Educação para o mundo do trabalho:
A Revolução Industrial na cabeça dos brasileiros
Claudio de Moura Castro
A notícia ruim é que a qualidade da nossa educação é deplorável. A notícia
boa é que há hoje uma minoria esclarecida, articulada e em posições
estratégicas, tentando mudar essa situação. Ainda assim, estão faltando
propostas mais específicas.
A CNI aponta caminhos, para fazer andar a educação nas direções
trilhadas pelos países que criaram parques industriais modernos e
competitivos. Mas antes de chegar às resposta, precisamos identificar
claramente as mazelas existentes.
Como transformar a nossa educação livresca e rarefeita em uma educação
que, agilmente, salta da teoria para a aplicação, da cabeça para as mãos?
Como criar uma educação em que as mãos estejam a serviço de um
intelecto mais arguto e criativo? Como valorizar as atividades manuais
complexas, sem as quais, nossa indústria está condenada a uma produção
tosca? Como fazer a sociedade brasileira compartilhar os valores, crenças e
atitudes que favoreçam os misteres da indústria?
Gostaríamos de ouvir a opinião das lideranças nacionais. Para abrir a
discussão, preparamos um conjunto de sugestões.
Falamos primeiro dos princípios da boa educação. Em seguida, sugerimos a
proximidade entre a cabeça e as mãos, entre a educação para
desenvolver o bem pensar e a educação para fazer.
Educação não é decorar, mas aprender a pensar
Sob o risco de discorrer sobre o óbvio, apresentamos abaixo os princípios de
uma boa educação. Na verdade, se fossem tão óbvios assim, não seria
necessário insistir.
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O Google corrói a necessidade de guardar fatos na memória
Ninguém se educa sem usar a memória. Afinal, começamos por decorar as
letras e a ortografia das palavras. E, pela vida afora, temos que nos valer da
retenção do conhecimento.
Não obstante, isso é apenas o andar de baixo da educação, necessário
para sustentar os outros, mas que não se constitui na sua parte mais nobre. A
boa educação ultrapassa sempre esse nível. E mais do que antes, hoje a
informação é abundante, não há porque pedir ao nosso cérebro que faça o
papel do Google. De resto, esse papel ele faz mal, enquanto há outros em
que se revela insuperável.
Educar é ensinar a resolver problemas
A boa educação prepara para aplicar o conhecimento, para analisar,
sintetizar, avaliar, e criar. Estas são suas funções de ordem superior e as mais
nobres.
A educação deve expandir a nossa capacidade de lidar com os problemas
do cotidiano, sejam esses tecnológicos ou dilemas morais. Portanto, educar
é ensinar a resolver problemas – de todos os tipos.
Educar é instilar valores atitudes corretas
A boa educação vai mais além de adestrar o cérebro. De fato, requer
desenvolver também as capacidades morais, as atitudes e os valores de
uma vida honrosa, produtiva e em harmonia com o bem comum. Portanto,
o momento de aprender a pensar é também a ocasião para desenvolver
valores e sensibilidades para os aspectos éticos do cotidiano.
A mágica das mãos
É papel da CNI e do Sistema S aproximar a sociedade brasileira do mundo
do trabalho. Nos seus cursos profissionalizantes, deve formar a mão de obra
na justa medida das necessidades das empresas. Mas há também uma
dimensão mais ampla, abrangendo as escolas acadêmicas, que é promover
a aproximação do mundo da caneta ao mundo da mão. Isso significa
também promover os valores do homo faber industrial.
Em grande medida, nossa cultura reflete o fato histórico de havermos sido
colonizados por um país sem forte tradição fabril. Portanto, em que pesem os
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inegáveis méritos da colonização portuguesa, não herdamos aqueles
valores e atitudes que são compartilhados pelos países industrializados,
aqueles mesmos onde os padrões de vida são muito mais elevados. E na
nascente sociedade brasileira, o trabalho escravo apartava ainda mais as
mãos da cabeça.
Mas isso não é uma enfermidade sem cura. Afinal de contas, nossa
industrialização rápida mostra que alguma coisa aconteceu na cabeça de
alguns dos nossos patrícios, pois tivemos bastante êxito. Porém, a cada
momento, afloram as deficiências, muitas delas causadas pela ausência de
uma real cultura industrial – que ficou restrita a enclaves muito limitados.
