ASCENSÃO AO JBEL TOUBKAL
A ideia já á muito que estava dentro da cabeça, cada vez que ia a Marrocos e
passava pelo alto atlas ficava com a curiosidade de ir lá acima, e quando soube
que o grupo da malta do WWW.RITUAIS.COM estava com ideias de voltar a
tentar a subida novamente este ano, decidi que tinha de ser desta.
A experiência passava por alguma preparação física e equipamento de
montanhismo. Como estou mais familiarizado em andar sentado dentro de um
Land Rover à descoberta de novos locais, ia ser uma novidade para mim ter de
aguentar muitas horas a caminhar e com o tal equipamento (mochila com o
camel bag, comida, bastões, crampons e poilets), estes últimos em caso de haver
neve e gelo no cume.
A preparação começou por uma pesquisa na net sobre tudo o que há sobre a
ascensão ao Toubkal e depois de um treino na serra da Arrábida fiquei com uma
pequena noção do que seria a aventura (pequena mesmo, comparada com o que
me esperava na semana seguinte).
De Lisboa veio o Paulo Alves, a Margarida e o Paulino. O Alvaro juntou-se a
mim aqui em Azeitão e íamo-nos encontrar com o pessoal do Porto, o Francisco,
a Alina e a Diana, já em Marrocos.
Feito o grupo e combinado o que iríamos levar, começámos a encaixar as
mochilas dentro do pobre Discovery 200, com 18 anos, mas com uma telefonia
nova, filtros mudados e níveis revistos para fazer cerca de 3000 kms.
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16-10-09
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Sexta-feira rumámos em direcção a Algeciras para apanhar o barco para Tanger,
uma travessia mais demorada mas com o “regalo” do bilhete de 100 euros, com a
oferta dos passageiros que não pagavam nada.
Dormida em Larache num parque de repouso gratuito, com banho de água
quente. Dali sairíamos no dia seguinte via auto-estrada até Marraquexe e Imlil,
onde já estava o pessoal do Porto à nossa espera.
Imlil é, até onde chega o alcatrão, a 1700 metros de altitude. Dali para a frente, só
mesmo de 4x4 e somente durante mais uma dúzia de kms. O resto é mesmo “à lá
pata”.
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Domingo de manhã rumámos ao refúgio do Nelter, cerca de 10 kms acima, em
linha recta e a uma altitude de 3200 metros, mas com uma inclinação e
dificuldade bastante acentuada.
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Pelo caminho cruzamo-nos diversas vezes com mulas que transportam
mantimentos para o refúgio da montanha, o trilho é fácil de seguir pelo rasto de
excrementos das mulas e por marcações com tinta fluorescente branca nas
pedras. Estas marcações são fundamentais quando se caminha à noite no trilho e
com os frontais (luzes que se colocam na cabeça) podermos identificar o
caminho. Aconteceu na descida, atrasarmo-nos bastante e anoiteceu. Colocámos
os frontais mas 5 minutos depois tínhamos perdido o trilho. Valeu-nos o
“Magalhães dos “GPS” um Garmin e-trex que adquiri aquando do
GrandolAventura e que foi a salvação porque gravei o track na subida.
Chegámos ao refúgio Nelter, depois de 6 horas de caminhada. Dois dos 8
caminheiros regressaram a Imlil devido a tonturas e cansaço. Naquele ponto
sente-se bastante a altitude. Uma pequena subida de degraus é como ter corrido
100 metros. O receio de ser atingido pelo “mal de altitude”, que pode até levar à
morte ou invalidez permanente, faz com que respeitemos os 1ºs sinais do nosso
corpo à falta de oxigénio.
Neste refúgio temos de tirar as botas e andar com chinelos dentro do edifício. Há
banho e comida quente, acabada de fazer e a sopa é de repetir.
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A dormida é feita em camaratas. Na nossa, para além de nós os 6, estavam mais
16 espanhóis. Nos outros 4 quartos, que estavam todos lotados, estavam também
espanhóis, italianos, franceses e irlandeses e havia malta a dormir no chão da
sala de convívio.
No dia seguinte os “xerpas” (nome com que baptizámos os guias de montanha),
começaram a orientar os grupos que os tinham contratado e nós tentámo-nos
colar ao grupo dos cerca de 50 espanhóis, para uma boleia até ao cume.
Não tínhamos xerpa. A Margarida era a única que estava connosco que tinha
conseguido chegar ao cume no ano anterior e tinha sido com neve, pelo que tinha
dificuldade em reconhecer o trilho. Teríamos por isso de nos colar a um grupo.
A saída foi feita ainda de madrugada, depois de um pequeno-almoço quente.
Saímos para o trilho ainda de noite, com 7 graus e com a esperança de chegar ao
cume. Nas mochilas leva-se somente o indispensável. Barras energéticas, cubos
de marmelada, bebidas isotónicas, água no camel bag e a máquina fotográfica.
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O saco-cama e o resto das nossas bagagens ficaram para trás no refúgio Nelter.
