UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO CURSO DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA GABRIELLE DELLELA BLENGINI PRÁTICAS PEDAGÓGICAS INOVADORAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL E SUAS RELAÇÕES COM A FORMAÇÃO INICIAL. SÃO CARLOS 2011 GABRIELLE DELLELA BLENGINI PRÁTICAS PEDAGÓGICAS INOVADORAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL E SUAS RELAÇÕES COM A FORMAÇÃO INICIAL Trabalho de Conclusão do Curso de Licenciatura em Pedagogia da Universidade Federal de São Carlos, como parte dos requisitos para a obtenção do Título de Graduação. Orientadora: Prof.ª Dr.ª Maria Cristina da Silveira Galan Fernandes. SÃO CARLOS 2011 GABRIELLE DELLELA BLENGINI PRÁTICAS PEDAGÓGICAS INOVADORAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL E SUAS RELAÇÕES COM A FORMAÇÃO INICIAL Trabalho de Conclusão do Curso de Licenciatura em Pedagogia da Universidade Federal de São Carlos, como parte dos requisitos para a obtenção do Título de Graduação. Orientadora: Prof.ª Dr.ª Maria Cristina da Silveira Galan Fernandes São Carlos, 05 de dezembro de 2011. Comissão Julgadora Orientador: Profa. Dra. Maria Cristina da Silveira Galan Fernandes____________________ 2o examinador: Profa. Dra. Alessandra Arce Hai ____________________________________ 3o examinador: Ms. Janaina C. Silva______________________________________________ “Trata-se de conhecer para mudar, de saber para participar, pesquisar para construir.” (DEMO, 1996, p.46) AGRADECIMENTOS Agradeço, particularmente, algumas pessoas pela contribuição direta na realização deste Trabalho de Conclusão de Curso. Primeiramente a Profa. Dra. Maria Cristina da Silveira Galan Fernandes, por sua paciência e dedicação, fazendo reflexões e posicionamentos de grande relevância para a minha formação, enquanto profissional da educação e pesquisadora. E por sua compreensão frente as minhas limitações humanas. Aos membros da banca de defesa do TCC, Profa. Dra. Alessandra Arce Hai e a Ms. Janaina C. Silva pelas contribuições na finalização do TCC. A diretora da unidade escolar em que fiz minhas observações práticas, por ter compreendido a importância de proporcionar a experiência da prática pedagógica e escolar cotidiana, para a pesquisa e, assim para a educação, sendo sempre muito prestativa e disposta a me atender. A todas as professoras da unidade, em especial, as professoras entrevistadas por terem compartilhado suas experiências como docentes, oferecendo a oportunidade de vivenciar as suas atuações escolares e as suas histórias de vida. A professora Valéria por suas contribuições relevantes para este trabalho, por ter me ajudado a ver ainda mais potencialidades na educação de qualidade. A Mariana por ter me ajudado a conseguir localizar as egressas do curso de pedagogia da UFSCar, entendendo como é difícil encontrar pessoas dispostas a contribuírem para as pesquisas na área da educação. Ao Thiago que com grande paciência me ajudou a fazer a transcrição das gravações das entrevistas com as professoras e por ter me transferido em muitos momentos sua serenidade. A minha Tia Rosina por ter investido nos meus estudos e acreditado na minha vontade de traçar novos rumos educacionais. Aos meus amigos, Bruno, Bianca, Camila, Dayane, Raízza e Wellinton, que sempre me deram forças e me alegraram nos momentos de angústia. Por fim, mas não menos importantes, aos meus pais Tereza e Reinaldo e meus irmãos, por terem me proporcionado um âmbito favorável ao aprendizado e também por me darem solidez nos momentos de maior dificuldade. BLENGINI, Gabrielle Dellela. Práticas pedagógicas inovadoras na educação infantil e suas relações com a formação inicial proporcionada na UFSCar. São Carlos: UFSCar, 2010. Páginas (81p) Universidade Federal de São Carlos. RESUMO Este Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) tem como objetivo analisar as possíveis relações entre a formação inicial das educadoras na graduação em Pedagogia com a presença de práticas pedagógicas inovadoras na educação infantil. Foi realizado um levantamento bibliográfico sobre a educação infantil no Brasil e as leis municipais de São Carlos e um estudo teórico-bibliográfico sobre as diferentes perspectivas das práticas pedagógicas inovadoras, com destaque para a pedagogia histórico-crítica. Examinou-se a formação inicial e a sua relevância para a atuação docente crítica. Buscou-se compreender a opinião de três egressas do curso de Pedagogia da UFSCar sobre suas práticas pedagógicas e as contribuições da formação inicial por meio de entrevistas semi-estruturadas. Observou-se, conjuntamente, por meio de inserções na escola, a prática pedagógica e a atuação docente de uma das três professoras pesquisadas. As educadoras também responderam um questionário socioeconômico, com a intenção de identificar em que contexto elas estão inseridas. Os dados das entrevistas foram tabulados em três eixos temáticos: formação docente; práticas inovadoras; e trabalho docente. Estes resultaram em categorias e subcategorias, que nos guiaram na análise. Os resultados da pesquisa evidenciaram que as professoras apresentam indícios de práticas pedagógicas relacionadas com a Pedagogia Ativa e que visualizam que suas formações iniciais, na graduação contribuíram significativamente para a prática educacional. Entretanto, não fazem o uso de práticas inovadoras na perspectiva crítica. Considera-se, portanto, que a pesquisa possa contribuir para a reflexão na universidade sobre a atuação profissional de seus egressos, assim como valorizar as ações das educadoras da rede municipal pública que participaram do estudo. Palavras-chave: Formação inicial. Práticas pedagógicas inovadoras. Educação Infantil. Atuação docente. LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS UFSCar – Universidade Federal de São Carlos CLT – Consolidação das Leis Trabalhistas LBA – Legislação Brasileira de Assistência ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente PNE – Plano Nacional de Educação Coneds – Congressos Nacionais de Educação LDB – Lei de Diretrizes e Bases RCNEI – Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil MEC – Ministério da Educação Fundeb – Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e Valorização do Magistério Fundef - Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e Valorização do Magistério SP – São Paulo UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura PPP – Projeto Político Pedagógico APM – Associação de Pais e Mestres TV – Televisão LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Formação dos Educadores.......................................................................................55 Figura 2 – Situação dos professores..........................................................................................56 Figura 3 – Pátio Interno............................................................................................................58 Figura 4 – Pátio Interno............................................................................................................58 Figura 5 – Secretária da Escola.................................................................................................58 Figura 6 – Sala de Materiais.....................................................................................................58 Figura 7 – Local das Mochilas..................................................................................................75 Figura 8 – Atividade Minha Janela...........................................................................................76 Figura 9 – Atividade Minha Janela...........................................................................................76 Figura 10 – Disposição das Mesas............................................................................................76 Figura 11 – Atividade Desenho com Indício............................................................................76 Figura 12 – Refeitório...............................................................................................................77 Figura 13 – Refeitório...............................................................................................................77 Figura 14 – Livro e cenas dos quebra-cabeças.........................................................................78 Figura 15 – Livro e cenas dos quebra-cabeças.........................................................................78 Figura 16 – Livro e cenas dos quebra-cabeças.........................................................................78 LISTA DE QUADROS Quadro 1 – Eixo temático: Formação Docente .......................................................................59 Quadro 2 – Eixo temático: Práticas Inovadoras......................................................................62 Quadro 3 – Eixo temático: Trabalho Docente..........................................................................65 SUMÁRIO INTRODUÇÃO................................................................................................................10 1. BREVE HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO INFANTIL NO BRASIL...........................14 1.1 Educação infantil no Brasil: história e legislação.........................................................14 1.2 A educação infantil na legislação municipal.................................................................22 2. PRÁTICAS INOVADORAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL E FORMAÇÃO INICIAL: CONTRIBUIÇÕES DA PERSPECTIVA CRÍTICO-DIALÉTICA.........25 2.1 Diferentes perspectivas da inovação pedagógica..........................................................26 2.2.1 Projeto educativo inovador na perspectiva crítica...............................................30 2.2 A importância da formação inicial na concretização das práticas pedagógicas inovadoras.....................................................................................................................36 2.3 O curso de Licenciatura em Pedagogia da UFSCar/ São Carlos...................................41 3. METODOLOGIA............................................................................................................43 3.1 Caminhos Percorridos...................................................................................................43 3.2 Tipo de pesquisa............................................................................................................43 3.3 Local e participantes da pesquisa..................................................................................44 3.4 Objetivos e procedimentos de pesquisa........................................................................44 3.5 Procedimentos de coleta de dados................................................................................45 3.6 Procedimentos para a análise dos dados.......................................................................48 4. ANÁLISE DOS DADOS..................................................................................................52 4.1 O perfil socioeconômico das professoras......................................................................52 4.2 Características da Escola em que atuam as professoras pesquisadas............................54 4.3 Resultados das Entrevistas: categorização e interpretação dos dados...........................59 4.4 A prática pedagógica observada....................................................................................66 CONSIDERAÇÕES FINAIS..........................................................................................69 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...........................................................................70 APÊNDICES....................................................................................................................75 Apêndice A - Exemplo do Diário de Campo................................................................75 Apêndice B - Questões da entrevista............................................................................79 Apêndice C - Questionário Socioeconômico................................................................80 10 INTRODUÇÃO Este trabalho tem como finalidade apresentar a pesquisa realizada, com o tema: “Práticas pedagógicas inovadoras na educação infantil e suas relações com a formação inicial”, sob orientação da Profa. Dra. Maria Cristina da Silveira Galan Fernandes. As primeiras ideias e reflexões para a pesquisa surgiram a partir do contato com a pesquisa e o grupo de estudos Sociologia, trabalho e educação desta professora, que tem se dedicado, desde o seu doutoramento, a questões relacionadas a práticas curriculares, qualidade de ensino e formação inicial no Ensino Superior. A partir das discussões com a professora e com o grupo de estudos, foi se delineando a possibilidade do desenvolvimento de minha pesquisa para o Trabalho de Conclusão de Curso, articulado à linha de pesquisa do grupo, que estuda as relações entre a concepção de qualidade, a formação inicial e o desenvolvimento de práticas pedagógicas inovadoras. Tais discussões passaram a interessar-me, uma vez que acredito que em minha formação em Pedagogia, tive pouco acesso a conhecimentos referentes a inovações pedagógicas, deixando algumas lacunas a serem preenchidas. O Curso de Licenciatura em Pedagogia da UFSCar ainda parece viver a dicotomia teoria/prática, uma vez que a matriz curricular que estou concluindo, referente ao período de 2007 a 2011, ainda possui a tradicional separação das disciplinas da maioria das universidades, apontada por Esteban e Zanccur (2002). Ou seja, primeiro são dadas as disciplinas teóricas, descontextualizadas e com pouca contribuição para a reflexão da prática pedagógica e a realidade do cotidiano escolar, e, em seguida, são ofertadas as disciplinas que indicam o “como fazer”, as metodologias, na tentativa de aplicação da teoria anteriormente estudada. E, tradicionalmente, colocam-se no final do curso e distante das disciplinas os estágios, como um treinamento para a ação docente. São dadas as disciplinas teóricas, inicialmente, que, por serem descontextualizadas, contribuem muito pouco para a reflexão sobre o processo ensino-aprendizagem e sobre as relações entre a prática pedagógica e o contexto social em sua totalidade, e ainda assim são entendidas como a ‘base’ para a atividade docente. As disciplinas ligadas ao saber. Em um momento posterior, são apresentadas as disciplinas ligadas à prática, aquelas que indicam o como, as metodologias, que funcionam como ‘aplicação’ do que foi teoricamente apresentado. São as disciplinas relacionadas ao saber fazer. E, finalmente, o estágio, tradicionalmente colocado no final do curso, freqüentemente isolado das disciplinas, entendido como um momento de treinamento para a efetiva ação docente. (ESTEBAN; ZACCUR, 2002, p.17-18) Como resultado de minha experiência com tal matriz curricular, os contatos com o grupo de estudos e meu interesse pessoal pela educação infantil, surgiram dúvidas e 11 questionamentos, assim como outras maneiras de reflexão sobre o que já havia sido estudado, ocasionando, com isso, a necessidade de busca de novos conhecimentos e a proposta do desenvolvimento desta pesquisa. Compreendendo que a “[...] pesquisa pressupõe uma fundamentação teórica consistente, uma ampla leitura crítica da bibliografia especializada, enfim uma longa estrada construída no espaço acadêmico.” (ESTEBAN; ZACCUR, 2002, p. 11). Entretanto, não podemos deixar de considerar que apesar da seriedade com que os pesquisadores brasileiros vêm produzindo estudos e caminhando com avanços, pouco tem se refletido dentro da rede escolar. Portanto, assim como destacam Esteban e Zaccur (2002), quem convive no cotidiano escolar não se reconhece na teoria e, por isso, se faz necessário, para os “produtores” de teorias que se atentem com a realidade educacional. Tendo em vista essas crenças, conjuntamente com a professora orientadora, optamos por fazer uma pesquisa de campo, para que fosse possível conviver juntamente com os sujeitos da pesquisa, por acreditarmos que dessa maneira estariamos produzindo um trabalho mais ligado a realidade educacional pública brasileira. É na pesquisa, na inserção cotidiana e nos diferentes espaços educativos, que surgem questões que alimentam a necessidade de saber mais, de melhor compreender o que esta sendo observado/vivenciado, de construir novas formas de percepção da realidade e de encontrar indícios que façam dos dilemas desafios que podem ser enfrentados. (ESTEBAN; ZACCUR, 2002, p. 22) Na busca pela organização dos pensamentos e ideias, foi elaborado um pré-projeto de pesquisa para nos guiar e orientar nos caminhos necessários para a concretização da mesma. A partir do pré-projeto, definimos o problema de pesquisa e os objetivos a serem alcançados. Tentamos examinar em que medida as práticas pedagógicas inovadoras na Educação Infantil se relacionam com a formação inicial oferecida na UFSCar em Licenciatura em Pedagogia. Entendemos que essa fase da escolarização possui grande importância, devendo ser proporcionada de maneira a melhor atender a necessidade infantil, ou seja, com qualidade. A formação inicial é a base para a atuação docente, principalmente para os professores recém formados e que quando ela é feita tendo por base inovações pedagógicas, pode ser a possibilidade de obter uma educação de qualidade. Para alcançar a resposta do problema de pesquisa, colocamos alguns objetivos. Primeiramente buscamos verificar a percepção de professores da educação infantil, egressas do Curso de Licenciatura em Pedagogia da UFSCar, sobre sua formação inicial na graduação. Consideramos importante também identificar na formação inicial dos professores entrevistados suas possíveis situações de contato, reflexões e experiências sobre práticas pedagógicas inovadoras e entender melhor a 12 questão das práticas inovadoras. Optamos por observar a prática pedagógica de um dos professores, procurando identificar a presença de possíveis práticas inovadoras. A procura pelos egressos do curso de Pedagogia da UFSCar não foi simples e a concretizamos apenas com o auxílio da secretária Municipal de Educação, pois não se tratava apenas de encontrá-los, era necessário que estes estivessem dispostos a participar da pesquisa e, no caso da inserção no contexto educacional, também era imprescindível a autorização da direção da escola. Vencida essa etapa, conseguimos realizar o trabalho de pesquisa com três professoras da rede municipal de São Carlos, que atuam em uma mesma escola. Isso nos facilitou muito, pois além de poupar o tempo do trabalho, acabamos por poder observar as interações e o cotidiano escolar das três professoras, mesmo que de maneira mais distante. Para a realização da pesquisa, decidimos realizar, com as três professoras, entrevistas semiestruturadas, um questionário socioeconômico e nos inserimos na prática cotidiana, através de um estágio voluntário, de uma das professoras pesquisada. Observando a prática, conseguimos refletir sobre as interações entre professor/aluno, entre professor/professor e professor/direção. Juntamente com as inserções, fizemos um levantamento bibliográfico, na área de educação, acreditando que “A teoria funciona como lentes que são postas diante de nossos olhos, nos ajudando a enxergar o que antes não éramos capazes” (ESTEBAN; ZACCUR, 2002, p. 21). Buscamos bibliografias que tivessem suas bases teóricas apoiadas no materialismo dialético e nos alicerçamos na pedagogia histórico-crítica proposta por Saviani (1999) e exemplificada metodologicamente por Marsiglia (2011). Completada as observações práticas, começamos a organizar a pesquisa e dividimos o trabalho em capítulos para facilitar a exposição das reflexões. O primeiro capítulo contou com um breve histórico da Educação Infantil, no qual fizemos um levantamento da história da educação infantil, destacando o contexto do seu surgimento, como este ocorreu e quais as suas implicações para a educação, de maneira breve e sucinta a título de contextualização da etapa da educação escolhida para o estudo. Conjuntamente abordamos o que os documentos oficiais propõem atualmente para a Educação Infantil e a situação desta na rede municipal de São Carlos. No segundo capítulo expusemos, primeiramente, as diferentes visões de práticas pedagógicas inovadoras e destacamos como estas podem ser fundamentadas em diferentes abordagens teóricas; a seguir enfatizamos o referencial teórico crítico-dialético e a perspectiva da pedagogia histórico-crítica, buscando mostrar os avanços desse referencial para a efetivação de práticas inovadoras e da qualidade na educação. Procuramos também destacar a 13 importância do projeto educativo inovador, com a intenção de todos os agentes escolares e a comunidade caminharem na mesma direção. Por fim, destacamos a importância da formação inicial para a concretização das práticas pedagógicas inovadoras. O terceiro capítulo foi reservado para o detalhamento da metodologia utilizada na pesquisa. Descrevemos, portanto, os caminhos percorridos no trabalho. Fizemos a escolha pela abordagem qualitativa. No quarto e último capítulo realizamos a análise de dados obtidos a partir do questionário socioeconômico, das entrevistas semi-estruturadas, das observações diretas e do Projeto Político Pedagógico da Escola. Com base na categorização das informações conseguidas, realizamos a interpretação dos sentidos que as professoras atribuem a sua formação inicial e prática pedagógica. Por fim, apresentamos as Considerações Finais, buscando refletir a respeito de toda a pesquisa que realizamos e os aprendizados obtidos a partir dela, entendendo que todo o conhecimento se constrói num processo coletivo e os crescimentos, sejam individuais ou coletivos, são resultados da permuta de reflexões e de experiências. 