aPReseNTaÇÃo O segundo semestre deste ano vem trabalhando o Cuidado com a Vida Humana. Dentro desta proposta, queremos continuar nossas reflexões nestes meses de setembro e outubro, nos voltando para a família, ninho de amor. Essa é uma expressão bonita e reveladora do quanto somos próximos dos outros seres que habitam a terra. Ninho é o lugar onde os passarinhos escolhem e preparam para criar seus filhotes. Embora não se saiba ao certo se eles têm sentimentos, sua casa indica aconchego, carinho, afeto e outras condições básicas para sobreviver e para viver em plenitude. Diante da vida que nasce, a família precisa ser acolhida com carinho e aconchego e oferecê-los aos que chegam, pois o ninho também reporta à casa comum da humanidade. Afinal, como vamos cuidar da humanidade toda, se não começamos por quem está próximo de nós? A família é espaço de desenvolver-se de forma equilibrada, segura e respeitosa, desde o ventre materno até o momento em que o amor recebido se transforma em amor doado. A família é o lugar do cultivo da espiritualidade onde os pais têm a primeira responsabilidade sobre a espiritualidade ali cultivada. Ela vai transbordar e, de alguma forma, atingirá extensões mais abrangentes, já que as ações e atitudes dos membros da família são a verdadeira expressão destas experiências. É bom ter família Pe. Antônio Maria É no campo da vida que se esconde um tesouro. Vale mais que o ouro, mais que a prata que brilha. É presente de Deus, é o céu já aqui, o amor mora ali e se chama família. Como é bom ter a minha família, como é bom! Vale a pena vender tudo o mais para poder comprar. Esse campo que esconde um tesouro, que é puro dom, é meu ouro, meu céu, minha paz, minha vida, meu lar. Até mesmo o céu desejou ser família para que a família desejasse ser céu. Nela se faz a paz no ouvir, no falar, e na arte de amar, o amargor vira mel. Na família a mentira não se dá com a verdade, e a fidelidade sabe o peso da cruz, porque lá há amor, há renúncia e perdão, há também oração e o chefe é Jesus. Realidade, luzes e desafios acerca da família C ertamente você já leu muita coisa sobre esse tema e também tem experiências boas, intensas, ou até nem tão boas. Independente deste contexto, embora isso seja determinante no seu modo de ver, sentir e vivenciar esta experiência, convidamos a refletir uma vez mais sobre esta realidade tão preciosa. O convite é para uma reflexão, digamos, mais introspectiva e prospectiva: olhar para nós mesmos e para projetarmos, de alguma forma, algo novo e que vá além de nós. Não queremos, não devemos e não temos condições de julgar. Essa não é nossa tarefa. Nem Deus, na sua experiência de encarnação humana, julgou. O que fez sim, e com muita lucidez, foi estabelecer critérios, acima de tudo apontando para um caminho a ser percorrido. Pensamos que o contexto atual e o Evangelho são duas referências importantes sobre como se constitui e quem constitui a família. Afinal, o que ela é ou representa? Afeto, aconchego, acolhida, amor, proximidade, confiança, partilha do alimento e de vida! Interessante porque podemos olhar para estas palavras e pensar: conceitos, teoria, coisa vazia. Porém, antes de serem palavras, são sentimentos, realidade pura, e, acima de tudo, a espiritualidade da família. Uma coisa é certa, o conceito é menor que a vivência e, ao mesmo tempo, abarca uma pluralidade de situações. Quando falamos de abraço o que prevalece? O conceito ou a experiência? Talvez alguém esteja pensando, muito romântica esta família, melosa demais. Sabemos que há inú- meras contradições na família. Não há dúvida, porque somos humanos, limitados, imperfeitos, frágeis e de convivência difícil. E por que somos assim? A resposta é complexa e, certamente, tem alguma relação com o conjunto de experiências vividas neste mundo. Neste sentido podemos nos perguntar: Que experiência de família temos? Que presença somos na família? Como constituímos família e que contribuição damos pessoalmente à família que constituímos? Que sonhos temos? Que utopias cultivamos? De que corremos atrás? Não esqueçamos que as respostas revelam a nossa espiritualidade. É importante perceber que transmitimos aos outros aquilo que somos e do que estamos cheios. Se estamos cheios de ódio, como vamos transmitir amor? É daí que vem a importância da família como ninho de amor, com espaço para o diálogo, o afeto e a