FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA DEPARTAMENTO DE ENSINO CURSO DE MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 199706 517 T/EBAP M672c 11111111111111111111111111111 1000077676 COMISSÃO NACIONAL DE RESIDÊNCIA MÉDICA: CAMINHOS E DESCAMINHOS NA GESTÃO DESTA MODALIDADE DE ESPECIALIZAÇÃO MÉDICA NO BRASIL DISSERTAÇÃO APRESENTADA A ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA UBIRAJARA JOSÉ PICANÇO DE MIRANDA JUNIOR Rio de Janeiro, 1997 FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA DEPARTAMENTO DE ENSINO CURSO DE MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA COMISSÃO NACIONAL DE RESIDÊNCIA MÉDICA: CAMINHOS E DESCAMINHOS NA GESTÃO DESTA MODALIDADE DE ESPECIALIZAÇÃO MÉDICA NO BRASIL DISSERTAÇÃO DE MESTRADO APRESENTADA POR UBIRAJARA JOSÉ PICANÇO DE MIRANDA JUNIOR E APROVADA EM 24/04/1997 PELA COMISSÃO EXAMINADORA LUIS CÉSAR GONÇALVES DE ARAÚJO (DOUTOR EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA) FÁTIMA BAYMA DE OLIVEIRA (DOUTORA EM EDUCAÇÃO) ~o ~ IÍ Ua f w/)' Q, - J6 "'éfL. I VALÉRIA DE SOUZA (MESTRE EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA) Às minhas mulheres queridas: Mariana e Luisa: filhas de beleza e alma pura, sonhos de todo uma vida, o meu eterno amor. lYarilucia: esposa e razão do meu amor, razão da realização deste trabalho, se puder, perdoe meus erros. Do fundo do meu coráção, Obrigado por tudo que fIZeram por mim, Perdoem pelo tempo que não pude me dedicar a vocês. III Aos meus familiares: Minha mãe, Concita, mulher sábia e generosa, meu grande estímulo no gosto pelos estudos. Meu pai, Seu Bira, homem forte e sensível, meu grande estímulo no gosto pela música. Meus irmãos, Dely, Dil, Pepé e, Meus tios, Ely, Didi, Tetéu, Titia e Lourdinha, meu mais profundo respeito. IV AGRADECIMENTOS: Agradecer não é tarefa fácil. Nem sempre correspondemos aquilo que nos é oferecido. Entretanto, faz-se necessário reconhecer aqueles que direta ou indiretamente contribuíram para a elaboração desta dissertação e o cumprimento deste mestrado. Aos Professores do Mestrado em Administração Pública, da Escola Brasileira de Administração da Fundação Getúlio Vargas, meus sinceros agradecimentos. Aos Profissionais da Secretaria Acadêmica da EBAP, especialmente Berenice, Vaninha e D. Vânia, pelo carinho e consideração com que sempre me acolheram. A todos os Colegas de Mestrado pelo apoio recebido ao longo do curso, em especial os amigos: Felipe Neves, José Almi, Jamil, Cecília, Irapuã, Alberto, Severiano, Wilbert, Paulo e Simone, pela oportunidade de ter dividido com vocês momentos de crescimento profissional e pessoal. Aos Professores do Mestrado da ENSPIFIOCRUZ e do NUTESIUFRJ, pelo apoio recebido nas disciplinas que me deram oportunidade para complementar meus interesses acadêmicos, em especial, Proft. Eliana Labra, Maria Helena Machado, Sherrine Borges, Eliana Claudia, Nildo Batista, Dyla Tavares e Romeu Gomes. v Aos meus demais familiares, pelo estímulo e carinho recebido durante o desenvolvimento deste trabalho, especialmente, tios Jairo, Martinha, Si/vinha e Iaiazinha; primos Carlinhos, Caiaco, Anna Luiza, Jairinho, Caíca, Adir, Marco, Monica, Gustavo e Ricardo; cunhados Nevinha, Paula, Ivan, J.Cícero, Artur, Paulo, Angela Maria, Teca, e João; sobrinhos e afilhados queridos. Meus tios, Jomar, Nogueira, José Raimundo e Tirzah, grande saudade. Carinho especial à minha sogra Nadyr, pelo afeto e respeito que sempre teve por mim. À memória de meu sogro Luiz, bravo guerreiro. Aos amigos deste Rio de Janeiro querido, companheiros de jornada, em especial, Raquelzinha, Rubens, FafY, Cacá, Isabela, Marquinhos, Marilinha, Suzana, Celina, Ligia, Caçulinha e Duda (Saudade), pelo apoio nas horas mais difíceis. Aos colegas da Fundação Hospitalar do Distrito Federal, por colaborarem na minha liberação para o cumprimento deste Mestrado. Muitas pessoas não foram citadas, mas nunca esquecidas. Meus sinceros agradecimentos a todos! VI AGRADECIMENTOS ESPECIAIS: Ao meu orientador: Professor Luis César Gonçalves de Araújo, pela sensibilidade que caracteriza o mestre, por me ouvir com paciência e me conduzir na busca do conhecimento, à luz da realidade. Também pelo incentivo e apoio na elaboração deste trabalho. À Professora Fátima Bayma de Oliveira, pela colaboração quando da fase de elaboração do projeto. À Professora Valéria de Souza, pela orientação dada pelos caminhos da Administração Pública, em busca de um referencial. À Professora Deborah Moraes Zouain, pela ajuda nos momentos finais de preparo e entrega da versão preliminar da dissertação. VII RESUMO Este trabalho procura analisar o papel da Comissão Nacional de Residência Médica (CNRM) como órgão responsável pela principal modalidade de especialização médica no Brasil. Para tanto faz-se uma revisão analítica da Residência Médica (RM) como política pública, seu traçado histórico e evolutivo, bem como da própria CNRM, desde a sua criação em 1977 até o ano de 1995, levando em consideração, tanto aspectos político-administrativos, quanto técnico-educacionais, considerados de importância relativos ao tema. Quanto à utilização de material adequado para a realização desta pesquisa buscou-se aproveitar dados de natureza bibliográfica e documental como base para uma abordagem mais ampla da questão, sendo, entretanto, dado ênfase à análise dos dados através do método de pesquisa qualitativa, pôr intermédio de entrevistas semi-estruturadas pessoais. Ao final promove-se algumas considerações, procurando vislumbrar alguns pontos que possam servir de consideração para uma melhor reflexão sobre a gestão da RM no Brasil. _-\BSTR\CT This work :cearches to analyze th . ,. role ;)f th . ,. :\acional Residenc . .' CommissÍon (C~\R-'n as au aecountable organ in Brazil for the main .\ledkal Speciaüzation mndality. For ,lil that ~ho"ing an anaiytieal re\iew oI' ~\ledical Residence (R:\I) as a Public Political. the historic and eyolurional sketched. even like C~R'I Ítsrif. ~ince 1977 "hen the (SR.\ I "as cl'eated unti11995, pointed out the Political.\Ianagellwnt aSpl'cts sueh as the Thecrucal-edueationals , considered the impol'tance rdatin~ to the ~uhj(·ct. Taking in :lccount the adt'quate utilization of the material for the adueyement oi' this ~eareh~ seeking to pl'ofit informations of BibJiographical nature and documental, as a mean for a hroden approach to the issue, bdng howen'l' emphasized the analyze oi" the inf()rmations thl'ough the qualitatin" search method by intermediate of pel'sonal sl"mi-l"structured. At the end. l't'bounds ~ome reganis lookin2: for to cast some points that could he ust'Íid on consideration fOI' a lll'ttel' reflexioll about tlU' R.\I administration in Brazil. ÍNDICE Págs. CAPÍTULO I - O PROBLEMA 2 l.l-APRESENTAÇÃO 2 1.2 - INTRODUÇÃO 4 1.3 - OBJETIVO FINAL 7 1.4 - OBJETIVOS INTERMEDIÁRIOS 7 1.5 - DELIMITAÇÃO DO ESTUDO 8 1.6- RELEVÂNCIA DO ESTUDO 9 CAPÍTULO 11 - REFERENCIAL TEÓRICO 10 2.1 - UM REFERENCIAL PARA ANÁLISE SOBRE A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO MÉDICO ESPECIALIZADO 10 2.2 -MARCO CONCEiTUAL PARA UM ESTUDO SOBRE POLÍTICA PÚBLICA 16 2.3 - EVOLUÇÃO E ORGANIZAÇÃO HISTÓRICA DA RESIDÊNCIA MÉDICA 26 2.4 - CRIAÇÃO, COMPOSIÇÃO E FUNÇÕES DA COMIS5'ÃO NACIONAL DE RESIDÊNCIA MÉDICA 38 CAPÍTULO m - METODOLOGIA 45 CAPÍTULO IV - ANÁLISE DOS DADOS 53 4.1 - O CENÁRIO 53 4.2 - OS ATORES 57 4.3 -A INTERPRETAÇÃO DOS ATORES 58 CAPÍTULO V - CONSIDERAÇÕES FINAIS 81 CAPÍTULO VI - REFERÊNCIAS BmLIOGRÁFICAS 87 VIII 2 CAPíTULO I - O PROBLEMA 1.1 - APRESENTAÇÃO o tema aqui selecionado resultou da experiência vivenciada na área da saúde, em especial na Assessoria da Comissão Nacional de Residência Médica (CNRM), órgão vinculado à Secretaria de Educação Superior (SESu), do Ministério da Educação e do Desporto (MEC) e na Coordenação dos Programas de Residência Médica, no Centro de Desenvolvimento de Recursos Humanos para a Saúde (CEDRHUS), órgão da Fundação Hospitalar do Distrito Federal (FHDF), instituição majoritária da Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES/DF). Tais atividades foram assim desenvolvidas desde 1988, tendo suscitado por diversas vezes conflitos a respeito da gerência e da organização desta modalidade de treinamento da área médica, denominada, legitimada e reconhecida como Residência Médica. Por se ter participado ativamente, tanto como médico-residente no início da carreira médica, quanto como responsável pela gerência de programas na atualidade, é que se permite questionar o papel da Comissão Nacional de Residência Médica (CNRM), enquanto gestora desta atividade de pós-graduação médica em todo o país. 3 Assim sendo, pretende-se fazer com este estudo uma revisão analítica do que seja a residência médica como uma política pública, o traçado histórico e evolutivo da residência médica, bem como o papel da CNRM, desde a sua criação, em 1977, até o ano de 1995, levando em consideração, primordialmente os aspectos político-administrativos, sem deixar de apontar os aspectos técnico-educacionais de importância pertinentes ao tema. Não se tem a pretensão, de maneira alguma, de esgotar a discussão sobre a gestão desta modalidade de capacitação médica, muito pelo contrário, apenas tentar-se-á vislumbrar alguns pontos que possam servir de consideração para uma melhor reflexão sobre a gestão da residência médica no Brasil. 4 1.2 -INTRODUÇÃO Dentre as políticas setoriais de desenvolvimento de recursos humanos em saúde, a capacitação do profissional médico tem merecido especial atenção, dada a complexidade e as necessidades cada vez maiores que se impõem a esta área do conhecimento. A Pós-Graduação em Medicina é uma etapa peculiar na Educação Médica, tendo na Residência Médica (RM) sua forma de especialização de caráter regular e permanente, utilizada para capacitar profissionais dos diversos ramos da Medicina. Por razões de natureza político-administrativa e técnico- educacional, em determinado momento histórico fez-se necessário ordenar esta modalidade de treinamento. Assim sendo, foi criada a Comissão Nacional de Residência Médica (CNRM), com o propósito de regulamentar as atividades que, de longa data, vinham sendo desenvolvidas neste contexto de formas as mais diversas. Diante disso, parte-se do pressuposto que a criação de um órgão para gerenciar uma modalidade específica de treinamento na área da medicina nasce da necessidade de se organizar o que já existia, sofrendo, portanto, diversos mecanismos de pressão, mecanismos estes, ou de relevada importância, 5 contando com o apoio das diversas instituições e atores envolvidos, ou desfavoráveis, de acordo com a circunstância que esteja prevalecendo no âmbito pol ítico-institucional. Cabe assim destacar alguns questionamentos que representam inquietações sobre o tema, dentre esses alguns considerados de interesse para a pesquisa que ora se levanta: • Como se encontra a gestão e a organização da RM no Brasil? • Como administrar este universo sujeito a riscos de deformação, implosões e explosões causados por indefiniçóes nas políticas de educação e de saúde? • Como administrar a necessidade de médicos na rede de serviços, via RM? • A diversidade de especializações corresponde às expectativas da demanda no mercado de trabalho? • As resoluções da CNRM estão adequadas à realidade atual? 6 Frente a esses questionamentos, procura-se entender o papel da gestão da pós-graduação médica. Assim sendo, entende-se que tal entendimento passa pela análise de uma problemática de cunho sócio-político e que, portanto, segundo Demo (1994), , ' ... ao tra tarmos probl emas sociais, não tratamos só de como pensamos a vida, mas sobretudo de como vivemos concretamente . .. " Face as diversidades apresentadas sob os pontos de vista político, educacional e social, além dos aspectos regionais de natureza estrutural do setor saúde, pretende-se analisar o papel da Comissão Nacional de Residência Médica, em seu contexto histórico-administrativo, como órgão responsável por esta modalidade de pós-graduação em medicina. 7 1.3 - OBJETIVO FINAL Analisar a trajetória político-administrativo da Comissão Nacional de Residência Médica, enquanto órgão responsável pela Residência Médica no Brasil. 1.4 - OBJETIVOS INTERMEDIÁRIOS a) Analisar sob o enfoque político-administrativo, o papel da CNRM na organização, credenciamento, controle e avaliação da RM no Brasil; b) Analisar os principais pontos que envolvem as políticas públicas de recursos humanos para a saúde referentes à Residência Médica; c) Estabelecer o diagnóstico situacional da RM no Brasil. 8 1.5 - DELIMITAÇÃO DO ESTUDO No que diz respeito ao horizonte temporal, a análise será feita no período que vai de 1977, ano em que foi criada a CNRM, até o primeiro trimestre de 1996, sendo entretanto necessário fazer referência também ao espaço correspondente a meados da década de 40 até 1977, para que seja melhor compreendida a antecedência histórica conjuntural. Quanto ao horizonte espacial, muito embora exista uma grande diversidade no contingente de atores que se apresentam como co-partícipes desta ambiência, o enfoque principal deste estudo estará circunscrito à Comissão Nacional de Residência Médica, por a mesma contemplar de forma abrangente a representação das entidades envolvidas com essa atividade em todo o país. Com relação ao objeto de estudo serão analisados os documentos oficiais que regem a RM no Brasil, além da bibliografia técnica pertinente ao tema, bem como serão interpretadas as principais análises proferidas pelas instituições que compõem o Sistema de Residência Médica no Brasil. 