INDENTIFICAÇÃO DO FOLHAS NRE: Toledo MUNICÍPIO: Toledo NOME: Artemio Ten Caten EMAIL: [email protected] ESCOLA: Colégio Estadual Jardim Maracanã – Ensino Fundamental e Médio FONE: (45) 3277-2321 DISCIPLINA: História SÉRIE: Ensino Médio CONTEÚDO ESTRUTURANTE: Relações de Poder CONTEÚDO ESPECÍFICO: Política do Branqueamento TÍTULO: Racismo e Desigualdades Sociais na Política do Branqueamento da População e a Lei Federal 10639/03. RELAÇÃO INTERDISCIPLINAR 1: Biologia – Colaborador 1 RELAÇÃO INTERDISCIPLINAR 2: Filosofia – Colaborador 2 COLABORADOR DA DISCIPLINA DO AUTOR: 1. PROBLEMA INICIAL: O RACISMO NO BRASIL O Brasil é um país racista? Sim e não. O Brasil é uma democracia racial? Sim e não. Somos racistas e não-racistas. Somos democráticos e não-democráticos no plano das relações raciais. (PEREIRA, 1996, p.75) Este texto mostra que no conjunto da sociedade brasileira o racismo se destaca como um problema complexo, pois envolve “racismo verdadeiro” e “racismo falso”. Geralmente afirmamos que existe racismo no Brasil, porém ninguém se assume como racista. Sempre são os outros que são racistas e devem ser reeducados. Assim temos racismo e não encontramos efetivamente os racistas. Por razões históricas, como o regime nazista na Alemanha e o fascismo na Itália, o racismo se filtra para o imaginário popular e também no erudito como parecido com campo de concentração, crueldades e torturas físicas, extermínio de grupos étnicos. Esta prática é aceitável que seja alcançada como racismo verdadeiro. O “falso racismo” resulta da apreensão do racismo identificando-o com campo de concentração, torturas físicas, extermínio de judeus como uma declaração muito forte para classificar o preconceito e a discriminação que permeiam as relações de raças no Brasil. É aceitável que da comparação entre o racismo na sua expressão nazi-fascista com o racismo à brasileira decorre que “o clamor das vítimas desse racismo contemporizador soa falso, distante do verdadeiro, daquele cruel que a história do país não conhece e não quer conhecer”. (PEREIRA, 1996, p.76). Como você interpreta o racismo, você concorda que existe racismo no Brasil? Você conhece alguém que é racista? Proposta de Atividade Discuta entre vocês, em grupos de três estudantes, a respeito dessa visão sobre o racismo na sua escola, enfatizando se existe ou não racismo no Brasil, em sua cidade, e na sua escola. Ou seja, qual a opinião de vocês sobre o racismo? Todas as pessoas em seu Município, independente da cor de sua pele, tem as mesmas oportunidades de emprego? 2. DESENVOLVIMENTO TEÓRICO E CONTEMPORÂNEO: 2.1 A Integração do Afro-brasileiro na Sociedade de Classe. Tia Josefa dos Prazeres era uma negra muito feia que inspirava medo as criancinhas cada vez que as fitava com aqueles olhos felinos, injetados de sangue. Recém-chegada à cidade juntamente com seu marido, pedreiro e coveiro Manoel Congo, levou algum tempo para que ela ganhasse a confiança de seus habitantes. Tia Josefa, porém, sabia fazer uns ótimos pasteizinhos de carne, muito alvos e macios, e com o tempo conseguiu muitos fregueses. Além disso a sua casa situada ao lado do cemitério, começou a ser bastante procurada por aqueles desejosos de mezinhas de uma boa parteira. Assim, o tempo venceu as primeiras desconfianças e, embora as crianças ainda olhassem assustadas – tal como uma feiticeira de seus pesadelos -, Tia Josefa tornou-se uma figura imprescindível do cotidiano de pacatos cidadãos. Mas um dia Nini, uma linda menina loira, rosada, alegre e esperta, por causa de um pequeno resfriado, começou a tomar as beberagens de tia Josefa, e, ao invés de melhorar, piorou rapidamente. Chamado finalmente o médico, já não havia mais remédio para ela, a não ser buscar Manoel Congo para enterra-la. Para consolar a pobre mãe, a boa tia Josefa passou a presenteá-la com aqueles seus deliciosos pastéis. Esta história terminaria aqui se não fosse a mãe, inconsolável, pedir para ver a filha ainda uma ultima vez, oito dias depois de sua morte. Para seu espanto, nada mais havia no pequenino caixão aberto pelo coveiro. A suspeita criou asas e a polícia cercou a casa de tia Josefa e Manoel Congo. Lá dentro encontrou cachos loiros, restos de roupa de crianças e, embaixo da mesa da cozinha, pequeninos