ARTIGO TÉCNICO
“Cadê o couro que estava
aqui?”
“O gato comeu!”. Esta poderia ser uma
brincadeira de criança, mas se trata de um
problema nos curtumes e em outras empresas
que movimentam grande número de couros com
diferentes informações. Este artigo apresenta
uma alternativa para o gerenciamento do
estoques, que além de possibilitar o completo
controle de material também facilita a operação
e reduz o re-trabalho no manuseio dos couros.
INTRODUÇÃO
Aqueles profissionais da indústria do
couro um pouco mais experientes, que tenham
começado sua atividade há mais de 20 anos,
devem lembrar com facilidade a maneira como
os couros eram classificadas naquela época. Os
couros tinham sua tipificação estabelecida em
função da quantidade de defeitos e só!
À medida que a exigência dos
compradores passou a aumentar, além da
classificação por “pelaria”, também o tamanho,
a espessura, a tonalidade, o tipo de defeitos,
dentre outras características passaram a ser
consideradas para a classificação dos couros.
E, para complicar um pouco mais aquilo que era
tranqüilo e padronizado no passado, cada
cliente passou a estabelecer quais os critérios a
serem considerados no seu ponto de vista de
classificação.
A necessidade de atender estas
demandas, bem como para o curtume produtor,
de ajustar o seu produto à maneira mais viável
de comercialização, fez com que o processo de
classificação tenha se tornado extremamente
complexo e, muitas vezes, o gargalo dentro do
curtume. Além disso, o volume de couros em
estoque
e
a
dependência
de
bons
classificadores, passou a ser determinante nos
resultados da empresa.
Dificilmente a situação deverá se
simplificar no futuro, pelo contrário, a tendência
da customização indica que cada vez se tornará
mais complexo e necessário caracterizar o
couro de diferentes formas para atender de
melhor maneira as demandas dos clientes. E
assim há de ser feito! Mas a que custos? Mas a
que nível de complexidade?
Antes que o leitor pare por aqui a leitura
e se desespere com o quadro que estamos
desenhando, vale uma preciosa informação: há
alternativas simples para o gerenciamento de
couros nos curtumes e em outras empresas
(fabricantes de calçados, comércios de couros,
etc.) que movimentam grandes quantidades
deste material.
AS DIMENSÕES DE CLASSIFICAÇÃO
Podemos definir como “dimensão” um
critério que influencia uma classificação. Por
exemplo: quantidade de defeitos é uma
dimensão, pois classificamos o couro em
primeira, segunda, terceira e assim por diante
em função dos defeitos; tamanho pode ser outra
dimensão, pois classificamos o couro como
grande, médio, pequeno; a espessura pode ser
outra dimensão, e assim por diante (só para
ficar em poucos exemplos).
À medida que consideramos mais de
uma
dimensão
para
estabelecer
uma
determinada classificação de couros, podemos
dizer
que
temos
uma
classificação
multidimensional. O número de dimensões e o
número de níveis ou classes que são possíveis
para cada dimensão definem o número final de
classificações, a partir da multiplicação destes
fatores.
Sendo
assim,
a
progressão
é
geométrica e, por isto, cresce rapidamente.
Vejamos: 3 classes de tamanho (pequeno,
médio e grande) vezes 7 classes de qualidade
(primeira até sétima) resultam em 21 classes
totais (grande de primeira, média de primeira,
pequena de primeira, grande de segunda,
média de segunda, etc). Mas não nos limitemos
a estas duas dimensões. Espessura também é
importante, imaginemos que duas faixas de
espessura interessem, fina e grossa. Agora as
21 classes são multiplicadas por 2 , resultando
em 42. Um couro agora vai ser grande, de
primeira e fino...e daí por diante. Uma quarta
dimensão de classificação que seja introduzida
com mais dois níveis, por exemplo, “com
manchas” e “sem manchas”, faz o total de
classificações duplicar, totalizando 84 do
exemplo. Como pode-se ver, facilmente se
atinge centenas de classes de couro, pois cada
critério de separação (dimensão) que é
introduzido multiplica o número total de classes
pelo número de opções do próprio critério.
Muitas vezes, com o intuito de
“simplificar” a classificação, algumas classes
são agrupadas. Porém, este fato pode gerar
uma falsa simplicidade, com a decorrente falta
de controle sobre o processo. E esta falta de
controle – como toda a falta de controle – acaba
por custar caro. A percepção da qualidade do
produto pelo cliente baixa, pois a cada lote
recebido poderão existir couros de classificação
diferente de acordo com os critérios assumidos
pelo cliente. Ou então o custo de
processamento devido ao grande número de
classes vai às nuvens sem que se obtenha uma
melhor remuneração pela tipificação do produto.
romaneio próprio, e todos dados de cada couro
(área,
peso,
classe
resultante,
classe
intermediária, dados acessórios, fornecedor,
data e hora) disponíveis em formato digital.
