Universidade de São Paulo Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Curso de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo Resumo da Tese de Doutorado SISTEMÁTICA INTEGRADA PARA CONTROLE DE INUNDAÇÕES EM SUBBACIAS HIDROGRÁFICAS URBANAS ESTUDO DE CASO: A Bacia do Córrego Pirajuçara, sob o enfoque da integração de obras com ações de educação e percepção ambiental. Maria de Sampaio Bonafé (Ostrowsky) Orientadora: Prof ª Dr ª Élide Monzeglio Janeiro de 2000 Dedico este trabalho Aos que ainda não usufruíram as regalias das medidas que minorariam os efeitos das inundações em seus bairros. Aos que vieram de Estados distantes em busca de trabalho, que construíram nossa metrópole e hoje habitam sua periferia invisível, clandestina, perversa, real. Aos que já se foram, tragados pela violência das águas, ou que com elas se contaminaram. Aos que ainda têm esperanças de ter condições dignas de vida. RESUMO O trabalho analisa as estruturas vigentes de controle de inundações, para o desenvolvimento de novas alternativas, tomando como cenário a Região Metropolitana de São Paulo. Desenvolve uma análise das causas e conseqüências dos problemas gerados pelas inundações e das soluções adotadas para o seu controle. Propõe uma Sistemática Integrada que estabelece uma nova visão das relações entre os fatores intervenientes no fenômeno e as medidas adotadas para minimizá-lo. Enfatiza a importância do enfoque multidisciplinar e da Integração das Ações, da Educação Ambiental, do Controle de Uso e Ocupação do Solo, e da Percepção Ambiental como instrumento fundamental para o estabelecimento das diretrizes. Toma como estudo de caso a Bacia do Córrego Pirajuçara, para que os conceitos ali aplicados sejam estendidos para as outras sub-bacias, possibilitando a integração e melhoria do planejamento estratégico e da gestão das questões das inundações. Gera um Sistema de Informações Geográficas, para o planejamento, monitoramento, avaliação e atualização das ações. Conclui a urgência da integração entre os setores envolvidos no controle de inundações e a experimentação de modelos para a concretização das estruturas propostas. PREÂMBULO ORAÇÃO A UM RIO Maria Bonafé, - 1997 Rio nosso, nasces no mais puro dos recantos refletes noite e dia o céu dourado e prateado. Respeitado seja o vosso nobre leito, bendito o teu caminho mesmo ainda pequeno, frágil e transparente, trazes a nós o sangue puro e cristalino que alimenta nosso ninho e perpetua nossa espécie. Rio nosso, perdoa por nossa gente, pela sabedoria em gerações acumulada, por toda engenharia para confinar teu leito, ajustar teu curso, grilar teus quintais e aprisionar-te a correnteza que hoje murmura nos umbrais da mortalha de concreto. Rio nosso, perdoa por nossos pobres, de toda sorte de pobreza, de corpo, d’alma, de amor, dos que carregam tuas águas com tanto tipo de impureza, e como se fosse pouco, com aquilo que não lhes serve, te obstruem e amaldiçoam a correnteza, fazendo com que transbordes Rio nosso, perdoa nosssa cidade que invadiu tua morada, maculou tua pureza, destruindo assim, a unidade da natureza, que abriga parte de um povo ligado em guerra e riqueza, que de ator, passa a vítima de toda a calamidade. Enquanto imagens feéricas e milionárias brilhavam nos céus do mundo todo na comemoração antecipada da virada do século e do milênio, numa outra parte deste mesmo mundo, imagens da miséria e da impotência, ante a retirada também antecipada de pessoas de suas moradas, destruídas pelas inundações, sem o ano velho, nem o novo. Hoje, ainda chove muito em toda a região Sudeste do País. Os noticiários reservam grande espaço ao assunto ‘enchentes’. Jornalistas correm atrás dos técnicos e dos políticos à procura de explicações, de culpados e de matérias para o assunto da semana. Governantes sobrevoam as regiões inundadas e prometem soluções e verbas minguadas, pois as grandes, explodiram no ar fazendo fulgurarem os céus sob os aplausos dos que puderam voltar para casa no primeiro dia do ano novo. Amanhã, quando o sol brilhar, estas cenas irão se apagando da memória da cidade, junto às últimas gotas d’água. Esta é a imagem de uma história que continuará pautando as notícias que se agravam ano a ano, se não nos posicionarmos ante a relação predatória das cidades para com os recursos naturais, das cidades para com os cidadãos e dos cidadãos para com os outros cidadãos. Que a presença do sol ilumine a realidade, neste emaranhado de relações que permeiam e decidem sobre as questões das inundações, para que, nas chuvas do amanhã, os novos caminhos propostos atenuem as dimensões dos danos por elas causados. É o que se pretende trazer à luz com este trabalho. São Paulo, 5 de janeiro de 2000. 2 trágicos. Em uma metrópole dessa proporção, o controle de inundações é de fundamental importância. SISTEMÁTICA INTEGRADA PARA CONTROLE DE INUNDAÇÕES EM SUB-BACIAS HIDROGRÁFICAS URBANAS. Estudo de caso: a Bacia do Córrego Pirajuçara sob o enfoque da integração de obras com ações de educação e percepção ambiental. Os maiores problemas de inundação na RMSP concentram-se basicamente ao longo de seus drenos principais (os rios Tietê, Tamanduateí e Pinheiros) que recebem águas dos drenos de suas sub-bacias que, por sua vez, recebem as águas de seus afluentes. O texto apresenta um resumo dos aspectos fundamentais da tese, bem como sua estrutura e sumário. São Paulo tem investido enormes recursos em obras de drenagem urbana, cujos resultados nem sempre têm sido os esperados. As causas desse aparente fracasso são muitas, mas uma das principais é a falta do enfoque multidisciplinar e integrado para a solução/minimização dos problemas. A falta de ações consistentes para a resolução destes problemas dificulta ainda a obtenção de verbas para a adoção das medidas necessárias que possam minimizar os danos causados à cidade e seus habitantes. Outro fator a ser considerado é a dificuldade de se obterem dados atualizados e confiáveis e planejamento sistêmico integrado. INTRODUÇÃO A ocupação desordenada e predatória das bacias hidrográficas, principalmente das várzeas e encostas, altera diversos componentes do ciclo hidrológico. A rápida urbanização, sem o necessário planejamento, modifica o processo de infiltração de água no solo e promove a impermeabilização da bacia hidrográfica. Em decorrência, durante as chuvas, aumenta o escoamento da água pela superfície, elevando as vazões acima da capacidade da rede de drenagem. De modo geral, as inundações vêm sendo tratadas de forma isolada e pontual, ou seja, dada uma região com problemas de inundação, desenvolve-se um projeto específico, sem levar em conta o fato de que o espaço em que se processa o regime hídrico é muito mais amplo: são pequenos drenos, veios principais, as sub-bacias, formando enfim a grande bacia hidrográfica da região. Assim, o fenômeno natural das cheias passa a ser temido por sua face mais perversa – a inundação de áreas ocupadas pelo homem e os danos que acaba causando. A percepção negativa que a população tem do rio e seu entorno faz com que este seja apenas o depositário de lixo, entulho e esgotos e também o grande vilão nas épocas de cheias. Esse quadro é observado em várias áreas de alta concentração urbana e se agrava quando incide em países com menos recursos para enfrentá-lo. As soluções isoladas não consideram a bacia como um todo e assim sendo, as inundações migram de um lugar para outro, transferindo os problemas para outras regiões e em muitos casos, paradoxalmente, aumentando as perdas e os danos envolvidos. Neste estudo aborda-se a questão tomando como cenário a Região Metropolitana de São Paulo – RMSP enfocando uma de suas sub-bacias, no caso, a do córrego Pirajuçara. Porque as coisas não funcionam? Essa intrigante questão, considerando o bom nível dos profissionais envolvidos com o assunto das enchentes, os diversos Planos de extremo apuro técnico desenvolvidos e os recursos financeiros aplicados, que não foram poucos, foi o ponto inicial e a motivação principal dos estudos. A RMSP é uma área de 8.051 Km2 composta por 39 municípios, cerca de 18 milhões de habitantes, com alto índice de adensamento urbano, e cuja ocupação e expansão ocorre de forma rápida e quase sempre apartada do planejamento urbano. Nesse ambiente, a incidência das cheias freqüentemente se transforma em eventos de inundações de áreas ocupadas pelo homem, com contornos 3 Em geral, planos e projetos dos governos em