ossos... O povo quis esquartejar os dois negros, enquanto a mãe da linda menininha morta, quase louca, contorcia-se horrorizada – tinha comido a filha em pastéis... (CORTINES Apud AZEVEDO, 2004, p. 15-16). Segundo Azevedo (2004) esta história macabra foi divulgada no Correio Paulistano em 26 de julho de 1888. Este jornal representava a opinião de Antonio Prado, político influente do império e incentivador da imigração européia. O caso da tia Josefa mostra como foi tratada a questão do negro brasileiro após a lei áurea. Será que os ex-escravizados tiveram oportunidade igual aos imigrantes europeus para sua integração na sociedade brasileira no período pós abolição? Vocês concordam com essa visão sobre o negro brasileira? Proposta de Atividade Discutam em grupo e escreva no seu caderno sobre as seguintes questões: 1) Qual é a história desta história horrível, triste? 2) Faz sentido dizer que o jornal que publicou esta história, logo após a lei áurea, incentivava a imigração européia? 3) O que significa esta história para os afro-descendentes? 4) Que imagem o conto quer transmitir quando diz que tia Josefa era feia e tinha os olhos felinos? 5) Tia Josefa fazia ótimos pastéis. Que idéias estão relacionadas a esta informação? 2.2 A Política do Branqueamento da População Definimos como período histórico da política do branqueamento os últimos trinta anos do século XIX e o inicio do século XX. Neste período ocorreram fatos importantes na história do Brasil e da Europa. No Brasil, destacamos, entre outros, a guerra do Paraguai, a abolição da escravatura e a proclamação da república. Na história européia podemos destacar a 1ª Guerra Mundial, a revolução russa, a industrialização. No Brasil a atividade econômica de destaque é o café, a agricultura em geral. A riqueza da agricultura não é do Brasil e sim dos donos das terras, na sua maioria grandes proprietários rurais, formando a elite agrária. A industrialização vai ocorrendo aos poucos. Alguns intelectuais brasileiros defendiam o branqueamento da população porque acreditavam na superioridade da raça branca européia em relação ao índio, africano e afro-descendente. Defendiam a imigração de brancos europeus, principalmente alemães e italianos para a formação de um povo civilizado. Entendiam que sem o branqueamento da população o Brasil não poderia progredir e formar uma nação. Assim o Brasil da miscigenação de três raças: o africano, o índio e o português/branco, não poderiam tornar-se civilizados. Tornar o Brasil civilizado significava fazê-lo semelhante à Europa. Os intelectuais da época ensinavam que a Europa era o berço da civilização e o Brasil deveria se assemelhar a Europa para ser civilizado. Desta forma incentivam a imigração do branco europeu, empreendedor, disciplinado e inteligente. (Schwarcz, 1993). O médico, Nina Rodrigues (1976), nascido na Bahia, em se livro: Os Africanos no Brasil, defende abertamente a inferioridade do índio e do afro- descendente em relação ao branco europeu. Este médico afirma que é eliminando o índio e africano que o processo civilizador pode ocorrer. Esta é a preocupação da elite brasileira após a abolição da escravatura. (...) Os extraordinários progressos da civilização européia entregaram aos brancos o domínio do mundo, as suas maravilhosas aplicações industriais suprimiram a distância e o tempo. Impossível conceder, pois, aos negros como em geral os povos fracos e retardatários, lazeres e deslongos de uma aquisição muito lenta e remota de sua emancipação social. (RODRIGUES, 1976, p. 264). Analisamos que neste período da história do Brasil não existia a idéia de que todos deveriam estudar. Somente os filhos das famílias mais ricas é que estudavam. Geralmente estes terminavam seus estudos influenciados pelo pensamento europeu. Os pobres não tinham a possibilidade de estudar. Desta forma, as pessoas que freqüentavam os museus, os institutos geográficos, as faculdades de medicina e direito, os chamados homens do conhecimento, estão ligados a classe rica, aos grandes proprietários rurais, e a elite das cidades que estão se formando. O projeto de nação desta elite não prevê a inclusão dos pobres, índios, afro-descendentes e mestiços. Traziam para o Brasil as teorias raciais da Europa, que justificavam o