A cultura de Trás os Montes precisa aproximar-se da cultura do Vale do Ruhr
e do Vale do Silício. Temos o desafio de obter um sincretismo cultural,
mesclando nossas tradições ibéricas com a visão de mundo gerada na
sequência de revoluções industriais, começando no ferro e terminando no
silício.
Trabalhar com as mãos requer inteligência
É equivocada a ideia de que algumas profissões usam apenas as mãos e
outras apenas a cabeça. Na verdade, muitas profissões manuais são
particularmente desafiadoras, do ponto de vista de resolver problemas e
não apenas da destreza manual para executar certas tarefas – que também
é requerida. Lesamos nossos planos de desenvolvimento ao desdenhar o
mundo intelectual das atividades manuais. É isso mesmo, há desafios
cognitivos nas profissões que usam as mãos.
Isso é fácil entender, se pensamos no desafio de encontrar um defeito em
um aparelho, seja um computador ou uma máquina de lavar roupas. Mal
comparando, não é muito diferente do que fazia Sherlock Holmes. São
aplicações clássicas do raciocínio dedutivo.
Atividades manuais qualificadas não são mais fáceis ou menos desafiantes
do que um trabalho puramente de escritório. De fato, por ser despida de
atividades físicas não significa que uma tarefa contenha mais desafios
intelectuais. O escritório pode ser tão monótono e repetitivo quanto o mais
humilde trabalho braçal.
Não obstante, nossa sociedade decreta, equivocadamente, que as
atividades em que não participam as mãos são mais nobres do que aquelas
cuja execução exige manipular materiais, máquinas e ferramentas.
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Para o educador J. Gardner, “um excelente bombeiro é infinitamente mais
admirável que um filósofo incompetente. Uma sociedade que despreza
excelência nos bombeiros, por ser uma ocupação humilde, e admite
mediocridade nos filósofos, por ser uma atividade glorificada, nem terá bons
bombeiros e nem boa filosofia. Nem os canos conterão a água e nem a
filosofia as críticas”
Esses preconceitos são nocivos para o avanço da sociedade. Se vemos com
descaso ou desprezo essas ocupações, como recrutar futuros operários de
boa cabeça?
Para que seja eficaz, a valorização dessas atividades deve vir de cima. As
lideranças da sociedade devem reconhecer e valorizar as virtudes e desafios
das ocupações qualificadas que requerem um uso intenso da cabeça.
O conhecimento mora na cabeça mas entra pelas mãos.
Para os Compagnons du Devoir, o conhecimento mora na cabeça, mas
entra pelas mãos. Para essa corporação de ofício de origem medieval e que
sobrevive até hoje, lógica se aprende resolvendo problemas de torneiras ou
encaixes, até mais do que deduzindo teoremas.
Ruminações de serralheiros e carapinas? Nem tanto, pois segundo o filósofo
grego Anaxágoras, “por ter mãos, o homem é o mais inteligente dos
animais”. Ou se queremos artilharia mais pesada, que tal Kant, para quem a
“mão é a janela da mente”? De fato, a ciência descobriu que a mão se
comunica com o cérebro por múltiplos circuitos neuronais, enleando-se
promiscuamente com os da inteligência. Ou seja, foi mapeado um acesso
privilegiado da mão ao pensamento. Aceitemos pois como científica a
teoria de que aprendemos com as mãos.
Uma escola mais prática aparece em Montessori e outros, ganhando vigor
na nas iniciativas de Rudolf Steiner. Para esses grandes educadores, é
preciso usar as mãos para aprender. Infelizmente, a escola de hoje foi
atropelada pelo peso do academicismo, operando em atmosfera rarefeita.
Por que desdenhar na escola esse caminho privilegiado ao cérebro, esse
grande livro-texto que são as mãos? Aprendemos ao segurar, medir, pesar e
desmontar. Aprendemos quando usamos ferramentas, quando resolvemos
os mil problemas de construir alguma coisa ou de consertar um aparelho.
