Seminário URBFAVELAS 2014 São Bernardo do Campo - SP - Brasil MAPEAMENTO E GERENCIAMENTO DE ÁREAS DE RISCO DE DESLIZAMENTO E SOLAPAMENTO DE MARGEM NO MUNICÍPIO DE SANTO ANDRÉ, SP Fabricio Araujo Mirandola (IPT/UFABC) - [email protected] Geólogo, Mestre em Tecnologia Ambiental, Pesquisador do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de Sâo Paulo, Doutorando em Planejamento e Gestão Territoríal pela UFABC Eduardo Soares de Macedo (IPT) - esmacedo @ipt.br Geólogo, Doutor em Geociências e Meio Ambiente, Pesquisador do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de Sâo Paulo Marcelo Fischer Gramani (IPT) - [email protected] Geólogo, Mestre em Engenharia Civil, Pesquisador do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de Sâo Paulo Alessandra Cristina Corsi (IPT) - [email protected] Geóloga, Doutora em Geociências, Pesquisadora do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de Sâo Paulo Kátia Canil (UFABC) - [email protected] Geografa, Doutora em Geografia, Professora da UFABC MAPEAMENTO E GERENCIAMENTO DE ÁREAS DE RISCO DE DESLIZAMENTO E SOLAPAMENTO DE MARGEM NO MUNICÍPIO DE SANTO ANDRÉ, SP Resumo – O município de Santo André, SP, conta hoje com quase 705 mil habitantes, dos quais aproximadamente 16 mil vivem em cerca de 32 áreas de risco. Essas áreas, no geral, ocupam a periferia da cidade, carente de infraestrutura. Além disso, situam-se em terrenos de encostas e margens de córregos que apresentam fragilidade frente a processos de deslizamento e solapamento de margem. O problema é relativamente amplo, não sendo possível resolver tudo em curto prazo e, para tanto, deve ser sistematizado um plano de gestão para áreas de risco. Sendo assim, entende-se que o reconhecimento das áreas e o mapeamento das situações de risco, com base em critérios pré-definidos, constituem a base inicial dos trabalhos. Procurando atender essa demanda, foi realizado o mapeamento no município, financiado pelo Consórcio Intermunicipal do ABC, o qual permitiu a identificação de 74 setores de risco, entre Risco Médio (R2), Alto (R3) e Muito Alto (R4). Os resultados obtidos vêm auxiliando a administração municipal na elaboração de um plano estratégico de intervenções para redução e controle dos riscos mapeados, tanto na esfera municipal, como na intermunicipal. Palavras-Chave – Mapeamento de Risco, PMRR Santo André, deslizamento, IPT 1 - INTRODUÇÃO O município de Santo André, SP, conta hoje com quase 705 mil habitantes, dos quais aproximadamente 16 mil vivem em cerca de 32 áreas de risco. Essas áreas, no geral, ocupam a periferia da cidade, carente de infraestrutura. Além disso, situam-se em terrenos de encostas e margens de córregos que apresentam fragilidade frente a processos de deslizamentos e solapamento de margem. Como resultado deste cenário sócio-político, tem-se nas últimas décadas o aumento significativo em tamanho e número dessas áreas de risco, resultante do processo de expansão urbana desordenada e políticas habitacionais ineficientes. O problema é relativamente amplo, não sendo possível resolver tudo em curto prazo e, para tanto, deve ser sistematizado um plano de gestão para as áreas de risco. De acordo com o modelo de abordagem do Office of The United Nations Disasters Relief Co-Ordinator (UNDRO, 1991), que define cinco passos para o gerenciamento de riscos (1-Identificação dos Riscos, 2- Análise dos Riscos, 3- Medidas de Prevenção, 4- Planejamento para Situações de Emergência e 5- Informações Públicas e Treinamento); entende-se que o reconhecimento das áreas e o mapeamento das situações de risco, com base em critérios pré-definidos, constituem a base inicial dos trabalhos. Sendo assim, foi realizado o Mapeamento de Áreas de Risco no município, financiado pelo Consórcio Intermunicipal do ABC, o qual permitiu a identificação de 74 setores de risco, entre Risco Médio (R2), Alto (R3) e Muito Alto (R4), finalizado no mês de janeiro de 2014, tendo por objetivo subsidiar a administração municipal e intermunicipal na elaboração de planos de intervenção para redução e controle dos riscos mapeados. 