9 1.6 - RELEVÂNCIA DO ESTUDO o estudo ora realizado alcança importância ao se verificar que: • existem poucos estudos específicos relativos a Comissão Nacional de Residência Médica, especialmente no tocante ao seu papel enquanto gestora desta modalidade de treinamento; • há necessidade de se analisar a participação da CNRM frente às políticas de saúde e educação no contexto nacional; • é também necessário uma melhor compreensão da relação da CNRM com as sociedades de especialidades médicas, no que diz respeito ao estabelecimento de critérios para a aprovação de sub-especialidades no Sistema de Residência Médica; e, • porque merece especial atenção a relação da CNRM com os mecanismos de inserção do profissional médico no mercado de trabalho em saúde. Espera-se, portanto, que as conclusões e resultados deste trabalho possam servir como mais um parâmetro de comparação com outros estudos, pretendendo portanto agregar contribuição efetiva para o melhor desenvolvimento da gestão desta modalidade de pós-graduação médica no Brasil. 10 CAPíTULO 11 - REFERENCIAL TEÓRICO 2 1- UM REFERENCIAL PARA ANÁLISE SOBRE A ORGANIZACÃO DO TRABALHO MÉDICO ESPECIALIZADO A configuração exata das profissões tradicionais no Brasil, entre elas a medicina, ocorreu apenas no final do século XIX, vivendo esta seu momento maior como prática profissional liberal até o início da década de 30, passando a partir daí a conviver com um processo de perda progressiva de seu predomínio. Nos anos 60 já ocorre a superação desta prática de trabalho, substituindo-se o modelo de produtor privado isolado e independente para conformar a prática médica em trabalhos especializados de produtores associados e de cooperação obrigatória. A crescente dependência da assistência médica de uma tecnologia (1) de alta complexidade acelerou a tendência para a especialização, o que, segundo Capra (1982), veio reforçar a propensão médica de tratar partes específicas do corpo, esquecendo-se de cuidar do paciente como um todo. (1) Entende-se por Tecnologia um corpo de conhecimentos aplicáveis para controlar, transformar ou criar coisas ou processos naturais ou sociais. É mais ampla que a técnica, que é um modo simples de resolver problemas práticos. (Ladriére, 1979) 11 A prática da medicina transferida do consultório do clínico geral para o hospital e a abordagem técnica da saúde levaram a uma excessiva ênfase na tecnologia médica como o principal caminho para melhorar a saúde. É a "medicina tecnológica" emergindo como a modalidade preferencial de organização do trabalho médico. (Schraiber, 1993) A especialização do trabalho médico vinculou-se, portanto, à organização social da medicina, articulada ao exercício profissional dos médicos com a tecnologia contemporânea. Assim sendo, a tecnologia médica atingiu um grau de sofisticação sem precedentes, tornando-se onipresente na moderna prática médica assistencial. A expressão medicina tecnológica caracteriza a prática que se realiza na forma de especialização do trabalho, destacando o caráter tecnologizado desta prática, tendo em vista a utilização de equipamentos materiais, ao mesmo tempo que indica o aspecto parcelar do trabalho médico especializado. (Donnangelo, 1976) o termo especialização, usualmente, identifica tanto a repartição do conhecimento em ramos parcelares do saber, quanto o processo de divisão técnica do trabalho. 12 Destacando-se o processo pelo qual passa o trabalho médico, entende-se que o pensamento médico torna a segunda condição como produto da primeira. Assim sendo, entende-se também a especialização como uma nova delimitação do objeto de intervenção do médico.(Schraiber, 1993) É inegável que, ao longo do tempo, o desenvolvimento da prática médica no Brasil, a medida em que cresce e se estrutura de modo mais complexo enquanto prática social, tem-se acompanhado de progressivas crises na produção e distribuição de seus serviços para a sociedade. A forma pela qual tais serviços se ampliam, dividindo-se e subdividindo-se em ramos médicos cada vez mais especializados, tem produzido uma configuração do trabalho onde a organização técnica e social da prática médica expõe situações de conflito, em que as contradições na realização do trabalho médico são tomadas como desajustes das várias partes desse trabalho ao conjunto de seu processo na sociedade brasileira. Entre muitas contradições, fala-se da permanente inadequação da formação médica, onde se produzem as expectativas de um certo padrão de desempenho, seja na dimensão técnica, seja na dimensão social do trabalho, face às condições reais de seu exercício, configuradas no processo singular de estruturação de tal prática, por serem os próprios médicos os intelectuais 13 produtores e reprodutores desta concepção na elaboração da "ciência médica" e em sua transmissão através do ensino. É nesse espaço e tempo conjuntural, onde a prática médica corresponde à qualificação especilizada do trabalhador, que a Residência Médica vive intensamente esses campos de problematizações. E mais, por seu duplo caráter - de ensino e de trabalho; por sua transitoriedade obrigatória como momento de vida; por constituir-se em um rito de passagem de uma identidade social - do estudante ao profissional, enquanto trânsito de identidade ambígua; por suas origens no ensino da clínica e suas demandas sociais no aprendizado em serviço. Por tudo isso, talvez seja a Residência aquela dimensão da prática médica cujos questionamentos internos e específicos reflitam com maior agudeza as contradições próprias da estruturação do trabalho médico na sociedade brasileira. (Schraiber, 1988) o termo Residência se deve à necessidade de que os participantes de tal programação devam residir(2) na instituição onde se desenvolve a proposta de adestramento(3), devendo o treinando estar à disposi (2) o têrmo "residir" refere-se a fixar residência, morar, viver. (Ferreira, 1986 ) (3) A palavra "adestramento" corresponde ao ato ou efeito de adestrar(-se), ou seja, tomar(-se) hábil, capaz; instruir (-se), amestrar(se). (Ferreira, 1986) 14 ção do hospital para proceder as práticas médico-clínicas, especializando-se, portanto, através do treinamento em serviço médico-hospitalar. No Brasil, a prestação de serviços médicos evoluiu para um modelo que privilegiou a atuação profissional através de especialização, o que obrigou o médico recém-formado a buscar sua qualificação dentro de campos cada vez mais restritos, naturalmente melhor atingíveis através da Residência Médica. (Bevilacqua, 1984) Por outro lado, devido a forçosa necessidade de proceder da melhor forma sua capacitação, o médico que ingressa em um programa de residência médica, por não ser considerado ainda como um profissional pronto para atuar na sua plenitude como tal, retarda por esta razão, sua inserção no mercado de trabalho. Analisando tais aspectos, Elias (1987) cita que: "O processo de cap:ita.lização da med,ic,ina no Brasi.l prop.icia a que a RH adqu.ira notár-re.l importânc.ia, tanto no adestramento médico especia.lizado, como no sistema de prestação de ass.istênc2'a méd2'ca, No entanto, o seu desenr-ro.lr-r2'mento é marcado por ambigüidades, decorrentes da 2'nterre.lação entre os p.lanos educac2'ona.l e o de prestação de serr-r2'ços que enr-ro.lr-rem a Res2'dênc2'a, Disto resu.lta uma situação, também, 2'mprec2'sa da 2'dent2'dade soc2'a.l do res2'dente ", (E.l2'as, 1987) 15 Com esta análise, o autor busca caracterizar a RM como um processo ambivalente, por não conseguir adequação na relação da proposta educacional com a prestação de serviços. Nesta conjuntura, o setor saúde no Brasil, de uma maneira geral, tão carente de recursos de toda espécie, tanto quantitativa, quanto qualitativamente, na tentativa de minimizar parte de seus problemas, lança mão da Residência Médica, como instrumento de política pública, visando cumprir demandas, servindo desta como complementação de recursos para a prática assistencial. 16 2.2 - MARCO CONCEITUAL PARA UM ESTUDO SOBRE POLíTICA PÚBLICA O processo de formulação, implementação e avaliação das políticas públicas, embora seja um assunto bastante complexo, diz respeito ao reconhecimento de uma melhor forma de se tomar decisões envolvendo um conjunto de determinantes e as respectivas consequências das decisões tomadas visando atender o interesse público. Assim sendo, desde o surgimento, a política, em sua expressão mais simples, caracteriza-se pela participação do cidadão nas decisões de sua comunidade. (Barroso, 1992) A forma de participação direta, vivenciada na antiguidade entre os gregos e os romanos, entretanto, com o crescimento das populações, ficou prejudicada, passando a existir sob a forma de representatividade, nas democracias modernas, onde o povo elege seus representantes, denominados políticos, para exercerem um mandato, sendo também responsáveis pelo estabelecimento das políticas públicas. Segundo Cota et ai (1986), as políticas públicas são propostas por políticos, devendo serem discutidas e aprovadas, para posterior implentação pela burocracia estatal. Referem ainda os autores que, no Brasil esta norma é burlada, na medida em que o Poder Executivo promove planos por decreto, estabelecendo políticas públicas a seu modo, sem passar pelo Congresso Nacional. 17 Os vários componentes de uma política pública variam de acordo com os diferentes objetivos, tempo e sociedade, através de um processo dinâmico, decorrente de uma atividade contínua que ocorre em uma estrutura e esta, para ser sustentada, requer recursos e motivação. Pode-se encontrar na literatura definições mais bem elaboradas sobre o que seja política pública; na definição de Carl Friedrich, apresentado por Park (In: Barroso, 1992), política pública é: "u.m curso de ação proposto por uma pessoa, grupo ou governo, dentro de um determ.inado amhiente, com ohstácu.los e oportun.idades fornecidas, na qua.l a po.l.i tica está proposta a ut.i.l.izar e superar com esforço, o a.lcance de metas ou rea.l.ização de ohjetivos. " Assim sendo, Friedrich assinala que é essencial que no conceito de políticas públicas existam metas, objetivos e propósitos. Ainda para Park, uma política pública deve conter três fases, quais sejam: 1) Planejamento e formulação (projeto político) - compreende cursos propostos de ação objetivando agregar conhecimentos e ações para a solução e prevenção de problemas, enquanto fornece uma qualidade de vida compatível com a dignidade humana; 18 2) Implementação e execução - compreende a utilização de recursos efetivos e eficientes buscando transformar valores em realidades através de atividades governamenais; 3) Avaliação e modificação - requer métodos, estratégias e recursos para determinar se os objetivos e resultados estão sendo alcançados, além de utilizar mecanismo de "feedeback" para promover mudanças em políticas ineficientes e, ao mesmo tempo fornecer conhecimento adicional para estabelecer uma melhor política, projeto e execução. Monteiro (1982), já define política pública como algo diretamente associado à observação e monitoramento de eventos, recepção e emissão, processamento e análise para a tomada de decisão, tal qual uma atividade de controle que independe da ocorrência de produção ou consumo de bens e serviços, ou seja, uma atividade que exige prévia detecção de necessidades, avaliação de situação e conseqüente tomada de decisão. o mesmo autor considera que uma "inação"(4) é também uma política e que, aquilo que o governo decide não fazer, pode ter um impacto tão importante quanto teria uma ação. (4) - Define-se como "inação", segundo Ferreira (1986), como falta de ação, inércia, e ainda, como irresolução ou indecisão. 19 Assim sendo, se o governo protela uma decisão ou simplesmente a ignora, tal atitude constitui-se numa política, com todas as características de qualquer outro comportamento ativo. Para ele, um analista, frente a uma política pública, deve estar atento para as "pseudo-políticas", que surgem para ocultar os verdadeiros propósitos ou objetivos de uma política, ou a camuflagem das políticas anunciadas, devendo perceber quando uma política é formulada para provocar reações, atuando como um sinalizador de intenções ou preocupações. Afirma ainda Monteiro em sua análise, que uma mesma política pode ser pensada sob vários ângulos, seja sob o ângulo agregado das decisões, dos Conselhos, seja sob um aspecto mais operacional. Existe diferença entre as políticas: umas são consideradas de rotina, sem alteração de etapas, adotando-se repetições de políticas praticadas anteriormente, e outras, que são formuladas em situações de crise, onde a concepção do processo decisório depende de soluções adaptadas ou até mesmo inovadoras. Segundo Dror (In: Franco,1990), o processo de construção de uma política pública é complexo e dinâmico, podendo estar sujeito a influência e dependência de muitas variáveis, pois envolve muitos componentes e partes de 20 um processo aplicável a várias situações, através de níveis dierentes de perspectivas. Para Monteiro (1986), três grupos de indivíduos desempenham papéis relevantes no processo de formulação e implementação de uma política pública, sendo eles representados pelos políticos, os burocratas e os grupos de interesses. o primeiro grupo formado pelos cidadãos eleitos que, competindo isoladamente ou em grupos, pelos direitos de controlar temporariamente o governo, atenderia os reclamos da coletividade, produzindo políticas públicas. Em um governo representativo, tais políticos, por ocasião das eleições, teriam suas políticas revistas, podendo serem mantidos, alternados ou substituídos por outros representantes. o segundo grupo é formado por membros de uma organização com características especiais, denominada burocracia, que não deve ser entendida como uma denominação restrita de um setor. Os indivíduos ou grupos públicos e/ou privados, que respondem pela formulação e implementação das políticas, são também parte efetiva da burocracia. A burocracia governamental é formada pelos servidores públicos, sujeitos e agentes do processo de mudança e responsáveis pela movimentação e eficiência da Administração Pública. 