desenvolvimento europeu ou industrialização pela presença da raça branca. Documento 1: A Fórmula do Racismo Séculos depois, essa idéia de diferenças naturais entre os homens ressurgiu na Europa. Em 1859, o biólogo Charles Darwin publicou sua famosa obra A origem das espécies, na qual, a partir de estudos realizados em plantas e animais, desenvolveu a teoria de seleção natural. Segundo ela, na natureza sobrevivem e dominam as espécimes fortes. Existiriam, portanto, espécimes fortes e espécimes fracas. Com base nos estudos darwinianos – repetimos, realizados em animais e vegetais -, pensadores como o francês Joseph-Auguste de Gobineau, o alemão Richard Wagner e o inglês Houston Stewart Chamberlain, utilizaram a teoria da seleção natural, dentre outros argumentos, para tentar explicar a sociedade humana. Eles concluíram então que alguns grupos humanos eram fortes e outros fracos. Os fortes teriam herdado certas características que os tornavam superiores e os autorizavam a comandar e explorar outros povos. Por sua vez, os fracos teriam outras características que os tornavam naturalmente inferiores e, portanto, predestinados a ser comandados. Desse modo, diferenças de tipo físico passaram a ser utilizadas para classificar os seres humanos. Passaram a ser relacionadas a diferenças intelectuais e morais, dando origem à idéia de raça. Nasceu a fórmula do racismo: Portadores de pele escura (os negros e os nãoeuropeus) = raça inferior; Portadores de pele alva (os brancos) = raça superior. O negro seria preguiçoso, indolente, caprichoso, sensual, incapaz de raciocinar. Já o branco seria empreendedor, disciplinado, inteligente. Por serem superiores, os europeus teriam então o “direito” de explorar os inferiores. Estava assim “justificado” o domínio colonial e a exploração do europeu sobre outros povos. Desvantagens sociais, políticas, econômicas ou culturais também passaram a ser atribuídas a desigualdades inatas entre os homens. O termo inato, tão presente no discurso dos racistas, já dizia tudo: segundo eles, determinados grupos nasceriam com características que os habilitam apenas para serem dominados e explorados. ( BENTO, 2005, p.24-5 ) Documento 2: A História da África No século dezenove, a abordagem européia à história asiática tornou-se cada vez mais dominada pelos sentimentos de superioridade européia e por uma convicção do atraso asiático. Isso, no entanto, foi apenas um fenômeno bastante recente, pois os historiadores europeus tradicionalmente demonstraram um grande respeito pelas antigas civilizações da Ásia. Foi muito diferente da atitude européia para com a África, que sempre foi considerada um continente a-histórico e o povo africano um povo sem civilização e, por isso, sem história. A mais famosa formulação dessa opinião pode ser encontrada nas conferências de Jena proferidas por Hegel em 1830-1 e publicadas como a Phylosophy of History. Nesta obra ele escreveu: ‘Neste ponto deixamos a África, para não mais a mencionarmos. Pois ela não é parte histórica do Mundo; não tem movimento ou desenvolvimento para mostrar... O que compreendemos apropriadamente por África é o Espírito Não-Histórico, Subdesenvolvido, ainda envolvido nas condições da simples natureza, que só tem de ser apresentada aqui como situada no limiar da história do Mundo’. (BURKE, 1992, p.109). Proposta de Atividades Faça um quadro comparativo sobre a História da África na visão de Hegel e como ela é abordada em sua sala de aula O pensou Hegel sobre a História da O que você já estudou sobre a África? África? Opinião: Opinião: Para refletir, pesquise na internet, use o dicionário e responda em seu caderno as seguintes perguntas: 1) O que é discriminação? O que é preconceito? O que é racismo? 2) Existe discriminação no Brasil? Exemplifique. 3) Você já foi discriminado? Relate. 4) Você já discriminou alguém? (em caso positivo, relate a situação). 5) Quais os tipos mais freqüentes de discriminação no Brasil? 6) Você já presenciou alguma situação de discriminação na escola? 7) Quem geralmente é discriminado, é pobre ou rico? Explique. 8) Como a escola pode agir contra a discriminação? Dê sugestões. 