Trabalho de Campo no Ensino Médio: o que os alunos pensam sobre o ciclo geológico da areia Ana Rosa Jorge de Souza. PPGE/CUML Natalina Aparecida Laguna Sicca. PPGE/CUML Eixo temático: Pesquisa e práticas educacionais Este trabalho trata de questões curriculares e formação de professores. É parte de uma dissertação de mestrado que teve como objetivo investigar o processo curricular desenvolvido no contexto do trabalho no Grupo de pesquisa colaborativa “Interdisciplinaridade e Ciência do Sistema Terra como Eixos para o Ensino Básico”, pela professora de Química (autora da dissertação), e pelo professor de Física. Concebemos o currículo como um processo que se inicia no contexto das macropolíticas e se dá em vários contextos, como nos afirma Gimeno Sacristan (1998), sendo que, neste trabalho, nos deteremos no currículo em ação, que se dá no âmbito da escola. Assumimos que o professor tem um papel fundamental na construção do currículo nas salas de aula (MOREIRA; CANDAU, 2007), no sentido apontado por Morgado (2011, p.808), que defende que os professores não se limitem: a cumprir aquilo que lhes é prescrito, se empenhem numa contínua renovação e (re) valorização científica e pedagógica e se assumam como profissionais autônomos que tomam decisões em prol do conjunto concreto de alunos com que trabalham. (MORGADO, 2011). Está apoiado ainda numa concepção de que o processo curricular pode ter um outro contorno se os professores participarem de pesquisa colaborativa voltada para a busca da implementação de um currículo integrado, na perspectiva apontada por Beane (2003) visando à construção, na escola, de um espaço discricionário. O currículo de Química no Ensino Médio tem contemplado o estudo dos materiais, seja no âmbito do currículo prescrito, em nível federal, seja nas Orientações Curriculares Nacionais, em nível estadual, no currículo do Estado de São Paulo (2008), seja nos livros didáticos ou, ainda, na prática pedagógica, inclusive na que vimos desenvolvendo em nossa trajetória docente. Porém, no grupo de pesquisa colaborativa assumimos que a perspectiva que deveríamos implementar para desenvolver o estudo dos materiais, no sentido de promover a contextualização a partir do ambiente, exigia outras dimensões. O estudo dos materiais, além de se apoiar na teoria atômica, deveria abordar o fluxo e o transporte de materiais na natureza, a exploração de recursos naturais de maneira sustentável, assumindo, assim, uma perspectiva sistêmica. Apoiamo-nos em Gonçalves e Sicca (2007, p.9-10), que indicam que o grupo de pesquisa colaborativa “Interdisciplinaridade e Ciência do Sistema Terra como Eixos para o Ensino Básico” assume o local e a cidade como foco de atenção para construir propostas didáticas, tomando como ponto de partida dados empíricos próximos dos alunos, visando a criação da “[...] possibilidade de aprofundar conteúdos e construir modelos e formulações abstratas e teóricas em torno de temas relevantes para entender o ambiente”. Os autores ainda concebem que essa “[...] dimensão do local é marcada pelo cotidiano, pelo imperceptível, pelo que está incorporado e invisível aos olhos do dia a dia”. Mas salientam que para fazer do local um objeto de estudo é necessário torná-lo “[...] algo estranho, surpreendente, inusitado” para que se possa “construir um problema que está escondido sob o véu do ritmo rápido e impensado”. Assim, apresentam esta dimensão local como centro do debate para as práticas pedagógicas e discutem não só o como “fazer, mas tratam do que ensinar”. (GONÇALVES; SICCA, 2007, p.14). A partir de tais pressupostos curriculares, das discussões nos ciclos reflexivos do grupo de pesquisa e das questões que surgiram como parte de nossas reflexões pessoais, em conjunto com o professor de Física, procedemos ao estudo dos materiais tendo como foco o estudo do ciclo geológico da areia. O processo curricular se deu com alunos do Ensino Médio de uma unidade escolar da periferia de uma cidade do interior de São Paulo. A prática pedagógica foi desenvolvida por meio de aulas expositivas, atividade com o modelo de rio e trabalho de campo. Neste trabalho faremos um recorte da pesquisa e analisaremos