1 SÉRIES WORKING PAPER BNDES/ANPEC PROGRAMA DE FOMENTO À PESQUISA EM DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO - PDE POLÍTICAS DE CONTENÇÃO DE DESMATAMENTO, TRAJETÓRIAS TECNOLÓGICAS E MERCADO DE TERRAS NA AMAZÔNIA: UM ENSAIO SOBRE ALTERNATIVAS DE DESENVOLVIMENTO E SUSTENTABILIDADE NO SUDESTE PARAENSE, UMA ECONOMIA LOCAL CRÍTICA Francisco de Assis Costa Working Paper no. 20 BANCO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL Avenida República do Chile, 100 – Centro 20031-917 -Rio de Janeiro, RJ ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS CENTROS DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECONOMIA Rua Tiradentes, 17 – Ingá 24210-510 - Niterói, RJ Outubro/2011 Esse paper foi financiado com recursos do Fundo de Estruturação de Projetos (FEP) do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Por meio desse fundo o BNDES financia, na modalidade não-reembolsável, a execução de pesquisas científicas, sempre consoante ao seu objetivo de fomento a projetos de pesquisa voltados para a ampliação do conhecimento científico sobre o processo de desenvolvimento econômico e social. Para maiores informações sobre essa modalidade de financiamento, acesse o site http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/bndes/bndes_pt/Institucional/Apoio_Financeiro/Programas_e_Fundo s/fep.html. O conteúdo do paper é de exclusiva responsabilidade do(s) autore(s), não refletindo necessariamente, a opinião do BNDES e/ou da ANPEC. 2 Políticas de Contenção de Desmatamento, Trajetórias Tecnológicas e Mercado de Terras na Amazônia: um Ensaio Sobre Alternativas de Desenvolvimento e Sustentabilidade no Sudeste Paraense, uma Economia Local Crítica. Francisco de Assis Costa Série Working Paper BNDES/ANPEC No. 20 Data Outubro/2011 RESUMO A discussão atual sobre a emissão de carbono associada ao uso agropecuário da terra em prejuízo de florestas se recente de uma visão sistêmica, seja no que se refere aos fluxos econômicos, propriamente, e suas interações, seja no que tange ao ambiente institucional que os garante. Dado que os esquemas de compensação implicam em entrada e saída de recursos em contextos econômicos amplos e sistêmicos, é fundamental discutir qual o resultado final desses fluxos sobre as condições gerais de reprodução das economias locais. As questões básicas são a) como tais políticas poderão, a partir dos setores rurais, afetar a demanda final efetiva, e por essa via, o valor da produção e as variáveis de valor adicionado de toda a economia e b) como as variações na economia afetam as formas de uso da base natural e, portanto, o desmatamento. No que se refere às instituições, o artigo dá especial ênfase às que definem o mercado de terras, porque nele encontra o cerne de questões vitais para o que se discute. O artigo apresenta as trajetórias tecnológicas que conformam o Sudeste Paraense como um sistema agrária e utiliza um modelo ascendente de geração de matrizes de insumo-produto para expô-lo como economia local de base primária, onde opera um mercado de terras. A partir daí incorpora um balanço de carbono dos setores da produção rural, encontra os multiplicadores da economia do Sudeste Paraense e simula quatro situações de política de contenção de desmatamento e redução das emissões de gases poluentes. A conclusão principal do artigo é que se faz necessário pensar políticas de contenção de desmatamento ligadas indissociavelmente a políticas de produção – a serem operadas por mecanismos que façam convergir as decisões dos agentes com perspectivas macro de desenvolvimento: local, endógeno e sustentável. Palavras-Chave: Amazônia, Balanço de Carbono, Economia Local, Sudeste Paraense, Contenção do Desmatamento Autor: Francisco de Assis Costa Instituição: Núcleo de Altos Estudos Amazônicos, Universidade Federal do Pará Endereço: Tv. Pirajá, 2060 – Belém - Pa Telefone: (91)32768719 E-mail: [email protected] 3 Políticas de Contenção de Desmatamento, Trajetórias Tecnológicas e Mercado de Terras na Amazônia: um Ensaio Sobre Alternativas de Desenvolvimento e Sustentabilidade no Sudeste Paraense, uma Economia Local Crítica. Francisco de Assis Costa Série Working Paper BNDES/ANPEC No. 20 Data Outubro/2011 ABSTRACT The current discussion on avoiding carbon emission associated to agricultural use of land needs a more systemic approach, whether in regard to the economic flows properly and their interactions, whether in terms of the institutional environment that ensures them. Given that avoiding deforestation schemes implicate resources input-output throughout local economies and broader economic context, it seems fundamental to discuss what are the final impacts of those flows. The basic questions are a) how such policies, starting from the rural sectors, will affect final demand, the value of the production and the variables of value added all over the economy and b) how variations in the economy affect the forms of use of natural resources and, therefore, deforestation itself. Related to institutions, the article puts special emphasis on defining the market for land, because it is the core of vital issues. The article uses an ascending model to generate input-output matrices for local economies based on primary products, where works a market for land, incorporates an algorithm of carbon balance, finds the multipliers of the economy of Southeastern Pará and simulates four situations of policies on avoiding deforestation. The main conclusion is that policies for avoiding deforestation will probably have a hard time if not part of macro development policy on local level. Keywords: Amazon, CO2 Balance, Local Economy, Southeastern Para, Deforestation Policies Autor: Francisco de Assis Costa Instituição: Núcleo de Altos Estudos Amazônicos, Universidade Federal do Pará Endereço: Tv. Pirajá, 2060 – Belém - Pa Telefone: (91)32768719 E-mail: [email protected] 4 SUMÁRIO SUMÁRIO .......................................................................................................................................4 Introdução.........................................................................................................................................5 1. O Sudeste Paraense e suas principais estruturas de produção primária .......................................8 2. Paradigmas e trajetórias tecnológicas: uma perspectiva holística e complexa de abordar a economia ..........................................................................................................................................9 2.1 A diversidade estrutural na Amazônia e seus agentes: o ponto de partida das trajetórias ...13 2.2 Modos de produção, paradigmas e trajetórias tecnológicas na Amazônia...........................15 2.3 As trajetórias tecnológicas no Sudeste Paraense..................................................................19 3. O modelo de Contas Sociais Ascendentes Alfa (CSα) e sua aplicação aos Sudeste Paraense ...20 3.1 A matriz de Insumo-Produto e os multiplicadores da economia do Sudeste Paraense........21 3.2 Os multiplicadores da economia do Sudeste Paraense.........................................................28 4. Política de contenção, mercado de terras e economia local: exercícios de predição .................29 Conclusões .....................................................................................................................................37 Bibliografia.....................................................................................................................................40 5 Introdução A discussão atual sobre a emissão de carbono associada ao uso agropecuário da terra em prejuízo de florestas se recente de uma visão sistêmica – na qual o “lugar” e o “sentido” dos processos em andamento sejam devidamente considerados. Quando, para o equacionamento das estratégias de mitigação, se tratam as formas de contenção ou controle do desmatamento, por exemplo, o foco tem sido microeconômico e genérico, dominando uma perspectiva de agentes homogêneos, cujas decisões se orientariam por médias estrutural (dos sistemas e de produção) e espacialmente (das economias – arranjos produtivos e pólos - locais) descontextualizadas. De modo que, o que se considera base de compensação é a remuneração líquida por produto obtida nesse nível de abstração e formalismo, após descontados do total de receita todos os custos, inclusive os custos do trabalho. E se buscam médias de médias, num processo que ao final se roga oferecer expressões válidas para amplos contextos – regionais e, mesmo, nacionais – em tempo indefinido. Este é o procedimento de Grieg-Gran (2006), principal fonte analítica do Stern Review quando se refere aos custos de um programa de “evitação” compensada de desflorestamento em nível mundial. Dois problemas principais advêm dessa leitura baseada em agente-padrão: a não consideração, ou a consideração insuficiente dos efeitos meso e macro-sistêmicos derivados do contexto econômico e institucional onde operam e o não tratamento da diversidade de racionalidades e estruturas relevantes que conformam os fundamentos micro-econômicos da dinâmica em questão. O próprio Stern (2007) reconhece parte da insuficiência da abordagem – a que se refere à não consideração de efeitos meso e macroeconômicos da produção “evitada”. Reconhecendo a falta, contudo, Stern reduz suas conseqüências: “Research commissioned by the Review, suggests that the direct yield from land converted to farming, including proceeds from the sale of timber, are equivalent to less than $1 per tone of CO2 in many areas currently losing forest, and usually well below $5 per tone. The opportunity costs to national GDP would be somewhat higher, as these would include value added activities in country and export tariffs.” (Stern, 2007:607. Grifos meus). Mais recentemente, Angelson et alii (2009), avaliando as opções para o programa internacional Reducing Emissions from Deforestation and Forest Degradation (REDD) em 6 relatório para o governo da Noruega, reconhecem também parte dos fenômenos sistêmicos – daqueles relativos à transferência de atividades contidas em um ponto do sistema, para outro: os “vazamentos”. Com efeito, utilizando o OSIRIS (Open Source Impacts of REDD Incentives Spreadsheet, um processador do modelo de equilíbrio geral de mercado de uma única commodity em um período, adaptado de Murray, McCarl e Lee (2004)), os autores fazem uma análise de vazamentos internacionais como peça de avaliação dos riscos das políticas de REDD, cuja efetividade no plano global poderia ser solapada pela transferência das atividades contidas em países integrantes, para países não integrantes dos acordos. A commodity do modelo se constitui em um índice composto do rendimento líquido da produção agrícola e madeireira por hectare desflorestado – uma proxy, como no caso do Stern Review, do custo de oportunidade privado dos usos da terra na fronteira agrícola que afrontam a floresta. A ênfase no custo de oportunidade privado impede, às abordagens citadas, o tratamento para fenômenos, cuja importância tem sido realçada por longa tradição do pensamento econômico sobre crescimento e desenvolvimento. Enquanto Stern reduz a um “somewhat”, Angelson e associados simplesmente desconsideram os efeitos sistêmicos dos impactos multiplicadores (Keynes, 1976) derivados daquilo que Myrdal (1957), Hirschman (1958) e Perroux (1965) consagraram na literatura econômica como fenômenos de “causação circular e cumulativa” próprios às “concatenações para frente e para trás” que mobilizam as economias ao crescimento e, mesmo, ao desenvolvimento. Maior a falta quando se considera, como fazem hoje os autores do desenvolvimento endógeno, em particular Romer (1986), Krugman (1995) e Arthur (1994, que “vazamentos”, tanto quanto “polarizações”, são expressões das interações desequilibradas entre “forças centrífugas” e “centrípetas” inerentes aos processos de desenvolvimento nas sociedades modernas, cuja compreensão exige o tratamento de sua dimensão local (Fujita, Krugman, Venebles, 2002; Diniz, Lemos, 2005). Por outro lado, a preocupação com a sustentabilidade do desenvolvimento tem sido introduzida na problemática por viés “nihilista” e “estático”, eis que, em perspectiva política, saldos negativos dos balanços de CO2 (emissões menos seqüestro de carbono) das atividades agrícolas seriam necessariamente resultados de “não produção”. Torna-se urgente que se internalizem nos modelos percepções mais complexas dos sistemas agrícolas, que suportem uma