1 O QUE OS UNIVERSITÁRIOS PREFEREM EM TERMOS DE LEITURA Neires Maria Soldatelli Paviani i – PPGEd/UCS Universidade de Caxias do Sul [email protected] Resumo: Este texto faz parte das análises e reflexões efetivadas sobre dados da pesquisa: Estudo comparativo de desempenhos em leitura entre universitários iniciantes e concluintes – Módulo Tear 4 (2008-2009). Trata especificamente da relação entre preferências e frequências em leitura (questionário) e desempenho em leitura desses alunos universitários, iniciantes e concluintes (teste), por área de conhecimento. É possível estabelecer, a partir dos dados, uma estreita relação entre frequência e preferência por determinada leitura, indicada na 1ª posição, e o desempenho, situando a grande maioria desses alunos, tanto iniciantes quanto concluintes, na faixa de desempenho mediano em leitura. As reflexões sobre os resultados foram feitas com base nas contribuições de Foucambert (1994), Colomer (2007), dentre outros. Palavras-chave: desempenho em leitura, aluno universitário, freqüência e preferência em leitura. Abstract: This is part of the analysis and reflection take effect on survey data: A comparative study of performance in reading among university graduates and beginners - Tear Module 4 (2008-2009). Specifically addresses the relationship between preferences and frequency of reading (questionnaire) and reading performance of college students, beginners and seniors (test), by area of knowledge. It is possible to establish from the data, a close relationship between frequency and preference for any reading indicated in the 1st position, and performance, bringing the vast majority of these students, both beginners and seniors, in the range of average performance in reading. Reflections on the results were based on the contributions of Foucambert (1994), Colomer (2007), among others. Keywords: performance in reading, university student, frequency and preference in reading. Para conhecer a História geralmente recorremos à enciclopédia. Mas há mais História em Tolstói, Conrad e Standhal que nos livros didáticos. E não é difícil entender o porquê. Estes grandes autores vivenciaram sua época e o fizeram com grande sensibilidade, conseguindo transmitir, através de sua obra, o que de mais profundo caracteriza um período histórico, a forma de sentir e compreender o mundo ao redor. Os enciclopedistas são capazes de narrar e encadear os fatos. Os artistas são capazes de senti-los e decifrá-los. (Thomaz WOOD, 1994, p.100) O que fazem as palavras não dura. Duram as palavras. Porque as palavras são sempre as mesmas e o que dizem não é nunca o mesmo. 2 (PORCHIA, 1989, p. 111) Introdução A pesquisa Estudo comparativo de desempenhos em leitura entre universitários iniciantes e concluintes - Tear 4 1 (2008-2009) analisou, em linhas gerais, quanto a passagem por um curso superior melhoraria o desempenho em leitura do aluno e, consequentemente, formasse leitores autônomos. Com base nos dados dessa pesquisa, procurou-se, neste texto, fazer algumas reflexões sobre respostas dadas especificamente a uma questão do questionário socioeconômico e cultural, aplicado a esses alunos da Universidade de Caxias do Sul, em diferentes momentos: para a pesquisa “Diagnóstico do desempenho em leitura de alunos universitários” – Módulo TEAR 1 (2001), a pergunta foi a frequência O que mais lê?; e, para a pesquisa “Estudo comparativo do desempenho em leitura de alunos iniciantes e concluintes de cursos de graduação da Universidade de Caxias do Sul”- Módulo TEAR 4 (2008), a pergunta foi sobre a preferência: O que você mais gosta de ler? Destacamos, portanto, que os sujeitos não são os mesmos para ambos os módulos. Não se trata, portanto, de um estudo longitudinal. Com vistas a simplificar a análise, daqui em diante referir-nos-emos às categorias