o trabalho de campo, objetivando averiguar as concepções dos estudantes acerca dos ciclos e fluxos de materiais na natureza, particularmente o ciclo geológico da areia após o trabalho de campo, última etapa do processo curricular desenvolvido. Uma das principais estratégias para o ensino de Ciências, apontada por muitos autores, é o trabalho de campo. Para Marques et al ( 2011, p.4), as atividades de campo “[...] permitem o contato direto com o ambiente, possibilitando que o estudante se envolva e interaja em situações reais” Isso, segundo o autor, “[...] além de estimular a curiosidade e aguçar os sentidos, possibilita confrontar teoria e prática”. Viveiro e Diniz (2009, p.1) salientam que o trabalho de campo é uma estratégia que possibilita explorações de conteúdos de Ciências e o contato do estudante com o ambiente, favorecendo sua melhor interpretação dos fenômenos. Destacam ainda que o campo “[...] substitui a sala de aula por outro ambiente, natural ou não”, possibilitando aos estudantes o estudo das relações entre o homem e o ambiente, incluindo a interação do homem no mesmo, por meio da exploração de diversos aspectos, como: exploração de recursos, ciclos e fluxos de materiais entre outros. (VIVEIRO; DINIZ, 2009, p.28) Expandindo esta concepção para outros autores, Seniciato e Cavassan (2004, p.135) afirmam que as aulas de campo em ambientes naturais tornam o ensino de Ciências envolvente e motivador, promovendo a aprendizagem dos conhecimentos científicos por meio de uma visão mais complexa dos fenômenos naturais, através de sensações e emoções aguçadas no ambiente natural. Assim, para as referidas autoras, o trabalho de campo é um instrumento que possibilita uma nova perspectiva na relação homem-natureza. Santos e Compiani (2005, p.2) concebem que as atividades de campo devem ser planejadas, e são: [...] fundamentais à compreensão das questões ambientais em sua complexidade, propiciando uma visão articulada das diferentes esferas de repercussão de um problema ambiental em estudo. Isto favorece a compreensão dos problemas socioambientais na escola, bem como contribui para a formação de cidadãos críticos e participativos em busca da melhoria da qualidade de vida. Apoiadas em tais pressupostos procedemos a uma pesquisa qualitativa, mais especificamente uma pesquisa-ação. 1. Procedimentos metodológicos A pesquisa é qualitativa (BOGDAN; BIKLEN, 1994) e aproxima-se da perspectiva de pesquisa-ação (THIOLLENT, 2003). A pesquisa foi planejada no contexto do Grupo de pesquisa colaborativa, anteriormente mencionado, sendo que a intervenção se deu na unidade escolar. O Grupo de pesquisa é composto por professores pesquisadores de universidades paulistas públicas e privadas e professores de diferentes componentes curriculares do Ensino Médio da rede pública, tendo sido constituído em 2003. O referido grupo elegeu Ribeirão Preto como objeto de estudo e ensino, estabelecendo um conjunto de pesquisas sobre o ciclo da água, em sua primeira fase e, na segunda fase, estabeleceu como tema o ciclo da areia. Para tal, foram estudados, pelo coletivo do grupo, os conceitos da Ciência do Sistema Terra que poderiam ampliar nosso olhar para a natureza, bem como possibilitar o estabelecimento de elos entre as disciplinas do currículo do Ensino Médio. Em seguida, participamos de um trabalho de campo num porto de areia, na margem do rio Pardo, ocasião em que construímos um acervo fotográfico, coletamos amostras e levantamos conceitos a serem transformados em objetos de ensino. A unidade escolar onde foi realizada a pesquisa, Escola Desafio (nome fictício), está localizada na periferia da cidade de Ribeirão Preto. Consta do Projeto Político Pedagógico da Escola Desafio (2012), que a escola atende a migrantes, geralmente das regiões norte e nordeste do país e do sul de Minas Gerais. Boa parcela dos moradores trabalha na construção civil e a maioria deles vive de subemprego, sem carteira assinada. Muitas mães trabalham como domésticas em residências do centro e em regiões nobre da cidade. Os dados deste recorte da dissertação foram colhidos por meio da análise documental dos registros escritos (relatórios e diários de bordo), e dos vídeos elaborados pelos alunos no decorrer do trabalho de campo. Para Pimentel (2001, p.178) a exploração de documentos é primordial, pois favorece uma análise, uma organização e uma interpretação segundo os objetivos da investigação proposta. 