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Resumo
Introdução: O envelhecimento populacional é fenômeno que acontece em escala global.
Paralelamente ao crescimento da população idosa tem sido observado um aumento da
violência contra o idoso. A fragilidade da própria idade tornam-os, muitas vezes, vítimas
da violência social e intrafamiliar. Objetivo: O presente artigo tem como objetivo realizar
uma revisão da literatura sobre a importância da atuação dos profissionais de saúde na
proteção do idoso vítima de violência. Materiais e métodos: Realizou-se uma revisão
bibliográfica a partir de livros e capítulos de livros; artigos; dissertações; teses e manuais.
Resultados: Recentes leis e políticas públicas voltadas aos idosos determinam a
obrigação do Estado, da família e sociedade em garantir à pessoa idosa proteção a sua
integridade física, psicológica e moral. Entretanto, estas leis e políticas de proteção ao
idoso são frequentemente aplicadas sem eficácia na sociedade e nos serviços de saúde.
Conclusão: As necessidades de atenção e respeito aos gerontos sugerem uma atuação
mais presente pelos profissionais de saúde no que diz respeito à prevenção, identificação,
tratamento, reabilitação e reinserção do idoso vítima de violência.
Palavras–chave: idoso; violência; maus tratos; profissionais de saúde; enfermeiros.
Abstract
Introduction: Population aging is a phenomenon that happens on a global scale. Parallel
to the growth of the elderly population, there has been an increase in violence against the
elderly. The fragility of their own age often makes them victims of social and interfamilial
violence. Objective: This article aims to make a literature review on the importance of the
health professionals’ role in protecting the elderly victims of violence. Materials and
methods: We performed a literature review from books and book chapters, articles,
dissertations, theses and manuals. Results: Recent laws and public policies to seniors
determine the obligation of the State, the family and society to ensure the elderly physical,
psychological and moral protection. However, these laws and policies to protect the elderly
are often ineffectively applied in society and health services. Conclusion: The need for
attention and respect to the elderly suggest a more present action by health professionals
regarding the prevention, identification, treatment, rehabilitation and reintegration of elderly
victims of violence.
Keywords: elderly; violence; abuse; health professionals; nursen
Introdução
O envelhecimento populacional é fenômeno que acontece em escala global, sendo
caracterizado por aumento da expectativa de vida e redução da taxa de fecundidade da
população em geral1, 2. Este envelhecimento e a qualidade de vida dos idosos tornaramse possíveis devido ao avanço na ciência e tecnologia, favorecidos por melhores
condições na área médica3.
A partir de 2039 estima-se um declínio no crescimento populacional do país,
conhecido como crescimento zero, e um envelhecimento que poderá ultrapassar os 4%
4
ao ano. Em 2050, uma redução no crescimento da população brasileira será
experimentada e passará para -0,291%. Assim, estima-se que para cada 100 crianças, de
0 a 14 anos, existirão 172,7 idosos4. Neste sentido, o país apresentará um perfil
demográfico cada vez mais envelhecido 5.
Apesar de o envelhecimento populacional ser um fenômeno universal, a violência contra o
idoso aparece como um fato de notória repercussão e que emerge como um sintoma do
despreparo da sociedade e do governo3, 8. Diante disso, o presente artigo trata-se de uma
revisão da literatura sobre a importância da atuação dos profissionais de saúde frente à
violência contra a pessoa idosa e apresenta os diversos campos de atuação na
assistência ao idoso vítima de violência, tais como a prevenção, identificação dos casos,
tratamentos e reabilitação.