frequência e preferência em leitura. Aparentemente elas parecem estar interrelacionadas por sintetizarem idéias que se complementam ou que tenham alguma reciprocidade, uma vez que se pode deduzir que, se leio algo frequentemente, é porque me é uma leitura prazerosa; e, se gosto de ler, o faço com frequência. No entanto, a recíproca nem sempre é a mesma. Em se tratando de alunos universitários, é possível que a frequência nem sempre esteja relacionada à preferência, uma vez que a quantidade de leituras às vezes pode estar condicionada a exigências, a obrigações acadêmicas, ou seja, são feitas com outros propósitos que não o do prazer de ler, ou que preferencialmente leriam por espontânea vontade ou por prazer de ler. Então, não se trata de a frequência estar relacionada necessariamente à preferência, como poderia parecer à primeira vista. O contrário, porém, se percebe que a preferência por determinada leitura pode levar naturalmente à sua frequência. 1 Os dados tratados neste texto fazem parte do corpus dos Módulos Tear 1 e Tear 4, e as análises e reflexões contaram com contribuições da equipe: Professoras Niura Maria Fontana e Isabel Maria Paese Pressanto e bolsistas Luísa Verza (CNPq), Jaqueline Ana Faria Lenzi (Empresa Timo) e Elisa Seerig (voluntária). 3 Andar com as próprias pernas desde cedo As pessoas que passam pela universidade acabam, bem ou mal, tendo uma compreensão leitora. Não obstante, passar por ela não significa que garanta, por si só, que essas pessoas se formem leitoras. A maioria dos alunos não adquire o hábito de ler e, inclusive, alguns retrocedem como leitores, já lá na base da escolarização. De um lado, se percebe que os alunos se iniciam na leitura nos primeiros anos do Ensino Fundamental e depois, ainda nessa fase, nos últimos anos, são abandonados, ficam soltos, à deriva. De um modo geral, o professor, cada um com sua disciplina, quase não se faz presente nessa função, não mantém o estímulo e o ritmo de leitura no aluno. Há pouca, para não dizer nenhuma, mediação do professor. A tendência desse fenômeno começa a se verificar a partir da quinta-série (sexto ano) do Ensino Fundamental. De outro lado, apesar de a escola ter a responsabilidade de formar leitores, “A questão do hábito de leitura transcende os marcos da escola”. (MUÑOZ, 2004, p. 79). A família, em alguns casos mesmo sem ter muitas condições, e a sociedade em geral precisam ser fortes aliados e somar forças com a escola, nesse propósito de formar leitores. Esse tripé, defendido por Foucambert (1994), parece ser a condição sine qua non para mudar o status quo dessa realidade de cidadãos não leitores e, aqui enfatizamos nossa preocupação com a população de profissionais de nível universitário. Isso de a família e de a sociedade terem o compromisso de se envolverem mais com a leitura não exime, por sua vez, as instituições educacionais (daí a nossa preocupação) de serem as desencadeadoras e as promotoras desse processo de formação de leitores. Cabe à escola, desde cedo, se aproximar dos pais e trabalhar essa ideia de tê-los como aliados nessa meta e, em muitos casos, orientá-los na forma como proceder em termos de leitura. Geralmente há uma carência de condições dos pais, que, muitas vezes, não é percebida, ou, o que é pior, não levada em conta pelos professores. Muñoz, em seus estudos, detecta essa realidade, quando traz depoimentos de pais que se manifestam sobre a questão dizendo “que não recebem dos professores nenhum tipo de 4 orientação (...) para ajudar os seus filhos no aperfeiçoamento da leitura nem para fomentar o hábito de ler”. (2004, p. 79) 2 . Os pais podem até não saber, mas o professor não pode esquecer ou deixar de saber que os pais são, para os filhos, uma referência, um ‘exemplo’. Querendo ou não, consciente ou inconscientemente as atitudes