HUMANIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA AO PARTO Ilda Soares Barbosa¹; Ivanete Ferreira da Silva Dias²; Kátia do Carmo Ito³ Resumo Ao longo da história, o nascimento deixou de ser encarado como um processo fisiológico normal da mulher, assumindo caráter complexo e exigindo intervenções médicas, dando ao parto uma concepção de risco obstétrico, penalizando a mulher e sua família, elevando o índice de nascimentos por cesárea para 41,8% de ocorrência no Brasil. Este estudo tem como metodologia revisão literária dos últimos quinze anos, com o objetivo de descrever a humanização na assistência do parto. A preocupação com segurança, direito de escolha e qualidade da experiência de parto, nos faz compreender que o papel da enfermagem sob esta ótica, visa o cuidar humano repleto de afeto, calor, atenção, amor e ajuda nas forças naturais do parto, cuidando do conforto físico, dando ênfase não só aos aspectos fisiológicos como aos emocionais e socioculturais do processo reprodutivo. Palavras-Chaves: parto, parto humanizado, cuidados de enfermagem, Humanização da Assistência. Abstract Throughout history, the birth is no longer seen as a normal physiological process of the woman, taking the complex and demanding medical interventions, giving birth to a concept of obstetric risk, and penalize the woman and her family, raising the rate of births by cesarean to 41.8% of occurrence in Brazil. This study aims methodology literature review of the last fifteen years, in order to describe the humanization in delivery. Concerns about safety, the right choice and quality of childbirth experience, makes us understand that the role of nursing in this light, refers to human care full of affection, warmth, attention, love and help the forces of natural childbirth, caring for physical comfort, emphasizing not only the physiological aspects and the emotional and cultural reproductive process. Key Words: labor; humanized delivery, nursing care, Humanization of assistance. ¹ Pós-graduanda em Saúde coletiva e Saúde da Família (Instituto de Ensino Superior de Londrina-INESUL). Graduada em Enfermagem pelo Instituto de Ensino Superior de Londrina – INESUL. E-mail: [email protected]. ² ¹ Pós-graduanda em Saúde coletiva e Saúde da Família (Instituto de Ensino Superior de Londrina-INESUL). Graduada em Enfermagem pelo Instituto de Ensino Superior de Londrina – INESUL. E-mail: [email protected]. ³ Pós-graduanda em Saúde coletiva e Saúde da Família (Instituto de Ensino Superior de Londrina-INESUL). Graduada em Enfermagem pela Universidade Norte do Paraná – UNOPAR. E-MAIL: [email protected]. Introdução A Gravidez é um processo fisiológico que representa a capacidade reprodutiva inerente à mulher e traz ao organismo feminino uma série de mudanças físicas e emocionais. Essas transformações podem gerar medo, dúvidas, angústias, fantasias ou, simplesmente, curiosidade em saber o que acontece com o próprio corpo (BRASIL, 2000). De acordo com Ferreira (1986), o termo humanização vem de humanizar que é a prática do humano, entendendo-se por humano a natureza bondosa, humanitária, benevolente. Assim, como humanos que somos, é natural que exerçamos a benevolência, a clemência, a compaixão, visando o bem estar da humanidade individualmente e coletivamente. Corbani, Brêtas e Matheus (2009) observam que a humanidade é identificada principalmente pelo cuidado, não somente pelo técnico-curativo. O sentimento de humanidade, são expressos no cuidado, designa amor, amizade, cura. Assim, deixar de cuidar é contra a própria natureza humana, desumaniza e nos torna desnaturados e cruéis em nosso comportamento para com o outro, fazendo com que deixemos de enxergar o foco principal: o espírito do homem. Embora possa ser bastante diversificado, o conceito de humanização do parto vem sendo defendido como um processo que respeita a individualidade das mulheres, permitindo a adequação da assistência à sua cultura, crenças, valores e diversidade de opiniões. A escolha do médico, do local e da forma como o nascimento do bebê acontecerá, deve ser definida pela parturiente, uma vez que o momento do parto é na verdade uma soma de fatores físicos e emocionais que serão vivenciados por ela (CASTRO; CLAPIS, 2005). Portanto os conceitos de Parto Humanizado estão sendo praticados em diversas maternidades brasileiras com excelentes resultados, tanto no aspecto de melhoria da qualidade assistencial como