1.2 A intervenção A intervenção teve várias fases. Na primeira, em 2009, participaram 100 alunos das três séries do Ensino Médio que aplicaram questionários sobre a origem da areia na comunidade próxima à escola, 118 moradores. Em decorrência dos resultados, que indicaram que 65%, desconhecia a origem da areia, principalmente no tocante ao seu transporte na natureza, foram planejadas as fases seguintes. Na segunda fase, em 2011, ocorreu a atividade prática de observação de um modelo de rio na escola na qual participaram 80 alunos. Em seguida ocorreu o trabalho de campo, realizado em um porto de areia, às margens do rio Pardo, no qual participaram 33 alunos, das três séries, do Ensino Médio. Esta terceira fase será foco da análise no recorte deste trabalho. O trabalho de campo seguiu um roteiro pré-elaborado tendo sido dividido em três pontos: I - na estrada de terra, antes de chegar ao porto para que os alunos pudessem observar as variações no terreno no relevo e nas construções presentes ao longo da estrada; II - às margens do rio Pardo, para observação da draga extraindo areia do leito do rio e descarregando; III - local de depósito e armazenamento da areia comercializada, onde estão os filtros e as peneiras; questão chave para entender de onde vem um bem material essencial à vida das pessoas. Os diários de bordo foram idealizados para que os alunos, durante a realização do trabalho de campo, pudessem fazer suas observações sobre os fenômenos naturais (transporte de materiais, fluxo e depósito de materiais), e os fenômenos decorrentes da ação humana (extração de areia, o uso de máquinas e equipamentos, os processos de separação de misturas e o reaproveitamento de materiais). A visita ao porto de areia durou cerca de três horas e meia, houve três paradas em locais diferentes. Nesses pontos os professores explicaram e tiraram dúvidas pertinentes às questões constantes nas atividades do roteiro. Após o campo, os alunos responderam às questões, em grupos, sobre o ciclo geológico da areia. Estas versavam sobre o transporte e o fluxo de materiais, as propriedades e características da areia, uso e extração pelo homem e os aspectos socioambientais destes processos, a separação de materiais e os instrumentos utilizados para tal separação. Após coletarmos os dados, procedemos a uma análise do conteúdo por meio de uma leitura flutuante dos relatórios e transcrição dos vídeos elaborados pelos alunos. Percebemos que as respostas estavam relacionadas às questões de dinâmica de natureza, especialmente no que se refere às transformações e fluxos de materiais e ao transporte de materiais. Após discussões no Grupo de pesquisa colaborativa, e no subgrupo, resolvemos categorizar as respostas dos estudantes por meio de unidades temáticas. Sendo assim, definimos três categorias: visão sistêmica da natureza, interferência humana na natureza e transformações características da própria natureza. 1.3 O que os alunos pensam sobre o ciclo geológico da areia: alguns resultados da pesquisa Ao analisar os registros dos alunos pudemos perceber que as explicações para os fenômenos observados apoiavam-se na teoria atômica, semelhante ao que acontece em aulas de Química, entretanto, é importante perceber a formação de conceitos a partir de fenômenos que observaram no campo. Por exemplo, nos relatos dos alunos estes se referem à densidade por meio de expressões como “mais leves” ou “mais pesados”, expressões do senso comum, mas os alunos reconheceram tipos de areia como “mais finas” e “mais grossas”, que, anteriormente, não correlacionavam com o nível microscópico (tamanho das partículas). As ligações químicas, no caso, a ligação covalente entre as partículas de areia, foram bem interpretadas pelos estudantes ao identificarem a fórmula química do dióxido de silício, por meio da distribuição eletrônica, demonstrando que os elementos silício e oxigênio se combinam. A