dos pais, em relação aos livros e à leitura, exercem influência em seus filhos em termos de usos de linguagem, de situações de leitura associados aos momentos de lazer, de trabalho, da profissão, etc. “Tu és o que tu comes” Parafraseando o dito acima, temos a metáfora “Tu és o que lês”. Colocada dessa forma a questão da leitura e da formação de leitores no processo educativo, é possível, sem deixar de considerar interferências de outras variáveis nessa etapa, antever uma atitude do aluno em relação à leitura, ao livro, que pode ser de valorização ou não valorização, de a leitura e os livros fazem parte de suas práticas culturais e de seu cotidiano social e profissional. É possível identificar, como decorrência, determinados comportamentos que podem ser de leitor autônomo, crítico que busca natural e espontaneamente a leitura, ou de “leitor” dependente que só ‘comete’ o ato de ler quando solicitado/obrigado ou por objetivos imediatos, como, por exemplo, ler para dar conta de tarefas acadêmicas. Nesses casos, ocorrem as chamadas leituras compulsórias. Considerando-se que, geralmente, os alunos universitários leem livros para fins de estudo (testes, provas, exames, etc.) e de trabalhos, produção de textos acadêmicos (esquemas, resumos, resenhas, ensaios, artigos, relatórios, monografias, etc.), pode ocorrer que, nesses casos, enciclopédias, textos teórico, científicos e filosóficos, manuais, livros didáticos e similares e obras de referências, como revistas científicas, de divulgação científica, entre outros, sejam os textos mais procurados pelos alunos, porque trazem informações de que precisam especificamente para sua área de formação. São leituras necessárias, porém, às vezes, por demais setorizadas e concentradas em especificidades, não permitindo ao estudante uma visão global do fenômeno, das interrelações do objeto de estudo com as demais áreas do conhecimento. 2 “[…] que no reciben de los profesores ningún tipo de orientaciones (…) para ayudar a sus hijos en el perfeccionamiento de la lectura ni para fomentar el habito lector”. (MUÑOZ, 2004, p.79). (Tradução feita por mim). 5 Nessa perspectiva, o que se esperaria, então, de um aluno universitário, em termos de leitura literária (romances, contos, novelas, poesia, etc.), é que ele naturalmente fizesse essa leitura, como um complemento para sua formação. Essa não é, necessariamente, uma leitura estudo, a não ser por quem a faça com este objetivo (são poucos os que fazem esse tipo de leitura). A leitura de obras literárias, geralmente, é feita com outros propósitos. Os textos literários não visam ao ensinar. Nesse sentido não são didáticos. Pode-se, sim, aprender, e se aprende muito com esse tipo de leitura, ou até mais que de outras leituras. Este parece ser um grande equívoco de quem, por preconceito com leitura de obras literárias, pouco ou nada investe do seu tempo nela. Dessa forma, esse aluno deixa de perceber o quanto se pode aprender com ela. Na leitura estudo, o aluno está exposto às informações; na leitura literária, ele se depara com situações e experiências de vida inimagináveis. Sobre isso, Heilbrun (1986, citado por COLOMER, 2007, p.28) comenta: O que importa é que as vidas não servem como modelos. Só as histórias servem. E é duro construir histórias nas quais viver. Só podemos viver nas histórias que lemos ou ouvimos. Vivemos nossas próprias vidas através dos textos. Podem ser textos lidos, contados experimentados eletronicamente ou podem chegar até nós, como os murmúrios da nossa mãe, dizendo-nos o que as convenções exigem. Qualquer que seja sua forma ou meio pelo qual nos chegam, essas histórias nos formaram a todos nós e são as que devemos usar para produzir novas ficções, novas narrativas. Mais importante do que “ensinar literatura”, é promover uma educação literária para os