FRATURAS DO CAPÍTULO UMERAL
Fraturas do capítulo umeral
Estudo prospectivo de dez casos*
MARCELO HIDE MATSUMOTO1, FLAVIO FALOPPA2, GILBERTO HIROSHI OHARA3, WALTER MANNA ALBERTONI4,
CÉLIO EIJI TOBISAWA5, SILVIA RAMOS MARADEI PEREIRA5, JOÃO EDUARDO DOS SANTOS PATO6
RESUMO
Os autores apresentam um estudo prospectivo de dez
pacientes com fratura isolada do capítulo umeral tratada
durante o período de agosto de 1993 a dezembro de 1994.
Discutem o mecanismo de trauma, as formas de tratamento e complicações. Foram tratados sete pacientes com
redução aberta mais fixação interna com parafuso de Herbert e três pacientes com ressecção primária do fragmento capitular. Todos foram reexaminados, apresentando resultados funcionais estimados como excelentes em oito
(80%) pacientes e bons em dois (20%), de acordo com o
índice de desempenho do cotovelo da Clínica Mayo, que
tem como critérios a análise da dor, estabilidade, arco de
movimento e capacitação para algumas atividades básicas diárias.
SUMMARY
Humeral capitellum fractures. Prospective study of 10 cases
The authors present a prospective study of 10 patients with
isolated fracture of the humeral capitellum, treated from
August 1993 to December 1994. The authors discuss the trauma mechanism, the treatment procedure, and complications.
Seven patients with open reduction plus internal fixation with
Herbert screws, and three patients with primary resection of
* Trab. realiz. na Disc. de Cir. da Mão e Mem. Sup. do Dep. de Ortop. e
Traumatol. da Unifesp-Esc. Paul. de Med.
1. Doutor; Respons. pelo Subsetor de Cotovelo da Disc. de Cir. da Mão e
Mem. Sup. do Dep. de Ortop. e Traumatol. da Unifesp-EPM.
2. Livre-Doc.; Chefe de Clín. da Disc. de Cir. da Mão e Mem. Sup. do Dep.
de Ortop. e Traumatol. da Unifesp-EPM.
3. Doutor em Ortop. e Traumatol. pela Unifesp-EPM.
4. Tit. e Chefe da Disc. de Cir. da Mão e Mem. Sup. do Dep. de Ortop. e
Traumatol. da Unifesp-EPM.
5. Resid. do Dep. de Ortop. e Traumatol. da Unifesp- EPM.
6. Méd. da Disc. de Cir. da Mão e Mem. Sup. do Dep. de Ortop. e Traumatol. da Unifesp-EPM.
Rev Bras Ortop _ Vol. 32, Nº 9 – Setembro, 1997
the fragment of the capitellum were treated. All patients were
reexamined, presenting functional results that were excellent in 8 (80%) of the cases and good in 2 (20%), according
to the Mayo Clinic elbow performance index, which analyzes pain, movement arc and ability to perform some of the
basic day-to-day activities.
INTRODUÇÃO
As fraturas isoladas do capítulo umeral são raras(1,5,8,10,16,20,
e há poucos relatos na literatura. Estima-se que elas ocorram em 1% de todas as fraturas do cotovelo(8,23). São fraturas
intra-articulares e ocorrem no plano coronal, paralelas à superfície anterior do úmero, não envolvendo a metáfise e nem
o epicôndilo, mantendo intacta a porção posterior do côndilo lateral. Seu desvio é quase sempre ântero-superior(1,5,8,16,18,
21,23).
Hahn(11) foi o primeiro autor a descrever essa lesão em
1853, em autópsia de uma mulher de 63 anos, em que confirmou que a proeminência palpada na região ântero-superior
do cotovelo era o capítulo desviado de sua posição anatômica. Em 1896, Theodor Kocher(17) descreveu uma variação da
fratura de capítulo que acometia somente sua porção articular sem envolver a crista lateral da tróclea.
A fratura do capítulo acomete pacientes de qualquer idade
e sexo, é extremamente incomum em crianças(1,10,18,20,23). É a
única fratura do cotovelo que apresenta prevalência marcante no sexo feminino(5,9,10,16,18,23). Pode estar associada a fratura da cabeça do rádio ou a luxação posterior do cotovelo(9,13,
16,18,21,23).
O mecanismo de lesão não é claro. Muitos autores(1,5,9,16,18,
20,21,26,27) concordam em que ela é resultado de um trauma
direto na face lateral do cotovelo ou decorrente do choque
da cabeça do rádio com o capítulo, na queda com a mão
espalmada com o cotovelo em discreta flexão e pronação.