Materiais e Métodos
O presente trabalho de pesquisa visou realizar um levantamento da literatura sobre
a importância da atuação dos profissionais de saúde frente à violência contra os idosos a
partir de livros; artigos; teses; dissertações; monografias; manuais; planos de ação e
relatório de pesquisa. Para tanto, buscas ativas foram feitas de materiais publicados,
entre os anos 2000 e 2012, na Biblioteca Virtual sobre Violência e Saúde (BVS/VS), da
Biblioteca Regional de Medicina (BIREME), que concentra e focaliza informações
nacionais e internacionais sobre o tema registrados no Scientific Electronic Library Online
(SCIELO) e no Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS),
mantendo um acervo de teses e dissertações defendidas em todo o país, artigos e outros
materiais. As palavras-chave utilizadas para a busca literária foram: idoso; violência;
maus-tratos; profissionais de saúde; enfermeiros. Foram selecionados 29 trabalhos
científicos que passaram por uma classificação de cunho analítico dos assuntos
relevantes para o desenvolvimento do trabalho, que na primeira etapa envolveu uma
revisão sobre o impacto do envelhecimento populacional no Brasil e a definições sobre a
violência em idosos e o perfil de abusos, em seguida buscou-se instrumentos legais e
meios de proteção dos idosos frente a violência e conclui-se com a atuação dos
profissionais de saúde como ponto fundamental no cuidado em relação a prevenção,
tratamento e reabilitação desse idoso na sociedade e família.
A violência contra o idoso
A violência contra o idoso pode ser definida como um ato único ou repetido que se
configura por meio de abusos físicos, psicológicos, sexuais, financeiros, abandono,
5
negligência, auto-negligência e omissão9, sendo comum a ocorrência destas diferentes
formas de violência contra o idoso em um mesmo momento. Estas violências podem ser
realizadas por indivíduos, instituições e/ou grupos sociais que intencionam, de alguma
forma, produzir danos8.
Em geral, os idosos mais vulneráveis são os dependentes de cuidados intensivos
em suas atividades diárias, com dependência física ou psíquica, sobretudo que possuam
problemas debilitantes e que de alguma forma necessitam de auxílio por apresentarem,
por exemplo, esquecimento, confusão mental, alterações no sono, incontinência e
dificuldades de locomoção8.
De acordo com a Rede Internacional para a Prevenção dos Maus-Tratos existem
algumas formas de violência que podem atingir os mais velhos. Assim, a violência física
consiste em uma agressão caracterizada por meio da força, com a intenção de ferir,
provocar dor, coagir o idoso ou incapacitá-lo, podendo em certas situações levá-lo até a
morte. A violência psicológica caracteriza-se por aterrorizar, humilhar, restringir ou isolar,
por meio de agressões verbais ou gestuais, além de todas as formas de discriminação,
rejeição, desrespeito e desqualificação da pessoa idosa. A negligência refere-se à recusa,
omissão e abandono de cuidados necessários ao idoso, quando este não tem capacidade
de executá-las. A auto-negligência é configurada quando o próprio idoso deixa de
satisfazer suas necessidades pessoais, o que pode levar a ameaçar sua segurança e/ou
saúde. Sendo o abandono uma forma de violência que acontece pela deserção dos
responsáveis em prestarem socorro a um idoso que necessite de cuidados. A violência
sexual destaca-se quando há aliciamento, ameaças ou violência física de forma a obter
excitação, relação sexual ou ainda práticas eróticas de caráter homo ou heterossexual
que utilizam pessoas idosas. A violência financeira relaciona-se à exploração inapropriada
de bens financeiros e patrimoniais do idoso 9,10.
Infelizmente ainda há denúncias dentro de instituições de assistência social e saúde,
nos quais pode-se verificar situações de maus-tratos, despersonalização e privação da
autonomia, além da negligência quanto á alimentação, higiene e cuidados médicos
adequados
11
. As situações mais comuns de violência contra os gerontos que
frequentemente são percebidas pelos profissionais da saúde no ambiente hospitalar são
abandono, isolamento e falta de recursos sociais12. Constata-se, também, que entre os
idosos a violência nas ruas é praticada especialmente contra os homens. Em
contrapartida, nos lares as principais vítimas de abusos são mulheres7.
6
Todavia, o maior percentual de violência contra o idoso é verificado nos lares,
representado por 90% dos casos11. Assim, a violência familiar é um problema global,
gerado por choque de gerações, problemas financeiros e de espaço físico, somados a
uma cultura que desvaloriza e exclui o idoso7, 8. Dessa forma, 2/3 das agressões provêm
de filhos, sendo a maioria destas agressões realizadas por homens, mais do que as filhas.
Na sequência, observa-se a violência praticada pelas noras e genros e, por fim, pelo
cônjuge. O restante das agressões são atribuídas a outros membros da família8.
