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QUEDAS EM IDOSOS: IDENTIFICANDO FATORES DE RISCO E MEIOS DE
PREVENÇÃO
FALL IN THE ELDERLY: IDENTIFYING RISK FACTORS AND MEANS OF
PREVENTION
Renata Valério Miranda
Discente do curso de Enfermagem do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais - UnilesteMG.
[email protected]
Vanessa de Paula Mota
Discente do curso de Enfermagem do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais - UnilesteMG.
[email protected]
Maria Marta Marques de Castro Borges
Enfermeira. Especialista em Saúde Pública pela UFMG. Mestre em Gerontologia pela UCB.
Docente do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais - UnilesteMG. [email protected]
RESUMO
Segundo o Ministério da Saúde, no final do século XX, o Brasil vivenciou um significativo aumento no
número de seus idosos. A faixa etária de 60 anos ou mais é a que mais cresce em termos
proporcionais. Sendo assim, a população de idosos no Brasil tende a aumentar cada vez mais, nos
colocando entre um dos países com a maior população de idosos do mundo. Este estudo propõe
analisar os fatores de risco que levam os idosos que residem no domicílio à queda e formas de
prevenção. Realizou-se uma pesquisa qualitativa, utilizando-se como instrumento de coleta de dados
uma entrevista estruturada. Os resultados entre os 17 entrevistados demonstraram que houve maior
número de quedas entre os homens, sendo que destes, 77,7% já caíram pelo menos uma vez, contra
75% das mulheres, sendo a recorrência maior neste grupo. Sendo assim, 76,5% dos entrevistados já
sofreram queda e o fator de risco mais prevalente foi comprometimento visual e labirintite/vertigem.
Os resultados alcançados evidenciam que os profissionais de enfermagem devem estar aptos a
identificarem as dificuldades e degeneração do sistema funcional e locomotor do idoso para
orientarem os cuidadores e os idosos a buscarem uma melhor qualidade de vida.
PALAVRAS-CHAVE: Prevenção. Quedas. Fatores de risco. Idosos.
ABSTRACT
According to the Health Ministry at the end of the 20th century, Brazil experienced a significant
increase in the number of its elderly. The age of 60 years or more is the fastest growing in proportion.
Thus, the elderly population in Brazil is growing increasingly in placing between one of the countries
with the largest elderly population in the world. This study proposes to analyze the risk factors that
take the aged ones that they inhabit in the domicile to the fall and forms of prevention. There was a
qualitative research, using as data collection instrument a structured interview. The results showed
that there was a higher number of falls among men, of which 77, 7% had dropped at least once, with
75% of women, the recurrence is higher in this group. Thus, 76.5% of respondents have suffered
decline and risk factor was more prevalent visual impairment and labyrinthitis / vertigo. The results
show that the nursing professionals should be able to identify the problems and degeneration of the
locomotor system functional and the elderly to guide caregivers and the elderly to seek a better quality
of life.
KEY WORDS: Prevention. Falls. Risk factors. Elderly.
Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG-V.3-N.1-Jul./Ago. 2010.
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INTRODUÇÃO
Segundo o Ministério da Saúde, no final do século XX, o Brasil vivenciou um
significativo aumento no número de seus idosos. A faixa etária de 60 anos ou mais
é a que mais cresce em termos proporcionais. Segundo as projeções estatísticas da
Organização Mundial de Saúde, entre 1950 a 2025, a população de idosos no país
crescerá 16 vezes contra cinco vezes da população total, o que nos colocará em
termos absolutos com a sexta população de idosos do mundo, isto é, com mais de
32 milhões de pessoas com 60 anos ou mais (BRASIL, 2002).
Com o aumento da expectativa de vida da população entre vários grupos
populacionais, tem ocorrido uma modificação no perfil demográfico e de
morbimortalidade, o que resulta em envelhecimento da população, e como
conseqüência gera um aumento proporcional das doenças crônico-degenerativas
(CUMMINGS, 2002).
Com o passar dos anos, as pessoas ficam mais vulneráveis a situações que
podem levar à perda de autonomia e independência, uma delas é a queda.