14 1. BREVE HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO INFANTIL NO BRASIL Este capítulo tem como objetivo apresentar alguns aspectos da história da Educação Infantil no Brasil, destacando o contexto do seu surgimento, no período colonial no Brasil, o Movimento pela luta de creches, e outros movimentos sociais que lutaram pelos direitos das crianças, como eles ocorreram e quais as suas implicações para a educação atual. Destacamos nesse contexto histórico a discussão entre educar e cuidar, pois este é um impasse que permeia esta modalidade da educação, uma vez que as instituições infantis tiveram no decorrer de sua história diferentes funções, passando desde o assistencialismo até a função educativa. Apresentamos também uma breve análise dos documentos oficiais, colocando, o que estes propõem atualmente para a Educação Infantil, partindo das primeiras legislações, e mostrando o avanço que ocorreu nos direitos da criança, reconhecendo-a como cidadã, possuidora de direitos, como o direito a educação de qualidade, desde seus primeiros anos de vida. E, finalmente, apresentamos a situação da Educação Infantil na legislação da rede municipal de São Carlos, município em que será realizada a pesquisa que fundamenta este trabalho. 1.1. Educação Infantil no Brasil: história e legislação A questão da educação infantil começa a ser pensada e discutida no Brasil já no período colonial. Alguns fatores, como a alta mortalidade infantil, a desnutrição generalizada das crianças e o grande número de abandonados, mobilizaram setores da sociedade, como os religiosos, os comerciantes e os educadores a propor soluções para estes, sendo uma delas a criação de espaços de atendimento e cuidados da criança fora do âmbito familiar. Uma das primeiras formas de acolhimento de crianças abandonadas foi a Roda dos Expostos inventada na Europa Medieval e trazida para o Brasil em 1726 mantendo-se em atividade até 1950 (ABRAMOWICZ, 2006). A Roda dos Expostos consistia em metade de uma caixa cilíndrica, acoplada a um eixo giratório e instalada no muro da Santa Casa de Misericórdia, onde as mães ou outra pessoa da família colocavam os bebês abandonados, girava a roda, puxava uma corda, com a intenção de avisar que mais um bebê acabava de ser deixado e retirava-se do lugar na intenção de preservar sua identidade. Esta era uma solução para as crianças abandonadas no Brasil colonial, mas que continuava resultando em grande foco de mortalidade infantil, por causa das 15 péssimas condições de atendimento e também pelo grande número de crianças abandonadas, mesmo assim ela permaneceu como a única solução de assistência a criança por mais de um século no Brasil, mesmo existindo muitos movimentos contrários a ela. Kuhlmann (1998) coloca que as primeiras propostas de instituições pré-escolares no Brasil, ocorreram no Rio de Janeiro. O autor destaca o ano de 1899, quando se fundou o Instituto de Proteção e Assistência à Infância do Rio de Janeiro e também aconteceu a inauguração da creche da Companhia de Fiação e Tecidos Corcovados. Esta foi a primeira creche brasileira a atender os filhos dos operários, de que se tem registro. No entanto, foi no ano de 1879, que aconteceram os primeiros movimentos, que discutiram a necessidade da criação das creches em nosso país, como se vê no artigo de jornal, intitulado A Mãi de Família. Este artigo ainda não refletia sobre a necessidade de criação das creches para o atendimento das crianças filhas de mães operárias, pois aqui no Brasil, neste período ainda não se tinha uma demanda efetiva deste setor, mas para o atendimento das crianças abandonadas, com a intenção de oferecer-lhes educação. (KUHLMANN, 1998) Segundo Abramowicz (2006), no final do século XIX, com a Lei do Ventre Livre (28 de setembro de 1871) e o final da escravidão no país, acentuou-se a imigração para as grandes cidades. Com o início da República, algumas iniciativas de proteção a infância, no sentido de controlar os grandes índices de mortalidade infantil passaram a ser tomadas. Esta autora (ABRAMOWICZ, 2006, p.19-20) coloca que: Associado a este procedimento de acolhimento de crianças a partir da Lei do Ventre Livre, coloca-se em discussão a necessidade da criação de creches no Brasil, para atender filhos das mulheres que, com o fim da escravidão, precisavam trabalhar, mas seus patrões já não teriam motivos nem interesse em receber em suas casas os filhos dos empregados. As tendências que acompanharam a implantação de creches e jardins de infância, no final do século XIX e durante as primeiras décadas do século XX no Brasil, tinham, portanto, a intenção de combater o alto índice de mortalidade infantil, tanto no interior da família como nas instituições de atendimento à infância; e principalmente dar assistência as crianças de mães trabalhadoras. Com o início da industrialização no país, ampliou-se a inserção de mãode-obra feminina no mercado de trabalho, o que resultou mais tarde em movimentos que ganharam forças, já que os trabalhadores começaram a se organizar e a reivindicar, a criação de instituições de educação para os cuidados de seus filhos (PASCHOAL; MACHADO, 2009). Observamos assim, que a educação das crianças permaneceu por muito tempo como assunto da família, principalmente na sociedade brasileira, que se caracterizava por ter 16 famílias patriarcais. Mas as instituições para atendimento dessas crianças apareceram com a intenção de cuidar dos filhos das classes menos favorecidas, isto é, das crianças, filhos de pais operários, ou de empregadas domésticas, os quais precisavam trabalhar e não queriam deixálas desamparadas. (KUHLMANN, 1998) De acordo com Kuhlmann (1998, p.82): A creche para as crianças de 0 a 3 anos foi vista como muito mais do que um aperfeiçoamento das Casas de Expostos, que recebiam as crianças abandonadas; pelo contrário, foi apresentada em substituição ou oposição a estas, para que as mães não abandonassem suas crianças. Segundo este mesmo autor com o intuito de acalmar os movimentos operários, os donos das fábricas, passaram a firmar alguns benefícios sociais, vendo que poderiam controlar o comportamento dos trabalhadores dentro e fora das indústrias, pois o fato de seus filhos estarem sendo amparados em creches, montadas pelas fábricas, foi visto por muitos trabalhadores como algo vantajoso. E, ao se sentirem satisfeitos, seria uma maneira de serem mais produtivos (KUHLMANN, 1998). Como exemplo dos benefícios, Kuhlmann (1998) coloca que a fábrica do Corcovado já havia criado o Montepio dos Operários em 1896, com a intenção de prestar assistência médica e dentária, socorros funerários e pecuniários, aos empregados e as suas famílias. Estas instituições implementadas pelas indústrias atendiam as crianças não apenas no período de amamentação, mas até aos seis anos, garantindo a guarda, os cuidados e a educação. Suas mães operárias possuíam grandes jornadas de trabalho, com pouca remuneração, por isso, sempre estavam engajadas em lutas por melhores condições de trabalho, salário e redução da carga horária. Mesmo conseguindo alguns destes benefícios, as reivindicações continuavam sempre no sentido da proteção à maternidade e às crianças, à criação de creches, além das lutas já citadas (ABRAMOWICZ, 2006). Abramowicz (2006) destaca que foi a partir de 1930, que algumas ações do Estado passaram a instituir dispositivos legais com o objetivo de garantir o direito de educação aos filhos dos operários, como na Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), pelo então presidente Getulio Vargas de 19431, modificada em 1967, que fez algumas regulamentações das relações individuais e coletivas do trabalho. Esses dispositivos colocavam a obrigatoriedade para as empresas da criação de um local para a amamentação dos filhos das operárias, quando estas eram em um número igual ou superior a trinta mulheres. No entanto, foi apenas em 1977, segundo Abramowicz (2006), que o Estado adotou uma política para estender a rede de creches, de forma a poder atender mais crianças, mas este 1 Decreto-Lei nº 5.452, de 1 de maio de 1943. 17 atendimento ainda não era dever do Estado e nem direito da criança. Este estava mais ligado a questões de caridade e filantropia e era pautado em um tipo de educação assistencialista, com base no cuidar, alimentar, higienizar e colocar para dormir, o que se diferenciava do modelo proposto para crianças de mesma idade, mas de classes sociais superiores, cujos pais poderiam pagar pela educação. Estas funcionavam meio turno e davam ênfase à socialização e à preparação para o ensino regular. Percebemos, portanto, que as crianças de diferentes classes sociais eram educadas em diferentes contextos de desenvolvimento, configurando-se, assim, duas redes: a pré-escola e a creche. As pré-escolas destinam-se as crianças com maiores possibilidades econômicas e as creches para as crianças das classes populares. Atuam nessas duas redes, dois perfis diferentes de profissionais com formações distintas: as pré-escolas chamam de professores os profissionais que lá atuam; as creches os denominam pajens, monitores, crecheiros, auxiliares de desenvolvimento infantil. As pré-escolas, em geral, funcionavam em meio período, as creches em período integral. Essas diferenças produziam práticas educativas e pedagógicas distintas na rede de ensino. (ABRAMOWICZ, 2006, p.22). De acordo com a mesma autora (ABRAMOWICZ, 2006), foi devido à preocupação em atender todas as crianças, não fazendo distinção de classe social, que começou um movimento no sentido da regulamentação no âmbito da legislação. No entanto, até o final dos anos setenta do século XX, pouco ainda se tinha feito em termos de garantias na legislação da oferta para a Educação Infantil, mas iniciaram-se alguns movimentos de luta pela ampliação da oferta de creches e ainda passou-se a discutir também a respeito da sua função. A discussão passou a fazer parte do discurso de organizações não-governamentais, pesquisadores na área da educação, associações de mulheres e donas-de-casa, fóruns municipais, estaduais e nacionais. Em 1979, foi criado o Movimento de Lutas por Creches, durante o Primeiro Congresso da Mulher Paulista, o qual exigia que as creches fossem financiadas totalmente pelo Estado e pelas empresas, fossem estabelecidas perto do lugar de moradia e de trabalho das mães, e como já foi colocado que não fosse um mero lugar para se depositar as crianças, mas que o atendimento delas fosse feito por especialistas da educação e que estes, juntamente com os pais pudessem elaborar orientações pedagógicas (ABRAMOWICZ, 2006). Nas reivindicações, como destaca Abramowicz (2006), se exigia: a participação do Estado e da Secretaria da Educação no financiamento da educação de crianças de 0 a 6 anos; a mudança na visão de cuidar para educar; a incorporação das creches pelas secretarias de educação, uma vez que a obrigação era das secretarias de assistência e promoção social; e a 18 afirmação do direito da criança pequena a educação, como direito da própria criança e não mais de suas mães. Portanto, foi no início dos anos de 1980, que se passou a reivindicar que as instituições atendessem as crianças de 0 a 6 anos, proporcionando-lhes educação. Assim, o educar em creches, durante os primeiros anos de vida, deixou de ser apenas o lugar em que se realizavam os cuidados, onde se assistia e se higienizava as crianças, passando a desenvolver uma educação de qualidade desde os primeiros anos de vida das crianças (ABRAMOWICZ, 2006). Tais reivindicações começaram a ser atendidas legalmente na Constituição de 1988, que representou a primeira conquista dos movimentos sociais por creches, uma vez que define como direito da criança de 0 a 6 anos e dever do Estado o atendimento em creches e préescolas, em seu artigo 208, inciso IV “O dever do Estado para a educação será efetivado mediante a garantia de creches e pré-escolas as crianças de zero seis anos de idade” (BRASIL, 1988). A partir da Constituição de 1988 a educação infantil deixou de se constituir como caridade para se transformar, ainda que apenas legalmente, em obrigação do Estado e direito da criança. (BRASIL, 2006). Antes da Lei, o que existia no Brasil eram tentativas ligadas à área de assistência social, como observa Abramowicz (2006), ao relatar o Projeto Casulo, o qual foi o primeiro projeto nacional de Educação pré-escolar de massa. Era mantido pela Legislação Brasileira de Assistência (LBA), e teve início em 1977, fazendo o atendimento de crianças de 0 a 6 anos, com os objetivos apenas de assistência, desenvolvimento da criança e atendimento em redes, possuindo, portanto, forte conotação de prevenção e ação compensatória, uma vez que almejava suprir as carências das crianças e prepará-las para a entrada na escolaridade obrigatória. Essa ação compensatória foi resultado do entendimento de que as desigualdades de aprendizagem apresentadas pelas crianças seriam sanadas, mediante oferta de alimentação e afeto, apenas. Segundo a mesma autora, essa política compensatória “[...] se colocava a serviço da produção de idéias que não questionavam a base material da sociedade produtora da desigualdade” (ABRAMOWICZ, 2006, p. 28). Dois anos após a elaboração da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, outro avanço ocorreu no que diz respeito aos direitos das crianças e dos adolescentes, com a aprovação do Estatuto da Criança e do Adolescente2 - (ECA), o qual traz em seu Artigo 3º: A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo de proteção integral de que trata essa Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e 2 Lei nº 8.069 de julho de 1990. 19 facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental e moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade(SÃO CARLOS, 2007, p.4). Este documento reafirmou também o direito à educação das crianças pequenas, como vemos em seu Artigo 54º: “É dever do Estado assegurar a criança e o adolescente: IV atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a seis anos de idade” (SÃO CARLOS, 2007, p.22). O ECA significou vários avanços, sendo considerado mais do que um simples instrumento jurídico, na medida em que, assim como destacou Ferreira (2000, apud PASCHOAL; MACHADO, 2009, p. 184): Inseriu as crianças e adolescentes no mundo dos direitos humanos. O ECA estabeleceu um sistema de elaboração e fiscalização de políticas públicas voltadas para a infância, tentando com isso impedir desmandos, desvios de verbas e violações dos direitos das crianças. Serviu ainda como base para a construção de uma nova forma de olhar a criança: uma criança com direito de ser criança. Direito ao afeto, direito de brincar, direito de querer, direito de não querer, direito de conhecer, direito de sonhar. Isso quer dizer que são atores do próprio desenvolvimento. Abramowicz (2006) destaca que em relação à educação, outra conquista dos movimentos sociais ocorreu em 1996 no Fórum Nacional de Defesa da Escola Pública, o qual teve um papel importante na organização da sociedade para a construção do Plano Nacional de Educação (PNE), documento este de suma importância para o entendimento das políticas públicas para a Educação Infantil. Duas propostas de Plano Nacional de Educação Foram feitas, uma pela sociedade brasileira, pensada e organizada em Congressos Nacionais de Educação (Coneds) e outras instâncias e outra proposta articulada por representantes do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, órgão este ligado ao MEC. Segundo a mesma autora (ABRAMOWICZ, 2006), a versão aprovada do PNE, compreende um substitutivo do relator deputado Nelson Marchesan, a qual contou com a incorporação de contribuição das duas propostas feitas, isto é, tanto a proposta do deputado Ivana Valente, projeto que trazia as elaborações coletivas da sociedade brasileira, quanto a proposta apresentada pelo Poder Executivo (via MEC). O PNE trouxe questões como a ampliação da Educação Infantil e também um Programa Nacional de Formação de Profissionais de Educação Infantil. Entretanto, o PNE, não faz indicações de fontes de 20 recursos para garantir as expansões apontadas, afirmando, apenas, a importância do Fundef 3 para o financiamento do Ensino Fundamental. Contando com uma tramitação de oito anos no Congresso Nacional e muita mobilização social, foi promulgada a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional4 em 1996, a qual, entretanto, não garantiu o salário-creche, assim como trazia o projeto de lei substitutivo Jorge Hage, como também não deixou explícita a necessidade de autorização para o financiamento das instituições de Educação Infantil, pelo pode público. O que esta lei trouxe foi a reafirmação do dever do Estado, e o reforço da gratuidade do atendimento, ou seja, o direito à educação das crianças de 0 a 6 anos. Como podemos observar no Título III, art. 4º: “O dever do Estado com educação escolar pública será efetivado mediante a garantia de: VI - atendimento gratuito em creches e pré-escolas às crianças de zero a seis anos de idade” (BRASIL, MEC. LDB- LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO NACIONAL, 1996) Assim como afirma Abramowicz (2006), outras questões de relevância foram trazidas na LDB, as quais dizem respeito ao estabelecimento da educação infantil como primeira etapa da educação básica e suas finalidades, à definição da faixa etária que deve ser atendida em creches e pré-escolas, ao modo de avaliação desta etapa da educação e à formação mínima exigida do magistério da Educação Infantil. Estas questões foram destacadas nos seguintes trechos deste documento: TÍTULO V – Dos níveis e das Modalidades de Educação e Ensino Capítulo II – Da Educação Básica Seção II – Da Educação Infantil Art. 29º. A educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade. Art. 30º. A educação infantil será oferecida em: I - creches, ou entidades equivalentes, para crianças de até três anos de idade; II - pré-escolas, para as crianças de quatro a seis anos de idade. Art. 31º. Na educação infantil a avaliação far-se-á mediante acompanhamento e registro do seu desenvolvimento, sem o objetivo de promoção, mesmo para o acesso ao ensino fundamental. TÍTULO VI – Dos Profissionais da Educação 3 O Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (Fundef) foi instituído pela Emenda Constitucional nº 14, de 12 de setembro de 1996, e regulamentado pela Lei nº 9.424, de 24 de dezembro do mesmo ano, e pelo Decreto nº 2.264, de 27 de junho de 1997. Foi implantado em 1º de janeiro de 1998. Trouxe como inovação a mudança da estrutura de financiamento do ensino fundamental no país, pela subvinculação de uma parcela dos recursos destinados a esse nível de ensino. 4 Lei n. 9394/96. 21 Art. 62º. A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, em universidades e institutos superiores de educação, admitida, como formação mínima para o exercício do magistério na educação infantil e nas quatro primeiras séries do ensino fundamental, a oferecida em nível médio, na modalidade Normal. (BRASIL, MEC. LDB- LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO NACIONAL, 1996) Outro documento que dá pareceres da modalidade de educação que estamos abordando é o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI), o qual foi elaborado por uma equipe de profissionais do MEC com base na concepção de Educação Infantil do governo Fernando Henrique Cardoso. No entanto, para muitos pesquisadores da área ele não significa mais avanços. Abramowicz (2006) afirma que para alguns pesquisadores este documento significa uma ponte de inflexão na trajetória que vinha sendo desenvolvida anteriormente pela Coordenadoria de Educação Infantil; uma espécie de “desvio de rota”, uma vez que se caracterizou pela produção de referenciais e diretrizes curriculares nacionais e não por parâmetros de qualidade. Segundo a autora (ABRAMOWICZ, 2006, p. 50): - O Referencial prioriza um tipo de criança e infância, especialmente a infância urbana das crianças com mais poder aquisitivo e nos afasta da realidade da maioria das creches brasileiras. - Quanto à grade curricular, o Referencial tem características que se assemelham a Educação Fundamental e ignora ou desconsidera parte dos conhecimentos anteriormente sistematizados e divulgados. Em 2005, tivemos outro documento, a Política de Educação Infantil: pelo direito das crianças de zero a seis anos à Educação, surgindo a partir de reflexões dos Seminários Regionais de Educação Infantil e trazendo metas e objetivos para a Educação Infantil, como: reafirma o direito da criança pequena a educação destacando a necessidade de profissionais de qualidade para atuarem na educação infantil; a importância de uma política para esta modalidade de educação, articulada a políticas de saúde, assistência social, justiça, direitos humanos, cultura, mulher e diversidades, como também aos Fóruns de Educação Infantil e outras organizações da sociedade civil; a necessidade de garantir espaços físicos adequados às instituições de Educação Infantil; a sugestão, ainda, de algumas estratégias de financiamento para a manutenção e desenvolvimento da Educação Infantil, a incluindo no sistema de financiamento da Educação Básica, garantindo a inclusão da responsabilidade orçamentária da União para a manutenção; e a continuidade do atendimento às crianças de 0 a 6 anos (ABRAMOWICZ , 2006). 