2 - OBJETIVOS Neste sentido, o presente artigo descreve os métodos, critérios e procedimentos adotados, bem como a síntese do mapeamento realizado nas áreas de risco identificadas e seus respectivos setores, além da caracterização dos setores em termos de condições de estabilidade geotécnica e de vulnerabilidade, a análise geral da situação na região mapeada, e exemplos de recomendações gerais de caráter estrutural (ex: intervenções e obras civis) e não estrutural (orientações para o gerenciamento de riscos), visando a prevenção, mitigação e controle das situações de risco observadas. 3 - MÉTODOS, CRITÉRIOS E PROCEDIMENTOS ADOTADOS O método adotado no desenvolvimento do mapeamento consistiu no levantamento e análise de dados, essencialmente dos arquivos existentes na Prefeitura, Defesa Civil Municipal e de dados coletados pelo IPT. Esses foram sistematizados de modo a estabelecer critérios e procedimentos para avaliação do zoneamento de risco nas áreas, com a finalidade de subsidiar o gerenciamento de riscos, bem como a estabelecer parâmetros técnicos e sociais, em conjunto com os técnicos da Prefeitura, a fim de promover maior segurança e/ou eliminar riscos. Coube à Prefeitura Municipal, num primeiro momento, disponibilizar cópias dos projetos, plantas, fotos aéreas e estudos referentes ao tema para as equipes que trabalharam em campo; dentre esses dados: históricos das intervenções efetuadas pela Defesa Civil nos setores de riscos; históricos das ocorrências atendidas pela Defesa Civil do Município nos setores de riscos; plantas planialtimétricas; e documentos fotográficos. As áreas mais críticas aos processos de deslizamentos e solapamento de margem correspondem, na maioria dos casos, as áreas de ocupação não consolidada cuja infraestrutura é precária, sem equacionamento de processos do meio físico perante as intervenções feitas pela ocupação. Foram mapeadas 32 áreas do município de Santo André, sendo estas áreas selecionadas de acordo com a experiência e conhecimento por parte dos agentes públicos, considerando as moradias sujeitas aos movimentos gravitacionais de massa e solapamento de margem. Participaram da seleção das áreas as equipes técnicas da Prefeitura de Santo André, da Coordenadoria Municipal de Defesa Civil Comdec e do IPT. Em todas as áreas selecionadas para o mapeamento de risco foram obtidas fotos oblíquas, por meio de voo de helicóptero a alturas entre 100 e 150 m do solo, que foram utilizadas para a delimitação dos setores de risco identificados durante os trabalhos de campo. Também foram utilizadas ortofotos com o intuito de espacializar a distribuição das áreas. Nas áreas mapeadas foram analisadas as situações potenciais de deslizamentos e solapamento de margens de córregos, sendo adotados os seguintes procedimentos: a) vistorias em cada área, por meio de investigações geológico-geotécnicas de superfície, visando identificar condicionantes dos processos de instabilização, evidências de instabilidade e indícios do desenvolvimento de processos destrutivos; b) registro em fichas de campo das características de cada setor mapeado e dos resultados das investigações geológico-geotécnicas; c) delimitação dos setores de risco, representando-os nas cópias das fotografias de helicóptero, ortofotos ou fotos de campo; para registrar indicadores de riscos observados no campo e que não estão visíveis nas fotos aéreas ou de helicóptero, estes foram fotografados durante os trabalhos de campo; d) para cada setor, foi avaliado e definido o grau de risco de ocorrência de processo de instabilização (deslizamento de encostas, quedas de blocos e solapamento de margens de córregos), válido por um período de 1 (um) ano, segundo critérios adotados pela metodologia para mapeamento de áreas de risco (MCidades/IPT, 2007); e) estimativa das consequências potenciais do processo de instabilização, por meio da avaliação das possíveis formas de desenvolvimento do processo destrutivo atuante (por exemplo, volumes mobilizados, trajetórias dos detritos, áreas de alcance, etc.), e do número de moradias ameaçadas, em cada setor de risco; f) indicação da(s) alternativa(s) de intervenção adequada(s) para cada um dos setores de risco mapeados; g) estimativa de custos das intervenções sugeridas para toda a área mapeada, por meio de vistorias de campo; e h) sistematização das informações para o estabelecimento do Plano Municipal de Redução de Riscos. 