Autonomia é a capacidade de decisão, de comando e independência, de realizar
algo com seus próprios meios. Sendo assim, para muitos idosos, viver de modo
saudável é ter autonomia e independência, é ter o direito e a capacidade de decidir
e escolher suas ações e atitudes, garantindo uma qualidade de vida saudável
(PASCHOAL, 1996).
Segundo Fernandes e Fragoso (2002) o envelhecimento deve ser visto como
um processo natural, experiência acumulada e produtiva e não como uma doença
terminal.
Segundo Siqueira e Facchini (2007) o envelhecimento populacional provoca a
necessidade de preparação e adequação dos serviços de saúde, incluindo a
formação e capacitação de profissionais para o atendimento desta nova demanda.
De acordo com o avançar da idade, os passos se tornam mais curtos e lentos
e o tronco tende a se projetar para frente para proporcionar estabilidade, mas em
contra partida pode interferir nas reações automáticas de equilíbrio (PAPALÉO
NETTO, 2002).
Para os autores Fabrício, Rodrigues e Costa Júnior (2002), queda pode ser
definida como uma ação não intencional que resulta na mudança de posição do
indivíduo para um nível abaixo da sua posição inicial.
Cerca de 30% dos idosos em países ocidentais sofrem queda ao menos uma
vez ao ano, aproximadamente metade sofre duas ou mais quedas (KING, 1995;
RIZZO, 1998). A freqüência de quedas em idosos é menor nos países orientais,
onde cerca de 15% caem uma vez ao ano e apenas 7,2% caem de forma recorrente
(AOYAGI, 1998).
“Aproximadamente 1/3 dos idosos que tem 65 anos de idade, morando em
casa sofrem uma queda por ano, e cerca de um, em quarenta deles, será
hospitalizado” (PAPALÉO NETTO, 2002, p. 344).
As quedas podem gerar graves conseqüências físicas e psicológicas, como,
por exemplo, lesões, hospitalizações, perda da mobilidade, restrição da atividade,
diminuição da capacidade funcional, internação em Instituições de Longa
Permanência, e medo de cair novamente, sendo assim, representam a causa
principal de morte acidental em pessoas idosas (STUDENSKN; WOLTER, 2002).
Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG-V.3-N.1-Jul./Ago. 2010.
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Dentro desta perspectiva, atualmente as quedas de idosos são uma das
preocupações, tanto pela freqüência quanto pelas conseqüências em relação à
qualidade de vida. Prevenir é importante para minimizar problemas secundários
decorrentes de quedas (DAS, 2005).
Estudos realizados na Turquia, Cataluña e no Brasil, têm mostrado que é
possível diminuir a ocorrência de quedas com cuidados simples como: promoção da
saúde e prevenção de quedas; revisão das medicações; modificações nos
domicílios; promoção da segurança dentro e fora do domicílio. Intervenções
multidisciplinares podem auxiliar no processo de prevenção de quedas no âmbito
populacional (EVCI, 2006; SECULI, 2004; PERRACINI; RAMOS 2002).
De acordo com Kunrath (2001), este fato deve despertar na população, a
consciência de que é necessário, dispensar atenção direta e mais qualificada do
que é atualmente oferecida para essa parcela da sociedade que de certa forma vem
sendo desprezada.
A Enfermagem deve estar apta a identificar as dificuldades e degeneração do
sistema funcional e locomotor do idoso para orientar os cuidadores e os idosos a
buscarem uma melhor qualidade de vida.
O tema propõe identificar os fatores de risco para quedas, gerando melhores
condições em um ambiente saudável e seguro, e que atenda às necessidades dos
idosos e pretende responder como o profissional de Enfermagem pode intervir na
promoção da saúde do idoso e diminuir o risco de queda no mesmo.
Como também, identificar mudanças funcionais, como debilidade, perturbação
da cognição, pouca visão e problemas nos pés, além de avaliar as medicações em
uso e sua relação com a queda.
Este estudo se torna de grande importância não só pela identificação dos
fatores de risco que contribuem para a queda do idoso, mas principalmente, pela
possibilidade de contribuir para redução e prevenção da queda no idoso, visando à
promoção do envelhecimento com qualidade de vida.
Desta forma, o presente trabalho tem como objetivo geral analisar os fatores
de risco que levam os idosos que residem no domicílio à queda e formas de
prevenção.
