FQE0001 Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC Centro de Ciências Tecnológicas – CCT Departamento de Química - DQM Físico-Química Experimental Exp. 07 e 08 Tensão Superficial 1. Introdução As moléculas situadas no interior de um líquido estão sujeitas a forças de atração em todas as direções. Por outro lado, as moléculas situadas na superfície de separação líquido – ar estão submetidas a forças de atração não balanceadas, produzindo uma força resultante para o interior do líquido. Portanto, todas as superfícies líquidas tendem a reduzir sua superfície limite a um valor mínimo, adquirindo a forma esférica, que apresenta a condição de volume máximo numa superfície de área mínima. Por definição, a tensão superficial () – ou energia livre superficial – é o trabalho necessário para aumentar a superfície em uma unidade de área, por um processo isotérmico e reversível. A tensão superficial pode ser expressa em erg/cm2, ou dyn/cm ou N/m. Em outras palavras, tensão superficial também pode ser definida como a força resultante da atração entre as moléculas do interior do líquido pelas moléculas na sua superfície. A magnitude desta força, que atua perpendicularmente sobre um ponto a uma distância longitudinal plano da superfície, é dada por: onde l é o comprimento sobre o qual a força F age perpendicularmente. A tensão superficial é uma propriedade de uma interface. Desta maneira, ela é medida fazendo-se um balanceamento entre a força de atração superficial numa linha limítrofe contra uma força igual que se pode medir. Desta maneira, são três os métodos mais utilizados para a determinação de : o método do arrancamento (onde é medida a força necessária para romper um filme líquido), o método capilar (onde se mede a ascensão capilar do líquido contra a ação da gravidade) e o método da gota. No método da gota, deixa-se formar uma gota na extremidade de um tubo vertical, que pode ser o de uma bureta, cujo raio externo (2πr) é considerado como linha limítrofe. A gota cai exatamente no momento em que seu peso gera uma força de atração gravitacional (mg) maior que a força decorrente da tensão superficial aplicada à linha de contato da mesma com o perímetro do bico do qual ela cai (2πrγ). Ou seja, neste momento: sendo m a massa da gota ideal, g a aceleração da gravidade e r o raio da ponta da bureta. Para o cálculo da tensão superficial do líquido a partir do volume da gota, basta utilizar a relação entre volume e massa, ou seja, a densidade do líquido (): Na prática, o peso da gota obtido é sempre menor que o peso da gota ideal. A razão disto torna-se evidente, quando o processo de formação da gota é observado mais de perto, conforme ilustra a Figura 1. Observa-se que somente a porção mais externa da gota é que alcança a posição de instabilidade e cai. Perto de 40% do líquido que forma a gota permanece ligado ao tubo. Assim, torna-se ainda necessário acrescentar à equação acima um fator de correção devido que: i – a gota não se desprende completamente do tubo; e ii – as forças de tensão superficial não ocorrem numa única direção. FQE0001 Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC Centro de Ciências Tecnológicas – CCT Departamento de Química - DQM Físico-Química Experimental Exp. 07 e 08 Desta forma: onde f apresenta uma relação não linear que envolve o raio e o volume da gota. Figura 1: Processo de formação de uma gota até seu desprendimento pela ação da gravidade. Para contornar este problema, utiliza-se uma relação linear desenvolvida experimentalmente entre o raio e a massa de uma gota de água destilada para a determinação do raio a partir da pesagem de 1 gota (r = - 0,02815 + 3,81292 m). Utilizando-se a mesma bureta, basta medir o volume de 1 gota do líquido que deseja-se medir a tensão superficial para obter a razão . Para esta razão, os valores de f encontram-se tabelados na Tabela 1. Efeito da concentração de soluções na tensão superficial A tensão superficial da água pura a 20 °C em relação ao ar é igual a 72.10 -3 N/m (72,0 dyn/cm). Esse valor é alterado pela presença de solutos na água, que podem apresentar diferentes efeitos de acordo com a sua natureza química. Por exemplo, os sais inorgânicos têm a tendência de aumentar a tensão superficial com o aumento da concentração, os alcoóis apresentam um efeito oposto, enquanto que substâncias conhecidas como surfactantes diminuem a tensão superficial até uma concentração limite, acima da qual mais nenhuma alteração é observada. Ao se dissolver uma substância orgânica polar, como o álcool, a interação entre as moléculas de água e do álcool produz um aumento na tensão superficial. Esta variação é função da concentração da substância orgânica e deve-se ao fato de haver maior concentração do soluto na interface que no seio da solução. Diz-se, então, que há adsorção na interface. No caso de uma solução diluída, não iônica, a relação entre a quantidade de soluto adsorvido, a concentração da solução e a tensão superficial é dada pela Equação de Gibbs: onde é o excesso de concentração do soluto na camada superficial por unidade de área (também chamado de concentração superficial), e c é a concentração no seio da solução. Deste modo, conhecendo-se como a tensão superficial varia com a concentração, pode-se calcular a concentração superficial: FQE0001 Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC Centro de Ciências Tecnológicas – CCT Departamento de Química - DQM Físico-Química Experimental Exp. 07 e 08 Por outro lado, solutos iônicos apresentam a tendência de aumentar a tensão superficial do solvente com o aumento da concentração. Isso ocorre devido à atração eletrostática