3.1 - Metodologia Detalhada A metodologia se baseou nos seguintes passos gerais: a - estabelecimento dos critérios para elaboração do mapeamento de risco; b - estabelecimento dos critérios para concepção de intervenções contemplando os setores de risco alto e muito alto; c - definição das formas para a estimativa de custos; d - definição dos critérios de priorização; e - estratégias para o levantamento de fontes potenciais de recursos para implantação das intervenções; e f - realização de audiência pública. 3.2 - Elaboração do Mapeamento A elaboração do Mapeamento das Áreas de Risco de Santo André seguiu as seguintes atividades, que são detalhadas a seguir: a - levantamento de dados; b - mapeamento de risco de deslizamento e solapamento de margem; c - elaboração de concepções de intervenções estruturais; e d - planejamento para execução das intervenções estruturais. 3.2.1 - Levantamento de Dados O levantamento de dados foi realizado por meio da obtenção de imagens aerofotogramétricas da Prefeitura Municipal de Santo André, que engloba as áreas nas quais serão realizados os trabalhos de mapeamento de risco, registros de desenvolvimento ou ocorrências de processos de instabilização e solapamento de margem, disponibilidade de laudos técnicos anteriormente elaborados, diretrizes de intervenção propostas (implantadas ou não), por trabalhos de localização das áreas a serem mapeadas, com definição de seus perímetros baseado no histórico de ocorrências no município, visando à determinação das áreas de risco e as prioridades para os trabalhos, e por obtenção de fotografias oblíquas de baixa altitude das áreas selecionadas para mapeamento, a partir de sobrevoo com helicóptero. A Prefeitura de Santo André possui um acervo de informações sobre o meio físico, condições fundiárias das áreas, registros de ocorrências, além do conhecimento dos técnicos da defesa civil e das diferentes secretarias ligadas a este projeto, que balizaram a seleção das áreas a serem avaliadas. 3.2.2 - Mapeamento de risco de deslizamento e solapamento de margem Nas áreas selecionadas pelo município, foram executados mapeamentos de risco por meio de investigações geológico-geotécnicas de superfície, visando identificar os condicionantes dos processos de instabilização. Os resultados foram sistematizados em fichas de cadastro com a caracterização dos graus de risco, seguindo o modelo proposto por Macedo et al. (2001). As fichas de campo apresentam, na forma de um check-list, diversos condicionantes geológicos e geotécnicos importantes para a caracterização dos processos de instabilização de encostas em áreas urbanas: tipologia (natural ou corte e aterro) e geometria da encosta, tipos de materiais mobilizados (solo / rocha / lixo / detritos, etc.), tipologia de movimentos de massa ocorrentes ou esperados, tipo de talude (natural, corte ou aterro) e, condição de escoamento e infiltração de águas superficiais e servidas (Figura 1). Nas fichas de avaliação de risco foram considerados também aspectos específicos, tais como o padrão construtivo das habitações (madeira, alvenaria, misto) e a posição das mesmas em relação ao raio de alcance dos processos ocorrentes ou esperados. Observou-se ainda o estágio da ocupação atual, incluindo aspectos gerais sobre infraestrutura urbana implantada, tais como: condições das vias (pavimentada, terra, etc.), sistemas de drenagem e esgoto, pontes e outras melhorias urbanas. CARACTERIZAÇÃO DO LOCAL Unidade de análise: Encosta/Margem de córrego; Tipos de construção: Alvenaria/Madeira/Misto; Condição das vias; Encosta natural; Talude de corte/aterro; Presença de maciço rochoso; Altura da encosta, ou talude, ou maciço rochoso; Inclinação da encosta, ou talude, ou maciço rochoso; Distância da moradia com relação ao topo/base da encosta, talude, maciço rochoso; Estruturas em solo/rocha desfavoráveis; Presença de blocos de rocha/matacões; Presença de Depósitos de encosta: aterro/lixo/entulho. EVIDÊNCIAS DE MOVIMENTAÇÃO ÁGUA Trincas na moradia; Trincas no terreno; Concentração de água de chuva em Degraus de abatimento; Muros e paredes superfície; Lançamento de água servida “embarrigados”; Árvores, postes e muros em superfície; Vazamento de tubulação; inclinados; Solapamento de margem; Fossa; Surgências d’água; Sistema de Cicatrizes de escorregamentos; Fraturas no drenagem superficial: maciço rochoso. inexistente/precário/satisfatório. VEGETAÇÃO NA ÁREA OU MARGENS DE CÓRREGO PROXIMIDADES Tipo de canal; Altura do talude marginal; Presença de árvores; Vegetação rasteira Distância da moradia com relação ao topo (arbustos, capim, etc.); Área