EDUCAÇÃO GERAL: UM DESAFIO PEDAGÓGICO NO ENSINO SUPERIOR 1 Cássia Ferri RESUMO Buscar a educação geral ou preparar os jovens e adultos universitários para os desafios do mercado de trabalho? Reflexões em torno desta indagação encontram-se neste artigo, em que se argumenta a favor de organizações curriculares para os cursos de graduação que possibilitem a formação de um profissional capaz de atuar de forma competente em sua área e de forma culturalmente comprometida com a comunidade na qual está inserido. Parte-se da concepção segundo a qual as organizações curriculares que se pautam pela promoção da educação geral pretendem assegurar conhecimentos, habilidades e hábitos do pensamento para uma apreciação crítica dos modos de conhecimento existentes, de como os conhecimentos são criados, como são usados e o que o conhecimento pode significar para o indivíduo. Reconhecendo estes como objetivos da educação, em especial da Educação Superior, e preocupados com a educação geral dos jovens universitários, entende-se que o desafio pedagógico a ser enfrentado por aqueles que compreendem as instituições de ensino superior como responsáveis pela formação de profissionaiscidadãos tem três aspectos importantes: a aprendizagem dos jovens e adultos universitários, a seleção e organização de conteúdos e procedimentos de ensino; e a instrumentação adequada para os processos avaliativos. Palavras-chave: Organização curricular; Educação Superior; Educação Geral; Formação Profissional; Formação Acadêmica. INTRODUÇÃO Buscar a educação geral ou preparar os jovens e adultos universitários para os desafios do mercado de trabalho? Esta parece ser a principal tensão enfrentada por aqueles que têm, atualmente, a tarefa de pensar o ensino nas instituições de educação superior. Esta resposta não é simples. Se assumirmos a ideia de que a educação é o meio pelo qual se pode promover a qualidade de vida, a racionalidade, o desenvolvimento da sensibilidade, a compreensão entre os seres humanos e a sociabilidade, o desenvolvimento econômico e a sustentabilidade ambiental – para citar alguns dos principais pontos que integram a agenda das sociedades 1 Doutora em Educação – Currículo. Professora e pesquisadora do Programa de Mestrado Acadêmico em Educação (PMAE) e Vice-Reitora de Graduação da Universidade do Vale do Itajaí - UNIVALI. contemporâneas –, é possível também afirmar, como o faz Sacristán (2001), que a fundamentação da democracia, o estímulo ao desenvolvimento da personalidade do sujeito, a difusão e o incremento do conhecimento e da cultura em geral, a inserção dos sujeitos no mundo, constituem fins e objetivos que dão sentido à educação. Na tentativa de colaborar com tal discussão, este texto pretende argumentar a favor de organizações curriculares2 para os cursos de graduação que possibilitem a formação de um profissional que atue de forma competente em sua área e de forma culturalmente comprometida3 com a comunidade na qual está inserido. Ao mesmo tempo, as organizações curriculares que se pautam pela promoção da educação geral, segundo Pereira (2000), pretendem assegurar que todos os estudantes adquiram conhecimentos, habilidades e hábitos do pensamento para uma apreciação crítica dos modos de conhecimento existentes, de como os conhecimentos são criados, como são usados e o que o conhecimento pode significar para o individuo pessoalmente. Reconhecendo estes como objetivos da educação, em especial da educação superior e preocupados com a educação geral dos jovens universitários, o desafio pedagógico a ser enfrentado por aqueles que compreendem as instituições de ensino superior como responsáveis pela formação de profissionais-cidadãos4 tem, na nossa perspectiva, três aspectos importantes que merecem atenção, a saber: a aprendizagem dos jovens e adultos universitários, a seleção e organização de conteúdos e procedimentos de ensino; e a instrumentação adequada para os processos avaliativos. 2 Pereira (2009) afirma, citando a experiência da Universidade de Harvard, a importância das reformulações curriculares como forma de manter a universidade atualizada mas também de promover, junto aos docentes, a necessidade de refletir sobre a diferença da mudança na formação do estudante. 3 Utilizamos a ideia de um profissional culturalmente comprometido a partir das discussões de Canen (1997). Para essa autora, o profissional culturalmente comprometido é aquele que problematiza visões de mundo limitantes e preconceituosas, que busca promover o desafio a preconceitos e discriminações e valoriza a pluralidade cultural em suas atividades diuturnas de planejamento, execução e avaliação. 