geral: partem do descrédito histórico pelo muito a que se propõem e pelo pouco que realizam, pretendem ter uma importância, abrangência e influência muito maior que a permitida pela suas atribuições (ou força, ou competência política) e, apesar do longo histórico de fracassos, ainda pretendem, isoladamente, ser considerados como a única alternativa para solução de todos os males; não é raro ainda que, para terem sucesso, exijam, previamente, uma enormidade de ações que, naturalmente, serão executadas por algum órgão fora da esfera de poder daquele governo que aprovará o plano. Por outro lado, os principais atores desse drama, ou seja, a população moradores e não moradores que se relacionam com o espaço por meio do comércio, indústria, serviços, escolas, etc. –, principalmente os de menor poder aquisitivo, são constantemente tratados como meros coadjuvantes, quando não como agentes passivos do processo. Nenhum desses fatores é novidade nos estudos e preceitos de controle de inundações. Vislumbra-se, porém, a possibilidade de uma ruptura nesse processo, e é justamente isso que se irá procurar demonstrar ao longo deste trabalho. Outro aspecto interessante é o contexto social e sua influência nas decisões políticas de aplicação de recursos nas metrópoles brasileiras, que é um fator decisivo em relação ao direcionamento de maiores recursos financeiros para atendimento a regiões e grupos com maior poder de influência, e não seria diferente quando se tratam de recursos para controle de inundações. Demanda-se, naturalmente, uma mudança de postura de todos os envolvidos, munícipes, setores organizados da sociedade e órgãos de governo em relação a essa questão. Isso poderá ser obtido por meio de técnicas de educação e de reeducação, da modificação do fluxo vigente, de forma a racionalizar o uso de recursos de todas as áreas envolvidas e, principalmente, da integração dos processos, das pessoas e das entidades envolvidas, de forma a tornar cada um de seus componentes, parte inseparável de um todo. São Paulo não age de forma integrada, seja entre os poderes envolvidos, seja entre governos e demais setores da sociedade. Os estudos apontam ainda que, em diversas situações, nem mesmo entre setores do mesmo poder público ocorre essa integração. A adoção de ações integradas e de medidas de racionalização facilita a compreensão global dos problemas e aproxima setores envolvidos. A sistematização e a avaliação periódica realimentam o processo e permitem que se obtenha um melhor ordenamento da expansão urbana, elemento fundamental para o equilíbrio do ecossistema. No fluxo atual do controle de enchentes, após a ocorrência de mais uma previsível inundação, em decorrência da pressão social e conforme os recursos disponíveis, decide-se adotar medidas, normalmente de impacto, sem que sejam observados aspectos relevantes de planos integrados, mesmo porque estes inexistem. Tais medidas, ao serem implantadas, já não representam mais o conjunto de necessidades do trecho urbano e da população, quer pela demora em serem implementadas, quer pela própria alteração da ocupação urbana. Para suporte à tomada de decisão, é necessário o desenvolvimento dos chamados ‘Sistemas de Informações Geográficas’ (SIG), os quais permitem que os órgãos de planejamento disponham de informações consistentes e atualizadas que facilitam a constante reavaliação, e, conseqüentemente, a melhoria dos processos. Nos períodos compreendidos entre as inundações, os setores de planejamento desenvolvem ainda outras propostas, em geral, desconhecendo ou ignorando os projetos desenvolvidos por outros setores. Esses projetos nem sempre são implementados, pois acabam preteridos pelas medidas que se optam por implantar no período que se suceda a mais outra inundação, e assim por diante, criando um círculo vicioso de desperdício e pouca eficácia. Por inúmeros outros fatores, até mesmo políticos, nem sempre os dados técnicos são os principais itens considerados para tomada de decisão e, inevitavelmente, dispor de informações, apenas, não evita o drama das áreas inundadas, o que não invalida, obviamente, a necessidade da existência e da importância dos Sistemas de Informações. 4 A utilização de sistemas de monitoramento e apoio, como é o caso do Sistema de Informações Geográficas – SIG, desenvolvido e apresentado como parte integrante desse trabalho, é outro ponto a ser ressaltado como um dos meios de melhoria dos processos vigentes. Pelas razões expostas, a hipótese central desta tese é a possibilidade de melhoria no processo de controle de inundações, mediante o desenvolvimento e adoção de um novo modelo teórico e geração de instrumentos que tragam um enfoque integrado da questão das cheias urbanas e suas conseqüências. Finalmente, ressalte-se que a questão das inundações é sempre considerada no contexto da bacia hidrográfica, tratando-se os problemas de forma integrada, e considerando ainda os vínculos hidráulicos da rede de drenagem e todos os elementos urbanos e ambientais, não deixando de lado aqueles relacionados ao comportamento da população e à percepção ambiental. Adotou-se como objeto de estudo-padrão a sub-bacia do córrego Pirajuçara, integrante à bacia do Alto Tietê, em função de ter um alto grau de urbanização (90% da área) com predominância de população de baixa renda, possuir trechos que são inundados em época de enchente causando paralisação em uma área estratégica do sistema viário que faz a interligação da capital com o cone sul e oeste e atravessar três municípios (Taboão da Serra, Embu e São Paulo). As conclusões desse estudo, no entanto, poderão ser estendidas às outras subbacias da Bacia do alto Tietê, visando minimizar/solucionar os problemas causados pelas inundações na RMSP. A partir dos dados levantados, foi possível também, descrever, cronologicamente, as medidas adotadas pelos governos, órgãos da sociedade civil e pelos cidadãos para enfrentar as inundações, bem como analisar a forma de atuação dos governos envolvidos e detectar a necessidade de mudança no enfoque da questão do controle das inundações, dando ênfase especial ao trabalho conjunto dos setores e aplicação de ações integradas e concomitantes. Um instrumento importante utilizado no desenvolvimento da tese é a pluridisciplinaridade aplicada na sua estruturação. Exemplo disso, o seu projeto gráfico, que aplica conceitos de percepção, comunicação ambiental e programação visual gráfica, com o objetivo de ressaltar a importância destas disciplinas para a sensibilização, desenvolvimento da percepção e melhoria dos mecanismos de comunicação utilizado em textos técnicos e acadêmicos, que ainda se mantêm sob a égide de antigos paradigmas. Os dados levantados e mapeados possibilitaram que, tomando como referência o material bibliográfico e humano consultados, fossem elaboradas proposições e recomendações sobre medidas que poderão ser tomadas em relação à bacia, com vistas ao controle de inundações. RESUMO DOS CAPÍTULOS No Capítulo II, arrolam-se alguns conceitos básicos sobre os elementos envolvidos na questão das Inundações Urbanas: em primeiro lugar, naturalmente, discorre-se sobre as águas, seguindo-se abordagens sobre as ciências que dela se ocupam, mormente a Hidrologia e seu ramo específico, a Drenagem Urbana. Dentre todas essas questões, provavelmente, muitas estão presentes em diversos planos e projetos governamentais já existentes, embora deva ser ressaltado o fato de que o que faltam nem sempre são planos, mas realizações com resultados positivos. Medidas que abrangem ações integradas para toda a bacia, podem vir a permitir a elaboração de peças de planejamento (sob o título que melhor convier, até mesmo o desgastado ‘Plano Diretor’) que auxiliem, efetivamente, a população a conviver com as águas, ou a viver mais adequadamente (ou, no mínimo, a sobreviver) em situações de inundações. São destacadas ainda, outras ciências e artes que já são consideradas elementos complementares ao controle de inundações: especial atenção é dada à questão da Educação Ambiental (incluindo-se as manifestações artísticas como pintura, música, teatro), da Percepção Ambiental e da Comunicação Visual e de outros menos conhecidos, como o caso da Topofilia, que aborda os elos afetivos entre as pessoas e o meio. 5 Nesse ponto, discorre-se sobre as medidas já adotadas, os projetos desenvolvidos e a desenvolver, incluindo-se uma análise comparativa entre projetos municipais e