2.2 A Luta Pela Abolição Ameaça os Donos de Escravos. A abolição da escravatura no Brasil, geralmente é o ponto final do estudo sobre o negro brasileiro nos programas da disciplina de História na modalidade da educação básica. Os textos didáticos fazem uma descrição da dura vida do escravo negro durante o Brasil colônia e o período imperial. Destacam as diferentes formas de lutas dos escravos em busca de liberdade. A formação de quilombos, a fuga dos escravos, a falta de dedicação no trabalho. Na discussão abolicionista aparece um histórico da legislação antiescravista, como a proibição do tráfico de escravos, lei do ventre livre, a lei do sexagenário e finalmente, após a “guerra com o Paraguai” quando já estava em plena decadência o regime de escravidão e a história do capitalismo dizia que agora é a vez do trabalho assalariado e “livre”, princesa Izabel assinou a Lei Áurea. Ainda faz-se a observação que o ex-escravo não tinha aptidões para o trabalho livre e que ele fora substituído pelo imigrante europeu que já vem com experiência e conhecimento para o trabalho assalariado. Assim o afro descendente sai da “história” e entra o imigrante europeu, a civilização, o progresso, a industrialização, as crises econômicas e a política do branqueamento, entre outras temáticas. Uma reflexão mais pertinente sobre o fim da escravidão no Brasil mostra que o africano e o afro-descendente escravizados no Brasil lutaram muito pela abolição. Percebe-se que a lei áurea somente serviu para o rei entrar na história e para impedir um possível levante dos escravizados contra os interesses do capital ou os interesses dos grandes proprietários rurais e comerciantes. Neste sentido a política do branqueamento adquire um novo significado que é de proteção ao capital. Os intelectuais abolicionistas não defenderam a ruptura com a grande propriedade rural e sim se apossaram da luta dos escravizados pela liberdade para evitar que esta luta ferisse os interesses da elite econômica. Documento 3 “Em Santos também crescia o movimento popular contra a escravidão, ultrapassando-se a fase da pura propaganda e discursos políticos para se realizar a abolição na prática e a força sempre que preciso. Como nessa região já era diminuto o número de proprietários de escravos, a polícia parece ter sido particularmente visada por inflamados e humildes abolicionistas anônimos, que não hesitavam em ataca-la para obter a libertação de escravos fugidos e capturados por ela. E, à medida que mais e mais escravos fugiam das fazendas diversas partes da província e tomavam o rumo de Santos, aguçavam-se os conflitos de ruas naquela cidade. Em 1886 o chefe de policia Luis Lopes Baptista dos Anjos Jr. Relata um destes conflitos violentos ocorridos em Santos, que segundo ele só poderia ser atribuído a interesses escusos de indivíduos que acoitavam escravos a fim de explorar-lhes a força de trabalho em proveito próprio. Contudo, fossem quais fossem os interesses envolvidos dos humildes carregadores que acorreram à estação da estrada de ferro e, munidos de pedras e paus, tentaram impedir o embarque de cinco escravos fugidos para a capital, o fato é que “as classes ínfimas” haviam entrado em plena ebulição, assumindo cada vez mais ousadamente aquelas atitudes imprevisíveis e desreguladas – ou “as paixões ruins”, como se dizia – tão temidas pela polícia e proprietários de todo o tempo e lugar. À medida que cresciam as fugas em massa das fazendas, sobretudo a partir dos últimos meses de 1887, redicalizava-se o movimento abolicionistas nas cidades, em especial nos centros mais populosos, como Santos e São Paulo. Ao contrario do que os jornalistas do jornal A Redempção estavam sempre a reafirmar – a fraca participação dos negros nesse movimento - , os relatórios de 1887 e 1888 dedicam grandes espaços não só as fugas de escravos e conflitos nas áreas rurais, como também às lutas de negros com a polícia nas ruas das cidades. Em 22 de outubro de 1887 deu-se mesmo um quebra-quebra no centro de São Paulo, motivado, segundo o chefe da policia, pela prisão “de um desordeiro e ébrio habitual”. Acontece que os negros que estavam naquela noite por volta das 21 horas, participando de uma festa da igreja Largo São Francisco, não compartilhavam desta opinião e tomaram o partido do prisioneiro: (...) grande numero de pessoas de pretos arremesaram-se contra os guardas, para tomarem o