4 Apropriamo-nos da ideia de profissional-cidadão expressa em Pereira (2007, p.65). Profissional-cidadão é, segundo a autora, “[...] aquele que se vê primeiramente como um cidadão ativo e significativo em seu tempo histórico e que age profissionalmente em sua área tendo, primordialmente, como perspectiva, a sua condição de cidadão inserido em uma sociedade e um mundo global e complexo”. 1 A APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO SUPERIOR Por que se preocupar com a aprendizagem de jovens e adultos – alunos das instituições de ensino superior? Santos Filho e Moraes (2000, p.7) abordando essa temática entendem que “as universidades e escolas, nos dias atuais, por um lado começam a se interconectar através do espaço cibernético e a se emaranhar em teias de novos significados, demandas e questionamentos, mas por outro, ainda estão imersas nos pressupostos e abordagens da ciência positiva moderna e atreladas a métodos didáticos tradicionais e convencionais” A velocidade, a fragmentação e a fluidez das relações sociais, entre outras características do mundo atual, nos indicam que é preciso atualizar nossa compreensão sobre os anseios e as necessidades dos jovens e adultos ingressantes nas instituições de ensino superior. Defendemos a ideia de que é preciso refletir sobre o papel pedagógico do professor na construção da qualidade das aprendizagens no ensino superior e defini-lo no âmbito da instituição. Assim, concordamos com Goergen (2006, p.122) quando, ao discutir a necessidade de competência de novos letramentos para a vida contemporânea afirma: Trate-se de desenvolver no educando não a capacidade de entender, processar e incorporar as informações que lhes chegam processadas pela mídia eletrônica, mas, sobretudo, de desenvolver neles a capacidade de percepção e elaboração racional das mensagens e sentidos políticos, éticos e estéticos que acompanham ocultos, as estratégias comunicativas contemporâneas (sic). Sacristán (2001) enfatiza, a respeito desta mesma temática, que as redes paralelas de informação e socialização não anulam o importante papel da escolarização tal como a define: A escolarização é um determinado modelo de educação multifuncional que tem ou deve ter uma orientação singular: é alfabetizadora-decodificadora do mundo material e social construído, mostra o mundo criticamente, difunde o conhecimento sistematizado e ordenado, propõe valores cujo alcance requer um autocontrole e uma disciplina racionais – tudo isso com vistas ao melhoramento individual e social (SACRISTÁN, 2001, p. 55). Como hoje sabemos que os processos psicológicos de desenvolvimento não se concluem com o final da adolescência, nem se estabilizam ou cessam na pessoa adulta, a compreensão do processo de aprendizagem de jovens e adultos universitários é da maior importância para a atuação competente tanto dos docentes como da instituição de ensino superior. Ao tratar da aprendizagem de estudantes universitários, Oliveira (2004) considera imprescindível o desenvolvimento da capacidade de autorregulação da aprendizagem. Segundo a autora, a capacidade de autorregulação da aprendizagem de estudantes universitários traduz-se como “[...] uso intencional de estratégias de domínio de funções mentais como atenção, memória e planejamento da ação que são funções autoconscientes essenciais aos processos de aprendizagem”. Disto conclui-se que a função mental da consciência é central nesses processos. Ao concluir seu artigo, Oliveira (2004, p. 10) enfatiza [...] a necessidade de, nas atividades educativas, incentivar os estudantes universitários a explicitar os próprios processos de aprendizagem, focando a auto-regulação da atenção, da memória e do planejamento da ação de aprendizagem e a atribuição de sentidos para o conteúdo, processos estes entendidos como essenciais na construção de aprendizagens significativas. Esta afirmação parte do princípio de que a aprendizagem, segundo os pressupostos da perspectiva histórico-cultural5, ocorre do nível interpsicológico para o intrapsicológico, ou seja, as aprendizagens ocorrem dinamicamente mediante o diálogo interpessoal e a apropriação individual. Assim, a execução em conjunto das tarefas favorece os processos de diálogo e negociação, seja das compreensões acerca do conhecimento de cada aluno sobre o objeto estudado, seja da forma de organização e registro das atividades. As pautas interativas se ampliam no atual contexto de uma sociedade global. Envolvidos cada vez mais em contextos interculturais, os estudantes universitários precisam, para além da compreensão dos próprios processos de aprendizagem, aprender a conviver, seja pessoal e/ou profissional, com diferentes