estaduais e a dificuldade de integração entre os setores, sejam entre governos ou dentro do mesmo poder público. Ressalta-se que controlar inundações não é tarefa desse ou daquele especialista e que somente o conjunto de conhecimentos técnicos, políticos, ambientais e humanos pode, com alguma chance, compreender e tornar possível a convivência com esse fenômeno da natureza. Pretende-se que, ao final do Capítulo IV, o panorama geral da hipótese esteja totalmente definido: da impossibilidade, seja qual for o assunto, de que os governos envolvidos na problemática da metrópole, possam resolver, minorar, ou ao menos equacionar, isoladamente, as questões urbanas da região. A intenção desse breve capítulo é, em primeiro lugar, expor os conceitos básicos dos elementos que serão abordados no conjunto do trabalho, para depois poder se aprofundar na questão da Região Metropolitana de São Paulo. Em seguida, foi estruturado o Capítulo III para que a questão seja geograficamente colocada e definida: a escolha é A Região Metropolitana de São Paulo - RMSP. Para tanto, apresenta-se o histórico do desenvolvimento da região, o contexto social e político de sua expansão, as leis e regulamentos que regem a metrópole e aborda-se a relação desse conjunto com a questão das águas e, mais especificamente, com as cheias. Procura-se demonstrar a seqüência de ações pontuais, a recorrência ou repetição dos mesmos problemas, seguidos de promessas de solução e planos que se pretendem únicos e definitivos, mostram-se insuficientes ou simplesmente fracassam, e assim por diante; acredita-se que foi possível demonstrar que esse processo permeia governos nomeados ou eleitos, em administrações ditas democráticas, e em outras nem tanto, não isentando nenhuma esfera de governo. Procura-se demonstrar que há um claro conflito entre as leis e as águas na região. Na verdade, busca-se apenas demonstrar esse conflito, como que preparando terreno para o aprofundamento e detalhamento da questão, o que irá ser descrito no capítulo seguinte: A Bacia do córrego Pirajuçara, o objeto adotado para o estudo de caso, em específico. No capítulo sobre a Bacia do Pirajuçara já se pretende obter afirmações conclusivas, e demonstrar que, mesmo em uma das maiores metrópoles do mundo ainda implantam-se medidas isoladas, pontuais e corretivas e com grande tendência a resultados pouco significativos. Reservada para o Capítulo IV, a abordagem da Bacia Hidrográfica do Pirajuçara é iniciada com uma cronologia de fatos, colhida junto aos periódicos da região, cuja leitura é imprescindível, ao menos do resumo, de uma poucas páginas; o levantamento completo está anexado ao trabalho: é quase uma saga, por vezes dramática, por outras com tons de grotesco e de comédia, passando pelo ridículo a que os governantes se expõem quando parecem desconhecer a história da cidade. O Capítulo V - Sistema de Informações para a Bacia do Pirajuçara é uma contribuição que se pretende fazer aos gestores dos processos de controle de inundações: foi desenvolvido um protótipo de um Sistema de Informações Geográficas – SIG, a partir do material obtido nos levantamentos, um farto material que era e ainda é, em grande parte, de desconhecimento dos governos. Como o objetivo não é colocar o Sistema em discussão, nem quais seriam os indicadores mais adequados para a região, nem mesmo quais deles deveriam compor um SIG para as bacias da RMSP, o Sistema não é colocado como ferramenta pronta e acabada para ser utilizada como instrumento de controle de inundações. Ao invés disso, demonstra clara e inquestionavelmente que é possível que os governos tenham instrumentos cientificamente desenvolvidos que, uma vez mantidos atualizados, auxiliam em muito a melhoria da qualidade Seguindo-se ao histórico e, ainda nesse mesmo capítulo, abordam-se as características da bacia: a composição físico-territorial, geográfica e geomorfológica, sócio-econômica, dentre outros pontos, sobre o uso e ocupação do solo, chegando-se enfim à questão das inundações na região. 6 das ações que possam prevenir os trágicos cenários anualmente repetidos na região. processos em duplicidade, que se desmanchem ‘feudos’ e áreas ou tarefas com superposição, em conflito, ou francamente desnecessários. Como se utilizam critérios acadêmicos de cálculos e medições, envolvendo conceitos de estatística, engenharia, geologia, dentre outras disciplinas, requerendo ainda conhecimentos específicos de ferramentas de análise e desenvolvimento de sistemas, o modelo do SIG desenvolvido contou com a valiosa contribuição de técnicos e acadêmicos que, naturalmente, também devem receber os créditos pela tarefa. Sim, o uso de expressões como ‘reestruturação’, ‘reengenharia’, ‘downsizing’ e outras, criadas ocasionalmente e que, eventualmente viram moda, foram propositadamente evitadas já que, no fundo o que se propõe é apenas o uso das técnicas adequadas de racionalização de processos, seja sob qual denominação da moda a técnica estiver contida. Considerando-se como premissas a utilização daquilo que foi exposto nos Capítulos V e no próprio Capítulo VI, ou seja, considerando-se a hipótese de implantação de um Sistema de Informações Geográficas para a Bacia e de um tratamento da questão conforme proposto na Sistemática Integrada para Controle de Inundações, seguem-se, no Capítulo VII, as Proposições e Conclusões. O SIG proposto para o Pirajuçara coloca a questão da necessidade do uso de ferramental técnico para o controle de inundações. Abre caminho para que, em seguida, seja apresentada, no Capítulo VI – Sistemática Integrada para Controle de Inundações, um modelo teórico propondo alterações no fluxo atual das ações das áreas envolvidas na questão das enchentes na RMSP. É importante lembrar que a adoção das premissas estabelecidas é colocada como enfoque fundamental, uma vez que as proposições padeceriam justamente da falta daquilo que se procurou apontar como causa dos diversos insucessos históricos, constituindo-se em verdadeira armadilha para a visão global da questão que se optou por adotar durante todo o trabalho, já que se transformariam em apenas itens pontuais e isolados. Novamente, registra-se que não se trata de dissecar, neste trabalho, as estruturas organizacionais do Município e do Estado de São Paulo, nem se discute a precisão ou ausência dos manuais, normas e procedimentos técnicos adotados pelos órgãos envolvidos. O modelo desenvolvido apenas indica, de forma macro, que há uma grande tendência à ineficiência no fluxo atual e demonstra a possibilidade de melhoria na qualidade das ações, desde que sejam promovidos ajustes, tanto no enfoque da questão quanto nas técnicas utilizadas pelos órgãos envolvidos. Isso não impede, no entanto, a colocação de proposições, sejam de caráter teórico, direcionadas à aplicação prática ou até mesmo pontuais. Evita-se assim que o trabalho possa ser mais um daqueles que se criticou, onde premissas são colocadas como condição indispensável Nesse mesmo capítulo, a conclusão final do trabalho é também apresentada, ou mais propriamente, os conceitos que lhe dão sustentação são novamente expostos, já que apareceram ao longo de todo o corpo do trabalho e ali se mostram de forma resumida, visando a leitura breve e final do que se pretendeu expor. Apresenta-se a seguir o sumário dos itens que compõem a tese. Procura-se deixar bastante explícito o caráter técnico do modelo proposto que, se não desconsidera que mudanças desse teor dependem dos governos, não despreza o fato de que esses mesmos governos não apresentam melhores resultados, no tocante às enchentes, justamente porque fatores políticos, historicamente, têm impedido que o processo seja melhorado. A partir de uma sistemática como a que se propõe seria possível detectar, fundamentalmente, o que é importante e o que é desnecessário, permitindo ainda, quase como subproduto, que se melhorem ou que se eliminem áreas e 7 10. Outros aspectos a serem observados CONTEÚDO III - A REGIÃO METROPOLITANA DE SÃO PAULO 1. Sobre as metrópoles 2. A estruturação da Região Metropolitana de São Paulo 2.1. A formação da Região Metropolitana 2.2. A expansão da metrópole 3. Sobre o zoneamento e os Planos Diretores 4. O controle e uso do solo no Município de São Paulo 4.1. Os Planos Diretores 4.2. A Lei de Zoneamento 4.3. O Código de Obras e Edificações 4.4. Sobre o subsolo 5. As águas na RMSP 5.1. Sobre os recursos hídricos no Brasil 5.2. Pequeno retrospecto