453 QUEDAS EM IDOSOS: IDENTIFICANDO FATORES DE RISCO E MEIOS DE PREVENÇÃO FALL IN THE ELDERLY: IDENTIFYING RISK FACTORS AND MEANS OF PREVENTION Renata Valério Miranda Discente do curso de Enfermagem do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais - UnilesteMG. [email protected] Vanessa de Paula Mota Discente do curso de Enfermagem do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais - UnilesteMG. [email protected] Maria Marta Marques de Castro Borges Enfermeira. Especialista em Saúde Pública pela UFMG. Mestre em Gerontologia pela UCB. Docente do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais - UnilesteMG. [email protected] RESUMO Segundo o Ministério da Saúde, no final do século XX, o Brasil vivenciou um significativo aumento no número de seus idosos. A faixa etária de 60 anos ou mais é a que mais cresce em termos proporcionais. Sendo assim, a população de idosos no Brasil tende a aumentar cada vez mais, nos colocando entre um dos países com a maior população de idosos do mundo. Este estudo propõe analisar os fatores de risco que levam os idosos que residem no domicílio à queda e formas de prevenção. Realizou-se uma pesquisa qualitativa, utilizando-se como instrumento de coleta de dados uma entrevista estruturada. Os resultados entre os 17 entrevistados demonstraram que houve maior número de quedas entre os homens, sendo que destes, 77,7% já caíram pelo menos uma vez, contra 75% das mulheres, sendo a recorrência maior neste grupo. Sendo assim, 76,5% dos entrevistados já sofreram queda e o fator de risco mais prevalente foi comprometimento visual e labirintite/vertigem. Os resultados alcançados evidenciam que os profissionais de enfermagem devem estar aptos a identificarem as dificuldades e degeneração do sistema funcional e locomotor do idoso para orientarem os cuidadores e os idosos a buscarem uma melhor qualidade de vida. PALAVRAS-CHAVE: Prevenção. Quedas. Fatores de risco. Idosos. ABSTRACT According to the Health Ministry at the end of the 20th century, Brazil experienced a significant increase in the number of its elderly. The age of 60 years or more is the fastest growing in proportion. Thus, the elderly population in Brazil is growing increasingly in placing between one of the countries with the largest elderly population in the world. This study proposes to analyze the risk factors that take the aged ones that they inhabit in the domicile to the fall and forms of prevention. There was a qualitative research, using as data collection instrument a structured interview. The results showed that there was a higher number of falls among men, of which 77, 7% had dropped at least once, with 75% of women, the recurrence is higher in this group. Thus, 76.5% of respondents have suffered decline and risk factor was more prevalent visual impairment and labyrinthitis / vertigo. The results show that the nursing professionals should be able to identify the problems and degeneration of the locomotor system functional and the elderly to guide caregivers and the elderly to seek a better quality of life. KEY WORDS: Prevention. Falls. Risk factors. Elderly. Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG-V.3-N.1-Jul./Ago. 2010. 454 INTRODUÇÃO Segundo o Ministério da Saúde, no final do século XX, o Brasil vivenciou um significativo aumento no número de seus idosos. A faixa etária de 60 anos ou mais é a que mais cresce em termos proporcionais. Segundo as projeções estatísticas da Organização Mundial de Saúde, entre 1950 a 2025, a população de idosos no país crescerá 16 vezes contra cinco vezes da população total, o que nos colocará em termos absolutos com a sexta população de idosos do mundo, isto é, com mais de 32 milhões de pessoas com 60 anos ou mais (BRASIL, 2002). Com o aumento da expectativa de vida da população entre vários grupos populacionais, tem ocorrido uma modificação no perfil demográfico e de morbimortalidade, o que resulta em envelhecimento da população, e como conseqüência gera um aumento proporcional das doenças crônico-degenerativas (CUMMINGS, 2002). Com o passar dos anos, as pessoas ficam mais