Aprendizado: experiência docente pela prática do PIBID
Leandro Henrique Ramos da Silva
Rayana Mendonça do Nascimento
Severino Brivaldo Alves de Souza Júnior
Resumo: Este trabalho tem como objetivo expor a experiência docente vivenciada nas
aulas de Sociologia em turmas do primeiro ano do ensino médio em uma escola pública
da região metropolitana do Recife através do Programa de Iniciação à Docência-PIBID.
No período de sete meses em que passamos atuando como observadores participantes na
escola foi possível levantar dados que proporcionaram este trabalho, os quais registramos
em nossos diários de campo, dando ênfase à ação epistemológica aplicada pelo professor
de Sociologia em sala de aula. O resultado deste trabalho se firma no aprendizado do
exercício da docência em Sociologia no ensino médio.
Palavras-chave: Sociologia, docência, experiência, aprendizado.
Participando do Programa de Iniciação à Docência - PIBID/Capes de Sociologia da
Universidade Federal de Pernambuco, que desempenha a função de aperfeiçoamento na
formação de professores no Brasil, foi possível vivenciar a experiência de observadores em
turmas de primeiro ano de ensino médio em uma escola pública da cidade do Recife Pernambuco.
Seguindo a linha proposta pelo projeto do programa, fomos inseridos no contexto da
escola pública e passamos a frequentar o ambiente escolar semanalmente, tomando nota de todas
as atividades exercidas pelo professor e pelos estudantes, e também de atividades extraclasse,
como conselho de classe e planejamento do eixo temático do ano letivo seguinte (planejamento),
juntamente com a escolha do livro didático de sociologia que seria usado em sala de aula.
Visando o bom desempenho formativo durante o programa de iniciação à docência,
fomos orientados pela coordenadora do PIBID - Sociologia a lermos os capítulos iniciais do livro
Saberes Docentes e Formação Profissional, do Professor e pesquisador canadense Maurice
Tardiff.
Foi a partir do primeiro capítulo, “Os professores diante do saber: esboço de uma
problemática do saber docente”, que busca revisar a ideia da diversidade do saber, na vida do
professor, tendo o docente como o acolhedor de inúmeras experiências que darão vigor ao seu
trabalho e desencadeará em uma proposta pedagógica de continuidades programada e adequada
ao real empirismo, que desenvolvemos nossa pesquisa voltada para o desempenho do professor
de Sociologia em sala de aula, diante da proposta educativa oferecida pelo Ministério da
Educação - Parâmetros Curriculares Nacionais e as Orientações Curriculares de Sociologia para
o Ensino Médio.
A pesquisa se firma em nosso aprendizado, construído na convivência com o professor da
disciplina de sociologia, que, diferente da realidade comum das escolas públicas brasileiras, as
quais possuem professores formados em outras disciplinas das ciências humanas lecionando a
disciplina de sociologia, tivemos a oportunidade de observar um profissional doutor na área de
sociologia desempenhando sua função no ambiente escolar.
Como nos diz Tardiff no capítulo introdutório do livro Saberes Docentes e Formação
Profissional, é o conjunto dos saberes que fundamentam o ato de ensinar no ambiente escolar, ou
seja, é essa formação que, agregada ao docente através de uma diversidade de fontes,
desenvolverá uma ação voltada para o processo de ensino, e foi observando um profissional de
sociologia lecionando sociologia, que percebemos a grade teórica e de experiência que tínhamos
a disposição, a formação do profissional, como um todo é peso forte no resultado final do
indivíduo como professor. É bastante relevante observar que, para Maurice Tardiff, o saber
docente se torna um além do intelecto, mas uma formação que reúne diversos fatores que vão
desde o ambiente familiar, até o desenvolvimento cognitivo. E essa ideia do saber docente, tem
por objetivo a formação do ser humano em suas dimensões, transformando a formação do
professor, em sua prática científica.
A nossa experiência de aprendizado foi conduzida pela observação participante feita no
período de sete meses e fincada na ideia central de formação e pesquisa, atribuindo à pesquisa, o
conhecimento, plural e temporal, todas as expressões do conhecimento/aprendizado, que são
necessárias para a prática do ensino. Aprender a ensinar propõe a ideia de que ensinar exige
abertura constante para uma formação contínua e constante em favor de um desempenho
propício e exemplar ao que se refere à docência.
