HUMANIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA AO PARTO
Ilda Soares Barbosa¹; Ivanete Ferreira da Silva Dias²; Kátia do Carmo Ito³
Resumo
Ao longo da história, o nascimento deixou de ser encarado como um processo fisiológico
normal da mulher, assumindo caráter complexo e exigindo intervenções médicas, dando ao
parto uma concepção de risco obstétrico, penalizando a mulher e sua família, elevando o índice
de nascimentos por cesárea para 41,8% de ocorrência no Brasil. Este estudo tem como
metodologia revisão literária dos últimos quinze anos, com o objetivo de descrever a
humanização na assistência do parto. A preocupação com segurança, direito de escolha e
qualidade da experiência de parto, nos faz compreender que o papel da enfermagem sob esta
ótica, visa o cuidar humano repleto de afeto, calor, atenção, amor e ajuda nas forças naturais do
parto, cuidando do conforto físico, dando ênfase não só aos aspectos fisiológicos como aos
emocionais e socioculturais do processo reprodutivo.
Palavras-Chaves: parto, parto humanizado, cuidados de enfermagem, Humanização da
Assistência.
Abstract
Throughout history, the birth is no longer seen as a normal physiological process of the
woman, taking the complex and demanding medical interventions, giving birth to a concept of
obstetric risk, and penalize the woman and her family, raising the rate of births by cesarean to
41.8% of occurrence in Brazil. This study aims methodology literature review of the last
fifteen years, in order to describe the humanization in delivery. Concerns about safety, the right
choice and quality of childbirth experience, makes us understand that the role of nursing in this
light, refers to human care full of affection, warmth, attention, love and help the forces of
natural childbirth, caring for physical comfort, emphasizing not only the physiological aspects
and the emotional and cultural reproductive process.
Key Words: labor; humanized delivery, nursing care, Humanization of assistance.
¹ Pós-graduanda em Saúde coletiva e Saúde da Família (Instituto de Ensino Superior de Londrina-INESUL).
Graduada em Enfermagem pelo Instituto de Ensino Superior de Londrina – INESUL. E-mail:
[email protected].
² ¹ Pós-graduanda em Saúde coletiva e Saúde da Família (Instituto de Ensino Superior de Londrina-INESUL).
Graduada em Enfermagem pelo Instituto de Ensino Superior de Londrina – INESUL. E-mail:
[email protected].
³ Pós-graduanda em Saúde coletiva e Saúde da Família (Instituto de Ensino Superior de Londrina-INESUL).
Graduada em Enfermagem pela Universidade Norte do Paraná – UNOPAR. E-MAIL: [email protected].
Introdução
A Gravidez é um processo fisiológico que representa a capacidade
reprodutiva inerente à mulher e traz ao organismo feminino uma série de mudanças físicas e
emocionais. Essas transformações podem gerar medo, dúvidas, angústias, fantasias ou,
simplesmente, curiosidade em saber o que acontece com o próprio corpo (BRASIL, 2000).
De acordo com Ferreira (1986), o termo humanização vem de humanizar
que é a prática do humano, entendendo-se por humano a natureza bondosa, humanitária,
benevolente. Assim, como humanos que somos, é natural que exerçamos a benevolência, a
clemência, a compaixão, visando o bem estar da humanidade individualmente e coletivamente.
Corbani, Brêtas e Matheus (2009) observam que a humanidade é
identificada principalmente pelo cuidado, não somente pelo técnico-curativo. O sentimento de
humanidade, são expressos no cuidado, designa amor, amizade, cura. Assim, deixar de cuidar é
contra a própria natureza humana, desumaniza e nos torna desnaturados e cruéis em nosso
comportamento para com o outro, fazendo com que deixemos de enxergar o foco principal: o
espírito do homem.
Embora possa ser bastante diversificado, o conceito de humanização do
parto vem sendo defendido como um processo que respeita a individualidade das mulheres,
permitindo a adequação da assistência à sua cultura, crenças, valores e diversidade de opiniões.
A escolha do médico, do local e da forma como o nascimento do bebê acontecerá, deve ser
definida pela parturiente, uma vez que o momento do parto é na verdade uma soma de fatores
físicos e emocionais que serão vivenciados por ela (CASTRO; CLAPIS, 2005).