alunos universitários. É importante que a leitura de obras literárias seja incluída na formação desses, como diz Colomer (2007, p.31) “se se deseja formar cidadãos preparados para entender a época atual”. O valor formativo dessa leitura é “O de contribuir para a formação da pessoa, uma formação que aparece ligada indissoluvelmente à construção da sociabilidade” (Idem, p.31) e, ainda, a leitura de diferentes obras oferece ao aluno “a ocasião de enfrentar a diversidade social e cultural, no momento em que tem início as grandes questões filosóficas propostas ao longo do tempo” (Idem, p.31) Na sequência dessa breve reflexão sobre as expectativas em relação a como universitários podem se posicionar em termos de frequência e preferência em leituras, veremos que leituras estão indicadas, por ordem de preferência (1ª posição, dentre 10 opções), ou seja, se são leituras de obras que subsidiam estudos ou se de obras literárias. 6 Os dados obtidos, por meio de respostas dos alunos universitários (iniciantes, 2001 e concluintes, 2008), a uma pergunta do questionário foram agrupados com base nos critérios do CNPq, cuja classificação é por áreas do conhecimento (Ciências Humanas; Ciências Sociais e Aplicadas, Ciências Agrárias, Ciências da Saúde; Ciências biológicas; Ciências Exatas e da Terra; Engenharias/Tecnologias; Lingüística, Letras e Artes). Em primeiro lugar, queremos verificar que leitura está posicionada, por área de conhecimento, entre as primeiras indicadas, ou seja, que leituras ocorrem preferencialmente ou mais frequentemente; e depois, na medida do possível, relacionar essas indicações com o desempenho desses alunos em leitura Isso posto, e tendo presente que esses alunos universitários (iniciantes, 2001 e concluintes, 2008), em um teste que lhes foi aplicado para diagnosticar desempenho em leitura, não tiveram um desempenho acima da média, segundo a escala de Beth (apud ALLENDE e CONDEMARIN, 1987) e O’Malley e Valdez Pierce,1996), compreendendo as três faixas: independente (mais de 75%); de instrução (de 50% a 74%) e de frustração (menos de 50%). Esse estudo preteriu essas categorias de análise, passando a usar novos critérios estabelecidos por faixas de acertos: uma faixa de maior número de acertos e uma faixa de menor número de acertos dentro dos grupos da amostra. Essas faixas serviram de parâmetro para a análise com seguintes classificações para os grupos de desempenho em leitura: superior, mediano, inferior. Na segunda análise, temos os seguintes resultados, conforme o Quadro 1 (abaixo), que mostra o desempenho geral, ainda não discriminado por área de conhecimento. Há, de um lado, o grupo de iniciantes com desempenhos em leitura: inferior (14,6%); mediano (75%); e superior (9,7%) e, de outro, o grupo de concluintes com desempenhos: inferior (9,5%); mediano, (73,7%); e superior (16,8%). Quadro1 Faixas Grupo Iniciantes (2001) Concluintes(2008) Desempenho geral de alunos universitários em leitura inferior mediano superior total 14,6% 9,5% 75,7% 73,7% 9,7% 16,8% 100% 100% Fonte: Pesquisas TEAR I e IV Percebe-se que os concluintes tiveram, proporcionalmente, um desempenho levemente melhor em relação aos iniciantes nos faixas das extremidades (inferior e superior), porém, na posição mediana, a diferença não é significativa, ou seja, nessa 7 faixa que concentra um maior percentual de alunos, temos a grande maioria ocupando a faixa de desempenho mediano em leitura. Esse dado é preocupante porque significa dizer que os alunos não evoluem em leitura. Assim como ingressam na universidade com desempenho mediano, também concluem com o mesmo desempenho. Portanto, uma grande faixa de alunos não é atingida pela universidade no que tange ao desenvolvimento de habilidades de leitura. Essa constatação, embora colocada em linhas gerais, tem relação com a questão