perspectiva “positiva” e “dinâmica” em relação à produção. Tal noção, aliás, vem ganhando terreno. Antes vistos (quase) exclusivamente do lado da emissão de poluentes e redução da 7 biodiversidade – i.e. do lado da demanda na formação dos novos mercados de bens ambientais, na condição de formadores de necessidades de seqüestro de carbono e reposição da complexidade biológica -, um sub-conjunto de sistemas baseados em culturas perenes e em composições agroflorestais é reconhecido pelo Stern Review como potencialmente consistentes com a conservação florestal no contexto de estratégias para reduzir emissões (Stern, 2007: 603-621). Se reconhece, assim, que tais atividades, reduzindo a pressão sobre as florestas e criando mecanismo de absorção líquida de carbono, podem expandir a oferta e, em conseqüência, baratear o bem ambiental em si - a estabilização ou reversão das mudanças climáticas - tornando mais custoefetivas as estratégias de mitigação. Tais considerações nos levam de imediato a indagar, no ensejo de políticas de contenção de desmatamento e seus efeitos sobre emissões líquidas de CO2: a) Quanto, exatamente, seria o “somewhat” adicionado nas cadeias a serem desmontadas e, uma vez que a perspectiva de compensação exclui salários, quais as implicações na demanda efetiva das economias onde operarão os esquemas de “evitação”? b) Antes de “vazamentos” internacionais, há “vazamentos” em nível intra-nacional, mais precisamente local/regional, por mobilidade de agentes? c) Por outro lado, o quão consistentes são as atividades promissoras, na perspectiva das emissões, com dinâmicas reais de expansão das economias em que se inserem? d) Qual o contexto institucional operante que tem sistemicamente garantido o status quo, a qual a nova política deve confrontar? Terá ela capacidade para isso? Essas perguntas, pontuais, nos levam a indagações mais abrangentes, organizadas pelo estado atual das discussões sobre desenvolvimento, sustentabilidade e configuração espacial – é dizer, sobre as relações entre economia, sociedade e natureza na Amazônia, que motivam nossos esforços neste projeto. A indagação principal é: dado que os esquemas de compensação(por não produção ou para produção limpa) implicam em entrada e saída de recursos em contextos econômicos amplos e sistêmicos, qual o resultado final desses fluxos sobre as condições gerais de reprodução das economias, sobre suas variáveis fundamentais de renda e emprego, sobre suas relações com a base natural que a fundamenta e, portanto, sobre sua capacidade endógena de evoluir superando as próprias forças que produzem o desmatamento e as emissões? Mais precisamente: a) como tais políticas poderão, a partir dos setores rurais, afetar a demanda final efetiva, e por essa via, o valor da produção e as variáveis de valor adicionado de toda a economia? b) Como isso pode afetar sua produtividade macroeconômica? c) Como as distintas 8 estruturações do setor rural são afetadas, ao mesmo tempo que influem por suas características na problemática, afetando as formas de uso da base natural e, portanto, o desmatamento e as emissões a elas associadas? d) Como essa base natural é posta à disposição dos agentes – isto é, como o mercado de terras, enquanto mecanismo institucional chave, atua nesse contexto? Adiante procuramos respostas para estas questões a partir da análise da economia de uma região crítica nas dinâmicas recentes de ocupação da Amazônia - a área compreendida pela mesorregião Sudeste Paraense, no estado do Pará. Para tanto, se decomporão, no Capítulo 2, as estruturas rurais em trajetórias para investigar suas características quanto às suas necessidades de terras e suas características ecológicas; no Capítulo 3 se gerará uma matriz de insumo-produto por metodologia de cálculo ascendente capaz de captar os fundamentos da economia agrária que subjaz às emissões de carbono e situá-los no contexto amplo da economia local de base primária, onde se inclui a produção mineral, e seus desdobramentos urbanos – industriais e comerciais, por um lado, regionais e nacionais, por outro. De particular importância para o tratamento adequado das questões que nos importam é a consideração do mercado de terras que em última instância fundamenta o modo particular como essa economia tem evoluído. No Capítulo 4 se observarão os impactos e efeitos sobre as variáveis fundamentais da economia em estudo e sobre o balanço de CO2, de cenários associados a políticas de contenção de desmatamento em diferentes contextos caracterizados (modelados), de um lado a partir da forma como os mercados de bens finais, local e extra-local, e o mercado de terras reagem às intervenções; de outro, a partir de políticas que alteram o peso das trajetórias na dinâmica rural da mesorregião. Por fim, se discutirão os resultados numa perspectiva de desenvolvimento endógeno e sustentável. 1. O Sudeste Paraense e suas principais estruturas de produção primária O Sudeste Paraense se compõe dos municípios de Marabá, Parauapebas, Curionópolis, Ourilândia do Norte, Tucumã, Eldorado dos Carajás, Canaã dos Carajás, São Felix do Xingu, São João do Araguaia, Brejo Grande do Araguaia, Bom Jesus do Tocantins, Palestina do Pará, São Domingos do Araguaia, Pau D’Arco, Redenção, Rio Maria, Xinguara, Conceição do Araguaia, Paragominas, Tucurui, Jacundá, Itupiranga, São Domingos do Capim, Rondom do Pará, Dom Eliseu, Ulianópolis, Goianésia do Pará, Novo Repartimento, Breu Branco e Nova Ipixuna. Está tem sido uma região de extraordinária dinâmica. Lá se alocaram os grandes projetos pecuários financiados pela SUDAM desde meados dos anos sessenta, os quais confrontaram 9 frentes de expansão da agricultura familiar, inicialmente espontâneas nos anos cinqüenta, sessenta e setenta, depois induzidas nos anos oitenta e noventa por dinâmicas institucionais – como os assentamentos da reforma agrária – e econômicas - como a ocorrência de grandes projetos minerais e de surtos garimpeiros. Como partes do processo ocorreram transformações estruturais importantes, que de um lado implicaram na transformação de agentes mercantis e extrativistas da economia da madeira e da Castanha-do-Pará em pecuaristas de médio e grande porte; de outro lado, reforçaram o papel dos centros urbanos e suas bases rurais locais na logística de novos setores econômicos condicionados pela formação da economia mineral, posto que se trata da principal área de atuação da Companhia Vale do Rio Doce no Pará, onde explora seu sistema norte de metais ferrosos com base em Carajás e onde expandirá e diversificará nos próximos seis anos de modo vigoroso sua produção. Síntese do processo por que passa a mesorregião nas últimas três décadas, a taxa de crescimento demográfico foi da ordem de 8% a.a. até início dos anos noventa, reduzindo para 3,3% a.a. ao longo dessa década, no final da qual a população total atinge 1,2 milhões de habitantes, dos quais, no ano de 2000, 759.575 moravam em cidades e 432.560 na zona rural. A isso se associa uma taxa de incorporação de terras para uso agropecuário igualmente explosiva nas primeiras décadas, amainando para 3,7% a.a. entre 1995 e 2004, período em que estimamos um salto de uma área de 10,2 milhões de hectares ligados à produção agropecuária no primeiro, para quase 12 milhões de hectares no último ano. O balanço líquido (emissão menos seqüestro) de carbono em 2004 deverá ter sido de 293,2 milhões de toneladas, representando nada menos que 34,6% das emissões líquidas de CO2 equivalente em toda a Região Norte, no mesmo ano (conf. Costa, 2007). 2. Paradigmas e trajetórias tecnológicas: uma perspectiva holística e complexa de abordar a economia Na base da dinâmica da economia rural estão estruturas em movimento, configurando trajetórias que materializam na Região grandes paradigmas tecnológicos (Costa, 2009b e 2008b). Dosi define paradigma tecnológico “... como um ‘modelo’ ou um ‘padrão’ de solução de problemas tecnológicos selecionados, baseado em princípios selecionados, derivados das ciências naturais, e em tecnologias materiais selecionadas. (...) Ao mesmo tempo, paradigmas 10 tecnológicos definem também alguma idéia de progresso” (Dosi, 2006:22 e 23). Um paradigma tecnológico se constitui, assim, a) de uma “perspectiva” de definição de problemas relevantes à luz de uma noção de progresso e b) de um conjunto de procedimentos – heurísticas - para resolver tais problemas. Por outro lado, um paradigma oferece uma possibilidade entre outras na organização da reprodução social, sendo sua existência concreta, histórica, c) resultado de mecanismos de seleção c.1) associados à dimensão econômica e c.2) a outras dimensões da vida em sociedade, em particular à cultura, à política e à ciência. Uma trajetória tecnológica, nessa perspectiva, é um padrão usual de atividades que resolvem, com base em um paradigma tecnológico, os problemas produtivos e reprodutivos que confrontam os processos decisórios de agentes concretos, em contexto específico, nas dimensões econômica, institucional e social (Dosi, op. cit. 22-23). As particularidades do contexto econômico se estabelecem nos critérios econômicos “... que agem como seletores definindo mais ou menos precisamente o trajeto concreto seguido no interior de um conjunto maior de possibilidades” (Dosi, idem:23). Considerando o elevado nível de incerteza que cerca a adoção de tecnologias, o ambiente institucional assume particular relevância na configuração de trajetórias tecnológicas, desde o interesse econômico das organizações, passando pelas respectivas histórias e acúmulos de expertise, até variáveis institucionais strictu sensu, como agências públicas e interesses geopolíticos (Dosi, idem: 24-25). Posicionando a natureza na perspectiva de trajetórias tecnológicas Dosi realça os condicionantes econômicos, sociais e políticos “...como os fatores prováveis a operar como forças focais na delimitação das direções que toma o desenvolvimento tecnológico” (ibidem: 25). É necessário que sublinhemos, em adição, o contexto ecológico – o papel da base natural na configuração de paradigmas tecnológicos e suas trajetórias (Costa, 2009b e 2008b). O ponto central, aqui, é o de que, os problemas a que se refere um paradigma tecnológico são, por suposto, problemas tecnológicos: i.e. problemas da relação entre trabalho humano, objetivado por um modo de produção, e seu objeto último, a natureza. Nos processos industriais, a natureza está presente dominantemente como natureza morta que, resultado de trabalho pretérito, cristalizado, morto se apresenta em forma de matéria-prima ou de capital físico, passivamente depreciável pelas exigências do processo produtivo. Mas há inúmeras atividades produtivas que se realizam em interação com a natureza viva. Nesse caso, a natureza é 11 força ativa, capacidade que co-determina, com o trabalho vivo, em operação, o resultado do processo produtivo. Se como matéria-prima ou capital físico a natureza é objeto inerte do trabalho humano, como força produtiva é capacidade ativa e, como tal um capital natural que impõe ao processo produtivo sua própria lógica reprodutiva. A natureza tornada matéria-prima ou capital físico é tratada em condição mediata, como matéria genérica, intercambiável e substituível. Nessa condição, não é a capacidade produtiva das relações próprias e localizáveis de suas manifestações, como biomas ou ecossistemas, mas os componentes dessas relações, individualmente, como matéria genérica que entra nos processos produtivos. Nisso se igualam em essência a madeira que se obtém pela decomposição de um bioma e o solo que emerge dessa decomposição para ser utilizado como suporte de uma fórmula mecânico-química. Como capital natural, força produtiva, a natureza é meio de produção imediato pela qualidade impar das suas manifestações originárias, é dizer, pelas particularidades que detém enquanto uma natureza para si (na tradição hegeliana, encampada por Marx) que possam constituir valores de uso próprios, por seus atributos únicos. Isso acontece quando certa configuração das relações entre elementos vitais da natureza, configuração essa espacialmente delimitada e intransportável, é utilizada em um processo produtivo particular. Nesse caso, a base natural pode ser vista a) como um ecossistema originário, um bioma, que, por preservado em sua complexidade, produz com exclusividade bens ou serviços - valores de uso - que atendem necessidades humanas ou b) como um ambiente edafo-climático, isto é, uma certa interação particular entre solo e clima a permitir a produção alternativa e