na redução do custo assistencial. O papel da enfermagem no parto humanizado é o de ajudar nas forças naturais do parto, criando condições favoráveis para o processo do parto natural, cuidando de todos os aspectos que o envolve como: conforto físico, cuidado personalizado, privacidade e suporte psicológico, com sensibilidade, respeito e solidariedade, à mulher e à sua família (DOMINGUES; SANTOS; LEAL, 2004). O conjunto dessas medidas tornar-se-á efetivo, quando, somados a ele, os profissionais de saúde transformarem sua prática na direção de uma relação mais humanizada e segura. O parto precisa ser resgatado como o momento do nascimento, respeitando todos seus significados e devolvendo à mulher o seu direito de ser mãe com humanidade e segurança (BRASIL, 2000). História do Parto De acordo com Brenes (1990) antigamente, os partos e cuidados pós parto eram realizados por mulheres conhecidas popularmente como aparadeiras, comadres ou mesmo de parteiras-leigas. Estas mulheres eram de inteira confiança e detinham um saber empírico sobre a gestação parto e puerpério. No século XVII ocorreu uma grande transformação na obstetrícia: a introdução dos cirurgiões na assistência ao parto, pois ainda não existia a obstetrícia e a ginecologia como especialidade médica (MACHADO, 1995). Segundo Diniz (2005), somente em 1852 é que a prática das parteiras passou a ser institucionalizada, mas sob o controle médico. De acordo com Riesco e Tsunechiro (2002) o registro do primeiro documento legal sobre o ensino de parteiras é de 1832, tendo sido fornecido pela Faculdade de Medicina que entre outros cursos, incluiu em seu currículo, o Curso de Partos. Até 1832, era concedida pelo Físico-Mor ou Cirurgição-Mor do Império, às mulheres que se dedicavam a partejar, uma “carta de examinação” e uma licença da Chancelaria, representando um controle sobre o exercício da atividade das parteiras pelos médicos, e “de 1832 a 1949, toda a legislação do ensino de parteiras esteve contida na legislação do ensino da medicina” (RIESCO; TSUNECHIRO, 2002). Conforme Gaiva e Tavares (2002), as parteiras passaram a receber formação científica, e a desenvolver suas atividades em instituições hospitalares, o que fez com que abandonassem seu conhecimento empírico sobre os ritos de passagem da gravidez, parto e lactação. Em 1910, os médicos tinham duas lutas a travar: a primeira dizia respeito à conquista de clínicas de partos, maternidade e hospital junto à escola. A segunda, conseguir trazer a mulher à clínica, ao hospital, ao consultório, havendo todo um esforço por parte da corporação médica em construir uma imagem de médico que inspirasse confiança na população. No Brasil, foi a partir da década de 1950 que o parto foi institucionalizado e medicalizado, como regra geral (BRENES,1990), Fases do Trabalho de Parto Conforme Benzecry (2000), os produtos da concepção são expelidos do útero e da vagina, através do processo do parto que é dividido em três fases principais: fase de dilatação ou primeiro período – que compreende o intervalo entre o início do trabalho de parto e a dilatação completa da cérvix ; fase de expulsão ou segundo período – que começa com a dilatação do colo e termina com a expulsão do feto e secundamento ou terceiro período – com início logo após o desprendimento do feto, deslocamento, descida e expulsão da placenta e páreas. A fase de dilatação se inicia geralmente com contrações uterinas dolorosas e regulares iniciando a dilatação do colo que ao atingir 10 cm, encerra esta fase do parto e inicia a fase de expulsão com a descida do feto através do canal do parto, passando por três etapas: a) insinuação ou encaixamento – fase em que a cabeça fetal se encaixa; b) descida momento em que a cabeça fetal migra através do canal vaginal e sofre movimento de rotação no sentido anterior, alcançando a fenda vulvar e completando sua rotação no sentido anterior; c) desprendimento – já no exterior, a cabeça se movimenta em rotação externa, o ombro anterior transpõe a arcada pubiana e desprende-se por movimento de flexão lateral, quando então o restante do corpo fetal se desprende sem resistência e o feto é impulsionado através do canal de parto pelos movimentos voluntários da parede abdominal materna. As forças produzidas originam-se da compressão das paredes da vagina, reto e bexiga pelo pólo cefálico (BENZECRY, 2000). É na fase denominada secundamento que ocorrerão o descolamento da