entrevista texto thilo komma-pöllath, andré groenewoud fotos nils hendrik müller Tommy hilfiger: “As tendências são 30 um carrossel – tudo o que já foi moda, voltará a sê-lo, mais cedo ou mais tarde” O seu nome é uma marca mundialmente reconhecida há 25 anos. O mundo sente-se atraído por tommy hilfiger, porque este estilista compreende os gostos dos consumidores. Uma conversa sobre a moda, a sua influência e o futuro. negligenciava os negócios. A falência funcionou como uma bofetada, obrigando-me a encarar a realidade. Mais tarde, na década de 90, a marca cresceu tanto no mercado americano que foi necessário recuar um pouco. Também foram tempos difíceis, mas não temo falhar. Se no início não tinha nada a perder, agora, na pior das hipóteses, teria de mudar de ramo. Aconteça o que acontecer, o sol voltará a brilhar no dia seguinte. Vem de uma família pobre, teve oito irmãos. Nunca esquecerei as minhas raízes. Os meus irmãos viram-se obrigados Sente-se influenciado por esse passado? a trabalhar desde cedo para sustentar a família. Muitos dos meus colegas de escola andavam mais bem vestidos do que eu e, com 16 anos, todos tinham o seu próprio automóvel. Pensava, para com os meus botões, que aquilo era injusto. Cortei relva, distribuí jornais e até trabalhei numa bomba de gasolina. Sonhava em fugir de tudo isso e mudar-me para Nova Iorque ou para Los Angeles. Quando se cresce com tantos irmãos, cada um descobre rapidamente os seus gostos – roupa, comida, música. O melhor sítio para perceber que não existem duas pessoas iguais foi no seio da minha família. Foi aí que tive a ideia de criar roupa para pessoas com o seu próprio estilo, com ideias claras do que gostam e do que não gostam. O estilo é algo que se aprende? < Tommy Hilfiger encara o futuro com tranquilidade, pronto para enfrentar os desafios lançados pelos mercados emergentes. Este ano, a marca Tommy Hilfiger celebra 25 anos de existência. O que diz o seu manual de “como fazer” para concretizar o seu sonho americano? Os últimos 25 anos passaram num abrir e fechar de olhos. Parece que foi ontem que tudo começou. “Porquê eu?” Aos 18 anos, iniciei a aprendizagem daquilo que havia para saber em relação à moda. Depois, fui para Nova Iorque para tentar vender os meus modelos. Sou autodidacta e muito confiante. É só isto que consta no meu manual – criei as minhas próprias regras. O meu sonho era conceber vestuário de elevada qualidade, bonito e, ao mesmo tempo, acessível. Percebi logo que seria necessário uma campanha de marketing muito especial para transformar um nome (o meu) numa marca. A primeira campanha em Times Square, chamada Hangman, deu azo a um escândalo na altura, porque me coloquei no mesmo patamar de estilistas famosos, como Calvin Klein e Ralph Lauren. Mas, actualmente, as escolas publicitárias encaram essa campanha como uma tendência. Como é que alguém se pode tornar num empresário de sucesso nos dias que correm? Está no sangue. É preciso ter ambição, uma enorme vontade, manter os olhos abertos, inovar, alimentar o negócio e fazê-lo crescer constantemente. Admito que seja complicado, mas pode acontecer se formos persistentes. Basta olhar para casos de sucesso como o Google e o Ebay. A minha motivação baseou-se no sábio processo de eliminação. Sabia que a universidade não era para mim – não conseguiria ficar sentado numa sala de aulas, a ouvir um professor recorrer a livros, para me preparar para o mundo. Queria explorar a minha criatividade e sempre fui optimista. Mesmo quando teve de lidar com as suas maiores derrotas? O meu maior fracasso foi em 1973, quando fali. Só tinha 22 anos na altura, vivia em Nova Iorque e passava as noites em bares a conhecer pessoas como David Bowie, T-Rex e Lou Reed. Ou seja, gozava a vida e Não, é um dom. Actualmente, é relativamente fácil saber o que está na moda. Se as propostas são bonitas ou não… já é outra questão. Quanto a mim, há por aí coisas de muito mau gosto. Por exemplo, se alguém quiser parecer-se com o Brad Pitt, compra o mesmo modelo de camisa e de calças que ele usa. Mas isso não quer dizer que ficará igual ao Brad Pitt. Por outras palavras, qualquer um pode comprar moda, mas a consciência estilística não está à venda. Na década de 80, toda a gente adquiria Versace: blusas, calças, cintos, óculos de sol e roupa interior. Presentemente, assiste-se ao boom