de que tratamos neste texto, que é estabelecer elos entre as indicações que os alunos fazem de frequência (2001) e de preferência (2008) em termos de leitura (jornais, revistas, obras de auto ajuda, livros teóricos, livros técnicos, romances, crônicas/contos, poemas, outros), e o desempenho deles. É possível, então, que haja uma relação entre o desempenho em leitura e as categorias frequência e preferência de leituras. A questão pode ser colocada, inicialmente, dessa forma: de um lado, há o aluno como responsável imediato, porque ele é quem faz as escolhas ou decide o que ler; e de outro, há a universidade (professores, cursos, programas de ensino, etc.) com seu papel de formar pessoas, profissionais competentes, cultos, versáteis intelectualmente e sensíveis sócioculturalmente. A Tabela 1 e a Tabela 2 nos mostram, por áreas de conhecimento (Cf. CNPq), respectivamente, dados de iniciantes e de concluintes relativos às indicações na 1ª posição de freqüência em leitura (o que mais lê?) e às de preferências em leitura (o que mais gosta de ler?). Tabela 1 O que os alunos ‘iniciantes’ mais lêem? (freqüência) 1ªposição jornais revistas auto cronicas/ livros livros romances poemas ajuda contos teóricos técnicos 2 0 0 0 1 2 CET 5 2 CBS ENG 4 11 4 3 0 1 2 2 0 2 0 0 4 1 0 2 CSA 41 16 7 2 10 6 1 5 CH LLA 15 2 11 0 4 0 4 0 4 1 1 1 4 0 1 0 Fonte: Pesquisas TEAR I e IV 8 O que se pode depreender da Tabela 1 é uma tendência para leitura de jornais por alunos iniciantes, das diferentes áreas do conhecimento, pois é a leitura com 78 indicações para a primeira posição, seguida de revistas com 37 indicações e de romances, com 27, assim por diante. Tabela 2 O que os alunos ‘concluintes’ mais gostam de ler? (preferência) 1ª posição jornais revistas CET CBS 3 12 3 1 ENG CSA 1 16 1 10 auto cronicas/ livros livros romances poemas ajuda contos teóricos técnicos 0 0 1 0 0 2 2 3 4 1 2 4 CH 5 6 LLA 6 4 Fonte: Pesquisas TEAR I e IV 0 2 0 7 4 5 0 2 0 1 1 5 4 4 1 3 5 8 0 0 5 4 1 1 E, na Tabela 2, dos concluintes, percebe-se quase a mesma tendência, jornais continua com maior número de indicações, 43 para 1ª posição, no conjunto das áreas; romances, com 27, sendo que em LLA houve 8 e em ENG houve 4 indicações; e leitura de revistas com 25 indicações para primeira posição. A Tabela 3 e o correspondente Gráfico1 tratam de dados gerais sobre o desempenho em leitura dos alunos iniciantes e concluintes, por área de conhecimento. No conjunto das áreas de conhecimento, encontram-se, predominantemente, alunos com desempenho mediano em leitura. Em algumas áreas, como CBS e CH, a faixa de desempenho inferior é um pouco mais elevada que a do desempenho superior. E em todas as áreas, a faixa de desempenho superior está acentuadamente mais baixa em relação à faixa de desempenho mediano. Esses dados são indicativos de que, de um modo geral, o desempenho em leitura de alunos universitários, iniciantes e concluintes, de todas as áreas de conhecimento está a desejar, ou melhor, não corresponde às expectativas do ensino superior. 9 Tabela 3 Desempenho em leitura por área de conhecimento - alunos ‘iniciantes’ e alunos ‘concluintes’ Grupo de desempenho inferior Em que curso você está matriculado na UCS? f Ciências Exadas e da Terra Ciências Biológicas e Saúde Engenharias mediano Total superior % f % f % f % 1 0,3% 18 5,7% 2 0,6% 21 6,6% 6 1,9% 30 9,5% 5 1,6% 41 13,0% 2 0,6% 21 6,6% 4 1,3% 27 8,5% 17 5,4% 99 31,3% 17 5,4% 133 42,1% Ciências Humanas 9 2,8% 40 12,7% 8 2,5% 57 18,0% Lingüística, Letras e Artes 2 0,6% 27 8,5% 8 2,5% 37 11,7% 37 11,7% 235 74,4% 44 13,9% 316 100,0% Ciências Sociais Aplicadas Total Fonte: Pesquisas TEAR I e IV Gráfico 1 Desempenho em leitura por área de conhecimento - alunos ‘iniciantes’ e alunos ‘concluintes’ 1 Seguem-se, agora, tabelas que apresentam dados sobre