O DIVINO E A NATUREZA
A NOVIDADE DE PLATÃO
Jandir Silva dos Santos1
Elton Moreira Quadros (orientador) 2
RESUMO: Abordamos, em linhas gerais, uma reflexão sobre a natureza e a origem do
universo, partindo da cosmologia mítica de Homero e Hesíodo, até alcançar o pensamento do
filósofo Platão. Põe-se em evidência a significação que possui o divino nas primeiras
tentativas de conhecer o universo. Mesmo muito presente na cultura grega antiga, com o
advento da filosofia, haverá um rompimento com a questão da procedência divina do cosmo,
ao se elaborar teorias que expliquem a origem, o princípio, em algum elemento da natureza,
nesse sentido, apresentamos o pensamento do primeiro filósofo, Tales de Mileto. Tal
pensamento será questionado principalmente por Platão que busca incorporar a cosmologia ao
seu sistema metafísico, para isso, ele re-insere a figura divina (o demiurgo) que realiza a
organização do universo, mas, em contrapartida ao mito, evidencia o seu caráter de perfeição,
bondade e racionalidade, atribuindo a utilização da matéria (chora) o caráter caótico do
mundo sensível. A novidade metafísica introduzida por Platão amplia as possibilidades de
pensar a natureza.
Palavras-Chave: Cosmologia. Deus. Natureza. Mito. Platão.
INTRODUÇÃO
Muitas foram as inquietações que levaram o homem a se indagar em busca do
conhecimento, entretanto, o maior motivador deste processo foi o próprio meio em que o
homem sempre se encontrou inserido: a natureza. Seus fenômenos, movimentos e variações
interagem de forma direta com a rotina e a sobrevivência humana de tal sorte que, conhecer as
causas dessas ações, integrar-se perfeitamente no círculo natural estabilizando-se nele,
tornara-se amplamente significativo para o homem. Por isso, como afirma Mondin:
o primeiro problema que o homem se colocou, tão logo adquiriu o poder de refletir,
foi o problema cosmológico, começando a se questionar sobre a origem das coisas,
qual o constitutivo fundamental do mundo, suas causas últimas, o modo pelo qual
esta causa produziu o complexo sistema do universo. (2006, p. 53)
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Discente do curso de Filosofia do Instituto de Filosofia Nossa Senhora das Vitórias (IFNSV). E-mail:
[email protected]
2
Possui graduação em Filosofia - Bacharelado e Licenciatura - pela Universidade Federal de Ouro Preto (2000)
e especialização em Educação, Cultura e Memória pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (2010).
Professor da Faculdade Juvêncio Terra (FJT), do Instituto de Filosofia Nossa Senhora das Vitórias (IFNSV) e
professor substituto na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB). Email: esfí[email protected]
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É partindo desse contexto que os povos, desde os mais primitivos, buscaram elaborar
suas primeiras especulações sobre o universo formando os chamados mitos. O mito consiste
nas primeiras narrativas que tentaram explicar o universo. Contudo, ele ainda é muito
nebuloso, pois, na ocasião de fenômenos confusos ou incompreensíveis, o saber da época
recorria ao sobrenatural, à ação de deuses ou de forças mágicas da natureza estando, portanto,
atrelado a crenças religiosas e costumes culturais.
Tais explicações desenvolveram-se em várias partes do mundo e remontam
inicialmente ao tempo neolítico. Elas permaneceram definitivas na tradição de muitos povos
por séculos e, de certa forma, até hoje muitas destas explicações persistem em grupos
culturais e religiosos, apesar de serem constantemente criticados em sua veracidade partindose das teorias cosmológicas modernas alcançadas pelos avanços técnico-científicos do século
XX e XXI.
Dessa forma, é no mito que se consolida, efetivamente, uma relação entre o divino e a
cosmos, relação esta que perdurará, visto que as mais diversas teorias cosmológicas,
elaboradas posteriormente por vários filósofos, sempre procurarão definir deus e o seu papel
na organização do mundo quer para excluí-lo ou redimensioná-lo.
A COSMOLOGIA MÍTICA NA GRÉCIA ANTIGA
Uma significativa elaboração da cosmologia mítica obteve seu ápice na civilização
grega antiga, aproximadamente século IX a.C., em que exerceram destaque considerável as
narrativas poéticas de Homero e Hesíodo.