culturas, línguas e tradições. De acordo com Rego (1994), é possível 5 Denominamos de perspectiva histórico-cultural as contribuições de L.S. Vygotski e seus colaboradores para a compreensão dos processos de aprendizagem. identificar alguns princípios e características da aprendizagem cooperativa, quais sejam: a) ajuda a assumir responsabilidades: o esperado é que haja uma ética de apoio entre os alunos à medida que estes prestam atenção mútua; b) contribui para educar para a democracia: além do poder motivacional de compartilhar a execução de metas acadêmicas, todos os estudantes se convertem em participantes do grupo com igualdade de oportunidades no processo de aprendizagem e com acesso aos recursos escolares que o promovem; c) favorece a estima, a diversidade e a heterogeneidade: não se trata apenas de educar para a tolerância, mas de remarcar o valor intrínseco e a riqueza humana e cultural do mundo e da sociedade em que vivemos. Há uma excelente oportunidade formativa em situações escolares que são compostas heterogeneamente, pois permitem um frutífero conhecimento das distintas identidades que caracterizam os membros da comunidade educativa. Caso se considere válido esse argumento, é preciso reconhecer que a compreensão dos modos como as pessoas aprendem e das condições sob as quais a aprendizagem se processa é necessária para que o professor possa identificar, à luz de elementos teóricos, o papel que desempenha no processo de ensino e aprendizagem. É também condição necessária para que (se for o caso) possa mudar – de modo refletido – o perfil de sua atuação, tornando mais gratificantes e eficientes a realização de seus objetivos, tantos os do ensino, como os pessoais. 2 APRENDIZAGEM, SELEÇÃO E ORGANIZAÇÃO DE CONTEÚDOS E PROCEDIMENTOS DE ENSINO: ARTICULAÇÕES NECESSÁRIAS Pretender alterações curriculares que promovam a educação geral dos estudantes universitários significa, também, implicar o corpo docente nessas mudanças. Pereira (2009), explicitando a reforma curricular da Universidade de Harvard, salienta a importância dada pelo reitor Lawrence H. Summers para a participação dos professores na reestruturação curricular. O reitor faz um apelo à ética dos docentes, definindo-a como dever essencial para o êxito do ensino (HARVARD, 2004 apud PEREIRA, 2009). (Texto original, para avaliação da professora Cássia - afirma “[...] que os docentes devem sempre considerar que a maior obrigação ética é a de fazer um bom e consciente trabalho no processo de ensino”) Embora nas universidades brasileiras esse debate seja incipiente, observa-se com mais freqüência o interesse de professores universitários em tornar seu trabalho mais efetivo e seus esforços para que as atividades em sala de aula contribuam eficazmente para a formação pessoal e profissional de seus alunos. Na maior parte das vezes, reconhecem que aulas expositivas, exercícios repetitivos e atividades sem significado precisam ceder espaço para atividades que construam conhecimentos de forma contextualizada, desenvolvam a capacidade de resolver problemas, incentivem a necessidade de criar etc. Do outro lado dessa relação, estão os estudantes universitários, sujeitos adultos e com capacidade de decisão. Uma das prerrogativas dos adultos é ‘saber o que querem’. No entanto, no atual contexto universitário, é preciso reconhecer que o grupo de alunos apresenta um perfil diversificado: há os que já são trabalhadores, os mais jovens, os que têm obrigações familiares, os que ainda não se decidiram se realmente querem se formar na profissão escolhida, os já definidos etc. Neste contexto heterogêneo considera-se que, para que ocorra aprendizagem, há necessidade de interação, ou seja, a aprendizagem dos alunos não depende apenas deles como também da capacidade dos professores de ajudá-los em sua diversidade, criando condições efetivas de aprendizagem. Isso significa perceber que, em alguns casos, mesmo que os alunos tenham capacidade mental necessária para realizar determinados processos de aprendizagem, não o fazem porque não sabem como fazê-lo. Em geral, em nossas atividades nas salas de aula, apenas solicitamos atividades que busquem o binômio conteúdo/habilidade, mas não nos preocupamos em oferecer a condição básica para que a atividade seja desenvolvida. Por exemplo: solicitamos que façam um esquema ou um resumo, porém não lhes demonstramos como fazê-lo. Demonstrar como conteúdos e habilidades podem estar relacionados na resolução de uma determinada atividade efetiva processos de elaboração conceitual possibilitando que os alunos se tornem conscientes do uso de suas capacidades mentais, tais como: atenção, memória, planejamento