Portanto os conceitos de Parto Humanizado estão sendo praticados em
diversas maternidades brasileiras com excelentes resultados, tanto no aspecto de melhoria da
qualidade assistencial como na redução do custo assistencial.
O papel da enfermagem no parto humanizado é o de ajudar nas forças
naturais do parto, criando condições favoráveis para o processo do parto natural, cuidando de
todos os aspectos que o envolve como: conforto físico, cuidado personalizado, privacidade e
suporte psicológico, com sensibilidade, respeito e solidariedade, à mulher e à sua família
(DOMINGUES; SANTOS; LEAL, 2004).
O conjunto dessas medidas tornar-se-á efetivo, quando, somados a ele, os
profissionais de saúde transformarem sua prática na direção de uma relação mais humanizada e
segura. O parto precisa ser resgatado como o momento do nascimento, respeitando todos seus
significados e devolvendo à mulher o seu direito de ser mãe com humanidade e segurança
(BRASIL, 2000).
História do Parto
De acordo com Brenes (1990) antigamente, os partos e cuidados pós
parto eram realizados por mulheres conhecidas popularmente como aparadeiras, comadres ou
mesmo de parteiras-leigas. Estas mulheres eram de inteira confiança e detinham um saber
empírico sobre a gestação parto e puerpério.
No século XVII ocorreu uma grande transformação na obstetrícia: a
introdução dos cirurgiões na assistência ao parto, pois ainda não existia a obstetrícia e a
ginecologia como especialidade médica (MACHADO, 1995).
Segundo Diniz (2005), somente em 1852 é que a prática das parteiras
passou a ser institucionalizada, mas sob o controle médico.
De acordo com Riesco e Tsunechiro (2002) o registro do primeiro
documento legal sobre o ensino de parteiras é de 1832, tendo sido fornecido pela Faculdade de
Medicina que entre outros cursos, incluiu em seu currículo, o Curso de Partos.
Até 1832, era concedida pelo Físico-Mor ou Cirurgição-Mor do Império,
às mulheres que se dedicavam a partejar, uma “carta de examinação” e uma licença da
Chancelaria, representando um controle sobre o exercício da atividade das parteiras pelos
médicos, e “de 1832 a 1949, toda a legislação do ensino de parteiras esteve contida na
legislação do ensino da medicina” (RIESCO; TSUNECHIRO, 2002).
Conforme Gaiva e Tavares (2002), as parteiras passaram a receber
formação científica, e a desenvolver suas atividades em instituições hospitalares, o que fez com
que abandonassem seu conhecimento empírico sobre os ritos de passagem da gravidez, parto e
lactação.
Em 1910, os médicos tinham duas lutas a travar: a primeira dizia respeito
à conquista de clínicas de partos, maternidade e hospital junto à escola. A segunda, conseguir
trazer a mulher à clínica, ao hospital, ao consultório, havendo todo um esforço por parte da
corporação médica em construir uma imagem de médico que inspirasse confiança na
população. No Brasil, foi a partir da década de 1950 que o parto foi institucionalizado e
medicalizado, como regra geral (BRENES,1990),
Fases do Trabalho de Parto
Conforme Benzecry (2000), os produtos da concepção são expelidos do
útero e da vagina, através do processo do parto que é dividido em três fases principais: fase de
dilatação ou primeiro período – que compreende o intervalo entre o início do trabalho de parto
e a dilatação completa da cérvix ; fase de expulsão ou segundo período – que começa com a
dilatação do colo e termina com a expulsão do feto e secundamento ou terceiro período – com
início logo após o desprendimento do feto, deslocamento, descida e expulsão da placenta e
páreas.