acolhida. Vamos insistir, viver estes princípios não é preceito ou fardo, mas espiritualidade que liberta e produz vida, porque é melhor ser e viver desta forma. Melhor para quem vive e melhor para quem convive. Quanto mais vivermos a confiança e a partilha de vida, mais chances temos de semear tais princípios mun- do afora. Aliás, aí nasce um grande desafio: a família não pode estar fechada em si mesma, mas aberta ao serviço aos outros. Neste sentido, convém refletir sobre alguns temas na relação com a família. A família e a educação Vivemos um paradoxo de que a família educa pouco porque convive pouco. Há outras fontes de educação das crianças, adolescentes e jovens, e dos próprios pais. Afinal ensinamos e aprendemos durante a vida toda. Num contexto em que a convivência é limitada e a separação dos pais acontece cada vez mais cedo, em função do trabalho, a intensidade do afeto e a firmeza na educação de valores passam a ser uma equação difícil de ser conjugada. É fundamental que o grupo familiar reserve tempo para o cultivo e a convivência. Desde a primeira forma de comunicação com o bebê, a linguagem do amor, passando pelo desenvolvimento da expressão verbal, a presença é uma importante forma de comunicação. A família e o trabalho Não se pode ignorar que o tempo para o trabalho é o mais extenso dos tempos na contemporaneidade. E este também é tempo da graça e ‘tempo de ser cristão’. Num contexto individualista e de forte competição, o que significa viver a espiritualidade do seguimento a Jesus nas relações de trabalho? Esse é um cuidado importante. Não podemos guardar nossa fé em gavetas separadas da vida. Viver piedosamente ou santamente as práticas religiosas e esquecer de tais princípios no cotidiano. Como vivemos nossa fé no trabalho? Seguimos os mesmos princípios que professamos? E professamos a fé trinitária, que implica a vivência comunitária? Como cristãos também temos que estar cientes que, além de buscar uma vida de coerência com os princípios do Evangelho, o trabalho não tem fim em si mesmo. Há algo de valioso e é preciso fazer do trabalho, espaço de boas relações, inclusive buscando a excelência no que fazemos como nosso ‘ganha pão’. Aprendemos com a encarnação do Filho de Deus que o trabalho deve estar a serviço do ser humano. Não se pode esquecer o critério e a finalidade fundamentais do trabalho: a dignidade humana. Promover relações de trabalho que realizem o ser humano e que permitam acessar o fundamental para uma vida digna, deve ser um compromisso de todo cristão. Rezar, pedir e ajudar para que as famílias tenham seu trabalho e daí possam tirar seu sustento, de forma honesta e justa, integra a espiritualidade do seguimento. Se o tempo e a energia do trabalho forem empreendidos para causas valiosas e os valores vividos no trabalho forem os cultivados na e pela família, haverá mais compreensão, sintonia e comunicação recíproca. E, é óbvio, que isso não dispensa momentos de convivência familiar, espontaneidade, diálogo e cultivo. Um tempo precioso para o encontro e a conversa em família ajuda a tornar mais leve o fardo, aparar arestas, buscar o equilíbrio, avaliar objetivos e planejar novas metas. A família e a espiritualidade Cremos no Deus que caminha e faz história com seu povo. Num Deus que, por nos criar à sua imagem e semelhança, por nos libertar da opressão e por se encarnar através de seu filho, nos deu provas suficientes de seu amor. Por ser amor, misericórdia, e levar até o fim a defesa da vida, mesmo que isso lhe custasse a própria, nos chama e convoca para assumirmos, por amor, compromisso parecido. Com isso queremos expressar que a vivência da espiritualidade cristã não é fardo pesado ou obrigação com uma rigidez comportamental vazia. Ninguém melhor que Jesus para expressar que, enquanto a lei cega e oprime, o amor salva. O chamamento é para desprezar o julgamento, atendo-se à vivência. O cultivo da espiritualidade do seguimento de Jesus Cristo evidencia e dá sentido e discernimento ao agir. A espiritualidade, no seu sentido amplo, é algo que move, impulsiona, faz caminhar, portanto, desinstala e desacomoda. Precisamos da lei para orientar, mas se dependemos dela para agir é porque não temos consciência suficiente. A espiritualidade nos faz agir por conta própria e porque estamos convictos. Quando cultivamos e vivemos a espiritualidade profunda ninguém nos segura. A