A EXISTÊNCIA DE POLÍTICAS PÚBLICAS E O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NA ADMINISTRAÇÃO MUNICIPAL E UNIFAL-MG PAULO HENRIQUE DE SOUZA1 e FILIPE EGÍDIO DIAS DO PRADO2 [email protected] [email protected] 1 2 Professor do curso de Geografia – Unifal-MG Graduando do curso de Geografia – Unifal-MG Palavras-chave: Desenvolvimento Sustentável; Planejamento; Administração Municipal. Introdução A questão ambiental, apesar de muitas vezes ser tratada sem a devida seriedade, merece a atenção especial dos organismos internacionais, e, principalmente, dos governos nacionais e municipais. De certo modo, uma vez que toda a sociedade está alicerçada sobre o meio natural, e dele depende para obter os recursos essenciais a sua sobrevivência, seria razoável afirmar que “a questão da proteção da natureza não é uma questão entre muitas, sobre a qual se pode meramente deliberar de maneira política, conforme as condições de percepção, de interesse e de poder” (MAYER & TASCH, 1993: 73). Ou seja, todas as atividades políticas deveriam ser subordinadas às exigências da sustentabilidade da natureza (FREY, 2001), para que se pudesse alcançar efetivamente o desenvolvimento sustentável. Outro aspecto importante, presente nas diversas concepções de desenvolvimento sustentável, é a valorização de uma infraestrutura urbana e de transportes em que há uma marcante presença de mecanismos que otimizam a utilização de recursos naturais, como a água da chuva e a energia solar. Há uma clara ideia da necessidade de um planejamento urbano, que venha propiciar às cidades um ambiente mais organizado e, consequentemente, com melhor qualidade de vida para a população como um todo. Questões como planejamento estratégico e gerenciamento técnico eficiente surgem como instrumentos que devem ser levados em consideração ao se pensar o desenvolvimento sustentável. Entretanto, para que esses instrumentos venham a ser eficientes, faz-se necessário que eles sejam, no mínimo, do conhecimento das autoridades políticas, e que os princípios básicos para o seu funcionamento estejam garantidos nas leis. 1 Alfenas-MG, 3 a 6 de Setembro de 2012 Universidade Federal de Alfenas-MG Objetivos Geral Estudar o grau de comprometimento que os administradores municipais de Alfenas e os dirigentes da UNIFAL-MG possuem frente a implementação dos princípios do desenvolvimento sustentável no ordenamento da cidade. Específicos Inventariar as normas e leis existentes no município e na UNIFAL-MG que regem sua expansão preocupando-se com a sustentabilidade e o meio ambiente; Verificar o grau de conscientização e preocupação que as autoridades municipais e os dirigentes da UNIFAL-MG possuem frente ao impacto que o crescimento dessa IFES vai causar no município; e Discutir o grau de integração e planejamento perceptíveis na prefeitura Municipal de Alfenas e na UNIFAL-MG nesse momento de expansão. Fundamentação Teórica Segundo Souza (1998, p. 83), dentre os três níveis de Poder que constituem os Estados modernos, são os municípios, a unidade básica de toda nação, a instância administrativa que se encontra “mais próxima da população e de seus problemas, encerrando nos seus limites todas as atividades do cotidiano da sociedade”. Com este entendimento, Azevedo & Oliveira (2004, p. 427) descrevem a situação destas porções do território nacional, mencionando que uma análise superficial do padrão de urbanização brasileira, atesta a deterioração social e física que vem ocorrendo nas áreas urbanas, devido à “periferização do crescimento urbano – em especial nas grandes e médias cidades – acompanhada de uma informalidade no que diz respeito à ocupação do solo”. Como resultado disto, observa-se uma queda na qualidade de vida destes lugares em razão do desrespeito a questões básicas da sustentabilidade urbana que se expressam na proporção mínima de área verde por habitante ou nos padrões de acessibilidade e deslocamento que permitem o trânsito e o encontro dos indivíduos no exercício pleno de sua cidadania. 