dos planos de recursos hídricos em São Paulo 5.3. O Plano Diretor de Macrodrenagem da Bacia do Alto Tietê 5.4. As Leis de Proteção aos Mananciais 6. Os conflitos entre a urbanização e as águas na RMSP Título: SISTEMÁTICA INTEGRADA PARA CONTROLE DE INUNDAÇÕES EM SUB-BACIAS HIDROGRÁFICAS URBANAS ESTUDO DE CASO: A BACIA DO CÓRREGO PIRAJUÇARA, sob o enfoque da integração de obras com ações de educação e percepção ambiental. LISTA DE ILUSTRAÇÕES RESUMO/ABSTRACT PREÂMBULO I - INTRODUÇÃO 1. Apresentação 2. Objetivos 3. Justificativa 4. A escolha da Bacia do Córrego Pirajuçara 5. Sobre a pesquisa 6. Metodologia 7. Análise dos resultados, conclusões e recomendações 8. Aplicação das proposições 9. Descrição da tese IV - A BACIA HIDROGRÁFICA DO CÓRREGO PIRAJUÇARA 1. Histórico65 2. Dados físico-territoriais81 3. Dados sócio-econômicos 4. Caracterização do uso e ocupação do solo e subsolo101 4.1. Aspectos gerais101 4.2. Aspectos específicos dos municípios da bacia105 5. O Comitê de Controle de Enchentes do Córrego Pirajuçara 6. Controle de inundações na Bacia 7. Projetos e obras 7.1. O que já foi feito 7.2. Estudos para novas obras 7.3. Situação atual das obras em execução na bacia 7.4. Ações previstas e/ ou propostas II - INUNDAÇÕES URBANAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. As águas O fenômeno das enchentes Inundações em áreas urbanas Hidrologia e drenagem urbana Urbanização e controle de uso do solo A questão do lixo, entulho, esgoto e assoreamento A Percepção Ambiental A Comunicação Visual A Educação Ambiental 8 8. Outras Ações 8.1. O controle do uso do solo e subsolo 8.2. O controle da erosão do solo 8.3. A questão do lixo 8.4. A Percepção Ambiental 8.5. A Comunicação Visual 8.6. A Educação Ambiental 8.7. Outros setores 3.2. Conteúdo do SIG 3.3. Geração do modelo tridimensional da bacia149 4. Software 5. Hardware 6. Instalação e Execução VI - SISTEMÁTICA INTEGRADA PARA CONTROLE DE INUNDAÇÕES 1. Reclassificando as medidas 2. Fluxo de trabalho, premissas e diretrizes 3. Representação gráfica dos fluxos de trabalho 3.1. Fluxo atual 3.2. Fluxo proposto 9. Comentários V - SISTEMA DE INFORMAÇÕES PARA A BACIA DO PIRAJUÇARA 1. Conceito 2. Concepção 2.1. Etapa 1- Diagnóstico Físico 2.2. Etapa 2- Diagnóstico Sócio-Econômico 3. O SIG para o Pirajuçara 3.1. O SIG como instrumento de gestão VII - PROPOSIÇÕES E CONCLUSÕES VIII - ANEXOS IX – BIBLIOGRAFIA inundações. Em conjunto com leis que disciplinem o uso do solo e subsolo favorecem o ordenamento da expansão urbana e posteriormente, servem de base para elaboração de Planos Integrados. SISTEMÁTICA INTEGRADA PARA CONTROLE DE INUNDAÇÕES FLUXO DE TR ABALHO - PR EMISSAS E DIRETRIZES A análise das causas e conseqüências das inundações deve ser feita a partir desse quadro. A simples identificação de causas e conseqüências das inundações, no entanto, não leva a uma resolução do problema. Os estudos indicam que o cerne da questão é a ausência de uma sistematização do fluxo do trabalho que permita um enfoque integrado da questão das cheias urbanas e suas conseqüências. Apontam ainda para a necessidade de desenvolvimento de um modelo que modifique o fluxo atual tornando cada um de seus componentes parte inseparável de um todo. É necessário, também, que outros agentes interfiram no processo. Assim, a análise técnica deve ser entendida como mais um elemento condicionante para o equacionamento dos problemas, além da pressão social, que sempre vai existir, e da ‘disponibilidade de recursos’, que baliza e dá parâmetros para o possível em relação ao ideal. O ponto de partida desse modelo é a diferenciação, já assinalada desde o início deste trabalho, entre a questão da cheia, considerada como fenômeno natural, e a inundação, entendida como o conflito entre as águas e a ocupação que o homem faz do solo. Dentro desses grupos devem ser identificados os fatores que podem provocar o início dos estudos técnicos que irão levar as ações visando o controle das inundações. A avaliação periódica das cheias urbanas permite que se desenvolvam mecanismos de acompanhamento e monitoramento nas ocorrências de 9 Esse mecanismo precisa estar preservado e sistematizado, independentemente das trocas de Governo. A visão das cheias urbanas como parte de uma ordem maior (o ciclo da bacia como um todo) e de suas conseqüências desagradáveis (as inundações), não pode ser perdida de vista quando se sabe que a cada novo episódio, mais vidas e bens podem ser perdidos. As decisões e escolhas políticas das propostas de solução serão mais acertadas em função da melhor compreensão dos problemas e do grau mais refinado de interação técnica das proposições. O que se costuma desenvolver atualmente são diversos ‘planos de obras’, ou ‘planos de educação ambiental’, ou seja, planos de ação para controle de inundações ora feitos sob a visão técnica de engenheiros, ora sob a ótica de educadores, algumas vezes patrocinados pela comunidade ou organizações não governamentais, outras pelo governo; todos eles, isoladamente, se propondo a resolver o problema e, invariavelmente, nenhum deles se reconhecendo como partes de um todo. Para que esse conjunto seja validado é necessário o envolvimento, de forma integrada, das áreas de governo partícipes do processo (transportes, uso do solo, infra-estrutura urbana, percepção e cognição ambiental, etc.) com a população, seja diretamente ou por meio de seus representantes reconhecidos, com apoio de educadores e iniciativa privada. Como pilares que darão sustentação às proposições devem ser observados estudos técnicos que tenham por objetivo, medidas de ‘obras’ e ‘ações’ concomitantes, de acordo com a classificação ora proposta. Vários setores contribuem para a desejada qualidade técnica, porém, é fundamental a observância da interligação e interdependência entre os mesmos. Pode-se dizer, finalmente, que quaisquer que sejam as ações adotadas, estas devem ter por objetivo manter o controle sobre as inundações e, ao mesmo tempo, necessariamente, promover a convivência harmoniosa da população com as cheias. Quaisquer desses elementos, isoladamente, não tem o alcance necessário para que os danos sejam evitados e ainda perdem força e até mesmo sentido se não for considerado que, nos locais para onde se propõem obras ou ações de cunho didático, habitam pessoas. Ter percepção para as necessidades da população e de como ela interage com seu meio é imprescindível para que as medidas propostas tenham aceitação e, ao invés de intervencionistas, sejam percebidas como um trabalho conjunto entre Estado, iniciativa privada, educadores e comunidade. Demanda-se, portanto, que toda proposta seja permeada pela necessária percepção ambiental. Para fins didáticos, foi desenvolvida uma representação gráfica do fluxo atual e do proposto, conforme figuras que seguem. A partir do modelo proposto, foi possível desenvolver algumas propostas de medidas as quais procuram trazer o equilíbrio entre os componentes do modelo e devem ser vistas como ponto de partida para as intervenções que se fazem necessárias visando a minimização dos problemas causados pelas inundações e, conseqüentemente, a melhoria ambiental da RMSP. A adoção de ações integradas facilita a compreensão global dos problemas e aproxima setores envolvidos. A avaliação periódica realimenta o processo e permite que se obtenha um melhor ordenamento da expansão urbana, elemento fundamental para o equilíbrio do ecossistema. REPR ESEN TAÇÃO GRÁFICA DO S FLUXOS DE TRABALHO Fluxo atual Como se sabe, sob o nome de ‘Plano Diretor , costumam ser apresentadas propostas que carecem da visão holística da bacia conforme defendida ao longo deste trabalho. 1- O fenômeno das cheias, aliado a ocupação desordenada de áreas urbanas, provoca as inundações. 2- Os órgãos responsáveis pela análise das causas e conseqüências das inundações não dispõem dos instrumentos adequados para avaliação. Não há: 10 Avaliação e Reavaliação dos processos de inundação e das áreas de risco Sistema de Informações Geográficas Sistematização de um fluxo de trabalho – cada inundação é analisada isoladamente e sem considerar o contexto da sub-bacia que pertence Planos Diretores que promovam a integração entre setores do mesmo poder público, entre governos e dos governos com os setores da sociedade e a população. Por outro lado, ao mesmo tempo em que se analisam fatores técnicos, ainda que inadequadamente, por falta de uma legislação e regulamentação do uso do solo e subsolo, os administradores (do Estado e dos Municípios) se sujeitam a pressão social e a recursos limitados até mesmo pela inadequação ou ausência de um planejamento para a metrópole. Fluxo proposto: Sistemática integrada para controle de inundações em sub-bacias hidrográficas urbanas 1- O fenômeno das cheias, aliado à ocupação desordenada de áreas urbanas, provoca as inundações. 