LINGÜÍSTICA NOSSA QUE SE PRETENDE SER DE CADA DIA
Publicado no Jornal Imagem (Nova Andradina-MS), 04/04/2009, pág. 02
ESTRUTURA FÍSICA DA ESCOLA: A CONSTITUIÇÃO DOS SENTIDOS
(uma discursividade a ser lida)
(segunda parte)
No texto anterior, foi abordado sobre alguns aspectos do espaço material e a
constituições de sentidos, ou seja, o espaço físico não significa nada por si só, não é
evidente. Em outras palavras, ele possui o sentido que possui a partir da historicidade da
comunidade em que ele se constitui.
Assim, de uma forma ou de outra os espaços físicos são divididos e disputados
politicamente enquanto elemento que possui significado, o que implica em demandas
discursivas ou disputas de sentidos, isto porque são ele significados com tudo que neles
venham a se inscrever. Cabe pensar qual é a discursividade que constitui os espaços
físicos em que as escolas estão construídas? Que tipo de representação o espaço
constitui para os sujeitos que nele se inscrevem? Ou que tipo de representação estes
espaços demandam socialmente? Talvez fosse significativo indagar também se o espaço
demanda algum efeito de sentido nos e para os sujeitos? Etc.
O formato arquitetônico ou estético das construções escolares é, em última
instância, representações discursivas de uma determinada época, de determinada
posição ideológica, não é apenas um projeto “técnico” imune à ideologia, até mesmo
porque nada escapa a ela. O projeto se constitui a partir de algumas orientações a
respeito dos sujeitos que nela irão se inscrever, o que implica considerar os sentidos que
socialmente lhes são atribuídos. Tido de outra forma, a estrutura física será pensada a
partir de quem nela vai se constituir e de quem pensa o espaço.
A título de exemplificação, se a escola for destinada para alunos das camadas
populares versus camadas de alunos socialmente mais favorecidas, se for escola
particular versus escola pública, se for uma escola para uma cidade de pequeno, de
médio ou de grande porte econômico, se for de uma cidade do interior versus cidade
grande, etc. Estas discursividades orientam o que concebemos projeto “técnico”. A
ideologia aí se manifeste também de forma preponderante.
Ainda pensando o formato arquitetônico, podemos considerar a forma que este
espaço é organizado e distribuído (controlado) para os sujeitos circularem nele e fora
dele, como corredores, salas, ante-salas, banheiros, secretaria, pátios, copa, quadras e
demais repartições. A constituição destes espaços representa discursividades específicas
para sujeitos específicos e seus possíveis sentidos atribuídos socialmente.
Outro fator considerável são as cores, elas não são aleatórias em suas
tonalidades, tipos, intensidades nos espaços específicos. As cores não possuem uma
discursividade que lhe seja própria, o que quer dizer que não são evidentes em si os
sentidos efeitos. Os sentidos são atribuídos a partir das condições materiais de
existência e utilização, não é ao acaso, assim, o branco significa paz, o vermelho pode
significar paixão, perigo, comunismo; já o preto pode significar luto para os cristãos,
medo, ou um sentido positivo para os mulçumanos, ou ainda a cor de movimento
cultural dark. Verde amarelo pode significar o Brasil, preto e vermelho juntos a cor do
Flamengo, o verde a natureza ou o time do Palmeiras, o azul o mar, rosa para mulheres,
e assim por diante.
As cores representam certas discursividades e como tal elas também
demandam efeitos de sentidos sobre e para os sujeitos, ou seja, de alguma forma como
concebe a psicologia, elas influenciam comportamentos e atitudes dos sujeitos expostos
a elas. Não é sem propósito que as escolas mais antigas e tradicionais as cores são mais
densas enquanto que algumas escolas “recentes” as cores são mais diversificadas e com
tons “suaves”.
Algumas particularidades discursivas ditas como estética ou funcional também
se faz presente nas formações imaginárias que operam nos discursos, pois, se
considerarmos que o investimento estético não é para e qualquer escola, em contra
partida, toda e qualquer escola deve ser funcional na sua distribuição dos espaços.
Podemos pensar comparadamente, o que se está tentando dizer, como casas populares e
casa para classe média. Para as casas populares há uma padronização “simples” que visa
diminuir custos, ou seja, uma estética funcional, quando se trata o popular, o que não é
o mesmo quando a padronização estética visa à classe média, há uma constituição
estética que agrega sentido e valor a mais da funcionalidade, isto a começar desde o
local até o tipo de material utilizado.
Talvez seja possível ainda pensar em outras particularidades como quadras,
auditório, teatro, estacionamento, como também o tipo de material utilizado e a própria
qualidade. Estas particularidades atribuem sentidos aos aspectos arquitetônicos e
estéticos da estrutura física da escola em sua relação constitutiva de quem vai nela se
inscrever.
Assim, se for possível pensar a estrutura arquitetônica das escolas ao longo do
tempo e as condições históricas, com certeza irá se deparar com formas diferenciadas,
estilizadas, com cores diversas, densidades específicas, tamanhos variados, distribuição
e organizações dos espaços específicos, material utilizado, considerando o que venha
significar a escola, o ensino e os sujeitos que nela se constitui.
Dessa forma, a divisão dos espaços significa o que os sujeitos que nela
significam em cada época, em cada conjuntura ou em cada posição ideológica. O lugar
de diretor, de professores, de alunos, de administrativos, de visitas etc. e é considerando
os sujeitos e seus sentidos que os espaços são organizados, planejados e distribuídos,
pois, os espaços tanto quanto as estruturas arquitetônicas são regradas, não possui nada
de si. Talvez fosse interessante uma parceria entre arquitetos, pedagogos, psicólogos e
psicanalistas para pensar as escolas em sua completude.
Para concluir, a proposta de pensar as questões problemáticas iniciando pelo
os aspectos físicos das escolas visa um deslocamento de sentido, pois, saber em que
medida o lugar escola e sua estrutura arquitetônica constituem sentidos em todo o
processo ensino aprendizagem é questionar analisando os sentidos prévios a escola, o
ensino para compreender todo o restante da escola.
Prof. Dr. Marlon Leal Rodrigues
Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul
Unidade Universitária de Nova Andradina
Núcleo de Estudos em Análise do Discurso
[email protected]
Download

uma discursividade a ser lida (segunda parte)