COMO REZAR COM UM TEXTO BÍBLICO? 8 Passos da LECTIO DIVINA para Amateurs 1. STATIO (Preparação) – A Palavra esperada. Momento de dispor o corpo e o espírito para o momento seguinte. Há que libertar a mente e o coração, a cabeça e as mãos, de tudo o que incomoda ou distrai. Pedir a Deus luz e força – luz para ver bem e força para nos lançarmos na aventura da vida. Fechar a porta, entrar no refúgio do quarto, onde estou completamente à vontade. Despir-me, sentar-me ou deitar-me como quero e gosto e procurar a paz, o sossego, o silêncio… claro sem adormecer. Sintonizar bem para poder apanhar a onda. Fazer silêncio exterior e interior. Sossegar a casa da mente. 2. LECTIO (Leitura) – A Palavra escutada. Momento de ler o texto, mas lê-lo bem. Fazer primeiro uma leitura seguida do texto para tomar consciência do tema, do contexto. Reler todo o texto fazendo paragens para me reter na imaginação dos lugares, dos espaços, dos movimentos, das personagens, das acções. Posso escrever tudo o que vejo, colocando-me num canto da cena e descrevendo. Responder às perguntas: Que diz o texto? Quem são os protagonistas? Que fazem? Quem fala? A quem fala? Que facto ou frase me parece fundamental? 2 9 Leitura do evangelho 3. MEDITATIO (Meditação) – A Palavra compreendida. «O Reino do Céu é semelhante a um tesouro escondido num campo, que um homem encontra. Volta a escondê-lo e, cheio de alegria, vai, vende tudo o que possui e compra o campo.» (Mt 13,44) Proposta de um texto para rezar aplicando o método apresentado: Mt 4, 17-25 Momento de discorrer com o entendimento. Olhar o texto como se se tratasse de um quadro. Procurar ver como foi concebido, elaborado e realizado. As linhas mestras ou as perspectivas básicas do autor. A meditação desenvolve-se em três momentos: 1) Recolho as palavras que me chamaram a atenção. Que significam para mim? Porque é que são importantes para mim? 2) Interiorizo ou rumino estas palavras, passam da mente ao coração e fazem morada nele. Que sinto? Como me sinto? 3) Vejo a minha vida e a vida, a minha história e a história, à luz dessa Palavra. Que me sugere? Que me pede? Que me exige? 4. ORATIO (Oração) – A minha palavra responde à Palavra Momento do encontro e do diálogo. Na oração a pessoa apropria-se do salmo lido ou da Palavra lida. A Palavra escutada e meditada torna -se alimento da oração, a partir da própria experiência. A oração leva à presença de Deus na contemplação. Pode ser feita apenas de gemidos, 8 3 sussurros, ou de gritos, de choros e de sorrisos. A atitude do orante deve ser de súplica, de louvor, de petição, de acção de graças, de assombro, de admiração. 5. CONTEMPLATIO (Contemplação) – A Palavra encarnada Estamos no cume da montanha, ou no poço inundado de água viva. A oração desemboca na contemplação. Caímos de joelhos diante de Deus que se revela e com o qual estabelecemos uma relação de maior intimidade e profundidade. É o momento de descalçar as sandálias e de me prostrar, em atitude de adoração. O momento mais passivo pela abertura à novidade de Deus que fulmina com o seu olhar o nosso coração e nos convida à conversão. O momento de olhar, mas sobretudo de se sentir olhado. Como fazia o Cura D’Ars: “eu olho para Ele e Ele olha para mim”. 6. DISCRETIO (Discernimento) – A Palavra confrontada. É o momento de parar para discernir. Discernimento é a capacidade de escolher segundo Cristo, como Cristo. É a capacidade de concretizar a vontade de Deus. Cada pessoa é um ser único, original, que vive a sua vida em coordenadas distintas. A resposta à Palavra de Deus não é 4 Tantas vezes me sentei na terra amaldiçoando quem me fez nascer pobre. Outras tantas desesperando por ver o meu suor cair em terra árida (e às vezes misturado com lágrimas). Que vida dum raio, gritei tanta vez! Que sentido tem esta vida? Um dia, tive