2 e 9- Os órgãos responsáveis pela análise das causas e conseqüências das inundações utilizam instrumentos adequados para avaliação e reavaliação do processo. Isso decorre da constante reavaliação e melhoria da qualidade das informações sobre a bacia e sobre o histórico das inundações. O enfoque é, sempre, da sub-bacia como um todo. 3- Diante desses fatores, a decisão política é tomada sem que os administradores tenham o suporte técnico integrado e necessário dos setores envolvidos. Acaba se optando por medidas de impacto, de caráter estrutural, as quais podem modificar radicalmente e agredir o espaço urbano, podendo não ser a solução mais adequada no contexto da sub-bacia 3 e 10- Em função dessa análise é possível planejar e re-planejar a expansão urbana (em função de uma constante reavaliação dos processos e das áreas de risco), obtendo os seguintes produtos: 4 e 6- Os projetos que detalham as escolhas das medidas que serão adotadas são geralmente pontuais e consideram apenas a obra isoladamente. Podem mesmo ocorrer, para uma mesma bacia, estudos que proponham intervenções totalmente incompatíveis, feitos por consultorias contratadas por diferentes setores dos governos. Ao serem implantadas, já não se sabe se as medidas irão atender nem mesmo o problema inicial, tanto em decorrência de alterações no trecho urbano, quanto pelos fatores de integração dos setores que não são considerados nos projetos. 5 e 7- Normalmente a educação ambiental é uma exigência dos órgãos internacionais de financiamento da obra, cumprida burocraticamente e tendo efeito pontual e disperso. Sistema de Informações Geográficas – SIG, uma importante ferramenta auxiliar na tomada de decisão por acumular o histórico da bacia e permitir simulações. Sistematização de um fluxo de trabalho – as inundações passam a ser analisadas sob o enfoque e o contexto das sub-bacias e da bacia da região. Planos Diretores que promovam a integração entre setores do mesmo poder público, entre governos e dos governos com os setores da sociedade e a população. Legislação e regulamentação do uso do solo e subsolo. 4- Inevitavelmente, sempre irão existir a pressão social e os condicionantes econômico-financeiros influenciando a escolha de alternativas para controle de inundações. Esses fatores afetam em maior em menor grau a decisão dos políticos em função de uma série de aspectos, porém, acredita-se que políticos com melhor qualidade de informações técnicas tendem a decidir melhor e optar pelas melhores alternativas. Caso não o façam, sabe-se, não será por Por fim, não há uma avaliação sistematizada dos resultados, dificultando a compreensão global dos problemas e a melhoria do processo. 11 desconhecimento da situação e sim por outros motivos que, como se sabe, também afetam as decisões dos governos. 5- Por outro lado, os administradores (do Estado e dos Municípios) ficarão menos expostos à pressão social. Os recursos econômico-financeiros podem ainda ser limitados (já que outros fatores influenciam a questão). Porém, sendo parte de um planejamento integrado para a metrópole, tendem a ser racionalizados. Diante desses fatores, a decisão política é tomada com o suporte técnico integrado e necessário dos setores envolvidos. 6 e 7- Quaisquer que sejam as decisões dos governos, os projetos que detalham as escolhas das medidas que serão adotadas devem ser tratados em conjunto, considerando, obrigatoriamente: As ‘obras’ (medidas estruturais ou não-estruturais) conforme a classificação aqui proposta. As ‘ações’, considerando: Controle do Uso do Solo e Subsolo, a Questão do Lixo, a Percepção Ambiental, a Comunicação Visual, a Educação Ambiental, dentre outros, bem como a aplicação do conjunto de Leis e Regulamentações, ou seja, o cumprimento das leis. Essa integração impede proposições incompatíveis e melhora a qualidade geral dos projetos, além de otimizar a utilização de recursos. Ao serem implantadas, permitirão a avaliação sistematizada dos resultados e a reavaliação do processo como um todo. Necessariamente, a base dos dados a ser utilizada nos projetos deve ser única, integrada e atualizada. 8- A avaliação dos eventos e a constante reavaliação dos processos são feitas considerando-se o histórico de ações integradas. Esse processo permite o aprendizado e o aprimoramento constante das bases de dados e melhora a qualidade das análises técnicas, em detrimento de avaliações individualizadas e pontuais das ocorrências de inundações. 12 Fenômeno das Cheias Expansão Urbana 1 1 Fenômeno das Cheias 1 Ocorrências de Inundações 2 1 Ocorrências de Inundações 1 Pressão Social Expansão Urbana 1 Análise de Causas e Conseqüências Disponibilidade de Recur sos 2 2 Avaliação/ Reavaliação 8 3 4 2/9 Planejamento da Expansão Urbana * Decisão Política Projetos Análise Técnica de Causas e Conseqüências * (Leis e Regulamentações do Uso do Solo e Sub-Solo, Sistema de Infor mações Geográficas, Sistematização do Fluxo, Planos Diretores Integrados) 3/10 Educação Ambiental Pressão Social Decisão Política 4 5 5 Obras de Engenharia Ações Educativas 6 7 Projetos e Obras Educação Ambiental 6 6 Disponibilidade de Recursos 4 Controle do Uso do Solo e Sub-solo* * Percepção Ambiental 6 * * Aplicação do Conjunto de Leis e Regulamentações da Expansão Urbana. Ações Integradas 7 FLUXO ATUAL PARA CONTROLE DE INUNDAÇÕES SISTEMÁTICA INTEGRADA PARA CONTROLE DE INUNDAÇÕES EM SUB-BACIAS HIDROGRÁFICAS URBANAS 13 6 (medidas estruturais) e ‘ações’ integradas, partes de um todo indissociável. Tais ‘ações’ (medidas não estruturais), são, especificamente, controle do uso e ocupação do solo e educação ambiental. PROPOSIÇÕES E CONCLUSÕES Retomando os objetivos propostos, o trabalho desenvolveu uma análise das causas e conseqüências das inundações urbanas e das soluções historicamente adotadas para sua minimização. A aplicação desta sistemática envolve mudanças profundas nos sistemas de gestão e políticas públicas, integrando os diferentes setores (saneamento, habitação, transporte, educação, saúde, lazer...), através de práticas participativas e parcerias que integrem, por sua vez, população, governos (local, estadual e federal), iniciativa privada, meios de comunicação, associações religiosas e comunitárias e universidades. A ocupação do solo na Região Metropolitana de São Paulo ocorreu através de processos especulativos induzindo à ocupação predatória de mananciais, várzeas e encostas por uma população socialmente excluída, confinando e poluindo represas e cursos d’água, agravando, dentre tantos outros, os problemas das inundações. Foi assumida como estudo de caso, a Bacia do Pirajuçara, por apresentar 90% de sua área urbanizada e amplo leque de problemas sociais e ambientais, com alta densidade demográfica, percentual significativo de população em favelas, situadas nas várzeas dos córregos, sofrendo várias vezes ao ano inundações de grandes proporções. Na tentativa de sanar os problemas, foram aplicadas medidas estruturais, pontuais e pulverizadas que, aliadas à ausência de políticas, de ações integradas e à indefinição de atribuições entre as diferentes esferas governamentais, foram fatores preponderantes para que as questões relativas às inundações se agravassem progressivamente, como se pode constatar com as ocorrências de inundações no início deste ano. Fechar os olhos a essa realidade e adotar posturas radicais de ignorar a existência de organismos e organizações sociais não oficializadas, não estruturadas legalmente e, até mesmo, socialmente marginalizadas dentro da realidade de uma sociedade como aquela existente na bacia do Pirajuçara é fechar os olhos ao mundo real. Nesse quadro, o conjunto de leis e regulamentações sobre o uso e ocupação do solo não é suficiente para um ordenamento da expansão urbana que evite as conseqüências danosas das inundações. É ao mundo real, onde esses fatores existem e são decisivos, para o qual as propostas que se seguem estão sendo direcionadas. Decorre daí a importância de profundas alterações na visão que se tem das cheias urbanas, uma vez que, as ações adotadas visando o controle de inundações não têm obtido os resultados desejados, pois adotam apenas ‘obras’ (soluções hidráulicas), ficando o uso e ocupação do solo, enfim, o urbano, sem controle. Como medida de ação concreta para aplicação da sistemática integrada na Bacia do Pirajuçara, propõe-se a escolha de uma micro-bacia para estudo-piloto, preferencialmente nas áreas das nascentes do Pirajuçara (Embu e Capão Redondo), cuja delimitação exigirá novos estudos. Com base nos dados levantados, foi proposta uma “Sistemática Integrada para Controle de Inundações”, baseada numa sistematização dos fluxos de trabalho, permitindo um enfoque integrado das questões relativas às inundações e suas conseqüências. Por esse enfoque, como pilares que darão sustentação às propostas, devem ser aplicados estudos técnicos que objetivem ‘obras’ A partir dos resultados obtidos, o projeto poderá se expandir pelas demais micro-bacias do Pirajuçara abrangendo, a longo prazo, toda a Região Metropolitana de São Paulo. 