1 AMAR... dir: Carlos Gregório CASA DE LAURA Laura - Você não vai dizer nada? Joana - O que você quer que eu diga? Laura - Qualquer coisa. Joana - Olha, Laura... Não foi tão importante pra mim... Laura - Não... foi!!? Joana - É... É isso mesmo. Joana Laura - Não foi tão importante pra mim como foi pra você. Sinto muito. - Sente muito!?... Joana - É... Foi uma experiência, uma coisa que eu estava presisando naquele momento. Laura - E agora não precisa mais, não é? E eu, héim?! E eu? Joana - Ah, você também teve aquele caso com o Frederico, no meio da nossa transa. Laura - Aquilo foi diferente. Eu queria te fazer ciúme. Joana - Foi uma puta sacanagem com ele. O Frederico. ficou péssimo... Laura - Não desvia o assunto. A gente não está falando do Frederico, a gente está falando de você. .......................... Laura - Deixa esse telefone aí! Joana - Pode ser pra mim. Joana - Alô. Laura - Se for pra mim, eu não estou. Joana - Ah. Oi... Está sim. Espera um minutinho. Laura - Quem é? 2 Joana - Frederico. Laura - Merda, eu não falei?... Joana - Ele está com uma voz horrível. Acho melhor você atender. Laura - Eu estou pouco me lixando pra voz dele. Joana - Você gostaria que eu fizesse isso com você? Laura - Alô. CASA DE LAURA / CASA DE FREDERICO Frederico - Laura?... Eu tô muito mal... .............................. Laura - Sei, Frederico, sei. E o que mais? ................................... Frederico - Humm... Éee.... ..................... Frederico - Eu estou pensando em... me matar. ............................. Laura - O que?! ...................................... Frederico - Me matar... ............................... Laura - O que é que você está fazendo? Peraí, Frederico. Joana - Tô indo, Laura. Laura - Indo como? A gente não terminou a conversa... Joana - Depois a gente termina. Fala aí com o Frederico, eu tenho que ir pro ensaio. Laura - Pôrra! Mas que história é essa? 3 Joana - Eu tenho hora, Laura. O diretor é super rígido com esse negócio de horário. Laura - Horário os cambáus! Tá pensando que eu não sei, é?.. Olha, Frederico, tudo bem... Mas dava pra você ligar mais tarde um pouquinho? É que eu estou com um probleminha aqui... ........................... Frederico - Pôorra, Laura!!! Nem na hora da minha morte??! A gente nunca mais vai se ver e nem assim você é capaz de me dar um pouco de sua atenção? Um pouco de solidariedade? É melhor eu morrer mesmo, de uma vez... .............................................. Laura - Pôorra, Frederico. Então morre, mas não me enche o saco. Morre, mas não me liga mais. Você tá pensando que eu sou o que? Vai te catar. Liga pra tua mãe, ela que tem obrigação. E se você quer saber... ........................................ Joana - Laura, larga essa porta, que eu tenho hora. Olha, se você não me deixar ir embora agora eu nunca mais falo com você, entendeu bem? Laura - Você vai me ligar? Joana - Não! Secretária - Oi! Aqui é Laura! Que bom que você ligou! Deixe seu recadinho depois do bip. Secretária - Oi, Laura? Aqui é Terezinha. Tudo bom? A gente não se vê há um tempão, não é? É que eu acabei de chegar de viagem e eu vou me casar na semana que vem. Eu estou mandando os convites, mas como tá um pouco em cima da hora, eu tenho medo que não dê tempo. O noivo se chama Paulo Roberto Amoêdo. Você não conhece. É família de Santos. Vai ser na Igreja da Glória, dia 12, às 7:30 4 da noite. Os noivos receberão os cumprimentos no local. Olha, vê se vai. A gente não se vê há muito tempo, mas se você puder ir eu vou adorar. Tchau. TEATRO Joana - Desculpe o atraso. Ué! Cadê o resto do pessoal? Raimundo - Eu disse pra chegar mais tarde. Joana - Ahnn... Raimundo - Senta aí um instantinho. .......................... Raimundo - Joana... O que é que você está achando do seu processo de trabalho... quero dizer, nessas duas últimas semanas? Joana - Ah... Eu acho que está evoluindo... É claro, tem alguns momentos que eu estou procurando ainda... Algumas coisas ainda não estão muito bem definidas... Mas, no geral, eu acho que está indo... Raimundo - Não sei... Eu acho que você está com alguma dificuldade que eu não sei ainda o que é. E eu estou preocupado porque não estou conseguindo te ajudar Joana - Agora quem está ficando preocupada sou eu. Raimundo - Hum... O que é que você acha que a gente deve fazer? Joana - Não sei... Talvez, ensaios separados? Raimundo - O problema é que nós não temos muito tempo... Joana - Mas falta um mês ainda. Raimundo - Pois é. Pouco tempo. Joana - Bom, então... não sei. Você pensou em alguma coisa? Raimundo - É... Eu estive conversando com a Lídia ... 5 Joana - Conversando com a Lídia? Raimundo - É... Eu acho que o melhor a fazer é passar seu papel pra ela e você faz o papel da irmã. O que é que você acha? Joana - Bom... Raimundo - Não precisa me responder agora. A gente faz o seguinte. Eu te dispenso hoje e vou ensaiando outras coisas. Você vai pra casa, relaxa, amanhã a gente conversa. ........................ Raimundo - Joana. Aquele lance entre a gente... É melhor dar um tempo. Vai ver que é isso que está te atrapalhando. .............................. Raimundo - Ah, separa aqueles livros que eu te emprestei, porque agora vou ter que passar pra Lídia. ......................... Raimundo - Alô! CASA DE LÍDIA Lídia - Raimundo. Sou eu, Lídia. TEATRO Raimundo - Ué, onde você está? CASA DE LÍDIA Lídia - Eu estou na minha casa ainda. Olha, Raimundo, a gente precisa conversar... É que.. Não, eu não vou ao ensaio hoje. Não vou. Eu sei, eu sei. É que... eu tô tendo que tomar uma decisão super importante na minha vida e eu acho que... Não, não tem nada a ver com a personagem. Ah, é?... 6 Mas... você dispensou a Joana?!... Mas por que?... Mas eu não falei que queria fazer a personagem, eu falei que se por acaso eu tivesse a oportunidade de fazer... Eu não tenho culpa se você pensou. Não, não. Aquele lance entre a gente não tem nada a ver com isso. Eu nunca costumo misturar as coisas e eu acho que você não deveria misturar também... Claro que foi legal, Raimundo. Claro que foi... Mas, de qualquer maneira... O fato é que... tá surgindo uma chance de fazer um filme e... Pois é... Me chamaram há uns dias atrás... Eu não sei... Eu não sei... Chama a Joana de novo... Não fala assim comigo. Não fala assim... Eu não disse antes porque não tinha nada certo e eu não queria te preocupar a tôa... Você tá insinuando o que?!... Olha aqui, eu liguei pra te dar uma satisfação, não foi pra ficar ouvindo desaforo. Além do mais eu conheço a Joana desde pequena e eu não ia fazer uma coisa dessas com ela... Mas... que absurdo! Eu não tenho que ficar ouvindo uma coisa dessa, Raimundo! Olha aqui, você vai procurar tua turma. Tchau. .......................... Lídia - Cara babaca! .......................... Lídia - Olha, Raimundo, eu não quero... O que foi? Ah, desculpa. Achei que fosse outra pessoa... É da parte de quem? Ah, sei... Ah, vai casar? Que ótimo. Tá bom... Só um minutinho que eu vou pegar um papelzinho pra anotar. ........................... Lídia BAR - Pode dizer. 