que cavar mais fundo que o normal, porque queria plantar uma árvore e encontrei uma coisa dura. Era só o que me faltava! Lá me enchi de paciência e escavei à volta e qual não foi a minha surpresa quando encontrei uma arca metálica cheia de ouro. Tanto como eu jamais tinha visto ou imaginado. E agora? Se alguém descobre, como o terreno não é meu, o tesouro pertence ao dono do terreno. E mesmo que ele o queira vender sabendo da sua existência vai aumentar muitíssimo o preço. Que faço? Voltei a enterrar a arca e continuei como se nada fosse. Não disse nada a ninguém sobre isto e fiu procurar o dono do terreno fazendo-lhe uma oferta de compra daquela parcela. O homem ainda se fez muito rogado mas como também já estava velhote e os filhos não queriam saber daquilo para nada, lá aceitou vender, mas pediu-me um valor que não tinha nem de perto. Vendi tudo o que tinha, negociei algumas velharias que agora os turistas acham muita graça, até o penico de loiça da minha avó vendi! Mais umas ajudinhas duns amigalhaços que não fizeram perguntas, lá consegui juntar todo o dinheiro que precisava. Fui comprar o terreno. Era o dia mais feliz da minha vida. Agora tinha um tesouro! O mais engraçado era pensar que ele tinha estado sempre ali, debaixo dos meus pés, ano após ano… e eu sempre preocupado com a superfície do terreno nunca me atrevi a cavar mais fundo. Não fosse a bendita árvore e ainda hoje vivia amargurado… 7 confronto com a Palavra de Deus, encarnada no próprio Cristo vai-nos conformando mais à sua imagem e semelhança. Quando a Palavra habita em nós, habilita-nos a sermos nós próprios palavrasinal-expressão do amor e da comunicação com Deus. O autêntico encontro com Deus leva-nos ao encontro com os irmãos. É importante por isso pensar que, em primeiro lugar, a Palavra não pode ficar sem resposta. O seu percurso desde que é pronunciada por Deus, tem de acabar no compromisso pela justiça, tema central e chave da Bíblia. Mais ainda, a oração, por mais elevada que seja, se não me levar ao compromisso fraterno, não é oração. Tem de aterrar na realidade da vida social. A Palavra traduz-se sempre em obras, sem elas é letra morta. Narração: Olá, chamo-me Manuel e desde que me lembro sou agricultor. Meus pais nunca tiveram muitas terras, porque ficava mais barato alugá-las, ou como se diz entre nós arrendá-las aos grandes agricultores da minha zona. A vida do campo tem a sua beleza sobretudo para quem vem fazer turismo ou para ver na televisão, onde não há lixo, mau cheiro e trabalho árduo. Às vezes trabalho de sol a sol, sobretudo no Verão, e muitas vezes perdemos tudo o que investimos com o calor, a chuva ou a neve. É uma vida dura. Pensei muitas vezes mudar de vida, mas no fundo, eu gosto é disto. 6 automática, nem mecânica. É pessoal amadurecida no discernimento pessoal. e Discernir é ler ou reler a Palavra de Deus na situação concreta em que a pessoa se encontra. É Deus que me fala aqui e agora. Que é que o Espírito, através da Palavra, me pede hoje, me pede ou me exige, na situação concreta e histórica que vivo? Uma pista para identificar um discernimento é a diferenciação dos espíritos. Se fico em paz interiormente o discernimento foi à luz do espírito de Deus. Se fico perturbada, sem paz, o discernimento foi à luz de outro espírito que não o de Deus. 7. COLLATIO (Intercomunicação) – A Palavra partilhada. A partilha da Palavra é um momento de enriquecimento e de vivência da comunhão, do Deus comunidade. Os primeiros passos da Lectio são feitos individualmente. Seguidamente far-se-á a partilha dos ecos do que a Palavra tiver despertado. O que mais me tocou, o que Deus me revelou, que experiências vivi durante a Lectio. 8. ACTIO (Acção) – A Palavra em acção. É o momento de descer da montanha, de sair do canto e subir, ou descer até à vida. O 5