A fase de dilatação se inicia geralmente com contrações uterinas
dolorosas e regulares iniciando a dilatação do colo que ao atingir 10 cm, encerra esta fase do
parto e inicia a fase de expulsão com a descida do feto através do canal do parto, passando por
três etapas: a) insinuação ou encaixamento – fase em que a cabeça fetal se encaixa; b) descida momento em que a cabeça fetal migra através do canal vaginal e sofre movimento de rotação
no sentido anterior, alcançando a fenda vulvar e completando sua rotação no sentido anterior;
c) desprendimento – já no exterior, a cabeça se movimenta em rotação externa, o ombro
anterior transpõe a arcada pubiana e desprende-se por movimento de flexão lateral, quando
então o restante do corpo fetal se desprende sem resistência e o feto é impulsionado através do
canal de parto pelos movimentos voluntários da parede abdominal materna. As forças
produzidas originam-se da compressão das paredes da vagina, reto e bexiga pelo pólo cefálico
(BENZECRY, 2000).
É na fase denominada secundamento que ocorrerão o descolamento da
placenta que pela força das contrações uterinas se desloca para o segmento uterino inferior e
porção superior da vagina e que ocorre a sua expulsão pelo canal vaginal onde poderá ocorrer a
necessidade de intervenção manual para sua saída completa, tendo em vista que os esforços
expulsivos maternos frequentemente são insuficientes. (BENZECRY, 2000).
Parto Humanizado
O movimento pela humanização do parto, no Brasil, é impulsionado por
experiências em vários Estados a partir da década de 1970, por profissionais dissidentes
inspirados por práticas de parteiras e índios. Vários grupos, na década de 1980, propõem
mudanças nas práticas de assistência à gravidez e parto. Assim, em 1993, é fundada a Rede
pela Humanização do Parto e Nascimento (Rehuna), que em seu documento denominado Carta
de Campinas denuncia as circunstâncias de violência, constrangimento e condições pouco
humanas no tratamento das mulheres e crianças no momento do nascimento (DINIZ, 2005).
De acordo com Souza Silva e Dadam (2008) desde a década de 80,
iniciativas para recuperar os valores humanos na assistência à mulher gestante, vem ocorrendo.
Conforme Gaiva e Tavares (2002), a Organização Mundial da Saúde vem
discutindo a humanização do parto desde 1980 e em 1985 fez uma revisão das tecnologias
apropriadas para o nascimento.
A esse respeito, Mamede, Mamede e Dotto (2007) reforçam que a
posição vertical assumida pela parturiente tem ganhado destaque na assistência ao parto
humanizado pelos profissionais, pois estudos vêm demonstrando que esta posição produz
melhor efeito na progressão do trabalho de parto. Isso ocorre devido à melhora da circulação
uterina, que permite às fibras musculares cumprirem com sua função contrátil de maneira
eficiente, resultando em uma duração do trabalho de parto mais curta. A avaliação da
ventilação pulmonar materna e do equilíbrio acidobásico materno e fetal, em relação à posição
materna, mostra que, na posição vertical, se obtêm os melhores resultados tanto durante o
período de dilatação como no expulsivo.
As propostas para um parto humanizado recuperam uma parte do
repertório de técnicas de alívio da dor, principalmente aquelas mais naturais e menos invasivas,
reconhecendo a dor como sendo inerente ao processo fisiológico, e a necessidade da mulher
saber enfrentá-la (TORNQUIST, 2003).
Entretanto, é preciso compreender que o alívio total da dor não implica
necessariamente em uma experiência mais satisfatória de parto. Quando a parturiente sente-se
cuidada e confortada esta experiência é menos traumática, tendo em vista que seus medos não
se limitam apenas a dor no parto, mas também em relação aos cuidados que receberão, uma
vez que as experiências estão repletas de atendimento impessoal e distante (CARRARO et. al,
2007).
Nesse
sentido,
humanizar
o
parto
é
basicamente
respeitar
a
individualidade das pessoas, sabendo ver e escutar a paciente e permitir a adequação da
assistência, segundo a cultura, crenças, valores e diversidade de opiniões da parturiente, o que
implica em: realizar um trabalho de conscientização da mulher, discutindo com ela suas
necessidades e demandas em relação ao parto, respeito no acompanhamento do processo
fisiológico, respeito à individualidade da parturiente, respeito à integralidade da mulher,
oferecimento de suporte emocional que se faça necessário, permissão da presença de
acompanhante (RATTNER; TRENCHI, 2005).