METODOLOGIA
O estudo foi realizado seguindo a metodologia qualitativa. O campo utilizado
para esta pesquisa foi a Unidade de Saúde JK, localizada no bairro Juscelino
Kubitschek, na cidade de Coronel Fabriciano.
O projeto de pesquisa foi submetido à apreciação do Secretário de Saúde,
recebendo aprovação para sua realização com assinatura do termo de autorização.
A população total cadastrada no HIPERDIA são 178 pessoas, sendo que
dentre estas não foi possível determinar o número de idosos, pois no caderno de
cadastros não havia data de nascimento, como também, idade dos cadastrados,
sendo assim a amostra foi composta de 17 idosos que são cadastrados no
programa HIPERDIA que residem em domicílio, com idade igual ou superior a 60
anos, que compareceram na Unidade de Saúde no dia do Cadastramento de
HIPERDIA e que concordaram em participar do estudo, assinando o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido. Este estudo respeitou os valores culturais,
sociais, morais, religiosos e éticos, bem como os hábitos e costumes das pessoas
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envolvidas nesta pesquisa, como foi assegurado o respeito às mesmas, conforme a
Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (BRASIL, 1996).
A coleta de dados foi realizada pelas pesquisadoras durante as reuniões e
cadastramento de pessoas no programa HIPERDIA, que aconteceu nas três últimas
4ª feiras do mês de fevereiro de 2009, de acordo com a disponibilidade e horários
de funcionamento do programa. Foi utilizado um espaço privativo e formulário para
entrevista estruturada com questões abertas e fechadas referentes à queda dos
idosos e fatores de risco sendo as anotações feitas pelas pesquisadoras de acordo
com as respostas dos entrevistados. Os dados obtidos foram organizados e
demonstrados em tabela e gráficos.
RESULTADOS
A distribuição da amostra quanto à faixa etária, gênero e ocorrência de quedas
pode ser visualizada na TAB. 1, onde cinco homens (29,4%) tinham entre 60 a 69
anos de idade, sendo que destes, apenas um (5,9%) nunca sofreu queda e dois
(11,7%) sofreram queda apenas uma vez; seis mulheres estavam entre 60 a 69
anos (35,3%), sendo que dentre estas, duas (11,7%) não sofreram queda nenhuma
vez e três (17,7%) sofreram queda entre duas a quatro vezes; quatro homens
(23,5%) tinham entre 70 a 79 anos, sendo que apenas um (5,9%) nunca sofreu
queda; dentre as mulheres que tinham entre 70 a 79 anos, apenas uma (5,9%)
sofreu queda cinco vezes ou mais; e dentre as mulheres com 80 anos ou mais, uma
(5,9%) sofreu queda cinco vezes ou mais.
TABELA 1 Distribuição do número de entrevistados quanto à freqüência de quedas, gênero e faixa
etária
Freqüência de
quedas
Nenhuma vez
1 vez
2 a 4 vezes
5 vezes ou mais
Total
60 a 69 anos
Homem
Mulher
n
%
n
%
01
5,9
02
11,7
02
11,7
01
5,9
03
17,7
01
5,9
01
5,9
05
29,4
06
35,3
Faixa etária e Gênero
70 a 79 anos
Homem
Mulher
n
%
n
%
01
5,9
01
5,9
01
5,9
01
5,9
01
5,9
04
23,5
01
5,9
80 anos ou mais
Homem
Mulher
n
%
n
%
01
5,9
01
5,9
De acordo com o GRAF. 1, oito participantes (47%) relataram não ter sofrido
nenhuma conseqüência após a queda; uma mulher (5,9%) ficou hospitalizada; e
quatro (23,5%) ficaram temporariamente impossibilitados de realizar as tarefas
diárias.
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9
8
Número de Pessoas
8
7
6
5
4
4
3
2
1
1
0
Nenhuma
Hospitalização
Impossibilitado de realizar as
tarefas diárias
Consequências da Queda
GRÁFICO 1 Distribuição do número de entrevistados com relação à conseqüência da queda.