das lojas online. A maioria dos consumidores cria o seu próprio estilo, misturando etiquetas. Deslocam-se à H&M ou compram um par de Levi’s, combinam Hilfiger e Diesel – enfim, fazem o que mais lhes agrada. Na sua opinião, qual é o maior estilista do Só há um, o Karl Lagerfeld, que é um génio. Ele reinventou a Chanel, a actualidade? griffe mais influente do mundo, depois de a marca ter caído no esquecimento. Transformou-se numa estrela de rock, com um estilo próprio. É um bom amigo e um exemplo que procuro seguir. Qual a importância da moda nas outras A moda influencia todas as áreas da cultura. Mas devo reconhecer manifestações culturais, como a música, também que a marca Hilfiger não existiria sem a música – os Stones, os Beatles ou os The Who. Quando o rapper negro Snoop Dogg apareceu a arquitectura ou o design? no programa Saturday Night Live vestido de Hilfiger, atingimos um nível de referência de um dia para o outro. Quando a Tommy Hilfiger começou, criei o conceito FAME (Fashion, Art, Music, Entertainment) para apimentar a imagem. As siglas abreviam Moda, Arte, Música e Entretenimento – vertentes essenciais da cultura pop, no meu entender. A moda não existiria sem estes elementos e, sem moda, não haveria cultura pop. Quem é que é capaz de imaginar os anos 60 sem as calças à boca-de-sino, as minissaias e o flower power? Por isso, cerquei-me de músicos, estrelas de Hollywood, artistas, criativos, pessoas que impulsionam a sociedade. Contratámos artistas como o Usher, o Lenny Kravitz, o David Bowie e os Rolling Stones, vestimo-los e patrocinamos as suas tournées. Destilámos da cultura pop, uma marca que moldou o espírito dos tempos. > 33 tommy hilfiger As suas peças preferidas são calças de ganga e sweat-shirts – mais um motivo pelo qual o estilista figura entre os menos pretensiosos. Hilfiger definiu o estilo Ivy League como sendo elegante, atlético e sofisticado. Nascido a 24 de Março de 1951, na pequena vila nova-iorquina de Elmira, abriu a sua primeira loja em 1969 e começou a comercializar as suas criações na década de 70. No início dos anos 90, o rapper Snoop Dogg foi fundamental para o status associado à marca. Em 2005, Hilfiger vendeu a empresa, mas permaneceu com o cargo de director artístico. Pai de cinco filhos e a viver o seu segundo casamento, o designer vive entre Nova Iorque e Connecticut, adora Rolling Stones e é um entusiasmado marinheiro. Gosta de passar tempo na ilha caribenha de Mustique e em Saint-Tropez. whttp://companyinfo.tommy.com 34 Acredita que os mercados emergentes, como a Índia e a China, mudarão a moda? Vender moda com êxito é bem mais difícil hoje do que quando comecei. Há mais concorrência, mais informação e mais oferta. Os mercados da China, Coreia e Índia são os maiores desafios, tal como o Brasil. Os chineses valorizam bastante as marcas, sobretudo se forem ocidentais, o que está associado a um elevado estatuto. Vamos alterar esses mercados. Na Ásia, mal podem esperar pela chegada da alta-costura, visto que a moda chinesa, sendo abundante, acaba por pecar pela simplicidade. O design de alta qualidade existe, mas o mercado ainda é muito pequeno. Acredito que vai haver um processo de igualização. Aliás, isso já se vê. No futuro, como é que será a moda? Sinceramente, não faço ideia. As tendências são um autêntico carrossel. Tudo o que já foi moda voltará a sê-lo, mais cedo ou mais tarde – basta olhar para as tendências rétro. A moda não se reinventa. Agora estamos mais virados para o casual, mas julgo que dentro de pouco tempo iremos adoptar um look mais formal. Há 25 anos, quando arranquei com a Tommy Hilfiger, não antecipava onde estaria hoje. Creio que a procura de roupa de elevada qualidade irá manter-se, a tendência será a de democratizar a moda – vestuário melhor, a preços mais acessíveis. Os clientes exigem que a imagem das marcas torne a roupa desejável. Será um pouco como na indústria automóvel: primeiro surgiu a Mercedes-Benz e, depois, a concorrência [BMW, Audi ou Lexus] procurou passar a oferecer produtos de aspecto similar. Por isso, não tenho a menor dúvida de que no futuro será determinante o desejo de exclusividade, a busca de algo especial. Cabe a nós, fabricantes, desvendar esse traço único dos nossos produtos e evidenciá-lo aos olhos dos consumidores. É o grande desafio e a maior arte para os próximos tempos.