As ações de humanização do parto têm início no pré-natal quando um
conjunto de cuidados, medidas e atividades com o objetivo de oferecer à mulher a
possibilidade de vivenciar a experiência do trabalho de parto e parto como um processo
fisiológico e sentimento de protagonista deverão ser prestados à gestante pelos profissionais de
saúde. Medidas de prevenção e controle da ansiedade devem ser adotadas durante o pré-natal
pelos profissionais envolvidos. A criação de grupos de apoio com participação de enfermeiro,
psicólogo, assistente social é útil na transmissão das informações necessárias, assim como para
os cuidados emocionais e afetivos relacionados ao estado gravídico e o preparo físico para o
parto, como respiração, relaxamento e exercícios físicos que contribuirão durante a gravidez e
o trabalho de parto (BRASIL, 2001).
A prática de humanização do parto inclui o respeito ao processo
fisiológico e a dinâmica de cada nascimento e abrange diferentes aspectos como idéias,
valores, práticas e intervenções dos profissionais da saúde, clientes, familiares (SOUZA;
SILVA; DADAM, 2008).
Para Rattner e Trench (2005) várias iniciativas de humanização dos
serviços de enfermagem devem ser empreendidas: disponibilidade dos profissionais para
alterar suas práticas; integração das equipes, e um contínuo processo de treinamento dos
profissionais; uma eficiente comunicação interna contemplando dados corretos e atualizados
com relação ao número de leitos nas maternidades, vagas nas UTIs neonatais, etc.; derrubar os
entraves corporativos que impedem a inserção da profissional parteira; melhor remuneração
dos profissionais de saúde, em substituição à remuneração por produtividade que acaba por
elevar o índice de cesáreas.
A mídia pode contribuir para a humanização, relatando a positividade do
parto normal, das histórias que deram certo; expondo situações de beleza e respeito no
processo fisiológico, evidenciando que é possível questionar a autonomia da decisão do
médico, divulgando os riscos desnecessários das cesáreas e divulgando os direitos dos
pacientes (RATTNER; TRENCH, 2005)
Técnicas para a humanização do parto
As técnicas a serem adotadas para que a assistência ao parto normal seja
humanizada devem obedecer aos critérios recomendados pelo Ministério da Saúde, como: a
parturiente deve contar com dieta livre; ter direito a um acompanhante de sua escolha; ter
liberdade para movimentação durante o trabalho de parto; ser estimulada à adoção de métodos
não farmacológicos no alívio à dor - banho de aspersão e de imersão para relaxamento,
massagens na região lombossacra, exercícios de respiração e de relaxamento, estímulos a
movimentos corpóreos, tais como abaixar, levantar e balanço pélvico, estimulando ao
acompanhante a participar na realização de massagens relaxantes para alívio da dor; estimular
as eliminações espontâneas (micção e evacuação). A realização do exame tocoginecológico,
deve ser autorizada pela parturiente, com respeito a sua privacidade. O profissional deve
considerar o desejo de independência da parturiente no início do trabalho de parto e sua
dependência no final deste; deve estimular a ingesta hídrica, realizar monitoramento fetal pela
ausculta intermitente, usar o partograma; deve encorajar o parto em atmosfera favorável,
permitir interação entre mãe e filho, estimular o contato pele a pele imediatamente após o
nascimento, bem como o aleitamento precoce com estímulo à amamentação na primeira meia
hora após o nascimento; estimular o vínculo afetivo com a secção do cordão umbilical pelo
acompanhante, em condições estéreis, prevenir hipotermia do recém-nascido, favorecer a
dequitação fisiológica com exame rotineiro da placenta e de membranas ovulares, permitir que
a família fotografe o parto e o nascimento se desejar, autorizar alta precoce pós-parto para mãe
e filho, com retorno ambulatorial após 48 horas, para consulta de ambos. O esclarecimento de
dúvidas por acaso surgidas pelo acompanhante sobre condutas e procedimentos devem ser
esclarecidas, bem como o estímulo à participação em todos os procedimentos durante o
trabalho de parto e o parto (MACHADO; PRAÇA, 2006).