Será que deslindar sujeitos e predicados no Lusíadas é mais educativo do
que deduzir logicamente por que o motor não funciona? Pesquisar um
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circuito elétrico, com diagramas e aparelhos de testes, é analiticamente tão
denso quanto muito do que se faz na escola. Além disso, obriga aos múltiplos
saltos entre a abstração do circuito no papel e os componentes do circuito
de verdade. É assim que se aprende teoria, pendulando entre ela e a
prática, em um vai vem permanente. Mas a escola convencional se recusa
teimosamente em reconhecer esse fato, insistindo na abstração a sangue
frio, sem o mundo real.
A abstração é a culminância do desenvolvimento intelectual do homem.
Mas a capacidade de operar na estratosfera das teorias não vem pronta de
fábrica. De fato, o aprendizado de teorias rarefeitas arrisca-se a virar puro
decoreba, se o aluno não começa vendo, pegando e medindo. Por que a
nossa escola insiste em refugiar-se nas brumas de um intelecto que ignora a
riqueza intelectual das mãos? Faz muito mais sentido desenvolver a
abstração progressivamente, começando com problemas concretos. Aos
poucos, começa-se a trilhar o caminho do abstrato.
É preciso entender que, ao usar as mãos, não estamos, necessariamente,
entrando na seara do aprendizado de um ofício. Estamos apenas
aumentando o alcance os recursos à disposição dos alunos, para
desenvolver seu intelecto.
Lançar hipóteses faz parte do ciclo da ciência. Mas seguindo a tradição,
inicialmente formulada por Bacon, a escola se esquece da segunda parte
que é ver se a realidade se comporta conforme afirmamos na nossa teoria.
Ou seja, buscar a prática. Essa é uma acepção legítima da palavra
“prática”. É diferente de pregar e lixar, também tipos de práticas. A
verificação empírica é parte do ciclo vital da ciência. É preciso verificar se
ela sobrevive. Muitas vezes, isso requer botar a mão na massa. Ou seja, há
um componente de manualidade em muito do que se faz em ciência.
Na escola acadêmica, o objetivo de pôr a mão na massa não deveria ser
para aprender a pregar, mas para ver se o mundo real confirma a teoria ou
para fazer as ideias da teoria calarem mais fundo. Se aprender ciência fosse
ler e captar o que dizem os livros – ou o professor - bastaria ouvir suas aulas.
De fato, é isso que se faz sempre nas escolas medíocres. Mas acontece que
estamos falando aqui das formas pelas quais a mente humana aprende – e
não da justeza lógica ou empírica da teoria. Para aprender uma teoria é
preciso entrar nela, viver a sua realidade (e explorar suas possibilidades). Não
é memorizando fórmulas e demonstrações que isso acontece, para a
maioria dos alunos.
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Hoje sabemos com segurança: aprendemos ciência quando agimos como
pesquisadores, decifrando as teorias e remexendo o mundo real, para ver se
realmente as coisas acontecem como previsto por elas. Repetindo, no ciclo
acadêmico, a prática que nos interessa é a contraparte da teoria. Isso
acontece quando o aluno age como o cientista, reproduzindo, em
situações simplificadas e esquemáticas, o mesmo ciclo percorrido pelo
cientista.
Como nos sugere Einstein, a teoria sem prática é vazia. E a prática
sem teoria é cega.
Ou ainda, citando o médico canadense, Sir William Osler, “Estudar uma
doença sem livros é navegar em um mar desconhecido, mas estudar nos
livros, sem um paciente, é como não sair do porto”
Em outras palavras, aprendemos ciência fazendo-a, repetindo o mesmo
roteiro dos cientistas. De fato, ou o aluno age como um cientista, ou não vai
aprender quase nada de ciência. Obviamente, há que trilhar caminhos
simplificados. Mas não há outros caminhos.
O trabalho com as mãos desenvolve o corpo e a mente
Nosso desenvolvimento intelectual não acontece em um vácuo emocional.
Adquirir confiança no que fazemos e na nossa própria pessoa é um
ingrediente essencial do nosso amadurecimento. E isso se faz com o
acúmulo de pequenos sucessos e com a experiência de começar e acabar
alguma tarefa. E que essa tarefa terminada seja causa de orgulho e
satisfação pessoal. Em idades mais tenras, ler livros é pouco, nessa dimensão
afetiva do nosso desenvolvimento.