Como mostrado no GRAF. 2 os fatores de risco extrínsecos são variáveis,
sendo que nove entrevistados (53%) relataram ter carpete solto ou com dobras em
sua residência, sendo cinco homens (29,4%) e quatro mulheres (23,5%); 11
(64,7%) possuem escadas com degraus de altura ou largura irregulares e sem faixa
antiderrapante no término, sendo sete (41,1%) homens e quatro mulheres (23,5%);
oito (47%) relatam a presença de pisos escorregadios em suas residências, sendo
seis homens (35,3%) e duas mulheres (11,7%); oito (43%) possuem animais,
entulhos e lixos em locais inapropriados, sendo quatro homens (23,5%) e quatro
mulheres (23,5%); quatro mulheres (23,5%) afirmaram possuir objetos guardados
em locais de difícil acesso; e cinco (29,4%) relataram não possuir uma boa
iluminação em seu domicílio, sendo dois homens (11,7%) e três mulheres (17,7%).
Sendo que, os participantes estavam expostos a mais de um fator de risco
extrínseco.
8
7
N ú m e ro d e P e s s o a s
7
6
5
6
5
4
4
4
4
4
4
Homens
3
3
2
3
2
2
2
Mulheres
2
2
1
1
2
1
1
F io s n o c h ã o
C a lç a d o s
e s c o r r e g a d io s
M á ilu m in a ç ã o
O b je to s d e
d ifíc il a c e s s o
B a n h e ir o
m o lh a d o
A n im a is e lix o
e m lo c a l
in a p r o p r ia d o
P is o s
e s c o r r e g a d io s
C am as e
v as os
s a n itá r io s
b a ix o s
Pres enç a de
es c ada
C a r p e te s o lto
ou c om dobras
0
Fatores de risco extrínsecos
GRÁFICO 2 Distribuição do número de entrevistados com relação aos fatores de risco extrínsecos e
o gênero.
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Conforme o GRAF. 3, oito participantes (43%) fazem uso de Inibidores de
ECA; seis (35,3%) utilizam Beta-bloqueadores; nove (53%) disseram utilizar
Diurético; três (17,6%) disseram que fazem uso de ansiolítico; sete (41,1%)
relataram utilizar Hipoglicemiantes e dois (11,7%) afirmaram fazer uso contínuo de
Complemento de Cálcio.
10
Número de Pessoas
9
8
9
Inibidores da ECA
8
Beta-bloqueadores
7
7
Vasodilatador direto
6
6
Diurético
5
Antidepressivo
4
Ansiolítico
3
3
Hipoglicemiantes
2
2
1
1
1
1
Complemento de Cálcio
Anticonculsivante
0
Medicações utilizadas
GRÁFICO 3 Distribuição do número de entrevistados com relação às medicações em uso.
De acordo com o GRAF. 4, 10 entrevistados (58,8%) sofrem de labirintite,
tontura/vertigem; três relataram a presença de incontinência urinária; quatro (23,5%)
afirmaram sentir fraqueza muscular; quatro (23,5%) sofrem de insônia; sete (41,2%)
possuem comprometimento visual; dois relataram apresentar equilíbrio diminuído; e
dois (11,7%) sofrem de hipotensão. Sendo assim, os entrevistados apresentaram
patologias associadas, como fator intrínseco.
11
10
10
Labinritite, tontura/vertigem
Número de Pessoas
9
Incontinência urinária
8
Fraqueza muscular
7
7
Insônia
6
Problema nos pés
5
4
3
2
4
Comprometimento visual
4
Equilíbrio diminuído
3
2
2
Hipotensão postural
2
1
1
1
Osteoporose
Artrite
0
Patologia/alteração presente
GRÁFICO 4 Distribuição do número de entrevistados em relação às suas patologias/alterações
presentes.
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Como mostrado no GRAF. 5, duas mulheres (11,7%) relataram residirem
sozinhas; sete (41,2%) com o cônjuge, sendo cinco homens (29,4%) e duas
mulheres (11,7%); seis (35,3%) com o cônjuge e outras pessoas, sendo quatro
homens (23,5%) e duas mulheres (11,7%); uma mulher (5,9%) afirmou morar com o
filho; e uma mulher (5,9%) com a neta.