21 Os últimos, denominados grupos de interesses, são forças sociais organizadas que exercem uma "atividade de pressão" direta ou indireta, sobre o comportamento dos governantes para que estes adotem decisões favoráveis aos seus interesses particulares ou às suas causa defendidas. (Badia, 1981) O mesmo autor considera como exemplo de grupos de interesses que se destacam por sua experiência, influenciando nos destinos de uma política social, os sindicatos de classes. Outro grupo que pode exercer papel ativo ou passivo, de acordo com as circunstâncias, na adoção de políticas que lhe dizem respeito, são as federações ou confederações. As associações profissionais são grupos de interesse que visam a defesa ou proteção de objetivos materiais ou profissionais. A constituição de grupos de interesse é um dos instrumentos de que dispõe o cidadão ou a comunidade para exercer ação política e encaminhar suas demandas nos processos políticos. É na ação desses grupos que são determinados o grau de competição ou de associação entre diferentes grupos. O mecanismo de formulação de uma política pública desdobra-se em procedimentos ou fases que vão se estabelecer ao longo do processo decisório dessa política. Segundo Monteiro (1986), o processo decisório segue os seguintes passos: 22 a) Identificação subdividido, segundo o autor, em reconhecimento e diagnóstico. o reconhecimento é a capacidade de rastreio do meio externo, o acompanhamento das mudanças, envolvendo a definição e a construção de bases de dados estratégicos. o diagnóstico é a fase onde se dá o estabelecimento de qual é o problema da política, a natureza do estímulo a ela e as relações de causa-efeito. b) Desenvolvimento - É a fase mais complexa da política pública, que envolve grande parte do tempo e dos recursos humanos e materiais do processo decisório. Monteiro subdivide esta etapa em duas fases: busca e "design". Na primeira fase ocorre a busca de soluções e tentativas de se encontrar políticas já disponíveis, praticadas e outras circunstâncias semelhantes. A segunda é a fase do estabelecimento de soluções especificamente criadas para o problema diagnosticado. É a fase do "design"da política propriamente dito. c) Seleção - É a fase final do processo decisório, onde ocorrem diferentes estágios de investigação e escolha de alternativas. Subdivide-se em: peneiramento, avaliação ou escolha e autorização. 23 Na fase de peneiramento ocorre a determinação de um número maior de alternativas para posterior escolha, onde elimina-se também as políticas consideradas inviáveis. Na fase de avaliação ou escolha, as políticas são formalmente conhecidas e a escolha é feita através da barganha política. A etapa de autorização é de responsabilidade do legislativo e pode ser simbólica ou homologatória. Nessa fase a política torna-se mais transparente, tanto para a sociedade como para os formuladores. Monteiro refere, entretanto, que os processos decisórios de política no mundo real apresentam outras complexidades além das fases hipotéticas acima mencionadas. Explica que a tramitação de uma política em seu processo de formação, não ocorre necessariamente de forma linear, ocorrendo com freqüência impasses, imprevistos e limitações de natureza diversa que podem ocasionar um alongamento indefinido de uma ou mais fases do processo, devendo ser introduzido correções ou reajustes a essas fases, objetivando a elaboração da política pública. Alguns fatores contribuem implementação das políticas, dentre eles: para o enfraquecimento da 24 • falta de pessoal qualificado; • insuficiente direção e controle dos líderes políticos; • oposição à própria política; • corrupção e outros. No caso da educação, segundo Durham (In: Freitag, 1994), a arena das práticas políticas e seus atores, na medida em que são dominados pelo centralismo burocrático, apresenta as seguintes características: 1. A ação do Estado sobre o conjunto do sistema é concebida através da multiplicação de normas legais, que invadem os mais diversos campos institucionais: a criação e o credenciamento das instituições, seu status legal, sua estrutura interna, bem como as formas de exercício do poder institucionalizado; 2. O sistema cria uma burocracia cuja função e poder derivam da fiscalização do cumprimento das normas, através do exame de processos; 3. Dado o caráter legal das normas e seu âmbito universal, existe uma tendência incoercível para que o aspecto formal prevaleça sobre qualquer juízo de valor ou julgamento de mérito; 4. O sistema todo é altamente verticalizado. 25 Para o desenvolvimento do serviço público, que tem como finalidade promover o bem comum, é necessário o uso de recursos indispensáveis ao funcionamento do corpo administrativo e executivo da máquina pública. Dentre esses recursos, têm capital importância os recursos humanos que, segundo Neblind (1962), são os "flll1cionár.ios que agem sob a d.ireção do governo, trabalhando para o alcance dos obfet.ivos soc.iais, util.izando os elementos f.inanceiros, mater.ia.is e outros que dispõem". Cabe, portanto, aos servidores públicos, recursos humanos da máquina do Estado, a responsabilidade pela execução das diretrizes e ações governamentais, sendo que, de sua capacidade, honestidade e fidelidade é que depende em grande parte o bem comum. A CNRM é assim entendida, dentro da burocracia governamental, como uma organização composta por diferentes atores de diversos grupos de interesses, públicos e privados, que têm como objetivo comum o estabelecimento de uma política pública específica que envolve a gestão da residência médica como forma de capacitação do profissional médico, no seu sentido mais amplo. o conjunto dos conceitos ora apresentados servirão de base para uma apreensão mais abrangente e analítica da trajetória histórica da RM na sociedade brasileira, que será abordado no próximo tópico. 26 2.3 - EVOLUÇÃO E ORGANIZAÇÃO HISTÓRICA DA RESIDÊNCIA MÉDICA o aparecimento da Residência Médica (RM) como modalidade de instrução avançada na área médica remonta há quase dois séculos (Maciel, 1995). Segundo Coury (In: O'Malley, 1970), desde 1802 já se achavam instituídos os regimes de externato e internato (5) nos cursos médicos na França. Entretanto, foi no final do século passado que a RM tomou força como modalidade de treinamento pós-graduado em medicina. Nos Estados Unidos da América do Norte, a RM despontou, expressando-se no âmbito da Associação Médica Americana, entidade com grande influência em questões relacionadas às políticas para a área de saúde na sociedade americana. o sistema de especialização em Medicina, sob a forma de Residência Médica (RM), é creditado a William Halstedt, médico americano que, a partir de 1889, no Departamento de Cirurgia da John Hopkins University, desenvolveu este tipo de treinamento científico, na qual o médico formado residia no hospital por algum tempo, com atribuições de responsabilidade progressiva nos 5 - Entende-se como Internato, na atualidade, o último período do curso médico, parte integrante do currículo de graduação em medicina, em que o estudante deve receber treinamento prático intensivo, livre de cargas acadêmicas, em hospitais de ensino ou em instituiçõesprestadoras de serviço médico, de modo a assumir, progressivamente, a responsabilidade do tratamento de pacientes, sob supervisão docente contínua. (BRASIL, MEC/DAU, 1976) 27 cuidados pré e pós-operatórios e na execução de cirurgias, modificando assim o sistema que vigorava até então, em que esta responsabilidade era atribuída ao médico-assistente. A partir de 1890, William Osler, também da John Hopkins University, introduziu o mesmo modelo de especialização em Clínica Médica. (Barbosa, 1984; Maciel, 1995) o estabelecimento do sistema de RM é assim, considerado um marco histórico na especialização em Medicina de uma maneira geral, a partir da constatação da elevação do padrão técnico do médico americano, desde o início do século XX, tendo como consequência o grande interesse por ex-residentes para preencherem o quadro clínico dos hospitais mais qualificados, assumindo estes as funções de chefe de serviço e de ensino. No Brasil, em 1945, foi implantado o primeiro programa de Residência, na especialidade de Ortopedia, no Hospital de Clínicas de São Paulo (HC-USP). Em 1948, no Rio de Janeiro foram implantados no Hospital dos Servidores do Estado, os Programas de Residência em Cirurgia Geral, Clínica Médica, Pediatria e Gineco-Obstetrícia. (Breglia, 1989) 28 A história da Residência Médica no Brasil, portanto, inicia-se na década de 40, moldada no modelo norte americano, evoluindo genericamente, em quatro períodos distintos: o primeiro período, identificado como "Romântico/Elitista", caracterizou-se por ser um período onde a RM ainda não era sentida como necessária para o embasamento profissional, procurada apenas por uma fração mínima de médicos idealistas, com grande vocação para uma formação de alto nível ou interessados em docência, geralmente formada por elementos de famílias abastadas. Naquela época os médicos tinham uma expectativa de futuro dentro de um modelo profissional liberal clássico, trabalhando predominantemente em seus consultórios, sem imaginar a possibilidade de uma porção significativa de sua atuação profissional voltada para a atividade assalariada. (Bevilacqua, 1984) o segundo momento, que vai de 1956 a 1970, é identificado como " Período de Consolidação" , onde a RM passou a ser encarada como uma necessidade efetiva entre os médicos recém-formados, devido a força obtida pela Residência, durante este período, dado o caráter estabelecido de aprimoramento profissional pós-graduado. A RM era oferecida predominantemente por hospitais públicos tradicionais e pelos vinculados às faculdades e universidades públicas, expandindo de forma gradual pelo país. 29 Sedimenta-se a idéia de adestramento profissional em serviço hospitalar, como forma de promover a melhoria da formação profissional médica, privilegiando o aprendizado através da prática hospitalar. Por outro lado, inicia-se durante o segundo período um movimento de modernização das instituições, com reorganização do trabalho médico, cujo sentido principal é o da sua divisão por intermédio da especialização.(Elias, 1987) o início da década de 70 coincide com a expansão do ensino superior (Tabela I), com a criação de um número considerável de novas escolas médicas e, consequentemente, um número crescente de egressos, levando forçosamente à ampliação do Sistema de Residência Médica no país. Este terceiro período foi descrito como "de Impacto da Expansão do Superior'. (Bevilacqua, 1984) Tabela 1- EXPANSÃO DAS ESCOLAS MÉDICAS (1960-1990) ANOS N° DE ESCOLAS 1960 29 1970 71 1980 75 1990 80 Fonte: Batista, 1993 Ensino 30 É durante o terceiro momento que está ocorrendo também maiores pressões sociais no sentido de garantir-se o acesso aos serviços de saúde, passando-se pela criação do Instituto Nacional da Previdência Social (INPS), a partir da unificação dos Institutos de Aposentadoria e Pensões (IAPs) das diversas categorias profissionais, justificando-se a fusão destes na necessidade de racionalização dos serviços, concentração dos recursos, principalmente financeiros e na extensão da cobertura da assistência prestada, reservando-se ao Estado o papel de organizar e financiar o Sistema, através da compra de serviços na iniciativa privada. (Cohn, 1980) Conseqüentemente, se dá a difusão de Programas de Residência Médica (PRMs) em instituições privadas de grande e médio porte. O modelo adotado enseja então, por parte do Estado, a formulação de políticas que viabilizam o crescimento do setor hospitalar privado e, consequentemente, "a relativa conciliação entre interesses e pressões do setor privado de produção e do consumidor dos serviços de saúde".(Donnangelo, 1975) Além disso, o maior interesse do Estado na racionalidade do trabalho, com a valorização social da especialização e do título de especialista, repercute no incremento da especialização médica, através da RM, com o aumento do número de vagas e a viabilização da extensão dos PRMs às instituições hospitalares privadas. 