desmatada; do talude marginal. Área de cultivo. Figura 1: Principais dados levantados em campo para caracterizar os setores de risco. Os setores de risco foram delimitados em campo sobre as imagens das fotos dos sobrevoos de helicóptero e classificadas segundo os graus de risco em: risco baixo (R1), risco médio (R2), risco alto (R3) e risco muito alto (R4). Os critérios de julgamento da probabilidade de ocorrência dos processos de instabilização do tipo deslizamentos em encostas ocupadas, bem como os parâmetros analisados para o desenvolvimento dos trabalhos, são apresentados na Figura 2. GRAU DE PROBABILI DADE R1 Baixo R2 Médio R3 Alto R4 Muito Alto DESCRIÇÃO Os condicionantes geológico-geotécnicos predisponentes e o nível de intervenção no setor são de BAIXA POTENCIALIDADE para o desenvolvimento de processos de escorregamentos e solapamentos.NÃO HÁ INDÍCIOS de desenvolvimento de processos de instabilização de encostas e de margens de drenagens.É a condição menos crítica.Mantidas as condições existentes, NÃO SE ESPERA a ocorrência de eventos destrutivos no período de 1 ano. Os condicionantes geológico-geotécnicos predisponentes e o nível de intervenção no setor são de MÉDIA POTENCIALIDADE para o desenvolvimento de processos de escorregamentos e solapamentos.Observa-se a presença de ALGUMA(S) EVIDÊNCIA(S) de instabilidade, porém incipiente(s).Mantidas as condições existentes, É REDUZIDA a possibilidade de ocorrência de eventos destrutivos durante episódios de chuvas intensas e prolongadas, no período de 1 ano. Os condicionantes geológico-geotécnicos e o nível de intervenção no setor são de ALTA POTENCIALIDADE para o desenvolvimento de processos de escorregamentos e solapamentos.Observa-se a presença de SIGNIFICATIVA(S) EVIDÊNCIA(S) de instabilidade. Mantidas as condições existentes, é PERFEITAMENTE POSSÍVEL a ocorrência de eventos destrutivos durante episódios de chuvas intensas e prolongadas, no período de 1 ano. Os condicionantes geológico-geotécnicos predisponentes e o nível de intervenção no setor são de MUITO ALTA POTENCIALIDADE para o desenvolvimento de processos de escorregamentos e solapamentos.As evidências de instabilidade SÃO EXPRESSIVAS E ESTÃO PRESENTES EM GRANDE NÚMERO E/OU MAGNITUDE. É a condição mais crítica.Mantidas as condições existentes, é MUITO PROVÁVEL a ocorrência de eventos destrutivos durante episódios de chuvas intensas e prolongadas, no período de 1 ano. Figura 2. Critérios utilizados para determinação dos graus de probabilidade de ocorrência de processos de instabilização do tipo escorregamentos em encostas ocupadas e solapamento de margens de córregos. (Fonte: MCidades/IPT, 2007). 3.2.2.1 - Tratamento de dados A identificação e a delimitação dos setores de risco, a partir dos trabalhos de campo, foram representadas cartograficamente nas fotografias obtidas durante sobrevoo. Nessa base, foram digitalizados os polígonos referentes às áreas e aos setores mapeados e suas respectivas classificações quanto ao grau de risco (MCidades/IPT, 2007). As informações de delimitação das áreas e setores foram plotadas também sobre o mosaico de fotografias aéreas na escala 1:5.000 fornecido pela Prefeitura, e tratado em software de Sistema de Informações Geográficas ArcInfo. As informações de campo foram registradas em fichas de cadastro que compõem o banco de dados digitalizado no software Microsoft Access. 3.2.3 - Elaboração de Concepções de Intervenções Estruturais Os objetivos dessa atividade compreenderam a concepção das intervenções estruturais necessárias para os setores de risco R4 e R3, a estimativa de custos e a definição de critérios para priorização dessas intervenções. As intervenções propostas contemplam basicamente oito tipos: limpeza, proteção superficial, drenagem, alterações de geometria, contenções, obras de infraestrutura, reparos e relocações de moradia. Como complementação a estas intervenções, de acordo com a situação exigida, avaliou-se, ainda, intervenções mais abrangentes, tais como reurbanizações parciais ou totais das referidas áreas. A concepção estrutural proposta tem como premissa básica as análises sob o ponto de vista técnico, econômico e social. Foram estimados os respectivos custos necessários para a execução das intervenções estruturais, definidas durante os trabalhos de campo, tomando-se como referência a tabela de