Conforme Leão e Oliveira (2006) a restrição hídrica e alimentar são
práticas inadequadas na condução do parto normal de acordo com a Organização Mundial de
Saúde, assim, a dieta livre oferecida à parturiente, ajudará a manter o equilíbrio do corpo,
fazendo com que ela tenha forças para desgastar na hora do parto. Da mesma forma, o
acompanhante representa um suporte psíquico e emocional e a liberdade de movimentação
durante o trabalho de parto auxilia a mulher em suas dores, uma vez que ela irá procurar a
melhor posição, de acordo com suas próprias sensações e necessidades.
A dor do parto é resultado de múltiplos fatores fisiológicos e
psicológicos, de interpretação individual. Tem natureza visceral, determinada por distensão e
dilatação do colo uterino e do peritônio. A parturiente sente-se mais ansiosa, provocando
tensão medo e agravamento da dor, à medida que as contrações tornam-se mais freqüentes e
intensas (DAVIM, 2007).
A mulher protegida, que se não se sente amedrontada, libera a ocitocina
que é o hormônio do amor, imprescindível para o parto (SOUZA E SILVA; DADAM, 2008).
Segundo Davim (2007), existem estudos científicos que demonstram que
o alívio da dor de mulheres em trabalho de parto é efetivo a partir de massagem, respiração
lenta e modificada, liberdade de posição que melhora a circulação sanguínea e a ampliação do
equilíbrio muscular, alívio do desconforto intestinal.
De acordo com estudos de Dias e Deslandes (2006) a presença de um
acompanhante no momento do parto segundo relatos de parturientes entrevistadas, quando
negadas o acompanhante, acabam por serem deixadas de lado, ou ainda que na demora de
serem atendidas sentem-se inseguras, com medo, violentadas emocionalmente.
Muitos autores relatam que a deambulação durante o trabalho de parto
tem um papel importante para o alívio da dor, embora nenhum deles explique como se dá esta
influência. Uma investigação estudando os efeitos da deambulação sobre a sensação dolorosa
no trabalho de parto verificou que aquelas parturientes que conseguiram deambular um maior
trajeto aos 5 cm de dilatação pontuaram um valor mais alto no escore de dor, fazendo acreditar
que a posição vertical favorece a maior intensidade das contrações uterinas como também o
ajuste da cabeça fetal na bacia materna (MAMED; MAMEDE; DOTTO, 2007).
De acordo com Leão e Oliveira (2006), a partir do movimento de
humanização ao parto, a posição vertical para o parto e o apoio de familiares ou amigos da
mulher, voltaram a ser incentivadas.
Estudos têm revelado que, fisiologicamente, é muito melhor para a mãe e
para o feto quando a mulher se mantém em movimento durante o trabalho de parto, pois o
útero contrai-se muito mais eficazmente, o fluxo sangüíneo que chega ao bebê através da
placenta é mais abundante, o trabalho de parto se torna mais curto, e a dor é menor (MAMED;
MAMEDE; DOTTO, 2007).
Quando o parto é vivenciado com dor, angústia, isolamento e medo,
podem levar a mulher a distúrbios psicológicos, afetivos e emocionais. Assim, o relaxamento
provocado pelos banhos, as massagens e os exercícios de respiração têm a finalidade de
provocar relaxamento à parturiente, propiciando mais conforto e menos dor na hora do parto
(LEÃO; OLIVEIRA, 2006).
Conforme Gaiva e Tavares (2002), alguns autores consideram os
primeiros momentos depois do parto, um dos mais importantes da vida do bebê e da mãe para
o posterior desenvolvimento afetivo da família. Assim, deve ser permitido à mãe, tocar,
acariciar seu filho neste primeiro contato físico, pois apesar da relação mãe-filho não ser a
principal preocupação da equipe, é uma necessidade dela.
O Trabalho de Enfermagem no Contexto da Humanização do Parto
A assistência ao parto no Brasil pautou-se no modelo americano de
prestação de assistência a esses eventos, que é caracterizado pela institucionalização do parto,
utilização de novas tecnologias e grande número de intervenções e que foi sendo incorporada,
nos últimos 35 anos, à concepção de risco obstétrico, classificando as gestações em: alto,
médio e baixo risco, o que levou ao fato de na atualidade não existirem gestações sem risco
(RATTNER; TRENCH, 2005).
