23abril Copo meio cheio? P ara entender o Brasil hoje e o que acontecerá nos próximos dois anos é preciso fazer uma análise histórica dos últimos 30 anos do país. Essa é a opinião de Luís Fernando Lopes, da Pátria Investimentos, que abriu o 2° Congresso Internacional de Franchising ABF com a palestra “Como o ambiente macroeconômico e político deve afetar seu negócio em 2015-16”. “A situação não é das melhores, mas historicamente já foi pior e tende a melhorar até 2016”, afirma o economista. Para Luís, a evolução política e institucional brasileira garante a estabilidade econômica. “Os problemas políticos foram os grandes motivadores para as mudanças econômicas necessárias. Isso mostra nossa maturidade democrática”. POR QUE O BRASIL CONTINUA ATRAENTE? • Maior recebedor de investimento direto líquido do mundo; • Reservas internacionais 3% maiores do que o total da sua dívida externa; • Renda per capita em dólar em ascenção (apesar de em ritmo lento); • Queda da desigualdade social; • 55% da população na classe média (renda per capital aproximada de R$ 26 mil/ ano); • Renda e capacidade de consumo preservados (mesmo com toda a crise política); • Taxa de câmbio em grande parte ajustada. QUAIS OS PROBLEMAS? • Inflação alta; • Gargalo de energia e infraestrutura; • Ruído político que persiste; • Redução da oferta de crédito. Tendências do cenário político e econômico brasileiro até 2016: • Retomada do crescimento, principalmente nas regiões Nordeste e Centro-Oeste; • Interiorização do desenvolvimento; • Queda do câmbio, apesar de não voltar a patamares do passado; • Recuperação mais rápida dos setores ligados ao consumo básico do brasileiro; • Estabilidade política que deve continuar enfrentando oposição, o que é positivo, pois garante a continuidade dos ajustes econômicos. Para quem tem capital o momento de investir no fortalecimento das suas empresas é agora, pois a tendência é de melhora.” Pense simples e olhe para dentro “O Brasil não pode ser lido pelos grandes números, porque isso leva aos grandes erros,” essa frase é de Alberto Serrentino, da Varese Retail, em sua apresentação sobre a situação do varejo atual e como o capital humano contribui com a eficiência operacional. Para ele, é necessário olhar o varejo em ciclos que, ao se completarem, transformam o consumo e a gestão das empresas. Isso valeu para o período pós-abertura econômica, em 1992, pós-real, em 1994, e o boom de consumo, entre 2003 e 2012. Hoje estamos em um novo ciclo. Não de depressão, como muitos acreditam, mas de adequação. Segundo Serrentino, no Brasil existe espaço para qualquer tipo de negócio. O que muda é a escala. “Marcas premium têm muita dificuldade de expansão devido à concentração econômica brasileira, já que apenas 49 municípios, dos 5.570 do país, concentram 40% do potencial de consumo.” A estratégia para o varejo é pensar simples. “As marcas precisam saber quem são os seus clientes, se posicionar no mercado e executar bem o que se propõem a entregar. É simples”, diz Serrentino. pelo país são oportunidades para que todos os processos sejam revistos, melhorando a gestão e fortalecendo o crescimento. Intermediados pela jornalista Fátima Turci, também participaram do debate Claudio Bobrow, do Grupo Malwee, e Marcelo Menezes, da Óticas Diniz. Ambos concordam: as dificuldades políticas e econômicas vividas “Mercado existe para todos, mas é necessário se diferenciar. Seja por uma oferta adicional ou pelo atendimento, que deve ressaltar ao cliente a importância que ele tem para o negócio,” Marcelo Menezes. “Em 27 anos de empresa vivemos várias crises. Sempre crescemos quando deixamos de olhar para o que acontecia ao lado e focamos nossa energia na melhoria de gestão. Precisamos tirar o medo que as manchetes ruins dos jornais trazem,” Claudio Bobrow. De gente para gente U ma gestão de pessoas totalmente pautada e baseada em dados. A filosofia do Google não poderia ser diferente, já que o objetivo declarado da empresa é organizar toda a