22 Ao mesmo tempo em que o MEC propôs a inclusão da Educação Infantil no sistema de financiamento da Educação Básica, criou o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e Valorização do Magistério (Fundeb), como substituto do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (Fundef). O Fundeb, portanto, passou a atender toda a educação básica, da creche ao ensino médio. O Fundeb está em vigor desde janeiro de 2007 e se estenderá até 2020. É um importante compromisso da União com a educação básica, na medida em que aumenta os recursos federais. Dessa maneira, o Fundeb tem como principal objetivo promover a redistribuição dos recursos vinculados à educação. Esta destinação dos investimentos é feita de acordo com o número de alunos da educação básica. Esse repasse de verbas significa mais uma vez uma conquista dos movimentos populares que se organizaram para defender as crianças e seus diretos, como a educação pública em creches (BRASIL, Fundeb) 1.2. A educação infantil na legislação municipal A presente pesquisa foi realizada no município de São Carlos/SP. Este tem uma população estimada em 220.463 habitantes, distribuídos em uma área total de 1.141 km²; é a 14ª maior cidade do interior do estado em número de residentes; conta com 43 Centros Municipais de Educação Infantil, destinando R$ 74.627.486,84, ou seja, 32% do orçamento, para a educação. (IBGE, 2009) No ano de 2010 oito novos Centros Municipais de Educação Infantil estão sendo construídos com a projeção de 2.238 novos atendimentos (SÃO CARLOS, LEGISLAÇÃO DA EDUCAÇÃO DA CIDADE DE SÃO CARLOS). De acordo com o Art. 211 da Constituição Federal de 1988 e a LDB 9394/96, que estabelecem que os sistemas de ensino do Brasil devam ser organizados em regime de colaboração entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, o município de São Carlos possui a Lei Orgânica Municipal, a qual da providencias para a educação como podemos observar no seu Capítulo II – Da Educação, da Cultura e dos Esportes e Lazer, nos seguintes artigos: Seção I – Da Educação Art. 135. O Município organizará em regime de colaboração com o Estado, seu sistema de ensino. Art. 136. O Município atuará prioritariamente no ensino fundamental e na educação infantil. 23 Art. 137. O Município aplicará, anualmente, vinte e cinco por cento, no mínimo, da receita resultante de impostos, compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino. Art. 138. O Município publicará até trinta dias após o encerramento de cada trimestre, informações completas sobre receitas arrecadadas e transferências de recursos destinados à educação, nesse período e discriminadas por nível de ensino. Art. 139. É vedado o uso de próprios públicos municipais para o funcionamento de estabelecimentos de ensino privado de qualquer natureza. (SÃO CARLOS, LEI ORGÂNICA MUNICÍPAL) Tendo em vista, portanto, a Constituição Federal 1988, a LDB 9394/96 e a Lei Orgânica Municipal de São Carlos, foi estabelecia a Lei Nº 13.889 de 18 de outubro de 2006, a qual tem como objetivo estruturar e organizar a educação pública municipal de São Carlos e instituir o plano de carreira e remuneração para os profissionais da educação, dando, ainda, outras providências. Também faz parte das leis municipais de São Carlos a lei nº 13.795 de 4 de maio de 2006, a qual criou o Sistema Municipal de Ensino do Município de São Carlos, dando ainda outras providencias. Sobre a educação infantil pública, etapa da educação tratada no presente trabalho, destacam-se nesta lei mais especificamente os seguintes artigos: Art. 2º O Sistema Municipal de Ensino do Município de São Carlos compreende: I – instituições de educação infantil e ensino fundamental, mantidas e administradas pelo Poder Público Municipal; II – instituições de educação infantil, criadas e mantidas pela iniciativa privada, tanto as de caráter lucrativo como as comunitárias, confessionais e filantrópicas. Art. 4º As escolas de educação infantil e ensino fundamental da rede municipal elaborarão, periodicamente, seus projetos político-pedagógicos, dentro dos parâmetros da política educacional do Município e de progressivos graus de autonomia, e contarão com regimento escolar, devidamente aprovados pela Secretaria Municipal de Educação e Cultura, com base nas diretrizes fixadas pelo Conselho Municipal de Educação. (SÃO CARLOS, LEI MUNICIPAL DE SÃO CARLOS, 13.795/06) Observamos, portanto, que o Projeto Político Pedagógico das escolas é uma obrigação das instituições prevista na lei 13.795/06 do município de São Carlos. Traremos no presente trabalho as contribuições do Projeto Político Pedagógico para um projeto educativo inovador, que busca a qualidade da educação e apresentaremos informações retiradas do Projeto Político Pedagógico da escola em que realizamos a pesquisa de campo, demonstrando a importância deste documento para a instituição e para toda a comunidade escolar. Tendo essas considerações em vista, observamos assim como Abramowicz (2006), que as legislações que se referem à Educação Infantil, foram fortemente influenciadas pelas lutas e reivindicações dos movimentos sociais e dos fóruns nacionais e regionais de luta pela educação de crianças pequenas e por pesquisas na área. 24 Assim como observamos neste capítulo, por muito tempo as creches e pré-escolas foram destinadas as crianças das mães trabalhadoras, mas atualmente este direito se estende a todas as crianças e as famílias que desejam este nível de Educação a suas crianças. Ao ter conhecimento da história da Educação Infantil no Brasil podemos ter um melhor entendimento, da situação geral da educação no nosso país. Dessa maneira, destaco como marco de conquista nacional, no que diz respeito à legislação, a Constituição de 1988 e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 9394/96 e como conquista municipal, a criação de oito novas escolas de educação infantil, só no ano de 2010, mas considerando que nem o aumento de oferta e nem apenas a criação de legislações, contribuirão sozinhos para o aumento da qualidade da educação no Brasil. Refletimos que: É conveniente ressaltar que a qualidade tem muitas leituras e pode ser analisada sob diferentes perspectivas. O importante é que a educação de qualidade da criança pequena possa ser reconhecida não só no plano legislativo e nos documentos oficiais, mas pela sociedade como um todo. Afinal essa modalidade educacional é de responsabilidade pública e, como tal, deve prioritariamente ser assumida por todos; esse é o nosso maior desafio. (PASCHOAL; MACHADO, 2009, p.92) No capítulo seguinte nos prenderemos a compreensão das práticas pedagógicas inovadoras, em suas diferentes perspectivas, o projeto educativo inovador na perspectiva crítica e as contribuições da formação inicial para a prática da educação de qualidade. Destacando por fim, o curso de Licenciatura em Pedagogia da UFSCar/São Carlos. 25 2. PRÁTICAS INOVADORAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL E FORMAÇÃO INICIAL: CONTRIBUIÇÕES DA PERSPECTIVA CRÍTICO-DIALÉTICA Apresentamos, neste capítulo, as diferentes perspectivas de inovação pedagógica, dando destaque ao referencial teórico crítico dialético e à perspectiva da pedagogia históricocrítica. Entendemos que a educação de qualidade para todos só será alcançada com mudanças nas práticas pedagógicas cotidianas; e para que todos tenham as mesmas oportunidades de acesso ao conhecimento, se faz necessário que a escola seja uma instituição, em que os conhecimentos tornem-se públicos e a produção e distribuição do saber sejam feitos de forma democrática. As pedagogias inovadoras críticas entendem que com uma escolaridade obrigatória igualitária, de mesma qualidade, todos terão a mesma oportunidade de estar em contato com o conhecimento (CARBONELL, 2002). De acordo com Carbonell (2002), entendemos que inovação, em uma definição ampla, é um conjunto de intervenções, decisões e processos, que com certo grau de intencionalidade e sistematização, tratam de alterar atitudes, culturas, ideias, conteúdos, modelos e práticas pedagógicas. Isto é, por meio de uma linha renovadora, de novos programas e projetos, materiais curriculares, estratégias de ensino e aprendizagem, modelos didáticos e de diversas outras maneiras as pedagogias inovadoras tratam de formar e administrar o currículo, as relações em sala de aula e o espaço escolar, para que seja possível mergulhar nos conhecimentos relevantes, visando uma nova formação compreensiva e integral. Portanto, não se trata da simples modernização da escola, como adquirir novos e modernos computadores, realizar saídas ao entorno, cultivar uma horta ou oferecer oficinas. Estas são mudanças exteriores que acabam por terem funções idênticas a dos livros e textos, que ditam a mesma lição de sempre. A inovação se refere à criação de projetos que busquem converter a escola em um espaço mais democrático, atrativo e estimulante. Apresentamos, ainda, nesta seção, algumas relações da formação inicial dos agentes escolares e suas atuações, considerando as práticas pedagógicas inovadoras. Acreditamos que o papel dos profissionais da educação ultrapassa a simples transmissão do conhecimento, estando também atrelado à orientação, justamente para auxiliar na seleção do conhecimento, distinguindo o essencial do secundário na busca de encontrar os conteúdos básicos, relacionados com o valor social e cultural, os quais possuam significados para a maioria dos alunos. Não esquecendo, entretanto, do respeito, aceitação e convivência entre diferentes culturas com igualdade. 26 Concordamos com Veenman (1988, apud MIZUKAMI, 2002) quando afirma que a formação inicial é uma condição necessária, mas não suficiente, em si mesma, para conseguir melhores profissionais da educação; ela tem a capacidade de proporcionar um bom suporte para preparar os futuros professores para atuarem na profissão, mas isso depende da concepção pela qual se pauta essa formação. Entendemos que seja necessário valorizar a formação inicial dos professores e, conseqüentemente, sua profissão. Entretanto, para que a formação docente seja reconhecida, se faz necessário, que ela seja capaz de ir além de conferir uma habilitação legal ao exercício profissional da docência, do curso de formação inicial espera-se que se forme o professor. (PIMENTA, 1996). E por fim, destacaremos de maneira breve as propostas feitas pelo Projeto Pedagógico do Curso de Licenciatura em Pedagogia da UFSCar (2008). 2.1 Diferentes perspectivas de inovação pedagógica Atualmente, o modelo organizacional predominante nas escolas é perpassado por relações verticais, concebidas de cima para baixo, baseadas nos saberes dos especialistas e em prescrições legais. Tal modelo gera, nos espaços educativos, uma divisão técnica e social do trabalho entre os profissionais que pensam e planejam e os que recebem as instruções prontas e as executam, de maneira mecânica e passiva. Neste contexto, os professores acabam por ter sua autonomia diminuída, por se transformarem em uma parte fragmentada do todo. Entretanto, mesmo diante desse modelo hierárquico, ainda é possível encontrarmos espaços para alcançar relações mais horizontais e democráticas nas escolas e com isso obter projetos e programações alternativos. Para compreendermos a pedagogia inovadora, na visão histórico-crítica observaremos, primeiramente, as diferentes vertentes teóricas da educação, tendo em vista que as práticas pedagógicas inovadoras podem partir de diferentes recortes: [...] há aquelas de caráter naturalista e idealista inspiradas por Rousseau; de natureza psicológicas – centradas nos interesses e na evolução infantil – e social – que tomam a realidade como marco de referência para seu estudo e transformação -; de caráter individualista e coletivo; progressistas ou conservadoras: há aquelas que são antíteses e outros que se complementam (CARBONELL, 2002, p. 42). Mediante essas diferenças, não podemos examinar com o mesmo parâmetro ideológico e educativo as diversas considerações de Rousseau, Montessori, Piaget, Freinet, Freire, por exemplo, apesar de elas trazerem alguns pontos em comum. Como não podemos 27 deixar de considerar que alguns elementos dessas pedagogias, em relação à atualidade escolar, estejam bastante defasados. Quando nos referimos a práticas pedagógicas inovadoras, temos que ficar atentos a como encaramos as questões do método e do conteúdo a ser trabalhado. Nas Pedagogias Tradicionais o método está centrado em aulas magistrais e a maneira como é oferecido o ensino-aprendizagem não ultrapassa o esquema clássico de exposição-escuta-memorizaçãrepetição, tendo como questão central o programa. Nas Pedagogias Ativas o método se traduz na atenção prioritária aos interesses de cada aluno, deixando para segundo plano o conteúdo. As teorias críticas são aquelas que fazem uma reflexão crítica da sociedade e, portanto, da educação, pois esta é vista como um fenômeno social, que é determinado pelas classes sociais opostas, com valores, interesses e comportamentos distintos. Essas teorias se dividem em dois grupos: as propostas baseadas nas concepções libertadoras e libertárias; e as pedagogias crítico social e a histórico-crítica(MARSIGLIA, 2011). A pedagogia histórico-crítica apóia-se no materialismo histórico e, na medida em que fundamenta este trabalho é detalhada a seguir. Segundo Marsíglia (2011) a pedagogia histórico-crítica começou a ser organizada teoricamente no final da década de 1970, baseada no texto de Dermeval Saviani, “Escola e democracia: para além da curvatura da vara”, na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Neste texto Saviani, observa as principais tendências pedagógicas, contextualizando as contribuições e as limitações dos diversos grupos da teoria, propondo “[...] uma pedagogia (que irá denominar-se histórico-crítica a partir de 1984) que supere por incorporação elementos das escolas tradicional e nova.” (MARSIGLIA, 2011, p. 22). Tendo isso em vista, entendemos que, na pedagogia histórico-crítica, os conteúdos e métodos são indissociáveis, vendo que este último deve estar intimamente ligado ao mesmo tempo com os atos de aprender e ensinar. Os professores devem ter sempre consciência que cada aluno possui sua maneira pessoal de aprender. Dessa forma, eles devem estar abertos à diversidade, combinação e experimentação, visando sempre fazer a adaptação dos conteúdos e métodos ao contexto socioeducativo de cada escola. Pois o importante, é que se tenha uma significação nos métodos e conteúdos trabalhados, e que eles ainda sejam atrativos, promovendo a interatividade dos estudantes e os auxiliando no desenvolvimento do pensamento. Uma pedagogia articulada com os interesses populares valorizará, pois, a escola; não será indiferente ao que ocorre em seu interior; estará empenhada em que a escola funcione bem; portanto, estará interessada em métodos de ensino eficazes. Tais métodos situar-se-ão para além dos métodos tradicionais e novos, superando por 28 incorporação as contribuições de uns e de outros. Serão métodos que estimularão a atividade e iniciativa dos alunos sem abrir mão, porém, da iniciativa do professor; favorecerão o diálogo dos alunos entre si e com o professor, mas sem deixar de valorizar o diálogo com a cultura acumulada historicamente; levarão em conta os interesses dos alunos, os ritmos de aprendizagem e o desenvolvimento psicológico, mas sem perder de vista a sistematização lógica dos conhecimentos, sua ordenação a gradação para efeitos do processo de transmissão-assimilação dos conteúdos cognitivos (SAVIANI, 2008b, p. 55-56, apud MARSIGLIA 2011, p. 22) Tendo em vista o que foi destacado por Marsíglia, fundamentada na proposta de Saviani, compreendemos que dentro da perspectiva inovadora crítica, temos diferentes possibilidades de explorar o método pedagógico. Carbonell (2002) afirma que: A colaboração e cooperação, a investigação do meio e o trabalho de campo, a investigação-ação, o método cientifico, o construtivismo, os enfoques globalizados, o diálogo, a formulação e resolução de problemas relevantes, os grupos de discussão e reflexão, a narração de histórias cativantes ou a avaliação continua são metodologias de claro conteúdo inovador utilizadas em muitas escolas. Mas não se devem rechaçar outras fórmulas tradicionais, como a aula magistral bem dada, a leitura silenciosa e outras. A chave está em saber com que finalidade são utilizadas, com que freqüência e em que contexto; e, naturalmente, sua qualidade é básica, assim como o respeito aos outros métodos mencionados (p.72-73). De acordo com o autor, ao pensarmos em métodos inovadores temos que estar atentos para três critérios extremamente relevantes: 1º. A curiosidade como ponto de partida; 2º. Pedagogia do erro; e 3º. A memória compreensiva. Sobre o primeiro critério, ele escreve que, a aprendizagem só acontece, quando está presente o desejo, a motivação e o mínimo de fabulação, ou seja, quando a curiosidade do aluno é despertada, há um aumento da sua auto-estima, colocando-o em melhor situação para explorar novas possibilidades de aprendizagem (CARBONELL, 2002). Em relação ao segundo critério, o autor destaca, a sua relevância para a pedagogia inovadora, pois esta utiliza o erro como ponto de partida de uma nova aprendizagem. Ele é trabalhado na avaliação contínua de tipo qualitativo e formativo, pois ela detecta os erros e orienta os alunos com maneiras de superá-los (CARBONELL, 2002). Por fim, no terceiro critério, referente à memória compreensiva, Carbonell (2002) explica sua diferença em relação à memorização vista através da perspectiva da pedagogia tradicional, na qual, os conteúdos e informações são memorizados de maneira passiva, sem que ocorra a assimilação e compreensão, se tornando apenas uma atividade mecânica e de repetição. A memorização utilizada pela pedagogia inovadora é mais racional, útil, compreensiva e criativa, pois ela auxilia os alunos a organizar as informações, estabelecendo relações e conexões no espaço e no tempo, facilitando, assim, a compreensão dos conteúdos importantes (CARBONELL, 2002) 29 Segundo Marsiglia (2011), a proposta organizativa do método baseado na pedagogia histórico-crítica, também é caracterizada por passos ou momentos, porém divididos em cinco, sendo: ponto de partida da prática educativa (prática social); problematização; instrumentalização; catarse; e síntese. O ponto de partida da prática educativa (prática social) é segundo a autora a “[...] etapa na qual se deve levar em conta a realidade social do educando” (MARSIGLIA, 2011, p. 23). Isso significa que, em um primeiro momento o professor deve verificar o nível de compreensão dos alunos sobre determinado assunto, para poder, em seguida, selecionar os conhecimentos historicamente construídos a serem trabalhados. Esse momento não deve ser compreendido como uma regra, segundo a autora, pois nem sempre serão encontrados nos conhecimentos prévios dos alunos, os conhecimentos relevantes que a escola deve transmitir.5 Entendemos a importância desse primeiro momento, pois vemos que a aprendizagem significativa acontece por meio do processo de estabelecer conexões entre os estímulos e as reações. Como coloca Bransford e Cocking (2007) em seu texto Aprendizagem: da especulação à ciência, no qual defende a valorização dos conhecimentos prévios dos alunos: Muitos dados comprovam que a aprendizagem melhora quando os professores dão atenção ao conhecimento e às crenças trazidas pelos alunos para a sala de aula, quando utilizam esse conhecimento como ponto de partida para a nova instrução e quando monitoram as mudanças de concepções dos alunos, à medida que a instrução evolui (BRANSFORD; COCKING, 2007, p. 29). No segundo momento do método da pedagogia histórico-crítica é feita a problematização, colocada por Marsiglia (2011) como sendo o momento de retomar os questionamentos da prática social, inserindo novos conhecimentos que façam sentido na aprendizagem dos alunos. Nesse momento colocam-se as questões da prática social e os conhecimentos relevantes. Na instrumentalização, terceiro momento do método é hora de “[...] oferecer condições para que o aluno adquira o conhecimento” (MARSIGLIA, 2011, p. 25). Nesse momento, o educador oferece aos alunos os instrumentos culturais que lhes permitam entender os fenômenos em questão de uma maneira mais elaborada e sintética, dar outras respostas aos problemas propostos. A autora destaca esse momento como sendo de grande importância para a classe trabalhadora, para que ela não fique apenas com a produção do conhecimento, ou 5 Sobre os conhecimentos relevantes Carbonell (2002) destaca que na sociedade atual temos a renovação acelerada do conhecimento e da informação, o tempo todo se deve determinar qual informação é importante, e selecioná-la, não sendo relevante a sua quantidade, mas sim a aprendizagem de codificá-la, integrá-la, contextualizá-la, organizá-la, e interpretá-la, isto é, buscar dar sentido e significação, para transformá-la em conhecimento (2002, p.62). 