Em geral, a violência familiar dirigida ao idoso pode ser explicada pelo fato de que
os filhos são, na maioria das vezes, financeiramente dependentes de seus pais idosos ou
o idoso dependente da família de seus filhos. Além disso, outros fatores podem
desencadear este tipo de violência, como relações afetivas frágeis e com histórico de
violência entre os familiares; isolamento social do cuidador ou do idoso; os cuidadores
terem sido vitimas de violência doméstica ou apresentarem qualquer tipo de sofrimento
psiquiátrico, sendo a principal psicopatologia do perpetuador de violência o abuso de
drogas e álcool8.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), para cada 30 vítimas
hospitalizadas por lesões uma acaba indo a óbito, sendo as quedas as principais
responsáveis pelas internações e emergências 13. Por sua vez, estas costumam ser uma
consequência dos diversos tipos de maus-tratos e negligências7. Em adição, no Brasil no
ano de 2010 pode-se conferir 23.618 casos de óbitos entre idosos, todos por causas
externas. Destes 3,4% foram a óbito devido a diferentes formas de violência Dessa
maneira, atualmente a violência ocupa a sexta posição no número de óbitos de pessoas
com mais de 60 anos de idade14.
Nos Estados Unidos, estima-se que 1,5 milhão de idosos sofrem maus-tratos todos
os anos12. A auto-negligência representa de 2 a 10% dos casos. Dentre os poucos mais
de 250.000 relatórios envolvendo a violência contra o idoso, a auto-negligência representa
39% dos casos, seguida pela negligência (21,5%), exploração financeira (14%) e violência
física (0,2%)15. Outrora, no Canadá 125 mil idosos sofrem algum tipo de violência, sendo
4% vítimas de abusos e negligência12.
Salienta-se que a violência contra o idoso é mais disseminada e presente na
sociedade do que os números revelam. Há evidências que cerca de 70% dos casos de
violência contra o idoso não são denunciados, pois há um temor entre as vítimas quanto
aos seus agressores, além do medo de prováveis retaliações8. Outro aspecto importante
e que dificulta tais denúncias refere-se à falta de apoio governamental, que muitas vezes
não oferece uma proteção adequada e efetiva àquele idoso vítima de violência 3. Com isto,
7
tornam-se escassas as informações que retratam, de forma fidedigna, a magnitude do
referido problema7.
Leis e Políticas Públicas que contemplam e protegem o idoso vítima de Violência
Diversas leis que contemplam e protegem o idoso vítima de violência foram criadas
a partir da década de 905. Tais leis apontam diretrizes e estabelecem normas em todos os
níveis de funcionamento, de forma a delegar à família, sociedade e Estado a
responsabilidade do cuidado com o idoso10,16 .
A Política Nacional do Idoso (PNI), regulamentada em 1996, por meio da Lei 8.842,
assegura os direitos sociais do idoso. Já o Estatuto do Idoso descrito na forma da Lei
10.741, de 2003, constitui em um instrumento jurídico de proteção e garantia social do
direito da pessoa idosa no Brasil 5. Assim, conforme Art. 2, do Estatuto do Idoso, a pessoa
idosa deve ser assegurada de “[...] todas as oportunidades e facilidades, para
preservação de sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual,
espiritual e social, em condições de liberdade e dignidade”. Além disso, o Art. 4 traz que
nenhum idoso pode ser objeto de qualquer tipo de negligência, discriminação, violência,
crueldade ou opressão, sendo punidos todos os transgressores destas determinações17 .
O Estatuto do Idoso também salienta a obrigatoriedade da notificação pelos
profissionais de saúde, de instituições privadas e públicas, em casos de violência contra o
idoso. A notificação constitui um dos maiores instrumentos de proteção aos direitos dos
idosos16. O Art. 66, do Decreto 3.688/1941, reconhece como contraversão penal, a
omissão do profissional de saúde que não comunicar crime do qual tenha tomado
conhecimento por meio do seu trabalho 18. No Art. 52, do Código de Ética da Enfermagem
é considerada infração ética quando o profissional provoca, coopera ou é conivente com
maus-tratos, sob a pena de uma simples advertência ou mesmo cassação do direito de
exercer a profissão18.