excludente de valores de uso em sistemas simplificados (agrícolas, pecuários, silviculturais) com o propósito de maximizar a produção de biomassa por unidade de tempo/espaço. A presença imediata da natureza como força produtiva faz a principal diferença entre os setores da produção rural e a indústria. Isto tem tido grande importância no tipo de dinâmica tecnológica que o desenvolvimento da sociedade capitalista vem produzindo nesses setores, pois à razão industrialista (industrial-capitalista) importa reduzir essa presença e controlar o seu significado. Tal esforço é central e em torno dele tem se organizado o paradigma da modernização da agricultura, enquanto industrialização do rural. Goodman, Sorj e Wilkinson (1988) demonstram nesse esforço duas grandes trajetórias: a representada por um conjunto de soluções tecnológicas que se sucedem como busca industrial de apropriação de papéis 12 desempenhados pela natureza e outra por um conjunto de soluções que buscam substituir produtos da natureza viva por produtos inorgânicos e obtidos em laboratório (i.e. industrialmente). O sentido último seria o da autonomia do processo industrial em relação à natureza e ao trabalho vivos, para o que Haiamy e Ruttan (1980) observam ter a mecânica e a química papéis destacados, sendo a primeira o fundamento das soluções onde há abundância de terra e a segunda onde esse fator é limitado. Paradigmas tecnológicos e requisitos institucionais Em qualquer dos casos, domina, em nível global, um paradigma ou padrão tecnológico, que se afirma por conjuntos de soluções selecionadas pela eficiência demonstrada no controle da natureza para que corresponda às necessidades industriais e capitalistas. Tais soluções se sucedem compondo trajetórias tecnológicas marcadas pelo uso intensivo da mecânica e da química e pela formação dos sistemas botânicos e biológicos homogêneos para isso necessários. Tal paradigma “global” está presente na realidade amazônica no universo da produção de bens, controlado pelos agentes produtivos mediante seus critérios próprios de decisão, e no da gestão das políticas públicas, onde se destacam aquelas que condicionam a produção e difusão de conhecimento científico e tecnológico. Ele está, portanto, internalizado na prática produtiva e reprodutiva dos que operam os processos de uso da natureza, do que faz parte um conhecimento tácito difuso e culturalmente conformado. Está também na prática dos que operam as organizações de produção de conhecimento codificado e de transmissão das soluções tecnológicas daí derivadas, além de incorporado em meios de produção gerados com conhecimentos obtidos alhures. Parte integrante deste “paradigma agropecuário” (Costa, 2009b, 2008b) é a perspectiva que trata a natureza como matéria prima ou capital físico. Tal perspectiva indica a desmontagem do ecossistema (o bioma originário) para comercialização de suas partes como processo econômico legítimo e força a criação do insumo “terra”, isto é, de suporte depreciável para a produção agropecuária. Para que qualquer dessas possibilidades se realize configura-se uma institucionalidade própria, capaz da “grande transformação” (Polanyi, 1992) que, no capitalismo, se processa pela mercantilização da natureza no mercado de terras. Todavia, não está sozinho este “paradigma agropecuário” na configuração da realidade agrária da Amazônia. Há outras formas de utilização da base natural da Região que pressupõem a manutenção da natureza originária como capital natural, força produtiva, e configuram, por isso, 13 um paradigma tecnológico – que tratamos como “paradigma extrativista” -, porquanto perspectiva particular do uso social dos recursos e de resolução dos problemas a isso afetos. As soluções daí derivadas organizam trajetórias tecnológicas sobre as quais procuraremos discernir. Esse paradigma (e suas variantes), do mesmo modo que seu concorrente agropecuário, dispõe de bases de conhecimento e institucionalidade próprias. Diferentemente daquele, porém, as bases de conhecimento do “paradigma extrativista” são dominantemente tácitas e consuetudinárias, fundamente incorporadas na cultura da Região. Tais acervos se constituem de protocolos de acesso (normas) e de uso (técnicas) da natureza originária, no quadro de processos produtivos em que biomas e ecossistemas se reproduzem como capacidade operante (capital natural), codeterminando (Immler, 1990; Immler, 1985) o resultado do trabalho. Como tal, trata-se de base natural da qual o mercado de terras é antítese. 2.1 A diversidade estrutural na Amazônia e seus agentes: o ponto de partida das trajetórias Temos nos esforçado em estabelecer a diversidade de agentes e estruturas que conformam a dinâmica agrária na Região com base nas respectivas especificidades de razões e processos decisórios (racionalidades) que, por uma parte, emergem de relações sociais próprias, por outra, conformam relações técnicas particulares, profundamente marcadas pela diversidade de fundamentos naturais e institucionais que, por seu turno, formam o piso e o entorno de suas existências. O modelo relacional que nos orienta está esquematizado na Figura 1. Dois tipos básicos têm prevalecido: Os estabelecimentos patronais dependem do trabalho assalariado e, por isso, do grau de desenvolvimento do mercado de trabalho; resultam de processos de apropriação da terra e dos recursos da natureza definidos pelo poder de compra dos seus titulares, por isso, dependem do desenvolvimento do mercado terras. São, enfim, uma fração particular de capital e, por isso, dependem do desenvolvimento do mercado financeiro e se comportam orientados dominantemente por avaliações da eficiência marginal do capital: o valor presente, isto é, corrigido pelas alternativas de ganhos atuais para a aplicação do mesmo montante monetizado de recursos envolvidos no empreendimento, das receitas máximas abatidas dos custos mínimos em cada período de tempo (Keynes, 1967). 14 Os estabelecimentos camponeses, cuja governança é caracterizado pela centralidade da família nos processos decisórios, seja como estrutura definidora das necessidades reprodutivas que estabelecem a extensão e a intensidade do uso da capacidade de trabalho de que endogenamente dispõe, seja como determinante nos processos de acesso a terras, daqueles observados nas sagas de fronteira e daqueles derivados de ancestralidade e herança. Para a razão camponesa, os critérios de eficiência reprodutiva – segurança do padrão reprodutivo da família, socialmente determinado, onde se inclui cumprimento de projeto de futuro para seus membros (Costa, 1995; Costa, 2005; Costa 2007a; Costa, 2007b e Costa, 2007c) – não eliminam, mas subordinam os de eficiência marginal do capital nas decisões econômicas fundamentais (Prado, 1993). FIGURA 1 – FUNDAMENTOS DA DIVERSIDADE DE AGENTES NO SETOR RURAL DA AMAZÔNIA Agentes: Racionalidade (genérica) e Características (específicas) C a m p o n e s e s P a t r o n a i s “Eficiência Reprodutiva” subordina “Eficiência Marginal do Capital” (decisões pautadas e multicritério, tradeoff média/variança da renda, da oferta/segurança alimentar, etc.) “Eficiência Marginal do Capital” (renda líquida descontada) subordina “Eficiência Reprodutiva” Consistência Inter-temporal das decisions (sim/não) Consistência Inter-espacial das decisões (sim/não) Consistência Inter-temporal das decisions (sim/não) Consistência Inter-espacial das decisões (sim/não) Natureza: percepção social e características objetivas da reprodução Natureza Morta, natureza como matéria prima Natureza viva, natureza como força produtiva Natureza Morta, natureza como matéria prima Natureza viva, natureza como força produtiva TerraFirme Várzea Instituições: acesso à natureza e a capital tangível e intangível “Property Rights” Garantidos TerraFirme Status de Fronteira Accesso a capital dinheiro Accesso a conhecimento codificado Accesso a capital dinheiro Várzea Accesso a conhecimento codificado TerraFirme Accesso a capital dinheiro Várzea “Property Rights” Garantidos TerraFirme Status de Fronteira Várzea Accesso a conhecimento codificado Accesso a capital dinheiro Accesso a conhecimento codificado Fonte: Desenvolvimento do autor. De sorte que agentes camponeses e patronais têm modelos próprios de avaliação da consistência inter-temporal e inter-espacial de suas decisões, que os diferenciam intrinsecamente em seus modos de produzir, ao par das capacidades respectivas – historicamente determinadas - de acesso 15 a instituições e conhecimento: de acesso a capital natural, a capital físico, a capital humano e a capital social. Mutuamente determinadas, essas diferenças estabelecem perspectivas próprias, a cada modo de produção, de ver e usar a natureza: se como matéria prima/capital físico ou como força produtiva/capital natural. Em resumo, modos de produção derivados das relações sociais de última instância (assalariamento ou produção familiar) impõem suas necessidades e razões às formas concretas que assumem quando territorializados. Ao se ajustarem às condições de um grande ambiente, ao se adaptarem às disponibilidades naturais e às condições institucionais de uma região, tais modos de produção assumem formas concretas nos sistemas de produção rural. Estes, quando convergem de modo amplo, para conjuntos de soluções comuns, expressas em relações técnicas e institucionais particulares, conformam trajetórias tecnológicas: formas particulares e concretas de realização de um paradigma tecnológico – de realização de uma ontologia de relações com a natureza particular de um território. 2.2 Modos de produção, paradigmas e trajetórias tecnológicas na Amazônia Seguindo orientação teórica já detalhada acima, a noção de paradigma tecnológico aplicada à produção rural na Amazônia está referida às atitudes - de agentes constrangidos em estruturas fundamentais - mediante a base natural da Região. De um lado as formas de produção que pressupõem a manutenção da natureza originária (o bioma florestal amazônico); noutro, as formas de produção que pressupõem a transformação tensa da natureza originária. Ao primeiro “chamamos paradigma extrativista”, e o último, que chamamos “paradigma agropecuário”. O “paradigma extrativista” comporta posturas intermediárias que conformariam trajetórias agroflorestais, nas quais o pressuposto da manutenção da natureza originária segue de par com uma agricultura subordinada e tributária. Do mesmo modo, o “paradigma agropecuário” poderá comportar trajetórias silve-agrícolas, nas quais se verifique em maior ou menor grau a busca de imitação artificial da complexidade dos biomas florestais originais. Tais paradigmas se realizam no confronto concorrencial entre as trajetórias tecnológicas na disputa por meios naturais e institucionais de um território. Costa (2009d) exercitou tais noções, detectando seis trajetórias tecnológicas em evolução na Amazônia, três camponesas e três patronais, cinco como modalidades do “paradigma 16 agropecuário”, uma do “paradigma extrativista”. Na Tabela 1 encontram-se as características principais dessas trajetórias apresentadas a seguir pela ordem de importância no Valor Bruto da Produção Rural (VBPR)1 da Região Norte: • TrajetóriaCamponês.T1 reúne o conjunto de sistemas camponeses que convergem para sistemas com dominância de culturas permanentes e produção de leite. Marcada por uso intensivo do solo, com sistemas diversificados (baixo impacto na biodiversidade) e baixa formação de dejetos/impacto poluidor, explica 27% do VBPR, 38% do emprego, 10% da área degradada e 11% do balanço líquido de carbono. A economia em torno dessa trajetória na Região Norte cresce entre 1990 e 2006 em termos absolutos a 5% a.a., com rentabilidade crescente nos últimos tempos a 2,5% a.a.: por trabalhador a 4,3% a.a. e por área a 0,3% a.a. (Costa, 2009c). • A TrajetóriaPatronal.T4 reúne o conjunto de sistemas de produção em operação em estabelecimento patronais que convergem para pecuária de corte. Marcada por uso extensivo do solo, homogeneização da paisagem (alto impacto na biodiversidade) e formação intensa de dejetos, explica 25% do VBPR, 11% do emprego, 70% da área degradada e 71% do balanço líquido de carbono. A economia em torno dessa trajetória cresce em termos absolutos a 5,1% a.a., com rentabilidade crescente nos últimos tempos a 8,4%a.a., por trabalhador a 9% e por área a 6,2%. • TrajetóriaCamponês.T2 reúne o conjunto de sistemas camponeses que convergem para sistemas agro-florestais com dominância ou forte presença de extração de produtos nãomadeireiros, explica 21% do VBPR, 26% do emprego, 3,5% da área degradada e 2,6% do balanço líquido de carbono. A economia em torno dessa trajetória cresce em termos absolutos a 12% a.a., com rentabilidade crescente nos últimos tempos, por trabalhador a 12,7% e por área a 11,4%. Baseando a economia rural amazônica desde segunda metade do século XVIII (Costa, 2010), esta seria uma trajetória expressão de um “paradigma agro-florestal” – no qual os processos produtivos pressupõe, em algum nível, a preservação da natureza originária. 