19º CONGRESSO BRASILEIRO DE PSICODRAMA “A Humanidade no século 21” A IMPORTÂNCIA DA PSICOTERAPIA DE GRUPO PSICODRAMÁTICA COM PACIENTES ONCOLÓGICOS E SEUS CUIDADORES AUTORA: RITA DE CÁSSIA REIS RABELO JÁCOMO ORIENTADORA: CLÁUDIA BARROZO INTRODUÇÃO Receber um diagnóstico de câncer, ainda nos dias atuais, é sinônimo de muito medo e apreensão. Quando o paciente chega para iniciar o tratamento oncológico, normalmente, encontra-se necessitando de todo apoio psicológico possível, uma vez que toda sua rotina de vida sofrerá mudanças que necessitarão de um novo rearranjo. Desse modo e pensando nessa acolhida, os hospitais têm procurado oferecer um espaço que possa fornecer uma escuta especializada, onde os pacientes possam falar de suas “dores”, medos, angústias e se sentirem acolhidos. Esse espaço é o grupo psicoterapêutico, o qual objetiva propiciar aos pacientes e cuidadores a oportunidade para que exponham seus receios, dificuldades e limitações relacionadas a esta enfermidade (câncer). Para ilustrar tal procedimento e clarear como isso acontece, este trabalho apresenta um estudo realizado em um grupo psicoterapêutico com pacientes portadores de câncer e seus cuidadores, tendo como tema as inter-relações entre o câncer, a psico-oncologia e o psicodrama, abordando a importância da psicoterapia de grupo psicodramática com pacientes oncológicos e seus cuidadores. OBJETIVO Investigar os efeitos da aplicação do psicodrama, no que se refere à teoria e metodologia de tratamento, e sua relevância consiste em apresentar tais contribuições. METODOLOGIA Foi formado um grupo psicoterapêutico por pacientes - oriundos de uma instituição particular conveniada da cidade de Goiânia-GO. - e seus cuidadores, que compareciam espontaneamente às terças-feiras, das 10h 30m às 12h, portanto, uma reunião semanal com duração de 90 minutos, o qual foi conduzido por uma psicóloga psicodramatista. Esse era um grupo tematizado (os assuntos tratados nas reuniões eram pertinentes ao câncer) e aberto (grupo que pode receber novos membros a cada reunião, sem que isto prejudique o andamento do mesmo; os membros de grupo aberto não têm o compromisso de participar de todas as sessões, eles comparecem quando lhes é possível). A IMPORTÂNCIA DA PSICOTERAPIA DE GRUPO PSICODRAMÁTICA COM PACIENTES ONCOLÓGICOS E SEUS CUIDADORES Os objetivos e importância desse grupo estavam relacionados a propiciar aos pacientes e cuidadores um espaço terapêutico para que pudessem falar das angústias, dificuldades e limitações relacionadas a esta enfermidade (câncer), desde a instalação até o seu desenvolvimento, incluindo os tratamentos e procedimentos medicamentosos pelos quais se submeteram, além de verificar como se sentiam no “aqui-agora” (CARVALHO, 1994). O grupo visou também compartilhar vivências, pensamentos, sentimentos e percepções, bem como promoveu estratégias positivas (favorecer a espontaneidade-criatividade e reorganização das conservas culturais) utilizadas no manejo da doença, incorporando-as ao seu cotidiano (MORENO, 1953/1992). Foi através da metodologia psicodramática, a qual a psicoterapeuta sempre lançava mão, que se pôde perceber os inúmeros insights ocorridos nos participantes do mesmo, era a catarse integradora acontecendo à luz da teoria moreniana que embasava as propostas feitas pela psicóloga (MORENO, 1959/1974). RESULTADOS O psicodrama foi de fundamental importância para o desempenho e desenvolvimento dos pacientes e dos cuidadores que participaram do grupo. Ali, eles viam a real possibilidade de serem espontâneos e criativos e de ressignificarem suas conservas culturais. Os pacientes, quando chegavam ao grupo, estavam, na maioria das vezes, muito amedrontados com as coisas que sempre ouviram falar a respeito de câncer (conservas culturais). Deste modo, então, eles chegavam com muito medo, principalmente da morte. Estas conservas culturais os controlavam de fora para dentro, estimulando a rigidez e impotência, evitando assim, o fluir da