2 Alfenas-MG, 3 a 6 de Setembro de 2012 Universidade Federal de Alfenas-MG Por conta disto, Franco (2001, p. 70) entende que se apresenta ao planejamento e urbanismo nos dias de hoje a difícil tarefa de “(...) desenvolver novas formas de mediação entre as qualidades da experiência urbana e as possibilidades dos elementos naturais.” Criando novos espaços de uso e novas formas arquitetônicas “(...) que interatuem entre si e com a natureza.” Segundo entendem Souza et al (2011) a busca pela qualidade de vida da população deve fundamentar toda e qualquer ação de planejamento do espaço urbano, amparando-se nas especificidades ambientais que formam a paisagem, assim como nas peculiaridades que seus bairros possuem padronizando suas formas e influenciando diretamente o dia a dia de sua população. É preciso ter claro que a sustentabilidade urbana demanda uma série de procedimentos, indo desde a recuperação de áreas degradadas e o estabelecimento de unidades de preservação, até a administração eficiente da infra-estrutura existente e o contínuo monitoramento das ações ocorridas no seu interior, coibindo a clandestinidade – moradias ou usos indevidos – e o descumprimento da legislação. Sob este entendimento a pesquisa procurou alcançar êxito em apontar a verdadeira condição do município de Alfenas quanto ao nível de sustentabilidade que apresenta e o consequente comprometimento das suas autoridades locais frente aos parâmetros requeridos pelo desenvolvimento sustentável. Segundo Mello (1995, p. 197) sustentabilidade e qualidade de vida devem refletir uma condição ecologicamente sustentável baseada “(...) fundamentalmente na capacidade de uma sociedade refletir a possibilidade de atingir novos patamares (...)”, pois uma vida longeva amplia a possibilidade de um indivíduo alcançar seus objetivos, exercitar seu potencial e aproveitar suas oportunidades. Metodologia Para serem efetivamente colocados em prática, os princípios do desenvolvimento sustentável precisam estar presentes nas leis e nas mentes dos governantes; em face disto, buscou-se, através de pesquisa bibliográfica e aplicação de entrevistas semiestruturadas, avaliar a situação das leis e a responsabilidade e o conhecimento que possuem. Da questão ante o papel que desempenham. 3 Alfenas-MG, 3 a 6 de Setembro de 2012 Universidade Federal de Alfenas-MG A pesquisa bibliográfica foi realizada inicialmente através da seleção de publicações que poderiam ser úteis para seu desenvolvimento, priorizando o Plano Diretor do Município de Alfenas, a Lei Federal nº 10.257/01, de 10 de julho de 2001, aprovada e sancionada sob o título de Estatuto da Cidade, e, alguns artigos da Constituição Federal de 1988, que se relacionam com o desenvolvimento urbano, assim como diversos artigos. Paralelo ao desenvolvimento da pesquisa bibliográfica, entrevistas semiestruturadas foram aplicadas, abrangendo um universo previamente delimitado por autoridades políticas e atores sociais identificados com o enfoque do estudo por se encontrarem ligados à Prefeitura Municipal e Câmara de Vereadores, bem como ao corpo administrativo da UNIFAL-MG – Assessoria Jurídica e Pró-Reitoria de Planejamento, Orçamento e Desenvolvimento Institucional. As informações obtidas resultantes da pesquisa bibliográfica e da realização das entrevistas não foram analisadas em um processo estatístico, outrossim, foram consideradas através de uma interpretação analítica, considerando seu teor em face da realidade que se observa na localidade. Resultados Finais No que diz respeito