vulneráveis a situações que podem levar à perda de autonomia e independência, uma delas é a queda. Autonomia é a capacidade de decisão, de comando e independência, de realizar algo com seus próprios meios. Sendo assim, para muitos idosos, viver de modo saudável é ter autonomia e independência, é ter o direito e a capacidade de decidir e escolher suas ações e atitudes, garantindo uma qualidade de vida saudável (PASCHOAL, 1996). Segundo Fernandes e Fragoso (2002) o envelhecimento deve ser visto como um processo natural, experiência acumulada e produtiva e não como uma doença terminal. Segundo Siqueira e Facchini (2007) o envelhecimento populacional provoca a necessidade de preparação e adequação dos serviços de saúde, incluindo a formação e capacitação de profissionais para o atendimento desta nova demanda. De acordo com o avançar da idade, os passos se tornam mais curtos e lentos e o tronco tende a se projetar para frente para proporcionar estabilidade, mas em contra partida pode interferir nas reações automáticas de equilíbrio (PAPALÉO NETTO, 2002). Para os autores Fabrício, Rodrigues e Costa Júnior (2002), queda pode ser definida como uma ação não intencional que resulta na mudança de posição do indivíduo para um nível abaixo da sua posição inicial. Cerca de 30% dos idosos em países ocidentais sofrem queda ao menos uma vez ao ano, aproximadamente metade sofre duas ou mais quedas (KING, 1995; RIZZO, 1998). A freqüência de quedas em idosos é menor nos países orientais, onde cerca de 15% caem uma vez ao ano e apenas 7,2% caem de forma recorrente (AOYAGI, 1998). “Aproximadamente 1/3 dos idosos que tem 65 anos de idade, morando em casa sofrem uma queda por ano, e cerca de um, em quarenta deles, será hospitalizado” (PAPALÉO NETTO, 2002, p. 344). As quedas podem gerar graves conseqüências físicas e psicológicas, como, por exemplo, lesões, hospitalizações, perda da mobilidade, restrição da atividade, diminuição da capacidade funcional, internação em Instituições de Longa Permanência, e medo de cair novamente, sendo assim, representam a causa principal de morte acidental em pessoas idosas (STUDENSKN; WOLTER, 2002). Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG-V.3-N.1-Jul./Ago. 2010. 455 Dentro desta perspectiva, atualmente as quedas de idosos são uma das preocupações, tanto pela freqüência quanto pelas conseqüências em relação à qualidade de vida. Prevenir é importante para minimizar problemas secundários decorrentes de quedas (DAS, 2005). Estudos realizados na Turquia, Cataluña e no Brasil, têm mostrado que é possível diminuir a ocorrência de quedas com cuidados simples como: promoção da saúde e prevenção de quedas; revisão das medicações; modificações nos domicílios; promoção da segurança dentro e fora do domicílio. Intervenções multidisciplinares podem auxiliar no processo de prevenção de quedas no âmbito populacional (EVCI, 2006; SECULI, 2004; PERRACINI; RAMOS 2002). De acordo com Kunrath (2001), este fato deve despertar na população, a consciência de que é necessário, dispensar atenção direta e mais qualificada do que é atualmente oferecida para essa parcela da sociedade que de certa forma vem sendo desprezada. A Enfermagem deve estar apta a identificar as dificuldades e degeneração do sistema funcional e locomotor do idoso para orientar os cuidadores e os idosos a buscarem uma melhor qualidade de vida. O tema propõe identificar os fatores de risco para quedas, gerando melhores condições em um ambiente saudável e seguro, e que atenda às necessidades dos idosos e pretende responder como o profissional de Enfermagem pode intervir na promoção da saúde do idoso e diminuir o risco de queda no mesmo. Como também, identificar mudanças funcionais, como debilidade, perturbação da cognição, pouca visão e problemas nos pés, além de avaliar as medicações em uso e sua relação com a queda. Este estudo se torna de grande importância não só pela identificação dos fatores de risco que contribuem para a queda do idoso, mas principalmente, pela possibilidade de contribuir para redução e prevenção da queda no idoso, visando à promoção do