A vida de ambos é cercada de muito mistério. Seus nomes estão ligados a muitas
lendas e histórias segundo as quais as poesias que eles escreveram consistem em profecias
providas dos deuses ou das musas. Por isso, mais do que poetas, eles são considerados os
educadores por excelência da cultura helênica e como os pilares da religião pública e da
literatura grega.
Entre os pesquisadores, contudo, o ponto de vista mais defendido é que o nome
Homero diz respeito, na verdade, a uma série de poetas, e não a um único indivíduo.
Constata-se também que “Homero, bem provavelmente, não tirou a épica do nada, mas sua
obra representa a culminação de uma longa tradição de bardos” (GIORDANI, 2001, p. 296).
São duas as principais obras atribuídas a Homero: Ilíada e Odisséia. Nelas Homero
descreve o contexto e a história da Guerra de Tróia onde é modelado o verdadeiro homem
virtuoso, aquele que compreende a grandeza dos deuses, a eles recorre e reconhece sua
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pequenez. Suas histórias revelam a relação dos deuses entre si, dos deuses com os mortais e
dos deuses com a natureza, o que representa uma tentativa de expor a maneira como os
fenômenos se dão.
Hesíodo é também autor de duas obras: Os trabalhos e os Dias e Teogonia. Conforme
Giordani, apesar de Hesíodo escrever em poemas, assume um cunho mais didático,
diferentemente de Homero. Ele apresenta claramente a genealogia dos deuses em seu livro a
Teogonia (séc. VIII a.C.) que representa uma das principais fontes para o estudo da religião
dos helenos (2001, p. 298).
Nesta genealogia, Hesíodo fixa o papel dos deuses na cosmologia universal:
Tudo surge do Caos, [da desordem], dela provem Gea (a Terra), em cujo amplo seio
estão todas as coisas. Nas profundezas da terra, foi gerado o tártaro escuro e por
último, Eros (o amor), que em seguida deu origem aos outros deuses e também aos
seres. (MONDIN, 1981, p. 14)
Os mitos apresentados por Hesíodo e Homero oferecem muitas explicações com
relação à origem e às causas da natureza, porém, não fugindo aos padrões da narrativa mítica,
fundamenta o acontecimento de todas as coisas nas mãos dos deuses:
Pode-se dizer que, para o homem homérico e para o homem grego filho da tradição
homérica, tudo é divino, no sentido que tudo o que acontece é obra dos deuses.
Todos os fenômenos naturais são promovidos por numes: os trovões e os raios são
lançados por Zeus do Alto do Olimpo, as ondas do mar são levantadas pelo tridente
de Posseidon, o sol é carregado pelo áureo carro de Apolo, e assim por diante. Mas
também os fenômenos da vida interior do homem grego individual, assim como a
vida social, os destinos das suas cidades e das suas guerras são concebidas como
essencialmente ligadas aos deuses e condicionadas por eles (REALE, 1993, p. 21).
Numa breve análise, este pensamento não está distante dos padrões da época.
Contudo, há um aspecto peculiar nas histórias de Homero e Hesíodo: a concepção
antropomórfica dos deuses.
Os deuses de Homero e Hesíodo são forças naturais calcadas em forças humanas
idealizadas, aspectos do homem sublimados, personalizados, forças do homem
cristalizadas em belíssimas formas. Em outras palavras, os deuses da religião natural
não são mais do que homens ampliados e idealizados; são, pois, quantitativamente
superiores a nós, não, porém, qualitativamente diferentes (MONDIN, 1981, p. 12).
“Homero e Hesíodo atribuíam aos deuses tudo o que é vergonhoso e infortunado entre
os mortais: roubos, adultérios e falsidades” (Russell, 1967, p. 46) por isso não é raro a
presença de erros, enganos ou ações motivadas por ódio, inveja partindo dos deuses nos mitos
da Grécia Antiga.
Isso desemboca num problema: se os deuses, responsáveis pela ordem constante dos
fenômenos do universo, estão sujeitos a desequilíbrios emocionais e agem por impulso,
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motivados por esses desequilíbrios, logo, a natureza e o homem se encontram numa situação
de constante incertezas, onde as alternativas possíveis eram ou se contentar com o que
acontecia, ou implorar por meio de cultos e rituais clemência divina.
No fim das contas forma-se um grande paradoxo, pois, numa tentativa de se explicar
as causas chega-se a um fator indeterminado: a vontade dos deuses. Assim a cosmologia
mítica da Grécia dá margem a indagações e críticas que motivou a busca por uma nova
maneira de se pensar a cosmologia.