6
5
Número de Pessoas
5
4
4
Homens
3
2
2
2
Mulheres
2
1
1
1
0
Sozinho
Cônjuge
Cônjuge e outros
Filho
Neta
Companhia na moradia
GRÁFICO 5 Distribuição do número de entrevistados em relação à companhia na moradia e o
gênero.
Em relação ao grau de independência, apenas uma participante (5,9%)
afirmou ser dependente para realizar duas tarefas instrumentais (fazer compras e
utilizar meios de transporte); e 16 (94,1%) relataram ser independentes tanto para
as atividades básicas quanto para as instrumentais.
Segundo o GRAF. 6, 13 entrevistados (76,5%) afirmaram não realizar
nenhuma atividade física, sendo oito homens (47%) e cinco mulheres (29,4%);
quatro (23,5%) disseram fazer caminhada regularmente, sendo um homem (5,9%) e
três mulheres (17,7%); e uma mulher (5,9%) relatou fazer hidroginástica como
forma de exercício físico.
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460
9
8
Número de Pessoas
8
7
6
5
5
Homens
4
Mulheres
3
3
2
1
1
1
0
Não realiza atividade
física
Caminhada
Hidroginástica
Atividade Física
GRÁFICO 6 Distribuição do número de entrevistados com relação à realização de atividade física
e o gênero.
DISCUSSÃO
A amostra apresentou proporcionalmente maior número de homens e estes
sofreram maior número de quedas, entretanto as mulheres entrevistadas sofreram
maior reincidência de quedas. O que condiz com Fried et al (2000), onde afirmam
que as mulheres por possuírem uma menor quantidade de massa magra e força
muscular estão mais susceptíveis à queda em relação aos homens de mesma idade,
assim como, estão mais expostas aos fatores extrínsecos, devido à realização de
atividades domésticas. Os fatores de risco extrínsecos que mais se destacaram
pelas mulheres estão relacionados com a atividade doméstica, como por exemplo,
carpetes soltos ou com dobras, presença de escadas e objetos de difícil acesso.
Dentre os entrevistados, a maioria não sofreu nenhum tipo de conseqüência
após ter sofrido a queda, sendo que apenas um ficou hospitalizado, pois a maioria
dos participantes estavam entre 60 a 69 nos de idade, o que pode ser confirmado
por Papaléo Netto (2002) sendo que, aproximadamente 1/3 dos idosos que tem 65
anos de idade, morando em casa sofrem uma queda por ano, e cerca de 1 entre 40
deles, será hospitalizado.
Segundo Fabrício, Rodrigues e Costa Júnior (2004), a perda da independência
para realizar as AVD’s traz um grande impacto para o idoso após a queda, pois
atividade que antes conseguia realizar sozinho e sem nenhuma dificuldade, após a
queda gera uma dependência de seus familiares, o que a longo prazo pode gerar
uma mudança na rotina diária não só do idoso, como também, na de seus familiares.
As quedas podem gerar graves conseqüências físicas e psicológicas, como,
por exemplo, lesões, hospitalizações, perda da mobilidade, restrição da atividade,
diminuição da capacidade funcional, colocação em asilos, e medo de cair
novamente, sendo assim, as quedas representam a causa principal de morte
acidental em pessoas idosas (STUDENSKN; WOLTER, 2002).
Um dos fatores extrínsecos que mais leva os idosos à queda é a presença de
escadas com degraus irregulares e sem faixa antiderrapante no término, o que
condiz com Papaléo Netto (2002), onde a maior incidência de queda está
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relacionada aos fatores extrínsecos, dentre eles pode-se ressaltar como fatores de
risco, a presença de móveis instáveis, escadas inclinadas e sem corrimão, tapetes
avulsos e carpetes mal adaptados, iluminação inadequada, tacos soltos no chão,
pisos encerados ou escorregadios, camas altas, sofás, cadeiras e vaso sanitário
muito baixos, prateleiras de difícil alcance, presença de animais domésticos pela
casa, uso de chinelos ou sapatos em más condições ou mal adaptados e fios
elétricos soltos.
