um conto abre outro conto a regina, roque, lucila beth maria cissa, nat e demiam e o pequeno pablo, pessoas queridas a acaci, andré, cláudia e rubens, amigos que compartilham o prazer da escrita aos invisíveis que habitam a imaginação roque tadeu gui um conto abre outro conto 1… edição Brasília 2011 PerSe Capa Roque Tadeu Gui com pitaco de Cecília Mori Cruz e mais pitaco de Pedro Borges Revisão Roque Tadeu Gui Projeto Gráfico e Diagramação Roque Tadeu Gui Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Gui, Roque Tadeu Um conto abre outro conto / Roque Tadeu Gui. -São Paulo : PerSe, 2011. ISBN 978-85-64280-14-4 1. Contos brasileiros I. Título. 11-10650 CDD-869.93 Índices para catálogo sistemático: 1. Contos : Literatura brasileira 869 Filemon, da mesma forma que outros personagens da minha imaginação, trouxe-me o conhecimento decisivo de que existem na alma coisas que não são feitas pelo eu, mas que se fazem por si mesmas, possuindo vida própria. (Carl Gustav Jung, Memórias, Sonhos, Reflexões, Rio de Janeiro: Ed. Nova Fronteira, 1975, p. 162) Não se escreve com as próprias neuroses. A neurose, a psicose não são passagens de vida, mas estados em que se cai quando o processo é interrompido, impedido, colmatado.... Por isso o escritor, enquanto tal, não é doente, mas antes médico, médico de si próprio e do mundo. (Gilles Deleuze, Crítica e Clínica, São Paulo: Ed. 34, 1997, p. 13) sumário o menino das letras j de giló 15 a boceta de pandora a morte do escritor 22 29 35 o autógrafo nanda e raul 41 irina palm óleo de canola 47 dublê de corpo 55 uma mulher sexual 58 o que quer uma mulher uma boa escritora 67 71 o professor o destruidor de lendas urbanas o tremor as rolhas 91 103 75 linda a menina que não aceitava apelido trauma 121 126 o psicanalista a verdade possível o encontro o filho 131 136 142 necrológio de teodoclus miranda ana e cíntia 151 brincando com crítica literária carta ao autor 157 o exílio do escritor autor por acaso 165 173 148 Prefácio Antigos sábios diziam que um livro leva a outro livro. O incontido desejo de conhecimento dos humanos faz com que para cada texto lido sempre um outro seja sugerido. E de livro em livro vamos imaginando a vida e nós mesmos. „Um conto abre outro conto‰ é feito de histórias contadas por amigos imaginários. Para as crianças é fácil entender que seres da imaginação possam ter vida própria e desejem – às vezes até mesmo exigem – fazer contato com elas. Para os adultos é um pouco mais difícil, precisamos lançar mão de conceitos complexos, pensar em metáforas, obter alguma espécie de licença ficcional, evocar figuras do inconsciente e outros dispositivos literários sofisticados que nos protejam de sermos sumariamente tomados por insanos. É claro, sempre que não se trate de um Fernando Pessoa que abre, com espantosa naturalidade, espaço para dignitários outros-desi-mesmo. Mas, compreende-se: a imaginação de Pessoa sempre esteve mais perto daquela vivida pelas crianças. 13 Aceitemos então, caro leitor, que os contos escriturados a seguir sejam histórias contadas por velhos amigos invisíveis. Gui 14 Andrezinho é um desses garotos que amam os livros e adoram escrever. O interesse precoce por literatura rendeu-lhe o apelido de „menino das letras‰, carinhosamente atribuído por seu pai. Como toda criança, às vezes mete-se em enrascadas, no seu caso literárias. Os contos a seguir – j de giló, a boceta de pandora, a morte do escritor e o autógrafo – narram algumas de suas peripécias. j de giló 15