1 O Valor Bruto da Produção Rural (VBPR) é o somatório da multiplicação da Quantidade Produzida de cada produto pelo seu Preço Pago ao Produtor. 17 • TrajetóriaCamponês.T3 reúne o conjunto de sistemas camponeses que convergem para sistemas com dominância de pecuária de corte, explica 19% do VBPR, 28% do emprego, 14% da área degradada e 12,5% do balanço líquido de carbono. A economia em torno dessa trajetória cresce em termos absolutos a 7% a.a., com rentabilidade crescente nos últimos tempos a 7,8% a.a., por trabalhador a 8% e por área a 5%. • TrajetóriaPatronal.T5 reúne o conjunto de sistemas patronais que convergem para plantações de culturas permanentes em forma de plantation. Marcada por uso intensivo do solo, com homogeneização da paisagem (alto impacto na biodiversidade) e baixa formação de dejetos/impacto poluidor, explica 6% do VBPR, 2% do emprego, 2% da área degradada e 3% do balanço líquido de carbono. A economia da trajetória cresce em termos absolutos a 2,5% a.a., com rentabilidade crescente nos últimos tempos a 7,2% a.a., por trabalhador a 5,7% e por área a 4,1%. • TrajetóriaPatronal.T6 reúne o conjunto de sistemas patronais de silvicultura. Marcada por uso extensivo do solo, com homogeneização da paisagem (alto impacto na biodiversidade) e baixa formação de dejetos/impacto poluidor, explica 2% do VBPR, 0,2% do emprego, 0% da área degradada e 0% do balanço líquido de carbono. A economia em torno dessa trajetória decresce em termos absolutos a -2,9% a.a., com rentabilidade fortemente decrescente por trabalhador a -11% e por área a -20%. TABELA 1 - CARACTERÍSTICAS DAS TRAJETÓRIAS TECNOLÓGICAS PREVALECENTES NO SETOR RURAL DA REGIÃO NORTE: DISTRIBUIÇÃO DE TERRA E TRABALHO, 1995 (MILHÕES DE HECTARES) Trajetórias Sistemas camponeses: Trajetórias/ Características Número de Estabelecimentos Tamanho médio VBPR (R$1.000.000) Pessoal Ocupado Total de Terras Apropriadas Total de áreas degradadas Emissão líquida de CO2 Fonte: Costa, 2009d. Sistemas patronais: Que convergem para pecuária de Leite e permanentes (T1) Que covvergem para sistemas agroflorestais (T2) Que convergem para pecuária de corte (T3) Que convergem para pecuária de Corte (T4) De culturas permanentes (T5) De Silvicultura (T6) 171.292 54,47 27% 38,2% 16,7% 10,2% 11,8% 130.593 23,04 21% 26,6% 5,4% 3,5% 2,6% 109.405 62,23 19% 22,7% 12,2% 14,3% 12,5% 27.831 1.196,00 25% 10,5% 59,7% 70,4% 70,5% 4.444 472,62 6% 1,7% 3,8% 1,6% 2,6% 3 413.681,7 2% 0,2% 2,2% 0,0% 0,0% Valores Absolutos em 1995 443.568 125,74 100% 100% 100% 100% 100% 18 TABELA 2 - CARACTERÍSTICAS DAS TRAJETÓRIAS TECNOLÓGICAS PREVALECENTES NO SETOR RURAL DA REGIÃO NORTE: DISTRIBUIÇÃO DE TERRA E TRABALHO, 2006 (MILHÕES DE HECTARES) Trajetórias Sistemas camponeses: Trajetórias/ Características Número de Estabelecimentos Tamanho médio VBP (R$1.000.000) Pessoal Ocupado Que convergem para pecuária de Leite e permanentes (T1) Que covvergem para sistemas agroflorestais (T2) 265.029 69,45 36% 50% 34% 97.302 55,75 34% 20% 10% Sistemas patronais: Que convergem para pecuária de corte (T3) 60.587 117,9 11% 17% 13% Que convergem para pecuária de Corte (T4) De culturas permanentes (T5) 10.839 1.024,22 6% 6% 21% 2.982 217,03 3% 3% 1% Total de Terras Apropriadas Fonte: IBGE, 2008. Delimitação por. metodologia de Costa, 2009d. Total em 1995 Que convergem para culturas tmporárias (T7 7.881 444.620 1.366,2 120,3 10% 100% 4% 100% 20% 100% O Censo Agropecuário de 2006 apresenta mudanças importantes nessa estruturação da produção rural da Região Norte. A assinalar a notável mudança no significado econômico das trajetórias: as trajetórias camponesas em conjunto passaram de 67% para 81% do VBP rural – a T1 e a T2 aumentaram expressivamente a participação de, respectivamente, 27% para 36% e 21% para 34%, enquanto a T3 reduziu de 17 para 11% a participação relativa no valor da produção entre os Censos. Das patronais, a T4 teria reduzido fortemente, de 25% para 6%, em parte por transformação de conjunto considerável dos seus elementos em uma nova trajetória, a T7, dominada por uma convergência para a produção especializada de grãos. Esta nova trajetória significava 10% em 2006. Parte, porém, dessa extraordinária mudança deve resultar da não consideração, na versão final do Censo, dos estabelecimentos que se encontravam em área de reserva e terras indígenas2 (ver Tabela 1 e 2). 2 Não se justifica, nesta monta, a recomposição inferida dos resultados do Censo de 2006. O problema está na não consideração, na versão final do Censo de 2006, dos estabelecimentos que se encontravam em áreas de reserva e terras indígenas. Isso criou uma série de incosistências: os números finais divulgados se referem na Região Norte de 475.775 estabelecimentos com um volume de terras total de 54.787.297. Numa primeira divulgação, porém, em dezembro de 2007, que, como já mencionamos, contemplava umas poucas variáveis, mas incluía os estabelecimentos em áreas indígenas, como fizeram os Censos anteriores, se mencionava 479.158 estabelecimentos com 67.461.295 de hectares apropriados ou, se quizer, com 66.320.439 com utilização declarada. A diferença, próximo a 13 milhões de hectares, corresponderia aos estabelecimentos nas áreas especiais mencionadas. Por outro lado, uma menção aos números que deveriam justificar a diferença se refere a 30.022 estabelecimentos com 10.974.133 ha em terras indígenas, que haveriam sido corrigidos para, respectivamente, 30.016 e 3.266.343 na versão final (ver 19 2.3 As trajetórias tecnológicas no Sudeste Paraense No Sudeste Paraense, cinco trajetórias das reveladas a partir do Censo de 1995 – a Trajetória-Camponesa.T1, representava 13%, a T2, 16%, a T3 17% (o conjunto das trajetórias camponesas perfazendo 47% do setor rural, portanto). Das patronais, a T5 representava 3% e a T4 50% (53% do setor, por sua vez – para estes e os próximos resultados ver Gráfico 1 e Tabela 3). Regredindo a as séries a 1990 e acompanhando-as até 2006 (conf. metodologia apresentada nas notas do Gráfico 1) verificou-se nesses dezesete anos um rápido crescimento do setor rural com o Valor Bruto da Produção da Produção Rural (VBPR) expandindo à taxa média de 5,6% ao. As trajetórias camponesas cresceram, a T1 a 7%, a T2, a 5,8% e a T3, a mais rápida entre elas, a 8,1% ao ano (ver Gráfico 1). Das patronais, a T5 definhou a -1,4% e a T4 cresceu bem abaixo da média, a 3,2% a.a. Houve, ademais, entre 1995 e 2006, a emergência da Trajetória-Patronal.T7, já mencionada, a qual deu saltos depois de 1995. De modo que no final do período observa-se uma reconfiguração do setor, com a Trajetória-Patronal.T5 caindo para 2%, a T4 para 49% (ela fora, em 1990, 64%) e a T7, que em rápida evolução chegou a representar 15% em 2003; no fim do período, porém, atinge 6% do VBP do setor rural na mesorregião. Note-se o peso da T4 bem maior que na média da Região Norte, seja em 1995, seja em 2006; ao par disso, a importância relativa de todas as trajetórias camponesas, não obstante a T1 e a T2 mostrarem, no Sudeste, peso bem menor que no resto da Região Norte. No que se refere aos requerimentos de terra, a T4 se mostra extraordinariamente exigente – no início do período para cada ponto percentual na participação do VBPR exigia 1,2 pontos na participação do total de terras trabalhadas – e essa característica se acentuou no final, quando para cada 1% no VBPR corresponde a 1,37% no total da necessidade de terras. De modo que a redução no seu peso relativo no VBPR de 64% para 49% se fez acompanhar por queda em proporção inferior de 77% para 67% na exigência em terras trabalhadas total no mesmo período. nota 4 na pg. 100 e Tabela 7 e Tabela 2.1.1, pg. 519 de IBGE, 2009). Seja como for, o resultado é que os volumes de terras apropriadas nos números finais do Censo são menores que os 55.774.533 ha do Censo realizado mais de uma década antes. Já isso, não inviabiliza, mas recomenda atenção e critério na utilização deste gigantesco acervo. Parece claro que o procedimento mencionado está na base de uma subnotação das trajetórias mais presentes nas áreas suprimidas: precisamente a patronal T4 e a camponesa T3. Subestimadas essas trajetórias, as demais sofreram valorização relativa correlata. . 20 A T7 exige terras em proporções semelhantes, a T3 em proporção ligeiramente inferior e as demais em proporções bem abaixo de seus significados econômicos. GRÁFICO 1 – EVOLUÇÃO DO VALOR BRUTO DA PRODUÇÃO RURAL E DAS TERRAS AGRICULTRADAS TOTAL DAS TRAJETÓRIA TECNOLÓGICAS DO SETOR RURAL NO SUDESTE PARAENSE A - VBPR em R$ de 2009 B - Terra Total Agricultada (Inclui áreas em descanso, em Ha) 800.000.000 14.000.000 700.000.000 12.000.000 600.000.000 10.000.000 500.000.000 8.000.000 400.000.000 6.000.000 300.000.000 4.000.000 200.000.000 100.000.000 2.000.000 0 0 2006 2004 2002 2000 1998 1996 1994 1992 1990 2006 2004 2002 2000 1998 1996 1994 1992 1990 Camponesa.T1 (7,0% a.a.) Camponesa.T2 (5,8% a.a.) Camponesa.T1 (11,3% a.a.) Camponesa.T2 (10,3% a.a.) Camponesa.T3 (8,1% a.a.) Patronal.T5 (-1,4% a.a.) Camponesa.T3 (12,4% a.a.) Patronal.T5 (3,9% a.a.) Patronal.T4 (3,2% a.a.) Patronal.T7 Patronal.T4 (8,0% a.a.) Patronal.T7 Fonte: Tabela 3. 3. O modelo de Contas Sociais Ascendentes Alfa (CSα) e sua aplicação aos Sudeste Paraense Desenvolvemos um modelo de Insumo-Produto, a que chamamos de Contas Sociais Alfa (CSα, ver 2008), o que utilizamos para descrever abaixo a economia do Sudeste Paraense. Tratase de metodologia ascendente porque baseada nos parâmetros e indicadores de cada produto que compõe os setores originários e fundamentais, obtidas as estatísticas de produção no nível mais irredutível possível de uma economia local. Tais “setores originais” são tratados como “setores alfa”: ponto inicial, lugar de partida de tudo o mais. No trajeto dos produtos advindos do “setores alfa” são definidas parametricamente os setores derivados, tratados como “Setores Beta”, os quais são ajustados a três níveis diferentes: o nível local (βa), o nível estadual (βb) e o nível nacional (βc). 21 Porque consegue explicitar qualquer configuração estrutural capaz de ser delimitada nos bancos de dados disponíveis, a metodologia apresenta a economia local em questão de uma maneira particularmente interessante para nossos propósitos aqui. Em artigos recentes, discutimos matrizes que situam as estruturas fundamentais do setor rural na região, suas interações com outros setores de base primária, como o da exploração mineral, e com a economia urbana local, estadual e nacional (Costa, 2009d). Sugerimos em outro lugar um modelo de cálculo de emissão e seqüestro de CO2 associados às dinâmicas diferenciadas dessas estruturas rurais (Costa, 2009a). Utilizaram-se aqui resultados da aplicação combinada desses dois modelos. Na aplicação do modelo de insumo-produto se incluiu, entretanto, à diferença dos trabalhos citados, o mercado de terras, como se discutirá detalhadamente adiante. Por outro lado, se instrumentou o modelo para que aplique, para os “setores alfa” ligados à produção rural, o mesmo algoritmo utilizado para o cálculo do balanço de carbono já mencionado. Note-se, porém, que neste estudo não se obtiveram valores do balanço para o “setor alfa” não-rural (a mineração) nem para os “setores beta”, porque o propósito é focar os setores mais visados relativamente às emissões associadas ao desmatamento e uso da terra. 3.1 A matriz de Insumo-Produto e os multiplicadores da economia do Sudeste Paraense No presente exercício se configurou a economia do Sudeste Paraense a partir da produção de três setores alfa, de produção primária: dois da produção rural e um de produção mineral. Como já indicamos, as bases agrárias do Sudeste Paraense resultam de um processo de apropriação fundiária que se fez por agentes com características sociológicas distintas, às quais se tem atribuído racionalidades econômicas também diferenciadas. Tais sujeitos estabeleceram estruturas próprias a partir de formas peculiares de privatização da terra e dos recursos da natureza e das diferentes relações sociais e técnicas engendradas na exploração da terra e dos recursos da natureza: as trajetórias tecnológicas, cujos atributos apresentamos no Capítulo 2. Agrupamos as trajetórias nas formas de produção a elas subjacentes e compusemos os dois setores alfa da produção rural: o “Fazendas” agrega as trajetórias T4, T5 e T7 e o “Camponeses” agrega a T1, T2 e T3. 