31 Ainda que sem normas gerais que a regulamentasse, observou-se que a RM começou a despertar o interesse dos órgãos de classe. Em 1964, a Associação Brasileira de Educação Médica (ABEM), teve como tema de seu encontro a Residência Médica. Em 1967, em função dos interesses e necessidades sentidas, os médicos residentes se organizam e fundam a Associação Nacional dos Médicos Residentes (ANMR) e realizam o seu I Congresso Nacional.( Leite, 1983) Em 1968, a ANMR, em seu 2° Congresso, praticamente ratifica o conceito de RM, então estabelecido pela ABEM, como "uma forma de ensino de pós-graduação, que permite ao médico recém-formado aperfeiçoar-se nos diferentes ramos da atividade médica, trabalhando numa organização hospitalar de bom padrão, em regime de tempo integral e devotamento exclusivo, por prazo suficiente e sob supervisão de colegas experientes". (Barbosa, 1984) o Conselho Federal de Educação (CFE) também teve sua participação no processo de regulamentação da RM e, na década de 70, fez uma revisão da legislação em vigor, com fins de estabelecer adequada articulação entre Residência, Mestrado e Doutorado em Medicina, colocando assim a RM como etapa fundamental na pós-graduação médica, desempenhando esta, um duplo papel: "servir de base para formar profissionais de alto nível e atuar na formação 32 de professor e pesquisador, como pré-requisito obrigatório para os cursos de Mestrado e Doutorado" .(Breglia, 1989) Os anos que se seguem são caracterizados por movimentos das associações dos residentes em diversos Estados, notando-se predominância de reivindicações ligadas à direitos trabalhistas, como salários, carteira assinada, carga horária, moradia, alimentação, etc. Não se percebe preocupação ou interesse pela discussão de outros temas pertinentes à RM e aos residentes, como melhores condições de trabalho ou qualidade dos programas oferecidos.(ANMR, s.d.) Evidencia-se a esta época, entretanto, a tendência da RM não ser mais somente treinamento em serviço, mas fundamentalmente prestação de serviço com algum treinamento, devido a necessidade de utilização do trabalho profissional do médico-residente para atendimento da demanda de prestação de assistência, subordinando-se a RM à prestação de serviço. Assim, o projeto pedagógico da RM, de aprimoramento e capacitação do médico, passa a ser dominado pelos compromissos institucionais de prestação de serviços, deslocando-se para um segundo plano as dimensões educacional e pedagógica da RM. 33 Observa-se, desta forma um verdadeiro processo de desvirtuamento dos programas de residência. Ao lado de programas considerados de bom padrão, passou-se a conviver com a criação de programas de nível e finalidade questionáveis, iniciando-se assim a destruição do então chamado "espírito da residência", excelente modelo de qualificação profissional, séria e competente. (Hossne, 1985) O desvirtuamento e as distorções atingiram tal nível que, em 1977 o Governo baixou um decreto (Decreto 80.281 de 05/09/1977), através do qual foi criada a Comissão Nacional de Residencia Médica. Com a criação da Comissão Nacional de Residência Médica (CNRM), a partir de 1977, a Residência passa a ser legislada em nível federal, devido a necessidade da criação de normas e regulamentos específicos para tentar corrigir as distorções ocorridas durante o terceiro período. Assim, este período é conhecido como de "Atuação da CNRM' e segue-se até os dias de hoje. A partir de então são estabelecidos diversos mecanismos na tentativa de promover um controle de qualidade dos PRMs, através da criação de Assessorias Técnicas (Resolução 04/81), auxiliadas por Coordenadorias Regionais (Resolução 08/81) e Comissões Estaduais de Residência Médica (Resolução 34 01/87), dado o número crescente de novas instituições solicitando credenciamento para seus programas de treinamento. No ano de 1991, a CNRM respondia pelo controle de 1194 programas de residência médica, distribuídos em 190 instituições, em todo o país.(Tabela 11) Tabela fi - NÚMERO DE PROGRAMAS DE RM E INSTITUIÇÕES EXECUTANTES (BRASIL, REGIÕES E ESTADOS) BRASIL, REGIÕES E PROGRAMAS DE RM: ESTADOS CREDENCIADOS .... ..... INSTITUIÇÕES CRED. Cf EXIGÊNCIA - NORTE AMAZONAS PARÁ 12 10 2 --- 3 2 NORDESTE MARANHÃo PIAUÍ CEARÁ R.G.NORTE PARAÍBA PERNAMBUCO BAHIA 101 20 31 3 7 23 7 13 30 17 --- I I -- 4 16 6 3 4 7 7 SUDESTE MINAS GERAIS ESPÍRITO SANTO RIO DE JANEIRO SÃO PAULO 743 49 118 95 5 319 324 4 1 22 22 19 2 45 42 SUL PARANÁ SANTA CATARINA R.G.SUL 189 3 31 53 11 1 1 8 3 125 1 89 - CENTRO-OESTE GOIÁS M.GROSSO SUL DISTRITO FEDERAL 23 8 58 --- -- -- -- BRASR 1134 72 Fonte: MEC/SENESU/DHERM - Relatóno Geral de ReSIdênCIa Médica, janeiro, 1991 5 15 2 2 II 190 35 A análise da distribuição do número de vagas de residência médica, no ano de 1991, segundo as instituições que oferecem programas de RM nas macro-regiões brasileiras, evidencia grande concentração de especialidades e programas na região Sudeste, conforme evidencia-se na tabela 111. Tabela III -DISTRIBUIÇÃO DAS VAGAS DE RESIDÊNCIA MÉDICA SEGUNDO A INSTITUIÇÃO RESPONSÁVEL (BRASIL E REGIÕES, 1991) INSTITUIÇÃO REGIÃO REGIÃO RESPONSÁVEl NORTE REGIÃO NORDESTE SUDESTE REGIÃO REGIÃO SUL C.OESTE BRASIL 80 368 3562 1017 129 5156 (94%) (42%) (54%) (66%) (26%) (52%) 5 507 3031 527 370 4440 Instituições (6%) (58%) (46%) (34%) (74%) (46%) Total Geral 85 875 6593 1544 499 9596 Hospital de Ensino Outras Fonte: MEC/SENESUIDHERM - Relatóno Geral de ReSIdêncIa Médica, JaneIrO, 1991 Encontra-se em tramitação desde 1991 um projeto de lei elaborado pela Câmara dos Deputados, propondo uma nova legislação, visando regulamentar as especializações em Medicina, através da criação da Comissão Nacional de Especializações Médicas (CNEM), que deve ser regida pelo Ministério da Saúde, contando com o apoio de suas delegacias regionais para promover o suporte administrativo, técnico e financeiro necessário para o funcionamento da CNEM. (Jorge, 1991) 36 Com a promulgação desta Lei, entra em questionamento a existência da CNRM, uma vez que esta nova Comissão teria como competência primordial estabelecer normas e critérios para o credenciamento de programas de residência médica, cursos de especialização e estágios em Medicina. (Souza, 1993) A Residência Médica evoluiu em períodos distintos, com um prazo de tempo relativamente curto, contrapondo-se ao ensino de graduação médica, que no Brasil já conta com mais de 180 anos de existência, de evolução histórica lenta, acelerada somente a partir da década de 60, quando ocorreu expansão importante, com um aumento de 75% do número de escolas novas, somente no período de 1966 a 1970. As principais consequências dessa expansão foram o rebaixamento do nível dos cursos, devido principalmente ao aumento da desproporção entre o corpo docente e discente e a deterioração do ensino médico, com a formação universitária vinculada à baixos níveis de escolaridade, o que levou a valorização demasiada da pós-graduação, que passou então a ser encarada como o novo "Iocus" da qualidade do ensino superior, especialmente na área médica. 37 o termo já consagrado "treinamento em serviço", recobre o conteúdo conceitual, porém, na prática cotidiana, não confere à dimensão educacional que a Residência Médica se propõe. A organização de serviços e a configuração do mercado de trabalho são os principais fatores que determinam os perfis das programações curriculares da Residência na formação do profissional médico.(Elias, 1988) Assim sendo, entende-se que, para se processarem mudanças adequadas na Residência Médica, o campo privilegiado de intervenção é o da organização de serviços, sem porém deixar de considerar a programação curricular e assim, o caráter da residência enquanto atividade de pós-graduação médica .. A preocupação maior dos que se ocupam com a Residência se baseia na avaliação de seu desempenho e a garantia de manutenção dos padrões mínimos de qualidade, considerando-se os objetivos básicos de ensino de pósgraduação, na linha de especialização.(Furtado, 1985) 38 2.4 - CRIAÇÃO, COMPOSiÇÃO E FUNÇÕES DA COMISSÃO NACIONAL DE RESIDÊNCIA MÉDICA Criada a Comissão Nacional de Residência Médica (CNRM) em 05 de Setembro de 1977, através do Decreto-Lei n° 80,281, subordinada ao então Departamento de Assuntos Universitários (DAU), hoje Secretaria de Educação Superior (SESu), órgão do Ministério da Educação e Cultura (MEC), à época, atualmente Ministério da Educação e do Desporto, tendo mantida a mesma sigla, tinha como atribuições fundamentais: definir as normas gerais que regulamentassem a RM no país, estabelecer os requisitos mínimos necessários para o credenciamento e funcionamento de programas de residência médica, assessorar, avaliar e sugerir modificações às instituições promotoras desta modalidade de treinamento médico, Assim sendo, ficam definidas as características da Residência Médica, já em seu artigo 1o, "A JlJooa.lidade JlJéd,icos~ Res.idênc.ia do sob : ensino a de forJlJa de em pós-graduação curso caracte.r1.'zada por tre1.'namento eJlJ ded1.'cação saúde~ eKc.lusiva~ Kech'c,ina univers1.'tár1.'as ou não~ destinada serrT1.'ço~ eJlJ sob a especia.lização~ de func1.'onando const,itu.i a em regime de institu1.'ções de or1.'entação de profiss1.'ona1.'s JlJéd1.'cOS de e.levada qua.l1.'f1.'cação ética e prof1.'ssiona.l, " ( Bras1.'.l~ .Decreto n # 80, 281~ 1977)) 39 As concepções do Estado acerca da RM encontram-se, portanto, claras através do Decreto-Lei. O perfil da RM resultante desta regulamentação privilegia a proposta educacional, contemplando o adestramento e a capacitação profissional através do treinamento em serviço. Estes elementos traduzem também a preocupação de ser resgatada idéia da RM enquanto instrumento produtor de melhorias na prática médica e no serviço de saúde. ( Elias, 1987) O decreto, entretanto, nada menciona sobre a forma de remuneração ou aplicação de leis trabalhistas à RM, não ficando, portanto, caracterizada como exercício profissional, mas fundamentalmente como etapa educacional da formação médica, uma vez que, em seu artigo 3°, estabelece, quanto ao credenciamento de instituições de saúde para oferecer RM, que estas estabeleçam convênio com Escola Médica ou Universidade, visando a mútua colaboração no desenvolvimento de programas de treinamento médico. (Pasqualin, 1992) No início da década de 80, a CNRM havia praticamente normalizado a RM, através de uma série de resoluções editadas, estabelecendo normas, requisitos e critérios mínimos para o credenciamento de programas em Clínica Médica, Cirurgia Geral, Ginecologia e Obstetrícia, Medicina Preventiva e Social e Pediatria, considerados como programas de áreas básicas, portanto, prioritários do setor saúde. 40 Entende-se desta forma que a atuação do Estado ao implementar a regulamentação da RM, se propõe a agregar os aspectos educacionais à prestação de serviços em saúde, na tentativa de absorver as ambigüidades decorrentes da prática de treinamento em serviço. A CNRM, como órgão de deliberação coletiva, conta em sua composição regular com um plenário de representantes dos Ministérios da Educação, da Previdência Social e da Saúde, bem como do Conselho Federal de Medicina, da Associação Médica Brasileira, da Federação Nacional dos Médicos e da Associação Nacional dos Médicos Residentes, podendo eventualmente convidar outras entidades para exame de assuntos específicos.{Brasil, MEC, § 1°, Art. 2°, 1977) Além desses representantes, conta a CNRM com: - uma Presidência , exercida pelo Secretário Nacional de Educação Superior do MEC, autoridade superior em matéria administrativa da Comissão e, nos seus impedimentos, pelo Secretário Executivo da CNRM; -uma Secretaria Executiva, que tem como atribuições principais dirigir, coordenar, orientar e supervisionar as atividades de apoio técnicoadministrativo da CNRM, devendo esta ser dirigida por um médico; 41 • uma Assessoria Técnica, que tem como principais competências colaborar em estudos e pesquisas de interesse da CNRM, bem como orientar os trabalhos de avaliação, controle e acompanhamento dos Programas de Residência Médica (PRMs), constituída por membros efetivos, médicos, dentre os servidores que compõem o quadro da CNRM; • uma Seção de Estatística, Documentação e Divulgação; • uma Seção de Protocolo e Arquivo; e • uma Seção de Serviços Gerais. (MEC, Res. n° 01 n8). Os PRMs devem reger-se por regulamento próprio, onde esteja previsto dentre outros requisitos, a existência de uma Comissão de Residência Médica (COREME), em cada instituição que ofereça Residência Médica, integrada por representantes da institução e dos residentes, com a atribuição de planejar, coordenar, supervisionar as atividades pertinentes aos vários programas da instituição. (MEC, Res. n° 04n8) Em 07 de julho de 1981 é regulamentada a Residência Médica, através da homologação da lei Federal de n° 6.932, aprovada pelo Congresso Nacional, que dispõe sobre as atividades do médico residente. (Brasil, lei n° 6932, 1981) A lei estabelece entre outras determinações: 42 • a diversidade de atores na composição da CNRM; • o uso da expressão "Residência Médica" somente para programas devidamente credenciados pela CNRM; • a remuneração sob a forma de bolsa de estudos de valor, à época, equivalente ao vencimento inicial da carreira de médico, de 20 horas semanais, estipulado pelo Departamento de Administração do Serviço Público (DASP), acrescido de um adicional de 8%, a título de compensação previdenciária; • a regulamentação da jornada de atividades, férias, folgas e licenças; e • a concessão de título de especialistas aos médicos residentes dos programas credenciados. A demanda dos médicos residentes, representados pela Associação Nacional dos Médicos Residentes (ANMR), por regulamentação de questões trabalhistas, entretanto, é contemplada parcialmente, não sendo reconhecido o residente como assalariado e sim como autônomo, vinculado ao sistema previdenciário. 