preços SINAPI Sistema Nacional de Pesquisa de Custos e Índices da Construção Civil (2013). Nesse trabalho foi adotada uma tabela de referência que sistematiza as recomendações quanto à caracterização dos diferentes tipos de intervenção propostos, visando à padronização das terminologias adotadas (Figura 3). TIPO DE INTERVENÇÃO SERVIÇOS DE LIMPEZA E RECUPERAÇÃO OBRAS DE DRENAGEM SUPERFICIAL, PROTEÇÃO VEGETAL (GRAMÍNEAS) E DESMONTE DE BLOCOS E MATACÕES OBRAS DE DRENAGEM DE SUBSUPERFÍCIE ESTRUTURAS DE CONTENÇÃO LOCALIZADAS OU LINEARES OBRAS DE TERRAPLENAGEM DE MÉDIO A GRANDE PORTES ESTRUTURAS DE CONTENÇÃO DE MÉDIO A GRANDE PORTES DESCRIÇÃO Serviços de limpeza de entulho, lixo, etc., recuperação e/ou limpeza de sistemas de drenagem, esgoto e acessos, Também incluem obras de limpeza de canais de drenagem. Correspondem a serviços manuais e/ou utilizando maquinário de pequeno porte. Implantação de sistema de drenagem superficial (canaletas, rápidos, caixas de transição, escadas d'água, etc). implantação de proteção superficial vegetal (gramíneas) em taludes com solo exposto. Eventual execução de acessos para pedestres (calçadas, escadarias, etc) integrados ao sistema de drenagem. Proteção vegetal de margens de canais de drenagem. Desmonte de blocos rochoso e matacões. Predomínio de serviços manuais e/ou com maquinário de pequeno porte. Execução de sistema de drenagem de subsuperfície (trincheiras drenantes, DHP, poços de rebaixamento, etc). Correspondem a serviços parcial ou totalmente mecanizados. Implantação de estruturas de contenção localizadas, como chumbadores, tirantes, microestacas e muros de contenção passivos de pequeno porte (hmax=5 m e lmax=10 m). Obras de contenção e proteção de margens de canais (gabiões, muros de concreto, etc). Correspondem a serviços parcial ou totalmente mecanizados. Execução de serviços de terraplenagem. Execução combinada de obras de drenagem superficial e proteção vegetal (obras complementares aos serviços de terraplenagem). Obras de desvio e canalização de córregos. Predomínio de serviços mecanizados. Implantação de estruturas de contenção de médio a grande porte (h>5m e l>10m), envolvendo obras de contenção passivas e ativas (muros de gravidade, cortinas, etc). Poderão envolver serviços complementares de terraplenagem. Predomínio de serviços mecanizados. Figura 3 - Tipologias de intervenções estruturais voltadas à redução de riscos associados a escorregamentos em encostas ocupadas. 3.2.4 - Planejamento para Execução das Intervenções Estruturais A partir das tipologias de obras e parâmetros orçamentários, com base no indicativo dos levantamentos realizados e das intervenções propostas para as situações locais de risco, foi possível a elaboração de planos globais de intervenção, abrangendo, além dos aspectos geológicos e geotécnicos, intervenções voltadas à estabilidade do conjunto edificado considerando os aspectos de infraestrutura urbana, construtivos e de habitabilidade. Os planos globais referem-se à postura adotada pelas políticas habitacionais modernas consideradas sustentáveis, na qual é necessária uma visão integrada do problema e principalmente das ações possíveis. Os critérios de priorização das intervenções consideram, dentre outros, os seguintes aspectos: a - Grau de risco geológico; b - Abrangência dos impactos resultantes; c - Número de moradias diretamente beneficiadas; d - Participação da comunidade; e - Viabilidade técnica e executiva; f - Custos de implantação das obras por área e cronograma de execução; e g - Possibilidade e/ou viabilidade de articulação para captação de fontes alternativas de recursos necessários. Em alguns planos de urbanização desenvolvidos em outras cidades, situações de instabilidade geotécnica que, em primeira análise, tinham como solução a remoção total das famílias ou a realização de obras de contenção localizadas, após novos estudos, e tendo as concepções de obras de estabilização reavaliadas, permitiram que as famílias anteriormente em situação de risco pudessem ser reassentadas no próprio local. 4 - RESULTADO DOS TRABALHOS A seguir são apresentados os resultados do trabalho. 