SAUDAÇÃO Que bom que hoje podemos discursar sem prévia autorização ou censura de conteúdo. Que bom que todos que estão ouvindo este discurso também podem falar. É a soma de vozes e opiniões que faz a democracia, a qual aprendemos a dar valor, após viver o silêncio da ditadura. Ao tomar conhecimento desse ato simbólico do Comitê Gaúcho da Memória, Verdade e Justiça, refleti sobre a importância de preservar a memória dos erros, abusos e desmandos do passado, por ser a única forma de nos mantermos para sempre atentos a qualquer sinal de supressão de direitos. Para fazer justiça à Polícia Civil Gaúcha, que hoje tenho orgulho de estar à frente, deve ser dito que a ditadura militar foi dirigida por pessoas, não por instituições, prédios ou símbolos. Somente o ser humano é capaz de atrocidades. A verdade é que instituições Públicas e Privadas foram manobradas para agirem ou se omitirem por imposição da ditadura. Por isso, faço um parênteses para salientar a importância da busca da autonomia funcional para a Polícia Judiciária. Exatamente para que não seja possível usá-la como uma marionete a serviço dos desmandos de governos autoritários. A Polícia Civil tem por dever constitucional, assim como o comitê que aqui se faz presente, buscar a verdade e a justiça. Por isso hoje ela se afirma como verdadeiro instrumento da democracia. Felizmente ficaram no passado termos como repressão, silêncio, DOI-CODI e DOPS. E foram substituídos por palavras como democracia, voz, direitos humanos e equidade. Nessa esteira a atual gestão da Polícia Civil criou a Assessoria de Direitos Humanos, que veio para posicionar a instituição como protagonista na preservação da cidadania. No entanto, não é de hoje que nossa instituição se envolve com esta importante temática. A Polícia Civil Gaúcha foi a primeira Polícia da América Latina a implementar a disciplina de Direitos Humanos na formação do policial, através da Lei Estadual nº 8.776, de 23 de dezembro de 1988. Para reflexão: penso que a busca da paz exige o abandono do revanchismo, do sentimento de vingança e da perseguição daqueles que outrora foram perseguidores. O caminho percorrido desde o fim da ditadura demonstra que o Brasil amadureceu e a máxima de Hamurabi do “olho por olho, dente por dente” não se coaduna com uma sociedade comprometida na preservação dos direitos humanos. A marcação que será feita hoje cumprirá o papel de lembrar que essa edificação já foi violentada pela ditadura, bem como nos manterá em constante vigília na defesa incansável dos direitos fundamentais. Mas não se esqueçam que hoje esta é a casa da Delegacia da Mulher, da Delegacia do Idoso e de tantas outras delegacias que tem por única função servir e proteger a sociedade.