envelhecimento com qualidade de vida. Desta forma, o presente trabalho tem como objetivo geral analisar os fatores de risco que levam os idosos que residem no domicílio à queda e formas de prevenção. METODOLOGIA O estudo foi realizado seguindo a metodologia qualitativa. O campo utilizado para esta pesquisa foi a Unidade de Saúde JK, localizada no bairro Juscelino Kubitschek, na cidade de Coronel Fabriciano. O projeto de pesquisa foi submetido à apreciação do Secretário de Saúde, recebendo aprovação para sua realização com assinatura do termo de autorização. A população total cadastrada no HIPERDIA são 178 pessoas, sendo que dentre estas não foi possível determinar o número de idosos, pois no caderno de cadastros não havia data de nascimento, como também, idade dos cadastrados, sendo assim a amostra foi composta de 17 idosos que são cadastrados no programa HIPERDIA que residem em domicílio, com idade igual ou superior a 60 anos, que compareceram na Unidade de Saúde no dia do Cadastramento de HIPERDIA e que concordaram em participar do estudo, assinando o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Este estudo respeitou os valores culturais, sociais, morais, religiosos e éticos, bem como os hábitos e costumes das pessoas Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG-V.3-N.1-Jul./Ago. 2010. 456 envolvidas nesta pesquisa, como foi assegurado o respeito às mesmas, conforme a Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (BRASIL, 1996). A coleta de dados foi realizada pelas pesquisadoras durante as reuniões e cadastramento de pessoas no programa HIPERDIA, que aconteceu nas três últimas 4ª feiras do mês de fevereiro de 2009, de acordo com a disponibilidade e horários de funcionamento do programa. Foi utilizado um espaço privativo e formulário para entrevista estruturada com questões abertas e fechadas referentes à queda dos idosos e fatores de risco sendo as anotações feitas pelas pesquisadoras de acordo com as respostas dos entrevistados. Os dados obtidos foram organizados e demonstrados em tabela e gráficos. RESULTADOS A distribuição da amostra quanto à faixa etária, gênero e ocorrência de quedas pode ser visualizada na TAB. 1, onde cinco homens (29,4%) tinham entre 60 a 69 anos de idade, sendo que destes, apenas um (5,9%) nunca sofreu queda e dois (11,7%) sofreram queda apenas uma vez; seis mulheres estavam entre 60 a 69 anos (35,3%), sendo que dentre estas, duas (11,7%) não sofreram queda nenhuma vez e três (17,7%) sofreram queda entre duas a quatro vezes; quatro homens (23,5%) tinham entre 70 a 79 anos, sendo que apenas um (5,9%) nunca sofreu queda; dentre as mulheres que tinham entre 70 a 79 anos, apenas uma (5,9%) sofreu queda cinco vezes ou mais; e dentre as mulheres com 80 anos ou mais, uma (5,9%) sofreu queda cinco vezes ou mais. TABELA 1 Distribuição do número de entrevistados quanto à freqüência de quedas, gênero e faixa etária Freqüência de quedas Nenhuma vez 1 vez 2 a 4 vezes 5 vezes ou mais Total 60 a 69 anos Homem Mulher n % n % 01 5,9 02 11,7 02 11,7 01 5,9 03 17,7 01 5,9 01 5,9 05 29,4 06 35,3 Faixa etária e Gênero 70 a 79 anos Homem Mulher n % n % 01 5,9 01 5,9 01 5,9 01 5,9 01 5,9 04 23,5 01 5,9 80 anos ou mais Homem Mulher n % n % 01 5,9 01 5,9 De acordo com o GRAF. 1, oito participantes (47%) relataram não ter sofrido nenhuma conseqüência após a queda; uma mulher (5,9%) ficou hospitalizada; e quatro (23,5%) ficaram temporariamente impossibilitados de realizar as tarefas diárias. Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG-V.3-N.1-Jul./Ago. 2010. 