4.1 - Mapeamento Foram mapeados 74 setores de risco de deslizamentos e solapamentos de margem, com seus respectivos níveis de risco, conforme a Figura 4. Nível de Risco Número de Setores R2 – MÉDIO R3 - ALTO R4 – MUITO ALTO TOTAL DE SETORES 22 50 02 74 Figura 4 - Número de setores mapeados, seus respectivos processos e níveis de risco. Foram contabilizadas 3.214 moradias nos setores de risco mapeados. Salienta-se que a contagem das moradias foi realizada a partir das fotografias aéreas oblíquas obtidas em voo de helicóptero, tomando-se como base os telhados das moradias. Assim, é necessário levantamento detalhado para se ter o número de moradias mais preciso. O número de moradias por nível de risco encontra-se no Figura 5. Nível de R2 – MÉDIO R3 - ALTO R4 – MUITO TOTAL DE ALTO MORADIAS 207 3.214 Risco Número de Moradias 1.748 1.259 Figura 5 - Número de moradias mapeadas, seus respectivos processos e níveis de risco. O exemplo de mapeamento de uma área com a ficha de um setor de risco que apresenta o resumo da avaliação do risco de um dos setores de área mapeada (Figura 6), a respectiva imagem vertical do Google Earth (Figura 7), a foto de helicóptero (Figura 8), e as fotos de campo (Figuras 09 e 10) pode ser observado a seguir. Nome: Jardim Irene II - Rua Caboatá (antiga Rua Bela Setor: STA-16-01 Vista) Data: 08/08/2013 Coordenadas: 345051 / 7376606 Localização da Área: Rua Caboatá (antiga Rua Bela Vista) Equipe IPT: Eduardo Soares de Macedo, Fabrício Araujo Mirandola DIAGNÓSTICO DO SETOR Setor de encosta com inclinação média de 35° e presença de moradias em madeira. Acesso por via não pavimentada. Encosta natural com 20m de altura e 35º de inclinação, com moradias a 0m de distância do topo e 0m da base da encosta. Taludes de corte com 3-5m de altura e 90º de inclinação, com moradias a 0-2m do topo e 0-2m da base do talude. Há depósitos antrópicos localizados sobre encosta natural, compostos de aterro, lixo e entulho. Evidências de movimentação representadas por trinca no terreno, árvores, postes e muros inclinados, e cicatrizes de deslizamento. Há concentração de água de chuva e lançamento de águas servidas em superfície. Há vazamento de tubulação. O sistema de drenagem superficial é inexistente. Há presença de bananeiras e vegetação rasteira. DESCRIÇÃO DO PROCESSO DE INSTABILIZAÇÃO Setor com ocorrência pretérita e possibilidade de novos deslizamentos em encosta natural, taludes de corte e depósitos antrópicos. GRAU DE PROBABILIDADE: R4 – MUITO ALTO Prefeitura: Santo André Área: STA-16 Figura 6 - Ficha de campo transcrita a partir da ficha check-list. Figura 7 - Vista geral do limite da área e dos setores mapeados em imagem vertical do Google Earth. Figura 8 - Vista dos setores mapeados em foto aérea oblíqua. Figura 9 - Vista parcial do setor. Notar a alta inclinação do setor. Figura 10 - Notar a alta inclinação do setor e a presença de cortes e aterros próximos às moradias. 4.2 - Concepções de Intervenções Estruturais Após a realização do mapeamento e de posse da setorização, a equipe do IPT avaliou em campo as intervenções estruturais necessárias para diminuir os setores com grau de risco R4 (Muito Alto) e R3 (Alto) a um nível ao menos R2 (Médio). Os setores com risco R2 (Médio) e R1 (Baixo) não foram avaliados quanto às intervenções, dado que esses níveis de risco são passíveis de convivência. Esperase, no entanto, que o Poder Público inicie investimento de recursos para diminuir os riscos R2, assim que forem sanados os problemas dos setores R4 e R3. Deve-se salientar que a indicação das tipologias de obras e seu custo tem caráter de concepção, não podendo ser encarado como nenhuma forma de projeto de engenharia, seja ele básico ou executivo. Os custos foram obtidos por avaliação de campo, conforme explicitado anteriormente. Para a obtenção de valores mais precisos, obviamente, deverão ser executados todos os anteprojetos e projetos executivos, respectivamente, para cada área e setor de riscos correspondentes. Ressalta-se que, para todas as intervenções propostas, a prefeitura deve sempre analisar a relação Custo X Benefício quanto à possibilidade de se executar a obra ou remover e relocar as moradias. Segue exemplo de ficha do setor avaliado (Figura 11), com as intervenções propostas, seus respectivos custos e a descrição sugerida para a concepção de cada intervenção. ÁREA STA-16 - JARDIM IRENE II - RUA CABOATÁ - SETOR 01 (R4) INTERVENÇÕES LIMPEZA REMOÇÃO DE LIXO E ENTULHO REMOÇÃO DE VEGETAÇÃO IMPRÓPRIA OU INSTÁVEL REMOÇÃO DE MATERIAL ROMPIDO (SOLO) DESMONTE DE ESTRUTURAS E / OU MORADIAS EM RUÍNAS DESMONTE