A revisão crítica dos modos de assistência ao parto vai de encontro à
mudança de paradigma da assistência de enfermagem obstétrica e nos leva a uma preocupação
com a segurança, com o direito de escolha e com a qualidade da experiência de dar à luz, para
a mulher e o casal (OSAUA; TANAKA, 1997).
Humanizar o parto significa contribuir para a implantação de serviços de
atenção ao parto menos intervencionistas, propiciando a vivência do trabalho de parto, parto e
nascimento como experiências positivas e enriquecedoras (DOMINGUES; SANTOS; LEAL,
2004).
Conforme Rattner e Trench (2005), a humanização abrange uma série de
aspectos distintos: idéias, valores, práticas e envolvem as relações entre profissionais de saúde,
pacientes e familiares e/ou acompanhantes, procedimentos técnicos, rotinas de serviços,
relacionamento entre os membros da equipe profissional.
Sendo o parto um processo psicossomático, a evolução do trabalho de
parto, o nível de informação da mulher, sua história pessoal, personalidade e contexto sócioeconômico implicarão no comportamento da gestante ou parturiente. Cabe aos profissionais de
enfermagem, a reflexão sobre as vantagens de cada tipo de parto, sobre as condições de
nascimento (DAVIM; MENEZES, 2001).
De
acordo
com
Domingues,
Santos
e
Leal
(2004),
embora
fisiologicamente seja igual em todas as sociedades, o parto é um evento biossocial, marcante
na vida das mulheres e de suas famílias, cercado de valores culturais, sociais, emocionais e
afetivos, razões pelas quais deve ser tratado com individualidade.
Para favorecer que o trabalho de parto e parto sejam vivenciados com
mais traquilidade e participação, a mulher e seu acompanhante deverão ser preparados para
este momento, resgatando o evento do nascimento como um momento da família (BRASIL,
2001).
Para Ceccato e Van Der Sand (2001) a interação no contato com o
paciente e no resgate do cuidado humano, constitui o cuidado como foco central da
enfermagem. Assim, a enfermagem precisa desenvolver uma relação interdependente,
propiciando condições de crescimento e aprendizagem, que contribuirão para a consolidação
de novas experiências, enriquecendo a sua capacidade de cuidar, evitando um contexto
reducionista e não apenas se pautando na identificação dos sinais e sintomas clínicos, mas
também, nas modificações que ocorrem na estrutura dos seres humanos as quais abalam a sua
totalidade.
Para Almeida et al. (2005) a importância e a responsabilidade do cuidado
de enfermagem no pré-natal, podem contribuir para diminuir e minimizar os fatores sócio –
culturais implícitos nos altos índices de partos cesáreos.
O cuidado e o conforto durante o trabalho de parto, não deve ser
simplificado e considerado apenas sob a ótica do alívio da dor. Cuidar é olhar, enxergando;
ouvir, escutando; observar, percebendo; sentir, enfatizando com o outro, estando disponível
para fazer com ou para o outro. Assim, a condição essencial para que ocorra o conforto é
adequar o ambiente favoravelmente à que a pessoa seja cuidada e sinta que está sendo cuidada,
pois lhe foi oferecido/ofertado afeto, calor, atenção e amor e estes favorecerão o alívio, a
segurança e o bem-estar (CARRARO et al., 2007).
A formação da enfermagem, com vistas à humanização no cuidado,
necessita dar maior ênfase aos aspectos fisiológicos, emocionais e socioculturais do processo
reprodutivo, para atender uma atuação com: compreensão do fenômeno da reprodução como
singular, contínuo e saudável, cujo foco é a mulher que se desenvolve em determinado
contexto sócio-histórico; desenvolvimento do processo assistencial e educativo, possibilitando
às pessoas envolvidas tomarem suas decisões de saúde; tomada de decisões com base em
conhecimento científico, habilidade técnica e julgamento intuitivo; valorização da atuação
interdisciplinar e do saber e desenvolvimento das atribuições baseado na responsabilidade
ética-política e autonomia profissional (RIESCO; TSUNECHIRO, 2002).
Considerações Finais
As práticas de assistência ao parto, assim como as evidências científicas,
permitem afirmar que a assistência humanizada ao parto propicia melhores resultados maternos
e perinatais.