Construir coisas físicas ou tangíveis pode ser um caminho privilegiado para
esse avanço da nossa autoconfiança. Assim se faz na escola fundada por R.
Steiner. A construção de um objeto, uma máquina, um brinquedo, uma
pesquisa no mundo físico pode ser uma forma eficaz de avançar nessa
direção.
Uma nota ótima em uma redação, com certeza, traz muita satisfação e
sentimento de realização para um aluno. Mas construir um objeto pode ser
uma experiência ainda mais poderosa. A pequena e, talvez, tosca estante
de livros é tangível, pode ser tocada e mostrada.
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Essas tarefas requerem cumprir um ciclo que começa na concepção, passa
pelo planejamento e pela execução. Esse é um ciclo que vai se repetir em
nossas vidas, em múltiplas ocasiões.
Na verdade, o trabalho manual leva a um encontro sistemático com o
mundo material e com a sua observação. Boa parte das ciências naturais
nasceram dessa observação. Ao tornar-se íntimo com os fenômenos da
natureza, muitos foram capazes de induzir hipóteses sobre o seu
comportamento. E o que é isso senão fazer ciência?
Esse estilo de realização pessoal pode ter um peso inestimável no
desenvolvimento pessoal de um aluno. É a ideia, o desafio, é quebrar a
cabeça na implementação e, finalmente, a vitória, bem tangível.
Na verdade, o grande potencial dessa linha de atividades se dá, sempre e
quando, a atividade manual (serrar, aparafusar, conectar etc.) é parte de
uma aventura intelectual maior. As atividades nas oficinas são o lado prático
da elaboração de projetos ou experimentos em que se fundem os
conhecimentos acadêmicos com o mundo da construção e da
manipulação física.
Nada disso é preparação para o trabalho, no sentido mais específico do
termo. Não é formação profissional, stricto sensu. Mas é difícil imaginar que
não seja um aspecto do desenvolvimento pessoal que pode ter enormes
consequências sobre o desenvolvimento profissional subsequente de uma
pessoa, qualquer que seja a sua carreira.
O preconceito contra atividades manuais
Benjamim Franklin, apesar de haver galgado posições superlativas no
governo americano, e de ser coautor de sua Constituição, ao longo de sua
vida, realizou muitos experimentos técnico-científicos. Seu ofício de tipógrafo
foi o ponto de partida para estudos de eletricidade e meteorologia. Foi
autor de muitos inventos, como o para-raios, o odômetro, os óculos bi-focais
e uma estufa para aquecer as casas, usada até hoje.
Infelizmente, somos herdeiros de tradições que nos atrapalham. Veja-se, o
baixo status das ocupações manuais em nossas terras.
Conta-se que D. Pedro II saiu com Louis Agassiz, o celebrado cientista suíçoamericano, em uma expedição geológica. Ao ver o velho professor golpear
uma rocha com seu martelinho, pressuroso, D. Pedro mandou em seu auxílio
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o escravo que os acompanhava. Mesmo o nosso monarca-intelectual não
estava livre do preconceito.
Consta também que o mesmo D. Pedro não gostou nada de haver sido
instado por Mauá a manejar um carrinho de mão, para carregar de carvão
a caldeira de uma locomotiva. Como, mais adiante, suas empresas
quebraram, paira a dúvida se as experiência do Imperador com uma pá
tenham tido um papel nesse desenlace infeliz.
Não precisamos ir a momentos tão remotos em nosso passado. Em tempos
recentes, senhores de ilibada reputação não carregavam embrulhos na rua.
A revolução que precisamos passa pelo orgulho profissional de usar as mãos.
Sendo a CNI a cabeça do sistema industrial, esse papel de trazer os valores
da manufatura para a sociedade brasileira parece óbvio e indelegável. É
preciso romper o hiato entre a cultura da caneta e a cultura da mão.
Mãos à obra: educação para o mundo do trabalho
O que está dito acima, ou desemboca em ações concretas ou são mais
palavras perdidas ao vento. Portanto, cumpre propor atividades concretas.
A CNI, através do seu Sistema S está decidida a fazer a sua parte. Mas a
tarefa é grande demais para o seu fôlego. É preciso recrutar mais atores
relevantes na sociedade brasileira para levar a cabo esse objetivo de
educar para o mundo do trabalho.