preso, ferindo-os com pedras. Logo que foi comunicado a esta Secretaria (de policia) o ocorrido, verificando-se que eles, em posição de resistência, dispararam tiros de revolveres contra as praças, ordenou-se que saísse uma força de cavalaria ao encontro dos desordeiros, sendo auxiliada por outra infantaria, que conseguiram, a custo, debanda-los, já à 1 hora da noite. Na noite seguinte, continuaram os ataques a policia, com violência redobrada” AZEVEDO, Celia Maria Marinho de. Onda negro medo branco: o negro no elites século XIX. 2ª edição. São Paulo, Annablume, 2004. p. 173-174. imaginário das Documento 4: “Em uma reunião de fazendeiros efetuada nessa capital, a 15 de dezembro do ano passado, com o fim de dar impulso e direção ao movimento emancipador, ficou assentado o prazo máximo de três anos para a extinção do elemento servil na província. Antes, porém, que a comissão incumbida de executar as deliberações da Assembléia organizasse definitivamente as bases do seu trabalho, os acontecimentos se precipitaram. Em vários municípios, ao mesmo tempo, os escravos abandonaram em massa as fazendas, procurando, a princípio, abrigo no município de Santos, colocando-se depois nas localidades vizinhas, e não raro, à vista dos seus próprios senhores. Os fatos extraordinários, que se deram, estão no domínio publico. Os senhores não procuravam, em regra, os escravos que fugiam. Estes, por seu turno, saiam pacificamente, sem exasperar os senhores, para não suscitarem resistências ou provocarem reações. (...) Como conseqüência dessa grande agitação, multiplicaram-se as alforrias. O fazendeiro que entrava no movimento, manumitindo os seus escravos com a cláusula de serviços por três anos, e mais tarde com a obrigação de fazerem a colheita pendente, por último, verificada a insuficiência de tais concessões, resolveu que a alforria deveria ser imediata e incondicional, vencendo salários os libertos. Vemos por este relato como a principio os escravos fugiam procurando o abrigo de Santos; depois, já nos primeiros meses de 1888, talvez por ganharem mais confiança em suas próprias forças, eles começam a lutar pelo direito de permanecer nas mesmas regiões a que estavam acostumados. Ao que parece, nesse momento os escravos já não mais fugiam, mas simplesmente se retiravam das fazendas, enquanto os fazendeiros viam-nos partir, impotentes, ou então, na falta de mão-de-obra que os substituíssem na próxima colheita, faziam-lhes sucessivas ofertas, até reconhecer seu direito ao salário em troca de trabalho. Isto não significa, porém, uma redução da violência, pois tanto de uma parte como de outra os ódios eram antigos e vivia-se um momento de revanches. Bastava um fazendeiro mais renitente teimar em não reconhecer a liberdade plena e imediata aos negros e já estes saiam pelas cidades, suscitando grandes demonstrações de solidariedade e revolta”. AZEVEDO, Celia Maria Marinho de. Onda negro medo branco: o negro no imagináriodas elites século XIX. 2ª edição. São Paulo, Annablume, 2004. p. 178-179. Documento 5: Lei Áurea: Ato de Bondade? “Assim, em 13 de maio de 1888, data oficial da abolição da escravatura, menos de 20% dos negros encontravam-se na condição de escravos, pois a maioria já estava liberta, em razão de fugas e rebeliões. Vemos que a assinatura da Lei Áurea, pela princesa Isabel, não foi um ato de bondade. Ao contrario do que diz a história oficial, a lei apenas reconheceu algo que já se dava na pratica. Além disso, deveu-se também às pressões internacionais para que o Brasil criasse um mercado consumidor dos produtos europeus, o que só poderia ser feito por trabalhadores assalariados. A historia da resistência negra, com todos os seus detalhes, ainda esta para ser cotada. Só muito recentemente a historia oficial tem se ocupado em resgata-la. No entanto, essa resistência é marca registrada da historia brasileira. Antes de depois da abolição.” BENTO, Maria Aparecida Silva. Cidadania em Preto e Branco: discutindo as relações raciais. 3ª edição, São Paulo, ática editora.2005. Escreva em seu caderno sobre as seguintes questões: 1) Na sua opinião, as pessoas do século XXI, tem facilidade para lutar contra o racismo? 2) Como você explica as causas do racismo: o motivo está na cor da pele ou na riqueza? 