desempenhos de alunos por área de conhecimento. Vemos, na Tabela 4, a dos alunos iniciantes, que CET e LLA não possuem alunos com desempenho na faixa superior e que, em CDA e CH, o desempenho na faixa inferior está mais elevado que o da faixa superior. O Gráfico 2 permite maior visualização dessa situação. Tabela 4 Desempenho em leitura por área de conhecimento - alunos ‘iniciantes’ Grupo de desempenho inferior Em que curso você está matriculado na UCS? f % mediano f % Total superior f % f % Ciências Exadas e da Terra 1 0,7% 9 6,6% 0 0,0% 10 7,3% Ciências Biológicas e Saúde 0 0,0% 7 5,1% 3 2,2% 10 7,3% Engenharias 2 1,5% 13 9,5% 3 2,2% 18 13,1% 13 9,5% 53 38,7% 6 4,4% 72 52,6% 4 2,9% 17 12,4% 2 1,5% 23 16,8% Ciências Sociais Aplicadas Ciências Humanas Lingüística, Letras e Artes Total 0 0,0% 4 2,9% 0 0,0% 4 2,9% 20 14,6% 103 75,2% 14 10,2% 137 100,0% Fonte: Pesquisas TEAR I e IV Gráfico 2 Desempenho em leitura por área de conhecimento - alunos ‘iniciantes’ 1 O desempenho em leitura dos alunos concluintes, Tabela 5 e Gráfico 3, está levemente melhor. Embora predominem os desempenhos, por área, na faixa mediana, conforme já vimos no Quadro 1, se percebe no desempenho superior destes uma leve mudança para melhor, em relação ao desempenho dos alunos iniciantes,, invertendo-se a situação nas faixas extremas (inferior/superior). Tabela 5 Desempenho em leitura por área de conhecimento - alunos ‘concluintes’ Grupo de desempenho inferior mediano Total superior Em que curso você está matriculado na UCS? f % f % f % f % Ciências Exadas e da Terra 0 0,0% 9 5,0% 2 1,1% 11 6,1% Ciências Biológicas e Saúde 6 3,4% 23 12,8% 2 1,1% 31 17,3% Engenharias 0 0,0% 8 4,5% 1 0,6% 9 5,0% Ciências Sociais Aplicadas 4 2,2% 46 25,7% 11 6,1% 61 34,1% Ciências Humanas 5 2,8% 23 12,8% 6 3,4% 34 19,0% Lingüística, Letras e Artes 2 1,1% 23 12,8% 8 4,5% 33 18,4% 17 9,5% 132 73,7% 30 16,8% 179 100,0% Total Fonte: Pesquisas TEAR I e IV 1 Gráfico 3 Desempenho em leitura por área de conhecimento - alunos ‘concluintes’ Resumidamente, com esses dados, procurou-se estabelecer relações de interinfluências entre os fatores: indicações de leitura para 1ª posição, áreas de conhecimento e desempenho em leitura, tanto da situação alunos iniciantes quanto da situação alunos concluintes. Os dados parecem mostrar que há alguma relação, provavelmente de influência, entre as categorias freqüência e preferência por determinadas leitura com os resultados do desempenho em leitura de alunos, distribuídos por área de conhecimento. Numa primeira análise, esses aspectos parecem estar inter-relacionados. Enquanto os alunos forem fazendo, de modo mais frequente e preferencialmente, leituras, breves e, às vezes, superficiais, de textos jornalísticos e similares, poucos avanços se lhes ocorrem em termos de habilidades de leitura. A indicação dessas leituras na primeira posição das preferidas pode revelar uma série de coisas: leitura rápida, pouco tempo, ler só para manter-se informado, pouco esforço. Essa leitura, de consumo rápido e diário, deveria ser o normal e fazer parte do cotidiano das pessoas, ser uma prática diária de qualquer cidadão, no mínimo alfabetizado. O que surpreende é que seja, tanto para iniciantes quanto para concluintes, a leitura mais indicada para primeira posição, nas diferentes áreas do conhecimento. Surpreende, porque a leitura de 1 um texto que não exige muito do leitor, é também uma leitura de poucos desafios, e, como diz Francis Vanoye (1992), como decorrência, também pouco acrescenta ao leitor. Por serem alunos universitários, era de se esperar outras escolhas de leituras, mais instigantes e desafiadoras, como de textos teóricos, filosóficos, científicos, literários. Justifica-se, portanto, esse desempenho em leitura, predominantemente na faixa mediana, dados de um teste aplicado aos