7 Alberto - Moreno! Dá mais um chopp aí! Beleza, garoto! Lídia - Oi, Alberto. Alberto - Lídia! Lídia - Você viu o Nando por aí? Alberto - O que é que você tá fazendo aqui? Você não tinha ensaio? Lídia - Pois é, mas tá acontecendo um lance, aí eu resolvi dar um tempo na peça. Alberto - Lance legal? Lídia - Muito. Alberto - Então, manêro. Lídia - Então... você não viu o Nando? Eu liguei pra casa dele e disseram que ele tinha vindo pra cá me encontrar. Eu não entendi nada. Ele teve por aqui? Alberto - Teve. Teve mas já foi. Lídia - Foi pra onde? Se ele veio me encontrar... Alberto - Pois é... Lídia - E você sabe se ele estava com alguém... Alberto - Como assim? Lídia - Alguém da turma. Alberto - Mais ou menos. Tava aí o Ricardo, o Sérgio, o Marcelo, a Kátia... Lídia - Ah. A Kátia?... Alberto - É. A Kátia tava também. Lídia - E... você sabe se quando ele saiu... a Kátia tava com ele? Alberto - Tava. Lídia - Então... ele não me esperou, né? Alberto - É. Pelo jeito ele resolveu.. Quer tomar um chopezinho? Lídia - Não. 8 Alberto - Só um? Lídia - Não! ............................. Lídia - Ele não sabia que eu vinha, eu tinha ensaio... Alberto - Hum, hum. Lídia - Ele veio se encontrar aquela piranha, não foi?. Alberto - Calma, Lídia. Não exagera, não. Lídia - Não exagera, por que não é com você. Alberto - Não é nada disso! Eu sei que não é fácil. Agora, vamos e venhamos, você também... Lídia - Como assim? Alberto - Que, como assim, Lídia? E o diretor lá da sua peça? Lídia - O que é que tem? Alberto - O que é que tem? O que é que tem? Lídia - O Nando ficou sabendo de alguma coisa? Alberto - Lídia, tá todo mundo sabendo. O cara é o maior galinha. Só do teu elenco ele já comeu quatro. Com você cinco. Lídia - Ah, não!!!! Alberto - Que é isso, Lídia. Peraí. Não chora não, não fica assim não. Lídia Alberto Lídia - Eu sou uma burra! É isso que eu sou, uma burra! - Segura, Lídia, segura! Não é nada disso. O Nando é um cara muito legal. Ele vai acabar entendendo. Agora pára de chorar que tá todo mundo olhando. Eu tive uma idéia. Por que a gente não vai lá pra casa que é aqui do lado. A gente fica lá, só os dois... Ouvimos um som. Eu te faço um carinho... Amanhã você vai estar se sentindo outra. - O que? 9 Alberto Lídia Alberto Lídia - Lídia, essas coisas são assim mesmo. Nada como um dia depois do outro, e uma noite no meio. Dependendo da noite... - Você está me cantando, Alberto? - Eu?! Que é isso, Lídia? Tô querendo te ajudar, te dar uma força... Só isso. - Vai dar uma força pras tuas nêgas. É isso mesmo. E faz o seguinte... Se o Fernando passar por aqui, você diz pra ele que eu tô na minha casa, e que é pra ele não me não me ligar. Ouviu? Não me ligar! Alberto - Não te ligar. Lídia - Não me ligar! Entendeu? Alberto - Entendi. Alberto - A vida é assim mesmo. Nada como um dia depois do outro e uma noite no meio. Dependendo da noite.. Eu tive uma idéia. Por que a gente não vai pra minha casa que é aqui do lado. A gente fica lá, só os dois... Ouvimos um som. Eu te faço um carinho... Betinha - Pára. Alberto - Garçon. Mais um choppinho. O último, prometo. Você quer? Betinha - Ah, não sei. Pode até ser. Mas assim, tão de repente... Alberto - Eu perguntei do chopp. BAR .............. Alberto - Quer ou não quer? Betinha - Quero... Alberto - Dois. 10 CASA DE ALBERTO Alberto - Como é mesmo seu nome? Betinha - Betinha. E o seu? Alberto - Alberto, Alberto... Betinha - Ai, que lindo. Ai, ai... Ai, meu Deus. Não estou acreditando!... Ai, ai... ....................... Secretária - Alberto, meu filho, me liga. É a sua mãe.. Me liga, meu filho. ................... Secretária - Alberto, aqui é Terezinha. Quanto tempo, né? Como é que você está? Eu tô te ligando por que eu cheguei semana passada e vou me casar no dia 12. O nome do noivo é Paulo Roberto Amoêdo. Betinha - O que foi? Alberto - Psiu. Deixa eu ouvir o recado. Secretária - Você não conhece. A família dele é de Santos. Pois é. Eu vou me casar na Igreja da Glória, dia 12, às dezenove e trinta. Foi tudo muito em cima da hora, por isso que eu estou te telefonando. Mas eu gostaria muito que você fosse. Depois a gente vai dar uma recepçãozinha. Eu te espero lá, tá? Tchau. ........ Alberto - Passa o telefone pra mim, por favor. Obrigado. Betinha - O que foi que aconteceu? Alberto - Nada, não. Só um instantinho. É que eu tenho que dar uma ligadinha rápida... coisa ligeira. Betinha - A essa hora? São duas e meia da manhã. Alberto - Mentira! Duas e meia? Betinha - É. 11 Alberto - Eu sei. Mas é que... eu tenho que ligar, assim mesmo. ......... Alberto - Alô! Eu podia falar com a Terezinha, por favor? É o Alberto... Pode acordar. Eu sei que são duas e meia da manhã, mas se você disser pra ela que é o Alberto, ela vai atender... Não desliga não, se não eu ligo de novo. Eu ligo a noite inteira. Vai chamar, vai chamar! Alberto - Oi, Terezinha. Oi, é Alberto. Como é que você está? Desculpe eu estar te ligando a essa hora. É que eu acabei de chegar e ouvi o seu recado na secretária eletrônica, então... É, exato... É... faz muito tempo, muito tempo... Inclusive, eu estava pensando aqui... Você sabe que...uns meses depois da última vez que a gente se viu, eu comecei a desconfiar que você era uma grande vaca. Mas não a ponto de ter o cinismo de me convidar pro teu casamento. Por que depois que você fez o que fez comigo, Terezinha, e se mandou a francesa pra Europa, eu acho que é muita escrotidão da sua parte invadir a minha secretária eletrônica pra dizer que vai casar com a pôrra de um Amoêdo que eu nunca ouvi falar e que a família é de Santos. Eu quero que você se foda, Terezinha. Você, o tal do Amoêdo e toda a sociedade santista. Porque sendo você a vaca que é, esse cara só pode ter grana, minha filha. Infelizmente eu não vou poder comparecer à cerimônia. Mas eu faço votos, de todo coração, que você vá pra puta que te pariu. Você, seu pai, sua mãe, o Amoêdo e os futuros bezerrinhos. Adeuzinho, passar bem, tudo de bom pra você, e estimo melhoras. Alberto - Ah, desculpa. Eu estava falando com uma velha amiga. 12 Betinha - Eu quero ir embora. Alberto - Tudo bem. Eu te levo. Betinha - Não precisa. Eu sou super independente, eu pego um táxi. Alberto - Não, o que é isso! Eu faço questão de te levar. Betinha - Não quero. Alberto - Olha tua bolsa, aqui. Me dá meu sapato aí. Esse sapato é meu. Eu te levo... Imagina se você vai uma hora dessa, assim... Que é isso? Isso aqui não é meu! Me dá isso aí. CASA DE TEREZINHA, Terezinha - Eu queria passar um telegrama. O meu nome é Tereza... Para Frederico. Rua das Acácias 493, apartamento 501. O texto é... Frederico. Esta manhã eu acordei de um pesadêlo e descobri que eu havia me transformado em uma vaca... Você já deve ter ouvido falar que eu vou me casar daqui a alguns dias. Eu quero que você saiba que eu nunca te esqueci. Todo este tempo que eu fiquei fora, eu não consegui te esquecer. O nome do meu noivo é Paulo Roberto Amoêdo. Você não conhece. Ninguém conhece. Aliás, eu acho que nem eu mesma conheço. Eu não sei porque eu estou falando essas coisas todas. Eu sei que você não se importa. O Amoêdo é um cara rico, atraente... CASA DE FREDERICO Terezinha - ...medíocre e gosta de mim. Eu gosto de você, e você eu não sei de quem gosta. Eu não quero que você vá ao casamento, se essa idéia, por acaso, te passar pela cabeça. Você é uma pessoa boa, sem nenhum talento para as coisas práticas. Eu tenho 13 muito talento para as coisas práticas e sou uma pessoa má. Mesmo sendo má, eu espero que você seja muito feliz. Adeus para sempre. Terezinha. ........................................... Frederico - No momento não posso atender, porque estou morto. Cansei de me queimar por dentro e por fora. A vida é apenas indagação do achado e aguda espostejação da carne do conhecimento. E o amor, meu caro amigo, ou amiga, este não consola. Nunca de núncaras...