Em adição, é fundamental a disseminação do conhecimento sobre os direitos
voltados à pessoa idosa, afim de evitar a banalização da violência praticada contra os
mais velhos8. Nesse sentido, o conhecimento das principais leis e políticas que
contemplam os idosos é elemento primordial para que os profissionais de saúde saibam
como agir diante de uma situação de violência ou em meio a situações de risco, de forma
a tomar as devidas providências para cada caso
10
.
8
Cuidados com o idoso vítima de violência no âmbito da saúde
Os profissionais de saúde têm o papel fundamental no combate à violência contra o
idoso, de forma a atender seus pacientes/clientes a ponto de intervir preventivamente ou
mesmo cuidar daqueles indivíduos vítimas de violência. Nesse sentido, quando for
configurado um caso de violência contra o idoso os mesmos devem ser adequadamente
treinados para notificar, realizar perícias e elaborar laudos e/ou pareceres 10.
Em casos de urgência envolvendo idosos que sofreram algum tipo de violência é
imprescindível a atuação efetiva da equipe multiprofissional. Para tanto, se faz necessário
respeitar a Lei da Prioridade que determina por meio do Estatuto do Idoso, em seu artigo
3º, a garantia de prioridade no atendimento imediato e individualizado tendo em vista que
o idoso, em diversas situações, encontra-se fisiologicamente debilitado ou não consegue
responder de forma eficaz a possíveis traumas, como observado em pacientes/clientes
mais jovens1317.
O profissional de saúde no exercício de suas funções deve, preferencialmente,
apresentar empatia, bem como ser ético no cuidado com o seu paciente/cliente 19. O
enfermeiro, em especial, deve dispor de tempo e dedicação para solucionar problemas
complexos e que exijam conhecimento e articulação de toda a equipe e/ou rede de apoio,
além de habilidades para lidar com o inesperado em se tratando de violência contra o
idoso20.
Dessa forma, o enfermeiro tem um papel primordial nos casos de violência, pois o
mesmo pode traçar intervenções eficazes que atendam cada caso19. Tais intervenções
podem ser configuradas por medidas de tratamento e prevenção, e assim envolver
Consultas de Enfermagem ou mesmo instituir grupos de educação em saúde
19 20
,
.
O enfermeiro também pode promover treinamentos a diferentes profissionais da
área de saúde, de forma a identificar previamente prováveis riscos e promover ações de
conscientização e sensibilização com o intuito de assegurar a proteção da pessoa
idosa21,19.
A realidade brasileira exige campanhas de orientação e prevenção em casos de
violência contra o idoso. Assim, o Programa Saúde da Família, além de permitir o acesso
às familiares, desenvolve estratégias de prevenção e tratamento, bem como possibilita a
identificação de situações de risco de violência contra o idoso22.
A Caderneta de Saúde do Idoso consiste em outro meio utilizado para a
identificação de situações de risco, pois dessa maneira, o profissional de saúde pode
utilizá-la como instrumento para rastrear informações sobre os cuidados indispensáveis
ao idoso, se o mesmo esta sendo assistido em suas necessidades, acompanhar
9
consultas realizadas, além de descrever situações de doenças, infecções recorrentes e se
estas estão associadas a negligências ou maus-tratos5.
Salienta-se que a prevenção de agravos é uma das diretrizes da Política Nacional de
Redução da Morbimortalidade por Acidentes e Violência, a qual visa uma organização dos
serviços de saúde na busca de um atendimento resolutivo a e que vão desde os primeiros
níveis de atenção23. Assim, além da avaliação no atendimento dos casos de violência
voltados ao idoso, outras ações podem ajudar na prevenção, como visitas domiciliares,
consultas com o serviço social, palestras, orientações sobre os direitos dos idosos e a
utilização de instrumentos e mecanismos de monitoramento e avaliação de riscos sociais
aplicados por profissionais durante a anamnese23.
Do ponto de vista da identificação clínica de violências contra idoso, há diversas
ações que podem ser previstas. As vítimas podem apresentar várias reações conforme o
tipo de violência sofrido, como sintomas emocionais, comportamentais e somáticos que,
mesmo sem serem específicos ou patognomônicos, podem ser encarados como
marcadores biológicos forenses10.