informação do mundo e entregá-la de uma forma que todas as pessoas do planeta possam usá-la livremente. Segundo Ana Maria Aguilera de Barros, responsável pelo RH latino-americano da maior empresa de TI do mundo, a imagem de liberdade e as ótimas condições de trabalho associadas à companhia são fruto dos valores que ela realmente prega e pratica. Entre as práticas do Google em gestão de pessoas, ela aponta: • Valorização da diversidade; • Começar a trabalhar a cultura da empresa já no processo de seleção. • Pesquisas de mercado para oferecer remuneração e benefícios alinhados com as melhores empresas do mundo; • Oferecer todo um programa de qualidade de vida (para quem quer parar de fumar ou emagrecer, por exemplo), mas deixar que colaboradores ensinem coisas aos demais – muitos organizam grupos Educação é o caminho do franchising de ioga, meditação e dança, por exemplo; • Estabelecer objetivos claros para cada uma das pessoas e avaliação em função disso; • Qualquer pessoa da empresa pode reconhecer outro colaborador da companhia, em qualquer lugar do planeta, por um bom serviço prestado, através de uma espécie de certificado. Para encerrar, ela falou a frase que talvez melhor traduza a filosofia do Google, ao trabalhar com as pessoas: se você der liberdade às pessoas, elas irão surpreendê-lo. Educação. Essa é a força que movimenta a parceria entre a Associação Brasileira do Franchising e o Sebrae. “Trabalhar em rede é ter interesses recíprocos para atender a propósitos únicos. Nesse caso, tanto o sucesso quanto o fracasso são vividos em conjunto”, afirmou a diretora técnica do Sebrae, Heloísa Menezes, ao descrever as várias ações da entidade em todo o país com o objetivo de capacitar micro e pequenos empresários. Uma dessas ações é o Franquias Brasil, que leva o curso Entendendo Franchising para 120 cidades de 19 estados brasileiros. Juarez Leão, diretor de Treinamento e Eventos da ABF, reforça a importância Dicionário do Google: Alguns termos usados pela comunidade Google GOOGLER – colaborador do Google NOOGLERS – recémcontratados pela empresa GOOGLEYNESS – alinhamento com a cultura do Google da parceria que deu capilaridade às iniciativas da associação. “Com o Sebrae, que tem mais de 600 pontos físicos pelo país, conseguimos chegar a vários lugares levando os conceitos do franchising a todos os envolvidos no sistema, sejam eles candidatos a franqueados, franqueadores, fornecedores ou profissionais liberais.” O projeto Franquias Brasil tem como meta capacitar mais de 10 mil pessoas por meio de aulas presenciais e outras 14 mil com seis games que abordam várias rotinas da gestão. “Apesar de ousadas, estamos superando as metas traçadas. Em março, por exemplo, a meta era de 630 alunos participantes. Tivemos 743”, diz Leão. SELO DE EXCELÊNCIA EM FRANCHISING Desde 2003 o Selo de Excelência, da ABF, reconhece as boas práticas do franchising. As redes reconhecidas saem de uma pesquisa com os franqueados de cada franqueadora, condensada em um relatório entregue a todas as empresas participantes. Mas como esse relatório pode ser utilizado estrategicamente? “O relatório é um termômetro para saber o que o franqueado pensa. Mostra como o franqueado entende o que a gente faz. O Brasil é um país gigantesco. Muitas vezes, quando nos comunicamos com a rede, acontecem diferenças de entendimento de região para região. O relatório desfaz distorções e aponta exatamente o que o franqueado pensa,” Adriana Auriemo, Nutty Bavarian. “Tratamos o selo como o Oscar do Franchising. É uma conquista. Analisamos o histórico, mas principalmente os dados do último ano. As informações são a base para aperfeiçoarmos treinamentos e o relacionamento com a rede. Tão importante quanto as percepções dos franqueados a respeito do nosso trabalho é ter os parâmetros de que estamos seguindo as boas práticas do franchising.” Adriana Lima, Rei do Mate. “Priorizamos os pontos críticos descritos pelos franqueados. Levamos o relatório para nossa convenção anual