Gab. Senador Eduardo Suplicy REQUERIMENTO nº , de 2011 Requeiro, nos termos dos artigos 218, inciso VII e 221 do Regimento Interno do Senado Federal, a inserção em ata de voto de pesar pelo falecimento do jornalista ELPÍDIO REALI JÚNIOR, aos 71 anos, no último dia 09 de abril, em São Paulo, bem como a apresentação de condolências à esposa, Amélia, e às quatro filhas, Luciana, Adriana, Cristiana, Mariana e aos cinco netos. JUSTIFICAÇÃO Reali Júnior, como era conhecido, nasceu em Bauru, onde passou a infância. Depois de fazer o primeiro ano do curso primário em Santos, onde seu pai, Elpídio Reali - delegado de polícia e mais tarde secretário estadual de Segurança - trabalhou, mudou-se para São Paulo. Conforme tão bem relata o seu colega José Maria Mayrink, no Estado de S. Paulo do dia 09 de abril, Reali foi procurar trabalho com 16 anos, pois queria se casar. Sem antecedentes na família ou padrinhos, mas com vocação precoce para o jornalismo, pediu ajuda a um amigo chamado Bauru que trabalhava na Rádio Panamericana, hoje Jovem Pan. Fez o teste, passou. Assim, aos 16 anos de idade, começou a trabalhar como repórter da Rádio Jovem Pan. O adolescente que entrava no gramado para entrevistar os jogadores de futebol com um enorme gravador nas mãos ganhou o apelido de Repórter Canarinho que logo lhe deu projeção Brasil afora. Reali era repórter de rádio, mas trabalhou também em jornais e participou de programas de televisão. Seu primeiro jornal foi o carioca Correio da Manhã, sucursal de São Paulo. Depois foi para a sucursal de O Globo e escreveu para os Diários Associados, sem nunca abandonar a Jovem Pan. Na madrugada de 1.º de abril de 1964, no golpe militar, estava 1 Gab. Senador Eduardo Suplicy ao lado do governador Ademar de Barros no Palácio dos Campos Elíseos um dos poucos repórteres que conseguiram entrar. Nos anos seguintes, acompanhou todos os principais fatos políticos do País, ao mesmo tempo que cobria outros assuntos. Suspeito de ser comunista, o que sempre negou, ficou na mira da repressão e por isso achou melhor ir para o exterior. Foi para Paris, em setembro de 1972, trabalhar como correspondente da Jovem Pan. No ano seguinte, foi contratado pelo Estado de S. Paulo, por indicação de Ludembergue Góes e Raul Bastos, editores do jornal de passagem pela França, pouco depois da queda de um Boeing da Varig nas imediações do aeroporto de Orly. Reali deu à cobertura do acidente, no qual morreram o senador Filinto Müller e o cantor Agostinho dos Santos, um enfoque bem brasileiro. Atribuiu a um cigarro aceso jogado no vaso sanitário do avião a fumaça que asfixiou os passageiros, descartando assim a versão do diário Clarín, de Buenos Aires, que apostou na hipótese de atentado terrorista. A versão de Reali estava correta. Descrever e analisar os acontecimentos da França e de outros países por onde andou com os olhos de um repórter brasileiro sempre foi uma preocupação de Reali. “Sempre escrevi sobre qualquer assunto, minha formação de jornalista autodidata, construída pedrinha sobre pedrinha, me dá essa possibilidade”, dizia. Numa época de telecomunicações ainda precárias, transmitia o material por cabines públicas de telefone e brigava com os colegas por um terminal de telex. Não havia internet, as ligações telefônicas com o Brasil dependiam de tempo e sorte. Como também não existiam cartões de crédito, o repórter era obrigado a carregar dólares no bolso. Na cobertura da guerra Irã-Iraque (1980-1990), o dinheiro acabou quando ele se encontrava em Amã, na Jordânia, depois de ter sido expulso 2 Gab. Senador Eduardo Suplicy de Bagdá. Sem condições de receber uma remessa de São Paulo, Amélia, sua mulher, teve de pegar um avião para Atenas, onde se encontrou com o marido para levar-lhe dinheiro. Outras coberturas marcantes foram a da Revolução dos Cravos em 1974, em Portugal; a queda do franquismo na Espanha em 1975; a ascensão de Lech Walesa, na Polônia, em 1980; e a morte da Lady Diana, entre outras. Às vésperas da revolução iraniana, fez uma entrevista exclusiva com o aiatolá Khomeini, exilado em Paris. Mesmo escrevendo do outro lado do Atlântico, Reali foi vítima da censura que o Estado sofreu a partir da edição do Ato Institucional n.º 5 (AI5), em dezembro de 1968. Foram censuradas as reportagens que fez sobre a meningite, em 1974, quando revelou que a produção de vacinas não conseguia atender a demanda brasileira. O governo do general Ernesto Geisel escondia a dimensão da doença e Reali mostrou que se tratava de uma epidemia nacional. Enviado para a participar da cobertura da Rio 92, Reali teve um enfarte e foi parar no hospital no Rio de Janeiro, de onde viajou em seguida para São Paulo e recebeu três pontes de safena. Reali sempre mereceu o respeito da direção do jornal O Estado de S. Paulo e da Rádio Jovem Pan. 'Conheci os 'meninos' nos tempos de futebol em que eu era repórter de campo no Pacaembu, e também quase um menino', disse o jornalista no livro Às Margens do Sena, referindo-se à geração dos Mesquita seus contemporâneos. Citou nominalmente Ruyzito, Rodrigo e Fernão (filhos de Ruy Mesquita), Marina (filha de Julio Neto) e Patrícia (filha de Luiz Carlos Mesquita). Na rádio, foi muito amigo dos Fernando Vieira de Melo, o pai e o filho. Quando soube que estava com câncer no fígado, Reali retornou a São Paulo. Durante o tratamento, chegou a se submeter recentemente a um 3 Gab. Senador Eduardo Suplicy transplante de fígado, mas no tratamento os resultados não foram os esperados. Reali passou dois anos entre seu apartamento e o Hospital Oswaldo Cruz. Mesmo quando de cama, continuava atento às notícias e pensando em arrumar as malas para reassumir seu posto em Paris. Um dos jornalistas mais importantes do Brasil, deixou consternada toda a categoria de profissionais da imprensa em todo o país e no exterior, já que ele possuía grande prestígio internacional. Em nota, a presidenta Dilma Rousseff lamentou a morte do jornalista: "A imprensa brasileira perdeu um de seus nomes mais emblemáticos com a morte de Elpído Reali Jr.. Seus anos como correspondente de veículos de comunicação brasileiros em Paris foram marcados por grandes reportagens. Mais do que um repórter talentoso, o país perde um ilustre brasileiro. A seus parentes, amigos e admiradores envio meu sentimento de pesar e meu abraço fraternal", diz a Presidenta, em nota. O corpo do jornalista Reali Júnior foi cremado, domingo, no cemitério da Vila Alpina, em São Paulo, ao som de uma antiga transmissão sua, diretamente das margens do Sena, na Maison de La Radio. Sala das Sessões, Senador Eduardo Matarazzo Suplicy 4