O que se pode constatar é que, sendo a cesárea uma intervenção cirúrgica,
potencialmente infectada, com grandes riscos à infecção, exige uma série de cuidados clínicos,
técnicos e anestésicos associados a algumas complicações que devem ser pesados e ponderados
antes de uma indicação e deve ser determinada sob critérios estritamente clínicos e obstétricos.
Embora, quando bem recomendada cumpra seu papel na diminuição da morbidade e
mortalidade materna e perinatal, sua realização quando desnecessária expõe a gestante esses
mesmos riscos, que são maiores do que no parto vaginal.
Por outro lado, a ênfase no cuidado é essencial à prática de enfermagem e
seu ideal. O cuidar com base no modelo biomédico, com o propósito de curar meramente,
constitui-se como o cumprimento da prescrição médica, caracterizando-se como rotineiro e
burocrático.
A humanização do parto, é uma tendência mundial, na busca da
diminuição de partos por cesárea e conseqüente diminuição de riscos, restabelecimento da
parturiente, e baixa de índice de mortalidade da mãe.
O nosso papel como profissionais de saúde e como centro de referência é
construir um novo caminho. O fazer diferenciado, individualizado e refletido é o que
caracteriza o cuidado humanizado. Um resgate de nossa capacidade de ouvir o ser humano e de
escutar o que seu silêncio comunica, de olhar em seus olhos e de enxergar a sua essência.
Referências
ALMEIDA, N. A. M. de; MARTINS, C. A.; VASCONCELOS, K. L.; RIOS, C. H. A.;
LUCAS, E. A.; MACHADO, E. A.; MEDEIROS, A. V. de. A humanização no cuidado à
parturição. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 07, n. 03, p. 355-359. 2005. Disponível
em: < http://www.revistas.ufg.br/index.php/fen/article/view/892/1077>.
BENZECRY, R. Tratado de obstetrícia Febrasg. Rio de Janeiro: Revinter, 2000.
BRASIL, Ministério da Saúde. Coordenação de Saúde Materno Infantil. Programa de
Assistência Integral a Saúde da Mulher. Assistência Pré-natal: Manual Técnico. 3. ed. Brasília,
2000,
BRASIL, Parto, aborto e puerpério: assistência humanizada à mulher. Brasília: Ministério da
Saúde. 2001. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/cd04_13.pdf>.
BRENES, A. C. 1990. História da parturiação no Brasil, século XIX. Cadernos de Saúde
Pública. Rio de Janeiro v. 7, n. 2, abr./jun. 1991. Disponível em
<http://www.scielo.br/scielo.php
CARRARO,T. E.; KNOBEL, R.; RADÜNZ, V.; MEINCKE, S. M. K., FIEWSKI, M. F. C.;
FRELLO, A. T.; MARTINS, M. da S.; LOPES,C. V.; BERTON, A. Cuidado e conforto
durante o trabalho de parto e parto: na busca pela opinião das mulheres. 2007. Disponível
em: < http://www.scielo.br/pdf/tce/v15nspe/v15nspea11. pdf > .
CASTRO, J. C. de; CLAPIS, M. J. Parto humanizado na percepção das enfermeiras obstétricas
envolvidas com a assistência ao parto. Revista Latino-Americana de Enfermagem, v. 13, n.
6, p. 960-967, 2005. Disponível em: http://www.scielo.br/
CECCATO, S. R.; VAN DER SAND, I. C. P. O cuidado humano como princípio da
assistência de enfermagem à parturiente e seus familiares. Revista Eletrônica de
Enfermagem, Goiânia, v. 3, n. 1, jan - jun, 2001. Disponível em: < http://www.fen.
ufg.br/revista/revista3_1/cuidado.htm1 >.
CORBANI, N. M. de S.; BRETAS, A. C. P.; MATHEUS, M. C. C.. Humanização do cuidado
de enfermagem: o que é isso? Revista brasileira de Enfermagem, v. 62, n. 3, p. 349-354,
2009. Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/ reben/v62n3/03.pdf>.