30 seja, neste momento temos a oportunidade de “[...] possibilitar o acesso da classe trabalhadora ao nível das relações de elaboração do conhecimento e não somente a sua produção.” (MARSIGLIA, 2011, p. 25) O quarto momento é a catarse, na qual “[...] o aluno apreende o fenômeno de forma mais complexa. Há uma transformação e a aprendizagem efetiva acontece” (MARSIGLIA, 2011, p. 26). Ele não ocorre em um ponto exclusivamente, por se tratar de um processo que se dá através da modificação da relação do sujeito com o conhecimento, saindo do sincretismo caótico inicial para uma compreensão mais sintética da realidade, fazendo uma relação intencional e consciente com o conhecimento, que acontece cada vez mais e de forma mais aprofundada na aprendizagem. No quinto e último passo ou momento do método ocorre a síntese. Segundo Marsiglia (2011), é a hora em que acontece a transformação e a aprendizagem efetiva acontece. Entretanto, ela não ocorre em um momento determinado e cada vez mais ela se dá de maneira mais aprofundada. A autora busca detalhar este momento com o auxílio de Duarte (2007, apud MARSIGLIA, 2011), colocando que este é o momento em que o aluno sai do sincretismo caótico inicial para uma compreensão sintética da realidade, relacionando-se intencionalmente e conscientemente com o conhecimento. O ponto de chegada da prática educativa ou a síntese, e o primeiro momento são caracterizados pela prática social, mas eles diferem, pois no final do processo a prática social se modifica em razão da aprendizagem ocorrida, gerando mudanças na qualidade e na forma do pensamento (do empírico ao teórico) (MARSIGLIA, 2011). É relevante destacar que apesar dessas propostas metodológicas para o trabalho pedagógico não devemos encará-las como um receituário, principalmente desvinculadas do referencial teórico, pois estas estão fundamentadas para garantir a superação da condição de exploração dos dominados pelos dominadores. 2.1.1 O Projeto educativo Inovador na perspectiva crítica Carbonell (2002) destaca que o projeto educativo inovador, numa perspectiva crítica deve ter a preocupação com a inclusão, oferecendo a igualdade de oportunidade para toda a população escolar, gratuidade do ensino e dos serviços complementares básicos, respeito aos direitos humanos, não aceitando nenhum tipo de discriminação. Ele é um equilíbrio entre o saber acumulado coletivamente e a necessidade de ir renovando-o, pois não se pode partir do zero, mas também não devemos nunca deixar de repensá-lo. 31 De acordo com Carbonell (2002) o projeto educativo inovador deve contar com uma autonomia inovadora compartilhada com a diversidade e criatividade pedagógica e organizativa. De nada adianta o professor ter liberdade no exercício da docência, se ele faz parte de um projeto, no qual os docentes não possuem autoridade para organizar o conhecimento, a gestão, os tempos e espaços escolares, com base no contexto escolar. Tal projeto educativo também necessita, para seu êxito, que não aconteça de maneira isolada, mas sim através do compartilhamento de redes escolares solidárias, contando ainda com um forte elo de compromisso com a comunidade. Carbonell (2002, p.84) entende o projeto educativo como sendo algo que “afeta a totalidade da instituição e constitui um marco de referência para fixar prioridades e tratar de refletir e desenvolver ações em torno delas. Estas variam em função do contexto e das necessidades da escola”. Com base nessa concepção e tendo como foco a inovação pedagógica, acreditamos que o êxito educativo dependa da introdução de uma nova cultura pedagógica que proporcione a possibilidade de mudança no currículo, na organização escolar, conseguindo, sobretudo a participação da família, agentes escolares e alunos em prol de um projeto comum, contando ainda, com o aproveitamento de todos os recursos formativos disponíveis na comunidade. Para Carbonell (2011) a nova cultura pedagógica só será alcançada mediante a luta de equipes docentes para que ocorram mudanças legislativas, na busca de superar a colonização burocrática e a rigidez escolar. As escolas têm medo de adaptar a administração escolar com base em projetos e inovações, pois receiam perder o controle e a ordem. Como conseqüência, temos a austeridade dos espaços e tempos escolares e a fragmentação do conhecimento organizado em disciplinas. A superação de tal situação estaria em construir e adaptar o espaço, com o auxilio dos alunos, para favorecer a comunicação, o trabalho cooperativo e a investigação entre todos. Carbonell (2002) destaca alguns aspectos que são necessários para o êxito dos projetos inovadores na escola. Um deles envolve a presença de equipes docentes sólidas e uma comunidade educativa receptiva, ou seja, os professores devem estar abertos e dispostos a mudança, como também estar a serviço da transformação, e a comunidade educativa deve estar envolvida, compartilhando idéias e projetos. Outro aspecto importante são as redes de intercâmbio e cooperação formadas por professores e outros profissionais da educação que não atuam diretamente na escola, mas que a visitam ou têm conhecimento de seus problemas e especificidades e contribuem de maneira reflexiva, com trabalhos e projetos didáticos e 32 institucionais específicos. O projeto de inovação precisa ser algo que vá além da escola, isto é, a sua presença deve envolver a cidade ou o âmbito rural, não se limitando, portanto, às iniciativas inovadoras isoladas e esporádicas em cada escola, ou seja, a inovação deve ser algo institucionalizado e dirigido democraticamente. O êxito de projetos inovadores necessita também da existência de um ambiente em que haja bem-estar e confiança, com uma fácil e fluente comunicação nas relações interpessoais; da presença de um trabalho contínuo e sempre renovador, com a preocupação de estar sempre mudando para buscar a educação de qualidade; e da preocupação de que as inovações sejam vividas com intencionalidade e profundidade. Um exemplo de projeto inovador institucionalizado são as Comunidades de Aprendizagem. Tal projeto está fundamentado na pedagogia do diálogo de Paulo Freire e na teoria da ação comunicativa de Habermas. As Comunidades de Aprendizagem visam a democratização das relações entre a escola e a comunidade (MELLO, 2003) e entende-se que a educação deve formar as pessoas para reconhecer as diferenças e transformá-las em matériaprima de compreensão e solidariedade A proposta do projeto Comunidades de Aprendizagem, segundo Mello (2003, p. 02) foi desenvolvida pelo Centro de Investigação Social e Educativa na Universidade de Barcelona na Espanha, que se apresenta segundo esta autora: “[...] como uma possibilidade de construção de escolas de qualidade para populações de periferia urbana no Brasil, promovendo a democratização do seu espaço educativo” e como uma resposta para a distância entre a escola, a família e a comunidade. Dessa maneira o projeto busca conceitos desenvolvidos por Habermas e Freire, sobre a tríade transformadora das desigualdades sociais: comunicação, diálogo e educação, utilizando-os como base para a elaboração dos princípios do projeto Comunidades de Aprendizagem: diálogo igualitário, inteligência cultural, transformação, dimensão instrumental, criação de sentido, solidariedade e igualdade de diferenças. Sendo que: O dialogo igualitário supõe que as falas e proposições de cada participante serão tomadas por seus argumentos e não pelas posições que ocupam (idade, profissão, sexo, classe social, grau de escolaridade e etc.). Isto significa que o poder esta na argumentação, entendida como apresentação de razões com pretensões de validade. (MELLO, 2003, p. 06). A inteligência cultural surge a partir da aprendizagem dialógica, que significa utilizarse da comunicação entre familiares, a escola e a comunidade para que estes possam ter uma postura crítica e reflexiva na sociedade (MELLO, 2003). 33 Para que seja possível a transformação de uma escola em uma Comunidade de Aprendizagem, sucintamente, são necessárias duas etapas, de acordo com Mello, (2003): o processo de ingresso no projeto e o processo de sua consolidação. Sendo que a primeira etapa possui como implicação as fases de sensibilização, tomada de decisão, de sonho, de seleção de prioridades e de planejamento. Já a segunda etapa envolve a investigação, a formação e a avaliação. A participação dos profissionais da educação, familiares, representantes da comunidade e dos alunos acontece desde a apresentação do projeto, passando por todas as fases desse desenvolvimento. Neste processo de transformação Mello (2003) destaca a relevância do acesso ao conhecimento instrumental, como uma necessidade para a vida na sociedade da informação e para fazer a transformação do entorno. “Fala-se da dimensão instrumental da aprendizagem dialógica.” (MELLO, 2003, p. 6) Consciente das especificidades de cada indivíduo, mesmo participante de uma mesma comunidade, torna-se difícil ter um único projeto para todos, assim como não é fácil para a escola fazer a escolha dos valores que devem ser afirmados. A proposta é buscar a criação de sentidos pelos indivíduos e pelos grupos, por meio da aprendizagem dialógica, efetivando-se no dialogo igualitário, “[...] em que cada pessoa pode examinar as possibilidades, refletir criticamente sobre elas e fazer as suas escolhas, torna-se fundamental.” (MELLO, 2003, p. 6) A solidariedade aparece na aprendizagem dialógica, na interação dos sujeitos, como também, na solidarização com os grupos que estão em situações de exclusão. Pois para que ocorra a igualdade das diferenças se faz necessário o desenvolvimento da consciência que cada pessoa compreende a vida e o mundo de uma forma, e devem ser respeitados por seus diferentes entendimentos e escolhas. Como destaca Carbonell (2002) atualmente as pedagogias inovadoras são alvos de grandes críticas, sendo responsabilizadas pelo aumento do fracasso escolar pela maioria dos governos dos países, que acreditam na volta das pedagogias mais conservadoras e tradicionais, como solução para os problemas educacionais. Talvez esse pensamento se dê pelo fato de alguns analistas acreditarem que as pedagogias inovadoras estão esgotadas e perto de se extinguirem, porque, por muitas vezes, elas são descontextualizadas e superficiais, apenas uma maneira das escolas adquirirem novos alunos. Portanto, é necessário ter claro a separação das iniciativas inovadoras preocupadas com a verdadeira reflexão da prática docente, assim como é o projeto de Comunidades de Aprendizagem, proposto por Mello (2003), das aplicações mecânicas descontextualizadas, sem critério, superficiais e vazias de conteúdo, como evidencia Veiga (2003). 34 Esta autora entende que as inovações que possuem caráter técnico, produzem apenas uma mudança organizacional descontextualizada, não considerando as relações de força entre o contexto social amplo e a instituição. “A inovação regulatória ou técnica é instituída no sistema para provocar mudança, mesmo que seja temporária e parcial. Essa mudança não produz um projeto político pedagógico novo, produz o mesmo sistema modificado”. (VEIGA, 2003, p.270). Carbonell (2002), ainda destaca na distinção entre os tipos de pedagogias inovadoras, que quando as mudanças têm procedência externa à comunidade escolar, elas tendem a não contarem com a participação e o envolvimento dos profissionais da educação e acabam por limitar-se a alterações secundárias: normativas, de linguagem e de atualização de conteúdo, causando pouca ou nenhuma transformação do sentido do conhecimento, das relações cotidianas entre os alunos e professores e da cultura docente. No entanto, quando as inovações vêm do coletivo, dos agentes escolares, têm mais chances de êxito e duração, do que as que são provenientes de órgãos governamentais, impostas de maneira autoritária para a comunidade escolar. Entendemos que para que haja verdadeiramente transformação é preciso que as inovações pedagógicas, geridas e realizadas pelos agentes escolares sejam somadas a ações do Estado ou do poder público, e que estas possam dar o apoio necessário aos agentes da educação, para que eles dêem continuidade ao projeto de inovação, sempre voltados para a busca da qualidade. Nesse sentido as ações educacionais da escola e da sua comunidade devem ser traduzidas no projeto político pedagógico da escola, uma vez que entendemos que: Inovação e projeto político-pedagógico estão articulados, integrando o processo com o produto porque o resultado final não é só um processo consolidado de inovação metodológica no interior de um projeto político-pedagógico construído, desenvolvido e avaliado coletivamente, mas é um produto inovador que provocará também rupturas epistemológicas. Não podemos separar processo de produto. (VEIGA, 2003, p.3) Tendo essas colocações em vista é importante considerar que há diversos fatores que dificultam a produção da inovação, pois as instituições escolares são permeadas por diversas relações, que podem contribuir para dificultar o processo inovador. Carbonell (2002) faz referência a estes fatores como: a fraqueza das relações interpessoais e democráticas; a falta de comprometimento com propósitos sólidos e projetos comuns; a falta de planejamento e coordenação; o uso homogeneizado e descontextualizado da inovação, não dando importância à tradição escolar, às condições de sua aplicação e não 35 respeitando o tempo para que as decisões sejam tomadas; o conhecimento docente que tem muito mais de institucional do que de científico e teórico, devido principalmente a uma formação inicial deficiente de reflexões críticas; e a estrutura organizativa escolar, rígida. É preciso considerar ainda outros aspectos preocupantes como as rotinas escolares, que estão presentes nas salas de aulas e são implementadas pelos professores, podendo se transformar em barreiras à inovação. Também as disposições das carteiras, as mesmas lições, com poucas alterações, retiradas na maioria das vezes dos livros textos, cartilhas ou apostilas, podem acabar por serem vistas pelos professores como algo mais seguro, cômodo e tranqüilo, impedindo, assim, o desenvolvimento de um processo de ensino/aprendizagem inovador. Há também, muitas vezes, dentro das instituições, um falso companheirismo entre colegas, que acabam por proteger atitudes docentes que em nada se preocupam com a qualidade de ensino (CARBONELL, 2002). A ideia de autonomia dentro das salas de aula, confundida com individualismo, acaba por enfraquecer o coletivo, o que nada ajuda no cotidiano escolar. Segundo Carbonell (2002), os professores que são isolados são aqueles, geralmente, que se mostram mais descontentes com suas profissões, gerando o mal-estar, muito presente nessa profissão, seja por se sentirem confusos diante dos novos papéis assumidos pela educação escolar, ou pelo conhecimento, que possui natureza mutável. Diante de tais dificuldades, Carbonell (2002) propõe o enfrentamento dos conflitos, como algo benéfico, para provocar a mudança e fortalecer a equipe docente, pois segundo o autor: A inovação educativa, como qualquer atividade laborativa humana, está cheia de contradições, dilemas ou antinomias. Sempre nos vemos diante de conceitos e princípios contrapostos: liberdade e igualdade; certeza e incerteza; realidade e utopia; autonomia e controle; risco e segurança; individualidade e coletividade, entre muitos outros. Essa estrutura antinômica não constitui em absoluto um obstáculo e um freio a inovação, muito pelo contrário: sua abordagem obriga a reflexão, sobretudo quando ocorre na vida escolar e aumenta e dinamiza qualquer processo inovador. (CARBONELL, 2002, p. 39) Entendemos, portanto, que a reflexão proposta por Carbonell (2002) deve fazer parte do cotidiano de todos os agentes educacionais e principalmente dos professores. Dessa maneira, destacamos a seguir a importância da formação inicial nos cursos de graduação, para a constituição de um profissional atento às possibilidades de desenvolvimento de projetos inovadores na educação. 36 2.2 A importância da formação inicial na concretização de práticas pedagógicas inovadoras Gatti (2010) faz um breve levantamento histórico sobre a formação docente, afirmando que a formação para o ensino “das primeiras letras” em cursos específicos foi proposta apenas no final do século XIX, com a criação das Escolas Normais, que continuaram promovendo a formação dos professores, até a Lei de Diretrizes e Bases da Educação 9.394/1996. A partir dessa lei, foi determinado que a formação dos professores para as primeiras anos do ensino fundamental e para a educação infantil seria feita em nível superior, com o prazo de dez anos para o ajuste. A autora ainda destaca, que quando o curso de Pedagogia foi regulamentado em 1939, destinava-se a formar bacharéis especialistas em educação e, complementarmente, educadores para as Escolas Normais em nível médio. No ano de 1986, o Conselho Federal de Educação aprova o Parecer n. 161, que reformula o curso de Pedagogia, possibilitando-o a oferecer conjuntamente, a formação para a docência de 1ª a 4ª série do ensino fundamental. No ano de 2006, o Conselho Nacional de Educação aprovou a Resolução n.1 de 15/05/2006, com as Diretrizes Curriculares Nacionais para os Cursos de Pedagogia: [...] propondo-os como licenciatura e atribuindo a estes a formação de professores para a educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental, bem como para o ensino médio na modalidade Normal, onde fosse necessário e onde esses cursos existissem, e para a educação de jovens e adultos, além da formação de gestores. Essa licenciatura passa a ter amplas atribuições, embora tenha como eixo a formação de docentes para os anos iniciais da escolarização.A complexidade curricular exigida para esse curso é grande, notando- se também, pelas orientações da Resolução citada, a dispersão disciplinar que se impõe em função do tempo de duração do curso e sua carga horária, dado que ele deverá propiciar: “a aplicação ao campo da educação, de contribuições, entre outras, de conhecimentos como o filosófico, o histórico, o antropológico, o ambiental-ecológico, o psicológico, o linguístico, o sociológico, o político, o econômico, o cultural”; englobar (art. 4º, parágrafo único) a formação de habilidades de planejamento, execução, coordenação, acompanhamento e avaliação de tarefas próprias do setor da Educação, de projetos e experiências educativas não escolares; a produção e difusão do conhecimento científico-tecnológico do campo educacional, em contextos escolares e não escolares. (GATTI, 2010, p. 1357-1358) Todos estes requerimentos tornam o desenvolvimento curricular deste curso complexo, pois não é fácil contemplar todas essas orientações em uma matriz curricular. Considerando tais diretrizes, Gatti (2010) buscou pesquisar o que se propõe atualmente como disciplinas formadoras nas instituições de ensino superior nas Licenciaturas presenciais. Destacaremos a Licenciatura em Pedagogia, por ser nosso foco de pesquisa. 