3) O que influenciou mais o fim do trabalho escravo, a lei áurea ou a luta dos escravizados pela liberdade? 4. DESENVOLVIMENTO TEÓRICO INTERDISCIPLINAR: Biologia Documento 6: Museu cancela palestra de Prêmio Nobel após comentários racistas “O Museu de Ciências de Londres cancelou uma palestra que deveria ser pronunciada nesta sexta-feira (19) pelo cientista americano James Watson depois de o Prêmio Nobel de Medicina ter dito recentemente que "testes" sugeriam que os africanos não são tão inteligentes quanto os brancos. As declarações de Watson, laureado com o Nobel de Medicina em 1962 como co-descobridor da estrutura molecular do DNA, têm causado alvoroço desde sua publicação na última edição da revista dominical do The Sunday Times. Um ministro britânico, diversos cientistas e um defensor dos direitos humanos qualificaram as declarações do americano como racistas. Ao justificar o cancelamento da palestra, a direção do Museu de Ciências de Londres observou: "Nós sabemos que cientistas destacados podem muitas vezes dizer coisas capazes de causar controvérsia e o Museu de Ciências jamais se esquiva do debate de tópicos controversos. Entretanto, sentimos que o doutor Watson foi muito além do ponto aceitável de debate, motivo pelo qual estamos cancelando sua palestra". Num perfil publicado junto com a entrevista, a revista do The Sunday Times apresenta Watson como um cientista que se diz "inerentemente sombrio quanto às perspectivas para a África" porque "todas as nossas políticas sociais baseiam-se na premissa de que a inteligência deles é igual à nossa (dos brancos), sendo que todos os testes dizem o contrário". Watson, que desembarcou na Grã-Bretanha hoje para promover seu novo livro "Avoid Boring People: Lessons From a Life in Science" (em tradução livre: Evite pessoas chatas: Lições de uma Vida Dedicada à Ciência), não foi imediatamente encontrado para comentar o assunto. Watson, de 79 anos, é um biólogo molecular e atua embaixador do Cold Spring Harbor Laboratory, em Nova York, um dos mais conceituados do mundo na pesquisa do câncer e de doenças neurológicas. A direção do laboratório afastou-se da posição do cientista e disse que seus integrantes ficariam "espantados e triste se tais comentários partiram realmente dele". Na entrevista, Watson diz ser "contra a discriminação" racial e afirma acreditar que "há muitas pessoas de cor bastante talentosas". Então ele é citado comentando que gostaria que todas as pessoas fossem iguais, "mas pessoas que precisam lidar com funcionários negros descobrem que isso não é verdade". Conhecido pelos britânicos desde a década desde 1950, quando pesquisava a estrutura molecular do DNA na Universidade de Cambridge, os comentários causaram furor na ilha. David Lammy, ministro de governo britânico, disse hoje que as declarações de Watson são "extremamente ofensivas" e servem "apenas para dar oxigênio" ao Partido Nacional Britânico, uma agremiação nanica de ultradireita acusada de ser racista. "É uma pena que um homem de tamanha distinção no mundo científico veja seu trabalho obscurecido por um preconceito irracional", prosseguiu Lammy. "Não é surpresa para mim ver a comunidade científica denunciando essa declaração e creio que as pessoas reconhecerão esses comentários pelo que eles realmente são." O ativista dos direitos humanos Koku Adomdza qualificou os comentários de Watson como "cientificamente antiéticos e injustificáveis". "Pedimos ao doutor Watson que faça um pedido irrestrito de desculpas à África e a todas as pessoas de origem africana por suas declarações desrespeitosas", declarou. Esta não é a primeira vez que Watson provoca polêmica por comentários preconceituosos. Ele já chegou a dizer que as mulheres deveriam ter o direito de abortar um feto caso exames fossem capazes de indicar que o bebê mais tarde se tornaria homossexual. Watson também sugeriu a existência de conexão entre a cor da pele e o apetite sexual ao propor que pessoas de pele negra tinham mais libido que de outras raças. Jan Schnupp, um livre-docente em neurofisiologia da Universidade de Oxford, observou que as declarações de Watson "deixam muito claro que ele é especializado em genética, não em inteligência humana". Em geral, explicou Schnupp, pessoas desnutridas ou com déficit educacional