solubilidade foi outro conceito muito discutido, pois muitos estudantes, ao serem indagados sobre a mistura água e areia, perceberam que a água leva a areia, não a dissolve, formando uma suspensão após certo tempo e, a partir disso, também foram discutidas a separação de misturas e a densidade. Por exemplo, a aluna Cristina assim se expressou: “a água e a areia se misturam e depois a areia fica embaixo e a água corre por cima da areia” e a aluna Paula indicou: “Acima da água ficam só as partículas leves, as pesadas ficam embaixo”. Luana ainda falou “ela (a areia), só absorve água”. Os alunos, em seus relatos, destacaram as diferenças entre o transporte e a extração de materiais pelo homem (dragas, bombas, máquinas), e o transporte de materiais pela natureza (água, vento), ampliando seu conhecimento sobre os fenômenos que, anteriormente, conheciam parcialmente. A seguir, nós nos concentramos nas percepções e interpretações dos alunos, que já trazem indícios de uma concepção sistêmica de natureza. Ficaram evidentes os pontos de intersecção entre o conhecimento das ciências do sistema terra e a Física. As relações entre homem e natureza foram sendo tecidas. Vínculos entre vários processos foram sendo construídos, como os processos de extração de minerais (areia), a energia que acompanha o transporte de areia (fina e grossa), os aspectos ambientais e econômicos que acompanham essa extração, os processos naturais de acúmulo de areia, os materiais que são extraídos juntamente com a areia, o uso de combustíveis (consumo de energia), para o funcionamento da draga, os processos de separação de misturas e a composição dos materiais. Observamos, nos relatos dos estudantes, indícios de visão sistêmica de natureza. Os alunos identificaram o desgaste e a deposição das rochas ao longo dos anos. Eles perceberam o fluxo e o transporte de materiais, durante o trabalho de campo, no porto de extração de areia, às margens do rio Pardo. Alguns trechos são destacados a seguir: “[...] as pedras, com o passar do tempo, vão se transportando pelo o rio [...]” (Rosa, 18 anos, 3ª. Série do EM). Podemos observar, neste relato, indícios da compreensão de ciclo, ou de transformações da própria natureza desenvolvidos pelos alunos. Quanto aos processos de separação, no porto de extração de areia, os alunos perceberam o uso de equipamentos (draga, filtros, caminhão, entre outros), correlacionando-os ao desenvolvimento da tecnologia e indicando a ação humana sobre a natureza: “ [...] a draga sai para pegar areia e chega no porto. E a bomba extrai (a areia) para o filtro separar”. (Alexandre e Thiago, 18 anos, 3ª. Série do EM). Ou ainda: “[...] a areia é levada pelo rio, depois a draga extrai e leva ao porto, pela bomba, para a peneiração e depósito de areia, depois é transportada” (Rosa, 16 anos, 2ª. Série do EM). As transformações características da própria natureza também surgiram nos relatos dos estudantes do Ensino Médio. No porto de areia, no trabalho de campo, eles destacaram que: [...] as pedras, com o passar do tempo, vão se transportando pelo o rio[...] (Rosa, 18 anos, 3ª. Série do EM). [...] observamos a relação entre o caminho da água e o caminho que ela percorre na areia. (João e Andreia, 16 anos, 2º. Série do EM). [...] a areia é levada pelo rio e depois a draga pega e leva para o porto. (Carlos, 17 anos, 2ª. Série do EM). A análise dos relatos dos estudantes nos indicou que os mesmos percebem fluxos e ciclo de materiais na natureza apresentando indícios de percepção sistêmica. O tamanho dos materiais transportados, relacionado com a energia envolvida no transporte dos mesmos na correnteza, é fator relevante para o entendimento do ciclo geológico da areia e também foi relacionado: “[...] obviamente os grãos de pouca massa seriam levados mais rapidamente [...]”