37 O conjunto amostral do estudo citado foi composto por 71 cursos de licenciatura presenciais em Pedagogia, distribuídos em todo o país. Tal conjunto mostra boa representatividade, [...] em relação à distribuição dos cursos pelas regiões, por categoria administrativa e tipo de instituição. Procedeu-se a um mapeamento de propostas curriculares desses cursos, tendo em conta os diversos tipos de instituições de ensino superior que os oferecem. Nessa amostra encontrou-se uma lista de 3.513 disciplinas (3.107 obrigatórias e 406 optativas). (GATTI, 2010, p. 1368) As disciplinas referentes a Educação Infantil, representam apenas 5,3% do conjunto. E de acordo com as conclusões da pesquisa de Gatti (2010), a análise das ementas das disciplinas revelou que existe uma maior preocupação com a oferta de disciplinas de teorias políticas, sociológicas e psicológicas, ou seja, há uma grande preocupação com o trabalho consciente do professor, mas poucas são as atividades destinadas ao ensino. Como também, que há uma insuficiência formativa em relação as disciplinas curriculares para formar o professor que necessita planejar, ministrar e avaliar atividades de ensino para as séries iniciais do ensino fundamental e para a Educação Infantil. Considerando as constatações feitas por Gatti (2010) a partir da sua pesquisa sobre a formação para docência, destacamos a importância de se pensar a formação inicial, para que ela possa dar melhores contribuições para a prática pedagógica e para as resoluções das problemáticas relacionadas ao cotidiano dos docentes. Pimenta (1996) destaca outros reflexões sobre as pesquisas na formação inicial, observando que elas têm demonstrado que os cursos de formação, ao proporem um currículo formal com conteúdos e atividades de estágio afastados da realidade escolar e ligados a perspectiva burocrática, não são capazes de observar as contradições existentes na prática social de educar, acabam por contribuírem minimamente para formar a identidade do educador. Sobre os resultados que são esperados dos cursos de formação para a docência, Pimenta (1996) destaca, que espera-se que “se forme” o professor crítico e colabore com a sua atividade docente, tendo em vista, a sua crença que o tornar-se professor não está ligado a questões burocráticas e técnico-mecânicas. A autora afirma o seguinte: Dada a natureza do trabalho docente, que é ensinar como contribuição ao processo de humanização dos alunos historicamente situados, espera-se da licenciatura que desenvolva nos alunos conhecimentos e habilidades, atitudes e valores que lhes possibilitem permanentemente irem construindo seus saberes-fazeres docentes a partir das necessidades e desafios que o ensino como prática social lhes coloca no cotidiano. Espera-se, pois, que mobilizem os conhecimentos da teoria da educação e da didática necessários a compreensão do ensino como realidade social, e que desenvolva neles a capacidade de investigar a própria atividade para, a partir dela, constituírem e transformarem os seus saberes-fazeres docentes, num processo contínuo de construção de suas identidades como professores. (PIMENTA, 1996, p.75) 38 Na construção da identidade, Pimenta (1996), observa que esta deve ser uma construção processual do indivíduo historicamente situado. Ela vê a profissão de professor como uma resposta às necessidades de um dado contexto histórico e social. Dessa maneira, nosso contexto, atualmente, é perpassado por um crescimento quantitativo dos sistemas de ensino, mas infelizmente este crescimento não está sendo acompanhado pelo resultado formativo (qualitativo) exigido pelas demandas sociais, por isso, se faz necessário a nova definição da identidade profissional do professor. Essa definição é importante para buscarmos qual professor é necessário para contribuir, no exercer da profissão de educador, para o processo emancipatório da população, proposto, como já foi destacado, neste trabalho, com base nas considerações de Veiga (2003). Concordamos com Pimenta (1996) quando ela se refere à importância de se considerar os saberes da experiência, na construção da identidade dos futuros professores. Na mesma linha que destacamos, que as práticas pedagógicas inovadoras devem considerar os conhecimentos dos alunos e partir deles na realização do ensino/aprendizagem. Pois quando os alunos chegam ao curso de formação inicial já possuem saberes do que é ser professor, estes que foram acumulados de diferentes professores ao longo da sua vida escolar. Sabemos dizer, quais foram os professores que contribuíram para a nossa formação humana. No entanto, a autora destaca que os alunos dos cursos de docência e incluímos o curso de Licenciatura em Pedagogia, por ter se tratado do nosso objetivo de pesquisa, que ainda não estão em contato com a realidade da prática educacional, sabem o que é ser professor, mas não se identificam como professores, pois observam o ser professor segundo a ótica do aluno. Dessa forma, “O desafio, então, posto aos cursos de formação inicial é o de colaborar no processo de passagem dos alunos de seu ver o professor como aluno ao seu ver-se como professor.” (PIMENTA, 1996, p 77) (grifos da autora). Entendemos, portanto, a necessidade da construção da identidade, porque os saberes da experiência, mesmo sendo importantes, não são suficientes. Pimenta (1996) fala em um segundo saber, o saber da docência, destacando o conhecimento, este entendido pela autora através de Edgar Morin (1993). O conhecimento como além da informação, já que ela seria algo que antecede o conhecimento, e ele está atrelado ao saber trabalhar as informações, isto é, saber classificá-las, analisando-as e contextualizando-as. Já o terceiro estágio estaria ligado à inteligência, a consciência e a sabedoria. Inteligência tem a ver com a arte de vincular conhecimento de maneira útil e pertinente, isto é, de produzir novas formas de progresso e desenvolvimento; 39 consciência e sabedoria envolvem reflexão, isto é, capacidade de produzir novas formas de existência, de humanização. (PIMENTA, 1996, p. 78) É nesse sentindo que podemos compreender a relação entre conhecimento e poder, uma vez que, o acesso a informação não se dá igualmente entre todas as pessoas. Os indivíduos que possuem acesso a ela, possuem vantagens, por isso, seu acesso é altamente manipulado e regulado. Não significa que quem possui informação terá poder, este somente será alcançado por indivíduos que possuírem as condições de produção do conhecimento. Portanto, conhecer está atrelado à consciência do poder do conhecimento, para a produção da vida material, social e existencial da humanidade (PIMENTA, 1996). Pimenta (1996) também ressalta o saber pedagógico, como saber docente, pois acredita que de certa maneira, para saber ensinar, não basta experiência e o conhecimento específico, se faz necessário também, os saberes pedagógicos e didáticos. Com isso, reconhece que na história da formação docente, estes têm sido vistos a partir de blocos desconexos e distintos. E propõe para a superação dessa fragmentação de saberes na formação, a volta a autêntica pedagogia. Para isso, a ciência da educação deve deixar de partir de diferentes saberes e começar a partir da prática dos formandos, o que significa segundo Pimenta (1996, p. 81). “[...] reinventar os saberes pedagógicos a partir da prática social da educação”. Ao analisar, portanto, a formação docente, podemos compreender que estes saberes devem partir da prática social de ensinar. Para concretizar essa reflexão Pimenta (1996) aponta que é necessário que a formação inicial tenha como ponto de partida (e de chegada) a aquisição da experiência dos formados, isto é, “[...] tomar a prática existente como referência para a formação” (PIMENTA, 1996, p. 82). Infelizmente não é o que observamos no cotidiano da nossa formação, com exceção dos alunos que se formam nos cursos de licenciatura e continuam fazendo estudos nas universidades, seja a título de especialização ou formação continuada. A maioria dos formandos não retornam a faculdade para compartilhar sua prática pedagógica e ainda, ao se formar o educador freqüentemente continua vinculado com o referencial teórico estudado durante seu curso de formação, mas acaba, por não conseguir concretizá-lo, haja vista o não estudo de como este referencial pode ser trabalhado na prática cotidiana da realidade brasileira educacional. A proposta de Pimenta (1996) para a superação dessa separação entre teoria e prática pedagógica está na capacidade do professor de construir a teoria da sua prática, através do registro sistemático de suas experiências, caracterizado, segundo a autora, como a memória da escola. “Memória que, analisada e refletida, contribuirá tanto para a elaboração teórica quanto 40 ao revigoramento e o engendrar de novas práticas.” (PIMENTA, 1996, p. 83) Trata-se, portanto, de documentar as escolhas feitas pelos educadores, os processos e resultados, mas não apenas analisando a escola em que se trabalha, fazendo a tentativa de buscar nas teorias, a reflexão sobre os encaminhamentos feitos em relação aos resultados obtidos. Através destes registros, também seria possível refletir sobre a comunidade escolar, pensando a partir das suas especificidades, um projeto inovador, que teria por base as contribuições teóricas da formação inicial trazidas pelos docentes e as experiências cotidianas de cada comunidade. Os saberes pedagógicos podem colaborar com a prática. Sobretudo se forem mobilizados a partir dos problemas que a prática coloca, entendendo, pois, a dependência da teoria em relação à prática, pois esta lhe é anterior. Essa anterioridade, no entanto, longe de implicar uma contraposição absoluta em relação à teoria, pressupõe uma intima vinculação com ela. Do que decorre um primeiro aspecto da prática escolar: o estudo e a investigação sistemática por parte dos educadores sobre sua própria prática, com a contribuição da teoria pedagógica. (PIMENTA, 1996, p. 83) Pimenta (1996) destaca que sua proposta poderia ser concretizada através da pesquisa, sobre a atividade docente escolar, por compreender que a pesquisa permite entender o princípio cognitivo da realidade. E dessa maneira, proporcionar o desenvolvimento de instrumentos para posteriormente também pesquisarem suas atividades docentes. Pesquisas como: [...] conhecer diretamente e/ ou através de estudos as realidades escolares e os sistemas onde o ensino ocorre; ir às escolas e realizar observações, entrevistas, coletar dados sobre determinados temas abordados nos cursos, problematizar, propor e desenvolver projetos nas escolas; conferir os dizeres de autores e da mídia, as representações e os saberes que tem sobre a escola, o ensino, os alunos, os professores, nas escolas reais; começar a olhar, ver e analisar as escolas existentes com olhos não mais de alunos, mas de futuros professores, é um terceiro passo que temos realizado na tentativa de colaborar na construção da identidade dos professores. (PIMENTA, 1996, p. 84) Também Tardif (2002) propõe a valorização dos conhecimentos e reflexões, resultantes do cotidiano escolar, dizendo que os professores das séries iniciais e da educação infantil, devem ter seus trabalhos considerados como espaço especifico de produção, de transformação e mobilização de saberes, assim como é valorizado o professor universitário ou o pesquisador em educação. Entendemos a necessidade, conjuntamente com Pimenta (1996) e Tardif (2002), da visão dos educadores, como atores, que desenvolvem suas teorias, conhecimentos e saberes, partindo da suas ações. “[...] o que se propõe é considerar os professores como sujeitos que possuem, utilizam e produzem saberes específicos ao seu ofício, ao trabalho.” (TARDIF, 2002, p. 228) 41 Pimenta (1996, 73), ainda faz críticas, às visões que consideram os professores, apenas como reprodutores de conhecimentos e de programas já elaborados e defende a valorização da formação dos professores, por compreender que na sociedade contemporânea o trabalho deste profissional se torna cadê vez mais necessário para a: “[...] mediação nos processos constitutivos da cidadania dos alunos, para o que concorre a superação do fracasso e das desigualdades sociais.” Portanto, assim como os autores citados, compreendemos a necessidade de repensar a formação inicial. 2.3 O curso de Licenciatura em Pedagogia da UFSCar/ São Carlos Acreditamos que o curso de Pedagogia da UFSCar com a matriz disciplinar do período de 2007/2011 fez grandes avanços em relação às propostas de Pimenta (1996), proporcionando aos alunos diversas atividades que envolviam pesquisa de campo, mas ainda se faz necessário, que busque oferecer maiores contribuições da realidade educacional, não mais na visão de alunos apenas, mas como educadores em formação. O curso ainda apresenta a dicotomia teoria/prática, uma vez que a matriz curricular que estou concluindo, ainda possui a tradicional separação das disciplinas da maioria das universidades, apontada por Esteban e Zanccur (2002). Nesse sentido, o novo Projeto Pedagógico do Curso de Licenciatura em Pedagogia 6 (2008) da UFSCar/São Carlos, está de acordo com que foi proposto por Gatti (2010), na valorização da formação para a docência de conhecimentos relacionados à prática pedagógica. [...] o objeto de trabalho específico do Pedagogo formado pela UFSCar centra-se nos Processos de Ensino e de Aprendizagem relacionados à Educação Escolar, sendo, por isso, a prática pedagógica o componente curricular central que permeia todo o processo de formação, o que não impede que esse profissional esteja apto a atuar também em outros contextos educativos. [...] Colocar a prática pedagógica como componente curricular privilegiado significa, por um lado, a possibilidade de evidenciar a centralidade do estatuto da cientificidade da Pedagogia como eixo norteador do processo formativo do profissional da educação e, por outro lado, a possibilidade de estabelecer uma articulação orgânica entre teoria-prática, o que favorece a criação de reais situações de aprendizagem para o futuro profissional da educação. A prática pedagógica profissional como fonte permanente e privilegiada de reflexão e de atuação na formação do futuro profissional da Educação propicia a análise do movimento complexo existente entre as construções teóricas e as sinalizações da prática, assegurando uma compreensão da natureza e da especificidade do conhecimento pedagógico, de modo a propiciar o desenvolvimento de um compromisso ético e político com uma sociedade democrática. (PROJETO PEDAGÓGICO DO CURSO DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA DA UFSCar, 2008, p.15) 6 Projeto Pedagógico para alunos ingressantes em 2009. A primeira turma referente a tal proposta Pedagógica concluirá o curso em 2013. 42 Segundo este documento, o profissional formado pelo curso de Licenciatura em Pedagogia da UFSCar poderá atuar no magistério das Séries Iniciais do Ensino Fundamental, magistério da Educação Infantil, magistério da Educação de Jovens e Adultos, Gestão Educacional (Orientação Educacional, Supervisão Educacional, Administração Educacional e Coordenação Pedagógica). Sobre como é estruturado o curso o documento expõe que é através de um núcleo de disciplinas obrigatórias e um núcleo de disciplinas optativas. Acreditando que, as disciplinas optativas, auxiliam no aprofundamento do currículo básico, assim como dão a possibilidade do aluno escolher a direção da sua carreira como pedagogo. Elas são oferecidas, de acordo com a disponibilidade do corpo docente da universidade. (PROJETO PEDAGÓGICO DO CURSO DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA DA UFSCar, 2008) Na busca por romper com a separação das disciplinas de formação teórica das com fundamentação metodológica, o Projeto, propõe a quebra da pirâmide embasada por disciplinas de fundamentos da educação, seguida por um período de disciplinas chamadas profissionalizantes, que resulta com os estágios supervisionados, como única possibilidade de inserção no cotidiano das escolas e conjuntamente, a integração do curso, através do trabalho coletivo dos docentes. 43 3. METODOLOGIA 3.1. Caminhos Percorridos Neste capítulo apresentamos os caminhos percorridos na pesquisa e a nossa opção metodológica. Fazemos primeiramente, a exposição da escolha pela abordagem qualitativa e a relevância do estudo bibliográfico. No segundo momento, destacaremos a questão principal, que nos motivou a pesquisar e os objetivos que traçamos para conseguir respondê-la. No terceiro tópico nos prenderemos aos procedimentos de coleta de dados e, por último, faremos a discussão de como se deu a análise de dados. 3.2. Tipo de pesquisa Entendemos que o trabalho de pesquisa requer muito cuidado e atenção devendo apresentar de maneira clara os referenciais metodológicos adotados. Os métodos de análise oferecem as bases lógicas de uma investigação científica, pois eles possibilitam ao pesquisador definir suas estratégias e procedimentos na pesquisa. De acordo com Gil (1999, p.26) “pode-se definir método como caminho para se chegar a determinado fim. E método científico como o conjunto de procedimentos intelectuais e técnicos adotados para se atingir o conhecimento”. Com isso, não podemos deixar de expor também, que a preferência por um método científico ou outro de pesquisa, depende de diversos elementos: “[...] a natureza do objeto que se pretende pesquisar, dos recursos materiais disponíveis, da abrangência do estudo e das bases filosóficas e concepção de mundo do pesquisador” (TAVARAYAMA, 2008, p. 78). Nesse sentido, o estudo foi conduzido por meio de uma pesquisa qualitativa, pois não era relevante enumerar ou medir dados coletados, mas sim compreender e interpretar o fenômeno estudado, considerando, com isso, o significado que as professoras, sujeitos da pesquisa, dão a suas práticas e as suas formações iniciais. (GONSALVES, 2001). Como características importantes das abordagens qualitativas colocam-se: descrever, compreender e explicar, assim como a relação de micro e macro níveis da realidade estudada, do particular ao geral. De acordo com Bogdan e Biklen (1994), a abordagem qualitativa possui cinco características: as informações são obtidas através do contato direto do investigador com o fenômeno a ser observado, os elementos coletados pelo pesquisador têm caráter descritivo, os investigadores qualitativos se importam mais com o processo do que 44 pelos resultados propriamente ditos, o exame dos dados é realizado de forma indutiva e busca compreender o significado que os indivíduos pesquisados atribuem as suas experiências. Portanto, trata-se não somente do produto final, mas de compreender os processos e retratar o ponto de vista dos participantes da pesquisa, observando-se as características situacionais apresentadas por eles, assim como, realçar suas crenças, valores, opiniões, atitudes e representações. Este tipo de pesquisa envolve, portanto, a obtenção de dados, conseguidos através do contato direto do observador com a situação estudada. 3.3. Local e participantes da pesquisa A pesquisa foi realizada em uma escola de Educação Infantil municipal com três professoras formadas no curso de Licenciatura em Pedagogia da Universidade Federal de São Carlos. 3.4 Objetivos e procedimentos de pesquisa Concordamos com Garcia (2003, p. 16) ao entender que “a dúvida, a insegurança, a incerteza e a consciência do nosso não saber é que nos convida a investigar, e investigando, poderemos aprender algo que não sabíamos”. Nesse sentido, recolocamos e comentamos os objetivos da pesquisa, não deixando de considerar, que a intenção da investigação sobre a existência de práticas inovadoras no cotidiano docente das egressas do curso de Pedagogia da UFSCar na Educação Infantil, também tem a intenção de auxiliar nossas práticas pedagógicas futuras. Definimos, primeiramente, nosso problema de pesquisa ao nos questionarmos sobre quais seriam as possíveis contribuições da graduação no desenvolvimento da prática pedagógica das educadoras da educação infantil. Para responder ao problema da pesquisa propusemos quatro objetivos. Primeiramente buscamos verificar a percepção de professoras da educação infantil, egressas do Curso de Licenciatura em Pedagogia da UFSCar, sobre sua formação inicial na graduação. Compreendemos que a formação inicial tem grande importância para a formação de professores. Consideramos importante também identificar na formação inicial das professoras entrevistadas, suas possíveis situações de contato, reflexões e experiências sobre práticas pedagógicas inovadoras. 45 Para compreender melhor a questão das práticas inovadoras optamos por observar a prática pedagógica de uma das professoras, procurando identificar a presença de possíveis práticas inovadoras. Entendemos que na sociedade atual temos a renovação acelerada do conhecimento e da informação. O tempo todo é preciso determinar qual informação é importante, e selecionála, não sendo relevante a sua quantidade, mas sim a aprendizagem de codificá-la, integrá-la, contextualizá-la, organizá-la, e interpretá-la, isto é, buscar dar sentido e significação, para transformá-la em conhecimento. Quando se observa tal questão na rede escolar é possível notar que a informação é muito mais rápida, mutante e flexível do que a organização escolar. Fato este que, segundo Carbonell (2002), só pode ser modificado, mediante postulados radicais inovadores. Finalmente, nosso quarto objetivo consistiu em caracterizar o perfil socioeconômico das professoras entrevistadas. Com esse objetivo buscamos conhecer quem são e em que contexto socioeconômico as professoras estão inseridas. 