Começam, então, a surgir as primeiras explicações teóricas sobre o cosmos elaborada
por pensadores que já não mais se baseiam em lendas, em mitos ou em deuses, mas que na
observação sistêmica e racional da natureza tentavam encontrar esses elementos.
Assim, se a cosmologia mítica tornou-se falha ao esbarrar na impossibilidade de
estabilidade na compreensão racional do universo, os primeiros pensadores vêem como
necessário encontrar na própria natureza, e não fora dela, algo que pudesse exprimir o
princípio fundamental de todas as coisas.
O APARECIMENTO DO PENSAMENTO COSMOLÓGICO NATURALISTA
Tales, natural da cidade de Mileto, que viveu aproximadamente no início do século VI
a.C. é considerado o precursor de uma nova forma de pensar, ou seja, na origem do cosmos
não há a presença dos deuses ou do divino, mas, de um elemento da natureza. O primeiro
filósofo naturalista não dá necessariamente uma explicação precisa de como o mundo chegou
ao atual estágio de organização, tampouco assinala detalhes do universo em sua gênese, mas
aponta para a existência de um arché, isto é, um princípio, um fundamento comum a tudo o
que existe.
Tales pergunta-se se, não obstante a experiência que nos apresenta o quadro
impressionante de uma multiplicidade infinita de fenômenos, aparentemente
irredutíveis, não seria possível derivar a realidade de um único princípio supremo
(MONDIN, 2006, p. 54)
Para ele, esse princípio não é nenhum deus ou força sobrenatural, pelo contrário é um
elemento da physis, da natureza: a água. Apesar de sua hipótese parecer-nos tola, nela se
firma efetivamente o contraste com o pensar mítico a partir da fundamentação materialista do
pensar cosmológico em detrimento às cosmogonias.
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Muitos pensadores sucederam a Tales e, por meio de estudos e observações,
afirmaram a existência de um princípio supremo, fundamento de todas as coisas. No entanto,
muitas divergências surgiram na tentativa de se definir que elemento é esse.
No entanto, todos esses filósofos pensaram o mundo como uma estrutura inteligível
longe da intervenção irracional e inconstante dos deuses homéricos. Há uma lógica no
processo de organização cósmica, um processo natural e permanente do universo que se dá a
partir das relações entre os próprios constituintes do mesmo. Isso, como afirma Vlastos, é
muito significativo:
Pela primeira vez (...) o homem alcançou uma percepção de um universo racional
que deixa que seu próprio destino seja determinado pela physis – a sua e a do mundo
(1987, p. 24).
PLATÃO E A CRIAÇÃO DO PENSAR METAFÍSICO
Platão, natural da cidade de Atenas (428-347 a.C.), é o primeiro filósofo, ao menos
em escritos, a romper com a visão materialista atribuída ao problema cosmológico pelos
filósofos naturalista e, também, sem recorrer ao fantasioso mundo das epopéias. Platão
questiona-se se
As causas de caráter físico e mecânico representam as ‘verdadeiras causas’ ou, ao
contrário, constituem ‘con-causas’, ou seja, causas a serviço de causas ulteriores e
mais elevadas. A causa daquilo que é físico e mecânico não será, talvez, algo não
físico e não-mecânico. (REALE; ANTISERI, 1990, p. 134)
Desse questionamento o autor da República deriva todo o seu pensar metafísico
anunciando a existência de uma realidade supra-sensível, uma dimensão supra-física do ser.
Todos os naturalistas desconheciam esse plano da realidade fazendo uso apenas de causas de
caráter físico e mecânico. Com base na existência desse mundo além da matéria que Platão
fundamentará a sua visão sobre a origem, fundamento e funcionamento do cosmos.
Em sua metafísica, Platão anuncia de forma clara a existência dos dois planos do
universo: o plano sensível (material e em constante mudança) e o plano supra-sensível
(imaterial e imutável), este último, ele denomina hiperurânio ou mundo das idéias o qual,
segundo ele, só pode ser atingido pela razão, pelo intelecto. Além dessa divisão também
apresenta a relação que se dá entre esses dois planos da realidade, afirmando a superioridade
do plano supra-físico.