Pode-se observar que a maioria dos participantes faz o uso de inibidores da
ECA, beta-bloqueadores e diuréticos, que condiz com Leipzig, Cumming e Tinetti
(1999), onde enfatizam que deve-se ter maior atenção nos idosos que são usuários
destes medicamentos, e também no ambiente em que vive tendo o cuidado, por
exemplo, com banheiros, lugares escorregadios e quintais irregulares. O uso de
medicamentos vem sendo responsabilizado pelo risco de quedas e fraturas em
idosos, destacando os que provocam sonolência, alteram o equilíbrio, a tonicidade
muscular e/ou provocam hipotensão, como por exemplo, os anti-hipertensivos
inibidores da ECA e beta-bloqueadores que podem provocar tonturas e hipotensão
postural. Assim como, os diuréticos que fazem com que o paciente levante à noite
para urinar e facilite as quedas.
Desta forma, através de uma meta-análise realizada com estudos que
investigaram o papel de medicamentos psiquiátricos, cardiológicos e analgésicos
sobre o risco de quedas entre idosos, identificou-se que os ansiolíticos,
neurolépticos, sedativo-hipnóticos, antidepressivos, diuréticos em geral,
antiarrítmicos e digoxina estão associados ao maior risco de quedas em pessoas
com mais de 60 anos (LEIPZIG; CUMMING; TINETTI, 1999).
Há várias patologias e alterações associadas ao envelhecimento, tendo em
maior destaque entre os participantes a tontura/vertigem, o que condiz com Alkawa,
Braccialli e Padula (2006), que afirmam que o envelhecimento fisiológico é um
processo que vem acompanhado de várias mudanças em nível funcional, sensorial
(visão, sistema vestibular e propriocepção) e motor (força, coordenação e resistência
muscular), que interferem no controle postural ou no equilíbrio.
O envelhecimento acarreta alterações morfológicas e funcionais, fazendo com
que o idoso tenha uma instabilidade postural devido alterações do sistema motor e
sensorial, levando a uma maior tendência a quedas (GUIMARÃES, 2004).
A maioria dos participantes mora acompanhada, condizendo com o que Diogo
(2002) apresenta, sendo que os idosos que tem vínculos familiares e tem com quem
morar, possuem hábitos mais saudáveis, evitam situações de carência e sensação
de abandono além de ajudar a prevenir acidentes.
Destacam-se os entrevistados que são independentes para as AVD´s e
AIVD´s, porém Fabrício, Rodrigues e Costa Júnior (2004) afirmam que nas próximas
décadas o número de idosos dependentes para AIVD e incapacitados
funcionalmente tende a aumentar e que a maioria dos idosos com idade entre 70 a
85 anos são dependentes para AIVD.
Destacam-se também que a maioria dos idosos envolvidos na pesquisa não
realizam nenhum tipo de atividade física. Esta é de grande importância para o
estado fisiológico do idoso confirmado por Marinho et al (2007) e Sinésio (1999),
onde o sedentarismo no envelhecimento é um fator que contribui adicionalmente
para uma deterioração do controle postural. Portanto, os exercícios físicos
contribuem para minimizar as alterações do processo de envelhecimento, sendo
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importantes para a manutenção da capacidade funcional, garantindo qualidade de
vida aos idosos. Devendo os mesmos serem programados conforme as
possibilidades de cada indivíduo.
CONCLUSÃO
O estudo demonstrou vários fatores de risco que levam os idosos à queda,
como a idade avançada, sexo feminino, dificuldade visual, patologias associadas,
fatores extrínsecos existentes nas residências como, tapetes avulsos, assim como
fármacos inibidores da ECA, diuréticos, beta-bloqueadores, ansiolíticos e outros,
tendo como conseqüência a hospitalização e a impossibilidade de realização das
atividades diárias.
Confirmou-se que as mulheres são mais propensas a recorrência de quedas
por permanecerem mais tempo no domicílio e realizarem as atividades domésticas.
As causas mais comuns de queda identificadas foram devido ao comprometimento
visual e labirintite/vertigem.
Em relação à prevenção destes acidentes é importante que haja uma
participação da equipe de enfermagem através de palestras, visitas domiciliares,
grupos de terceira idade e consultas de enfermagem para que o idoso se torne
consciente em relação aos fatores de risco modificáveis existentes em sua
residência. Desta forma, a atuação dos profissionais de saúde para a prevenção de
quedas contribui para garantir maior autonomia e independência aos idosos.
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quedas em idosos: identificando fatores de risco e meios