A SÍNDROME DO MÍOPE toma conta dos mercados de commodities agrícolas! “Pedrão, o que é a SÍNDROME DO MÍOPE?” Para quem não é míope, segue uma foto de como o míope (eu sou um deles) vê o mundo: Ele vê tudo que está perto... mas não consegue enxergar o que está longe. Definindo então o que eu chamo de “SÍNDROME DO MÍOPE” nos mercados: Esta síndrome se dá quando participantes do mercado focam em tentar MICRO-analisar tudo que se passa diáriamente com os mercados e PERDEM NOÇÃO DO QUADRO GERAL. Ou seja, vêem o que está perto (movimentos diários) mas não vêem o que está longe (tendência geral de preços). Existe muito BARULHO por aí tentando justificar todo e qualquer movimento diário dos mercados... Meus caros, mercados não são estáticos, estão em constante movimento... as negociações não páram e não é toda baixa ou alta de 0,5% que tem uma história fantástica por trás... são movimentos normais de mercado e não mudam as tendências de médio prazo... Repito o que escrevi aqui nos recentes comentários: “A tendência de médio prazo ainda é de alta, pois o clima não se estabilizou ainda nos EUA ... Muita cautela e não deixem-se enganar por correções temporárias de um mercado ainda altista. NÃO TENTEM COLOCAR UM TETO NOS PREÇOS NO MOMENTO. Tudo pode acontecer... e enquanto a TENDÊNCIA GERAL de clima não virar, baixas continuarão sendo compradas. Enquanto houver demanda combinada com risco de contínua degradação de safra aqui nos EUA, tentar colocar um teto nos preços é loucura!” Mercados altistas têm correções. Mercados altistas não sobem em linha reta durante mais que alguns dias... Pequenas correções são necessárias e o mercado precisa “respirar”, parar e dar tempo para que as altas sejam “digeridas”. “Mas Pedro, ouço dizer que a demanda já está sendo racionada, será que não estamos perto do topo?” Semana passada mencionei que a demanda para o mercado de milho é muito mais “elástica” (sensível), do que a demanda para o mercado de soja. O mercado de milho está sim já vendo indícios de redução de demanda, por exemplo, no milho usado para Etanol. Esta manhã o governo Americano anunciou que semana passada a produção de etanol caiu 2.3% e registrou menor nível de produção semanal desde Junho de 2010 (mês que o governo começou á registrar estes dados). Colegas, isto com certeza era já de se esperar, com milho subindo $2,60 ou 51% em 1 mês! É claro que a demanda começará á mostrar sequelas... e mesmo que a demanda de Etanol esteja menor, lembrem-se que nos EUA ainda existe o mandato de mistura de Etanol que suportará um nível mínimo de produção. Acontece que, mesmo com esta redução em produção de etanol e demanda para o milho Americano (lembremos também que o BR está assumindo parte desta demanda mundial no momento pelo grão, devido á super safra que produziu), os estragos que o clima causa na atual safra aqui nos EUA não acabaram. Infelizmente o clima AINDA NÃO VIROU, e apesar de termos melhores expectativas de chuvas UM POUCO mais abrangentes do que antes, o volume destas chuvas não chega nem perto de ser o suficiente para amenizar os estragos. Estudemos os seguinte gráficos: Este primeiro gráfico indica a gravidade do estado de seca em diferentes regiões dos EUA. Percebam que grande parte do país e PRINCIPALMENTE do cinturão de produção dos EUA, sofrem com secas consideradas de “grave” (severe drought) á “extrema” (extreme drought). o Já o gráfico abaixo á esquerda indica a quantidade de chuvas necessárias no mês de Julho para abastecer os solos o suficiente para acabar com as condições de seca. o Percebam que na maioria do cinturão de produção Norte Americano necessitaria de PELO MENOS 229 MILÍMETROS (9 polegadas – parte branca do mapa) DE CHUVA, para acabar com as condições áridas que assolam a região. O mapa á direita, indica o total de precipitação que a área já teve na primeira metade do mês... para os que são dautônicos como eu, o mapa indica que a maioria da região recebeu SOMENTE ENTRE 0,5 e 1 POLEGADA de chuvas até