A SOLUÇÃO DEFINITIVA
Para resolver definitivamente este
problema, deve-se utilizar um sistema de que
permita
ao
classificador
avaliar
independentemente cada dimensão. Isto é
possível com a utilização do CONCLASSE, um
console de classificação totalmente configurável
pelo usuário que permite a utilização de até
cinco dimensões para formar as classes.
Este sistema permite a configuração do
número necessário de alternativas para cada
dimensão, possibilitando ao classificador
selecionar a alternativa para cada dimensão
sem se preocupar em memorizar todas as
possíveis alternativas. O equipamento se
encarrega de fazer as combinações das
informações do classificador e das obtidas na
medição (através do MD SORT) e indicar qual a
classificação final daquele couro.
Além desta simplicidade, o sistema
possibilita acumular outras informações, que
apesar de não influenciarem na classificação
podem ser de interesse do curtume. Para
realizar isto, existe o conceito de “dado
acessório” que, como o próprio nome evidencia,
é uma informação extra fornecida em conjunto
com a classe da pele. No exemplo citado
anteriormente pode-se agregar o tipo de defeito
que levou aquela pele a receber a sua
classificação, ou um código do fornecedor da
mesma. O dado acessório serve para analisar o
resultado da classificação, possibilitando que se
descubram maneiras de melhorar o rendimento
do couro, ou ainda simplesmente comparar o
rendimento de um fornecedor comparado aos
outros.
O CONCLASSE possibilita a seleção de
cinco dimensões, que podem formar até 1500
classificações (ditas classes intermediárias), as
quais são agrupadas arbitrariamente para a
formação de 99 classes diferentes (ditas
resultantes, correspondentes ao lote físico),
considerando-se a possibilidade de inserir até
três dados acessórios. Estas possibilidades
permitem coletar um volume de informações
enorme sobre cada couro de um determinado
lote. A figura 1 ilustra estas possibilidades de
combinações.
O resultado da utilização deste sistema
de classificação multidimensional é o couro
separado por classe resultante, cada uma com
Figura 1 – Possibilidades de combinação
com o sistema de classificação
multidimensional - CONCLASSE
MAS, E DEPOIS...
Infelizmente os problemas de selecionar
e identificar os couros em função de sua
classificação não param por aí. Após os couros
classificados e encaminhados para o depósito, a
formação do lote de venda ou de
beneficiamento pode ser feito utilizando-se
couros de diferentes pallets.
Em
geral,
neste
processo,
as
informações obtidas na classificação inicial são
perdidas, ou gera-se um grande volume de
registros e re-trabalho (conseqüentemente
custos!) para agrupar novamente a informação
gerada na origem.
Para resolver mais este problema, foi
desenvolvido o MD PACK, um controlador de
movimentação de couros que possibilita a
identificação e a instantânea recuperação da
informação peça a peça. O equipamento
funciona de forma remota, através de qualquer
tipo de PDA, conectado a um computador com o
banco de dados (MD GATE) formados pela
identificação realizada pelo CONCLASSE.
Vejamos
um
exemplo
bastante
recorrente na comercialização de couros. O
cliente ou o beneficiamento solicita dois lotes de
100 metros quadrados de um wet-blue da
classe 85. Existem no depósito três pallets com
couros desta classe, porém o primeiro tem
apenas 80 metros, o que leva a utilizar também
peles do segundo pallet para completar a
metragem solicitada. Ao passar os couros, o
classificador vai registrando no equipamento a
pele que foi selecionada e instantaneamente a
informação é atualizada no banco de dados,
que mantém o inventário atualizado com as
características de todas as peles que formaram
o novo lote. Se, durante o processo de seleção,
alguma pele for descartada pelo classificador
em função de qualquer motivo, o sistema
informa qual o pallet mais próximo com couros
com a nova classificação.
Aquela operação que levaria muito
tempo, esforço e que causaria descontrole do
inventário de couros, passa a ser realizada de
forma simples, rápida e com o total controle
sobre as informações registradas.
CONCLUSÃO
Naturalmente o curtume ou o cliente já
classifica o couro em várias dimensões.
Identificar formalmente as mesmas vai trazer
benefícios como uma melhor compreensão do
processo, aumento da tipificação dos produtos e
a possibilidade de avaliação do rendimento de
fornecedores e de artigos. Enquanto o conceito
de classificação multidimensional parece
inicialmente algo assustador, é de fato algo
muito simples depois de compreendido, e as
vantagens que traz fazem com que seja uma
ferramenta valiosa para o curtume.
Além disso, o gerenciamento dos
estoques com a utilização dos equipamentos e
sistemas propostos, irá facilitar a operação de
classificação e expedição dos couros, reduzindo
gargalos, utilização de mão-de-obra e
aumentando a confiabilidade e padronização do
produto entregue pela empresa.
Artigo produzido pela equipe da
NBN Automação Industrial
Julho/2007
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“Cadê o couro que estava aqui?”