Böhler(2) (1930) acredita que essas fraturas só ocorram em
pacientes com valgismo aumentado e hiperextensão do cotovelo.
21,24)
683
M.H. MATSUMOTO, F. FALOPPA, G.H. OHARA, W.M. ALBERTONI, C.E. TOBISAWA, S.R.M. PEREIRA & J.E.S. PATO
Fig. 2
Radiografia
ântero-posterior
do cotovelo,
mostrando o
duplo contorno da
superfície
articular
Fig. 1
Radiografia de
perfil do cotovelo,
mostrando fratura
do capítulo com
desvio ânterosuperior
O diagnóstico, algumas vezes, não é fácil e essa fratura
pode passar despercebida no primeiro atendimento(1,10,13,21).
O quadro clínico é semelhante ao das fraturas da cabeça do
rádio, com edema e dor localizada na face lateral do cotovelo(21,23), sem perda de sua configuração anatômica. Este pode
ser confirmado pelo exame radiográfico com pelo menos duas
incidências, ântero-posterior e perfil. A fratura é melhor visibilizada na radiografia de perfil do cotovelo(4,13,21,23) (figura
1), podendo passar despercebida nas incidências oblíquas(10).
Na incidência em ântero-posterior o traço de fratura forma
uma dupla imagem da superfície articular(20,21,24) (figura 2).
O tratamento é controverso, pois a conduta varia desde o
conservador até a artroplastia de substituição. O objetivo é
obter um arco funcional estável descrito por Morrey & Jupiter(23), que aceitam como funcional 90 graus de amplitude de
movimento.
O tratamento incruento através da redução fechada apresenta vários adeptos que indicam esta técnica antes da intervenção cirúrgica(2,4,9,13,16). Christopher & Bushnell(4), em 1935,
publicaram um clássico artigo de redução fechada de fratura
de capítulo com sucesso. A manobra consistia na tração longitudinal do antebraço em supinação e compressão posterior
aplicado ao fragmento. Relataram 90% de recuperação do
arco de movimento.
684
Vários autores(1,2,6,7,10,15,20,21) defendem a ressecção primária do fragmento, advogando que a redução aberta é difícil e
que perfeita redução anatômica é obrigatória.
A maioria dos autores (5,8,18,22-26,28) prefere o tratamento
cruento com osteossíntese através de pinos, grampos, parafusos e fios.
Em 1957, Jackobsson(14) idealizou uma prótese de cromo,
cobalto e molibdênio de substituição do capítulo, com resultados inferiores aos dos submetidos a ressecção.
As complicações dessas fraturas são decorrentes de seu
manejo. A principal é o déficit no arco de movimento do
cotovelo(1,5,8,18,21,23). A instabilidade da articulação é infreqüente(1,5,9,23), mesmo associada a lesão do ligamento colateral ulnar no momento do trauma(5,9,16). A dor e a necrose avascular
do fragmento são raras(1,5,16,18,23,26).
O objetivo de nosso trabalho é a apresentação de dez pacientes portadores de fratura do capítulo submetidos ao tratamento cirúrgico. Avaliamos no pós-operatório a dor, estabilidade, arco de movimento e a capacitação para executar
atividades básicas da vida diária.
CASUÍSTICA E MÉTODOS
Nossa casuística consiste de dez pacientes portadores de
fraturas isoladas do capítulo umeral tratadas no período de
Rev Bras Ortop _ Vol. 32, Nº 9 – Setembro, 1997
FRATURAS DO CAPÍTULO UMERAL
Fig. 3
Fragmento do
capítulo com
pequena porção
adjacente da
tróclea,
apresentando
desvio
ântero-superior
Fig. 4 – Via
lateral do
cotovelo,
mostrando fratura
cominutiva (tipo
III) do capítulo,
após redução e
fixação
TABELA 1
Nº
Idade
em anos
Sexo
Lado
dominante
Lado
acometido
Intervalo
entre o
trauma e o
atendimento
Classificação
da fratura
Procedimento
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
41
19
26
13
14
16
52
27
31
17
F
F
F
F
F
M
F
F
M
M
D
D
E
D
D
D
D
D
D
D
E
E
D
E
E
E
E
E
E
D
< 2 semanas
> 2 semanas
< 2 semanas
< 2 semanas
< 2 semanas
< 2 semanas
< 2 semanas
< 2 semanas
> 2 semanas
> 2 semanas
III
I
I
I
I
I
I
I
II
I
Red. aberta + fix. interna com paraf. de Herbert
Ressecção
Red. aberta + fix. interna com paraf. de Herbert
Red. aberta + fix. interna com paraf. de Herbert
Red. aberta + fix. interna com paraf. de Herbert
Red. aberta + fix. interna com paraf. de Herbert
Red. aberta + fix. interna com paraf. de Herbert
Red. aberta + fix. interna com paraf. de Herbert
Ressecção
Ressecção
agosto de 1993 a dezembro de 1994 (tabela 1). A idade variou entre 13 e 52 anos, com média de 25,6 anos; a grande
maioria estava acima dos 15 anos (80%).