espontaneidade-criatividade (MORENO, 1946/1975). No grupo, seus componentes compartilhavam suas experiências, ouviam explicações sobre a doença e questões pertinentes à mesma e a psicoterapeuta trabalhava psicodramaticamente estes medos, conteúdos internos de tamanha dor. A cada encontro o que se percebia era que os membros do grupo estavam cada vez mais integrados consigo e com seus próximos e a mudança interna, tão necessária à melhora, acontecia dia após dia (MORENO, 1983). Era o psicodrama, com toda a sua teoria e metodologia, presenteando o grupo com a graça de acompanhar o crescimento e sucesso de seus membros. Era o retorno da espontaneidade-criatividade, o ressignificar de conservas culturais, o usufruir da riqueza metodológica que J. L. Moreno criou e disseminou. CONCLUSÃO Schávelzon (1961, apud Mello Filho, 1992) define a psico-oncologia como o ramo da medicina que presta assistência ao paciente com câncer, incluindo o seu contexto familiar e social. Assim, a psico-oncologia surge como uma área de estudo e atuação junto a pessoas com câncer, visando a abordagem dos aspectos psicológicos envolvidos no adoecimento e tratamento do paciente (INCA, 2006). Neste caso, a intervenção psicológica no grupo psicoterapêutico psicodramático objetivou levar o paciente a adquirir cada vez mais consciência do seu drama, de perceber-se no mundo, reconhecendo os papéis que evitava ou desempenhava sem espontaneide-criatividade; deste modo, permitiu-se a recriação da identidade dos membros do grupo. O paciente extravasou os limites do câncer, se percebeu, se viu como um ser humano que buscava se tratar e não tratar somente sua doença. Assim, quando se sentiu acolhido, tranquilo e confiante, começou a levar para o grupo conteúdos que o oportunizasse explorar suas dores latentes, sua sensibilidade e receios. Ele almejava, além de sua “cura física”, relacionarse com a saúde mais desejada e aclamada – a saúde da alma, das palavras não ditas, dos temores repreendidos –. Como dizia Fonseca Filho (1980), é quando ele sai de si e volta para si modificado. Desse movimento percebeu-se que a mudança terapêutica revelou-se no paciente/cuidador através do novo desempenho de papéis, não mais cristalizados, enfim, funcionais, adequados e criativos, levando-o à espontaneidade que favorece a saúde e autenticidade: o verdadeiro homem saudável de Moreno (MORENO, 1959/1974). BIBLIOGRAFIA Carvalho, V. A. Personalidade e câncer, In: Carvalho, M. M. M. J. (org.), Introdução à psiconcologia. Campinas: Psy, 1994. Fonseca Filho, J. de S. Psicodrama da loucura: correlações entre Buber e Moreno. 2ª. ed. São Paulo: Ágora, 1980. INCA – Instituto Nacional de Câncer, [Online]. http://www.inca.org.br/. nov./2006. Mello Filho, J. (org). Psicossomática hoje. Porto Alegre: Artes Médicas, 1992. Moreno, J. L. Psicodrama. [Tradução de Álvaro Cabral]. São Paulo: Cultrix, 1975. (Original publicado em 1946). ______. Quem sobreviverá? Fundamentos da sociometria, psicoterapia de grupo e sociodrama. [Tradução: Alessandra Rodrigues de Faria, Denise Lopes Rodrigues, Márcia Amaral Kafun; revisão Geraldo Francisco Amaral; Paulo Maurício de Oliveira]. Goiânia: Dimensão, V. I, 1992. (Original publicado em 1953). ______. Psicoterapia de grupo e psicodrama. Introdução à teoria e a práxis. [Tradução: Dr. Antônio C. Mazzaroto Cesarino Filho]. São Paulo: Mestre Jou, 1974. (Original publicado em 1959). ______. Fundamentos do psicodrama. [Tradução de Maria Silvia Mourão Neto; revisão Paulo Alberto Topal]. São Paulo: Summus, 1983. MINI CURRÍCULO RITA DE CÁSSIA REIS RABELO JÁCOMO – Psicóloga (PUC-GO.) – Psicodramatista (nível I - pela Sogep-GO.) – Psico-Oncologista pela Faculdade Ciências Médicas de Belo Horizonte – Responsável pelos Departamentos de Psicologia Clínica e Recursos Humanos do Hemolabor – Goiânia-GO. Contato: [email protected] Cláudia Barrozo – Orientadora SOGEP/PUC-GO. – Mestre em Psicologia do Desenvolvimento (PUC-GO.) e Psicodramatista Didata (SOGEP-GO.)