. Outra aluna assim se expressou: “Capacidade de transporte é a facilidade ou dificuldade que a água tem para levar as partículas de areia, seixos, pedras, etc. [...]” (Renata, 2ª. Série do EM). Os relatos seguintes nos indicam que os estudantes perceberam a interferência do homem (draga/máquinas), no processo de extração da areia do rio e que, junto com ela, são extraídos outros materiais (misturas), que têm de ser retirados (processo de filtração), para que se tenha apenas o tipo de areia desejado (fino ou grosso). A draga trouxe a areia e jogaram água para que a areia passasse pelo cano para ser filtrada e separada, a areia, dos cascalhos e pedras e, depois, nós fomos para o depósito e vimos uma montanha de cascalho e pedras e outras de areia. Recolhemos algumas pedras e tipos de areia diferentes” (Juliana, 3ª. Série do EM) Paramos onde é feita a separação da areia com a água, elas ficam em cima de um filtro para separar a areia por tamanho. Nós paramos no porto, onde a draga pega a areia, e tem um cano onde passa a areia e a água, e, ainda mais, junto com as pedras, o cascalho e o seixo. (Maria, 3ª. série do EM) Outros relatos comparam os efeitos da erosão na vegetação (mata ciliar), e o fluxo de água e a deposição de materiais com a energia, respectivamente: Como o rio feito na escola não tem vegetação a água causa uma maior erosão levando a areia da margem, e a vegetação da mata, na margem do rio, diminui a erosão. (Andreia, 2ª. Série do EM) Ao mudar o fluxo de água, muda a erosão, o transporte e a deposição, ao aumentar o fluxo, aumenta-se a energia. É possível observar que o fluxo de água cria um buraco no começo do experimento. (João, 2ª. Série do EM) Alguns estudantes coletaram materiais e fizeram observações relevantes. Tal classificação dos materiais em minerais (areias), e em orgânicos (restos de vegetais ou plantas), pode contribuir para futuros estudos sobre conceitos na área de Ciências Naturais (Biologia, Física e Química). Ainda perceberam a importância econômica do processo, pois alguns estudantes indagaram sobre a devolução dos materiais orgânicos à natureza, sugerindo que poderiam ser aproveitados como adubos. A draga suga também peixes e matéria orgânica (folhas, troncos podres), que podem ser usados para adubo, o cano da bomba leva a areia para o depósito. (Renata, 2ª. série do EM) Alguns alunos ressaltam a importância do trabalho de campo: “Achei muito interessante, pois quase ninguém sabe de onde realmente a areia vem” (Carlos, 2ª. série do EM) Assim, a relação entre as dinâmicas da natureza com a separação de misturas e com os tipos de materiais, relacionando-os aos processos realizados pelo homem, foram observadas nos relatos de estudantes, durante o trabalho de campo. Para ser limpa [...] vimos onde são separados o cascalho e o seixo da areia [...] vimos onde é jogada a areia separada e o local onde eles colocam a areia [...] eles misturam areia e cal virgem para o reboco de casas e edifícios (Estudantes da 2ª. série do EM) Percebemos que os estudantes ressaltaram as transformações decorrentes da própria natureza ao longo dos anos, compreendendo o desgaste e a deposição de materiais, entre outros. Tal compreensão dos fenômenos naturais se faz relevante para o processo de aprendizagem e, consequentemente, para a construção do conhecimento, conforme destacam Gonçalves e Sicca (2008), ao afirmarem que a natureza deve ser tratada a partir de sua dimensão local para posterior comparação com o global, de maneira sistêmica. Por meio das análises iniciais das respostas às questões propostas aos estudantes, e de seus relatos escritos em diário de bordo, constatamos que os alunos compreenderam que a natureza sofre alterações com ou sem a interferência humana, que existem fluxos de materiais diversos e que dependendo das variáveis analisadas (energia, altura, quantidade de água, presença ou ausência da mata ciliar, erosão, correnteza, entre outras), há variação do tamanho do material transportado (desde partículas até seixos), e influência nos locais a serem encontrados de acordo com a época do ano. Ainda ressaltaram a importância dos processos físicos de separação de misturas para a obtenção dos diferentes tipos de areia vendidos para os depósitos de materiais de construção. Classificaram os materiais coletados por eles ao longo do trabalho e extraídos do rio juntamente com a areia em orgânicos e não orgânicos ou simplesmente minerais e vegetais. 2. Referências BEANE, J. A. 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