43 Além disso, são criadas pela mesma lei, as Coordenadorias Regionais da Secretaria Executiva da CNRM das Regiões Norte/Nordeste, Sudeste e Sul/Centro-Oeste, competindo a cada uma manter contato permanente com os PRMs de sua região, funcionando como consultorias regionais e interlocutoras dos mesmos junto à CNRM. (MEC, Res. n° 08/81) Face ao número crescente de programas credenciados em todo o território nacional, já em meados da década de 80, as Coordenadorias Regionais não davam mais conta de suas atribuições, entendendo a CNRM, portanto, ser necessário estabelecer novos critérios de controle do sistema de residência médica em todo o país. Com a criação das Comissões Estaduais de Residência Médica, em 1987, entendia a CNRM estar atendendo ao incremento da demanda de novos programas, competindo a essas Comissões, uma vez implantadas, prestarem assessoria aos PRMs dos Estados, acompanhando os processos de credenciamento, funcionando essas agora como consultorias estaduais e interlocutores dos mesmos junto à CNRM. (MEC, Res. n° 01187) Dessa forma, baseando-se ou não nas orientações emanadas na implantação do Sistema Único de Saúde (SUS), através dos preceitos de descentralização, a CNRM encontra-se até o momento promovendo tal processo, 44 apresentando, entretanto, dificuldades de diversas naturezas para a efetiva estadualização de suas ações Vale ressaltar que a criação da CNRM e as várias resoluções que regulamentam a RM foram produto da interação das instituições governamentais com as associações de representantes da classe médica. Nesta época, as transformações que estão ocorrendo no setor saúde, no tocante à organização de serviços, no mercado de trabalho e na prática médica, repercutem em diversos setores sociais. No que diz respeito à área educacional médica, essas transformações promovem novas necessidades referentes à capacitação do especialista. Desta forma, observa-se o estabelecimento de um tipo de relação progressivamente mais estreita entre as instituições promotoras da RM e o conjunto de políticas públicas que dão forma à ação governamental no setor saúde. Após a exposição dos principais pontos entendidos como de importância para uma reflexão teórica sobre o tema em questão, segue-se a apresentação da configuração metodológica utlizada na abordagem temática proposta. 45 CAPíTULO 111 - METODOLOGIA De origem grega, a palavra método conserva sua validade, com o significado de caminhar para chegar a um fim. Segundo Galliano (1979), método é: um conjunto de ordenadamente dispostas, a serem vencidas na investigação da verdade, no estudo de uma ciência ou para alcançar um fim determinado . .. " "~o •• A metodologia utilizada no desenvolvimento desta pesquisa se refere à própria escolha e inflexão da mesma, através do método de pesquisa qualitativa, onde foram ouvidos os representantes da Comissão Nacional de Residência Médica, no Ministério da Educação e do Desporto. Porque a Pesquisa Qualitativa? Segundo Minayo (1992), entende-se como Metodologias de Pesquisa Qualitativa, aqueles meios de investigação capazes de incorporar a questão do significado e da intencionalidade como inerentes aos atos, às relações e às estruturas sociais, sendo estas últimas tomadas, tanto no seu advento, quanto na sua transformação como construções humanas significativas. 46 Considera também a autora que, a qualidade e a quantidade dos fatos e das relações sociais são propriedades inseparáveis e interdependentes utilizadas na apreensão da realidade. Desde o início da coleta do material, quem comanda toda a atividade é o pesquisador, que faz o relato de acordo com suas preocupações e não com as intenções do narrador, pois é devido a seus interesses específicos que se determina a obtenção do relato, através do recorte do material segundo suas finalidades, a fim de aproveitá-lo da maneira que melhor lhe convenha para o cumprimento dos objetivos por ele estabelecidos. (Queiroz, 1987) Muito se tem investigado e escrito, inclusive como temas de teses, na área da saúde, quase sempre, porém, sob a forma de quantificação de dados. Embora importantes, esses achados de medição e demonstração, que têm como base gráficos e tabelas, não conseguem dar conta de alguma coisa a mais que parece faltar quando se trata de lidar com instituições e pessoas, ao mesmo tempo, objetos e sujeitos da pesquisa. (Zaborowski, 1990) Entretanto, entendendo o homem como sujeito de suas ações, não basta reduzir as situações por ele vividas à dados empíricos. É mister procurar os significados a ele atribuído. A realidade ultrapassa os fenômenos percebidos pelos sentidos, fazendo-se necessário trazer para o interior da análise 47 a visão do subjetivo e do objetivo, o próprio sistema de valores do pesquisador, bem como os fatos e seus significados, a ordem e os conflitos. (Minayo, 1992) Para Demo (1994), em ciências sociais, não é realizável a objetividade, mas é a objetivação o critério interno mais importante da cientificidade obtido pelo uso de um instrumental teórico e técnico adequado. Através desse instrumental, que garante a qualidade científica do trabalho, podese dar um passo adiante na tentativa de compreensão da realidade em que estão inseridos os atores sociais envolvidos com a questão da gerência da Residência Médica no Brasil e os problemas advindos desse processo. Buscando-se, portanto, o uso de material instrumental adequado, este trabalho procurou aproveitar alguns dados quantitativos que serviram de base para uma abordagem mais ampla da questão, tendo como ênfase, entretanto, a análise dos dados qualitativos, com os quais se pretende um aprofundamento maior do estudo. Fizeram parte da pesquisa, membros representantes, assessores técnicos, assessores regionais e a secretária executiva da CNRM. Quanto à investigação de campo, para pesquisar personagens partícipes desse processo, foi utilizada a busca das informações através de 48 entrevistas semi-estruturadas pessoais, coletando narrativas dessas vidas de trabalho. Foram utilizadas também as pesquisas: bibliográfica, através do levantamento de material publicado, necessário para a compreensão teórica do tema, e a documental, por intermédio da utilização de material não publicado sobre o assunto, ambas como informações já existentes, complementares ao objeto de estudo. (Vergara, 1990) Da revisão bibliográfica foram coletadas informações gerais sobre o tema em livros, dicionários, artigos de periódicos especializados, teses e dissertações. Além de se pesquisar em bibliotecas relacionadas à área de administração pública, foi feito a "garimpagem" sobre o tema em bibliotecas especializadas nas áreas de saúde pública e de educação. Da pesquisa documental foi feita a revisão de leis, decretos, portarias e e outros documentos oficiais constantes do Diário Oficial da União. O trabalho de campo realizado por intermédio de entrevistas é capaz de produzir reflexões, que, neste caso, percorreu a constituição da própria atividade desenvolvida pelos entrevistados frente a CNRM. 49 Partindo-se do pressuposto de que ao entrevistar, desde logo, duas pessoas estão interagindo, dialogando, estabelecendo perguntas no seu diálogo, Kierkegaard (In: Nogueira, 1994) explica as finalidades da pergunta: "~o • • perguntar designa em parte a relação do ind.iv.íduo com um outro indiv.íduo. - No primeiro caso, o esforço é para liberar o fenômeno de toda e qualquer relação finita com o sujeito. Ao perguntar, eu não sei nada e me re.laciono de forma puramente receptiva com o meu objeto . .. - No segundo caso, o objeto é uma divergênc.ia a ser ajustada entre aquele que pergunta e aquele que responde e, o desenvolvimento do pensamento se consuma nesse passo alternado ( alterno pede), neste c.laudicar de ambos os lados. . . " As entrevistas foram gravadas com o consentimento dos mesmos, sendo escolhida uma abordagem que, mesmo tendo por base um roteiro preliminar, buscou-se estimular uma narrativa mais livre do entrevistado, evitandose ao máximo a interferência do pesquisador. Foram fornecidos como elementos de discussão para as entrevistas, duas linhas básicas: -a primeira, refere-se à visão do entrevistado sobre a residência médica na atualidade; e, 50 • a segunda, sobre o papel da CNRM frente a gestão da RM. Assim sendo, os temas básicos das entrevistas foram considerados "conversas com finalidade", termo usado por Parga Nina (Minayo, 1989), onde ocorre uma orientação geral do tema, com um desdobramento livre por parte do entrevistado. Ao selecionar-se os entrevistados, levou-se em consideração que todos deveriam ser membros efetivos da CNRM. As entrevistas foram realizadas durante a ocorrência da última reunião ordinária de 1995, da Comissão Nacional, nos dias 8, 9 e 10 de novembro, situação esta bastante oportuna e propositalmente estratégica, pois conseguiu-se realizar de uma só vez todas as entrevistas, com os membros representantes à disposição da CNRM, reunidos em Brasília, não havendo, portanto necessidade de deslocamento do pesquisador aos diversos estados de onde se originavam os entrevistados. Constituíram-se as narrativas de 10 (dez) depoimentos, resultando em 3 (três) horas de material registrado. Para se chegar a esse número, utilizouse o critério de exaustão, isto é, quando se verifica uma certa reincidência de informações, entendendo-se, entretanto, que o conjunto de informantes possa ser diversificado para possibilitar a apreensão de semelhanças e diferenças, 8/BLlDTRA fUNDACÃO GETOlIO VU&&I 51 contemplando dessa forma a visão das experiências e expressões que se pretende objetivar com a pesquisa. Desta forma, considera-se que a validade da pesquisa qualitativa, portanto, está baseada na sua capacidade de objetivar o objeto, e não no número de entrevistas realizadas. (Zaborowski, 1990) Na visão de Schraiber (1993), a opção de se obter depoimentos pessoais, para deles extrair a história social, implica em estudarmos uma realidade coletiva através da observação de seus vividos singulares, tomando-se desta forma essas vivências singulares como meios de aproximação da totalidade em que esses atores estão inseridos, representando assim o coletivo a que pertencem. Ressalta-se que a representatividade em pesquisa qualitativa é diferente da utilizada em abordagens quantitativas. Por seu critério não ser numérico, considera como amostra ideal aquela que reflete a totalidade em suas múltiplas dimensões, e assim define claramente o grupo social mais relevante para sua realização. A formulação das entrevistas é também um processo de aprendizado para o pesquisador, tendo em vista encontrar formas eficazes de 52 participar, até certo ponto, das concepções e do modo de pensar a realidade que os entrevistados possuem. A entrevista não é só uma forma de entender e captar o outro, mas de se fazer entender. Por ser um modo de contar e um modo de lembrar, a entrevista produz sempre uma interpretação daquele que relata, baseado na experiência pessoal, no interior de possíveis históricos bem determinados. (Schraiber, 1993) Por se poder coletar informações a partir de entrevistas é que torna-se possível estabelecer uma relação mais próxima com os atores sociais que envolvem o objeto de estudo e desta forma trazer para o interior da análise, os fatos e seus significados, a partir do próprio sistema de valores do pesquisador. Assim sendo, da coleta dos dados nas três etapas, buscou-se identificar e, a partir daí, poder analisar com mais profundidade as relações das políticas de recursos humanos para a área da saúde, pertinentes à RM, adotadas pela CNRM, enquanto gestora do sistema de residência médica no Brasil, durante o períOdo que vai desde o períodO que antecede e justifica a sua criação em 1977 até o final do ano de 1995. 53 CAPíTULO IV - ANÁLISE DOS DADOS Neste capítulo foi desenvolvido o trabalho de campo, onde foram apresentados e analisados os dados encontrados. Foi subdividido em três partes. Na primeira parte mostrou-se o cenário aonde foram realizadas as entrevistas. Na segunda, procurou-se identificar os atores e suas respectivas inserções neste cenário. Já no terceiro momento buscou-se interpretar as postulações apresentadas por esses atores, sobre a Residência Médica propriamente dita, na atualidade e, o papel da Comissão Nacional de Residência Médica, enquanto gestora deste sistema de especialização médica no país. 4. 1 - O CENÁRIO É interessante dar-se uma visão panorâmica da ambiência onde foram realizadas as entrevistas. Trata-se da Esplanada dos Ministérios que, como o próprio nome diz, reúne em um grande espaço plano e descoberto, um conjunto de edifíçios distribuídos aos pares, organizados um ao lado do outro, separados por um imenso gramado, compondo uma estrutura de beleza plástica impressionante, concebido para abrigar a direção maior do poder executivo federal. 