agora este mês (12,7 á 25,4 milímetros). Ou seja, na primeira metade do mês, a região, em média, recebeu menos de 10% da quantidade necessário este mês para dar a umidade necessária ao solo e acabar com a seca... Pequeno detalhe: os mapas meterológicos mostram no máximo mais por volta de 75 milímetros na região até o final do mês! A SECA DE 2012 ESTÁ RAPIDAMENTE SE TORNANDO A PIOR SECA NA HISTÓRIA para o cinturão de produção Norte Americano. o Nesta mesma semana do ano em 1988 o clima já tinha virado e estragos maiores não ocorreram de meados de Julho para frente... este ano infelizmente pelo que tudo indica, a história será bem diferente... Os estragos na safra de MILHO JÁ SE INSTALARAM – NÃO HÁ CHUVA NO MOMENTO QUE POSSA MELHORAR A SAFRA. Chuvas abrangentes no momento poderão apenas EVITAR MAIORES ESTRAGOS em áreas que ainda têm uma safra razoável/boa. Não se surpreendam com um rendimento final da safra de milho abaixo de 130 bushels/acre (no momento já é CERTO que a produção é menor do que o USDA anunciou no relatório de quarta-feira passada, que foi 146 bushels por acre). Já na SOJA, ainda há tempo para uma possível RECUPERAÇÃO de PARTE DO POTENCIAL de produção inicial... MAS... A AREIA DA AMPULHETA ESTÁ ACABANDO meus caros... Se a previsão de clima até o final de Julho (descrita acima) estiver correta, o estrago na soja será quase equivalente ao estrago da safra de milho. REPITO, A TENDÊNCIA DO CLIMA PRECISA REVERTER, AS PLANTAS DE SOJA NECESSITAM DE CHUVAS PESADAS E ABRANGENTES NOS PRÓXIMOS 10 – 14 DIAS... e de um mês de Agosto muito mais ameno que Julho. As plantas de milho precisam de chuvas ONTEM, para evitar contínua degradação da safra... Podemos, no final da safra este ano, ter uma quebra próxima á 25% na produção total do grão do país e em torno de 20% de quebra na produção da oleaginosa do país. Para referência: Em 1988 a quebra total foi de 23,1% no MILHO e 18,5% na SOJA. Levando isto em consideração, vocês acham que esta alta recente foi suficiente para reduzir a proporcionalmente a demanda pelo milho e soja Americanos? ... ... ... Vocês viram ontem e hoje como a tendência geral do mercado continua sendo de COMPRA NAS BAIXAS. Após baixas iniciais no noturno e no início do pregão, compradores entraram em peso hoje, e soja, milho e trigo não só recuperaram as pequenas perdas, mas fecharam o dia com ganhos superiores á 2%. Quem liderou o movimento de alta hoje foi o mercado de FARELO, com muitos traders no CBOT fazendo o que se chama aqui de BULL SPREADS (compra de contrato de vencimento mais próximo e venda de contrato de vencimento mais longo, pela falta de disponibilidade imediata do produto). O contrato de Agosto do Farelo de Soja no CBOT atingiu o limite de alta hoje de 20 dólares, equivalente no contrato á uma alta de 4%. Clientes, leitores, colegas... entendam... o mercado ainda não precificou o tamanho do estrago real que a seca está causando este ano! Mesmo com as fortíssimas altas recentes... Mercados climáticos, principalmente em anos de tragédias naturais como a deste ano, são extremamente voláteis e nervosos... Apertem os cintos, pois se a falta de chuva se concretizar nas próximas duas semanas, o volatilidade e nervosismo poderão ir á estratosfera neste mercado e pode causar muita dor para quem não tiver a cobertura apropriada. No momento, não é possível colocar um alvo nos preços, pois se e quando esta volatilidade se instalar, o mercado poderá ficar temporáriamente irracional e tudo, repito, tudo poderá acontecer... E isto é uma “faca de dois gumes”... pois como um tal de Isaac Newton já dizia: “TUDO QUE SOBE, TEM QUE DESCER”... O mercado irá formar um topo QUANDO souber de FATO que a redução na demanda é proporcional á destruição da oferta... ... ... este momento meus caros leitores, ainda não chegou... Muita cautela, paciência, calma e prudência... evitem escutar os “barulhos” externos tentando justificar cada movimento diário e foquem-se nos fatos e na tendência de médio prazo...