e mostramos que eles estão sendo escutados, pois apresentamos as ações que tomamos para satisfazê-los. A pesquisa feita para o credenciamento do selo é uma ferramenta para os franqueados falarem abertamente o que pensam, pois eles não precisam se identificar. Isso torna essas ações muito valiosas para nós,” Sylvia H. Palmas de Moraes Barros, The Kids Club. FECHANDO AS CONTAS Nos Estados Unidos, onde o mercado é mais maduro, a existência de franqueados com várias unidades – de uma mesma bandeira ou até multimarcas - é tão representativa que acaba de ocorrer o primeiro congresso de multifranqueados do país. Também no franchising brasileiro a figura do multifranqueado é cada vez mais comum. Alessandra Santiago, franqueada das marcas Magic Feet, Sherlock Dog, Café do Ponto, Casa Pilão e Authentic Feet, e Rodrigo Dias, que tem unidades de O Boticário, Brahma Express e Quem disse, Berenice?, debateram os desafios que enfrentam os multifranqueados brasileiros, mediados por André Friedheim, sócio da Francap e diretor de Relações Internacionais da ABF. E se, por um lado, quem tem várias unidades de um negócio ganha em escala, reduz custos e otimiza processos, por outro tem que superar barreiras tributárias (já que provavelmente vai ter que sair do regime do Simples), de desenvolvimento de lideranças, gestão de vários estoques, etc. Algumas percepções dos dois: “Quando você tem negócios em ramos diferentes, tem que gerir culturas diferentes. Você até acaba informatizando, contratando, mas tem que participar da operação. Não dá para sair totalmente do balcão”, Alessandra Santiago. “Por outro lado, quando a operação atinge volume, a barriga no balcão muda. Daí é preciso desenvolver gestão por indicadores simples e objetivos. O multifranqueado tem que obedecer a vários senhores. Tem que ter resiliência sem deixar de defender o que acredita,” Rodrigo Dias. “Quando você cresce, sai do regime do Simples e tem perdas tributárias que precisam ser compensadas pelos ganhos de operação e escala”, Alessandra Santiago. “Trabalhamos como um grupo desde o começo e com operação estruturada. Por isso, precisamos do ganho de escala para que a conta feche,” Rodrigo Dias. Atenção custa caro Empresas são construídas com modelos de negócios bem estruturados e marcas fortes. Se, de um lado, o sistema de franchising tem, por sua natureza, o princípio de que todos os integrantes da rede ganham, formando assim um círculo virtuoso de crescimento, fica a pergunta: como as redes franqueadoras podem construir marcas fortes? Para Thales Teixeira, professor de Marketing na Harvard Business School, o caminho mais viável é o marketing digital. A razão ele explica em números. “Desde 1994, com o avanço da internet, o custo da propaganda está cada vez maior. Nos últimos 25 anos os custos estão até nove vezes mais altos. Em contrapartida, a visualização está cada vez menor. Apenas 20% das pessoas assistem a um comercial de 30 segundos até o fim.” Thales defende o que ele mesmo chama de “propaganda enxuta”, alicerçada em três pilares: 1. Criação de propagandas capazes de reter a atenção do consumidor; 2. Desenvolvimento de propagandas capazes de reter a atenção mesmo em ambientes com baixa atenção, como em uma sala com a família reunida assistindo a televisão; 3. Se as duas alternativas anteriores não funcionarem, adquirir a atenção pelo custo mais baixo, por meio de vídeos que passam a ser virais quando contêm humor e impactam pessoas com objetivos comuns. Roteiro de uma marca forte: 1. Para franqueadores terem mais influência sobre os consumidores é preciso investir em uma marca forte; 2. Para terem uma marca forte, precisam atrair a atenção das pessoas, o que hoje é o insumo mais alto para uma empresa; 3. Os custos aumentaram mais que a inflação, pois existem mais marcas e mais pessoas a serem impactadas; 4. Para diminuir custos, executar a propaganda enxuta. Quanto mais você conseguir ter a atenção do consumidor, mais tradicional deve ser a propaganda.