DAVIM, R. M. B.; MENEZES, R. M. P. de. Assistência ao parto normal no domicílio. Revista
Latino-Americana de Enfermagem, Ribeirão Preto, v. 9, n. 6, nov. 2001. Disponível em
<http://www.scielo.br/scielo.php
DIAS, M. A. B.; DESLANDES, S. F. Expectativas sobre a assistência ao parto de mulheres
usuárias de uma maternidade pública do Rio de Janeiro, Brasil: os desafios de uma política
pública de humanização da assistência. Caderno saúde pública, n. 22, v. 12, p. 2647-2655,
2006. Disponível em: <http://www.arca. fiocruz.br/dspace/handle/arca.icict.fiocruz.br/1115>.
DINIZ, C. S. G. Humanização da assistência ao parto no Brasil: os muitos sentidos de um
movimento. Ciência saúde coletiva, vol.10, n.3, p. 627-637, 2005. Disponível
em:<http://www.scielosp.org/scielo.php
DOMINGUES, R. M. S. M.; SANTOS, E. M. dos; LEAL, M. do C. Aspectos da satisfação das
mulheres com a assistência ao parto: contribuição para o debate. Caderno Saúde Pública, Rio
de Janeiro, 2004. Disponível em <http://www.scielo. br/scielo.php
FERREIRA, A. B. de H. Novo dicionário da língua portuguesa. 2ª ed. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 1986.
GAIVA, M. A. M; TAVARES, C. M. A. O nascimento: um ato de violência ao recémnascido? Revista Gaúcha de Enfermagem. Porto Alegre, v. 23, n. 1, p. 132-145, jan/2002.
Disponível em: < http://www.seer.ufrgs.br/index.php/RevistaGauchade
Enfermagem/article/viewArticle/4408 >
LEÃO V. M.; OLIVEIRA, S. M. J. V. O papel da doula na assistência à parturiente. Revista
Mineira de Enfermagem, n. 10, v. 1, p. 24-29, jan./mar 2006. Disponível em: <
http://bases.bireme.br
MAMEDE F. V.; MAMEDE M. V.; DOTTO, L. M. G. l. Reflexões sobre deambulação e
posição materna no trabalho de parto e parto. Revista de Enfermagem da Escola Anna Nery,
v. 2, n. 11, p. 337–342, jun. 2007. Disponível em: <http://bases.bireme.br
MACHADO, Emerson de Godói Cordeiro. Gestação, Parto e Maternidade: uma visão holística.
Belo Horizonte, Editora Aurora, 1995.
MACHADO, N.X. DE S; PRAÇA, N. S. Centro de parto normal e a assistência obstétrica
centrada nas necessidades da parturiente. Revista da Escola de Enfermagem da USP, São
Paulo, v 40, n. 2, jun. 2006. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php
OSAUA, R. H.; TANAKA, A. C. d’A. Os paradigmas da enfermagem obstétrica. Revista da
Escola de Enfermagem, n. 31, p. 96-108.
1997. Disponível em: < http://
www.ee.uso.br/reeusp/index.php?p=html&id=376.
RATTNER, D.; TRENCH, B. (Orgs.). Humanizando nascimentos e partos. São Paulo: Ed.
SENAC, 2005.
RIESCO, M. L. G.; TSUNECHIRO, M. A. Formação profissional de obstetrizes e enfermeiras
obstétricas: velhos problemas ou novas possibilidades? Revista Estudos Feministas. Ano 10.
2° semestre 2002. Disponível em: <http://www. scielo.br/pdf/v10n2/1470.pdf >.
SANTOS, Marcos Leite dos. Humanização da assistência ao parto e nascimento. Um modelo
teórico. 2002, Dissertação/Mestrado – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis
SOUZA E SILVA, A. C.; DADAM, S. H. Parto humanizado ou parto mecanizado. In:
ENCONTRO PARANAENSE, congresso brasileiro, CONVENÇÃO BRASIL/LATINO
AMÉRICA.
13,
8,
2,
2008.
Anais...
Curitiba.
Disponível
em:
<http//:www.centroreichiano.com.br >.
TORNQUIST, C. S. Paradoxos da humanização em uma maternidade no Brasil. Caderno de
Saúde Pública, Rio de Janeiro, 19 Set. 2003. Disponível em: < http://www. scielo.br
/pdf/csp/v19s2/a23v19s2.pdf >.
Download

Artigo Ivanete