14 Apresentam-se a seguir propostas de ações que poderão ser aplicadas na áreapiloto. PROPOSIÇÕES GERAIS Integração entre setores envolvidos no controle de inundações Como já foi ressaltado , para que as questões da bacia passem a ter um enfoque baseado nas premissas colocadas para este trabalho, na busca de melhores resultados, é necessário que haja a integração entre os setores envolvidos no controle de inundações, onde profissionais de múltiplas áreas possam estar envolvidos em soluções que integrem aspectos hidráulicos e hidrológicos, arquitetônicos e urbanísticos, de percepção ambiental e comunicação visual, sociais, econômicos, enfim, onde profissionais de diversas áreas trabalhando juntos, certamente encontrarão soluções criativas com alternativas viáveis para a minimização das questões relativas aos problemas causados pelas inundações. O envolvimento da Universidade de São Paulo Como se sabe, o campus da Universidade de São Paulo – USP está localizado na sub-bacia do Pirajuçara. Como também é de conhecimento da comunidade científica e tecnológica brasileira, e de parcela da população mais bem informada, no que diz respeito à Arquitetura e ao Urbanismo, há paradigmas encravados na maneira de projetar e atuar da maioria dos profissionais, donde se produz grande quantidade de trabalhos voltados ao pequeno e elitizado percentual de população de classes dominantes, de maior poder aquisitivo. Entende-se, portanto, que o envolvimento da Universidade e da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo nas questões em tela é pertinente e necessário. O prosseguimento do desenvolvimento do Sistema de Informações e atualização constante de dados Como foi exposto, para o desenvolvimento do Sistema de Informações Geográficas para o Pirajuçara, diversos profissionais, de diversas áreas foram 15 envolvidos, sendo que o resultado obtido apresenta um nível de detalhamento e qualidade de informação acima daquilo que o Estado tem hoje disponível para seus técnicos. Na realidade, a questão preocupante a ser discutida e que não faz parte até então das propostas do Plano Diretor de Macrodrenagem, ou pelo menos, as versões atuais do projeto ainda não previram, a integração da solução hidráulica com aspectos urbanos e sociais do local. O SIG poderá servir de base para as futuras pesquisas e projetos na bacia desde que tenha uma continuidade no aprofundamento, aprimoramento e atualização (de dados da bacia e de programas utilizados). O aprofundamento e detalhamento das medidas ‘não estruturais’ recomendadas Este SIG deverá ser integrado aos trabalhos em andamento na Região Metropolitana de São Paulo. Ele poderá servir como ferramenta para que as ações propostas se aproximem da realidade. É necessário que sejam detalhadas e aplicadas as medidas chamadas de ‘não estruturais’, apenas recomendadas e enumeradas em muitos planos. Para implementar novas funções deverão ser ainda mapeados e implementados mais dados Tais medidas, tratadas como ‘ações’ conforme preconizado no Capítulo VI, constituem parte fundamental da Sistemática Integrada para controle de inundações proposta no presente trabalho, sustentada, junto às obras, pela Educação Ambiental, Controle do uso do solo urbano e demais técnicas auxiliares ao equacionamento global da questão das enchentes. QUANTO ÀS MEDIDAS DE CONTROLE DE INUNDAÇÕES APLICADAS ESTABELECIMENTO DE DIRETRIZES DE USO E OCUPAÇÃO DO SOLO A integração das obras com a realidade urbana local De todos os pontos analisados durante o estudo, o óbvio e fartamente constatado é que o todo que se tem feito na região em relação ao controle de enchentes são obras, historicamente, de caráter pontual e sem diretrizes de Planos Diretores de Drenagem. Para um estudo aprofundado de uso e ocupação do solo, será necessário ter os mapeamentos recomendados para a continuidade do Sistema de Informações Geográficas, sendo uma fase posterior à da conscientização ambiental por parte da população. O Plano Diretor de Macrodrenagem da Bacia Hidrográfica do Alto Tietê, ainda em fase de elaboração, tem seu término previsto para o ano 2000. As ações previstas para a Bacia do Pirajuçara constituem-se em uma série de obras, que deverão ser integradas à realidade urbana local. Assim, poderão ser delimitadas as áreas inundáveis, em diferentes classes de risco, ou diferentes períodos de retorno, delimitando-se também as áreas de riscos em encostas. Diante do exposto, propõe-se que os seguintes aspectos adicionais sejam previstos no detalhamento do Plano: Estas medidas deverão ser integradas aos Planos Urbanos, devendo também nestes, serem abordados os aspectos de infra-estrutura geral (redes de água, esgotos, drenagem pluvial, distribuição de gás e energia elétrica) e sistema viário; sistemas de transportes urbanos e interurbanos; O aproveitamento múltiplo das áreas usadas para reservatórios de contenção 16 traçar planos pequenos para coleta de esgoto, com pequenas estações de tratamento, em cada micro-bacia, ou mesmo mais de uma por trecho, uma espécie de saneamento condominial. Isto só será viabilizado se o trabalho de educação ambiental com a população se der de maneira eficiente, e se, as construções independerem da morosidade e da burocracia dos poderes públicos. A partir das experiências realizadas neste piloto, se bem sucedidas, poderão ser determinados os usos do solo compatíveis com a realidade local, com a participação efetiva da população, pois só assim poder-se-á garantir uma continuidade em todo o processo e sua manutenção. Estas atividades poderão ser organizadas através de cooperativas e a verba alocada através de financiamentos por entidades internacionais, que muito se mobilizam quanto às questões de Recursos Hídricos e Meio Ambiente, evidentemente, necessitando do envolvimento das Prefeituras locais. Uma vez testada a eficiência dos conceitos aplicados, poderão ser estabelecidas novas diretrizes para as leis de uso e ocupação do solo, porém, maleáveis de tal forma a não engessar o processo e gerar as conseqüências perversas que, historicamente se podem comprovar. Sabe-se, porém, que a aplicação de tais medidas requer estudos mais aprofundados do que aqueles que aqui foram possíveis de serem realizados, mesmo porque não foi esse o objetivo precípuo deste trabalho. A QUESTÃO DO LIXO A ocupação das várzeas O lixo urbano é um dos grandes problemas para os sistemas de drenagem, pois quando não lançados diretamente, acabam chegando ao rio principal, carreado pelo escoamento superficial. Quanto às várzeas, em regiões de alto risco, poderão ser adotadas algumas medidas, evidentemente, após uma delimitação destas áreas (objeto do item relativo ao uso do solo). O lançamento de lixo nos rios, nas ruas, nas áreas públicas pela população, é uma constante em nossas cidades, atitude não necessariamente associada à classe social ou de renda. Todos os atores sociais e órgãos públicos são igualmente responsáveis. As regiões das nascentes do Pirajuçara, Embu e Distrito de Capão Redondo, têm o solo totalmente ocupado por arruamentos asfaltados e construções horizontais, sendo que todos os córregos são ocupados por construções que invadem seus leitos, impedindo o acesso e, conseqüentemente, a limpeza dos mesmos. É claro que, onde há sistemas eficientes de coleta, renda para comprar sacos de lixo e outros fatores, como em bairros de classes de renda mais elevadas, há menos incidência de lixo lançado às ruas. Lixo e esgoto são lançados diretamente no córrego, fora o lixo jogado nas ruas que também acabam chegando a ele. Os córregos, nos locais de classe de renda mais altos, geralmente são canalizados e cobertos, como historicamente aconteceu. Nos locais onde habita população de baixa renda, os córregos correm a céu aberto e fica mais fácil o lançamento de lixo, pois, geralmente, as construções são feitas à sua margem e da própria janela pode-se jogar todo tipo de lixo, até sem que ninguém veja. Partindo dos trabalhos de Educação Ambiental realizados nas áreas-piloto, juntamente com os moradores das várzeas, pode-se pensar na realocação dos moradores das áreas de alto risco, procurando áreas onde se possam, através de construções verticalizadas, acomodar aquela população e liberar as várzeas que poderão ser utilizadas para acomodar parte das águas da chuva por ocasião das enchentes e para atividades de lazer da própria população, que se encarregaria de cuidar para que não houvesse novas invasões. As indústrias que se implantam nas beiras dos córregos também são responsáveis por lançamento de lixo e outros materiais. 