Houve predomínio do sexo feminino (80%) e o lado esquerdo foi acometido em oito (80%) pacientes. O membro
dominante era o direito em 90% dos casos. Em todos os pacientes foram feitas radiografias do cotovelo afetado em incidências ântero-posterior e perfil.
A classificação adotada foi a relatada por Morrey & Jupiter(23): tipo I (Hahn-Steinthal): fratura do capítulo associada
à porção adjacente da tróclea; tipo II (Kocher-Lorenz): fraRev Bras Ortop _ Vol. 32, Nº 9 – Setembro, 1997
tura do capítulo puro; tipo III: fratura cominutiva ou com
impactação.
Com relação ao tempo decorrido entre o trauma e o tratamento cirúrgico, consideramos fase aguda quando menor ou
igual a duas semanas e tardia a acima de duas semanas. Observamos que sete (70%) pacientes foram tratados na fase
aguda.
O tratamento empregado foi redução aberta mais fixação
interna com parafusos de Herbert através de uma via lateral
em sete (70%) (figuras 3 e 4) pacientes e ressecção do fragmento por via lateral em três (30%) pacientes.
685
M.H. MATSUMOTO, F. FALOPPA, G.H. OHARA, W.M. ALBERTONI, C.E. TOBISAWA, S.R.M. PEREIRA & J.E.S. PATO
TABELA 2
Nº
Procedimento
Arco de movimento do
cotovelo contralateral
Arco de movimento final
do cotovelo operado
Resultado
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
Red. aberta + fix. interna com paraf. de Herbert
Ressecção
Red. aberta + fix. interna com paraf. de Herbert
Red. aberta + fix. interna com paraf. de Herbert
Red. aberta + fix. interna com paraf. de Herbert
Red. aberta + fix. interna com paraf. de Herbert
Red. aberta + fix. interna com paraf. de Herbert
Red. aberta + fix. interna com paraf. de Herbert
Ressecção
Ressecção
–10º/130º
–10º/135º
0–5º/125º
–10º/140º
–10º/140º
0–5º/130º
–10º/130º
0–5º/135º
0–5º/130º
0–5º/130º
10º/100º
25º/110º
00º/115º
05º/140º
00º/140º
25º/130º
45º/120º
70º/135º
30º/120º
20º/120º
Bom
Bom
Excelente
Excelente
Excelente
Excelente
Bom
Bom
Bom
Excelente
Após a cirurgia é confeccionada uma tala gessada axilapunho com 45 graus de flexão do cotovelo, que permanece
durante três semanas. No primeiro dia pós-operatório iniciamos a movimentação ativa e passiva do punho e, a partir do
quinto dia, a tala é retirada para realização da movimentação
passiva assistida e ativa sem a ação da gravidade no cotovelo.
Para avaliação dos resultados utilizamos o índice de desempenho da Clínica Mayo, demonstrado abaixo, que analisa dor, estabilidade, arco de movimento e capacidade para
executar algumas atividades básicas diárias.
Na avaliação do arco de movimento, usamos o sistema
internacional no qual o valor angular 0 é dado para a extensão total do cotovelo.
Função
Pontos
Dor
45
Definição
(Pontos)
Nenhuma
Leve
Moderada
Intensa
45
30
15
0
Arco de movimento
20
arco > 100 graus
arco 50-100 graus
arco < 50 graus
20
15
5
Estabilidade
10
Estável
Moderada instabilidade
Grosseira instabilidade
10
5
0
Atividade
25
Pentear cabelo
Alimentar-se
Higiene
Abotoar
Calçar sapato
Total
100
Classificação: Excelente: > 90
Bom: 75-89
Satisfatório: 60-74
Ruim: < 60
686
5
5
5
5
5
RESULTADOS
O seguimento dos pacientes variou de 8 a 24 meses, com
média de 12,9 meses (tabela 2).
Na avaliação da dor, observamos que todos os pacientes
apresentavam-se assintomáticos.