54 Situada em Brasília, capital da república, cidade de desenho arquitetônico arrojado e monumental, a esplanada dos ministérios faz parte assim, do contexto representativo da administação pública brasileira, idealizado sob a forma de um aeroplano, conhecido como Plano Piloto, que tem como base de comando, em sua extremidade frontal, a estrutura composta pelo Palácio do Planalto, que desempenha a função do poder executivo máximo, através da Presidência da República; pelo Congresso Nacional, representado pelo Senado Federal e pela Câmara dos Deputados, organizações maiores da estrutura legislativa; e, pelo Supremo Tribunal Federal que identifica a representação última do poder judiciário. A Comissão Nacional de Residência Médica, ocupando parte do segundo andar da sede do Ministério da Educação e do Desporto, vinculada organicamente à Secretaria Nacional de Educação Superior, responde pela gerência de 2054 programas em todo o país, contando com 12.455 médicos residentes ligados a essa estrutura, distribuídos em 278 hospitais autorizados a funcionar dentro do sistema de RM (6). A presidência da CNRM é ocupada pelo próprio Secretário Nacional de Educação Superior, entretanto os trabalhos da Comissão são efetivamente exercidos pela Secretaria Executiva da CNRM e sua Assessoria Técnica. (6) Esses dados correspondem ao total de médicos-residentes, programas credenciados e hospitais autorizados a funcionar no ano de 1994, conforme informação repassada pela própria Secretaria Executiva da CNRM. 55 Os membros representantes da CNRM, em geral, não residem em Brasília; deslocam-se para lá quando das reuniões ordinárias, ou em excepcionalidades, pois coordenam programas de residência médica de diversas instituições, distribuídas em todo o país. Desta forma, permanecem reunidos por três dias, geralmente a cada bimestre, perfazendo um total de seis reuniões anuais. As reuniões plenárias são preparadas pelos assessores técnicos da Secretaria Executiva e, habitualmente, é nessa ambiência onde acontecem as discussões e análises sobre a inclusão de novos programas ou sobre a manutenção de programas já existentes que mereçam renovação do seu credenciamento, ou ainda sobre outros temas de relevância relacionados à gestão da Residência Médica. Quando da realização das entrevistas, no início do mês de novembro de 1995, além da pauta ordinária, estava acontecendo naquele palco político uma discussão bastante especial que tratava da própria existência da CNRM e a sua manutenção como gestora do sistema de residência médica no país. Ocorria portanto, naquele momento, a necessidade de se rever a gestão da residência médica e sua efetiva representatividade, por encontrar-se o 56 poder ali representado em situação de emergente instabilidade, devido a reapresentação de um projeto formulado pela Câmara dos Deputados, que dispõe sobre as atividades de pós-graduação "lato sensu" na área da saúde, entendo-se como tal, além da RM, as atividades de aperfeiçoamento, estágios e outros formas de especialização. ( Jorge, 1991 ) Esse projeto, que tramita desde 1991, apresenta uma proposta de reformulação da gerência dessas modalidades de treinamento no setor saúde, criando uma nova Comissão, que seria responsável por todas as atividades docente-assistenciais desenvolvidas pela área, fazendo com que a CNRM deixasse de cumprir sua principal finalidade, qual seja, a de responder administrativamente por este tipo de especialização médica, perdendo assim, portanto, a sua própria razão de ser e de continuar a existir. É nesse contexto que foram procedidas as entrevistas, encontrando-se os sujeitos da pesquisa sob forte sentimento de tensão, uma vez que o trabalho até aí realizado poderia sofrer reformulaçães e, passando para uma nova forma de gestão, conseqüentemente, corria o risco de ver transferidgerência da RM para outra pasta, menos específica e mais geral. 57 4.2 - OS ATORES Após essa visão geral sobre a ambiência em que se encontra a CNRM, serão agora apresentados os representantes da Comissão. Ressalte-se que todos os membros representantes da CNRM, assessores técnicos e regionais, bem como a secretária executiva são médicos, excessão feita apenas ao Presidente da Comissão, pois, por ser o mesmo Secretário Nacional de Educação Superior, necessariamente não deverá ser médico. Obrigatoriamente conta-se com a participação de um médico residente, em geral, o presidente da Associação Nacional dos Médicos Residentes (ANMR), ou seu representante legal, como membro efetivo na Comissão Nacional. Foram entrevistados dez membros da CNRM, dentre esses: • a secretária executiva; • três assessores técnicos; • cinco assessores regionais (7); e • o representante da federação nacional dos médicos. (7) Dos cinco assessores regionais entrevistados, dois representavam também a presidência das Comissões Estaduais de Residência Médica do Rio de Janeiro e de São Paulo. 58 4.3 - A INTERPRETAÇÃO DOS ATORES Por serem os membros efetivos da CNRM, todos representantes de funções dentro de uma mesma profissão, já de saída apresentam um recorte peculiar na sua formação, enquanto organização administrativa. Inserindo-se direta ou indiretamente no contexto da educação médica de pós-graduação, seja sob o ponto de vista das instituições universitárias de ensino superior, seja sob a visão das organizações hospitalares de natureza assistencial, esses atores deslocam suas análises para os pontos de maior interesse por área de atuação. No que diz respeito à primeira etapa da entrevista, qual seja, a situação da Residência Médica na atualidade, de uma maneira geral, grande parte dos entrevistados concordou com a RM constituindo-se como a melhor modalidade de treinamento médico especializado vigente no país. " ... A Residênc.ia Nédica é um programa de pós-graduação, em n.ível de especialização, aliás reconhecido por todos os pa.íses que a oferecem . .. . . . nós achamos que a RN, na atualidade é sem dúvida nenhuma o melhor meio de especialização médica . .. " 59 ,um especialista, quando na formação pela RN, é uma pessoa que tem mais cr.i tério, que tem mais fundamento, eles são mui to mais precisos no diagnóstico, , , " ", , ,A RN, prá mim, é fundamental, pelo forma mão-de-obra ela motivo: seguinte especializada, com capacidade de incorporação de tecnologias e saberes na área médica, , , " ,eu vejo a RN como uma necessidade importante na formação do médico, " esse programa de especialização que é o mais importante., do ponto de v.ista da profissionaIização, , , " ,nós acredi tamos que a RN é uma instituição que já está consolidada no Bras.il, , ,esta si tuação de haver cada vez mais uma disseminação de programas de RN por todo o Brasil, traduz mui to bem este tipo de si tuação, em que a formação de recursos humanos como especialistas e que nós acreditamos que seja a melhor maneira de formar especialistas que existe no momento, a maior e a melhor, , , " "",bem, sintetizando, eu acredito que a insti tuição RN forma recursos humanos de boa qualidade, na maioria dos locais, Creio que não é mui to fácil que se encontrem locais, mesmo aqueles que possam ser considerados de menor qualidade, onde não haja uma formação razoável 60 dos médicos e onde eles não tenham uma formação de atividade prática boa . .. " formação de " ... eu creio que a recursos humanos para trabalhar na assistência, que é a finalidade fundamental da RN, é alcançada na maior parte dos programas . .. " , ' ... eu vejo a RN como uma forma extremamente importante, na formação de recursos qualidade para as humanos de primeira necessidades do pa.ís . .. " , ' ... a RN é um programa de pós- graduação em n.ível de especialização,'. .. para que ela possa ser desenvolv.ida, esse grupo da RN estabeleceu uma porção de critérios, uma porção de normas, estabelecendo um curriculum m.ínimo para inúmeras especialidades e para as áreas preferenciais de cl.ínica médica, cirurgia geral, obstetr.ícia, pediatria e medicina preventiva e social, então isso é o básico . .. " Algumas outras análises foram feitas, não tanto pelo ponto de vista da importância, mas pela visão da necessidade de reestruturação do sistema de residência, devido distorções que se procederam na RM. 61 transformou se em RN um graduação, compl emen to da que deveria ser terminal e que não é. O médico procura a residência para completar o aprendizado dele, em grande parte das vezes . .. " .. a que que é a RN no Brasil, a tualmen te? É compl emen to de graduação? É um curso de especialização? .. " .o " ... algumas regras gerais existentes não se aplicam a todos os locais ... tem que ter uma regra que não seja extremamente fixa, tem que ter um certo grau de maleabilidade . .. " ... eu acho que existe um excesso de exigênc.ias que são relacionadas com certos preciosismos técnicos que ficam só na teoria ... e que de repente, começa a ser uma exigência geral e que não é conseguida em quase nenhum lugar . .. " vem .. a RN ser um a complementador, infelizmente, não deveria, é, na formação do médico . .. " papel mas o ... um dos papéis da RN é al terar essa formação inadequada, esse vício de medicina feita em ponta . .. " 62 , 'eu acho que não se pode esquecer toda a relação da RN com a graduação, em grande parte ela é muito menos um processo de especialização e mui to mais de complementação, de suplência das deficiências que a graduação têm ... " ... algumas especialidades evoluiram mui to, algumas incorporaram tecnologia durante esse tempo todo. Então, há 20 anos atrás não tinha tomogra fia, como tem hoje, não tinha ul trassom, não tinha nada disso e, os programas, como são antigos, não contemplam essas novidades. Isso modificou o trabalho médico, modificou a relação profissional no campo da saúde. não é? .. eu acho que isso está merecendo um trabalho de revisão ampla. . . " Na discussão sobre a questão da promoção de qualidade nos programas de RM, constata-se o reconhecimento, por parte dos entrevistados, da necessidade de serem desenvolvidos alguns aspectos para que seja alcançada tal meta. " .. . para se falar de RN precisa ser levado em consideração três fatos, para que ela possa ser desenvolvida. Primeiro é a melhor.ia da infra-estrutura hospitalar,' segundo, você tem que ter uma dinâmica hospi talar mui to forte/ e terceiro, nós temos o aspecto pedagógico da RN. .. então, a nossa or.ientação é não aceitar programa nenhum que disponha não de 63 infraestrutura, de dinâmi ca.. que não tenha pessoal qualificado e não tenha uma proposta adequada . .. isso é muito importante na RN. .. " , ' ... a perspec ti va da gen te é ter a RN como um espaço que atenda as necessidades reais de saúde da população . .. " pre tende-se num sistema de checagem e de avaliação constante, assegurar que esses programas tenham qualidade, ou seja, que atenda o paciente da melhor maneira possível e prepare o indivíduo adequadamente para esse atual sistema de saúde . .. " .o que se discu ti u no Forum Nacional sobre RN, em 1.9.93, foi a qualidade do ensino, a qualidade dos programas oferecidos aos médicos-residentes. Esse tema foi escolhido pelos próprios residentes ... porque hoje o residente sabe reconhecer o programa, ele é que está fazendo essa avaliação . .. " eu acho que eles têm discutido e brigado pelos direitos deles e, também pelos deveres, mas a qualidade está em primeiro lugar . .. 64 Com relação ao papel da RM frente ao mercado de trabalho, os entrevistados não souberam informar dados precisos sobre a inserção do médicoresidente como profissional na área da saúde. ", . ,nós desconhecemos qual é o mercado de trabalho", não sabemos quantos espec.iaIistas nem quantos .indiv.íduos de formação geral nós prec.isamos nesse pa.ís, , , " ", , ,eu não sei quantos c.irurg.loes eu prec.iso, não se.i quantos plást.icos, quantos pneumolog.istas, nem quantos méd.icos de fam.íl.ia eu prec.iso, eu não se.i de nada, , , " Sabe-se, entretanto, que o mercado de trabalho médico tem privilegiado a formação de profissionais cada vez mais diferenciados, fomentando a capacitação de superespecialistas, para atender as demandas exigidas pela tecnologia cada dia mais sofisticada desenvolvida em diversas áreas da medicina, objetivando assistir, primordialmente as camadas sociais mais favorecidas. Desta forma, várias interpretações foram apresentadas, podendose destacar: ", , ,eu penso a RN como o espaço estratég.ico de governo para garant.ir que o s.istema seja v.iável, def.in.indo a conformação do mercado prof.iss.ional na área méd.ica, que é a área 65 que decide sobre incorporação tecnológica, todo o processo de a tenção à saúde. . . " sobre "então realmente isso tem um desajuste entre o que a RN quis, quer, o que as sociedades de especialidades pretendem e o que a população necessi ta . .. " " ... o mercado está privilegiando o superespeciaIista e isso é uma coisa que a gente tem que pensar, se a saúde e a educação tem que ser regulada pelo mercado ou não, ou até que ponto o mercado pode influenciar a saúde e a educação. . . " ... o profiss.ional cada vez mais se superespecializa e isso é uma faca de dois gumes, porque inclusive, favorece a instalação da prole tariza ção , quer dizer, cada vez mais a pessoa domina uma área menor da profissão e está mais afei to às oscilações do mercado, menos livre do que seria se tivesse um dom.