DE ESTRUTURAS E / OU MORADIAS PARA RELOCAÇÃO CUSTO ESTIMADO: R$ CUSTO (R$) QUANTITATIVO DA INTERVENÇÃO 60.000,00 30 dias 60.000,00 30 dias 120.000,00 PROTEÇÃO SUPERFICIAL PLANTIO DE VEGETAÇÃO (GRAMÍNEAS, ARBUSTOS E ÁRVORES) EXECUÇÃO DE REVESTIMENTOS COM ARGAMASSAS E TELAS CUSTO ESTIMADO: R$ DRENAGEM CANALETAS CAIXAS DE PASSAGEM, TRANSIÇÃO E DESÁGUE ESCADAS D’ÁGUA CUSTO ESTIMADO: R$ ALTERAÇÕES DE GEOMETRIA RETALUDAMENTOS (CORTES, ATERROS, DESBASTES) CUSTO ESTIMADO: R$ CONTENÇÕES EM SOLO E EM ROCHA MUROS DE ARRIMO REFORÇOS EM TALUDES (GRAMPEAMENTOS / ATIRANTAMENTOS) CUSTO ESTIMADO: R$ REPAROS EQUIPAMENTOS PÚBLICOS (ESCADARIAS / ACESSOS) CUSTO ESTIMADO: R$ CUSTO TOTAL ESTIMADO PARA AS INTERVENÇÕES (R$) CUSTOESTIMADO PARA PROJETO (10%) E PARA INVESTIMENTO (20%) CUSTO TOTAL ESTIMADO (R$) 37.500,00 500m 20.000,00 8 100.000,00 4 linhas de 100m 157.500,00 1.550.000,00 1 x 40 x 250 1.550.000,00 500.000,00 4 x 250 500.000,00 0,00 2.327.500,00 698.250,00 3.025.750,00 Figura 11 - Exemplo de ficha de um setor avaliado, com as intervenções propostas, seus respectivos custos e a descrição sugerida para a concepção de cada intervenção. As estimativas de custos listadas referem-se às atividades de projeto (10% do preço da obra), investigação (20% do preço da obra) e execução de obras, para uma determinada situação. Preveem-se, no escopo destas intervenções estruturais, serviços preliminares de investigação de subsuperfície, caracterização geológica e geotécnica complementares, levantamentos planialtimétricos de detalhamento, ensaios laboratoriais, consultorias e acompanhamentos técnicos especializados durante sua implementação. Acrescenta-se que as dinâmicas de projeto e execução das obras propostas são suscetíveis a uma série de fatores e que variam de acordo com a forma da administração e do próprio tempo, razão da opção por se deixar ao gestor político o espaço necessário para organizar os recursos conforme as suas necessidades e particularidades. Convém ressaltar que há diversas tipologias construtivas para cada tipo de intervenção. Como exemplo, há várias concepções e formas de contenção por muro de arrimo e custos respectivos. Sendo assim, os valores apresentados para as intervenções são estimativos. Considera-se que somente o detalhamento do projeto executivo baseado em dados de investigação mais detalhada, poderá precisar o custo efetivo da intervenção. Pelo exposto, o custo pode variar, de acordo com o tipo de obra mais conveniente para cada local, bem como o coeficiente de segurança a ser adotado. De qualquer modo, a ordem de grandeza apresentada no Plano Municipal de Redução de Riscos é uma referência de custo preliminar importante para equacionar ações de obtenção de recursos mínimos que possibilitem a efetiva prática de gestão organizada de riscos no município. Ressalta-se que dependendo da tipologia construtiva escolhida pelo projetista, pode ser necessária a remoção de algumas moradias, o que não foi avaliado neste trabalho. Os valores estimados de intervenções por área de risco totalizaram R$ 68.757.195,00 (sessenta e oito milhões, setecentos e cinquenta e sete mil, cento e noventa e cinco reais). Salienta-se, que esse total corresponde às intervenções propostas para o conjunto dos setores de Risco Muito Alto (R-4) e Alto (R-3). Para o correto entendimento destes resultados deve-se levar em conta que determinadas ações não podem ficar restritas a um único setor; sendo necessário integrar as intervenções entre diferentes setores, mesmo de níveis de risco diferentes, destacando-se, no caso, o exemplo dos sistemas de drenagem. 4.3 - Priorização para execução das intervenções A partir dos dados coletados foi proposta uma priorização para as intervenções nos setores de risco R4 (Muito Alto) e risco R3 (Alto). A base desta priorização é o custo da intervenção por moradia em ordem crescente. Tal priorização deve ser considerada como referencial, uma vez que determinados setores de risco, devido à proximidade física entre estes, mesmo que apresentem condições diferenciadas de graduação de risco, poderão ser contemplados em um mesmo momento, optando-se evidentemente por satisfazer a condição de menor brevidade sugerida. Dentre os setores de risco que apresentam a mesma condição de graduação de risco, levaram-se em consideração determinados critérios de escolha para a tomada de decisão no