placenta que pela força das contrações uterinas se desloca para o segmento uterino inferior e porção superior da vagina e que ocorre a sua expulsão pelo canal vaginal onde poderá ocorrer a necessidade de intervenção manual para sua saída completa, tendo em vista que os esforços expulsivos maternos frequentemente são insuficientes. (BENZECRY, 2000). Parto Humanizado O movimento pela humanização do parto, no Brasil, é impulsionado por experiências em vários Estados a partir da década de 1970, por profissionais dissidentes inspirados por práticas de parteiras e índios. Vários grupos, na década de 1980, propõem mudanças nas práticas de assistência à gravidez e parto. Assim, em 1993, é fundada a Rede pela Humanização do Parto e Nascimento (Rehuna), que em seu documento denominado Carta de Campinas denuncia as circunstâncias de violência, constrangimento e condições pouco humanas no tratamento das mulheres e crianças no momento do nascimento (DINIZ, 2005). De acordo com Souza Silva e Dadam (2008) desde a década de 80, iniciativas para recuperar os valores humanos na assistência à mulher gestante, vem ocorrendo. Conforme Gaiva e Tavares (2002), a Organização Mundial da Saúde vem discutindo a humanização do parto desde 1980 e em 1985 fez uma revisão das tecnologias apropriadas para o nascimento. A esse respeito, Mamede, Mamede e Dotto (2007) reforçam que a posição vertical assumida pela parturiente tem ganhado destaque na assistência ao parto humanizado pelos profissionais, pois estudos vêm demonstrando que esta posição produz melhor efeito na progressão do trabalho de parto. Isso ocorre devido à melhora da circulação uterina, que permite às fibras musculares cumprirem com sua função contrátil de maneira eficiente, resultando em uma duração do trabalho de parto mais curta. A avaliação da ventilação pulmonar materna e do equilíbrio acidobásico materno e fetal, em relação à posição materna, mostra que, na posição vertical, se obtêm os melhores resultados tanto durante o período de dilatação como no expulsivo. As propostas para um parto humanizado recuperam uma parte do repertório de técnicas de alívio da dor, principalmente aquelas mais naturais e menos invasivas, reconhecendo a dor como sendo inerente ao processo fisiológico, e a necessidade da mulher saber enfrentá-la (TORNQUIST, 2003). Entretanto, é preciso compreender que o alívio total da dor não implica necessariamente em uma experiência mais satisfatória de parto. Quando a parturiente sente-se cuidada e confortada esta experiência é menos traumática, tendo em vista que seus medos não se limitam apenas a dor no parto, mas também em relação aos cuidados que receberão, uma vez que as experiências estão repletas de atendimento impessoal e distante (CARRARO et. al, 2007). Nesse sentido, humanizar o parto é basicamente respeitar a individualidade das pessoas, sabendo ver e escutar a paciente e permitir a adequação da assistência, segundo a cultura, crenças, valores e diversidade de opiniões da parturiente, o que implica em: realizar um trabalho de conscientização da mulher, discutindo com ela suas necessidades e demandas em relação ao parto, respeito no acompanhamento do processo fisiológico, respeito à individualidade da parturiente, respeito à integralidade da mulher, oferecimento de suporte emocional que se faça necessário, permissão da presença de acompanhante (RATTNER; TRENCHI, 2005). As ações de humanização do parto têm início no pré-natal quando um conjunto de cuidados, medidas e atividades com o objetivo de oferecer à mulher a possibilidade de vivenciar a experiência do trabalho de parto e parto como um processo fisiológico e sentimento de protagonista deverão ser prestados à gestante pelos profissionais de saúde. Medidas de prevenção e controle da ansiedade devem ser adotadas durante o pré-natal pelos profissionais envolvidos. A criação de grupos de apoio com participação de enfermeiro, psicólogo, assistente social é útil na transmissão das informações necessárias, assim como para os cuidados emocionais e afetivos relacionados ao estado gravídico e o preparo físico para o parto, como respiração, relaxamento e exercícios físicos que contribuirão durante a gravidez e o trabalho de parto (BRASIL, 2001). A prática de humanização do parto inclui o respeito ao processo fisiológico e a dinâmica de cada nascimento e abrange diferentes aspectos como idéias, valores, práticas e intervenções dos profissionais