costumam ter desempenho pior em testes de QI do as pessoas normais. "A raça nada tem a ver com isso. Não existe nenhum obstáculo desse tipo para que pessoas negras tornem-se excepcionalmente brilhantes", sentenciou. (AE) Disponível em: www.reporterdiario.com.br. Acessado dia 31/10/2007. Filosofia Sobre as teorias raciais que qualificam o negro como inferior ao branco, esclarece que “as teorias racistas desenvolvidas no fim do século XIX e início do século XX, [...] estavam diretamente em sintonia com um projeto de Estado para o extermínio do povo negro e o embranquecimento da população brasileira. (ONIJÁ, 2008, p. 2). Apesar de estas teorias raciais estarem completamente superadas o combate a estas se justifica por que continuam sendo disseminadas no presente. Relembra recente denuncia de racismo contra o “ex-coordenador de Medicina da UFBA, Antonio Natalino Manta Dantas, que afirmou que os estudantes baianos têm “baixo QI” (ONIJÁ, 2008, p. 2). Pondera que este não é um fato isolado e excepcionalmente brasileiro. Documento 7: No ano passado, Heiner Rindermann, professor da Universidade Magdeburgo (Alemanha), afirmou em uma entrevista que a inteligência varia de país a país, devido a diferença do grau de inteligência entre as raças. Também no ano passado, o cientista James Watson, Prêmio Nobel, declarou que as pessoas de origem africana são menos inteligentes que as de origem européia. Essas pseudo teorias só podem servir para legitimar ações e políticas racistas, reacionárias e precisam ser combatidas seriamente. (ONIJÁ, 2008, p. 2). ONIJÁ, M. Sociologia do Negro no Brasil. Disponível em: http://www.ler-qi.org/spip.php?article1146, 31 de maio de 2008. Faça uma investigação e registre no seu caderno: 1) Considerando a construção dos conceitos estabeleça a diferença entre um conceito biológico e ideológico. Se necessário, pergunte para os professores de Biologia e Filosofia. 2) O racismo tem fundamento biológico? 3) O racismo tem fundamento ideológico? 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AZEVEDO, Celia Maria Marinho de. Onda negro medo branco: o negro no imaginário das elites século XIX. 2ª edição. São Paulo, Annablume, 2004. BENTO, Maria Aparecida Silva. Cidadania em Preto e Branco: discutindo as relações raciais. 3ª edição, São Paulo, ática editora.2005. BRASIL. Lei 10639 de 09 de janeiro de 2003. Inclui a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afrobrasileira” no currículo oficial da rede de ensino. Diário Oficial da União, Brasília, 2003. ONIJÁ, M. Sociologia do Negro no Brasil. Disponível em: http://www.lerqi.org/spip.php?article1146, 31 de maio de 2008. PARANA, Governo do Estado do Paraná, Secretaria de Estado da Cultura, Superintendência da Educação. Diretrizes Curriculares de Historia para a Educação Básica. Curitiba/Pr 2006. Disponível em www.diaadiaeducação.pr.gov.br, acesso abril 2007. PARANÁ, Secretaria de Estado da Educação. Superintendência da Educação. Departamento de Ensino Fundamental. Historia e Cultura afro-brasileira e africana: educação para as relações étnico-raciais. Cadernos Temáticos. Curitiba: Seed/Pr. 2006. PEREIRA, J. B. B. Racismo à brasileira. In: MUNANGA, K. (Org.). Estratégias e Políticas à Discriminação. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo: Estação Ciência, 1996. pp 75-78 PRADO, Paulo. Retrato do Brasil: ensaio sobre a tristeza brasileira, organizado por Carlos A. Calil. 9ª edição, São Paulo, Cia das Letras, 1997. RIBEIRO, Darcy. Ensaios Insólitos. L & PM. Porto Alegre. 1979. ROCHA, Luiz C. Paixão da. Políticos Afirmativas e Educação: A Lei 10639/03 no contexto das Políticas Educacionais no Brasil Contemporâneo. Disponível em: www.app.com.br. Acesso em abril de 2005. RODRIGUES, Raymundo Nina. Os Africanos no Brasil. 4ª ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1976. SCHREINER, Davi Félix. Cotidiano,Trabalho e Poder: a formação da cultura do trabalho no Extremo Oeste do Paraná. Cascavel: Unioeste, 1996. SEYFERTH Giralda. O beneplácito da desigualdade: breve digressão sobre o racismo. In: Racismo no Brasil. São Paulo: Petrópolis/Abong, 2002. SCHWARCZ, Lilia Moritiz. O Espetáculo das Raças: cientistas, instituições e a questão racial no Brasil – 1870-1930. São Paulo, Companhia das Letras, 1993.