da ação, registro das informações. Libâneo (2005) argumenta que a promoção de atividades que estimulam a capacidade de raciocínio e julgamento e melhoram a capacidade reflexiva de nossos acadêmicos deve nortear a prática docente, pois essas capacidades os ajudarão a constituir-se “[...] como sujeitos pensantes, capazes de pensar e lidar com conceitos, argumentar, resolver problemas, para se defrontarem com dilemas e problemas da vida prática.” (LIBÂNEO, 2004, p.5). Para Fontana (1996, p.12), o processo de elaboração conceitual é um “[...] modo culturalmente desenvolvido dos indivíduos refletirem cognitivamente suas experiências”. A autora afirma também que “[...] os conceitos não são analisados como categorias intrínsecas da mente, nem como reflexo da experiência individual, mas sim como produtos históricos e significantes da atividade mental mobilizada a serviço da comunicação, do conhecimento e da resolução de problemas”. Reforçando essa idéia, León (2004) observa que só é possível falar de uma completa apropriação do conhecimento quando este é transformado em um ponto de vista, quer dizer, quando transforma a concepção e a atitude do estudante diante da realidade. Para essa autora, precisamos prestar atenção na escolha que fazemos dos conteúdos, considerando principalmente: a) aqueles que permitem práticas sociais concretas; b) os de alto valor metodológico e generalizador, ou seja, os que geram outros conhecimentos, ou ainda, os que conduzem à descoberta, à invenção, à resolução de problemas; c) os que permitem desenvolver pontos de vista sobre a realidade que cerca o estudante. Ao considerar estes aspectos, toma-se que, em atividades específicas (intencionalmente preparadas para este fim), o professor possa propiciar aos estudantes situações em que eles se habituem a problematizar o conhecimento e buscar regularidades nos fenômenos e processos implicados nas tarefas, formular estratégias para a busca do conhecimento, estimular a socialização de hipóteses e possibilidades com seus interlocutores, com vistas a enriquecer sua aprendizagem e contribuir para a do outro, desenvolver responsabilidade e exercitar a criticidade sobre o próprio processo de aprendizagem. 3 APRENDER, ENSINAR, AVALIAR: A INSTRUMENTAÇÃO ADEQUADA PARA OS PROCESSOS AVALIATIVOS Ao objetivar a educação geral para a formação de jovens e adultos universitários, os processos de ensino e aprendizagem na educação superior têm, também, como tarefa o desenvolvimento de habilidades de obtenção e processamento das informações. Desta forma, o registro/sistematização das atividades realizadas possibilita que o professor desencadeie, junto com seus alunos, reflexões sobre os modos de planejar, organizar e controlar as tarefas de aprendizagem. Isso possibilitará aos estudantes gradativa autonomia tanto no uso de seus próprios recursos cognitivos como no domínio de diversas formas de aprendizagem. Para o desenvolvimento dessas habilidades, uma metodologia possível6, dentre várias outras, é o uso, em sala de aula, de situações-problemas que auxiliem os universitários a: • identificar o problema (compreender enunciados, formular questões etc.); • procurar, selecionar e interpretar informações relativas ao problema; • formular hipóteses e prever resultados; 6 Outra forma metodológica que vem sendo experimentada e que se beneficia das tecnologias de comunicação e informação é a das “comunidades de aprendizagem”. Nestas comunidades, grupos de estudantes, mediados por um professor ou interlocutor mais experiente, interagem em torno dos objetos de aprendizagem e compartilham informações, conteúdos e experiências. • selecionar estratégias de resolução de problemas; • interpretar e criticar resultados numa situação concreta; • distinguir e utilizar raciocínios dedutivos e indutivos; • fazer e validar conjecturas, experimentando, recorrendo a modelos, esboços, fatos conhecidos, relações e propriedades; • discutir ideias e produzir argumentos convincentes. Pelas várias razões apontadas acima, compreendemos que o conhecimento será apropriado pelos estudantes universitários por meio da resolução de situações-problemas, à medida que estes empreguem determinados conceitos e, ao mesmo tempo, observem a influência desses conceitos sobre o contexto em que a ação está inserida. No entanto, concordamos com Talízina (1988 apud REZENDE; VALDES, 2006, p.1215), quando afirma que para se desvendar os mecanismos internos que caracterizam a atividade cognoscitiva não é suficiente verificar a capacidade de resolver determinadas situações-problema, pois a obtenção de uma resposta correta não significa necessariamente raciocínio correto; o