457 9 8 Número de Pessoas 8 7 6 5 4 4 3 2 1 1 0 Nenhuma Hospitalização Impossibilitado de realizar as tarefas diárias Consequências da Queda GRÁFICO 1 Distribuição do número de entrevistados com relação à conseqüência da queda. Como mostrado no GRAF. 2 os fatores de risco extrínsecos são variáveis, sendo que nove entrevistados (53%) relataram ter carpete solto ou com dobras em sua residência, sendo cinco homens (29,4%) e quatro mulheres (23,5%); 11 (64,7%) possuem escadas com degraus de altura ou largura irregulares e sem faixa antiderrapante no término, sendo sete (41,1%) homens e quatro mulheres (23,5%); oito (47%) relatam a presença de pisos escorregadios em suas residências, sendo seis homens (35,3%) e duas mulheres (11,7%); oito (43%) possuem animais, entulhos e lixos em locais inapropriados, sendo quatro homens (23,5%) e quatro mulheres (23,5%); quatro mulheres (23,5%) afirmaram possuir objetos guardados em locais de difícil acesso; e cinco (29,4%) relataram não possuir uma boa iluminação em seu domicílio, sendo dois homens (11,7%) e três mulheres (17,7%). Sendo que, os participantes estavam expostos a mais de um fator de risco extrínseco. 8 7 N ú m e ro d e P e s s o a s 7 6 5 6 5 4 4 4 4 4 4 Homens 3 3 2 3 2 2 2 Mulheres 2 2 1 1 2 1 1 F io s n o c h ã o C a lç a d o s e s c o r r e g a d io s M á ilu m in a ç ã o O b je to s d e d ifíc il a c e s s o B a n h e ir o m o lh a d o A n im a is e lix o e m lo c a l in a p r o p r ia d o P is o s e s c o r r e g a d io s C am as e v as os s a n itá r io s b a ix o s Pres enç a de es c ada C a r p e te s o lto ou c om dobras 0 Fatores de risco extrínsecos GRÁFICO 2 Distribuição do número de entrevistados com relação aos fatores de risco extrínsecos e o gênero. Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG-V.3-N.1-Jul./Ago. 2010. 458 Conforme o GRAF. 3, oito participantes (43%) fazem uso de Inibidores de ECA; seis (35,3%) utilizam Beta-bloqueadores; nove (53%) disseram utilizar Diurético; três (17,6%) disseram que fazem uso de ansiolítico; sete (41,1%) relataram utilizar Hipoglicemiantes e dois (11,7%) afirmaram fazer uso contínuo de Complemento de Cálcio. 10 Número de Pessoas 9 8 9 Inibidores da ECA 8 Beta-bloqueadores 7 7 Vasodilatador direto 6 6 Diurético 5 Antidepressivo 4 Ansiolítico 3 3 Hipoglicemiantes 2 2 1 1 1 1 Complemento de Cálcio Anticonculsivante 0 Medicações utilizadas GRÁFICO 3 Distribuição do número de entrevistados com relação às medicações em uso. De acordo com o GRAF. 4, 10 entrevistados (58,8%) sofrem de labirintite, tontura/vertigem; três relataram a presença de incontinência urinária; quatro (23,5%) afirmaram sentir fraqueza muscular; quatro (23,5%) sofrem de insônia; sete (41,2%) possuem comprometimento visual; dois relataram apresentar equilíbrio diminuído; e dois (11,7%) sofrem de hipotensão. Sendo assim, os entrevistados apresentaram patologias associadas, como fator intrínseco. 11 10 10 Labinritite, tontura/vertigem Número de Pessoas 9 Incontinência urinária 8 Fraqueza muscular 7 7 Insônia 6 Problema nos pés 5 4 3 2 4 Comprometimento visual 4 Equilíbrio diminuído 3 2 2 Hipotensão postural 2 1 1 1 Osteoporose Artrite 0 Patologia/alteração presente GRÁFICO 4 Distribuição do número de entrevistados em relação às suas patologias/alterações presentes. Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG-V.3-N.1-Jul./Ago. 2010. 459 Como mostrado no GRAF. 5, duas mulheres (11,7%) relataram residirem sozinhas; sete (41,2%) com o cônjuge, sendo cinco homens (29,4%) e duas mulheres (11,7%); seis (35,3%) com o cônjuge e outras pessoas, sendo quatro homens (23,5%) e duas mulheres (11,7%); uma mulher (5,9%) afirmou morar com o filho; e uma mulher (5,9%) com a neta. 6 5 Número de Pessoas 5 4 4 Homens 3 2 2 2 Mulheres 2 1 1 1 0 Sozinho Cônjuge Cônjuge e outros Filho Neta Companhia na moradia GRÁFICO 5 Distribuição do número de entrevistados em relação à companhia na moradia e o gênero. Em relação ao grau de independência, apenas uma participante (5,9%) afirmou ser dependente para realizar duas tarefas instrumentais (fazer compras e utilizar meios de transporte); e 16 (94,1%) relataram ser independentes tanto para as atividades básicas quanto para as instrumentais. Segundo o GRAF. 6, 13 entrevistados (76,5%) afirmaram não realizar nenhuma atividade física, sendo oito homens (47%) e cinco mulheres (29,4%); quatro (23,5%) disseram fazer caminhada regularmente, sendo um homem (5,9%) e três mulheres (17,7%); e uma mulher (5,9%) relatou fazer hidroginástica como forma de exercício físico. Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG-V.3-N.1-Jul./Ago. 2010. 