da saúde, clientes, familiares (SOUZA; SILVA; DADAM, 2008). Para Rattner e Trench (2005) várias iniciativas de humanização dos serviços de enfermagem devem ser empreendidas: disponibilidade dos profissionais para alterar suas práticas; integração das equipes, e um contínuo processo de treinamento dos profissionais; uma eficiente comunicação interna contemplando dados corretos e atualizados com relação ao número de leitos nas maternidades, vagas nas UTIs neonatais, etc.; derrubar os entraves corporativos que impedem a inserção da profissional parteira; melhor remuneração dos profissionais de saúde, em substituição à remuneração por produtividade que acaba por elevar o índice de cesáreas. A mídia pode contribuir para a humanização, relatando a positividade do parto normal, das histórias que deram certo; expondo situações de beleza e respeito no processo fisiológico, evidenciando que é possível questionar a autonomia da decisão do médico, divulgando os riscos desnecessários das cesáreas e divulgando os direitos dos pacientes (RATTNER; TRENCH, 2005) Técnicas para a humanização do parto As técnicas a serem adotadas para que a assistência ao parto normal seja humanizada devem obedecer aos critérios recomendados pelo Ministério da Saúde, como: a parturiente deve contar com dieta livre; ter direito a um acompanhante de sua escolha; ter liberdade para movimentação durante o trabalho de parto; ser estimulada à adoção de métodos não farmacológicos no alívio à dor - banho de aspersão e de imersão para relaxamento, massagens na região lombossacra, exercícios de respiração e de relaxamento, estímulos a movimentos corpóreos, tais como abaixar, levantar e balanço pélvico, estimulando ao acompanhante a participar na realização de massagens relaxantes para alívio da dor; estimular as eliminações espontâneas (micção e evacuação). A realização do exame tocoginecológico, deve ser autorizada pela parturiente, com respeito a sua privacidade. O profissional deve considerar o desejo de independência da parturiente no início do trabalho de parto e sua dependência no final deste; deve estimular a ingesta hídrica, realizar monitoramento fetal pela ausculta intermitente, usar o partograma; deve encorajar o parto em atmosfera favorável, permitir interação entre mãe e filho, estimular o contato pele a pele imediatamente após o nascimento, bem como o aleitamento precoce com estímulo à amamentação na primeira meia hora após o nascimento; estimular o vínculo afetivo com a secção do cordão umbilical pelo acompanhante, em condições estéreis, prevenir hipotermia do recém-nascido, favorecer a dequitação fisiológica com exame rotineiro da placenta e de membranas ovulares, permitir que a família fotografe o parto e o nascimento se desejar, autorizar alta precoce pós-parto para mãe e filho, com retorno ambulatorial após 48 horas, para consulta de ambos. O esclarecimento de dúvidas por acaso surgidas pelo acompanhante sobre condutas e procedimentos devem ser esclarecidas, bem como o estímulo à participação em todos os procedimentos durante o trabalho de parto e o parto (MACHADO; PRAÇA, 2006). Conforme Leão e Oliveira (2006) a restrição hídrica e alimentar são práticas inadequadas na condução do parto normal de acordo com a Organização Mundial de Saúde, assim, a dieta livre oferecida à parturiente, ajudará a manter o equilíbrio do corpo, fazendo com que ela tenha forças para desgastar na hora do parto. Da mesma forma, o acompanhante representa um suporte psíquico e emocional e a liberdade de movimentação durante o trabalho de parto auxilia a mulher em suas dores, uma vez que ela irá procurar a melhor posição, de acordo com suas próprias sensações e necessidades. A dor do parto é resultado de múltiplos fatores fisiológicos e psicológicos, de interpretação individual. Tem natureza visceral, determinada por distensão e dilatação do colo uterino e do peritônio. A parturiente sente-se mais ansiosa, provocando tensão medo e agravamento da dor, à medida que as contrações tornam-se mais freqüentes e intensas (DAVIM, 2007). A mulher protegida, que se não se sente amedrontada, libera a ocitocina que é o hormônio do amor, imprescindível para o parto (SOUZA E SILVA; DADAM, 2008). Segundo Davim (2007), existem estudos científicos que demonstram que o alívio da dor de mulheres em trabalho de parto é efetivo a partir de massagem, respiração lenta e modificada, liberdade de posição que melhora a circulação