O enfrentamento da situação de violência contra o idoso exige um olhar e uma
escuta diferenciada, com o desenvolvimento de ações individuais e coletivas em
diferentes âmbitos. Os profissionais de saúde devem estar sempre atentos aos sinais de
abusos, analisando minuciosamente todos eles, bem como os sintomas de agressividade.
Assim, este profissional deve identificar sinais de descuido e negligência quando o idoso
necessita de auxílio para suas atividades de vida diária, tais como subnutrição,
desidratação, descuido com a higiene, cansaço, enfermidades recorrentes e vestimentas
inadequadas ao clima24,10.
Os profissionais de saúde devem conhecer os possíveis sintomas de abusos ao
fazer o Exame Físico. No caso de abuso sexual, a vítima pode apresentar lesões na
mucosa e na pele das genitálias, sangramentos e infecções vesicais e vaginais. Nos
abusos físicos dores, manchas e lesões físicas, como queimaduras, cortes, hematomas,
feridas e fraturas, podem ser conferidas, sendo incompatíveis com as causas alegadas.
Habitualmente são observados pesadelos, terror noturno e dificuldades para dormir,
ansiedade, medo, tristeza, depressão e isolamento dos amigos e da família,
agressividade ou apatia, problemas de indisciplina, sentimento de baixa auto-estima e
auto-imagem, faltas frequentes às consultas, passividade, comportamentos retraídos e
autodestrutivos ou autolesivo, fuga de casa, desconfiança, demonstração de afeto por
terceiros e tentativas de suicídio24,10.
10
Constatada a violência, o profissional deve se dirigir às autoridades policiais,
Ministério Público, Conselhos Municipais, Estaduais e Nacionais do Idoso17. Segundo o
Estatuto do Idoso, cabe ao Ministério Público a defesa dos direitos dos idosos16.
Com a identificação da violência contra o idoso, pode-se ajudar a vítima por meio da
assistência25. A intervenção pode ser realizada de acordo com a complexidade do agravo,
sendo definida inicialmente por meio da triagem20.
O atendimento exige desafios, a ponto de manter a capacidade funcional do idoso e
evitar a sua institucionalização. Dessa forma, o profissional de saúde é requerido desde
da fase de planejamento até as fases de desenvolvimento e implementação da terapia, a
qual deverá atender à situação de violência e aspectos fisiológicos inerentes ao próprio
processo de envelhecimento26. Todavia, os profissionais de saúde frequentemente
enfrentam diversas dificuldades, que podem ser tanto por desconhecimento quanto por
não disporem dos meios necessários para a resolução do problema, o que geralmente
reduz em intervenções com ações paliativas e circunstanciais12.
Sabe-se que a enfermagem recebe o idoso, faz avaliação do risco e o encaminha
corretamente para os setores do hospital
27
. A partir de então adota-se o registro dos fatos
e dos sinais suspeitos na ficha/prontuário. Seguidamente, se faz a comunicação das
suspeitas ao médico e ao assistente social da unidade 27.
Como os cuidados são gerenciados pelo enfermeiro, o mesmo faz as articulações
entre os demais profissionais e serviços. Portanto, o enfermeiro é o profissional chave na
discussão da assistência ao idoso vítima de violência20. Cabe ao enfermeiro o
planejamento dos cuidados, respeitando o ambiente em que isto acontece, visto que este
profissional pode atuar no lar do idoso, no hospital, em instituições de longa permanência,
em grupos ou mesmo em centros de convivência21,19.
Os enfermeiros que cuidam de idosos devem ser habilitados na prestação do
cuidado holístico, vislumbrando os aspectos físicos, psicológicos, emocionais e sociais
desse seguimento. Desse modo, a enfermagem gerontológica foca na prestação de
cuidados ao idoso e inclui a avaliação, o planejamento, a implementação e o
acompanhamento da evolução do paciente/cliente28.
Deve-se destacar que a Política Nacional de Redução da Morbimortalidade por
Acidentes e Violências (PNRMAV) preconiza que a reabilitação de sequelas advindas de
violências deva favorecer o alcance da independência do paciente/cliente dentro da sua
nova situação. Nesse sentido, o processo de reabilitação necessita de alguns passos
naturais no cuidado à saúde, tendo suas especificidades de acordo com a clientela25.