22 No que se refere à produção mineral, o banco de dados contém as informações relativas às plantas da Companhia Vale do Rio Doce operando na Região no ano de 2004 (informações prestadas pela CVRD ao autor). 23 TABELA 3 – EVOLUÇÃO DO VALOR BRUTO DA PRODUÇÃO E DAS TERRAS TOTAIS AGRICULTADAS DAS TRAJETÓRIA TECNOLÓGICAS DO SETOR RURAL NO SUDESTE PARAENSE, 1990 A 2006, EM R$ DE 2007 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 Valor Bruto da Produção (Em R$ 2007) Camponesa T1 60.219.705 62.862.412 65.548.038 74.569.945 73.289.736 70.475.646 69.912.267 78.946.011 86.126.534 88.513.357 94.601.609 92.878.946 101.144.249 110.864.828 149.324.207 151.466.865 Camponesa T2 43.353.541 43.590.684 48.904.671 55.354.243 56.924.339 36.059.089 33.466.145 33.958.866 38.559.668 48.441.407 52.201.405 54.872.073 59.264.000 66.921.690 74.233.387 84.960.380 137.815.908 79.731.315 Camponesa T3 140.867.566 149.343.496 151.244.201 161.121.627 152.738.911 155.008.815 146.886.378 162.798.174 173.710.987 183.776.320 227.330.864 238.917.419 246.445.040 254.213.038 332.558.555 324.239.856 298.841.103 PatronalI T5I 20.713.819 19.804.761 21.424.541 24.431.792 24.738.586 10.521.626 9.213.873 10.367.430 10.678.025 15.288.466 16.816.718 17.023.689 17.954.195 18.429.478 16.157.581 17.612.269 17.484.845 Patronal T4 978.098.435 1.017.370.961 1.020.764.575 1.010.111.668 956.905.085 772.160.080 709.334.496 788.505.008 906.229.468 901.277.597 1.024.893.674 1.036.835.046 1.111.836.360 1.079.477.408 1.460.981.446 1.545.247.146 1.418.729.929 734.618 706.115 13.909.978 44.308.969 46.084.292 72.777.575 77.117.077 166.419.438 198.137.825 99.922.408 98.372.060 1.243.253.066 1.292.972.314 1.307.886.026 1.325.589.275 1.264.596.657 1.044.225.255 969.547.778 1.075.281.604 1.229.214.660 1.281.606.116 1.461.928.562 1.513.304.748 1.613.760.922 1.696.325.880 2.231.393.002 2.223.448.924 2.050.975.160 Camponesa T1 327.451 340.921 360.306 409.944 406.653 383.382 380.187 426.799 464.088 480.890 513.515 507.411 548.471 602.193 795.625 808.115 743.328 Camponesa T2 315.761 320.030 361.951 411.894 426.805 259.617 240.902 249.468 272.704 352.336 382.790 403.138 434.325 485.014 512.023 580.436 560.628 Camponesa T3 726.753 770.284 783.104 838.332 800.522 807.537 772.237 852.752 912.897 960.789 1.180.700 1.234.645 1.269.634 1.308.887 1.698.640 1.656.040 1.529.137 Patronal T7 Total Terra Total Agricultada (inclui terras em descanso em Há) 126.245 124.681 137.029 149.734 150.111 79.440 72.912 77.196 73.994 100.847 108.405 111.744 117.742 124.717 113.598 123.246 125.671 4.938.609 5.135.760 5.156.328 5.113.315 4.851.483 3.921.303 3.608.453 4.005.307 4.594.723 4.569.999 5.188.742 5.247.112 5.621.024 5.449.131 7.353.382 7.786.360 7.156.369 3.957 3.818 71.495 226.227 235.220 370.525 392.288 851.204 1.010.085 506.941 499.073 6.434.819 6.691.677 6.798.719 6.923.219 6.635.574 5.451.279 5.078.647 5.615.340 6.389.901 6.691.088 7.609.373 7.874.576 8.383.485 8.821.146 11.483.353 11.461.137 10.614.205 PatronalI T5I Patronal T4 Patronal T7 Total 1. Utilizaram-se dois bancos de dados: um, o BD-A construído de acordo com os seguintes critérios: a. Utilizou-se um banco de dados, o BD-A, com as informações da produção e de outras 250 variáveis do Censo Agropecuário de 1995 ao nível de estrato de área por microrregião para toda a Região Norte. Cada estrato de área (s) na microrreigão (r) configura uma caso. Para cada caso, o VBPR = sr g e k ∑∑∑ q srv . psrv , sendo qsrv e s =1 r =1 v =1 psrv respectivamente a quantidade e o preço do produto v para o caso s,r. Dado que 64 microrregiões e 15 estratos de área em cada uma, o BD-A tem 960 casos. b. 2. Seguindo os critérios utilizados no trabalho FAO/INCRA (2000), foram considerados estabelecimentos camponeses aqueles cuja força de trabalho familiar compõe a capacidade total de trabalho em no mínimo 1/2. Estabelecimentos patronais são os que contratam trabalho assalariado em montante superior a essa proporção. Calculou-se a força de trabalho familiar total somando a categoria “Membros Não Remunerados da Família Maiores de 14 Anos” com a metade da categoria “Membros Não Remunerados da Família Menores de 14 Anos”. Calculou-se a força de trabalho assalariada total dividindo a soma dos gastos com salários, empreitas e outras modalidades de contratação de força de trabalho pelo valor médio da diária prevalecente no local, no ano do censo e multiplicando o resultado por 300 (dias médios de trabalho por ano). Sobre a especificidade da forma camponesa de produção ver Costa (1995) e sobre as expressões disso na Amazônia ver Costa (2000). . Outro conjunto de dados, o BD-B com as informações anuais de preço e quantidade de cada produto v por microrregião retiradas das séries da Produção Agropecuária Municipal PAM), Produção Extrativa Municipal (PEM) e Produção Pecuária Municipal (PPM). Com base nessas séries formamos índices de quantidade, Q , e de preço I rva Q P I rva , para cada ano (a), no período de 1990 a 2006, e produto (v) na microrregião (r), considerando o ano base o ano de Censo, 1995, tal que I rva = q rva q rv ( a = 1995 ) 24 e P P I sva = p sva p sv ( a =1995 ) . Observe-se que atualizamos todos os preços com base no IGP-FGV para 2005, de modo que o índice I rva refere-se a preços constantes. Aplicando os índices criados no BD-B para os casos do BD-A formou-se um novo banco de dados, o BD-C, com cada caso gerando VBPR anuais no período 1990 a 2006 a preços constantes de 2005, VBPR 3. asr = ∑ ∑∑∑ (I 2006 g e k a =1990 s =1 r =1 v =1 Q avs P .qasrijv )( . I avs . pasrijv ) . Cada caso no banco original gerou 17 casos (o número de anos considerados), de modo que o novo banco BD-C tem 16.320 casos=linhas. Taxas de crescimento calculadas por regressão da transformação logarítmica das médias trianuais da variável em relação ao tempo medido em anos. 25 A economia do Sudeste Paraense, seus multiplicadores de renda e as emissões líquidas de carbono A economia do Sudeste Paraense descrita na Tabela 4 para 2004 (a construção de matrizes mais próximas no tempo exigiria pesquisa de campo para além das condições de realização desta pesquisa) engloba as relações da economia local de base primária e seus desdobramentos em nível local (setores βa), estadual (setores βb) e nacional (setores βc). Nas suas dimensões absolutas essa economia gerou, em 2004, um valor adicionado total (VA) de R$ 11,2 bilhões a partir de um nível global de atividade expresso no valor bruto da produção (VBP) total de R$ 26,22 bilhões. Foi responsável por um volume de ocupações (E) de 372,3 mil, associado a uma massa global de salários (S) de R$ 1,83 bilhões de reais, uma margem bruta de remuneração de capital (L) de R$ 8,06 bilhões e impostos (I) no montante de R$ 1,3 bilhões. Comparando com os valores apresentados em Costa (2008) verifica-se que a inclusão do mercado de terras acresceu o VA e o VBP, respectivamente, em R$ 185,3 e R$ 465,4 milhões – 1,81% e 1,68% de acréscimo. O número de ocupações, a massa de salários, a margem bruta de remuneração do capital e os impostos devem, por seu turno, à inclusão do mercado de terras, parcelas correspondentes a, respectivamente, 1,11%, 1,3%, 1,76% e 1,76% de acréscimo. A economia local participou com 61% do VA total: 73%% disso nos setores de produção (setores α) – 16,8% pontos percentuais correspondentes à agropecuária e 56,5% à produção mineral. Aos setores de comércio, indústria e serviços locais do Sudeste Paraense (setores βa) coube 27% do VA local, representando16% do total. Os dois setores da produção rural, ademais, apresentam balanços de carbono bem diferentes: as fazendas, com 217,8 Gt de CO2 equivalente, geram aproximadamente o triplo das emissões líquidas de 75,4 Gt de CO2 equivalente das unidades camponesas. Isso leva a custos de oportunidade social, medidos pela relação Valor Adicionado/Emissão líquida de CO2, bem diferentes entre as fazendas, de R$ 2,95/t CO2 equivalente, e os camponeses, de R$ 6,69/t CO2 equivalente. O mesmo se verifica em relação aos custos de oportunidade privados – afetos aos proprietários – medidos pela relação Lucro (sem impostos)/Emissão líquida: R$ 2,10/t CO2 equivalente e R$ 5,69/t CO2 equivalente. 26 TABELA 4 – ESTRUTURA DA ECONOMIA DO SUDESTE PARAENSE EM 2004 E O BALANÇO DE CARBONO DA ECONOMIA DE BASE AGRÁRIA. MATRIZ DE INSUMO-PRODUTO CSα EM R$ 1.000.000 CORRENTES Economia Local: Produção/Setores InterAlfa mediCamFazeMine- ação poneprindas ração ses mária 1ª Fazendas 1b.Camponeses 1c. Mineração 2.Intermed. 3. IndBenef. 4. IndTransf. 5. Atacado 6. Var. e Serv. 7. IndBenef 8. IndTransf 9. Atacado 10. Var. e Serv. 11. IndBenef. 12. IndTransf. 13. Atacado 14. Var. e Serv. r.Total de x.Fazendas y.Camponeses z. Mineração V. Adicionado6 s.Salários6 l.Lucros 6b i.Impostos Renda Bruta Emprego CO2 Emissão CO2 Seqüestro CO2 Balanço 5,1 2,3 218,1 1,7 227,1 642,0 642,0 172,7 456,4 12,9 869,2 51,6 291,4 73,7 217,8 24,9 2,5 117,6 1,4 146,3 504,4 504,4 74,1 429,3 0,9 650,7 138,4 104,6 29,1 75,4 9,0 - 10,4 0,0 0,3 32,4 0,0 367,6 0,0 5,6 0,5 54,2 526,6 986,4 20,2 - 82,6 - 36,0 3.857,5 0,2 3.857,5 118,7 272,0 6,0 2.942,3 100,9 643,2 11,9 4.843,9 138,9 13,9 1,1 - Indústria Produção Intermediária Economia Estadual/Regional Indústria Comércio Comércio Demanda Final Economia Nacional Indústria Comércio Bene- TransVare- Bene- TransVare- Bene- Transfici- forma- Ata- jo e fici- forma- Ata- jo e fici- formacado servi- amecado servi- ame-nto 4 ameção4 ção ção. 4 3 nto. ços2 nto 3 ços 2 184,6 17,6 39,9 70,3 0,2 0,6 77,7 43,9 32,1 41,2 0,2 2,2 410,5 - 334,7 42,9 - 10,4 84,3 0,0 0,8 0,0 19,5 56,5 4,4 159,1 0,0 6,9 40,5 183,8 0,0 45,2 - 897,7 - 9,5 75,9 1,6 207,8 22,7 584,7 23,5 6,8 50,6 0,0 4,5 9,4 - 0,9 0,0 0,0 0,2 0,0 0,0 0,8 - 136,9 258,8 - 38,8 - 170,1 73,6 38,0 128,6 341,1 763,6 13,4 8,3 5,1 118,8 0,9 71,9 - 2.703,8 - 108,6 69,5 403,8 - 658,3 137,1 - 299,5 765,9 - 157,9 2,2 91,7 125,5 784,2 562,8 859,5 3.771,5 37,4 230,7 1.345,1 525,1 431,7 2.950,4 179,9 69,3 15,8 169,1 25,2 36,7 59,1 82,4 143,3 111,9 101,9 49,1 48,0 140,3 15,0 14,6 30,8 28,8 70,3 68,3 55,9 358,7 49,6 469,6 318,8 70,7 101,3 82,8 2.130,7 571,4 337,7 477,1 113,5 779,0 359,1 122,1 191,2 194,1 2.344,3 751,7 71,2 73,3 41,8 382,3 17,0 24,9 66,0 60,4 93,9 288,0 220,9 391,0 62,5 282,0 338,0 92,8 67,9 96,4 2.152,3 315,4 45,6 12,8 9,1 114,7 4,1 4,4 57,3 37,2 98,1 148,3 1.121,9 1.039,9 972,9 4.550,5 396,5 352,8 1.536,3 719,1 2.776,0 3.702,1 12,0 10,5 7,5 53,9 2,2 3,2 11,0 7,3 12,5 24,5 VareAta- jo e cado serviços 2 1,6 0,0 8,9 0,0 0,0 31,4 86,1 - 56,6 28,6 0,0 - 0,0 0,0 0,0 69,9 0,0 0,2 1.667,7 179,6 6,8 7,9 1.814,9 330,4 36,8 69,3 28,6 43,7 223,1 288,5 112,9 137,4 54,1 92,0 20,8 59,1 38,0 2.103,4 443,4 17,6 5,0 Local Total Famílias 328,8 263,2 241,6 263,2 745,1 138,5 0,3 633,3 2,6 1.039,9 967,9 5,0 713,8 3.186,1 396,5 352,4 1.426,9 54,2 277,2 2.775,9 3.224,7 1.984,0 40,9 0,0 15.023,8 4.038,6 1.723,5 1.179,8 8.290,4 11.193,7 1.835,2 8.060,8 1.297,7 26.217,5 372,3 EstaVBP dual Nacio- Total Formanal7 ção de Capital5 277,2 540,4 869,2 145,9 409,1 650,7 - 4.098,8 4.098,8 4.843,9 - 0,0 0,4 138,9 - 485,9 488,5 1.121,9 - 1.039,9 5,0 972,9 650,5 0,0 - 3.836,6 4.550,5 - 0,0 0,0 0,0 396,5 - 0,0 0,4 0,4 352,8 - 41,5 68,0 109,4 1.536,3 - 387,7 664,9 719,1 0,1 0,1 2.776,0 - 477,4 477,4 3.702,1 78,5 119,4 2.103,4 - 443,3 443,4 443,4 1.073,6 429,2 5.652,3 11.193,7 26.217,5 Fonte: IBGE, Censo Agropecuário, Produção Agrícola Municipal, Produção Extrativa Municipal, Produção Pecuária Municipal. RAIS/MTE CVRD, diversos setores. Pesquisa primária. Sistema Netz de Contas Sociais Alfa - CSα. * Os municípios listados no capítulo 1. 1 Setores originais da CSα. Com base nos seus produtos, um a um, são calculados os valores básicos dos fluxos. 2 Inclui todas as formas de serviço. 3 Produção primária e primeiro beneficiamento. 4 Inclui produção de energia. 5 FBK dos setores alfa intermediada pelos setores da economia local. 6a Incluindo encargos, menos tributos. 6b incluindo importações, menos tributos. 7 Inclui exportações para o resto do mundo. 27 TABELA 5 – MATRIZ DE MULTIPLICADORES (INVERSA DE LEON-TIEF) DA SUDESTE PARAENSE COM BASE NA MATRIZ DE INSUMO-PRODUTO CSα EM 2004 Economia Local Produção (Setores Alfa)1 Fazendas 1ª Fazendas 1b. Camponeses 1c. Mineração 2.Intermed. Primária 3. Beneficiamento 4. Indust. de Transformação 5. Comércio de Atacado 6. Varejo e Serviços 7. Beneficiamento 8. Ind. de Transformação 9. Comércio de Atacado 10. Varejo e Serviços 11. Indust. De Benef. 