A estabilidade do cotovelo não foi comprometida e todos
os nossos pacientes receberam pontuação máxima.
O arco de movimento variou de 65 a 140 graus, com média de 90 graus de amplitude.
Com relação aos aspectos da função básica, não observamos comprometimento nas atividades diárias dos pacientes.
Tivemos em média a pontuação de 23 e uma máxima de 25.
Na avaliação final, tivemos oito (80%) pacientes com resultado excelente e dois (20%) com bom.
DISCUSSÃO
A fratura do capítulo umeral é extremamente infreqüen. Poucas publicações apresentam casuístite
cas significativas que podem orientar condutas definitivas
nessa fratura.
Condizendo com a literatura(5,9,10,16,18), observamos incidência maior no sexo feminino (70%). Em todos os nossos pacientes identificamos frouxidão ligamentar associada à hiperextensão do cotovelo que nos leva a crer que, apesar de o
mecanismo de lesão ser controverso, pensamos que a hiperextensão é um fator causal, pois, na presença desta, a cabeça do rádio desvia-se do eixo da coluna lateral, chocando-se
com o capítulo. Assim, concordamos com Böhler(2) em que
seriam necessários graus aumentados de valgo e hiperextensão do cotovelo para que o indivíduo pudesse apresentar fratura do capítulo.
Em nosso estudo, assim como em outros já realizados(1,10,
18, 20,23), houve predomínio na faixa etária acima dos 15 anos,
(1,5,8,10,16,18,20,21,24)
Rev Bras Ortop _ Vol. 32, Nº 9 – Setembro, 1997
FRATURAS DO CAPÍTULO UMERAL
Fig. 5
Radiografia
ântero-posterior
pós-operatória da
paciente n º 5
concordando com diversos autores quanto à raridade do acometimento de crianças.
Concordando com a maioria dos autores(1,5,8,9,18,24), em nossa casuística predomina a fratura do tipo I, com oito (80%)
pacientes; houve um (10%) paciente com fratura do tipo II e
um (10%) com fratura do tipo III (figura 4). Todas foram
diagnosticadas através das radiografias em incidência ântero-posterior e perfil.
Na literatura observamos controvérsia com relação ao tratamento; apesar de as abordagens individuais diferirem, a
tendência da maioria dos autores(5,8,18,22-26,28) é preferir a redução aberta com fixação interna.
Dushuttle et al.(9) (1935) estudaram 17 pacientes que apresentaram fratura do capítulo e que foram submetidos a três
técnicas distintas de tratamento: ressecção do fragmento, redução cruenta e redução incruenta. Após 13 anos de seguimento não observaram diferenças significativas no arco de
movimento.
A indicação exclusiva de redução fechada, conforme preconizaram Christopher et al.(4) (1935), não é aceita pela maioria dos autores. Pode ser tentada nas fraturas com grande
fragmento e sem cominuição. Entretanto, o resultado funcional depende da perfeita redução anatômica e de sua estabilização, que é difícil de ser obtida, levando a resultados
Rev Bras Ortop _ Vol. 32, Nº 9 – Setembro, 1997
Fig. 6
Radiografia
de perfil
pós-operatória
da paciente nº 5
insatisfatórios conforme relatos na literatura(1,5,10,20). Não realizamos esse procedimento em nenhum de nossos pacientes.
O conceito atual na cirurgia do cotovelo é de que a fixação interna precária não seja realizada por necessitar de períodos prolongados de imobilização, comprometendo sua reabilitação. Portanto, preferimos a ressecção do fragmento à
osteossíntese com fios de Kirschner.
Alvarez et al.(1), em 1975, relataram 14 pacientes com fratura de capítulo. Realizaram a ressecção em dez pacientes e
observaram que o arco de movimento era funcional em nove. Não descreveram instabilidade e deformidade em valgo
associada. Esse procedimento é simples, definitivo e necessita de curto período de imobilização(1,10,15,21); entretanto, pode
desenvolver instabilidade e aumentar o risco de capsulite adesiva, com piora progressiva dos resultados(28,29). Realizamos
essa técnica em três pacientes (nºs de ordem 2, 9 e 10), que
apresentavam fraturas antigas com fragmento desvitalizado.