No pensamento platônico o mundo supra-sensível é composto de eidos (de idéias, de
formas) de todas as coisas que existem. Ele e todas as idéias nele contidas são perfeitas,
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imutáveis e eternas. O mundo físico é uma cópia daquilo que existe, em perfeição, no mundo
das idéias. Logo, o mundo das idéias é superior para Platão, pois, apenas nele se pode
alcançar a verdade e a perfeição das coisas. O mundo material, como cópia, tem participação
na verdade, contudo, é inconstante, variável, participa de um constante devir o qual engana e
não permite o alcance da verdade. Assim, o mundo das idéias é a realidade e o mundo
sensível é mera aparência.
O desenvolvimento desse pensar metafísico instaura dois questionamentos para a
cosmologia até então desenvolvida: se a causa última de todas as coisas é, como apresentado,
um elemento material:
1. Como se explica o que está para além da matéria?
2. E mesmo se se restringisse essa explicação apenas ao mundo sensível, como pode
o mesmo ser explicado em sua gênese e origem por um elemento componente do
plano sensível, que é cópia, imperfeito e mutável?
Portanto, se há, como Platão afirma, a existência de um plano metafísico perfeito que
fundamenta tudo o que existe em matéria, o mundo em sua inteireza não pode ser explicado
pela physis.
O pensamento metafísico de Platão faz ruir todo o pensar cosmológico desenvolvido
até então. Assim, em seu célebre diálogo, o Timeu, ele desenvolve uma nova teoria para a
origem do mundo, incluindo a existência do supra-sensível.
O TIMEU E A QUESTÃO DA ORIGEM DIVINA DO COSMOS
Apesar de ser considerado um diálogo cheio de fantasias (RUSSEL, 1967), não
podemos perder de vista que, nesta obra fica claro o pensamento que Platão defende acerca da
gênese do universo.
Platão “se propõe descrever a origem do cosmos como obra de um deus que toma a
matéria caótica e a molda a semelhança de um modelo ideal” (VLASTOS, 1987, p. 26). A
esse deus Platão chama de Demiurgo, isto é, artífice, quem realiza uma arte. A arte do
Demiurgo é o universo sensível, o mundo físico.
A ação do Demiurgo na cosmologia de Platão não é uma ação de criação propriamente
dita, como se poderia encontrar em muitas culturas, mas é uma ação de organização de uma
matéria já existente, isso fica evidente no Timeu: “Deus (...) tomou toda essa matéria, massa
visível, desprovida de todo repouso, mudando sem medida e sem ordem e levou-a da
desordem à ordem” (Timeu, 30). Essa organização tem por referência as formas encontradas
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no mundo das idéias: “se o cosmos é belo e se o Demiurgo é bom, é claro que ele mira o
eterno.” (Timeu, 29).
Na ação do Demiurgo pode-se perceber uma semelhança com o pensamento
cosmológico mítico, que também considera a origem do universo como a passagem de um
estado de caos para um estado de organização pela mediação dos deuses. Contudo, o
pensamento de Platão é mais bem elaborado justamente aonde o mito apresenta falhas, ou
seja, na concepção que se tem de deus. Em Platão “ele [o Demiurgo] era bom” (Timeu, 29) e
tudo o que fez, buscou fazê-lo com perfeição. Ele não era invejoso, “isento de inveja desejou
que tudo nascesse o mais possível semelhante a ele.” (Timeu, 29).
Se o “deus” que Platão usa para afirmar sua teoria é um deus bom e perfeito, o mundo
não está sujeito a mudanças ou a fenômenos estranhos causados pela inconstância
sentimental, tal como na mitologia, além disso, agora, na perspectiva platônica, as formas
perfeitas presentes no Mundo das Idéias possibilitam uma organização a qual até mesmo o
Demiurgo está submetido.
Quanto a existência do devir e da diversidade no plano sensível Platão afirma ser
conseqüência da matéria pré-existente à qual ele chama de chora. Ela é formada pelos quatro
elementos: água, terra, fogo e ar e é caótica, isto é, transforma-se e move-se com inconstância.
O Demiurgo contempla as formas perfeitas, no mundo das idéias, e a partir delas
modela, na chora, o cosmos. Em sua “participação” nas idéias, tudo o que é modelado pelo
demiurgo é perfeito.
Contudo, apesar de basear-se nas idéias, as coisas sensíveis são modeladas na chora, e
esta, mesmo sendo moldada, não perde sua característica natural caótica: o devir. Logo, o
substrato de todas as coisas sensíveis é, por natureza, mutável e inconstante, por isso, tudo o
que deriva da chora, está sujeito ao devir. Assim, se tudo está sujeito ao movimento, todas as
coisas sensíveis estão fadadas à corrupção em sua forma, a imperfeição não é culpa do
modelador, mas da matéria em si.