interaniônica, que tende a aproximar os íons de cargas opostas e, conseqüentemente, afastá-los da superfície. Em soluções de eletrólitos, um íon está cercado por íons de carga oposta, mas na superfície da solução, há íons que não estão completamente envolvidos por cargas opostas. Isto causa uma força de desbalanceamento eletrostático que tende a atrair estes íons para o interior da solução, causando uma redução da concentração do soluto na superfície do líquido em relação ao seio da solução. Quando este efeito ocorre, dizemos que a concentração superficial (, concentração dos íons na superfície do líquido) é negativa em relação ao seio da solução. Dá-se o nome de agentes tensoativos, agentes de superfície, anfifílicos, surfactantes ou simplesmente tensoativos, às substâncias que, colocadas em solução, são capazes de modificar as propriedades superficiais do solvente. A atividade superficial destas substâncias é conseqüência de sua estrutura química. Todas elas possuem, em uma mesma molécula, grupos polares e grupos não polares, ou seja, uma parte hidrofílica e outra hidrofóbica. A porção hidrofóbica é, geralmente, constituída por cadeias alifáticas ou, menos freqüentemente, por heterocíclicos ou sistemas de anéis aromáticos. A porção hidrofílica pode ser constituída por grupamentos funcionais, cuja estrutura condiciona a afinidade pela água (carboxilas, hidroxilas, grupamentos sulfúricos, etc.). Os tensoativos tendem a migrar até a superfície da solução e originar ali películas orientadas. Quando a concentração aumenta, certas moléculas tendem a tomar a mesma orientação que na superfície, formando verdadeiros agregados coloidais, as micelas. Normalmente o filme superficial formado é bem homogêneo e não aceita mais nenhuma molécula quando a solução atinge uma determinada concentração, chamada de concentração micelar crítica (CMC). Se continuarmos a aumentar a concentração, acima dessa concentração crítica, notaremos que a tensão superficial continuará constante, conforme mostra o gráfico da Figura 2. Figura 2: Variação da tensão superficial com a concentração de detergente. 2. Objetivos Medir a tensão superficial de diferentes substâncias utilizando o método da gota, a partir do valor conhecido de tensão superficial da água. Medir a influência de eletrólitos presentes numa solução nos valores de tensão superficial Observar a variação da tensão superficial em soluções contendo detergente. FQE0001 Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC Centro de Ciências Tecnológicas – CCT Departamento de Química - DQM Físico-Química Experimental Exp. 07 e 08 3. Procedimento Experimental 3.1 Material Bureta de 25 mL Vidro de relógio 06 Béquer de 50 mL Proveta de 100 mL Água destilada Solução de NaCl em concentrações de 2% a 16% (m/V) Detergente Pipeta de Pasteur Balança de precisão 3.2 Procedimento 1 (Tensão superficial pelo método da gota) Inicialmente, determina-se o raio da bureta medindo-se a massa de uma gota de água destilada e aplicando este resultado na relação linear entre o raio e a massa da gota. Para isso, pesa-se o vidro de relógio vazio, adiciona-se 20 gotas de água destilada através da bureta, e pesa-se o vidro de relógio novamente. Meça na bureta o volume das 20 gotas de água e utilize o volume de 1 gota para calcular a relação e utilize os valores da Tabela 1 para determinar f. Prepare 6 soluções de NaCl nas concentrações entre 2% e 16% (m/V) utilizando os béquers e a proveta. Repita os procedimentos anteriores para determinar as tensões superficiais das diferentes soluções de NaCl. Comece da solução mais diluída para a mais concentrada. Tabela 1: Valores experimentais de correção do peso da gota FQE0001 Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC Centro de Ciências Tecnológicas – CCT Departamento de Química - DQM Físico-Química Experimental Exp. 07 e 08 3.3 Procedimento 2 (Estudo do comportamento da tensão superficial em soluções de detergentes) Prepare soluções de detergente, colocando aproximadamente as seguintes quantidades e completando o volume para 100 mL de solução: 0,25g; 0,5g; 1,0g; 1,5g e 2,0g. Meça a tensão superficial da água pura e das cinco soluções utilizando o mesmo método do procedimento 1. 4. Discussão dos Resultados Represente graficamente os valores de tensão superficial pela concentração através de gráficos de vs. c e vs. ln c, onde c é a concentração em % de massa. Observe como a tensão superficial varia para soluções salinas e para soluções de detergente. Para o Procedimento 2, determine a concentração a partir da qual a tensão superficial permanece constante. 5. Questões No gráfico de γ vs. ln c para o Procedimento 2, calcule a concentração superficial a partir do coeficiente angular da reta obtida. Para isso use R = 8,314 J/K.mol (1 J = 1 N.m) e a temperatura em Kelvin. Aproveite os dados experimentais obtidos para calcular a área ocupada por uma molécula* de detergente em Å2 (1 Å = 10-10 m). *Área ocupada por uma molécula (w): , onde N = 6,02.1023 moléculas/mol 6. Referências Bibliográficas 1. Souza, N.J.Mello de; Martins Filho, H.P.; Experimentos em Físico-Química. Segunda Edição. Neoprinte Ltda:Curitiba. 1995. 2. Atkins, P; de Paula, J.; Físico-Química. Vols. 1-2. Nona Edição. LTC:Rio de Janeiro. 2012. 3. Shoemaker, D. P.; Garland, C. W.; Nibler, J. W. Experiments in Physical Chemistry. Fifth Edition. New York:McGraw-Hill, 1989. 4. Behring, J.L; Lucas, M.; Machado, C.; Barcellos, I.O.; “Adaptação no método do peso da gota para determinação da tensão superficial: um método simplificado para a quantificação da CMC de surfactantes no ensino da química.” Quim. Nova, Vol. 27, 492 – 495, 2004.