3.5 Procedimentos de coleta de dados Considerando que a pesquisa se caracteriza como qualitativa, a coleta de dados foi realizada por meio de diferentes instrumentos e técnicas de pesquisa, relacionadas ao âmbito da pesquisa bibliográfica, documental e de campo. Iniciamos a coleta de dados pela pesquisa bibliográfica. Sobre a importância do levantamento bibliográfico Tavarayama (2008, p. 80) coloca que tal levantamento: [...] se torna então uma fase importante da pesquisa, em que fazemos a escolha do material, bem como as delimitações do foco da pesquisa e os caminhos a percorrer, estratégias, planejamento, organização e execução. Vale ressaltar que o levantamento bibliográfico acompanha todo o processo da pesquisa, exigindo do pesquisador a busca constante por novas informações e dados. A partir do referencial teórico crítico adotado na pesquisa, fizemos a busca por bibliografias na área de educação que tivessem suas bases teóricas apoiadas no materialismo dialético e nos alicerçamos na pedagogia histórico-crítica proposta por Saviani (1999) e exemplificada metodologicamente por Marsiglia (2011), para desenvolver os estudos de natureza teórico-bibliográfica. Em seu livro Marsiglia (2011) assinala o empenho da pedagogia histórico-crítica em fundamentar-se no materialismo histórico, contrapondo-se à pedagogia liberal. Nesse sentido esta pedagogia trata de entender a história “[...] a partir de seu desenvolvimento material, da 46 determinação das condições materiais da existência humana” (SAVIANI, 2003, p. 88, apud MARSIGLIA, 2011, p. 21). A pesquisa bibliográfica voltou-se ainda para o levantamento de estudos referentes a questões da Educação Infantil no Brasil, desde seu surgimento, a luta por creches e pelos direitos da criança, passando pela reflexão do educar e cuidar e defendendo a função educativa desta fase da educação, com o auxilio especialmente de Abramowicz (2006). Também buscamos reflexões a cerca das práticas pedagógicas inovadoras, através de Carbonell (2002) e a importância da formação inicial para a formação docente (PIMENTA, 1996; GATTI, 2010). Para compreendemos as questões referentes à escola em que realizamos a pesquisa, fizemos um levantamento das leis municipais para a educação infantil, e analisamos o Projeto Político Pedagógico da escola (pesquisa documental). Dessa maneira, na tentativa de alcançar os objetivos e de acordo com a metodologia e o referencial teórico adotados, buscamos nos inserir na rede escolar para desenvolver a pesquisa de campo. Sabíamos que a tarefa não seria fácil por diferentes aspectos. Inicialmente tivemos dificuldade de encontrar nossos sujeitos de pesquisa, isto é, as egressas do curso de Pedagogia da UFSCar, que estariam atuando na Educação Infantil municipal. Portanto, buscamos ajuda com pessoas ligadas a Secretaria Municipal da Educação da cidade de São Carlos. Entendendo a relevância da pesquisa para a formação docente e para “a luta comum em defesa da escola pública” (GARCIA, 2003, p. 20), as funcionárias da Secretaria nos ajudaram a encontrar uma escola municipal que nos receberia e que contava com a atuação de egressas da UFSCar. Apesar da escola ter aceitado nossa presença, era necessário refletirmos sobre o momento de entrada no espaço escolar e consideramos, assim como coloca Garcia (2003, p.18-19), que devíamos ter: “[...] o indispensável cuidado, a atenção, a delicadeza, a sensibilidade para o outro, a aceitação do outro como legítimo outro, conforme Maturana, o que significa ouvir o outro no que o outro diz e não no que já trazemos como resposta.” Sabíamos, portanto, que ao nos inserirmos na escola, teríamos o sentimento de sermos estranhas ao ambiente escolar. Depois do contato feito pela própria Secretaria Municipal de Educação, que autorizou a realização da pesquisa, buscamos conhecer a escola, a comunidade escolar e coletar os dados da pesquisa de campo. Utilizamos como técnicas de pesquisa a observação direta, com registro em diários de campo (Apêndice A) e fotografias, entrevistas semi-estruturadas (Apêndice B) e questionário socioeconômico (Apêndice C). 47 A pesquisa de campo foi desenvolvida no segundo semestre do ano 2011, no período de agosto a outubro. A fase de observação direta totalizou 48 horas em que buscamos informações diretamente com a população pesquisada, por meio de inserções na sala de aula e nas atividades escolares de uma das professoras pesquisadas. Utilizando, em um primeiro momento, o “ver” e o “ouvir” e registrando posteriormente, de maneira planejada, às práticas pedagógicas, com intenção de olhar as inovações presentes. Estes registros foram feitos através de Diários de Campo (Apêndice – A, exemplo das reflexões do Diário de Campo) e o mais breve possível do dia da inserção, com a intenção de não perder os detalhes importantes. Além das observações pudemos, em diversos momentos, registrar por meio de fotos (autorizadas pela diretora da escola) as atividades da professora e o espaço físico da escola. As observações para a pesquisa foram realizadas em uma sala de vinte alunos, de três a quatro anos de idade. O total de horas foi dividido em visitas a instituição de duas a três vezes por semana, acompanhando, em sua maioria, desde a chegada dos alunos à escola, até o horário de término do período. Para que a pesquisa pudesse contribuir de modo imediato com a instituição, fizemos as observações juntamente com o desenvolvimento de um estágio voluntário. É importante ressaltar que não tínhamos a intenção de realizar a observação de maneira passiva, já que acreditávamos que poderíamos auxiliar, como forma de também contribuir com a instituição. Isso nos possibilitou uma maior aproximação com os sujeitos da pesquisa. As inserções no cotidiano escolar, para a observação da prática pedagógica e docente, foram seguidas por entrevistas semi-estruturadas com três professoras. Estas foram gravadas e transcritas pela pesquisadora e posteriormente revisadas e aprovadas pelas professoras. O roteiro das entrevistas foi organizado a partir dos objetivos da pesquisa e do levantamento bibliográfico já realizado. (Apêndice – B, Questões da entrevista) Sobre as contribuições do uso do gravador nas entrevistas Queiroz (1991, apud TAVARAYAMA, 2008, p. 86): [...] ser este um meio mecânico que permite um afastamento do pesquisador e de sua subjetividade na coleta de dados, o que possibilita informações muito mais próximas da realidade, sem as distorções trazidas pelas emoções dos estudiosos e também em alguns casos não inibe os entrevistados de falarem o que pensam sobre determinado assunto, pois o gravador chega a passar despercebido. Porém, no momento em que o estudioso se volta para o aproveitamento do material que colheu, a subjetividade e as suas emoções se tornam fundamentais. 48 As entrevistas de caráter semi-estruturado possibilitaram às professoras pesquisadas a valorização de suas ações, dando-lhes voz para falar de sua formação e de sua prática, ampliando, assim, a discussão e reflexão da temática abordada. Para Triviños (1987, p. 152): [...] a entrevista semi-estruturada mantém a presença consciente e atuante do pesquisador e, ao mesmo tempo, permite a relevância na situação do ator. Este traço da entrevista semi-estruturada [...] favorece não só a descrição dos fenômenos sociais, mas também sua explicação e a compreensão de sua totalidade, tanto dentro de sua situação específica como situações de dimensões maiores. Dessa maneira buscamos considerar, na realização das entrevistas, as indicações sugeridas por Bogdan e Biklen (1982 apud FRAGELLI, 2000), entendendo a situação de trabalho das participantes, respeitando suas possibilidades, seus horários e tempos disponíveis para a entrevista; as suas respostas; não fazer a imposição de uma problemática; conduzir a entrevista com a preocupação de não estar distante do universo de valores e preocupação das participantes; manter a discrição e paciência, ouvindo as participantes, mesmo que por longo tempo. Finalmente, para a caracterização do perfil socioeconômico das professoras utilizamos um questionário, o qual elas responderam individual e manualmente. (Apêndice C – Questionário Socioeconômico). O questionário contou, primeiramente, com informações mais gerais a respeito, da idade, estado civil, local em que reside, a quanto tempo esta sem estudar e o ano de conclusão da graduação. Em seguida tratou da situação familiar e a renda, ou seja, buscou-se a quantidade de pessoas que residem com as pesquisadas e a renda total familiar; em que tipo de escola realizaram seus estudos, no ensino fundamental e no ensino médio, se foram em escolas de ensino público ou privado; e o nível de escolaridade dos pais. Por fim, responderam questões sobre patrimônio como: o tipo de casa em que moram (exemplo: própria, alugada, emprestada) e se possuem automóveis. O modelo do questionário foi adaptado (por meio da junção de outros questionários socioeconômicos) para a pesquisa que realizamos, apenas com as perguntas mais relevantes para compreendemos os perfis das pesquisadas. 3.6. Procedimentos para a análise dos dados Os dados coletados foram triangulados, visando ampliar nossa compreensão do fenômeno observado (TRIVIÑOS, 1987). A análise das entrevistas foi realizada a partir da categorização das informações e interpretação dos sentidos que as professoras atribuem a sua formação inicial e prática 49 pedagógica. Consideramos que os dados obtidos podem apresentar certo grau de ambigüidade, por isso, tentamos ser cuidadosos em estabelecer as categorias e analisar as respostas. Dividimos as categorias em três eixos temáticos, o primeiro relacionado com questões sobre a formação das professoras, o segundo com as possíveis práticas pedagógicas inovadoras e o último sobre trabalho docente. No primeiro eixo temático, denominado Formação Docente, identificamos três categorias, sendo a primeira relacionada com a importância da formação inicial. Separamos esta categoria em três subcategorias: a relação entre o estágio e as disciplinas oferecidas na universidade; a base teórica; e a valorização da formação feita pelas professoras. A segunda categoria se relaciona às habilitações em educação infantil, e evidencia duas subcategorias: ausência de habilitação na educação infantil; e conteúdos sobre educação infantil. A terceira e última categoria deste eixo foi formação continuada, dividida em quatro subcategorias: cursos de pós-graduação (mestrado); cursos de especialização; segunda graduação; e formação continuada em educação infantil. As categorias e subcategorias do eixo temático Formação Docente podem ser visualizadas no Quadro 1. Categorias Subcategorias Relação entre o estágio e as disciplinas; Importância Inicial da Formação Base teórica; Valorização da formação; Formação Docente Habilitação Infantil em Educação Ausência de habilitação; Conteúdos sobre educação infantil Cursos de Pós-Graduação (mestrado) Cursos de especialização Formação Continuada Segunda graduação Formação continuada em Educação Infantil Quadro 1 – Eixo temático: Formação Docente. Fonte: Dados das entrevistas realizadas em 2011. 50 O segundo eixo temático, Práticas Inovadoras foi dividido em três categorias. Dificuldades encontradas, separada em três subcategorias: O cuida e o educar; Falta de material pedagógico; e Condições do espaço físico da escola. As relações entre práticas pedagógicas e qualidade de ensino, vista a partir de duas subcategorias: Inovações ligadas a práticas pedagógicas ativas; Práticas diferentes para a motivação dos alunos. E os impactos da educação da criança na família: aprendizados compartilhados como subcategoria única. As categorias e subcategorias do eixo temático Práticas Inovadoras podem ser visualizadas no Quadro 2. Categorias Dificuldades encontradas Práticas Inovadoras Relações entre Práticas Pedagogias Inovadoras e Qualidade de Ensino Impactos da educação da criança na família. Subcategorias O cuida e o educar; Falta de material pedagógico; Condições do espaço físico da escola; Inovações ligadas pedagógicas ativas; a práticas Práticas diferentes para a motivação dos alunos; Aprendizados compartilhados; Quadro 2- Eixo temático: Práticas Inovadoras Fonte: Dados das entrevistas realizadas em 2011. No terceiro eixo temático – Trabalho docente, encontramos apenas uma categoria: experiências de trabalho cotidiano, dividida, porém, em duas subcategorias: Experiências ligadas as práticas pedagógicas ativas; e a Busca por atividades diferentes das tradicionalmente esperadas.Os dados referentes ao eixo temático Trabalho Docente podem ser observados no Quadro 3. Categorias Trabalho Docente Experiências de trabalho cotidiano Quadro 3 – Eixo Temático: Trabalho docente Fonte: Dados das entrevistas realizadas em 2011. Subcategorias Experiências ligadas as práticas pedagógicas ativas; Busca por atividades diferentes das tradicionalmente esperadas; 51 Os dados do questionário foram tabulados e utilizados na caracterização do perfil socioeconômico das professoras. Associando-se os dados do questionário, das entrevistas, dos diários de campo, documentos e bibliografia foi possível triangular e interpretar diferentes tipos de informações, o que enriquece e aprofunda as possibilidades de compreensão do problema de pesquisa. Finalizando, gostaríamos de destacar ainda que a partir de nosso objetivo buscamos vivenciar a prática educacional, por meio do estágio voluntário desenvolvido na escola e ao mesmo tempo refletir sobre ela, partindo, portanto, do princípio de que a ação e a reflexão compõem uma relação dialógica e dialética. No capítulo a seguir apresentamos os resultados e a discussão dos dados da pesquisa. 52 4. ANÁLISE DOS DADOS Este capítulo tem a intenção de apresentar os dados coletados na pesquisa realizada com três professoras atuantes na Educação Infantil de uma mesma escola da rede municipal de São Carlos. Conforme indicado na sessão referente à metodologia da pesquisa foram utilizados um questionário para a caracterização do perfil socioeconômico das professoras egressas do curso de Licenciatura em Pedagogia da UFSCar; entrevistas semi-estruturadas para identificar as possíveis situações de contato, reflexões e experiências sobre práticas pedagógicas inovadoras na graduação; e observações diretas da prática pedagógica de uma das professoras. Apresentamos e discutimos a seguir os resultados obtidos. 4.1- O perfil socioeconômico das professoras As professoras que participaram da pesquisa se encontram em faixas etárias que variam entre 29 e 35 anos e concluíram a graduação em Licenciatura em Pedagogia entre 1999 e 2004. Todas estão a menos de um ano sem estudar, realizando cursos para a complementação da sua formação inicial. São residentes no mesmo município em que foi realizada a coleta de dados. Duas professoras são solteiras, uma mora com os pais e a outra sozinha. Uma é casada, residindo apenas com o marido e nenhuma delas têm filhos. Possuem renda familiar mensal entre $2.200 a $6.000 reais. No Ensino Fundamental as três professoras estudaram somente em escolas públicas, entretanto, no Ensino Médio, duas estudaram somente em escolas públicas e uma na escola particular, e não recebia bolsa. Duas professoras realizaram cursos pagos, de língua estrangeira e de pós-graduação, com mensalidades variantes entre $100,00 a $300,00 reais e uma nunca realizou cursos custeados. Em relação à escolaridade dos pais é possível afirmar que as mães de duas participantes completaram o Ensino Médio e uma mãe fez o Ensino Superior incompleto; já em relação aos pais, um fez o Ensino Fundamental Completo, um o Ensino Superior Incompleto e o outro Ensino Superior Completo. Como patrimônio, todas possuem casa própria, tendo entre um a três imóveis, assim como automóveis, mas nenhuma possui motocicletas. 53 Tendo em vista os dados obtidos através dos questionários, buscamos outras pesquisas que tratassem do perfil dos (as) professores (as), com a intenção de fazer um paralelo com a nossa pesquisa. Com base na pesquisa de Bigaton (2005), em nível de Brasil, a pesquisa da UNESCO (2004), afirma que “os dados do estudo apresentam como resultado uma média de idade dos docentes de 37,8 anos, o que, considerando o panorama internacional, coloca os professores brasileiros como relativamente mais jovens. (p.51) De acordo com a média nacional, podemos verificar que as professoras sujeitos desta pesquisa, encontram-se ainda, abaixo da média de idade, enfatizando, a constatação da UNESCO (2004), sobre o Brasil, ser um país com professores jovens. Apesar de a pesquisa ter se realizado com três participantes diretos apenas, foi possível observar através da prática e do Projeto Político Pedagógico (2007) da escola, que todos os professores, incluindo nossos sujeitos de pesquisa, são mulheres, confirmando o que é colocado por Bigaton (2005) com base em Viera (2002 p. 27, apud BIGATON, 2005, p.52) “[...] as investigações desenvolvidas sobre o gênero dos trabalhadores em educação, em geral, apontam para uma mesma direção: a imagem historicamente construída de uma profissão em que predomina o sexo feminino.” Sobre a formação continuada, observamos que todas as professoras estão a menos de um ano sem estudar, a UNESCO (2008) coloca que há um elevado nível de docentes que participam de atividades ou cursos com o objetivo de complementação da sua formação inicial. Sobre a renda familiar podemos observar que: A região geográfica onde o professor trabalha se correlaciona com sua renda familiar. Acompanhando as desigualdades regionais, apenas 12,3% dos professores da região Nordeste possuem renda familiar acima de 10 salários mínimos. Esse percentual sobe para 22,5% entre os professores da região Norte; para 26, 8% entre os da região Centro-Oeste; 27,8% entre os da região Sul; e 42,1% junto aos professores da região Sudeste [...] (UNESCO, 2004, p.62 apud BIGATON, 2005, p.54) Apesar da cidade onde foi realizada a pesquisa se localizar na região Sudeste do país, das professoras pesquisadas apenas uma possui renda familiar acima de 10 salários mínimos. 7 Os estudos sobre os professores costumam descrevê-los como uma categoria profissional relativamente homogênea, proveniente, em larga medida, dos estratos médios da população. 7 Tendo por base que o salário mínimo a partir de 1 de março de 2011 é de R$545,00. 54 O conhecimento da construção da trajetória educacional das pesquisadas pode fornecer informações importantes para observar o perfil dos professores. Notamos que elas realizaram na maioria do tempo seus estudos em escolas públicas. Sobre esses dados a UNESCO (2009) coloca que: Os estudantes provêm, em sua maioria, da escola pública. São 68,4% os que cursaram todo o ensino médio no setor público e 14,2% os que o fizeram parcialmente. A proporção de alunos que freqüentaram apenas o ensino médio privado é menor entre os alunos da Pedagogia (14,3%) do que entre os das demais licenciaturas (18,3%). (p.167) Sobre os imóveis, todas as professoras pesquisadas declararam morar em casa própria, para comparação Bigaton (2005), verificou que a maioria dos professores pesquisados ou tinha casa própria ou financiada. “[...] duzentos e cinquenta e oito (258) professores dos quatrocentos e quarenta e dois (442) questionados, possuem casa própria quitada e trinta e nove (39) possuem casa própria financiada.” (p.54) Dessa maneira, observamos que os dados obtidos com o questionário sócio-econômico da nossa pesquisa, são semelhantes aos dados conseguidos por outras pesquisas sobre o perfil docente. 4.2 Características da Escola em que atuam as professoras pesquisadas Apresentamos a seguir uma breve descrição da escola municipal em que as professoras pesquisadas atuam, destacando a visão do coletivo sobre a escola que possuem, com alguns recursos físicos, materiais, humanos e financeiros; e a escola que almejam. Dessa maneira, nos apoiamos no Projeto Político Pedagógico (PPP) da Escola, que tem sua última versão revista no ano de 2007. Segundo relato da diretora da escola, ela aguarda para a atualização do PPP, o Plano de Gestão Municipal, o qual teria a função de guiar de maneira contínua e democrática o desenvolvimento municipal, estando sempre de acordo com o Plano Diretor, Estatuto da Cidade e outros instrumentos de planejamento. A escola atende aproximadamente 400 crianças de dez bairros diferentes, da cidade de São Carlos, na faixa etária de dois a cinco anos de idade. Conta com um espaço físico de doze salas, divididas entre salas de aula, sala de televisão, sala de materiais destinados a Educação Física, e uma sala para o Projeto Criando Asas. Uma cozinha, quatro banheiros infantis, sendo dois femininos e dois masculinos, três almoxarifados, que guardam equipamentos e materiais didáticos, um refeitório, uma dispensa, para armazenar os alimentos, uma secretaria, para 55 gerir a parte administrativa e pedagógica da escola, três parques, um pátio coberto, horta e três banheiros para funcionários. A unidade escolar tem a sua disposição os seguintes recursos materiais: TV, vídeo cassete, DVD, aparelho de som, rádio, microfone, caixa de amplificar som e computador. Entre os materiais pedagógicos ela dispõe de diversos jogos de montar, bonecos, fantoches, livros com temas transversais, livros sobre inclusão e diversas coleções didáticas que auxiliam a programação de atividades, livros de estórias infantis, materiais de Educação Física, como: bolas de diversos tamanhos, cones, bambolês, boliche, boca do palhaço, dominó, quebracabeças e tabela de basquete. Ainda segundo o PPP da escola (2007), quanto aos recursos humanos a escola conta com vinte e dois educadores, os quais são divididos igualmente entre os dois períodos atendidos: manhã e tarde. Para conhecermos a formação dos professores e a situação dos cargos temos os seguintes dados: dos vinte e dois professores, oito (36 %) fizeram o Ensino Superior e Especialização e catorze (64%) cursaram apenas o Ensino Superior. Esses dados podem ser visualizados na Figura 1, apresentada a seguir. Figura 1 – Formação dos Educadores. Fonte: PPP da escola, 2007. A situação de cargos dos docentes da escola se divide em: treze (59%) professores efetivos, três (14%) em situação de A.C.T.8, cinco (23%) são substitutos e um (4%) é substituto – A.C.T. A Figura 2 – Situação dos Professores, apresentada a seguir ilustra tais dados. 