12. Ind. de Transformação 13. Comércio de Atacado 14. Varejo e Serviços De renda Setorial de Produto De Impacto Setorial Efeito de Empuxe Fonte: Tabela 4. 1,135330 0 0,102731 1 0,070073 3 0,022541 6 0,075888 9 0,195736 2 0,187072 3 0,940453 2 0,064558 7 0,051022 6 0,264766 5 0,046365 8 0,350923 7 0,466240 5 0,285901 2 0,000000 5 1,840601 4,2596060 1,135330 3,124276 Camponeses 0,1268 527 1,1403 727 0,0657 687 0,0210 234 0,0715 597 0,1821 157 0,1757 160 0,8745 521 0,0605 642 0,0480 790 0,2479 018 0,0463 176 0,3283 569 0,4361 637 0,2672 864 0,0000 005 1,8406 010 4,0926 31 1,1403 73 2,9522 59 Indústria Intermediação BeneMinera- primária ficiameção nto. 0,123763 0 0,098095 3 1,069281 2 0,018695 0 0,070351 3 0,160888 5 0,159425 8 0,761565 8 0,056172 1 0,048445 0 0,221104 6 0,057548 7 0,361158 5 0,480973 7 0,352496 3 0,000000 5 1,840601 4,0399650 1,069281 2,970684 Economia Estadual/Regional 0,185401 7 0,172877 7 0,055006 0 1,017242 4 0,060957 3 0,150893 1 0,141517 7 0,713480 5 0,050437 8 0,040428 9 0,205573 3 0,046197 1 0,271260 6 0,360123 3 0,219508 4 0,000000 5 1,840601 3,6909060 1,017242 2,673664 0,294865 4 0,174469 2 0,438163 2 0,057902 7 1,086617 1 0,163617 3 0,160919 5 0,778960 5 0,062993 6 0,049804 5 0,258456 2 0,050485 3 0,336752 1 0,447176 7 0,288939 9 0,000000 5 1,840601 4,6501240 1,086617 3,563507 Transformação4 0,157982 3 0,152630 9 0,106418 2 0,022158 4 0,128693 9 1,153637 8 0,358388 9 0,707624 8 0,097697 0 0,075021 5 0,406503 8 0,046772 5 0,492138 7 0,652892 0 0,329106 2 0,000000 5 1,840601 4,8876680 1,153638 3,734030 Comércio Indústria Atacado Varejo Beneficiamento3 0,1701231 0,1372206 0,1173839 0,0298094 0,0913071 0,1593488 1,1938245 0,7092027 0,1509513 0,1372165 0,5794498 0,0468952 0,6965543 0,9154140 0,6221431 0,0000005 0,159757 8 0,128171 5 0,120877 5 0,040307 8 0,126539 8 0,353855 1 0,331800 6 1,704711 8 0,112481 3 0,086550 2 0,466638 2 0,046934 3 0,618609 3 0,822837 2 0,507011 1 0,000000 5 1,840601 5,6270840 1,704712 3,922372 0,122805 6 0,097469 8 0,058747 2 0,017385 4 0,061941 0 0,143795 5 0,199173 5 0,684484 5 1,061148 5 0,048410 0 0,250816 6 0,046239 0 0,299307 4 0,396296 7 0,239653 0 0,000000 5 1,840601 3,7276740 1,061148 2,666526 1,8406010 5,756845 1,193825 4,563020 2 Comércio Economia Nacional Indústria Transformação.4 Atacado Varejo2 Beneficiamento3 0,125309 2 0,098104 2 0,090975 0 0,018042 1 0,082108 0 0,144526 7 0,182806 8 0,687829 0 0,448543 0 1,047811 2 0,249225 6 0,046599 7 0,505421 1 0,399483 8 0,245450 7 0,000000 5 1,840601 4,3722360 1,047811 3,324425 0,129528 9 0,102406 2 0,122516 1 0,019474 6 0,100395 0 0,156280 6 0,193227 2 0,692329 8 0,270354 5 0,161561 4 1,232337 6 0,046952 7 0,711544 7 0,929142 2 0,379085 9 0,000000 5 1,840601 5,2471380 1,232338 4,014800 0,167601 8 0,117760 8 0,186753 9 0,028011 2 0,334925 8 0,168161 3 0,160725 4 0,711385 2 0,130626 6 0,166398 8 0,391566 5 1,047671 6 0,532624 2 0,682813 1 0,281368 4 0,000000 5 1,840601 5,1083950 1,047672 4,060724 0,119872 4 0,094831 6 0,178127 2 0,016831 1 0,061045 5 0,145190 2 0,139885 4 0,692264 8 0,049314 2 0,041049 8 0,197495 0 0,047575 1 1,292232 0 0,388663 9 0,262813 3 0,000000 5 1,840601 3,7271920 1,292232 2,434960 Transformação4 Comércio Atacado Varejo2 0,122824 0,126366 0,159804 4 0,102853 6 0,118517 5 0,097084 8 0,140485 6 0,176640 3 0,153048 6 0,018114 8 0,025660 1 0,017415 5 0,088613 8 0,274524 4 0,075377 6 0,162032 8 0,285549 4 0,166064 6 0,158828 7 0,172518 2 0,144132 2 0,692737 6 0,708283 1 0,691634 2 0,065065 6 0,058485 2 0,050626 3 0,076904 8 0,047641 9 0,042522 6 0,208435 4 0,236747 2 0,201893 6 0,047153 3 0,047558 1 0,047294 4 0,896348 8 0,632038 4 1,040720 4 1,205811 6 0,851569 2 1,413084 8 1,283666 6 0,291287 3 0,288244 0 0,000000 1 1,000000 2 0,000000 5 5 Agregados 5 Multiplicadores 1,840601 1,840601 1,840601 4,5519690 5,2734200 5,0868250 1,413085 1,283666 1,000001 3,138884 3,989754 4,086824 28 3.2 Os multiplicadores da economia do Sudeste Paraense A matriz inversa de Leontief fornece os multiplicadores de renda e de produto de uma economia. Esses podem ser de dois tipos, dependendo de serem calculados considerando a renda e o consumo locais (o setor “famílias”) como variáveis exógenas (tipo I) ou endógenas (tipo II). (Haddad, 1989: 317-318; Tosta et alii, 2004:252). Neste estudo trabalhamos apenas com os multiplicadores do Tipo II. Assim, foram calculados tendo o valor adicionado (renda das famílias) como sendo uma linha e o consumo final local como uma coluna a mais na matriz de coeficientes técnicos. Para a economia de base primária do Sudeste Paraense descrita na Tabela 4 calculamos os multiplicadores do Tipo II, considerando exógena toda a demanda final estadual e nacional – com a demanda final local, portanto, endógena. Os resultados estão na Tabela 5, onde, nas quatro últimas linhas encontram-se, também, pela ordem, o multiplicador agregado de renda, os multiplicadores setoriais de produto e seus componentes, os multiplicadores de impacto setorial e os de efeito de empuxe. Os multiplicadores – impactos e efeitos setoriais O multiplicador agregado ou global de renda é R$ 1,84: se se retira R$ 1 em produção do sistema econômico, ele reduzirá R$ 1,84 e vice-versa no valor adicionado agregado. Injetando R$ 1 na demanda efetiva o valor adicionado do sistema como um todo crescerá R$ 1,84. Os demais multiplicadores indicam como cada setor intermediará tais entradas e saídas de recursos no impacto sobre o valor da produção total e, por essa via, sobre as variáveis de renda, emprego e emissão de carbono de cada um deles. No que se refere ao setor alfa da produção rural camponesa, para cada unidade a mais ou menos na demanda final multiplica por 4,1 (1,1 de impacto setorial e 3 dos efeitos indiretos), e da produção rural patronal, por 4,3 (1,1 de impacto setorial e 3,2 de efeitos indiretos) na determinação da variação no valor da produção total. Variação nas variáveis de Valor Adicionado, no emprego e nas variáveis do balanço de carbono como resultado de alterações no Valor Bruto da Produção Dispondo da matriz de multiplicadores é possível calcular as variáveis de valor adicionado e outras que se associam ao sistema, pelo mesmo raciocínio que permite a determinação do nível de atividade econômica em cada setor produtivo como uma função da demanda final efetiva. Assumida a hipótese de proporcionalidade entre qualquer dessas variáveis e o valor da produção em todos os 29 setores da economia, pode-se estimar as variações respectivas, diretas, indiretas e induzidas, causadas pela expansão na demanda final de um determinado setor a partir da relação: U = (u j )1xn .( I − A) −1 .DF (1) onde U é a variável em questão (o emprego total, por exemplo ou a emissão de CO23) e (uj) é o vetor linha (1xn) contendo os coeficientes respectivos de cada setor “j”, obtidos pela divisão do valor real da variável no setor pelo seu valor da produção total; DF é o vetor coluna da variação na demanda efetiva. 4. Política de contenção, mercado de terras e economia local: exercícios de predição Utilizando a fórmula (1), podemos discutir a questão principal que nos colocamos. Relembrando: dado que os esquemas de compensação para contenção do desmatamento implicam em entrada e saída de recursos, qual o resultado final desses fluxos sobre as variáveis fundamentais de renda e emprego, sobre suas relações com a base natural que a fundamenta e, portanto, sobre as próprias forças que produzem o desmatamento? TABELA 6 – DIVERSAS CONDIÇÕES DE COMPENSAÇÃO POR REDUÇÃO NAS EMISSÕES DE CARBONO NO SUDESTE PARAENSE COMO VARIAÇÕES NA DEMANDA FINAL DE 2004 (EM R$ MILHÕES DE 20005) Exercício 1 1ªFazendas 1b.Camponeses 1c.Mineração 6.Varejo e Serviços Exercício 2 -434,591 -325,361 0,00 442,882 Exercício 3 0,00 0,00 0,00 442,882 -869,184 869,184 0,00 442,882 Exercício 4 -434,591 -325,361 6.563,053 442,882 Fonte: Tabela 4. Notas: 1 50% do Valor Bruto da Produção das linhas correspondentes na Tabela 4. 2 50% do valor da linha “Lucros” nos setores alfa “Camponeses” e “Fazendas”. 3 Informação da CVRD (conf. Ceplan, 2006 ). 4 100% da produção das “Fazendas”, maior poluidora, passa a ser feita nos moldes camponeses, cujo setor cresce na mesma proporção. Quatro exercícios, cujos termos básicos se encontram na Tabela 6, nos ajudarão a refletir sobre essa indagação. O primeiro procura retratar uma situação em que a política de compensação se faz em contexto idealizado onde se cumprem contratos e não há pressões de mercado; o segundo discute o efeito do mercado de terras como mecanismo de pressão exógena; o terceiro reflete sobre pressões 3 Na literatura especializada encontram-se outros métodos de calcular requerimentos e impactos físicos ambientais da produção a partir de matrizes Insumo-Produto. Particularmente interessantes e divulgados são os modelos desenvolvidos no Green Design Institute da Carnegie Mellon University, os quais combinam técnicas de insumo-produto e de análise de ciclo de vida na estimação endógena de impactos econômicos e ambientais - por matrizes de coeficientes técnicos físico, monetários e mistos operando nas transações intermediárias, ao invés de coeficientes em relação ao produto final, como fazemos. De modo que encontramos ai uma fonte de aprimoramento. Não obstante, tais modelos só recentemente vêm sofrendo ajustamento (por partição de matrizes nacionais) para análises regionais – o forte das nossas CSα. Segundo Georgyi Cicas, cuja tese de doutorado é pioneira nos caminhos de regionalização da EIOLCA, “While both process LCA and EIO-LCA have been important decision making tools, neither of them have been able do perform regional and state level analysis accurately and efficiently” (2005:8).. 30 endógenas de demanda por produtos; o quarto aponta para outras perspectivas de política com vistas a interferir no balanço de carbono. Idealismo tecnocrático O que ocorreria com a economia e com o balanço de CO2 se um programa de compensação por redução de emissão lograr reduzir em 5 anos 50% da produção que fundamentava o balanço de carbono verificado em 2004, por justa compensação aos proprietários dos estabelecimentos rurais no nível verificado de seus ganhos. Para isso, o esquema de compensação remuneraria os gestores da produção rural em 50% dos seus lucros anuais: por valores, pois, equivalentes ao custo de oportunidade dos recursos de capital por eles aplicados àquela produção. Na hipótese de que esses agentes continuarão no mesmo lugar4, o movimento precedente resultaria numa entrada de R$ 442,88 milhões por ano na economia local por compras de bens e serviços pelos que receberam a compensação em troca da redução em 50% das respectivas produções. Nisso, têm-se introjetada em contexto sistêmico a remuneração dos agentes responsáveis diretos pela produção, antes do estabelecimento dos contratos de não emissão. Nesse primeiro exercício, tais contratos são cumpridos e não há substituição da produção renunciada – o que se expressa, no modelo, na redução da oferta efetiva em montantes correspondentes a R$ 434,59 e R$ 325,36 correspondentes a 50% do valor da produção dos setores alfa camponês e patronal, respectivamente. As variações absolutas resultantes dessa operação encontram-se, na Tabela 7 e as variações relativas em relação a 2004, na primeira parte do Gráfico 2: se lograria reduzir as emissões em -53,8%, 3,8 pontos percentuais a mais que o projetado. Isto, contudo, ao custo de uma considerável redução da economia local (apesar da manutenção do mesmo nível de produção do setor alfa mineral), cujo valor adicionado reduziria em termos absolutos -R$ -601,33 milhões: uma redução de -8,8%, em relação a 2004; a massa de salários cairia -11,6%, os lucros -9,6%, os impostos -0,6% e o emprego nada menos que -35,6%. Haveria um reordenamento na composição da renda em favor das economias estadual e nacional, uma vez que nesses níveis todas as variáveis expandiriam, não obstante a baixas taxas. O mercado de terras como mecanismo de pressão exógena O exercício anterior corresponde a uma perspectiva presente no debate em andamento sobre compensações para evitar desmatamento e emissão de CO2. Argumenta-se que dada a “falha de 4 A outra hipótese, a de que os agentes que recebem as compensações mudam para lugares mais amenos, poderá ser explorada em outro momento. 