indivíduo pode recorrer a tipos substancialmente diferentes de raciocínios, às vezes incorretos, para chegar à solução de uma situação-problema. Outras vezes, o indivíduo consegue resolver corretamente a situação-problema, porém, não tem consciência do porquê, nem sabe muito bem explicar o como. Portanto, não é suficiente que o professor ofereça diversificadas situações-problemas. Ele precisará acompanhar o modo como os universitários desenvolvem seus raciocínios e, com constante vigilância, oferecer reflexões e alternativas para mudanças de percurso. É nessa perspectiva que compreendemos a avaliação formativa. Promover a avaliação formativa implica procedimentos que possibilitem a apropriação do conhecimento e a utilização de instrumentos selecionados e organizados a partir das diversas etapas do processo de elaboração conceitual que permitam ao educando avaliar seus erros e identificar novos pontos de referência para rever e reorientar suas ações. Nessa perspectiva, Galperin (apud REZENDE e VALDES, 2006, p.1223) afirma que (...) é possível a utilização do modelo formativo-conceitual7 em níveis avançados de estudo, tendo em vista não a aprendizagem de uma habilidade ou um conhecimento em particular, mas tornar o aprendiz capaz de elaborar, de forma independente, a própria base orientadora da ação, criando condições para uma condução autônoma do processo de aprendizagem de novos conhecimentos. A definição dos instrumentos coerentes com os objetivos de aprendizagem é essencial para desencadear o processo de avaliação, todavia, não é suficiente. Após e/ou durante sua aplicação, o processo e o resultado do trabalho do aluno necessita ser observado e interpretado, exigindo do docente um registro, uma codificação dessa produção, que funcionará como um instrumento específico de análise. A interpretação dos resultados será mais fecunda se o professor coletar informações que lhe assegurem uma apreciação fundamentada do desempenho do aluno em relação à tarefa realizada. Nesse caso, pode lançar mão de instrumentos específicos que determinem os critérios, acompanhados de escalas que superem o modelo binário acerto/erro. CONSIDERAÇÕES FINAIS Se considerarmos, por um lado, que o acúmulo de informações e conteúdos das diversas áreas de conhecimento já não é mais possível e, por outro, que há necessidade de um ensino capaz de assegurar os mecanismos e métodos que possibilitem aos alunos a elaboração de novos conceitos, é imprescindível, ao decidir o que ensinar, selecionar novos conhecimentos. Ao mesmo tempo, em esfera mundial, discute-se a importância até então atribuída à especialização e passa-se a privilegiar a ideia de uma educação básica e uma cultura geral sólida. Obviamente, a reorganização das forças produtivas no mundo do trabalho e o modo social vigente tornam hegemônicas 7 A partir dos estudos de Vygotski, Galperin e seus colaboradores dedicaram-se ao estudo das ferramentas cognitivas que forneçam ao aprendiz recursos auxiliares para o pensamento, verificando se contribuem para a promoção efetiva da aprendizagem. Rezende e Valdes (2006) analisam as implicações pedagógicas da Teoria de Formação das Ações Mentais por Estágios, proposta por Galperin. as ideias de que, no futuro, o que prevalecerá será a capacidade de autoaprendizagem das pessoas. Assim, é preciso assegurar um saber geral que subsidie o processamento de novos conhecimentos e a versatilidade nos processos de adaptação às novas atividades no mundo do trabalho. Nessas discussões, a seleção dos conteúdos curriculares perde-se, muitas vezes, nas opções entre o “muito e superficialmente” e o “pouco, em profundidade”. O equilíbrio entre elas poderia ser definido pelos projetos pedagógicos. No entanto, seria necessário que os envolvidos na seleção dos conteúdos entendessem que conteúdos relevantes são aqueles que subsidiem os indivíduos para a compreensão e interpretação da realidade em que vivem e lhes fornecessem conhecimentos e habilidades para exercerem efetivo papel nas mudanças sociais. REFERÊNCIAS CANEN, A. Competência pedagógica e pluralidade cultural: eixo na formação de professores? Cadernos de Pesquisa. São Paulo, n. 102, p. 89-107, nov.1997. FONTANA, R.C. Mediação pedagógica na sala de aula. Campinas: Autores Associados, 1996. GOERGEN, P. A crise da identidade da universidade moderna. In.: SANTOS FILHO, J.C. & MORAES, S.E. (Orgs.) Escola e universidade na pósmodernidade. Campinas: Mercado de Letras, 2000. _____________. 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Apresentação. In: SANTOS FILHO, J.C. & MORAES, S.E. (Orgs.) Escola e universidade na pósmodernidade. Campinas: Mercado de Letras, 2000.