Sobre esta questão Tardiff diz que:
“Se admitirmos que o saber dos professores não provém de uma fonte única,
mas de várias fontes e de diferentes momentos da história de vida e da carreira
profissional, essa própria diversidade levanta o problema da unificação e da
recomposição dos saberes no e pelo trabalho”
Pelo fato da disciplina de Sociologia no ensino médio não possuir um currículo unificado,
pois, não se chegou a uma unanimidade de conteúdos, não havendo assim consensos entre
tópicos e perspectivas, cabe ao professor planejar o que será dado àquela classe e analisar as
melhores práticas de ensino. Ao desenvolver suas aulas o professor coloca toda a sua vivência
profissional e saberes de toda uma vida. Na observação participante na escola, foi possível
identificar o toque pessoal do professor ao ministrar as aulas, com características de sua
personalidade, como trazer a teoria para o cotidiano dos alunos com um leve toque de humor,
trazendo assim aprendizado e uma relação mais estreita, sem barreiras.
O ensino da sociologia tem como prioridade a formação dos cidadãos críticos e o
exercício da cidadania, por isso a importância dos alunos observarem os fatos sociais de uma
forma em que os mesmos não pareçam apenas ordinários, triviais, corriqueiros ou até sem
necessidade de explicação, por isso a importância da metodologia que o professor vai utilizar ao
ministrar suas aulas. Em nossos diários de campo, podemos verificar em nossas observações que
o professor utilizou nas explanações de suas aulas sobre conceitos e teorias práticas de ensino
como aula expositiva, leitura e análise de textos, vídeos e excursões interdisciplinares. Quando as
aulas continham reportagens de jornais ou vídeos sobre o assunto dado, era possível observar
uma maior interação entre os alunos, discutindo e trazendo exemplos do cotidiano.
O que os professores ensinam evoluem com o tempo e com as mudanças sociais, por isso
a importância de mesmo ao ensinar teorias de décadas atrás utilizando exemplos que ocorrem do
dia a dia dos alunos facilitando assim a sua compreensão.
Sobre isso, Tardiff diz: “... as relações dos professores com os saberes nunca são relações
estritamente cognitivas: são relações mediadas pelo trabalho que lhes fornece princípios para
enfrentar e solucionar situações cotidianas”. É no dia a dia que o professor vai desenvolver parte
da experiência como docente.
Ser bolsista do PIBID, para os que pretendem ser professor, é um privilegiado pela
experiência que se é obtida pelo programa. É uma gama de conhecimentos que podem ser
adquiridos para formação do aluno de licenciatura. Pois o maior dilema existente para os
professores que ainda estão em formação é a curiosidade pela a relação pedagógica, se realmente
servem para ensinar ou não, se ser professor é o que eles querem como profissão, a experiência
pelo PIBID pode trazer respostas a estas questões. Vivenciar as inúmeras relações do espaço
escolar como relação aluno-professor, professor-professor, professor-escola, escola-comunidade,
já que o programa nos permite frequentar todos os espaços, é um rico acervo de aprendizado a
prática docente, como também pela troca de experiência entre o bolsista e o professor em sala de
aula, pelas observações que podem ser feitas do comportamento dos alunos, estrutura da escola,
documentos, plano de aula e de ensino, tudo o que faz parte da vida de um professor.
Aprende-se com a experiência, os vários recursos que podem ser utilizados em sala de
aula para uma maior participação dos alunos. Em nosso diário do campo pôde ser enumerado
alguns pontos: em primeiro lugar o respeito na relação professor-aluno é o elemento essencial
para o funcionamento da sala de aula. Mostrar que tem regras e quem as rege é o primeiro passo,
não com autoritarismo, mas sim com autoridade, e se tem vários recursos para isso. O professor
que conquista o respeito da sala de aula vai ter uma resistência menor ao seu método de ensino e
assim uma melhor relação de ensino-aprendizagem com seus alunos. Instigar a participação dos
alunos na aula é de suma importância. Mesmo os mais quietos. Todo aluno sempre tem algo a
falar na sala de aula, mas muitas vezes é ofuscado por outros colegas. Mesmo sendo uma tarefa
difícil, o professor deve estar sempre atento para alcançar a todos na sala de aula. Com os vários
recursos tecnológicos que temos na sociedade atual, isso deve ser explorado ao máximo para um
maior alcance e proximidade dos alunos com a aprendizagem. Já que os alunos da atualidade
vivem na “era da informática”, incentivá-los a utilizar e também o professor utilizar-se dessas
ferramentas, é vital para construção de conhecimento em sala de aula.
