 50% dos dados dentro de uma destas classificações em uma análise mais prolongada (como: em variações sazonais; variações em período(s) de estiagem(ns) e chuvoso(s) etc.). Dado punctiforme, realizado uma só vez, ou durante uma variação diurna e mesmo nictemeral não deve ser considerado para classificação do ambiente. Com raras exceções os valores de biomassa (clorofila a) estão diretamente correlacionados com os de produção primária e ambos podem ser utilizados para a classificação do grau de eutrofização dos estuários, porém, como a biomassa é uma medida mais prática e fácil de se avaliar, torna-se um dos melhores parâmetros para a classificação dos índices tróficos estuarinos. Como as chuvas, através da lixiviação do solo ocasionam uma entrada bastante significativa de nutrientes nos ambientes aquáticos, às vezes, estes ambientes apresentam-se eutrófico num período e oligotrófico em outro. Deve também ser considerado que no seu percurso os rios, bem como em seus estuários, podem apresentar trechos (superior, médio e inferior) com níveis tróficos diferentes e assim receber classificações diferentes para cada trecho, isto pode ocorrer até mesmo em plataforma uma vez que estas áreas podem sofrer influência direta de um estuário, influência terrestre ou de ressurgências e assim serem mais eutróficas que as áreas localizadas em suas proximidades. Com os dados obtidos de biomassa primária (61,54% >20mg Clorofila a.m-3), ratificado pelo de produção primária (55,77% >20mg Carbono.h-1.m-3), é possível classificar o estuário do rio Capibaribe como hipereutrófico, com tendência a mesotrofia no período chuvoso. Conclusão O estuário do rio Capibaribe é hipereutrófico; Há uma nítida variação sazonal, correlacionando negativamente a produção primária com os valores pluviométricos. Palavras Chaves: Fitoplâncton; produção, biomassa; grau de eutrofização. Referências Bibliográficas OTTMANN, François; OTTMANN, Jeanne-Marie. “La maree de salinite dans le Capibaribe” RecifeBresil, Trab. do Instit. de Biologia Marítima e Oceanogr. Univer. do Recife. Recife: v. 1. n.1. 1959a. p.39-49 OTTMANN, François; OTTMANN, Jeanne-Marie. “Les Sediments de l’embouchure du Capibaribe” Recife-Bresil. Trab. do Instit. de Biologia Marítima e Oceanogr. Univer. do Recife. Recife: v. 1. n.1. 1959b. p.51-69 PASSAVANTE, J. Z. de O. Produção primária do fitoplâncton do Canal de Santa Cruz. (Itamaracá – Pernambuco). São Paulo, 1979. 188f. Tese (Doutorado em Ciências) – Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo. STEEMANN-NIELSEN, E. The use of radio-active carbon (C14} for measuring organic production in the sea. Journal du Conseil Permanent International Pour l'Exploration de le Mer, Copenhage, v. 18, n. 2, p. 117-40, 1952 TRAVASSOS, P. E. P. F. Hidrologia e biomassa primária do fitoplâncton no estuário do rio Capibaribe, Recife – Pernambuco. Recife, 1991. 287f. Dissertação (Mestrado em Oceanografia Biológica) Universidade Federal de Pernambuco. TRAVASSOS, P. E. P. F.; MACEDO, S. J. de; KOENING, M. L.; PASSAVANTE, J. Z. de O. Biomassa fitoplanctônica do estuário do rio Capibaribe (Recife - Pernambuco - Brasil). Arquivo de Biologia e Tecnologia. v. 38, n. 4, p. 1071-1083, 1995. Tabela 1 – Produção e taxa de assimilação fitoplanctônica do estuário do rio Capibaribe (Recife, Pernambuco) ESTAÇÃO 1 ESTAÇÃO 2 ESTAÇÃO 3 ESTAÇÃO 4 MÊS CARBONO TAXA DE ASSIMILAÇÃO CARBONO TAXA DE ASSIMILAÇÃO CARBONO TAXA DE ASSIMILAÇÃO CARBONO TAXA DE ASSIMILAÇÃO JUN/87 30,57 1,89 16,95 1,23 5,00 0,65 2,68 0,36 JUL. 3,91 0,43 3,92 6,03 2,85 0,55 2,63 1,04 AGO. 113,92 1,83 34,00 1,59 16,89 2,35 9,07 0,99 SET. 342,27 1,97 239,74 2,45 147,86 2,58 51,98 1,49 OUT. 74,23 0,26 145,39 0,53 107,49 0,50 199,19 2,31 NOV. 154,38 1,09 80,63 0,63 91,00 0,39 17,06 0,40 DEZ. 74,62 0,32 98,87 0,50 49,39 0,38 47,28 0,56 JAN/88 … … … … … … … … FEV. 38,32 0,25 43,41 0,21 28,57 0,23 65,82 0,47 MAR. 55,18 0,96 29,94 0,46 28,09 0,79 15,99 0,77 ABR. 8,77 0,25 24,96 0,76 11,87 0,16 13,14 0,27 MAIO 66,57 1,17 37,45 0,47 35,64 1,22 12,86 0,79 JUN. 2,71 0,18 1,81 0,27 0,99 0,20 1,01 0,14 JUL. 1,51 0,11 1,57 0,23 1,21 0,18 1,41 0,13