8 Servidor admitido em emprego de natureza temporária em razão de legislação própria. 56 Figura 2 – Situação dos professores. Fonte: PPP da escola, 2007. Como equipe técnica e de apoio a escola conta com cinco serventes/merendeiras, duas pessoas destinadas ao serviço geral, sendo que uma delas também tem a função de coopera, uma diretora e uma auxiliar administrativa. Sobre os recursos financeiros da escola, o PPP coloca que a escola recebe a quantia de mil reais da Secretaria Municipal de Educação de São Carlos, destinados a manutenção da escola, mas essa verba é recebida de acordo com as necessidades da Unidade Escolar. A compra de materiais é feita com notas fiscais, apresentadas ao Conselho de Escola e depois são entregues a Secretaria para a averiguação das notas e valores. A APM está desativada por causa de gastos com sua manutenção. Entretanto, o Conselho de Escola é ativo e conta com doze integrantes entre pais de alunos, professores e funcionários, renovados a cada ano, os quais se reúnem uma vez por mês ou quando é necessário, mas infelizmente acreditam que ainda há falhas na divulgação dos resultados das reuniões. A escola conta com um projeto que se iniciou no mesmo ano do PPP, 2007, chamado Projeto Criando Asas. O projeto é realizado na cidade de São Carlos por meio de uma parceria entre a Secretaria Municipal de Educação e Cultura e a Secretaria Municipal da Cidadania e Assistência Social. Caracteriza-se por ser um projeto de estimulação psicossocial, fundamentado na ludoterapia9, atendendo crianças com necessidades especiais e crianças de vulnerabilidade social na faixa etária de zero a seis anos. Ele é responsável pelo atendimento educacional especializados das crianças matriculadas na rede municipal de ensino, mas também atende crianças da comunidade. O trabalho de ludoterapia é desenvolvido por uma 9 A Ludoterapia é a psicoterapia adaptada para o tratamento infantil, através do qual a criança, brincando, projeta seu modo de ser. O objetivo dessa modalidade de análise é ajudar a criança, através da brincadeira, a expressar com maior facilidade os seus conflitos e dificuldades, ajudando-a em sua solução para que consiga uma melhor integração e adaptação social, tanto no âmbito da família como da sociedade em geral. (PREGNOLATO, 2006). 57 equipe de doze professoras da Educação Especial (ludo educadoras), uma fonoaudióloga, uma terapeuta ocupacional e uma psicóloga. As três últimas profissionais não realizam um trabalho clínico, mas um exercício de orientação às professoras da Educação Especial, às professoras da rede e aos pais das crianças. O Projeto Político Pedagógico da Unidade Escolar traz a concepção de criança declarada na Introdução do Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. A criança como todo ser humano, é um sujeito social e histórico e faz parte de uma organização familiar que está inserida em uma sociedade, com uma determinada cultura, em um determinado momento histórico. É profundamente marcada pelo meio social em que se desenvolve, mas também o marca. (...) As crianças possuem uma natureza singular, que as caracteriza como seres que sentem e pensam o mundo de um jeito muito próprio. Nas interações que estabelecem desde cedo com as pessoas que lhes são próximas e com o meio que as circunda, as crianças revelam seu esforço para compreender o mundo em que vivem, as relações contraditórias que presenciam e, por meio das brincadeiras, explicitam as condições de vida a que estão submetidas e seus anseios e desejos. (BRASIL, 1997, p. 21). O PPP completa a concepção trazida no R.C.N. para a Educação Infantil, que estando de acordo com essa concepção, o importante é desenvolver uma educação que respeite as diferenças, vendo-as como uma oportunidade de valorizar o desenvolvimento pessoal e social, para enriquecer o processo de aprendizagem. Para que as crianças sempre sejam estimuladas, se faz necessário, segundo o PPP da escola, um educador com competências polivalentes. Entendendo que um professor polivalente é aquele que trabalha com diferentes conteúdos de naturezas diversas, abrangendo, portanto, desde cuidados básicos e essenciais, até conhecimentos mais específicos, procedentes das distintas áreas do conhecimento. Para que esse caráter polivalente esteja presente, é necessária uma formação ampla do profissional da educação, devendo contar também com caráter de pesquisador, e com a reflexão constante da sua prática, debatendo com outros agentes escolares, com as famílias e a comunidade. Como instrumentos para a reflexão da prática é proposto: a observação, o registro, o planejamento das ações e a avaliação das mesmas, visando o desenvolvimento. O PPP coloca que o trabalho em equipe entre os agentes escolares, a família e a comunidade é uma ferramenta de aprendizagem positiva, como também uma peça importante para alcançar os objetivos educacionais. A crença na interdependência dos seres humanos possibilita a visão de que todos têm um papel a realizar para que a unidade escolar cumpra as propostas curriculares. Pois a escola, segundo o PPP é um espaço de contribuição, juntamente com as demais instâncias da sociedade, para as transformações que teriam como finalidade, tornar a vida social das pessoas mais democrática. “O objetivo seria o de elevar o nível de 58 compreensão dessa realidade por parte do educando através do lúdico e de práticas pedagógicas que favoreçam o seu entendimento e enriquecimento.” (PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO, 2007, p.12). Para melhorar a qualidade da educação na unidade escolar o PPP propõe algumas melhorias nas instalações físicas e nas ações pedagógicas. Julga necessária a instalação de mais ventiladores e cortinas, a compra de mais livros infantis e brinquedos, pois estes já estão com muito uso ou quebrados. Como já foi exposto, as aulas de Educação Física nos dias chuvosos acontecem no pátio coberto, no entanto, este é um local com muito trânsito de alunos, por se localizar no caminho do refeitório, banheiros, bebedouro e secretaria. Dessa maneira, os agentes escolares, almejam poder contar com um lugar adequado e destinado a esse tipo de aulas. As fotos a seguir ilustram alguns dos espaços da escola. Figura 3 – Pátio Interno. 2011. Fonte: Foto da pesquisadora Figura 4 – Pátio Interno. 2011 Fonte: Foto da pesquisadora Figura 5 – Secretária da Escola. 2011. Fonte: Foto da pesquisadora Figura 6 – Sala de Materiais. 201110 Fonte: Foto da pesquisadora Com relação à criança que buscam formar, o PPP mostra que é aquela que sinta prazer em ir à escola, que protagonize as atividades, que vá gradualmente construindo sua autonomia e que esta se manifeste na organização dos próprios pertences, dos materiais pedagógicos e na 10 Todas as imagens apresentadas no trabalho foram autorizadas pela diretora da escola. 59 resolução de conflitos. Igualmente buscam desenvolver as capacidades da criança, a fim de prepará-las para o convívio em sociedade, agindo de forma crítica e criadora do seu meio. A criança deve ter condições de expressar-se de forma livre, ampliando continuamente seu conhecimento. 4.3 Resultados das Entrevistas: categorização e interpretação dos dados As entrevistas foram realizadas com três professoras, sendo que duas possuem cargos efetivos na Unidade Escolar e a terceira se encontra em situação de A.C.T. Os resultados das entrevistas foram organizados em três eixos temáticos: Formação, Práticas Inovadoras e Trabalho docente. Tais eixos temáticos foram utilizados para a apresentação da categorização das entrevistas e são apresentados a seguir nos Quadros 1, 2 e 3. E a partir dos quadros é que desenvolvemos a discussão dos dados. Categorias Subcategorias Relação entre disciplinas Importância da Formação Inicial o estágio Base teórica Valorização da formação Ausência de habilitação 11 Exemplos de falas e as “[...] tanto o estágio quanto as disciplinas me proporcionaram assim, um conhecimento muito grande para o que eu faço hoje e principalmente para o Ensino Fundamental, porque eu acho que o curso de Pedagogia da Federal, na época em que eu cursei, ele puxava muito para o Ensino Fundamental, para a alfabetização, para o ensino de Matemática, para os Estudos Sociais.” (Professora Laís11) “A pedagogia trabalha assim: mais a teoria. Então, por exemplo: para a educação infantil, a gente não viu muita coisa, mas só de ter visto Freinet, alguma coisa de Montessori, a gente viu até História da Educação, que a gente não estuda no Magistério, isso é importante pra gente compreender certinho como é o desenvolvimento infantil.” (Professora Vanessa) “Isso, tento lembrar o que estudei lá (UFSCar) porque eu acho que foi uma boa formação.” (Professora Vera) “Tanto é que na época surgiu uma questão, pois quando foram pegar meu diploma eles só aceitaram porque a exigência era Licenciatura Plena, porque eu não tenho Os nomes das professoras pesquisadas são fictícios para proteção da identidade. 60 Infantil no diploma.” (Professora Laís) “Então, nós vimos artes, música, filosofia para crianças. [...] então eu falo que a formação na Educação Infantil mesmo, veio do magistério, um pouco do magistério, e muito da Pós, que a gente viu muita coisa prática mesmo.” (Professora Vanessa) Habilitação em Educação Infantil Conteúdos sobre educação infantil Cursos de Pós-Graduação: mestrado “As habilitações eram Orientação Educacional, Administração, Séries Iniciais. Mas, depois a gente precisou porque a Prefeitura exigiu (habilitação em Educação Infantil), a gente foi na UFSCar, e [...] explicou que a gente já tinha Educação Infantil, mas não era uma habilitação. Depois eles colocaram (no certificado), porque fizemos várias disciplinas e coisas em Educação Infantil. A formação estava lá.” (Professora Vera) “Eu fiz o Mestrado em Educação na Federal.” (Professora Laís) “Fiz em alfabetização e letramento em Jaboticabal, na Faculdade São Luís.” (Professora Vanessa) Formação Continuada Cursos de especialização “Eu fiz Especialização Psicopedagogia.” (Professora Laís) em “A minha pós, que eu fiz, não foi exatamente voltada para a Educação Infantil. Era Crítica Literária. Como eu gosto de Literatura, eu fiz em Crítica Literária. Aí o que eu tentei lá na Crítica Literária foi à parte de Literatura Infantil. (Professora Vera, p. 4)” Segunda graduação “Isso depois da especialização, como eu gostei muito, de Literatura, eu fui fazer Letras. (Professora Vera, p.6) Formação continuada em Educação Infantil “No começo desse ano eu fiz um curso de dança, dança na Educação Infantil [...]” (Professora Vera) Quadro 1 – Eixo temático: Formação Docente Fonte: Dados das entrevistas realizadas em 2011. A partir do que foi relatado pelas professoras pesquisadas nas entrevistas, separamos suas falas por eixos, categorias e subcategorias para facilitar a compreensão das respostas. Dessa maneira, foi possível observar que sobre as suas formações iniciais em Licenciatura em Pedagogia, as professoras entrevistadas possuem uma opinião satisfatória da contribuição. Acreditando que utilizam os conhecimentos adquiridos no curso de formação para as práticas pedagógicas cotidianas. Sobre as contribuições da formação inicial Costa e Oliveira (2007) se 61 baseiam em Imbernón (2000, p.84), para enfatizar que essa modalidade deve possibilitar aos futuros docentes os domínios: [...] de uma bagagem sólida nos âmbitos científico, cultural, contextual, psicopedagógico e pessoal que deve capacitar o futuro professor ou professora a assumir a tarefa educativa em toda a sua complexidade, atuando reflexivamente com a flexibilidade e o rigor necessários, isto é, apoiando suas ações em uma fundamentação válida para não cair no paradoxo de ensinar a não ensinar, ou em uma falta de responsabilidade social e política que implica todo ato educativo [...] As professoras colocam que os estágios e as disciplinas contribuíram para a sua atuação, entendendo a importância do conhecimento para ensinar. Atualmente, a proposta dos estágios oferecidos no curso de Pedagogia da UFSCar está baseada na concepção que “A qualidade da preparação do professor depende, aparentemente, das intenções específicas e das características das experiências no campo em situações que envolvam o processo ensino e aprendizagem.” (PPP – PEDAGOGIA, UFSCar, 2008, p. 28) Entendemos que, a experiência do estágio se tornará significativa para o futuro docente dependendo de como ela ocorreu, se ao estar presente no cotidiano escolar, os futuros professores foram incentivados a refletir sobre a sua atuação futura, mas já o considerando como professor em formação, ou se ele foi visto como uma “tabula rasa” e portanto desvalorizado frente aos aprendizados já contemplados. Para que a experiência prática, proporcionada pelos estágios, possa contribuir para reflexões e para a prática docente futura a UFSCar propõe: Tomar como base as concepções prévias dos futuros professores sobre o quê, como e para quê ensinar determinados conteúdos; Ensinar os futuros professores a “compreender” e a analisar as situações vivenciadas; Realizar “pesquisas envolvendo ação” em sala de aula; Vivenciar situações de “laboratório” (simulações, demonstrações, experimentações e etc.); Desenvolver atividades bem focalizadas e estruturadas assim como atividades que envolvam simultaneamente conhecimentos oriundos de diversos campos disciplinares; Ter o auxílio de professores “cooperativos” (das escolas). (PPP - PEDAGOGIA, UFSCar, 2008, p. 28-29) Notamos, também que apesar das professoras estarem atuando na Educação Infantil, não foi no curso de graduação que obtiveram a maioria dos conhecimentos para essa modalidade da educação. Segundo a UNESCO (2009, 71): Merece, porém, atenção a enorme lacuna quanto à formação de professores para a educação infantil, uma vez que se trata do nível inicial da educação básica, que compreende vários anos de atenção à criança pequena, e que concentra, como já se viu, o maior percentual de docentes sem formação adequada. Seguindo a tradição dos cursos de magistério de nível médio, os atuais cursos superiores de Licenciatura 62 I costumam preparar concomitantemente o professor para atuar na educação infantil e no ensino fundamental. A suspeita é que, entendida, como em tempos passados, mais como uma complementação da formação do professor dos primeiros anos do ensino fundamental, a formação oferecida não esteja contemplando devidamente as especificidades da educação das crianças na pré-escola e nas creches. Entretanto, as docentes também destacam que compreendem conjuntamente a importância de estar adquirindo novos conhecimentos, por isso buscaram outras maneiras que complementar a formação deficitária fazendo cursos de especialização, outra graduação e a busca por prosseguir na carreira acadêmica, através do Mestrado. A seguir, examinaremos o Quadro 2, com o eixo temático Práticas Inovadoras. Este quadro foi separado em três categorias e destas destacamos seis subcategorias, como podemos observar: Categorias Subcategorias O cuidar e o educar Dificuldades encontradas Falta de material pedagógico Condições do espaço físico da escola Exemplos de falas “[...] quando eu prestei o concurso eu entrei para trabalhar na creche, e a creche é muito cuidado, tem que trocar a fralda, tem que dar comida, a gente ensina a criança a brincar, mas pedagogicamente falando é muito restrito as atividades da creche.[...] É só cuidado, é gostoso, é satisfatório, as crianças novas, é uma delicia trabalhar com bebê, só que na nossa formação ninguém me ensinou a trocar fralda, na faculdade e eu acho que nem é para ensinar isso, só que hoje a rede exige que seja pedagogo que faça essa função” (Professora Laís) “Agente está sem material. Gasta? Gasta, mas temos que dar um jeito. Eu me sentiria muito frustrada de falar assim: ‘Não tem material e também não vou trabalhar’, eu não iria conseguir fazer isso. Então a gente busca outros caminhos, outros meios, doação, seja lá o que for.” (Professora Vanessa) “Pois na hora que eu entrei na sala e vi que não dava para fazer os ateliês, pois na outra escola em que eu trabalhava, eram carteiras para criancinhas. [...] eu fiquei muito triste, porque eu não conseguia fazer [...] as coisas que eu estudei, eu não conseguia aplicar, aí eu tive que dar aula tradicional mesmo. Eu até tentava fazer algumas coisas diferentes, mas não dava, não tinha espaço nem para contar história. Eu tinha um corredorzinho para passar, porque as 63 filas das carteiras já começavam perto da minha mesa, então se eu queria fazer uma roda para contar uma história, não dava. Às vezes eu saía caçando sombra pela escola, porque a escola que eu trabalhava não tinha muita área e era junto com o Fundamental, então não tinha muito espaço.” (Professora Vera) Inovações ligadas pedagógicas ativas. a práticas Relações entre Práticas Pedagogias Inovadoras e Qualidade de Ensino “A gente estava trabalhando alguns projetos na creche sobre os sentidos. Então eu acho que isso acaba ajudando eles (crianças), mais para frente quando forem trabalhar, com cores, com Matemática, quando for trabalhar com alfabetização, a gente já começa a trabalhar com as letrinhas. Eu acho que algumas coisas a gente já pode começar a trabalhar desde cedo, e não deixar essa criança que fica o dia inteiro na escola, ficar só brincando aqui no parque, se alimentando, dormindo e trocando fralda. Não, eles estão aqui vamos então trabalhar o pedagógico deles, então desde cedo à gente já começa com algumas ações e estímulos, o quanto antes, que eles vão ser melhor aqui na EMEI e no Fundamental depois.” (Professora Laís) “E o interessante é que, a gente no órgão público, a gente tem essa liberdade de trazer a sua formação, apresentar ideias novas, métodos novos, mas métodos nem são, são ideias novas. Porque a parte de ‘fazer roda’, já vem de Freinet, então não é nada de novo. Na verdade a gente faz uma nova forma. [...] Uma metodologia para trabalhar. Exatamente, uma adaptação para a realidade. Então a gente faz roda de conversa, que vem de Freinet, então é bem nessa linha.” (Professora Vanessa) Práticas diferentes para motivação dos alunos Aprendizados compartilhados “Eu acredito que a rotina mata a sua aula, eu acho que as crianças têm que ter algumas rotinas sim, para saber a hora de estudar, a hora de brincar, a hora de escovar os dentes, tem que ter, mas a rotina que eu digo assim: todos os dias a mesma coisa de atividade, sem novidade, não muda. Começar pela atividade todos os dias e depois você vai para outra coisa, não pode. Tem que quebrar, pelo menos uma fez por semana você tem que trazer uma coisa diferente. [...] Um dia começamos da história, um dia da brincadeira, um dia com uma música, outro dia com uma mágica. (Professora Vera) “[...] eu contei uma história outro dia para as crianças, e a mãe chegou e falou ‘Você contou uma história, assim, assim? Porque ele tentou me contar e eu fui ligando as 64 Impactos da educação da criança na família. coisas e achei que seria uma história que você havia contado’. Então tem isso, a gente tinha feito uma cobra, com revista velha, jornal velho, ai fomos explicando que aquilo ao invés de jogar no lixo, a gente podia usar para fazer outra coisa. Algumas mães falaram pra gente, ‘Olha eles não estão mais deixando a gente jogar no lixo!’ Falou que dá pra reutilizar. Então, desde pequenos a gente já consegue trabalhar alguns conceitos, que eu acho que mesmo que forem em pequena escala eles levam a aprendizagem para a casa.” (Professora Laís) “Então as mães nas reuniões falam, nós sabemos exatamente como você faz com eles, ‘Crianças agora é hora de guardar’. ‘Crianças é hora de fazer isso...’ Elas imitam muito o professor. [...] a gente faz muita roda de leitura, de livros, então eles já sabem ter cuidado com os livros, eles demonstram interesses, falam para as mães: ‘Ah, eu quero contar história hoje!’ Ai a mãe empresta livro. Então todo dia quase tem um livro em cima da mesa, que eles trazem para contar. As mães falam que foi uma mudança muito gostosa.” (Professora Vanessa) “Eu acredito que elas aprendam aqui e chegam em casa e chamam a atenção do pai e da mãe, o que eu espero é que elas não apanhem por isso. Eu já ouvi crianças falando ‘eu falei para o meu pai e para a minha mãe’, até de matar bichinhos eu ouvi a criança falando ‘eu vim para a escola e pulei a formiguinha’.” (Professora Vera). Quadro 2- Eixo temático: Práticas Inovadoras Fonte: Dados das entrevistas realizadas em 2011. Assim como colocamos no primeiro capítulo deste trabalho, há uma forte ligação da atuação docente com o cuidar, assistir e higienizar as crianças pequenas e essa ligação se torna muitas vezes uma angústia para as professoras recém formadas que não são mães e, provavelmente, não possuem conhecimentos práticos de como realizar essas tarefas. Acreditamos que pouco tem se discutido nos cursos de formação, sobre as crianças das primeiras idades e são poucas as experiências proporcionadas pelo curso de Pedagogia nesta modalidade da educação. Como já observamos, o curso tem predominantemente mulheres e, com isso traz a ideia de vocação materna. O pouco conhecimento da Educação Infantil, tornase um empecilho para a prática pedagogia inovadora, pois as educadoras não conseguem realizar o educar, por falta de conhecimentos teóricos. 