Como sugerido nas páginas anteriores, a educação profissional é apenas
uma parte da educação para o mundo do trabalho. Mobiliza uma fração
modesta daqueles que se envolverão com o mundo da indústria. Para a
maioria, cumpre mergulha-los nos valores do trabalho e no maravilhoso
mundo da ciência e da tecnologia. Há muito a se fazer nessa direção.
Aqui propomos algumas linhas de iniciativas possíveis, para mitigar as
deficiências da nossa educação. O público alvo são aqueles que
frequentam escolas públicas de pouca qualidade, bem como os que
mergulharam no mercado de trabalho havendo dominado de forma muito
deficiente as habilidades básicas cognitivas.
Ensino por projetos
Por muitos caminhos, é preciso tornar o ensino o ensino acadêmico regular
mais prático. Ou seja, com mais atividades em que o aluno é desafiado a
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lidar com o mundo real, a resolver problemas “de verdade”, a construir o
que quer que seja, a empreender projetos e muitas outras atividades que
aproximas os conteúdos curriculares das aplicações concretas e manuais.
A aplicação dessa ideia sugere a necessidade de encontrar exemplos,
projetos, atividades que fazem essa conexão. Um ou outro professor mais
criativo consegue êxitos nessa direção, por conta própria. Mas para a
maioria, dispor de um repertório de fácil acesso pode fazer uma grande
diferença. Essa pode ser uma missão nobre do SESI, em alguns casos,
associado ao SENAI
Embarcando no STEM
Seja em escolas públicas, seja nas do SESI, é preciso superar a fragilidade do
que acontece nos domínios da ciência e tecnologia. Por incontáveis razões,
nosso desempenho nesta área é lastimável. É preciso energicamente superar
essa deficiência que milita contra nossa Revolução Industrial. O movimento
associado à sigla STEM (Science, Technology, Engineering and Mathematics)
mostra muita promessa. Em breves palavras, consiste em montar programas
que combinam, de forma necessariamente aplicadas, todas essas
disciplinas. Há sempre uma proposta de relacionar o mundo real
(tecnologia) com o que está nos currículos (ciências).
A Aula Galileu, criada na Espanha e aclimatada no Uruguai, for avaliada
pelo SESI e sugere ser um caminho seguro para materializar essa proposta –
embora não seja o único. Trata-se de uma oficina (madeira, mecânica,
eletricidade, eletrônica e informática), na qual os alunos realizam projetos
que incluem planejamento, redação, estudo das disciplinas relacionadas a
eles, atividades de preparação e construção, bem como conclusões escritas
sobre o que foi realizado.
Habilidades Básicas para jovens empregados
Grande parte dos nossos operários chegou ao seu emprego sem uma
formação profissional prévia, além de ser vítima de uma escola frágil. Como
consequência, aprenderam a usar as mãos mas não aprenderam a usar a
cabeça. É preciso curar esse profissionalismo capenga. A solução é ensinar a
essas pessoas as Habilidades Básicas, sobretudo as cognitivas. Foi o que a
escola tentou, mas não conseguiu. Tentar a mesma fórmula é repetir o
fracasso. Pelo que sabemos da experiência recente, é preciso contextualizar
esses aprendizados com temas e problemas do ambiente de trabalho. Não
se ensina Matemática mas a matemática do eletricista (ou mecânico). A
cartilha é o manual de serviço do automóvel (ou o que seja). Faz sentido
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pensar em um grande programa nacional para oferecer Habilidades Básicas
a jovens já inseridos no mercado de trabalho.
Foxfire
O uso da cultura, do artesanato e da história local podem permitir um estudo
muito mais interessante e profundo de assuntos importantes. O movimento
do Foxfire começou com um professor americano que não conseguia
interessar pelos temas da escola seus alunos de uma região remota e
atrasada do país. Ao mandar os alunos fazer pesquisas de história oral, de
técnicas produtivas locais e outras manifestações próprias da terra,
conseguiu que se interessassem pelos novos projetos. E ao realizar tais
projetos buscando reviver a cultura local, era possível visitar os temas
universais da escola, antes tão alienantes para os alunos.
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Educação para o mundo do trabalho: A Revolução Industrial na