que diz respeito à ordenação das intervenções propostas. Os critérios adotados foram aqueles que buscam em sua essência a proteção do maior número de moradias em situação de riscos equivalentes, mas levando-se em conta, também, os recursos necessários para a realização das intervenções. As variáveis consideradas na tomada de decisão e relacionadas à hierarquização de intervenções, com seus posteriores ordenamentos e implementações, são numerosas, mensuráveis sob a ótica de bens patrimoniais, contudo adimensionais quando a unidade a ser avaliada reflete a vida humana com todas as suas particularidades e potencialidades. Posto isto, a gestão de risco apresenta-se como um árduo exercício de planejamento estratégico e constitui-se em grande desafio para os gestores públicos. Ressalta-se que a ordem de prioridade para planejamento da sequência de intervenções, que poderão ser adotadas pela Prefeitura Municipal é uma a tomada de decisão cabe aos gestores públicos. Certamente, a tomada de decisão, nestes casos, pressupõe que os recursos necessários estejam devidamente disponibilizados para uso e implementação. As áreas prioritárias devem ser analisadas considerando o contexto no qual se encontram, incluindo os prazos de intervenção, levando-se em conta o grau de risco em conjunto com o nível de infraestrutura disponível na área e seu entorno, questões de ordem financeira, adequações de projeto e as necessidades de planejamento da Prefeitura Municipal. O prazo para a realização das intervenções está diretamente atrelado ao fato da dinâmica de ocupação do meio físico ser extremamente rápida, podendo aumentar a complexidade da situação de risco, caso nenhuma medida venha a ser adotada. 5 - CONSIDERAÇÕES FINAIS Este artigo apresenta os resultados do mapeamento de risco de deslizamentos e solapamento de margem de 32 áreas na região do município de Santo André, definidas e indicadas pelos técnicos da Prefeitura. Nestas áreas foram avaliadas situações de risco com graus diferenciados quanto à: probabilidade de ocorrência de acidentes, tipologia dos processos geodinâmicos envolvidos, e severidade dos potenciais eventos, resultando na delimitação dos setores de risco. Foi apresentada uma lista de medidas de intervenção, com os respectivos custos previstos, para os setores de Alto (R3) e Muito Alto (R4) risco. Considerando-se as 32 áreas, os custos de intervenção totalizaram R$ 68.757.195,00 (sessenta e oito milhões, setecentos e cinquenta e sete mil, cento e noventa e cinco reais). Também foram indicadas as áreas prioritárias para a execução dessas intervenções, com base no grau de risco e no valor por moradia para cada setor. Com base em toda esta documentação é possível elaborar um plano de intervenção das áreas, definindo metas e prazos. Os dados produzidos foram sistematizados em fichas de cadastro, constituindo banco de dados em software Microsoft Access que acompanharam o relatório. O tratamento multidisciplinar e abrangente, envolvendo, desde o aprimoramento das técnicas de mapeamento das áreas de risco, até a cuidadosa seleção de áreas passíveis de intervenção, passando pela orientação e capacitação do poder público, visando à consolidação das ações de prevenção de acidentes geológicos mostra a importância do trabalho integrado tanto do poder público como da sociedade na construção de uma política eficaz de redução de desastres. 6 – REFERÊNCIAS MACEDO E. S. Elaboração de cadastro de risco iminente relacionado a escorregamentos: avaliação considerando experiência profissional, formação acadêmica e subjetividade. Tese de Doutorado, Instituto de Geociências e Ciências Exatas, Universidade Estadual Paulista – Unesp, 2001. Rio Claro, 276 p. MCIDADES/IPT-MINISTÉRIO DAS CIDADES, INSTITUTO DE PESQUISAS TECNOLÓGICAS DO ESTADO DE SÃO PAULO – IPT. Mapeamento de riscos em encostas e margem de rios. Organizadores: Celso Santos Carvalho, Eduardo Soares de Macedo, Agostinho Tadashi Ogura. Brasília: Ministério das Cidades; Instituto de Pesquisas Tecnológicas – IPT, 2007. SINAPI - Sistema Nacional de Pesquisa de Custos e Índices da Construção Civil Tabela de Serviços e Insumos. 2013. Disponível em http://www1.caixa.gov.br/gov/gov_social/municipal/programa_des_urbano/SINAPI/in dex.asp UNITED NATIONS RELIEF CO-ORDINATOR - UNDRO. UNDRO´S approach to disasters mitigation. UNDRO News, Geneva. 20p, jan-fev. 1991.