460 9 8 Número de Pessoas 8 7 6 5 5 Homens 4 Mulheres 3 3 2 1 1 1 0 Não realiza atividade física Caminhada Hidroginástica Atividade Física GRÁFICO 6 Distribuição do número de entrevistados com relação à realização de atividade física e o gênero. DISCUSSÃO A amostra apresentou proporcionalmente maior número de homens e estes sofreram maior número de quedas, entretanto as mulheres entrevistadas sofreram maior reincidência de quedas. O que condiz com Fried et al (2000), onde afirmam que as mulheres por possuírem uma menor quantidade de massa magra e força muscular estão mais susceptíveis à queda em relação aos homens de mesma idade, assim como, estão mais expostas aos fatores extrínsecos, devido à realização de atividades domésticas. Os fatores de risco extrínsecos que mais se destacaram pelas mulheres estão relacionados com a atividade doméstica, como por exemplo, carpetes soltos ou com dobras, presença de escadas e objetos de difícil acesso. Dentre os entrevistados, a maioria não sofreu nenhum tipo de conseqüência após ter sofrido a queda, sendo que apenas um ficou hospitalizado, pois a maioria dos participantes estavam entre 60 a 69 nos de idade, o que pode ser confirmado por Papaléo Netto (2002) sendo que, aproximadamente 1/3 dos idosos que tem 65 anos de idade, morando em casa sofrem uma queda por ano, e cerca de 1 entre 40 deles, será hospitalizado. Segundo Fabrício, Rodrigues e Costa Júnior (2004), a perda da independência para realizar as AVD’s traz um grande impacto para o idoso após a queda, pois atividade que antes conseguia realizar sozinho e sem nenhuma dificuldade, após a queda gera uma dependência de seus familiares, o que a longo prazo pode gerar uma mudança na rotina diária não só do idoso, como também, na de seus familiares. As quedas podem gerar graves conseqüências físicas e psicológicas, como, por exemplo, lesões, hospitalizações, perda da mobilidade, restrição da atividade, diminuição da capacidade funcional, colocação em asilos, e medo de cair novamente, sendo assim, as quedas representam a causa principal de morte acidental em pessoas idosas (STUDENSKN; WOLTER, 2002). Um dos fatores extrínsecos que mais leva os idosos à queda é a presença de escadas com degraus irregulares e sem faixa antiderrapante no término, o que condiz com Papaléo Netto (2002), onde a maior incidência de queda está Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG-V.3-N.1-Jul./Ago. 2010. 461 relacionada aos fatores extrínsecos, dentre eles pode-se ressaltar como fatores de risco, a presença de móveis instáveis, escadas inclinadas e sem corrimão, tapetes avulsos e carpetes mal adaptados, iluminação inadequada, tacos soltos no chão, pisos encerados ou escorregadios, camas altas, sofás, cadeiras e vaso sanitário muito baixos, prateleiras de difícil alcance, presença de animais domésticos pela casa, uso de chinelos ou sapatos em más condições ou mal adaptados e fios elétricos soltos. Pode-se observar que a maioria dos participantes faz o uso de inibidores da ECA, beta-bloqueadores e diuréticos, que condiz com Leipzig, Cumming e Tinetti (1999), onde enfatizam que deve-se ter maior atenção nos idosos que são usuários destes medicamentos, e também no ambiente em que vive tendo o cuidado, por exemplo, com banheiros, lugares escorregadios e quintais irregulares. O uso de medicamentos vem sendo responsabilizado pelo risco de quedas e fraturas em idosos, destacando os que provocam sonolência, alteram o equilíbrio, a tonicidade muscular e/ou provocam hipotensão, como por exemplo, os anti-hipertensivos inibidores da ECA e beta-bloqueadores que podem provocar tonturas e hipotensão postural. Assim como, os diuréticos que fazem com que o paciente levante à noite para urinar e facilite as quedas. Desta forma, através de uma meta-análise realizada com estudos que investigaram o papel de medicamentos psiquiátricos, cardiológicos e analgésicos sobre o risco de quedas entre idosos, identificou-se que os ansiolíticos, neurolépticos, sedativo-hipnóticos, antidepressivos, diuréticos em geral, antiarrítmicos e digoxina estão associados ao maior risco de quedas em pessoas com mais de 60 anos (LEIPZIG; CUMMING; TINETTI, 1999). Há várias patologias e alterações associadas ao envelhecimento, tendo em maior destaque entre os participantes a tontura/vertigem, o que condiz com Alkawa, Braccialli e Padula (2006), que afirmam que o envelhecimento fisiológico é um processo que vem acompanhado de várias mudanças em nível funcional, sensorial (visão, sistema vestibular e propriocepção) e motor (força, coordenação e resistência muscular), que interferem no controle postural ou no equilíbrio. O envelhecimento acarreta alterações morfológicas e funcionais, fazendo com que o idoso tenha uma instabilidade postural devido alterações do sistema motor e sensorial, levando a uma maior tendência a quedas (GUIMARÃES, 2004). A maioria dos participantes mora acompanhada, condizendo com o que Diogo (2002) apresenta, sendo que os idosos que tem vínculos familiares e tem com quem morar, possuem hábitos mais saudáveis, evitam situações de carência e sensação de abandono além de ajudar a prevenir acidentes. Destacam-se os entrevistados que são independentes para as AVD´s e AIVD´s, porém Fabrício, Rodrigues e Costa Júnior (2004) afirmam que nas próximas décadas o número de idosos dependentes para AIVD e incapacitados funcionalmente tende a aumentar e que a maioria dos idosos com idade entre 70 a 85 anos são dependentes para AIVD. Destacam-se também que a maioria dos idosos envolvidos na pesquisa não realizam nenhum tipo de atividade física. Esta é de grande importância para o estado fisiológico do idoso confirmado por Marinho et al (2007) e Sinésio (1999), onde o sedentarismo no envelhecimento é um fator que contribui adicionalmente para uma deterioração do controle postural. Portanto, os exercícios físicos contribuem para minimizar as alterações do processo de envelhecimento, sendo Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG-V.3-N.1-Jul./Ago. 2010. 462 importantes para a manutenção da capacidade funcional, garantindo qualidade de vida aos idosos. Devendo os mesmos serem programados conforme as possibilidades de cada indivíduo. CONCLUSÃO O estudo demonstrou vários fatores de risco que levam os idosos à queda, como a idade avançada, sexo feminino, dificuldade visual, patologias associadas, fatores extrínsecos existentes nas residências como, tapetes avulsos, assim como fármacos inibidores da ECA, diuréticos, beta-bloqueadores, ansiolíticos e outros, tendo como conseqüência a hospitalização e a impossibilidade de realização das atividades diárias. Confirmou-se que as mulheres são mais propensas a recorrência de quedas por permanecerem mais tempo no domicílio e realizarem as atividades domésticas. As causas mais comuns de queda identificadas foram devido ao comprometimento visual e labirintite/vertigem. Em relação à prevenção destes acidentes é importante que haja uma participação da equipe de enfermagem através de palestras, visitas domiciliares, grupos de terceira idade e consultas de enfermagem para que o idoso se torne consciente em relação aos fatores de risco modificáveis existentes em sua residência. Desta forma, a atuação dos profissionais de saúde para a prevenção de quedas contribui para garantir maior autonomia e independência aos idosos. REFERÊNCIAS AIKAWA, Adriana Correia; BRACCIALLI, Ligia Maria Presumido; PADULA, Rosimeire Sinprini. Efeitos das alterações posturais e de equilíbrio estático nas quedas de idosos institucionalizados. Rev. Ciênc. Méd., Campinas, v.15, n.3 maio/jun. 2006. AOYAGI K, Ross P. D. et al. Falls among community-dwelling elderly in Japan. J Bone Miner Res, v. 13, p. 74-1468, 1998. BRASIL. Resolução n. 196 de 10 de outubro de 1996. Conselho Nacional de Saúde. Diretrizes e Normas Regulamentadoras de Pesquisas Envolvendo Seres Humanos. Brasília: Ministério da Saúde, 1996. BRASIL. Ministério da Saúde. Redes Estaduais de Atenção à Saúde do Idoso: Guia Operacional e Portarias Relacionadas. Brasília: Ministério da Saúde, 2002. BRASIL. Ministério da Saúde. Caderno de Atenção Básica Envelhecimento e Saúde da Pessoa Idosa. Brasília: Ministério da Saúde, 2006. 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