11
Assim, a reabilitação do idoso envolve um processo global e dinâmico que objetiva a
recuperação da saúde física e psicológica da pessoa com funções prejudicadas, tendo
como meta a reintegração social deste paciente/cliente. Tais sequelas físicas e/ou
psicológicas podem ser tratadas a partir de oficinas e do acompanhamento de
profissionais habilitados e capacitados, além de estratégias que envolvam a participação
da comunidade e dos próprios agressores, a fim de conscientizá-los sobre os direitos dos
idosos e as implicações diante desta problemática, interrompendo possivelmente o ciclo
da violência contra o idoso25. Nesse momento de cuidado com as vítimas de violência a
atuação do enfermeiro, que atua diretamente na área de Saúde Mental, pode ser
organizada de forma a oferecer um tratamento na forma de psicoterapia de grupo, sessão
de psicodrama, técnicas de relaxamento dirigido, meditação e aquecimento com exercício
físico. Tais técnicas visam vivenciar relações interpessoais em ambiente adequado,
favorecer o autoconhecimento, compartilhar de problemas semelhantes, resgatar a
criatividade e a espontaneidade dos usuários e propiciar mais qualidade de vida e
autonomia29.
Em complementaridade, na reabilitação a terapêutica pode não ser finalizada em
sessões presenciais, devendo ser um processo contínuo e reforçado pelos familiares e
cuidadores26.
Desse modo, a reinserção social consiste em uma diretriz preconizada nas políticas
dirigidas aos idosos e também um dos objetivos da reabilitação. É necessária a realização
de uma avaliação domiciliar para a orientação de familiares e cuidadores, preparando-os
para a alta do paciente/cliente, visto que a realidade do idoso em seu ambiente domiciliar
e social pode exigir adaptações 26.
A enfermagem pode contribuir concretamente na reabilitação do bem-estar psíquico
e físico não só do idoso, mas de seus familiares e dos profissionais que acompanham
este paciente/cliente, como o cuidador. Com isto, busca-se um ambiente mais saudável
para o cuidado do idoso25.
Considerações Finais
Mesmo diante do desafio referente ao aumento da violência contra o idoso, tem sido
observado o desenvolvimento de dispositivos legais para o enfrentamento dessa
realidade. Dessa forma, leis voltadas ao idoso têm configurado em importante medida de
proteção a este grupo etário. Todavia, para uma maior efetividade se faz necessário que
aconteça uma ampla divulgação destas leis, de forma a inserir, na sociedade, uma nova
mentalidade e um novo agir.
12
Salienta-se, também, a necessidade de uma maior atenção a esta problemática
pelos profissionais e gestores de saúde, tendo em vista que a violência contra o idoso
aparece de forma velada especialmente nas instituições e nos lares.
Em adição, as equipes de saúde vêm sendo desafiadas a exercer atividades cada
vez mais qualificadas, sendo essencial o desenvolvimento de estratégias que possibilitem
a interrupção dos ciclos de agressões e prováveis sequelas, o que torna imprescindível
que os profissionais de saúde assumam uma postura de responsabilidade pelos casos
identificados de violência contra o idoso e elabore ações preventivas, eficazes e
humanizadas, além da devida notificação dos casos.
Diante disso, o enfermeiro, que atua como um dos principais profissionais no
cuidado aos idosos vítimas de violência deve estar comprometido com ações que
garantam a prevenção, identificação de situações de risco, tratamento e reabilitação desta
população. Nesse sentido, o enfermeiro deve almejar as metas geradas pelas políticas
públicas de forma a nortear o atendimento e contribuir para o aumento da qualidade de
vida desse seguimento.
Sugere-se, ainda, novas pesquisas que possam tratar da questão de efetivação das
estratégias e diretrizes elaboradas para a proteção do idoso, além do desenvolvimento de
instrumentos e protocolos de atendimentos para os casos específicos de violência contra
idosos, capazes de nortear os serviços de saúde na assistência destes casos.
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Resumo Introdução: O envelhecimento populacional é