Pelo caminho em fila indiana ia-se respirando com o ritmo das passadas, e
paragens regulares para descansar. Se até aqui já se sentia a altitude, agora as
dificuldades aumentavam com o frio. Pouco depois parámos para repor as forças
com as barras energéticas e água.
A subida para o cume é silenciosa, só se ouvindo o barulho dos bastões a bater
nas pedras e o respirar cansado dos montanhistas… Ninguém fala!
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O nosso grupo parte-se diversas vezes. Mas temos sempre contacto visual uns
com os outros. Isto deve-se a alguns caminheiros terem um ritmo diferente dos
outros.
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Apesar de todo o tipo de protecção e equipamento necessário para um evento
destes, passei por uma espanhola com meias e chinelos a fazer a subida.
Metro a metro e passo a passo, vai-se subindo, passando por marcas cor-delaranja fluorescente, nas rochas, para marcar o trilho. Por aqui as mulas
transportadoras já não andam. Portanto deixa de haver os excrementos a marcar
o trilho.
O ponto alto da subida é nos 4020 metros quando as forças estão a chegar ao
limite e, numa curva para a esquerda, se avista a torre do Toubkal, uns míseros
147 metros acima. Mas que mais parecem uns 4 kms. Esta visão entra no corpo
como uma lufada de ar fresco.
A malta reagrupa-se e fazemos os últimos metros em grupo, com mais animo.
A chegada à torre do Toubkal é difícil de descrever. Andei às voltas com
palavras e frases, mas não consigo encontrar uma que tenha o significado certo
para escrever.
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A partir deste momento deixa-se de ser caminheiro para ser chamado de
Montanheiro.
Só me lembro de nos abraçarmos todos e de nos felicitarmos com os “parabéns”
da praxe. De termos tirado umas fotos e filmado uns vídeos. Depois disso,
sentámo-nos um pouco a descansar e a comer. Ainda tinha um chouriço e pão
para além das barritas.
A seguir íamos começar a parte mais dolorosa… a descida.
A descida para o Nelter é morosa e com cautela. Tem zonas de cascalho se fazem
bem ao subir, mas para descer, são autênticos “berlindes“ debaixo dos pés.
Noutros pontos do trilho, as pedras que se soltam debaixo dos nossos pés
acabam por vir bater nos calcanhares ou nas pernas, uns metros mais à frente. É
preciso identificar as armadilhas e evita-las.
Chegados ao Nelter, há que reforçar o alimento e carregar as coisas que
deixámos, para seguir viagem para Ilmil. À chegada, o Francisco e a Alina deixanos saber que não fazem a descida connosco. Estão demasiado cansados para
aguentar mais 10 kms de tortura. Ficam no refúgio e descem no dia seguinte.
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A descida para Imlil parecia mais rápida e curta do que viria a ser na realidade. E
o cansaço e dor nos músculos acabam com o que sobrava de resistência.
A mochila é cada vez mais pesada e magoa em todos os pontos de apoio.
Anoitece e fazemos o trilho já com os frontais colocados e a navegar o track-back
do GPS.
Quando se chega ao base-camp, está a decorrer um evento francês, de subida ao
Toubkal. Brincamos com a hipótese de nos irmos inscrever para subir
novamente. Mas o cansaço não deixa e o jantar em Marraquexe espera-nos.
Dia seguinte, compras e encontro em Marraquexe com o Francisco e Alina.
Dizem-nos que os espanhóis nos chamaram de malucos. Aquilo era para ser feito
em 3 dias e não em dois ☺
Daqui em diante e durante os dias seguintes fizemos o nosso regresso a casa,
passando por Kenifra, cascatas de Oumrbia (onde comemos umas belíssimas
tagines), visitámos os macacos em Azrou, já de noite, e marcamos uns waypoint
muito giros.
Auxiliamos num acidente de viação com feridos, onde os bombeiros, quando
chegaram, foram primeiro fazer o orçamento à viatura sinistrada e só depois
foram ajudar os feridos (que entretanto já tinham sido “tratados” por nós).
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Compramos melões em Alcácer Quibir e apanhamos a tal promoção dos 100
ouros do bilhete do barco para Algeciras.
Ainda ficamos impressionados com 3 miúdos marroquinos que tentavam a sua
sorte na travessia do estreito, debaixo de um contentor num camião, mas foram
descobertos e detidos já na fronteira em Espanha (viajavam no eixo do camião).
Os últimos 500 kms foram já feitos durante o dia de sábado e chegamos a Azeitão
ao final do dia. Descarregar as fotos e vídeos, procedemos às despedidas e ainda
houve tempo para ir ver o último concerto dos Delfins no coliseu. O descanso
chegou, eram 02.00 a.m.
O Discovery portou-se à altura de um Land Rover e vai ser uma pena ter de o
vender… Não tem avarias e por isso não me interessa ficar com ele ☺
A experiencia de subir ao Toubkal fica gravada na memória e a ideia de um dia
voltar lá não esta posta de parte.
Um obrigado muito grande aos companheiros de expedição. Aprendi muito com
eles.
Jardinas
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