ínio maior de uma área mais geral . .. " " ... com o surgimento da RN nós paral.isamos os processos de especialização e estágios que eram formas de escravidão ou formas de mercado de trabalho extremamente barato ... mercado paralelo explorativo e tudo o mais . .. " 66 ", , ,algumas especial idades evol uiram muito e isso modificou o trabalho médico, isso modificou a relação profissional no campo da saúde, , ,e eu acho que isso está merecendo um trabalho de rev.isão ampla, , , " Um outro fator considerado de importância, relatado durante as entrevistas, se deve à questão relacionada ao incremento do número de especialidades, havendo questionamentos quanto à criação de novos programas. , , ,é um conjunto de interesses que motiva diversos atores a definir pela criação de um novo programa de RN ou pela ampliação de vagas e um desses fatores pode não ter haver com os in teresses de a tenção à saúde e s.im com interesses pontuais de grupos econômicos da área da saúde, , , " ", .. nesses atores eu colocaria sociedades de especialidades, uma boa parte delas têm um comportamento ético, preocupado com o desenvolvimento cient.ífico, mas outras têm mesmo um atrelamento d.ireto à medicina de grupo, à indústr.ia de equipamentos e medicamentos, que servem de ve.ículos para defender interesses desses agrupamentos de cunho mais econômico, para definir que tipo de profissional vai se colocar no mercado e qual é o perfil de consumo que vai se estabelecer . . , " 67 ", , ,no final da década de 60 e in.í cio da década de 70, com a criação de novas faculdades, isso representou um momento de crescimento grande das especialidades, estimulado, inclusive, por uma pol.ítica de governo que tinha como pretensão tornar o mercado médico mais especializado, , , " Sobre os critérios de ampliação do tempo da especialização (8) e dos conteúdos programáticos desses novos programas, diversos depoimentos foram proferidos. ", , ,o marco concei tual diferente completamente do estrutural,', , ,então, nosso é marco veja bem, as especialidades vão surgindo de acordo com a aspiração do corporativismo e não conforme as necessidades do mercado, , , " ", , ,porque de .1.987 para cá, as coisas quase que dupli caram em número de programas, ,existe uma alternativa de um ano foram opcional, porque quando criadas as resoluções era para, digamos., sedimentar algum conhecimen to e a.í você podia pedir um ano opcional, , , " (8) Desde a criação da CNRM, foi estabelecido que os programas de RM podem ter um 3° ano opcional, de acordo com a conveniência e possibilidade da Instituição que pretenda oferecê-lo, objetivando o aprofundamento dos conhecimentos e habilidades do residente. (Brasil, MEC, Resolução 05/79) 68 ", , ,Só que o negócio f.icou descaracterizado, o cara pede um R4 e um R5 em Cardiologia, para fazer só processos não invasivos, quer d.izer, é um negócio mui to fora da realidade, , , " , ,aqui tem universidade que tem R5 de Otorrino, por exemplo, Não existe isso, é brincadeira, , , " , ,porque tinha cara que profissão, virou quase como profissional, tipo R4, R5, sabe", " fazia isso residente ", , ,então eu acho que está havendo uma inversão de valores e aqui dentro da Comissão a gente observa a busca tremenda que tem havido por programas opcionais de RJ, R4 e R5, tem programa que o residente para concluir demora cinco anos, o que é quase o curso de graduação outra vez, , , " ,é uma coisa que tem preocupado mui to a Comissão, ul timamente, esse número exagerado de RJ, R4 e R5 que vem se fazendo, que isso vai contra o perf.il do méd.ico que se pretende formar, o governo tem que pensar se é negócio para ele bancar tanta bolsa para formar um superespeciaIista que não interessa a esse própr.io governo, , , 69 Com relação à proposta de ensino da residência médica, é conhecida a intenção de diversas escolas médicas em aproveitar o período dedicado à RM, para servir como pré-requisito à pós-graduação "strito sensu" (Mestrado e Doutorado) e, assim, estimular a formação de pesquisadores, bem como encurtar a etapa discente, preparando profissionais para a carreira acadêmica. " ... a nossa proposta, desse grupo que está há mui to tempo aqui na CNRN, é assegurar a qualidade do treinamento, como um programa de pós-graduação, como um pré-requisito para a pósgraduação stricto sensu, de tal maneira que a etapa do mestrado, na área relacionada com o ciclo profissionalizante do curso de medicina, seJa eliminada . .. " " ... eu sempre defendi que a residência fosse o núcleo da pós-graduação... ela dever.ia ser vista como núcleo mesmo, pois qualquer passo antes teria que passar por esta experiência . .. " ... eu vejo a RN, que é uma formação de pós-graduação lato sensu, como o caminho para o stricto sensu e eu não cons.igo imaginar nenhuma forma outra de se chegar ao stricto sensu sem passar pelo processo da RN. . . " " ... vamos pr.ivilegiar a quaIidade de determinados programas que têm alguma tradição de 70 pesquisa, daquelas insti tuições mais tradicionais, insti tuições universi tárias de ensino, e a.í nós podemos queimar essa etapa, o que já está sendo feito na antiga Escola Paulista de Nedicina e na Federal de Ninas, onde eu tenho acompanhado e isto já está sendo poss.ível para de terminados indi v.íduas, em de terminadas teses de dou tarado. . . " , ' ... eu pesquisa mesmo, pesquisar . .. " acho que porque a RN ninguém tem que ter aprende sem A segunda parte da entrevista diz respeito ao papel da CNRM frente à gestão da Residência Médica no país. De uma maneira geral, houve unanimidade com referência à manutenção da Comissão, enquanto órgão normativo central e consultor, que estabelece diretrizes comuns, norteadoras do funcionamento dos programas em todo o país, dentro de uma visão macro da política nacional do sistema de residência médica. , , CNRN é um órgão, digamos assim, de instituição de pol.í ti cas, na busca da qualidade, em n.ível nacional, dos programas de RN... o papel da comissão é incontestável e realmente é um local de discussão, de pensar .. . A 71 grande em termos de RN, , ,um órgão coleg.iado, com caráter normat.ivo no estabelecimento de poIít.icas de educação, que no caso da res.idência é cons.iderada uma modal.idade de tre.inamen to, , , " ",a CNRN, na m.inha op.in.ião, tem um papel fundamental, que é o papel de normat.izar, , ,um outro fator .importante, a CNRN tem o papel .important.íss.imo de def.in.ir mercado de trabalho médico no Bras.il, , , " , , ,a CNRN duran te esses anos todos, eu acho que ela teve um papel de res.istênc.ia, , ,aqu.i no NEC é ev.idente que não houve nenhuma cont.inu.idade adm.in.istrat.iva, , ,então das poucas co.isas estáve.is aqu.i, dentro do N.in.is tér.io , era essa Com.issão, que manteve m.in.imamente uma un.idade, sobretudo porque ela é uma Com.issão representat.iva, quer d.izer, ela func.iona no NEC mas ela não é do NEC , ,ela tem represen tação não só do NEC mas também do N.in.istér.io da Saúde, do Conselho Federal de Ned.i c.ina, da Assoc.iação Nacional dos Néd.icos Res.iden tes, da Federação Nac.ional dos Néd.i cos, enf.im, ela é bastante representat.iva, um coleg.iado, Nesse sent.ido ela é bastante democrát.ica, , , " 72 Consideraram, entretanto, que há necessidade premente de serem revistas as normas existentes, procurando promover flexibilidade aos critérios atuais de gestão . uma coisa que precisa ser pensada que a CNRN começou em 1.977 e, de lá prá cá o número de programas têm aumen tado assustadoramente, quer dizer, cada vez f.ica mais di fícil, no n.ível central se controlar tantos programas. . . " . . .é " ... eu acho que é primord.ial essa rev.isão, que seja uma rev.isão participativa, onde as sociedades possam dar o seu aval ... " " ... eu acho que cabe à CNRN rever qual é o seu papel enquanto espaço de gestão, para dar conta da nova missão da RN... a perspectiva da gen te é ter a .RN como um espaço que a tenda às reais necessidades de saúde da população . .. " " ... eu acho que hoje, a CNRJIf, enquanto estrutura capaz de dar conta de toda a gestão do sistema de RN, ela sozinha se torna um aparelho burocrático e cartorial, que não consegue dar conta de uma gestão que busca a qualidade dos programas e a aproximação desses programas à realidade e à necessidade da população . .. " 73 "" ,a CNRN tenta controlar esses mil e tantos programas de RN, ou mais do que isso, que tem nesse pa.ís de proporções continentais, com essas normas que estão sendo modificadas, de acordo com o passar dos anos, Essa gerênc.ia é centralizada e, com normas únicas para o Brasil todo, o que também é inadministrável , , , " ,porque hoje tudo é Bras.ília: credenciar, recrecredenciar, autorizar, enfim fica verificação programas, de uma sobrecarga aqui, quando muita coisa deveria ser fei to nas regiões, não desvirtuando a RN, quer dizer, a mola mestra ficaria aqui, mas que fossem algumas caracter.ísticas regionais obedecidas, , " CNRN precisa ,a urgen temen te modernizar as suas atividades, sem dúvida nenhuma, e acredito que o mais urgente seja a agilidade, a descentralização e a profissionaIização da equipe, , , " ,têm normas demais que não são seguidas nós precisamos atender e as pecuIiaridades, ou seja., exigências no Norte e 110 Nordeste, que em determinadas insti tuições, não podem ser as mesmas do Rio Grande do Sul, as coisas são distintas, Nos Estados, o produto interno é completamente distinto, , , " 74 ", , ,é claro uma regra única diferentes, , , que nós não podemos porque as pessoas ter são Desde 1987 foi regulamentada a criação das Comissões Estaduais de Residência Médica através de resolução ministerial. A partir de então, iniciou-se de forma incipiente o processo de descentralização dos trabalhos da CNRM, entretanto não foram estabelecidos critérios para o efetivo funcionamento dessas Comissões, ou seja, foi legitimada a existência das mesmas, sem porém ser discutido qual seria o seu papel, ou que nível de autonomia seria atribuído ao funcionamento dessas Comissões. Assim sendo, foram se formando as Comissões em alguns Estados, de forma dispersa, sem um controle sobre o seu funcionamento, ou que tipo de atividades lhes corresponderia, encontrando-se dificuldades de natureza política ou estrutural no que concerne à sua existência ou manutenção. Sob esse aspecto, as análises feitas pelos entrevistados seguem a idéia comum de reconhecer a necessidade da implantação e implementação das Estaduais, sendo ressaltados alguns pontos: ", , ,o meu enfoque é ass.im, a CNRN em funções espec.í fi cas, de uma visão macro, de uma visão pol.ítica nacional, O fortalecimento das 75 Comissões Estaduais, na orientação, na seleção dos programas, de comum acordo com o aparelho formador e o aparelho empregador e das consul torias necessárias para a CNRJIf. .. " " .. existe a proposta de descentralização da RJIf, estamos reforçando cada vez mais as Comissões Estaduais para que elas organizem a RJIf nos seus Estados e a CNR}If, dessa forma, possa ficar com tempo mais livre para trabalhar com outros aspectos da RJIf, deixando essa prática de gerência e fiscalização para as Estaduais . .. " A CNRJIf ficaria mais como um órgão normativo, regulamentador e as Estaduais mais como executores . .. " , 'eu acho assim, que as comissões estaduais vão primeiro fortalecer mais a CNRJIf/ elas vão corrigir algumas eventuais diferenças, enfim dar mais força prá CNRJIf desafogar os serviços e que aqui possa ficar com aquela visão mais geral, mais pol.ítica, mais normativa . .. . têm sido formadas as Comissões Estaduais de RJIf, ligadas à CNRJI1., na tentativa de descentralizar os trabalhos e fazê-los mais eficientes . .. as Comissões Estaduais estão muito mais perto dos programas que a gente está aqui em Bras.ília . .. " 76 " ... do ponto de vista do sistema de direção, a gente está modificando este perf.il, quando a gente passa a ter uma Comissão Nacional, com Comissões Estaduais com autonomia gerencial, para fazer parte do processo de gestão dividido . .. " Quanto a análise sobre a definição de credenciamento de programas pela CNRM, os entrevistados apresentaram as seguintes interpretações: , ' ... mas a CNRN não pode abrir mão é do credenciamento de programas de RN (.9), porque se ela deixar as Estaduais com o poder de credenc.iar pela primeira vez, ela perde a razão de ser, de existir, ela pode ser transformada num simples escritoriozinno . .. " ... a CNRN fica com o papel de normatizar, de definir a poIítica, definir diretrizes e fazer o primeiro credenciamento . .. " ... o credenciamento tem que f.icar centralizado até prá voce def.inir o perfil de RN no pa.ís, quais os novos programas que devem ser cr.iados. . . " 77 No que diz respeito ao papel da CNRM como gestora da principal modalidade de especialização frente a outros atores, promotores de outras formas de capacitação na área médica, os entrevistados ressaltamalguns pontos cosiderados polêmicos: " ... eu acho que agora, misturar estágio de pequena, média e longa duração com RN. porque os médicos que fazem estágios de dois meses, um mes, dois dias, não recebem nada. é misturar coisas trabalhistas com programa de treinamento de pós-graduação, de espec.ialização, tipo treinamento em serviço, já determ.inado por uma lei, que é a lei da residência médica; as outras, eu acho que tem que ser até discipl inadas, quem . .. " eu não sei por onde" nem por " .. . para nós RN é uma coisa e especialização é outra, eu acho que até tem que ser discutido, mas a outro n.