às mudanças que precisam ocorrer na área urbana do município, grande parte dos entrevistados reclamou pela elaboração de um “bom” Plano Diretor, não conseguindo apontar aspectos concretos como loteamentos irregulares, supressão de áreas verdes na porção urbana, perda de solo por erosão, impermeabilização do solo etc. É evidente que tais temas sejam abordados em um Plano Diretor, mesmo que de maneira sucinta em alguns casos; entretanto, parece ser um elemento característico do discurso político, o “lugar comum”, mencionando que as “leis” precisam ser melhoradas, sem, contudo, especificar em quais aspectos. É exatamente isso o que se observa nas entrevistas. Os temas relevantes que demandam atenção por parte da administração pública, como a questão das áreas verdes e especulação imobiliária, e a realidade da expansão da UNIFAL-MG, não estão sendo mencionados espontaneamente. Apenas a partir da provocação feita pelo questionário o assunto vem à baila nas considerações apresentadas pelos entrevistados para responder a terceira questão da entrevista. 4 Alfenas-MG, 3 a 6 de Setembro de 2012 Universidade Federal de Alfenas-MG Segundo revela a análise das entrevistas, a maioria dos atores sociais ouvidos não possui ideias originais ou concretas para o desenvolvimento sustentável da cidade de Alfenas, pois, enquanto não foram provocados diretamente pelas perguntas, nenhum dos entrevistados manifestou preocupação com as transformações que a construção do novo campus da UNIFAL-MG provocará sobre a região onde se encontra inserido ou no município, mesmo cientes de que o impacto será significativo. Isso é preocupante, pois o custo das ações corretivas sobrepuja por demais o custo das ações preventivas, ocasionando uma criminosa evasão dos parcos recursos públicos existentes para o atendimento da população. Bibliografia AZEVEDO, A. M. do; OLIVEIRA, L. – Políticas territoriais e padrões urbanos atuais em São José do Rio Preto. In: CIDADES: Revista científica/Grupo de estudos Urbanos – v. 1, n. 1, 2004 – Presidente Prudente: Grupo de Estudos Urbanos, 2004, jan. – jun., p. 427 – 445; FRANCO, M. A. R. - Planejamento Ambiental para a Cidade Sustentável. São Paulo: Annablume: FAPESP, 2001; FREY, Klaus - A dimensão político-democrática nas teorias de desenvolvimento sustentável e suas implicações para uma gestão local. Ambient. soc., Campinas, n. 9, Dec. 2001. Disponível a partir do <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414753X2001000900007&lng=en&nrm=iso>. acesso em 08 de dezembro de 2009. doi: 10.1590/S1414-753X2001000900007; MAYER-TASCH, P. C. "Jenseits von Modernisierung und Postmodernisierung: Überlegungen zur universalistischen Dimension der Politischen Ökologie". In: VON PRITTWITZ, V. (org.) Umweltpolitik als Modernisierungsprozeß. Politikwissenschaftliche Umweltforschung und -lehre in der Bundesrepublik. Opladen: Leske + Budrich, 1993, pp.71-80 Disponível a partir do <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414753X2001000900007&lng=en&nrm=iso>. acesso em 08 de dezembro de 2009. doi: 10.1590/S1414-753X2001000900007; MELLO, M. A. - Gestão Urbana e Qualidade de Vida. In: Análise Ambiental: estratégias e ações. Sâmia Maria Tauk-Tornesielo et al, prefácio José de Ávila Coimbra. São Paulo: T.A. Queiroz Fundação Salim Farah Maluf, 1995; SOUZA, P .H. - A Ponderação de Fatores Ambientais para a proposição de Zoneamento para Distritos Industriais utilizando o SIG. Dissertação (Mestrado), EESC - USP, São Carlos – SP, 1998; e SOUZA, Paulo Henrique de; ROCHA, Thiago Wesley Pereira; SILVA, Luciano Alves da – Padrões de Sustentabilidade Urbana: O caso de Alfenas/MG. UNIVERSITAS. Fernandópolis, v. 6, n. 1, 2010, p 39 – 62. 5 Alfenas-MG, 3 a 6 de Setembro de 2012 Universidade Federal de Alfenas-MG