Os seniores já não são o que eram
Mário Beja Santos
No passado, e não muito remoto, as pessoas mais velhas tendiam a ter
opiniões mais conservadoras e tradicionalistas, eram por isso mais reticentes
às mudanças sociais de toda a espécie. Um pouco por toda a parte, os estudos
apontam para uma nova realidade: os seniores estão cada vez mais abertos às
mudanças e evoluíram nas suas representações sociais: mais tolerantes em
matéria de costumes, mais atentos às desigualdades sociais, ao desemprego,
às questões ambientais, ao acesso à saúde e ao medicamento, e francamente
entusiasmados com o telemóvel, a comunicação que lhes mudou o mundo. A
despeito das inquietações com o poder de compra, sempre mitigado e
associado às ajudas que prestam aos filhos e aos netos, tendem a ter uma
sociabilidade mais rica, até estimulados por iniciativas autárquicas: academias
seniores, ateliês de pintura, aulas de ginástica de manutenção, excursões,
convívios a que não faltam bailaricos, entre outras.
A família é o valor mais forte. As intolerâncias sobre o trabalho feminino,
as uniões de facto ou o divórcio esbatem-se. São muito mais compreensivos e
aproximam-se da opinião dos mais novos, deixaram de contestar que a mulher
passe a trabalhar fora de casa. Esta mudança de atitude prende-se com o facto
de que as preocupações dos seniores estão cada vez mais próximas de todos
os outros concidadãos: o desemprego, a perda de poder de compra, a pobreza.
Como é evidente, a realidade portuguesa ou grega não se podem ver ao
espelho e identificar em toda a linha com as realidades francesa ou alemã. Nos
países mais prósperos, de acordo com a estatística da União Europeia, a
pobreza dos seniores está a recuar enquanto a situação dos jovens adultos
estagna ou degrada-se. As reivindicações no campo da saúde são quase
permanentes, a opinião pública e os meus de comunicação social não param
de alertar para os que vivem sós ou sujeitos a dependência, o que se traduz
por mais iniciativas sociais.
Estes seniores, que nasceram durante a guerra ou logo a seguir revelam
uma sociabilidade ativa, pelo menos nos grandes meios populacionais:
recebem e visitam familiares e amigos, organizam passeios, aderem a
programas de mobilidade ou culturais, visitam museus, exposições,
entreajudam-se. O desenvolvimento de doenças crónicas, caso do Alzheimer,
Parkinson e esclerose múltipla, implica as famílias a tomarem o papel de
cuidadores, que também precisam de ser apoiados, tal o desgaste que a
solicitude permanente provoca.
Os seniores, são de uma maior fidelidade institucional aos partidos, ao
credo religioso, à estabilidade e paz social. Têm um olhar muito crítico mais
específico sobre o Estado Social que começa a recuar. Enfim, estes seniores
são cada vez mais modernos, têm cada vez mais vontade de viver, só uma
lufada de ar fresco nos tempos deprimidos da austeridade.
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