Em segundo lugar, um ponto importante observado, foi a formação continuada do
professor. O docente deve sempre estar pesquisando, nunca deve parar de ir atrás de novos
conceitos, novas ideias, de novos recursos para uma melhor forma de ensinar aos seus alunos.
Sempre tentando trazer os conceitos e teorias da sociologia para uma proximidade com sua
realidade social. Para uma melhor compreensão da disciplina é importante fazer essa conjuntura
de teoria com as mazelas sociais atuais.
Sobre este assunto Tardiff discorre:
“Aminha perspectiva procura, portanto, situar o saber do professor
na interface entre o individual e o social, entre o ator e o sistema,
a fim de captar a sua natureza social e individual como um todo.”
E em terceiro lugar, a importância do planejamento de aula. O planejamento anual para o
primeiro ano do ensino médio contemplava as principais teorias da tríade sociológica formada
por Karl Marx, Émile Dukheim e Marx Weber, além de temas atuais como consumismo e tribos
urbanas. O professor se utilizou das metodologias propostas construídas para o ensino de
Sociologia no nível médio e encontráveis nos parâmetros curriculares oficiais, nos livros
didáticos e mesmo nas escolas que são os conceitos, temas e teorias e colocou em prática na sala
de aula através de aulas expositivas, leitura e análise de textos, vídeos e excursões
interdisciplinares.
Um exemplo dessas metodologias aconteceu em duas aulas em que o professor utilizou a
divisão da turma observada em dois ou três grupos (o número dependia da quantidade de temas),
eram formados aleatoriamente por alunos que no momento estavam sentados próximos e cada
grupo fica responsável por ler seu tema, explicar o que entendeu para os demais grupos, os
outros poderiam fazer perguntas e assim surgiam debates, sempre mediados pelo professor, onde
foi possível observar o desenvolvimento da imaginação sociológica dos alunos.
Esse conjunto de observações, anotações e dia a dia na escola trouxe para nós exatamente
o aprendizado através da prática, finalidade principal do programa PIBID, abrindo os horizontes
em relação às principais duvidas que nos permeiam:como se comportar na sala de aula, como
explanar as teorias para os alunos, que metodologia deve ser aplicada para facilitar o aprendizado
daquele determinado assunto, como fazer um planejamento de aula, como diferenciar as ciências
sociais aprendida na graduação da sociologia voltada ao ensino médio..Comparando a teoria
estudada na nossa formação com a prática do programa na escola na qual observamos, pode ser
concluído uma diferenciação e o respeito que os alunos têm para com a disciplina sociologia.
Seja pela metodologia diferenciada da escola, seja pelo respeito por mérito do professor, que
cada vez que entra na sala reconstrói a ligação de forma harmoniosa com seus alunos. O
interesse dos alunos pela disciplina – que sempre foi nos passada a informação de um
estranhamento à sociologia – é realmente gratificante e motivador para nós que estamos em
formação. Encoraja-nos ainda mais a assumir a condição de professor de sociologia e formar
cidadãos que pensem a respeito da sociedade em que vive, e tentar melhorar a sociedade a qual
vivemos hoje em dia, sem respeito às diferenças e sem a preocupação com o bem-estar do outro.
Esse processo de aprendizado fortaleceu nossas pesquisas, nossa curiosidade pelo ensino da
sociologia e principalmente nos deu a certeza de sua importância na vida acadêmica, na vida em
sociedade e na formação dos nossos, jovens, no ensino médio.
Referências:
- TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional – Pertopólis, RJ: Vozes, 2002.
- http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/book_volume_03_internet.pdf acessado em 28 de
outubro de 2014.
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