ível, em outro local, com outras pessoas, eu acho que não dá para misturar as duas coisas . .. " " ... nós, incl usive, estamos remetendo aquela outra discussão de especializações e outras coisas pro âmbito do Conselho Nacional de Saúde, que também eu acho que tem mui ta capacidade de legislar sobre outras especi al izações . .. 78 " ... a mim me preocupa também esses cursos de especializações e esses estágios, mas existem resoluções e leis que norteiam,' existe uma lei do antigo Conselho Federal de Educação, a .12/83, que é espec.ífica para cursos de especialização e que prevê, inclusive, sobre a concessão de bolsas para cursos de espec.ialização/ se você for a CAPES, vai ficar surpreso com a quantidade de cursos de especialização na área médica, na região sudeste e nordeste em competição com a RN. .. os estágios têm alei 3.9.9.9/6.1, que ainda não foi revogada e que os regulamenta . .. " Um outro ponto importante das entrevistas recaiu sobre a avaliação do projeto de lei da Câmara dos Deputados, de n° 1.394 de 1991, elaborado peo Deputado Eduardo Jorge, que prevê a criação de uma nova Comissão, que responderia pelas diversas atividades de pós-graduação "lato sensu" da área da saúde, compreendendo neste universo a gestão de modalidades de treinamento, tais como: aperfeiçoamento, estágios e outras formas de especialização, além da residência médica. " ... a.í passa a ser uma Comissão Nacional de Estágio, Especialização e outras coisas. Isso complica, eu acho qur tem lei demais nesse pa.ís. Tem leis que dão certo e leis que nunca dão certo, não é isso 7 ... 79 , ,é uma coisa assim mais concreto, mais pé no chão esse novo projeto, Pode ser que vá desagradar muita gente, mas eu pessoalmente acho que ele é mais abrangente, em termos do médico concluir a espec.ialização, , , , " , ,porque tem um proje to de 1 ei que está em trami tação no Congresso Nacional que ampl i a a composi ção da CNRJ.[ trazendo novos atores, atores que são gestores dos serviços de saúde, atores que são os usuários, que antes não tinha, a tores que vão ser obje to do processo de formação, que são os estudantes, , , ", , ,há um novo projeto de lei colocando normas que vão ser discutidas pela categoria, não vão ser feitas em gabinetes, não vão vontades de grupos ser acolhidas as corporativos de especialidades, mas sim uma discussão mais ampla" ,Nós recebemos e nós transmi timos juntos com os residentes todo esse sistema negociaçào para uma nova de formulação, , , " ", ' ,então, eu acho que com esse projeto, se vier realmente se tornar a nova lei da RJ.-l eu acho que em vár.ios aspectos a gente vai conseguir andar e andar bem, , , " ", , ,então o que está acontecendo hoje é isso, existe uma proposta de lei que moderniza, descentraliza, de certa forma agiliza os trabalhos da CNRN, mas sem perder aquele cordão umbilical que eu acho que tem que existir, , ,a não ser desse jei to não tem razão nem da CNRN existir, , , " 80 Entretanto, desde a data de realização das entrevistas, em novembro de 1995, até o mês de junho do corrente ano, não ocorreu qualquer modificação no cenário estabelecido aquela época, onde parecia estar se processando um momento decisivo na história da pós-graduação médica. Encontra-se em processo de discussão um pedido exarado pelo grupo de assessores técnicos da CNRM, encabeçados pela própria secretária executiva, para ser inserido no substitutivo daquele projeto de lei o direito da Comissão poder permanecer respondendo por sua pasta, através da revisão e da modernização da estrutura, com a descentralização das atividades da CNRM, o que parece ter ressonância junto ao representante do legislativo. Nesta pesquisa, voltada para a compreensão do processo sóciopolítico-educacional que envolve a gestão da Residência Médica, tendo ouvido diversos atores engajados neste projeto, faz-se necessário refletir sobre as palavras de Maciel (1995), quando recomenda que: "Temos de decidir, com objetividade e franqueza, se buscamos competência ou diploma. Temos de pensar também no que custa a carreira médica, em tempo, dinheiro e oportunidades. Busquemos os caminhos mais adequados e procuremos afastar os empecilhos de leis e regulamentos que estorvam nossa marcha. Não caiamos na tentação de remendar a Educação Nédi ca para a tender disposições que não se adaptam a ela. " 81 CAPíTULO V - CONSIDERAÇÕES FINAIS Após a análise dos dados levantados pela pesquisa, faz-se necessário repensar e tecer alguns comentários sobre o papel da CNRM, enquanto gestora da Residência Médica no processo da especialização médica. Dentre as vantagens de se ter um sistema hierarquizado, ainda que com normatização centralizada, a CNRM, nos seus 18 anos anos de existência, buscou promover a uniformidade das ações, através de critérios balizadores pertinentes a essa forma de pós-graduação médica, baseando-se na discussão entre uma diversidade importante de instituições que respondem pelo componente especialização médica no Brasil. A Comissão Nacional de Residência Médica encontra-se na atualidade procurando resgatar a sua própria identidade, como gerência de recursos humanos do setor saúde, tendo em vista a dinâmica das políticas relacionadas ao setor que pretendem unificar as diversas formas de capacitação Lato Sensu, dentro de uma mesma estrutura orgânico-funcional na área da saúde. Devido a interface que se procede com o setor educação, a CNRM, objetivando distinguir a Residência Médica das outras modalidades de treinamento da área da saúde, dadas as especificidades que envolvem tal 82 atividade, entende-se que tal projeto inviabiliza a gerência da Residência Médica e dilue o poder da mesma. No que diz respeito às desvantagens, insere-se a CNRM no escopo das instituições envolvidas com a política educacional, que, embora representada por atores do mais elevado conceito acadêmico-profissional, incorre no perigo da omissão ou da não discussão sobre questões consideradas de relevada importância, dentre elas destacando-se a preparação do profissional médico para esta modalidade de ensino, o não reconhecimento curricular desses profissionais e sua prática de ensino frente a academia e as questões de natureza trabalhista que envolvem o médico-residente. Ressalta-se ainda a omissão da CNRM com relação a inserção do médico-residente no mercado de trabalho, a não execução por parte da Comissão, de um diagnóstico epidemiológico situacional e, a partir daí, a não implementação de estratégias voltadas para viabilizar as demandas efetivas do setor. Por se tratar de uma organização voltada para a gestão da educação médica, é pertinente identificar a CNRM dentro da estrutura de acompanhamento e avaliação do processo educacional, merecendo desta forma permanecer como parte integrante do grupo de trabalho da Secretaria de Educação Superior, do Ministério da Educação e do Desporto, nos mesmos moldes de outras comissões lá existentes, que avaliam o contexto da estrutura 83 educacional como um todo. Não é porque a Comissão trata de assuntos relacionados à área medica que tem que obrigatoriamente estar na pasta da saúde. É de fundamental importância legitimar o processo de descentralização da gestão da Residência Médica nos Estados, através da implantação de novas Comissões Estaduais de Residência Médica e implementação das atividades já desenvolvidas pelas existentes. buscando assim reestabelecer a credibilidade da CNRM frente aos diversos atores que elaboram a política de RM nas diversas instituições seja de natureza acadêmica ou assistencial. Dada a impossibilidade de continuar procedendo toda gestão da RM de forma centralizada, devido ao grande número de programas já estabelecidos, cabe à CNRM estimular maior participação das entidades que compõem o sistema de RM, no nível estadual, na elaboração de um novo projeto que compreenda o diagnóstico situacional de cada região e suas peculiaridades, para que desta forma, possa efetivar uma gestão mais sensível sobre as questões que envolvem a necessidade de formação de recursos humanos para o setor. É primordial que a CNRM continue promovendo normas e critérios que estabeleçam um padrão de assistência médica à população, compatível com 84 os recursos utilizados para a capacitação do profissional através desta modalidade de treinamento de pós-graduação médica. Tendo em vista as características inerentes à CNRM de fomentar a capacitação do profissional médico, dentro da perspectiva educacional, cabe a ela, em consonância com os diversos atores do componente educacional voltados para a área da saúde, contribuir na reestruturação da profissão médica, através da reavaliação da inserção deste profissional na área da saúde, estimulando a promoção de pesquisas ligadas ao setor, objetivando cada vez mais o aperfeiçoamento desta modalidade de desenvolvimento de recursos humanos para o mercado de trabalho. Concorda-se ainda com a manutenção da CNRM como órgão principal, normativo e legitimador da especialização médica, cabendo a ela estabelecer os critérios de acompanhamento e avaliação dos programas de residência médica, em nível nacional, partilhando com as Comissões Estaduais as propostas descentralizadas de gestão participativa. Deve também ser ressaltada a necessidade da CNRM rever a política de valorização do profissional que atua como preceptor de RM, principalmente aquele vinculado à area de assistência, procurando estimular a motivação para que este profissional tenha sua função reconhecida frente à proposta acadêmica que envolve o sistema de residência médica. 85 No que diz respeito à proposta educacional da RM, é importante a participação da CNRM nas propostas atuais acadêmicas de considerar a residência como pré-requisito para ingresso na capacitação "stricto sensu". Desta forma, considera-se fundamental a revisão que tenha como princípio um melhor aproveitamento do modelo de capacitação em nível de pósgraduação médica, dado que a residência médica, como forma tradicional de especialização requer vários anos de treinamento, contrapondo-se a outras áreas do conhecimento, inclusive dentro do setor saúde, onde os profissionais com muito menos tempo de atividade pós-graduada recebem titulação curricular superior ao título outorgado ao médico-residente. Vislumbrando a residência médica dentro do binômio "saúde / educação", tendo em vista seu caráter de treinamento voltado para o serviço, com o treinando "fazendo para aprender, mesmo com todas as distorções ainda existentes, com as idas e vindas desta modalidade de especialização médica, acredita-se ser ainda este o campo mais favorável para serem estimuladas novas formas de aproveitamento da capacitação médica, no seu sentido verdadeiro, voltadas para a realidade brasileira, contribuindo assim para um melhor desempenho desta atvidade primordial do setor saúde. Já existem propostas educacionais estimulando a inserção da RM na proposta de pós-graduação "stricto sensu" como pré riquisito. 86 De acordo com o depoimento da Diretora da Faculdade de Ciências da Saúde, Prof Paulina Fernandes (1996), os programas de Residência Médica do Hospital Universitário de Brasília já estão prevendo, dentre as atividades curriculares da RM, uma programação complementar que inclui pesquisa, onde o residente poderia aprofundar seu treinamento, objetivando a continuação do curso de pós-graduação em nível stricto sensu (Mestrado) e, uma vez cumprindo os créditos obrigatórios, poderia inclusive, ao término dessa etapa ingressar diretamente na etapa do doutoramento. Na nova proposta apresentada pela CNRM, que modifica o substitutivo do Projeto de Lei apresentado na Câmara dos Deputados, a própria 0 CNRM sugere, já no seu artigo 1 que a RM possa constituir-se em etapa inicial , para a pós-graduação "stricto sensu", a critério de cada Instituição que ofereça esta miodalidade de treinamento. De comum acordo com as recomendações feitas por Chaves & Rosa (1990), entende-se que deva ser estimulada a proposta de ensino baseada no "aprender fazendo", por ser esta mais eficiente que o mero receber informação passivamente. A estratégia educacional do treinamento em serviço possibilita a prática de ações de complexidade crescente como um dos meios mais eficazes de promoção do aprendizado, desenvolvendo-se de modo a relacionar as 87 necessidades de saúde da população, o perfil epidemiológico e o perfil profissional demandado. o perfil do médico residente deve corresponder ao perfil ocupacional do médico que se espera ter a partir da reestruturação da nova Comissão Nacional de Residência Médica, para que este esteja preparado para a tão carente prestação de serviços da área da saúde brasileira. 88 CAPíTULO VI - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS MÉDICOS RESIDENTES (ANMR); Pesquisa sobre Residência Médica: Histórico do Movimento. Caderno da ANMR, 2, Belo Horizonte, ANMR, s.d. BADIA, F.; "Grupos de interesse, promoção e pressão",Digest Econômico, São Paulo, 38(285), p. 154-59, out./1981. BARBOSA, H.; "A Residência Médica no Brasil". Residência Médica, Brasília, 8:2, jan/jun, 1984. 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