sanguínea e a ampliação do equilíbrio muscular, alívio do desconforto intestinal. De acordo com estudos de Dias e Deslandes (2006) a presença de um acompanhante no momento do parto segundo relatos de parturientes entrevistadas, quando negadas o acompanhante, acabam por serem deixadas de lado, ou ainda que na demora de serem atendidas sentem-se inseguras, com medo, violentadas emocionalmente. Muitos autores relatam que a deambulação durante o trabalho de parto tem um papel importante para o alívio da dor, embora nenhum deles explique como se dá esta influência. Uma investigação estudando os efeitos da deambulação sobre a sensação dolorosa no trabalho de parto verificou que aquelas parturientes que conseguiram deambular um maior trajeto aos 5 cm de dilatação pontuaram um valor mais alto no escore de dor, fazendo acreditar que a posição vertical favorece a maior intensidade das contrações uterinas como também o ajuste da cabeça fetal na bacia materna (MAMED; MAMEDE; DOTTO, 2007). De acordo com Leão e Oliveira (2006), a partir do movimento de humanização ao parto, a posição vertical para o parto e o apoio de familiares ou amigos da mulher, voltaram a ser incentivadas. Estudos têm revelado que, fisiologicamente, é muito melhor para a mãe e para o feto quando a mulher se mantém em movimento durante o trabalho de parto, pois o útero contrai-se muito mais eficazmente, o fluxo sangüíneo que chega ao bebê através da placenta é mais abundante, o trabalho de parto se torna mais curto, e a dor é menor (MAMED; MAMEDE; DOTTO, 2007). Quando o parto é vivenciado com dor, angústia, isolamento e medo, podem levar a mulher a distúrbios psicológicos, afetivos e emocionais. Assim, o relaxamento provocado pelos banhos, as massagens e os exercícios de respiração têm a finalidade de provocar relaxamento à parturiente, propiciando mais conforto e menos dor na hora do parto (LEÃO; OLIVEIRA, 2006). Conforme Gaiva e Tavares (2002), alguns autores consideram os primeiros momentos depois do parto, um dos mais importantes da vida do bebê e da mãe para o posterior desenvolvimento afetivo da família. Assim, deve ser permitido à mãe, tocar, acariciar seu filho neste primeiro contato físico, pois apesar da relação mãe-filho não ser a principal preocupação da equipe, é uma necessidade dela. O Trabalho de Enfermagem no Contexto da Humanização do Parto A assistência ao parto no Brasil pautou-se no modelo americano de prestação de assistência a esses eventos, que é caracterizado pela institucionalização do parto, utilização de novas tecnologias e grande número de intervenções e que foi sendo incorporada, nos últimos 35 anos, à concepção de risco obstétrico, classificando as gestações em: alto, médio e baixo risco, o que levou ao fato de na atualidade não existirem gestações sem risco (RATTNER; TRENCH, 2005). A revisão crítica dos modos de assistência ao parto vai de encontro à mudança de paradigma da assistência de enfermagem obstétrica e nos leva a uma preocupação com a segurança, com o direito de escolha e com a qualidade da experiência de dar à luz, para a mulher e o casal (OSAUA; TANAKA, 1997). Humanizar o parto significa contribuir para a implantação de serviços de atenção ao parto menos intervencionistas, propiciando a vivência do trabalho de parto, parto e nascimento como experiências positivas e enriquecedoras (DOMINGUES; SANTOS; LEAL, 2004). Conforme Rattner e Trench (2005), a humanização abrange uma série de aspectos distintos: idéias, valores, práticas e envolvem as relações entre profissionais de saúde, pacientes e familiares e/ou acompanhantes, procedimentos técnicos, rotinas de serviços, relacionamento entre os membros da equipe profissional. Sendo o parto um processo psicossomático, a evolução do trabalho de parto, o nível de informação da mulher, sua história pessoal, personalidade e contexto sócioeconômico implicarão no comportamento da gestante ou parturiente. Cabe aos profissionais de enfermagem, a reflexão sobre as vantagens de cada tipo de parto, sobre as condições de nascimento (DAVIM; MENEZES, 2001). De acordo com Domingues, Santos e Leal (2004), embora fisiologicamente seja igual em todas as sociedades, o parto é um evento biossocial, marcante na vida das mulheres e de suas famílias, cercado de valores culturais, sociais, emocionais e afetivos, razões pelas quais deve ser tratado com individualidade. Para favorecer que o trabalho de parto e parto sejam