Todos apresentaram excelentes resultados, com arco de movimento funcional, indolor e estável, inclusive o paciente nº
10, que foi atendido seis meses após a fratura e submetido a
ressecção do fragmento associada a capsulotomia anterior
mais alongamento do bíceps por rigidez do cotovelo em flexão. Assim, achamos que a ressecção está indicada quando
não se consegue a redução anatômica, nas grandes cominui687
M.H. MATSUMOTO, F. FALOPPA, G.H. OHARA, W.M. ALBERTONI, C.E. TOBISAWA, S.R.M. PEREIRA & J.E.S. PATO
Fig. 7 – Arco de
movimento de
pronossupinação
e flexo-extensão
da paciente nº 4
ções e nas fraturas envelhecidas, em que o capítulo está desvitalizado(5,8,9,18,23).
Em 1977, Collert(5) relatou 20 pacientes com fraturas de
capítulo; em 12 realizou redução aberta mais fixação interna
com pinos e em 8 a ressecção; observou melhores resultados
com a redução anatômica aberta.
Em 1981, Lansinger & Mare(18) relataram o tratamento de
dez pacientes pela redução aberta mais fixação interna e observaram que, apesar da necessidade de período maior de
imobilização, este é o melhor tratamento em relação à ressecção do fragmento.
Nossa conduta é a obtenção de redução anatômica através
da redução aberta com fixação interna estável que permita
mobilização precoce nos primeiros dias de pós-operatório.
Vários dispositivos foram empregados, como pinos, parafusos, grampos até suturas ósseas, mas o parafuso de Herbert
parece ser o que confere melhores resultados, pois permite
fixação estável e movimentação precoce do cotovelo(3,12,23,
25,26). Isso é feito pela via lateral por apresentar a vantagem
de não ser necessária a dissecção da região posterior do côndilo lateral, por onde penetra a artéria radial recorrente, principal nutridora deste(23). Optamos por sua utilização que, além
das vantagens citadas, permite seu uso através da superfície
articular. Ele fica totalmente sepultado no osso subcondral,
não precisando ser retirado em nova cirurgia(3,8,12,23,25,26) (figuras 5 e 6).
688
Fig. 8 – Arco de
movimento de
pronossupinação
e flexo-extensão
da paciente nº 4
Submetemos sete (70%) pacientes à redução cruenta mais
fixação interna com parafusos de Herbert; destes, cinco
(71,4%) tiveram resultado excelente e dois (28,6%), bom.
Acreditamos que no manejo dessas fraturas o importante é o
restabelecimento do arco de movimento funcional, estável e
indolor. Desse modo, nossos resultados com a redução aberta mais osteossíntese com parafuso de Herbert, proporcionando estabilidade suficiente para que se inicie a reabilitação precoce do cotovelo, nos levam a crer que este é um
ótimo método, conclusão semelhante à de outros trabalhos(3,
8,23,25,26) (figuras 7, 8, 9, 10 e 11).
Com relação à dor, Fowles & Kassab(10) (1974) e Alvarez
et al.(1) (1975) observaram que cerca de 40% de seus pacientes submetidos a ressecção apresentavam-se sintomáticos.
Lansinger & Mare(18) (1981) relataram que 10% de seus pacientes apresentaram discreta dor após ser tratados com redução aberta mais fixação interna. Em nossos resultados nenhum paciente apresentou dor, mesmo aos esforços.
A maior dificuldade no tratamento da fratura do capítulo
foi a obtenção do arco funcional descrito por Morrey & Jupiter(23). O ganho dos últimos graus de extensão é nosso maior
desafio na atual fase: nenhum paciente obteve a mesma extensão de antes da cirurgia. Entretanto, o trabalho conjunto
com a terapia ocupacional tem trazido resultados animadores. Portanto, chamamos a atenção para a importância da reabilitação pós-operatória. Em nosso serviço, trabalhamos em
Rev Bras Ortop _ Vol. 32, Nº 9 – Setembro, 1997
FRATURAS DO CAPÍTULO UMERAL
Fig. 9 – Arco de movimento de pronossupinação
e flexo-extensão da paciente nº 4
Fig. 10 – Arco de movimento de pronossupinação
e flexo-extensão da paciente nº 4
conjunto com especialistas em terapia ocupacional de membro superior, iniciando os movimentos da articulação do cotovelo, já na primeira semana.
Concluímos que tanto a redução aberta com fixação estável como a ressecção do fragmento são procedimentos cabíveis na fratura do capítulo umeral. Contudo, temos preferência pela primeira técnica sempre que possível, por acreditarmos que a preservação do fragmento com restauração da anatomia original do cotovelo a longo prazo possa evoluir com
melhores resultados.
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Rev Bras Ortop _ Vol. 32, Nº 9 – Setembro, 1997
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Fraturas do capítulo umeral