17 Não há multas, nem fiscalização, nem policiamento que impeça, tampouco puna os infratores. Os pequenos lixos lançados por habitante, transformam-se numa quantidade diária colossal. Como responsável direto pelo assunto, é fundamental a sensibilização e mobilização da Prefeitura dos municípios envolvidos, principalmente o de São Paulo, sem a qual, efetivamente, a questão do lixo pouco poderá evoluir. Partindo deste princípio, medidas pequenas para melhoria da coleta do lixo também podem ser significativas no total. O LANÇAMENTO DE ENTULHO NOS CÓRREGOS Essa é uma questão fundamental para a região. É muito freqüente e em grandes volumes, o lançamento de entulho no córrego Pirajuçara e seus afluentes. A adequação do sistema viário para dificultar o acesso de caminhões às margens dos córregos é uma opção viável, promovendo bloqueios nas ruas de acesso às margens dos córregos, impedindo assim que os caminhões de entulho atinjam estes locais. Propõe-se, então, tomando como unidade a pequena sub-bacia para estudopiloto, as seguintes medidas: Quanto à coleta de lixo, usar veículos menores como peruas, que poderão adentrar mais facilmente os trechos e ruelas de difícil acesso, em bairros como os pertencentes a Capão Redondo, ao invés dos veículos convencionais que são desproporcionais ao tamanho das ruas. O acesso ao rio é viável nas regiões de Taboão da Serra e Campo Limpo, onde, pelas pesquisas sócio-econômicas efetuadas, são os lugares com maior percentual de lançamento de lixo e entulho no córrego. Há experiências bem sucedidas de se comprar o lixo da população, ou trocá-lo por alimentos, que poderiam ser testadas e adotadas se tivessem sucesso. A compra do lixo, sem dúvida, poderá ser menos onerosa do que a limpeza do córrego, das galerias e do que os prejuízos e perdas causados pelas inundações. A complementação desta medida é, obrigatoriamente, a de uma fiscalização eficiente que, além dos órgãos oficiais, só poderá ser efetivamente feita pelos moradores, quando conscientizados da importância da questão. Mostrar, demonstrar e adotar a reciclagem como fator importante, criando-se oficinas de reciclagem, promovendo a venda de material para reciclagem ou reciclado, com benefício para a própria população. Pode-se adotar o recurso da multa para lançamento de lixo e entulho no rio, apenas para empresas, indústrias e locais de maior classe de renda, aliadas à legislação, ou com acréscimos no IPTU. Devem ser divulgados dados já existentes da produção de lixo por habitante mostrando o custo do lixo, utilizando-se de medidas comparativas, tais como, quantas cestas básicas poderiam ser adquiridas, quantas casas poderiam ser construídas, quantas escolas e hospitais, e assim por diante. Nos locais mais pobres, a multa é inviável e uma das soluções, como já se propôs, é comprar o lixo, pagando-se para que não o joguem no rio. A QUESTÃO DA PERCEPÇÃO AMBIENTAL É necessário fazer com o lixo o que se tem que fazer com o rio, e com a própria cidade, em termos de Percepção e Educação Ambiental: mostrar a responsabilidade dos moradores pela produção de lixo, e as relações causa e efeito: lixo jogado no rio causa assoreamento e o conseqüente transbordamento do mesmo por ocasião das chuvas; nas ruas, entope as galerias, causando os mesmos problemas e assim por diante. Uma educação ambiental no sentido da preservação dos recursos hídricos, incluindo aí os aspectos de controle de inundações que se queira eficiente deverá priorizar na elaboração das diretrizes de sua proposta, os aspectos já citados, como: 18 salientar a diferença de enfoque dos habitantes para com represas e rios. Parece que numa represa ou num lago o lixo que se joga fica lá e nos rios ele ‘vai embora’; é a questão da relação causa e efeito; a falta desta ajuda a não percepção do que acontece quando se joga sujeira no rio. A importância da informação por meio de mapas e desenhos ao alcance da população Trabalhar no sentido de resgatar a imagem do rio em ambiente natural e a relação do homem urbano com o rio. Ter consciência de que os órgãos públicos responsáveis pelas águas, prefeituras, estado, de certa forma reforçam esta imagem negativa de várias formas: canalizando em galerias fechadas, escondendo os rios ou deixando suas várzeas abandonadas, o que as torna susceptíveis à invasões, como se fosse uma terra de ninguém sem valor comercial. Ter um trabalho de planejamento urbano no sentido de recuperar a imagem da água e a postura do habitante em relação a ela; trabalhar a questão das áreas públicas e privadas Estabelecimento de diretrizes para a Educação Ambiental e demais ações, como medidas complementares às obras A Educação Ambiental está diretamente relacionada com a recuperação de valores éticos, estéticos e espirituais da sociedade como um todo e com a sua reaproximação com a Natureza. Os fenômenos naturais devem ser compreendidos e a percepção de suas influências recíprocas, as relações de causa e efeito que atuam nos espaços e o perpassar do tempo, condicionam a possibilidade de um juízo crítico no homem e de seu desempenho e das condições ambientais em seu espaço de atuação. O aprendizado de vivência ambiental importa no estabelecimento de algumas diretrizes. Para transmitir as informações de modo efetivo é necessário um longo processo de percepção, sensibilização e reflexão junto à população, voltado à construção da cidadania, para que possam ser introduzidas as informações específicas sobre o que se deseja. Como já se ressaltou, fazer uso de ferramentas de percepção e educação ambiental são fundamentais para que, junto com as necessárias obras e outras ações conjuntas, melhorem as perspectivas de bons resultados nos trabalhos de controle de enchentes. É necessário sensibilizar a população, com o auxílio das lideranças locais através de diferentes técnicas de trabalho em grupo, gerando processos reflexivos para depois informar e não simplesmente, informar. Espera-se, com isso, não apenas a mudança da imagem do rio, mas uma completa mudança na postura dos envolvidos com a questão, sejam governo, técnicos ou habitantes da bacia. A quem se destina A Educação Ambiental no tocante ao controle de inundações é um dos pontos que deve envolver não somente a população, mas as empresas, os órgãos governamentais, as escolas e universidades e a mídia, os produtores direta e indiretamente do espaço urbano, sejam como ocupantes, planejadores, gestores, formadores ou manipuladores de opinião. Sua aplicação maciça, porém, é geralmente dirigida diretamente à população e deve atuar sobre ela visando obter efeitos de modificação comportamental. A somatória dessas medidas em pequena escala vai permitir a análise comparativa com as grandes estações de tratamento, inviáveis por exigirem grandes áreas, inexistentes na região. O SIG poderá ser também utilizado como ferramenta para um projeto de cultura e educação dentro das escolas, com o objetivo de prover o cidadão de informações sobre a realidade, sob diversos ângulos, equacionando a teoria com a prática. Ela deve adaptar-se à realidade a que se aplica e adequar os conceitos de acordo com as questões cruciais da população envolvida. A EDUCAÇÃO AMBIENTAL Diretrizes a serem adotadas 19 as relações entre causa e efeito nos fenômenos. É necessário que se tracem diretrizes de