vivenciados com mais traquilidade e participação, a mulher e seu acompanhante deverão ser preparados para este momento, resgatando o evento do nascimento como um momento da família (BRASIL, 2001). Para Ceccato e Van Der Sand (2001) a interação no contato com o paciente e no resgate do cuidado humano, constitui o cuidado como foco central da enfermagem. Assim, a enfermagem precisa desenvolver uma relação interdependente, propiciando condições de crescimento e aprendizagem, que contribuirão para a consolidação de novas experiências, enriquecendo a sua capacidade de cuidar, evitando um contexto reducionista e não apenas se pautando na identificação dos sinais e sintomas clínicos, mas também, nas modificações que ocorrem na estrutura dos seres humanos as quais abalam a sua totalidade. Para Almeida et al. (2005) a importância e a responsabilidade do cuidado de enfermagem no pré-natal, podem contribuir para diminuir e minimizar os fatores sócio – culturais implícitos nos altos índices de partos cesáreos. O cuidado e o conforto durante o trabalho de parto, não deve ser simplificado e considerado apenas sob a ótica do alívio da dor. Cuidar é olhar, enxergando; ouvir, escutando; observar, percebendo; sentir, enfatizando com o outro, estando disponível para fazer com ou para o outro. Assim, a condição essencial para que ocorra o conforto é adequar o ambiente favoravelmente à que a pessoa seja cuidada e sinta que está sendo cuidada, pois lhe foi oferecido/ofertado afeto, calor, atenção e amor e estes favorecerão o alívio, a segurança e o bem-estar (CARRARO et al., 2007). A formação da enfermagem, com vistas à humanização no cuidado, necessita dar maior ênfase aos aspectos fisiológicos, emocionais e socioculturais do processo reprodutivo, para atender uma atuação com: compreensão do fenômeno da reprodução como singular, contínuo e saudável, cujo foco é a mulher que se desenvolve em determinado contexto sócio-histórico; desenvolvimento do processo assistencial e educativo, possibilitando às pessoas envolvidas tomarem suas decisões de saúde; tomada de decisões com base em conhecimento científico, habilidade técnica e julgamento intuitivo; valorização da atuação interdisciplinar e do saber e desenvolvimento das atribuições baseado na responsabilidade ética-política e autonomia profissional (RIESCO; TSUNECHIRO, 2002). Considerações Finais As práticas de assistência ao parto, assim como as evidências científicas, permitem afirmar que a assistência humanizada ao parto propicia melhores resultados maternos e perinatais. O que se pode constatar é que, sendo a cesárea uma intervenção cirúrgica, potencialmente infectada, com grandes riscos à infecção, exige uma série de cuidados clínicos, técnicos e anestésicos associados a algumas complicações que devem ser pesados e ponderados antes de uma indicação e deve ser determinada sob critérios estritamente clínicos e obstétricos. Embora, quando bem recomendada cumpra seu papel na diminuição da morbidade e mortalidade materna e perinatal, sua realização quando desnecessária expõe a gestante esses mesmos riscos, que são maiores do que no parto vaginal. Por outro lado, a ênfase no cuidado é essencial à prática de enfermagem e seu ideal. O cuidar com base no modelo biomédico, com o propósito de curar meramente, constitui-se como o cumprimento da prescrição médica, caracterizando-se como rotineiro e burocrático. A humanização do parto, é uma tendência mundial, na busca da diminuição de partos por cesárea e conseqüente diminuição de riscos, restabelecimento da parturiente, e baixa de índice de mortalidade da mãe. O nosso papel como profissionais de saúde e como centro de referência é construir um novo caminho. O fazer diferenciado, individualizado e refletido é o que caracteriza o cuidado humanizado. Um resgate de nossa capacidade de ouvir o ser humano e de escutar o que seu silêncio comunica, de olhar em seus olhos e de enxergar a sua essência. Referências ALMEIDA, N. A. M. de; MARTINS, C. A.; VASCONCELOS, K. L.; RIOS, C. H. A.; LUCAS, E. A.; MACHADO, E. A.; MEDEIROS, A. V. de. A humanização no cuidado à parturição. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 07, n. 03, p. 355-359. 2005. Disponível em: < http://www.revistas.ufg.br/index.php/fen/article/view/892/1077>. BENZECRY, R. Tratado de obstetrícia Febrasg. Rio de Janeiro: Revinter, 2000. BRASIL, Ministério da Saúde. 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