31 estado” em coibir os “passivos ambientais” por incapacidade técnica de fazer valer as restrições formais, tudo dependeria de decisões privadas e da compensação aos “bons empresários” por não derrubarem suas matas, de acordo com seu custo de oportunidade. Dada, agora, a “falha de mercado” que não atribui valor “aos serviços ambientais da floresta” como sink de carbono, por exemplo, ao estado competiria cobrir o ônus da compensação. Nisso consistiria um “pacto redentor” (Young, 2007; Nepstad, 2008; Veiga, 2007). Esse raciocínio tem pressupostos que carecem explicitação: 1) por se organizar em torno da idéia de custo de oportunidade privado, se refere a um objeto de contrato (“serviço ambiental” produzido por mata originária) que já (e só) existe na condição de coisa apropriada; 2) essa condição, por sua vez, se refere à propriedade ou posse da terra – nesse sentido, o fundamento do objeto último dos contratos a estabelecer não é a “floresta originária” e o que representa objetivamente (bioma, ecossistema), como ativo específico face aos seus atributos; mas sim um ativo genérico “terra”. Ocorre que, como ativo genérico, “terra” é produto de ampla circulação, posto que resulta de processo de produção acoplado a um mercado: o mercado de terras. Como todo processo de produção em economia de mercado, a produção de terras se faz continuadamente enquanto existirem o poder de compra demandando seus resultados e os pressupostos da produção – engenho humano adequado à transformação e a matéria prima a ser transformada. TABELA 7 – VARIAÇÕES NAS VARIÁVEIS-CHAVES DA ECONOMIA DO SUDESTE PARAENSE PRODUZIDAS POR OPERAÇÕES DE COMPENSAÇÃO POR REDUÇÃO DE EMISSÃO DE CO2 Balanço de CO2 (106) Variáveis da Economia (em R$ milhões de 20005) Nível Valor Adicionado Salários Local Estadual Nacional -601,33 -0,5 18,22 -126,54 -0,62 2,91 Local Estadual Nacional 389,29 89,72 336,15 108,65 15,47 52,29 Local Estadual Nacional 419,25 83,85 312,06 30,62 14,5 48,53 Local Estadual Nacional 7.792,24 725,98 2.978,13 1.076,23 131,71 479,8 Local Estadual Nacional 6.829,83 866,47 3.497,40 1.093,46 168,32 573,42 Lucros Emprego Impostos Exercício1(Variação Relativa) -469,53 -102,96 -5,26 0,43 -0,05 -0,31 13,62 0,31 1,69 Exercício 2 (Variação Relativa) 246,27 28,83 34,38 64,48 2,32 9,77 253,27 5,52 30,59 Exercício 3 (Variação Relativa) 368,44 167,65 20,2 60,19 2,17 9,16 235,13 5,13 28,4 Exercício 4 (Variação Relativa) 5.598,43 186,26 1.117,58 513,17 19,11 81,11 2.221,38 51,22 276,95 Valores em 2004 4.885,26 288,96 851,12 595,16 23,69 102,99 2.580,40 59,60 343,57 Emissão -213,22 0 0 Balanço Líquido Seqüestro -55,37 0 0 32,84 0 0 8,54 0 0 -116,15 0 0 -25,41 162,57 -90,74 0 0 42,27 0 0 395,99 - 24,31 0 0 0 0 0 0 -157,84 0 0 120,3 0 0 102,78 - 293,21 - Fonte: Elaboração do autor. Tal mercado se configura em institucionalidade própria (Polanyi, 1992), se expressando concretamente nos preços e na “natureza” do que movimenta. Pesquisa anual do Instituto iFNP, que abrange o período 2001 a 2007 em 241 municípios da Amazônia (nos estados do Acre, Amapá, 32 Amazonas e Pará), expõe, após algum processamento, as três grandes categorias empíricas da mercadoria terra: “terras com mata”, “terras para pasto” e “terras para lavoura”. O Gráfico 3 apresenta, na parte (A), as respectivas evoluções dos preços no período em valores corrigidos para R$ de 2007, na parte (B), as relações entre eles. Os seguintes pontos se destacam: GRÁFICO 2 – QUATRO EXERCÍCIOS DE IMPACTO DE ESQUEMAS DE COMPENSAÇÃO PARA REDUÇÃO DA EMISSÃO LÍQUIDA DE CO2 NA ECONOMIA DO SUDESTE PARAENSE (A) (B) % em relação a 2004 % em relação a 2004 10% 0% -10% -20% -30% -40% Nacional Estadual Local -50% 10% 8% 1 6% 4% N acional Estadual Local 2% 0% CO2 Balanço Líquido (D ) Nacional Estadual Local % em relação a 2004 % em relação a 2004 50% 30% 10% -10% -30% Nacional Estadual Local Balanço Líquido CO2 Impostos Emprego Lucros Valor Salários -50% Adicionado Balanço Líquido CO2 Impostos Emprego Lucros Salários Valor Adicionado 1 40% 1 20% 1 00% 80% 60% 40% 20% 0% Impostos (C) Emprego Lucros Salários Valor Adicionado Balanço Líquido CO2 Impostos Emprego Lucros Salários Valor Adicionado -60% 12% Fonte: Tabela 7. Os preços de “terras com mata” são parcelas dos demais, em média 43% dos das “terras para pasto” e 23% dos das “terras de lavouras”. O mercado de terras informa, assim, só reconhecer os preços das “terras com mata” como parcelas na formação dos preços das pastagens e terras agrícolas. Isso pressupõe uma regulação que, em última instância, transforma “florestas originárias” (não mercadoria) em “terras com mata” (mercadoria) a preço sistemicamente controlado de modo a não comprometer, no passo seguinte, a viabilidade da transformação dessas em “terras de pastagem” ou “terras para lavoura”. De outra perspectiva, o mercado de terras pressupõe um processo de produção de “terras com mata”, a partir de “matas originárias” (estas as matérias primas daquelas), que estabelece um “preço de 33 produção” das primeiras compatível com a rentabilidade das estruturas produtivas que têm como insumos “terras de pastagem” ou “terras para lavoura”. O poder de compra desses demandantes garante e define toda a cadeia. Os dados do último Censo Agropecuário permitem averiguar os elementos substantivos desse mercado: seus fluxos reais expressos nas quantidades em jogo. Tomando os estoques totais de terras nos estabelecimentos da Região Norte, entre os censos de 1995 e 2006 ocorreu uma variação de 14,2 milhões de hectares (Tabela 8). Observando a distribuição dessa diferença pelos diferentes tipos de aplicação, é possível estabelecer que nos 11 anos em questão, os operadores dos estabelecimentos adquiriram 5,4 milhões de hectares de “terras para lavoura”, 8,2 milhões de “terras de pastagem” e, ademais, adicionaram 0,5 milhões de hectares às reservas de “terras com mata”. Esses “produtos” (os dois primeiros itens constituindo parcelas da formação bruta de capital fixo do setor, com tempo de depreciação variável; o último, uma reserva de contingência) não existiam, na Região, em 1995, tendo sido, portanto, produzidos ao longo do período em tela, por mecanismos de transformação da matéria prima “floresta originária”. Abstraindo as formas de produção, e os custos correspondentes de transformação da “floresta originária” em “terras com mata”, de difícil aferição, a avaliação monetária desse mercado exige a quantificação de um movimento “primário” de vendas das “terras com mata” e de um movimento “derivado” de venda de “terras para pastagem” e “terras para lavoura”. Considerando as médias dos preços (corrigidos para 2007) por tipo de “terra” como válidas para todo o período, no primeiro movimento foram despendidos R$ 3,4 bilhões e, no segundo, R$ 11,6 bilhões, perfazendo, o total de vendas diretas algo em torno de R$ 15 bilhões de reais em 11 anos – aproximadamente um VBP de R$ 1,4 bilhão, possibilitando Valor Adicionado de R$ 1,0 bilhão por ano. Suponhamos que em 1995 tivesse existido uma política para toda a Região Norte de contenção do desmatamento à base de remuneração dos proprietários de com “reservas de mata” a um justo preço – ao custo de oportunidade -, tal como propusemos na sessão anterior. Na verdade, esses proprietários seriam os únicos atores presentes, detentores do único objeto de contração que essa perspectiva de política pode considerar. Consideremos que em esforço máximo da sociedade tivessem se feito contratos cobrindo todos os 25,7 milhões de hectares (pois o propósito teria sido, digamos, o de “desmatamento zero”), a um preço determinado pela atividade de menor rendimento, a pecuária extensiva – digamos, a R$ 40,00 p/ha. A política custaria em torno de R$ 1,0 bilhão de reais a cada ano (aproximadamente a disponibilidade média real do FNO, nesse período). Em 2006 teríamos nada muito diferentes do balanço real apresentado na Tabela 8. A política teria sido eficiente, posto que as reservas contratadas estariam intactas, até acrescidas, para regozijo dos policy makers, que provavelmente 34 também estariam felizes porque os “bons empresários” teriam cumprido seus contratos. Mas, ao lado disso, teríamos os mesmo 11,6 milhões de hectares adicionalmente transformados que nos apresenta a realidade do Censo. Com uma diferença, entretanto: a sociedade teria despendido R$ 11,0 bilhões de reais literalmente para nada – ou melhor, para acréscimo do patrimônio dos proprietários com reserva de “terras com mata”, tanto mais, quanto mais as possuíssem. GRÁFICO 3 – MERCADO DE TERRAS NA REGIÃO NORTE: EVOLUÇÃO(A) E RELAÇÃO DOS PREÇOS (B) DE “TERRA COM MATA”, “TERRA PARA PASTO” E “TERRA PARA LAVOURA”, 2001 A 2007 (PREÇOS EM R$ CORRIGIDOS PARA 2007) (B) (A) 1.400,00 50% 45% 1.200,00 40% R$/Ha 1.000,00 35% 30% 800,00 25% 600,00 20% 15% 400,00 10% 200,00 5% 0% 0,00 2001 2002 2003 Mata: 2,1% a.a. T erra Agrícola: 1,5% a.a. 2004 2005 2006 2007 Pastagem: 6% a.a. 2001 a 2007 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2001a 2007 Preço da Mata/Preço de Pasto Preço da Mata/Preço de T erra Agrícola FFonte: iFNP, Anualpec 2003, 2004, 2005, 2006, 2007 e 2008. Processamento do autor. Notas Metodológicas: 1 – O Instituto iFNP publica desde 2003 preços de terras do tipificando-as “com mata”, “pastagens” e “terras agrícolas” a partir de pesquisa de campo que cobrem 22 municípios do Acre, 16 municípios do Amapá, 64 do Amazonas e 139 do Pará. 2 – Médias aritméticas simples dos preços corrigidos pelo IGP-DI para 2007 de acordo com tipo de terras. 3 – Taxas calculadas por regressão das transformações logarítmicas em relação ao tempo. Para a economia do Sudeste Paraense o mercado de terras foi modelado pelas CSα considerando os preços dos três tipos de terras vigentes em 2004 nos municípios da mesorregião incluídos na pesquisa da FNPi, e pressupondo que as necessidades de terras para explicar a expansão das atividades foram determinadas pelos parâmetros tecnológicos vigentes em 1995 e atendidas necessariamente através do mercado – o que garantiu a preservação das reservas de “terras com mata” dos estabelecimentos em 1995. Os resultados foram internalizados na economia do Sudeste Paraense apresentada na Tabela 4, já comentados, e permitiram, ademais, estruturar agregados para a mesorregião num balanço semelhante ao da Tabela 8, só que cobrindo o período de 1995 a 2004 (ver Tabela 9). 35 TABELA 8 – MERCADO DE TERRAS NA REGIÃO NORTE ENTRE OS 1995 E EM 2006 Estoque de terras nos estabelecimentos: Terras para Lavoura Terras de Pastagens Reserva de Terras com Matas Total de Terras Apropriadas Transformação Fluxo Real (Ha) necessária de “floresta originária” em Fluxo Monetário “Terra com Mata” (R$) Valor total movimentado no mercado de terras (R$) Passagem das “terras com Mata” para a condição de capital físico: ”terra de pastagem”, ”terras para lavoura” e “reserva de mata” Fluxo Real (Há) Fluxo Monetário (R$) (B)-(A)=(C) (C)*Preço Médio 5.434.730 3.020.839.633 1995 (A) 1.972.056 2006 (B) 7.406.786 24.386.621 32.630.532 8.243.911 25.756.634 26.283.121 526.487 52.115.311 66 320 439 14.205.128 14.205.128 (1.291.375/ano) 8.546.530.707 11.567.370.340 3.384.818.012 (307.710.728/Ano) 14.952.188.352 (1.359.289.850/Ano) Fonte: IBGE, Censo de 1995 e Censo de 2006. TABELA 9 – ESTIMATIVA DO MERCADO DE TERRAS NO SUDESTE PARAENSE ENTRE OS 1995 E EM 2004 Passagem das “terras com Mata” para a condição de capital físico: ”terra de pastagem”, ”terras para lavoura” e “reserva de mata” Fluxo Real (Há) Fluxo Monetário (R$) (B)-(A)=(C) (C)*Preço Médio Estoque de terras nos estabelecimentos: 1995 (A) Terras para Lavoura Terras de Pastagens Reserva de Terras com Matas Total de Terras Apropriadas Transformação Fluxo Real necessária de (Ha) “floresta originária” Fluxo em Monetário “Terra com Mata” (R$) 2004 (B) 347.082 446.260 99.178 151.206.899,7 4.829.473 6.490.670 1.661.198 1.522.398.472,2 4.992.744 4.992.744 0 10.169.298 11.929.674 1.760.376 (195.597,30 /ano) 1.760.376 1.673.605.372,0 638.133.132,0 (70.903.681,3 /Ano) 3.384.818.012,0 (307.710.728/Ano) 2.311.738.504,0 Valor total movimentado no mercado de terras (R$) (256.859.833,8 /Ano) Fonte: IBGE, Censo de 1995 e 2004 Estimativas das CSα. Ao lado da manutenção dos 5 milhões de hectares das reservas de “terras com matas”, o mercado de terras na mesorregião teria produzido, entre 1995 e 2004, 1,7 milhões de novas “terras para pastagem” (o Censo informa 1,6 milhões até 2006) e 99,2 mil hectares de novas “terras para lavoura” a partir da conversão de um total de 1,8 milhões de hectares de “floresta originária” em “terras com mata”. O fluxo primário médio de R$ 256,9 milhões por ano