alunos universitários, iniciantes e concluintes, das diferentes áreas do conhecimento. A leitura de jornais e de revistas é importante e necessária, porém não ocupando preferencialmente a primeira colocação no meio acadêmico. Seria pouco consolador o pensamento que traduz a ideia de que é, nesses casos, melhor essa leitura, antes de nada. Diante do exposto, nosso aluno universitário, de um modo geral, poderia ser assim caracterizado, nas palavras de Colomer: leitor formado nas aulas termina sendo um leitor ‘débil’ pela média dos livros lidos. A maioria das suas leituras são parciais e casuais [...] Não parece ter um conhecimento experimentado sobre as mediações culturais do mundo do livro [...] Sua capacidade de construir um discurso sobre obras lidas é elementar [...], não consegue caracterizar suas leituras e preferências [...] Carece do ‘capital cultural’ acumulado de que necessita para que as situações de leitura se produzam de forma estável e permanente. (2007, p. 50 e 51). Em outras palavras, novamente, como em outros níveis de ensino, também o superior pouco contribui para que o aluno, futuro profissional, se torne um leitor competente e autônomo. Não obstante, como dizia na introdução deste texto, bem ou mal e em nível ainda não desejável, quem passe pela universidade acaba tendo, por força das circunstâncias, um mínimo de experiência em leitura. Essa questão carece de maiores análises e reflexões de quem está, direta ou indiretamente, envolvido nela. Considerações finais O que se pode dizer, depois dessas reflexões, é que se espera dos alunos universitários, se não os ingressantes, pelos menos os concluintes que sejam alunos leitores autônomos, críticos e, consequentemente, seletivos e criteriosos nas escolhas das leituras. Isso revela maturidade intelectual. Também seria desejável que a frequência e a preferência em leitura fossem por obras que visassem não só à formação acadêmica e profissional, mas também à formação geral, cultural. E mais que 1 quantidade (freqüência) de leitura e gosto (preferência) por determinada leitura, o que se enseja é a possibilidade de que os alunos universitários desenvolvam habilidades de leitura e que façam da leitura uma prática cultural como outras que constituem e constituirão o repertório da formação continuada de cidadãos versáteis em seu meio social e profissional. Afinal, além das obras científicas e técnicas, sob o ponto de vista formativo, as obras literárias (nacional e internacional) ocupam um lugar privilegiado na formação da mentalidade, da sensibilidade e da inteligência das pessoas em geral. Referências COLOMER, T. Andar entre livros: a leitura literária na escola. Trad. de Laura Sandroni, São Paulo: Editora Global, 2007. FOUCAMBERT, J. A leitura em questão. Trad. Por Bruno Charles Magne. Porto Alegre: Artes Médicas,1994. MUÑOZ, A. S. Prácticas escolares de lectura y sugerencias didaticas para su entrenamiento y mejora. In: BARBOSA, M.H.S. et al. (org.). Leitura, identidade e patrimônio cultural. Passo Fundo: UPF, 2004. PORCHIA, R. Vocês. Buenos Aires: Edicial, 1989. VANOYE, F. Usos de linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1992. WOOD, Thomaz. (Resenha) A nova aliança: uma metamorfose da ciência. Revista de Administração de Empresas. São Paulo, 34(1), p.100-101, jan/fev 1994. i Doutorado em Educação (UFSCar-SP), professora permanente do PPGEdu–UCS, com disciplinas, orientações e coordenação de dois projetos de Pesquisa, vinculados à linha de Pesquisa Educação, Epistemologia e Linguagem do Mestrado em Educação: Tear5 (2009-2011) e Genera 3, (2009-2011), sendo este um projeto interinstitucional, convênio com SMED de Caxias do Sul. Dentre as publicações, constam autoria de três livros, quatro livros em coautoria, além de vários capítulos de livros e de artigos. [email protected]