Minicurso 07
Semântica do Acontecimento
Profa. Msc. Rosimar Regina Rodrigues de Oliveira
UNEMAT/UNICAMP
Muitos estudos foram desenvolvidos em relação ao sentido desde a Grécia
Antiga até chegar à constituição da Semântica do Acontecimento proposta atualmente
por Guimarães. Por essa teoria compreendemos a produção dos sentidos a partir dos
estudos do enunciado e da enunciação, termos que utilizamos com base nas propostas
de Benveniste (1966, 1974) e Ducrot (1977, 1988a, 1989b). A partir desses estudos
Guimarães (1996, 20001, 2002, 2004, 2005) desenvolve a Semântica do Acontecimento
considerando a linguagem na relação com a exterioridade. Na formulação dessa teoria o
autor abre um diálogo com a análise do discurso. Considera, então, o enunciado como
uma unidade discursiva e o caracteriza como “elemento de uma prática social e que
inclui, na sua definição, uma relação com o sujeito, mais especificamente com posições
do sujeito, e seu sentido se configura como um conjunto de formações imaginárias do
sujeito e seu interlocutor e do assunto de que se fala” (Guimarães, 1989; 76). Desse
modo, tratar da enunciação é tratar do sujeito que enuncia, sendo a enunciação um
acontecimento no qual ocorre a relação do sujeito com a linguagem e que deve ser
considerada num espaço em que o sentido é constituído historicamente. É pelo
funcionamento da língua enquanto acontecimento de linguagem que se dá a enunciação.
O que em Guimarães só é possível remetendo o enunciado a um sujeito/locutor;
considerando na constituição do acontecimento a sua temporalidade e ainda o real
enquanto materialidade histórica. Conforme Guimarães (2002; 12) a temporalidade se
configura por “um presente que abre em si uma latência de futuro (uma futuridade), sem
a qual não há acontecimento de linguagem, sem a qual nada é significado, pois sem ela
(a latência de futuro) nada há aí de projeção, de interpretável”. O acontecimento
funciona por projetar em si mesmo um futuro e, por outro lado, por ter um passado
enquanto memorável, que o faz significar, tomando o passado não enquanto lembrança
(individual), mas enquanto rememoração de enunciações. No acontecimento o locutor
se configura enquanto origem do dizer, da temporalidade, mas encontra-se dividido,
pois enunciar é falar enquanto sujeito determinado por um lugar social. O sujeito que
enuncia é sujeito por falar de uma região do interdiscurso, entendida como memória de
sentidos, e enquanto afetado pelo interdiscurso. Conforme Orlandi (2000) o
interdiscurso é o já-dito que retorna sob a forma de pré-construído e torna possível todo
dizer. É preciso que o que já foi dito por um sujeito em um determinado momento seja
apagado da memória, para que possa fazer sentido nas palavras “de outro sujeito”. Os
sentidos não são determinados por nossa vontade, mas pela maneira como nos
inscrevemos na língua e na história. Considerando que há sempre outros discursos
presentes no nosso. Discursos proferidos em outro lugar e que são constitutivos do
sentido de “nossos” discursos.
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