expressou-se, no ano de 2004, em R$ 465,4 milhões de VBP e R$ 185,3 milhões de VA, já acima comentados. Esta é a história. Conhecendo-a, parece prudente prospectar o futuro considerando uma situação na qual o programa de compensação por redução de emissão sob escrutínio lograsse reduzir 50% da produção que fundamentava o balanço de carbono verificado em 2004, compensando produtores estabelecidos no nível verificado de seus ganhos, mas, ao mesmo tempo, novos produtores venham a se estabelecer, mediados pelo mercado de terras, para o qual carrearam poder de compra exógeno, 36 repondo a produção dos setores alfa rurais no nível de 2004. Concretamente, o esquema de compensação remuneraria os agentes gestores da produção rural em 50% dos lucros anuais, o que implicaria uma entrada de R$ 442,88 milhões por ano na economia local por compras de bens e serviços e não há redução na produção. O resultado dessa situação encontra-se na segunda parte da Tabela 7 e no seção (B) do Gráfico 2: as variáveis da economia local cresceriam todas, o valor adicionado expandiria, em termos absolutos, R$ 419,2 milhões (5,7%) em relação a 2004; os salários e o emprego cresceriam, respectivamente, 9,9% e 10,0%, os lucros 5% e os impostos 4%, gerando como conseqüência uma expansão das emissões líquidas de carbono de 8,3%. A economia estadual expandiria o valor adicionado em R$ 89,72 milhões (10,4% em relação a 2004) e a nacional em R$ 341,56 milhões (9,6%). O fracasso da política de contenção corresponderia, nesse caso, a um notável sucesso econômico. O mercado local de produtos e os mecanismos endógenos de pressão Como já demonstrado, o Sudeste Paraense constitui economia complexa, com setores não rurais de grande capacidade expansiva. Importa indagar, pois, o que ocorreria com a economia e com o balanço de CO2 se um programa de compensação por redução de emissão lograsse reduzir em 5 anos 50% da produção que fundamentava o balanço de carbono verificado em 2004 por justa compensação aos proprietários dos estabelecimentos rurais no nível verificado de seus ganhos. Nesse caso, porém, a produção primária não agrícola se expande fortemente. Isto significa que um esquema de compensação, exatamente como na primeira situação, remunera os agentes gestores da produção rural em 50% dos lucros anuais. Na hipótese de que esses agentes continuarão no mesmo lugar, haveria uma entrada de R$ 442,88 milhões por ano na economia local por compras de bens e serviços, em troca da redução em 50% das respectivas produções – expressas na redução da demanda efetiva dos valores de R$ 434,59 e R$ 325,36 milhões dos setores alfa camponês e patronal, respectivamente. Porém, como é o caso da economia estudada, a mineração mais que dobra sua produção anual, acrescendo aproximadamente R$ 6,6 bilhões, como vem sendo nos planos e na realidade da Companhia Vale do Rio Doce nos próximos anos (conf. Costa, 2008c). O resultado dessa operação seria uma explosão nas variáveis econômicas nos montantes absolutos observados na última seção da Tabela 7 e relativos na parte (C) do Gráfico 2. Todas as variáveis da economia local cresceriam, o valor adicionado e a massa de lucros na liderança, cabendo obviamente a maior parte ao setor mineral. Não obstante, o emprego cresce 64,5% e a massa de salários 98,4%, produzindo um impulso independente nos setores rurais e urbanos da economia local que faz as emissões líquidas de carbono crescer em 41% em relação a 2004, apesar da redução obtida. 37 Expansão importante se verificaria, também, na economia estadual e nacional. A dinâmica da economia local autônoma tornou a política de contenção, nesse caso, inócua. Mudanças tecnológicas e capacidade institucional – outras possibilidades de política Um exercício adicional deve ser ponderado, por fim, considerando a seguinte questão. O que ocorre com a economia e com o balanço de CO2 se um programa de redução de emissão lograr induzir a conversão da base produtiva, dos sistemas que emitem mais, para os sistemas que emitem menos. De modo que em 5 anos toda produção seria feita com base nos sistemas que em 2004 mostraram-se menos emissores. Recursos de R$ 442,88 milhões por ano fluirão na economia, em parte aplicados em conhecimentos (C&T), bonus e subsídio de crédito como forma de remuneração de serviços ambientais produzidos pelos sistemas produtivos em operação, inclusive e principalmente os baseados no “bioma”. Em parte, esses recursos fluirão também como resultados de ações do estado para coibir a transformação das “florestas originárias”, que só existem na condição de ativo público, em “terras com mata”, atacando o principal mecanismo do mercado de terras – a “grilagem” (Benatti, 2008; Costa, 2008). Os resultados dessa operação podem ser avaliados na quarta parte da Tabela 7 e na parte (D) do Gráfico 2: Todas as variáveis da economia local cresceriam, o valor adicionado 6,1% e a massa de salários 2,8%, a massa de lucros 7,5%. Isso ao lado da redução da emissão líquida de CO2 em 31%. Neste caso se teria uma situação win-win: uma política de conversão tecnológica logra reduzir as emissões, ao mesmo tempo que produz dinâmica. Conclusões Tratando uma economia local real, as características das trajetórias tecnológicas que fundamentam o seus setor rural, sua configuração macro e suas relações com os sistemas envolventes da economia estadual e nacional, algumas questões sobre a aplicação futura de esquema de compensação podem ser discutidas mais acuradamente. Os exercícios efetuados permitem indicar o seguinte: 1. Há diferenças importantes entre os custos de oportunidade social (refere-se, na matriz CSα da Tabela 4, ao total do Valor Adicionado dividido pelo Balanço Líquido de CO2) das emissões líquidas dos estabelecimentos patronais e dos camponeses. Nos primeiros a presença dominante da Trajetória-Patronal.T4 confere grande contribuição às emissões líquidas, limitando o valor a R$ 2,95 por tonelada de CO2 equivalente; nos segundos, os pesos da Trajetória-Campnesa.T1 e 38 da Trajetória-Campnesa.T2, com suas baixas contribuições ao balanço de CO2 elevam o valor para R$ 6,69/t CO2 equivalente. 2. Há diferenças importantes, igualmente como resultado dos pesos e atributos das trajetórias, entre os custos de oportunidade privados (Lucros divididos por Balanço Líquido de CO2) dos estabelecimentos patronais, de R$ 2,09/t CO2 equivalente, e dos camponeses, de R$ 5,69/t CO2 equivalente. 3. Os impactos e efeitos derivados de ações exógenas, como os associados a um esquema de evitação de desmatamento e redução de emissão de carbono, têm medidas precisas e não são triviais: o multiplicador agregado de renda da economia do Sudeste Paraense é 1,84; o multiplicador setorial de produto da produção rural camponesa, 4,26; da produção patronal, 4,1. 4. Por conta das mediações sistêmicas que se expressam nesses parâmetros, esquemas de compensação centrados exclusivamente nos agentes e focados em redução da produção produzirão perdas sistemáticas para economia local: a. Porque se compensa, mesmo quando num acordo justo e de valores equivalentes, apenas parte do valor adicionado perdido pela renúncia à produção; b. Porque maior número de concatenações é ativado em torno da produção primária que deixa de existir (indústria de beneficiamento, indústria de transformação, comércio) do que em torno das mercadorias que entram acabadas (comércio), levando a um diferencial sistemicamente perdido. Em tal contexto, formam-se tensões proporcionais às perdas. Desemprego, redução da taxa de lucro, redução da massa de impostos se fazem sentir e solapam adesões. 5. Esquemas de compensação para evitar a expansão da produção formam tensões endógenas para que se amplie a produção. Aqui, também, por duas razões: a. Porque se forma renda sem produção e b. Porque, mediada pelos multiplicadores, essa renda se amplia criando demanda adicional. A resolução dessas tensões, cuja força resultante variará com a complexidade da economia, pode resultar em efetiva expansão da produção, sem a quebra dos contratos estabelecidos com os agentes com vistas à contenção do desmatamento. Isso porque, outros agentes podem se apresentar para resolver os desequilíbrios elevando a oferta de bens pelos mesmos métodos da produção anterior, sem que possam ser interpelados pelos mecanismos de enforcement do esquema de compensação. Isso poderia criar, nas economias locais, dois tipos de agentes derivados dos esquemas de compensação: um, rentista, que não desmata em sua propriedade, e 39 um, produtivo, que desmata para fornecer o que o rentista precisa e não mais produz. O objetivo almejado, nesse contexto, pode ser totalmente frustrado. 6. Em casos como o do Sudeste Paraense, em que a economia tem outras bases cuja dinâmica amplia a massa de salário e cria concatenações internas por expansão da demanda intermediária, as tensões discutidas no item anterior se ampliam na razão do dinamismo – é dizer, diretamente proporcional à sua força de polarização. Nesses casos, é difícil supor sucesso em uma política centrada em agentes e visando unicamente a contenção pela não produção. Um amplo programa centrado na elevação da capacidade produtiva em bases tecnológicas de baixo balanço líquido de emissão de carbono se torna absolutamente necessário – a chave de novas possibilidades. 7. Esquemas de redução de emissão por alteração na forma de produzir – que favoreçam os sistemas já existentes com balanços de carbono defensáveis, em detrimento dos que apresentam maior emissão líquida – parecem constituir base para estratégias win-win: mediante as quais se reduzirá emissão líquida ao lado de expansão da economia. 8. Por outro lado, tensões exógenas – como preços tendencialmente crescentes de carne e grãos no mercado externo e brasileiro, não obstante a presente crise - se materializam na forma de poder de compra demandando “terras” que só existem como suporte de “florestas originária”. A produção de terras que a partir daí tem lugar, o principal processo por trás dos desmatamentos, é autônoma, e por se basear em métodos que se situam à margem da institucionalidade formal, está fora do alcance de qualquer esquema de “evitação” orientada à compensação, pelo Estado, de agentes privados, tornando-se no mecanismo principal de leaking do conjunto de atividades que se pretende evitar. É imprescindível, assim, o esforço de contenção do mercado de terras em dois momentos: quando da transformação do ativo específico “floresta primária” em “terras com mata” e no momento da legitimação do produto final – “terras para pasto” e “Terras para Lavoura” (Costa, 2009c). a. No primeiro momento, são exigidas as capacidades formal e técnica do Estado para proteger os ativos públicos, em particular o bioma, ativo específico e distintivo da região e do País. b. No segundo, as formas de titularidade deverão distinguir entre direito fundiário, relativo estritamente ao ativo “terra”, e o direito aos “ativos ambientais originários”. Ao não se reduzir o último ao primeiro, ao ente público se reservará, sempre, o poder de questionar o agente privado quanto ao seu uso e alienação. 40 No conjunto, esses resultados nos indicam as dificuldades de uma política de contenção das emissões tratando a) apenas um lado da dialética produção agrícola x manutenção da floresta e b) apenas uma dimensão do sistema econômico. Pagar aos agentes que controlam floresta para que renunciem a produzir não elimina as necessidades que forçam a existência dessa produção. Estabelecidas, tais necessidades criam os agentes que as correspondem. Isso nos coloca a necessidade de pensar políticas de contenção de desmatamento ligadas indissociavelmente, por um lado, a novas institucionalidades que garantam a distinção de direito entre ativos específicos e públicos representados pelos biomas amazônicos e os ativos genéricos e privados garantidos pela propriedade da terra; por outro, a políticas de produção – a ser operadas por mecanismos que façam convergir as decisões dos agentes com perspectivas macro de desenvolvimento: local (espacialmente configurada), endógeno (culturalmente enraizado) e sustentável (amparado em conhecimento que permita usar a base natural da Região sem depredá-la). Afortunadamente, as mais recentes proposições de políticas condensadas nos chamados REDD+ e REDD++ incorporam notavelmente essa percepção (Conf. ANGELSON, BROWN, LPISEL, PESKETT, STRECK, ZARIN, 2009) Bibliografia ANGELSON, B., BROWN, S., LPISEL, C., PESKETT, L. STRECK, C., ZARIN, D. (2009). 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