espiritualidade deve mobilizar as nossas energias para o bem comum, a comunhão e a vida fraterna. Compreendemos assim o papel da Igreja e das nossas comunidades: ajudar a experimentar em profundidade esta espiritualidade que move na direção do outro. Dessa forma, vamos descobrir caminhos, pois nossa energia e nossa inteligência estarão a seu serviço. O Documento de Aparecida (nº 464-475) chama a atenção da família para dois temas fundamentais como valores a serem defendidos no contexto atual: a vida e o meio ambiente. A vida humana, desde a concepção até a idade avançada se encontra ameaçada de várias formas, entre elas pela violência, pela miséria e pela falta de acesso aos cuidados com a saúde. Sobre o meio ambiente os bispos fazem o seguinte apelo: descobrir “o dom da criação, sabendo contemplá -la e cuidar dela como casa de todos os seres vivos e matriz da vida do planeta”. celeBRaNdo o cuidado com a família Ambiente: Preparar um espaço com a imagem da Sagrada Família, roupas de criança, fotos, carteira de trabalho, pão, bíblia, vela. Motivação inicial: Irmão e Irmãs vamos agora celebrar o cuidado com as famílias, acolhendo a realidade e a diversidade de cada ninho de amor. A família é o espaço do encontro, do sentir-se bem e de celebrar as alegrias e os desafios do dia a dia. Como romeiros de Nossa Senhora Aparecida, peçamos a Mãe que proteja e acolha as famílias de nossas comunidades. Cantemos Como é bom ter minha família. Momento penitencial: O Papa Francisco diz: “não existe a família perfeita, mas não é preciso ter medo da imperfeição, da fragilidade, nem mesmo dos conflitos, preciso é aprender a enfrentá-los de forma construtiva. Apesar das próprias limitações e pecados a família é uma escola de perdão”. A cada refrão cantemos: (escolher um refrão de perdão). Leitor 1: Perdão Senhor quando somos indiferentes em relação a situação de fome, desemprego, doença, violência, pessoa com deficiência, realidades que atingem muitas de nossas famílias. Leitor 2: Cristo perdão pela falta de diálogo, compreensão entre pais, filhos, avós e comunidade, dificultando que vida a familiar e comunitária seja cuidada e acolhida. Leitor 3: Perdão Senhor, pela falta de tempo, pelo consumo desenfreado que assola as famílias, individualizando cada vez mais as relações. Glória: (pensar pequenos cartazes com palavras, ex: respeito, diálogo, perdão, família ninho de amor, partilha). Obrigado Senhor, pelos sinais de vida e esperança que brotam das famílias, sendo espaço de acolhida do ser humano, nas diversas fases da existência. Cantemos, Na beleza do que vemos. A Palavra de Deus na Vida: Sugestões de textos bíblicos: Cor 13, 1-13 e Lc 1,39-56 (A reflexão pode ter por base o texto deste folheto) Preces: “Uma pessoa que aprende, em família, a ouvir os outros, a falar de modo respeitoso, expressando o seu ponto de vista sem negar o dos outros, será um construtor de diálogo e reconciliação na sociedade”. (Papa Francisco) - A família mais bela, protagonista, é aquela que, partindo do testemunho, sabe comunicar a beleza do relacionamento na diversidade, digamos: Família, ninho de amor e de esperança. - Nossa luta é não defender o passado, mas trabalhar com paciência e confiança, em todos os ambientes onde nos encontramos, para construir o futuro, digamos: Família, ninho de amor e de esperança. - Que a Romaria de Nossa Senhora Aparecida, nos fortaleça em comunidade e nos desafie a cuidar cada vez mais do ser humano em suas fragilidades, digamos: Família, ninho de amor e de esperança. - Preces espontâneas. Benção Motivar que os participantes formem um círculo, olhando um aos outros. Ler o texto bíblico de Mt 12, 46-50, onde Jesus diz, quem são meus pais, meus irmãos. Formamos a família humana que luta por pão e justiça para todos. Somos todos pais, mães, irmãos, avós uns dos outros. Com a mão esquerda estendida, pedimos a benção, com a direita abençoamos a pessoa que está ao nosso lado, dizendo: Deus te abençoe e te guarde; o Senhor faça resplandecer o seu rosto sobre ti e te conceda graça; o Senhor volte para ti seu rosto e te dê a paz. Material produzido por: Centro Arquidiocesano de Pastoral Arquidiocese de Passo Fundo - RS (054) 3045 - 9204 www.arquidiocesedepassofundo.com.br Organização e Produção: Equipe arquidiocesana de produção de material. Fontes de Imagens: Arquivo Pastoral de Comunicação Internet - google