65 Como já foi discutido no capítulo 2, com base em Carbonell (2002) são muitos os desafios a serem vencidos, para possibilitar a prática pedagógica inovadora, entre eles as professoras colocaram: as limitações do espaço físico da escola, que muitas vezes não comportam a quantidade de alunos excessivos; e a falta de material pedagógico, por se tratar de escolar da rede pública municipal, enfrentam os dilemas do pouco investimento na educação. Carbonell (2002) destaca que para se desenvolver práticas pedagógicas inovadoras são necessários espaços físicos, simbólicos, mentais e afetivos, diversificados e estimulantes. Edifícios esteticamente mais agradáveis e educadamente mais funcionais. E o autor também propõe aulas fora da classe, assim como era o desejo de uma das professoras pesquisadas, mas que não pôde ser concretizado mediante a falta de sombra na escola em que ela atuava. (Lembrando que a fala da professora Vera não se refere à escola em que foi realizada esta pesquisa) Categorias Subcategorias Experiências ligadas pedagógicas ativas. às Exemplos de fala práticas Experiências de trabalho cotidiano “Eu acho, a gente estimula bem eles contarem, conta os brinquedos com eles, então tem criança lá que já conta de um a dez. Tem criança que já sabe cor, porque a gente tem as bolas coloridas, e eles já sabem as cores. Já sabe seqüência, seqüenciação. Separação por categoria. A gente trabalha bastante música com gestos, para eles conhecerem as partes do corpo” (Professora Laís) “No começo eu deixava mais livre, agora que eu já conheço um pouquinho melhor o desenvolvimento das crianças, eu vou direcionando as atividades desenvolvidas. Mas o que eu quero: eu quero que o que está um pouco mais desenvolvido auxilie o menor.” (Professora Vanessa, p. 4) Busca por atividades diferentes das tradicionalmente esperadas. Quadro 3 – Eixo Temático: Trabalho docente Fonte: Dados das entrevistas realizadas em 2011. “Pois é, não dá para fazer todo dia a mesma coisa é muito chato. Não vou te dizer que eu também não dou isso (desenho e massinha de modelar), eu dou, pois não são todos os dias que você esta bem para fazer coisas diferentes, pois até para contar uma história, tem dias que você não está bem. Mas, também todos os dias você não estar bem, ai é demais.” (Professora Vera, p.8) 66 Mesmo enfrentando dificuldades as professoras pesquisadas demonstram buscar formas diferentes e mais atrativas de educar, não apresentam práticas inovadoras, baseadas no referencial histórico-crítico, como defende Marsíglia (2010), já exemplificado neste trabalho no capítulo 2, mas destacamos os avanços nas atuações, por buscarem considerar os interesses dos alunos, por entenderem que cada aluno aprende de uma forma e que o contexto em que estão inseridos influência a aprendizagem. Carbonell (2002, p.28) coloca que a educação infantil é a modalidade que mais se produz inovação, pois: “[...] existe menos pressão e controle acadêmico, familiar e social e, portanto, permite-se maior grau de flexibilidade e experimentação na organização institucional dos conteúdos e nos modos de ensinar e aprender.” 4.4 A prática pedagógica observada As observações da prática cotidiana apresentadas foram realizadas no início do segundo semestre de 2011. As observações para a pesquisa foram realizadas em uma sala com alunos de três e quatro anos idade. Foram 48 horas divididas em visitas a instituição de duas a três vezes por semana, acompanhando, em sua maioria, desde a chegada dos alunos à escola, até o horário de término do período. Para que a pesquisa pudesse contribuir de modo imediato com a instituição, as observações foram feitas juntamente com um estágio voluntário da pesquisadora, o que possibilitou uma aproximação com os alunos com a professor e com outros funcionários da escola. Com base nas observações diárias, buscamos destacar as atividades que a professora pesquisada realiza, sejam elas de caráter pedagógico, ou lúdico. A prática da professora é bastante diferenciada, no entanto, não foram encontradas práticas inovadoras baseadas na pedagogia histórico-crítica, assim como foi observado com as entrevistas, as práticas das professoras possuem bases mais voltadas para as pedagogias ativas, pois por diversas vezes as ações cotidianas partiam dos alunos, buscando atender seus interesses. Assim como podemos perceber nos trechos a seguir retirados do Diário de Campo. A escolha do par é feita pelas próprias crianças, a professora as deixa a vontade para tomar algumas decisões. Ela me contou que anteriormente ela escolhia a dupla, mas que com o passar do tempo, notou que a escolha poderia tranquilamente partir deles. (DIÁRIO DE CAMPO, 2011) 67 A professora ofereceu os quebra-cabeças da aula do dia anterior, brinquedos pequenos (pião, ioiô, carrinhos, animais em miniaturas e etc.) e a lousa para quem queria desenhar. Notei que ela deixa as crianças livres para fazerem as escolhas, mas orienta depois o que elas podem fazer mediante a escolha que tiveram. (DIÁRIO DE CAMPO, 2011) Encerrada a atividade as crianças ficaram livres para escolherem o que queriam fazer, brincar com os jogos nas mesas, ou com brinquedos que ficam numa estante, até chegar a hora de ir embora. (DIÁRIO DE CAMPO, 2011) Os alunos também trazem elementos espontâneos de casa para a escola, como livros, fotos, figuras, que são utilizados nas atividades do dia. Terminada a atividade, todos sentaram em roda novamente, pois uma das alunas trouxe um livro de história. Como era uma história conhecida dos alunos, a professora os deixou livre para cada um contar uma parte. (DIÁRIO DE CAMPO, 2011) A professora busca trabalhar de forma que os alunos possam a experienciar as atividades, através dos sentidos, tato, olfato, visão, audição. Quando todos já estão reunidos, começaram a cantar cantigas de ciranda, auxiliados sempre pela professora, que incentivando a imaginação, conta que a roda faz o movimento do rio, que é cantado na música daquela ciranda. (DIÁRIO DE CAMPO, 2011) A professora repetiu a pergunta, mas o que é o alecrim, como é a música? Logo um dos alunos responde: “Flor dourada”. E a professora pergunta “E onde fica a flor dourada?”, alguns alunos juntos respondem: “No campo”. Professora indaga novamente, “Que campo, o de futebol?”. Não tendo resposta, ela fala no campo de futebol tem flor? Os alunos respondem juntos que não. A professora explica, que o campo em que o alecrim esta, tem matos, gramas, flores, árvores e que o alecrim é usado para colocar na comida para deixá-la mais gostosa. Para visualizar a estrutura do alecrim, ela faz um desenho da lousa e propõe irem juntos até a horta da escola, perguntar para o responsável que cuida dela se tem alecrim, para que possam ver e sentir o cheiro. (DIÁRIO DE CAMPO, 2011) Quando a professora terminou a história, ela lembrou que na aula anterior ela havia contado uma história que falava de lesma e como estava chovendo não puderam ir até a horta da escola, ver se encontravam a lesma. Dessa maneira, combinou com os alunos e fomos até a horta. (DIÁRIO DE CAMPO, 2011) De acordo com as colocações exemplificadas, acreditamos que a professora trabalha as atividades a partir da experimentação dos fatos e o exercício da razão. Propostos por Carbonell (2002) como sendo a tentativa experimental de Freinet. E confirmadas por Vilaplana (2003), ao explicar que Freinet propõe a expressão livre dos alunos, não apenas como elementos presentes em todas as suas técnicas, mas com a base do seu modelo de 68 ensino. Freinet propõe a ideia do “tateamento experimental” e que as aprendizagens se realizam a partir das próprias experiências das crianças. [...] da manipulação da realidade que as crianças podem realizar, da expressão de suas vivencias, da organização de um contexto (de um ambiente) no qual os alunos possam formular e expressar suas experiências, situa-nos nos princípios psicológicos da Escola Nova: atuar com as crianças a partir do que elas são; simplesmente partir da criança.(VILAPLANA, 2003, p.74) Percebemos que não de maneira integral, mas na maior parte do tempo na escola, a organização das aulas era feita a partir dos interesses das crianças, outra característica destacada por Vilaplana (2003) ao remeter-se a Freinet. Destacamos, a importância de a professora considerar os interesses e ritmos de aprendizagem dos alunos, pois: “Aplicar as técnicas de Freinet significa dar palavra ao aluno, partir dele, de suas capacidades de comunicação e cooperação. Tudo isso supõe considerá-lo não como parte de um único contexto, mas como partícipe de diferentes contextos.” (VILAPLANA, 2003, p. 75). No entanto, ao transferir o centro para os alunos, o método acaba por atender prioritariamente a seus interesses ficando mais secundariamente o conteúdo. E as práticas pedagógicas histórico-críticas priorizam o conteúdo, entendendo que conteúdos e métodos são indissociáveis. 69 CONSIDERAÇÕES FINAIS A partir da pesquisa conseguimos compreender que estudar a formação dos educadores nos possibilita dar mais sentido para o nosso trabalho docente futuro, para o desenvolvimento profissional da docência. Pois este tipo de pesquisa propõe que a reflexão seja feita de forma coletiva, entendendo que a ausência dos sujeitos impede o confronto de ideias e com isso uma visão mais crítica da realidade. Dessa maneira, vemos a importância das pesquisas na área de educação, registrar o ponto de vista dos (as) professores (as), não como objetos de estudos, mas como sujeitos competentes, com saberes específicos ao seu trabalho, assim como declara Tardif (2002). Reconhecer isso é ver que o professor tem o direito de fazer as suas considerações a respeito de sua formação, pois é ele que possui a missão educativa da escola, por ser o principal mediador dos saberes educacionais e da cultura. A pesquisa também contribuiu para levantarmos dados importantes para compreender como os professores percebem suas formações iniciais e as contribuições que eles oferecem para o exercício da docência. Entendendo que, a formação acadêmica inicial é um diferencial para as práticas dos educadores, serem fortalecidas. Compreendemos, conjuntamente, a necessidade dos cursos de formação inicial em Pedagogia, priorizarem com mais excelência, os conteúdos e experiências na Educação Infantil. Pois a criança é atualmente um sujeito social, possuidora de direitos e é dever do Estado fornecer vagas e uma educação de qualidade para todos. Sabemos que o processo de melhoria da qualidade da educação é demorado e mesmo que as transformações forem lentas, elas devem ser vistas de forma significativa, principalmente se essas mudanças forem no sentido de obter mais subsídios para o ensinoaprendizagem. Transformações, estas que devem priorizar a cooperação, o trabalho em grupo, a ação colaborativa, possibilitando a democracia e a inovação na escola. Uma inovação que não esteja voltada para o acessório e as aparências, mas que permeie as coisas importantes de uma nova formação integral e compreensiva, como destaca Carbonell (2002). Por fim, fechamos o trabalho colocando a reflexão de Carbonell (2002, p. 115), Muitas pessoas pensarão, com razão, que alguns desses pontos são extremante utópicos. Mas me pergunto se não é mais utópico pensar que nas condições atuais é possível implementar uma inovação educativa sustentada e profunda. Diante da dúvida, aposto na primeira utopia, a única que algum dia poderá ajudar-nos a desfrutar de uma escola culturalmente mais sábia, pedagogicamente mais atraente, institucionalmente mais democrática e socialmente mais igualitária. 70 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABRAMOWICZ, A. Trabalhando a diferença na educação infantil: propostas de atividades. São Paulo: Moderna, 2006.127p. ALVES, A. J. “A revisão da bibliografia” em teses e dissertações: meus tipos inesuqueciveiso retorno. 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Os responsáveis levam as crianças até a porta da classe, elas entram e colocam suas mochilas em um lugar já determinado (Figura 2 – Local das Mochilas), e vão participar da atividade de jogo, que esta em cima das mesas da sala. São jogos de montar. Figura 7 – Local das Mochilas. 2011 Fonte: Foto da Pesquisadora Quando a professora observou que chegou a maioria dos alunos, ela colocou música infantil para eles escutarem, enquanto montavam os jogos. Em seguida, deu o horário do lanche das crianças, elas foram para o refeitório de mãos dadas, em pares, com seus amiguinhos. A escolha do par é feita pelas próprias crianças, a professora as deixa a vontade para tomar algumas decisões. A professora me contou que anteriormente ela escolhia a dupla, mas que com o passar do tempo, notou que a escolha poderia tranquilamente partir deles. Os alunos se dirigem até o refeitório, orientados pela professora, que pergunta que música gostariam cantar para o caminho do lanche, eles escolhem e ela começa a cantar e é seguida por eles. Retornam a sala para a atividade dirigida do dia. Alguns alunos terminam a atividade do dia anterior, que consistiu em imaginar uma janela, de uma casa que não fosse a sua, e imaginar algo que eles vissem pela janela. (Figura 3.1 e 3.2 – Atividade Minha Janela) Depois no caderno de desenho, dentro de uma janela feita de papel dobradura, eles desenhariam o que eles imaginaram ver pela janela. Observei que a professora incentiva muito a imaginação e a criatividade das crianças, valorizando as fantasias, como de um aluno que desenhou “um mostro esquisito”, e ela o parabenizou pelo seu bonito e ‘legal’ desenho. 76 Figura 8 – Atividade Minha Janela. 2011 Fonte: Foto da pesquisadora Figura 9 – Atividade Minha Janela. 2011 Fonte: Foto da pesquisadora. As mesas da sala de aula ficam juntas enfileiradas, e as crianças sentam próximas umas das outras, os lápis de cor ficam em potes distribuídos igualmente pelas mesas. (Figura 4 – Disposição das Mesas na Sala de Aula) Após os alunos terminarem essa atividade a professora começou a explicar a próxima atividade, que consistia em uma figura de animal colada no caderno de desenho, e a partir dessa figura desenhariam uma composição, como o lugar que o animal fica, se ele estava sem corpo sem cabeça, alguém que estava junto com esse animal, o que ele estava fazendo. Essas observações são feitas em forma de perguntas pela professora aos alunos, como maneira de incentivá-los a pensar sobre a figura e o que eles poderiam desenhar. O nome da atividade dado pela professora é “Desenho com indício”. (Figura 5 – Atividade Desenho com Indício) Figura 10 - Disposição das Mesas. 2011 Fonte: Foto da Pesquisadora Figura 11 – Atividade Desenho com Indício. 2011 Fonte: Foto da Pesquisadora. 77 No meio da atividade deu o horário de parque das crianças. Notei que as professoras se auxiliam o tempo todo, pois o horário de parque é também o tempo que elas fazem o café da tarde. Dessa maneira, para que os alunos não fiquem sozinhos nesse período de lanche, elas se dividem para que, uma de cada vez vá tomar café. No entanto, hoje estava chovendo e não foi possível que as crianças brincassem na área descoberta, por isso, as três professoras que se auxiliam, reuniram os alunos para assistirem vídeo na sala de aula de uma das professoras. Enquanto as crianças assistem e cantam as músicas do vídeo, as professoras que ficam na sala com os alunos, preparam as lembrancinhas que serão dadas no “Dia dos Pais”, a professora que eu estou observando a prática, me explicou que apesar de ter a data comemorativa do “Dia da família”, ainda não se aboliu o “Dia das Mães” e o “Dia dos Pais”. Após um tempo assistindo vídeo, os alunos foram para a merenda, orientados pela professora, que cuidadosamente serve a merenda para cada aluno, explicando a importância da boa alimentação e os incentivando para comerem a salada, que fazia parte do cardápio neste dia. (Figura 6.1 e Figura 6.2 - Refeitório) Figura 12 – Refeitório. 2011 Fonte: Foto da Pesquisadora Figura 13 – Refeitório. 2011 Fonte: Foto da Pesquisadora Após a merenda retornaram a sala de aula e voltaram para a atividade preparada pela professora. A professora explicou cada figura, de urso, joaninha, abelha, leão, elefante, borboleta, formiga e etc., e também fez a distribuição dos cadernos. Conforme os alunos terminavam seus desenhos, eles vinham mostrar para mim e para a professora. Encerrada a atividade, a professora distribuiu novamente brinquedos e quebra-cabeças. Estes eram de dois modos, ou faziam parte de um livro, no qual cada episódio da história trazia o quebra cabeça da cena principal, (Figura 7.1, Figura 7.2 e Figura 7.3 - Livro e cenas dos quebra-cabeças) o qual a professora já havia contado a história algumas vezes e os alunos a relembravam ao montar os quebra-cabeças, ou são quebra-cabeças confeccionados pela própria professora que seleciona imagens de revistas, as colam em papel cartão, as plastificam e recorda em formatos geométricos, formando os quebra-cabeças. 78 Figura 14 – Livro e cenas dos quebra-cabeças. 2011 Fonte: Foto da Pesquisadora Figura 15 – Livro e cenas dos quebra-cabeças. 2011 Fonte: Foto da Pesquisadora Figura 16 – Livro e cenas dos quebra cabeças. 2011 Fonte: Foto da Pesquisadora Já perto do horário de término da aula, os responsáveis começam a chegar para buscar as crianças, algumas vão embora de Van (transporte escolar coletivo) e outras ficam até os últimos minutos da aula. Com essas crianças a professora brincou de ciranda e colocou músicas brasileiras infantis, que são conhecidas, mas que possuem ritmos do mundo todo, para dançarem. Depois de todas as crianças irem embora, me despedi da professora e encerrei minhas observações desse dia. 79 Apêndice B – Questões da entrevista 1) Em que ano você concluiu sua graduação na UFSCar? 2) Você acredita que a sua formação em Pedagogia pela UFSCar contribui de forma significativa para a sua prática atual? 3) No período que você cursou a graduação havia habilitações para a Educação Infantil? 4) Você se recorda de alguma disciplina específica que tratou de questões diferentes da educação tradicional? 5) Você realizou alguma especialização, ou curso para complementar a sua formação inicial? 6) Você acredita que mudanças nas práticas pedagógicas cotidianas possibilitam uma educação de melhor qualidade? 7) Você acredita que os aprendizados obtidos pelos alunos, na escola, impulsionam mudanças familiares e dessa maneira contribuem para melhorar a comunidade em geral? 8) Você troca informações e sugestões com outros agentes escolares? 80 Apêndice C – Questionário Socioeconômico PREZADO PARTICIPANTE, ESTE QUESTIONÁRIO TEM COMO OBJETIVO CONHECER O PERFIL SOCIOECONÔMICO DOS EGRESSOS DO CURSO DE GRADUAÇÃO EM PEGAGOGIA DA UFSCar. Data de Nascimento: ____/____/_________Idade: _____anos. Endereço: ______________________________________Bairro: ____________________ Cidade________________________________ Estado Civil: _____________________Tem filhos?_____________Quantos?___________ Há quanto tempo está sem estudar?_______________ Ano de conclusão da Graduação em Pedagogia na UFSCar: __________ I) Situação Familiar e Renda Quantas pessoas moram na sua casa (incluindo você)?____ Quantas trabalham?____ Descreva abaixo as pessoas que moram com você, colocando a renda de cada um (inclusive a sua): Obs: Você deve colocar a renda líquida, ou seja, o valor que a pessoa recebe realmente, após o desconto dos encargos sociais (no caso de pessoas registradas em carteira). NOME PARENTESCO PROFISSÃO RENDA MENSAL Exemplo: João Pai Professor R$ 800,00 TOTAL II) R$ Escolaridade 81 Onde você estudou no Ensino Fundamental? ( ) Somente em Escola Pública ( ) Somente em Escola Particular ( ) Parte em Escola Pública e parte em particular Onde você estudou no Ensino Médio? ( ) Somente em Escola Pública ( ) Somente em Escola Particular ( ) Parte em Escola Pública e parte em particular Caso tenha estudado em escola particular, possuía bolsa? ( ) Sim Se sim, de quanto?________________ ( ) Não Fez e/ou faz algum curso pago? ( ) Sim ( ) Não Qual o valor da mensalidade?_______________ Qual o nível de escolaridade dos seus pais? Pai Mãe ( ) Analfabeto ( ) Analfabeta ( ) Ensino Fundamental Incompleto ( ) Ensino Fundamental Incompleto ( ) Ensino Fundamental Completo ( ) Ensino Fundamental Completo ( ) Ensino Médio Incompleto ( ) Ensino Médio Incompleto ( ) Ensino Médio Completo ( ) Ensino Médio Completo ( ) Superior Incompleto ( ) Superior Incompleto ( ) Superior Completo ( ) Superior Completo III) Patrimônio A casa em que você mora é: ( ) Própria ( ) Alugada ( ) Emprestada (de parente/amigo) ( ) Situação irregular (ex: terreno invadido) ( ) Moro em pensão ou casa de parente/amigo Quantos desses itens a família possui? Imóveis________ Automóveis________ Motos________