atuação e um Plano de Educação Ambiental para toda a bacia e diretrizes específicas para cada grupo, distinguindo-os conforme localização e condição social, preferencialmente unidades de vizinhança dentro de pequenas bacias hidrográficas, a partir das nascentes do córrego Pirajuçara e seus afluentes, no Município de Embu e Distrito de Capão Redondo. Deverão ser trabalhados também os conceitos: o resgate da imagem negativa do rio através da dissociação da idéia da enchente como violência por parte do rio; ampliação da percepção sobre as situações de risco. Os itens abordados na Comunicação Visual deverão estar presentes em todas as fases do processo de educação ambiental por meio de filmes, cartazes, músicas e arte em geral. O papel da empresa, por sua necessidade de sobrevivência neste mundo globalizado, assimila rapidamente as novas visões do mundo, sendo o laboratório para uma nova consciência. Poderão ser utilizados modelos reduzidos da bacia nas escolas para a compreensão do fenômeno das enchentes e suas implicações. Assim, devem ser estimuladas nestes ambientes a reflexão sobre os valores humanos e as atitudes e consciências individuais e coletivas que se desejam desenvolver. As alternativas propostas pela população para solucionar os problemas acima expostos também devem ser consideradas e aplicadas concomitantemente às demais medidas propostas. Conceitos a serem trabalhados A somatória dessas ações resultará, sem dúvida, numa melhoria da qualidade de vida em toda a bacia e, conseqüentemente, na minimização dos problemas causados pelas enchentes. Alguns conceitos deverão ser trabalhados, utilizando-se de técnicas específicas. Naturalmente, referem-se as questões sobre recursos hídricos, as águas, as cidades e as inundações: a água como um bem escasso e não renovável; o ciclo hidrológico; os rios e a bacia hidrográfica; o fenômeno das enchentes como natural; os rios e suas várzeas; como se implanta e funciona uma cidade; o fenômeno das enchentes nas áreas urbanas; como funciona o sistema de drenagem; os fatores que interferem nas inundações: as construções nas várzeas; as construções inadequadas nas encostas; o esgoto; o lixo; o entulho; a impermeabilização do solo; PROPOSTAS PARA FUTUROS TRABALHOS Nas proposições são elencados aspectos que poderiam ser desenvolvidos dentro dos assuntos de interesse na Bacia do Córrego Pirajuçara. Estes trabalhos podem também ser pesquisados nos Trabalhos de Graduação Interdisciplinar dos alunos de arquitetura e urbanismo da FAUUSP, nas Dissertações e Teses sobre temas que viriam a desenvolver e aprofundar os estudos aqui apresentados. São eles: SISTEMA DE INFORMAÇÃO GEOGRÁFICA – SIG, com aprofundamento no levantamento de dados já detalhados; pesquisa sobre soluções para enchentes urbanas em outras partes do mundo e em países de terceiro mundo, mostrando as peculiaridades de cada um e estudando algumas aplicações para os casos de nossas regiões metropolitanas ou de áreas específicas; 20 pesquisa sobre tratamento urbanístico de várzeas inundáveis e de reservatórios de contenção, para países de terceiro mundo, onde as águas de enchente são poluídas com esgotos. Desenvolver tipologia de vegetação viável, tratamento urbanístico para estas áreas, desenhos de reservatórios com usos múltiplos, adequando soluções arquitetônicas às necessidades hidráulicas; proposição de alternativas para habitações populares realocadas das várzeas na área-piloto escolhida dentro da Bacia do Pirajuçara para regiões próximas, verticalizadas e utilizando técnicas construtivas inovadoras (com métodos de construção não geradores de entulho, tais como aço e madeira) para mutirões; estudo sócio-econômico para a população da bacia, detalhando o que foi apresentado, para aplicação em Educação Ambiental; pesquisas aplicando conceitos de Percepção Ambiental em áreas da bacia do Pirajuçara, utilizando técnicas específicas, obtendo subsídios para projetos de Educação Ambiental e Comunicação Visual; estudo de propostas de Comunicação Visual específicas para áreas sujeitas a inundações, bem como para Educação Ambiental; estudo de alternativas para reciclagem de lixo na região escolhida, pesquisando quantidades diárias produzidas, alternativas de reciclagem e estudo de áreas na bacia onde seria possível implantar oficinas para tais atividades. 21 As populações excluídas, por falta de opções melhores, instalam-se nas várzeas e nos terrenos com pouco valor imobiliário, com baixa qualidade de vida dando, juntamente com todos os outros setores públicos e privados da sociedade, sua parcela de contribuição à degradação do meio ambiente. CONSIDERAÇÕES FINAIS Ciência é estudar e experimentar para ver aquilo que será possível realizar. [do lat. Scientia] s.f. 1. Conhecimento (...) 3. Conjunto organizado de conhecimentos relativos a um determinado objeto, especialmente os obtidos mediante a observação, a experiência dos fatos e um método próprio. (DICIONÁRIO AURÉLIO, 1996, p. 125) Como paulistana, como brasileira, como arquiteta, professora e pesquisadora, sinto-me no dever e, certamente, no direito de cobrar seja de quem for, para que contribua com sua parcela de ajuda na melhoria da qualidade de vida dos que dividem comigo esse aglomerado de desordem urbana. O que se procurou durante todo o processo de elaboração deste trabalho foi levantar e colocar em discussão, utilizando-se de conhecimentos científicos de diversas áreas, a necessidade de interrupção de um processo histórico recorrente que envolve as políticas e diretrizes da ocupação urbana da Região Metropolitana de São Paulo. Assim, não é possível simplesmente colocar palavras sob o título ‘Conclusão ‘ e dar minha tarefa por encerrada, comum nos trabalhos acadêmicos. Ela só está começando. A continuidade e o sucesso dependerão do empenho, da colaboração e da solidariedade de cada um de nós na construção de um novo cenário urbano, onde o nosso homem tenha condições dignas de vida. As cidades, parecem ‘viciadas’ em enchentes. São Paulo já está acostumada. Todo ano as cenas se repetem: lá vão os helicópteros com a mídia, com os governantes, os bombeiros, o pessoal da saúde, do trânsito, as vítimas e os heróis urbanos. Este trabalho pretende romper vícios e um deles é o de que as inundações e suas vítimas, sempre farão parte da paisagem de São Paulo. Enquanto houver rio e chuva, haverá enchente. A TV mostra e o povo assiste ao seu próprio drama, passivamente, como diante de mais uma novela. E a mídia não aproveita a oportunidade para Educar, de verdade, esse mesmo povo sobre as questões de saúde, de cidadania , de convivência com o ambiente, e por que não, com as águas? Temos muito a fazer até solucionar os mais graves problemas por elas causados. Com boa vontade, dedicação, cidadania, e, principalmente, esperança, poderão ser resolvidos outros tantos males e vícios que incorporamos em nosso dia-adia. A exclusão social, o desemprego, o abandono e a corrupção da infância e da adolescência são mostrados na TV e passam, ao vivo, diante dos vidros fechados dos automóveis que entopem as vias de trânsito, que submergem nas águas das inundações. Pois bem, então, mãos à obra, pois hoje ainda chove, uma chuva intensa, que há muito não cai e está deixando parte dos sobreviventes sem terem para onde ir. É preciso mudar esse cenário e a ciência e o desenvolvimento da cidadania são as únicas armas que podem modificar essa realidade. E amanhã, quando o sol brilhar, que estas cenas permaneçam vivas em nossa memória, para que este seja sim, um ‘Preâmbulo’ para novas realizações. São Paulo está precisando de seu povo, de seus técnicos, de seus governantes, de solidariedade. São Paulo, 5 de janeiro de 2000 Maria de Sampaio Bonafé 22 CANHOLI, A. P. Revista Águas e Energia Elétrica. São Paulo: DAEE, 1999. p.32-43. BIBLIOGRAFIA CASCINO, F. Educação Ambiental: princípios, história, formação de professores. São Paulo: SENAC, 1999. CASTRO, E. M. N. V. Diálogo com a vida: uma educação consciente. in MELLO FILHO, L. E. de. (org.) Meio Ambiente & Educação. Rio de Janeiro: Gryphus, 1999 (Educação em diálogo, 3) ALMEIDA, J. R. (coord.) et al. Planejamento Ambiental: caminho para participação popular e gestão ambiental para o nosso futuro comum: uma necessidade, um desafio. Rio de Janeiro: Thex, Biblioteca Estácio de Sá, 1993. CAPRA, F. O Tao da Física. São Paulo: Cultrix, 1983. CARLOS, A. F. A. (org.) 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