Não podemos perder de vista outro elemento essencial à cosmologia platônica, a alma.
Segundo Platão ela organiza o devir caótico da matéria. Sendo um elemento não-material, a
alma não se corrompe, é eterna e contempla as idéias perfeitas. Esta alma Platão atribui, em
seu pensamento, ao mundo, ou seja, em Platão, o mundo também possuí uma alma que tem
por função ordenar o seu movimento. É por causa dessa alma ordenadora que faz-se
desnecessária a constante intervenção do demiurgo sobre as coisas.
No Demiurgo, vê-se a representação de um ser superior, perfeito, que na sua bondade
resolve ordenar a matéria pré-existente e atribuir-lhe uma alma tendo como referencial as
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formas perfeitas. Assim, é possível dizer que a fundamentação do cosmos, em Platão, sua
organização e sua gênese estão embasadas na teoria do mundo das idéias.
Outras religiões e culturas provavelmente considerariam o demiurgo de Platão um
deus. Não se sabe ao certo porque Platão não o denomina assim. Especula-se a possibilidade
de o referido autor não desejar qualquer tipo de relação com os deuses da mitologia, ou ainda
que faça isso para não ter o destino do seu mestre, Sócrates, condenado a morte por inserir
novos deuses na sociedade e por corromper a juventude. Isso pode parecer um retrocesso ao
mito, entretanto, a elaboração metafísica e cosmológica de Platão consegue pela
argumentação lógica levar a um outro patamar o pensamento sobre a natureza e o cosmos, já
que ele responde às indagações da época, consegue unir o pensamento de muitos filósofos 3 e,
inclusive, acredita resolver divergências teóricas a respeito da ontologia4 do seu tempo.
CONCLUSÃO
Pode-se primeiramente evidenciar dois períodos de pensamentos a cerca da origem e
da organização do universo na Grécia antiga: inicialmente, o mito utilizando-se de recursos
religiosos e culturais; e, posteriormente, a naturalista, em que se começa a formular teorias a
partir da observação sistemática e física da natureza.
Toda a cosmologia mítica estava baseada nos deuses, todos os fenômenos eram
explicados por seus desejos. Mas, dada a inconstância da vontade dos deuses provinda da
concepção antropomórfica que se tinha deles, sua cosmologia chega a um paradoxo: o
universo é inexplicável.
Os físicos rompem com pensamento mítico, mas ao fundamentar incisivamente na
physis a sua cosmologia desconsideram a possibilidade de uma realidade metafísica.
Conseguem elaborar uma explicação, mas, que acaba por se tornar múltipla e incompleta.
A cosmologia alcança um avanço notável em Platão. Ele elabora seu pensamento a
partir dessas duas correntes anteriores respondendo ao problema da origem e organização do
universo de forma a contemplar a realidade material e metafísica.
Nesse cenário, as idéias desenvolvidas por Platão em sua cosmologia, apresentam a
existência de um ser superior que participa da origem do mundo sensível. Ele é quem toma a
matéria informe e a organiza, conforme as idéias perfeitas. A esse demiurgo, pode-se fazer
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Fato considerável, visto que a pluralidade de teorias cosmológicas ora existentes levou ao relativismo dos
sofistas.
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É o caso da divergência entre o pensamento de Heráclito (eterno devir existência do não-ser) e Parmênides (a
existência do ser eterno, imutável e a não possibilidade do não-ser).
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referência aos deuses do mito, contudo, como explica o Timeu, o Demiurgo é bom e perfeito,
não intervêm constantemente na ordem do cosmos, não é invejoso, nem está sujeito a
qualquer sentimento ruim que os homens possuem como imaginava a mitologia.
Assim, Platão introduz de maneira reelaborada, ressignificada o pensar sobre o divino
na cosmologia grega, ampliando as condições que permitiram o desenvolver do pensar o
cosmo e a natureza. A concepção do divino presente na religião e na cultura da época
influenciaram diretamente a ratificação dos pensamentos cosmogônicos e cosmológicos.
Platão, com a sua tentativa de explicar a origem do cosmos, torna-se um bom exemplo
de como se pode pensar o universo dentro de um arcabouço que não impeça a completa
exclusão dos elementos religiosos, filosóficos e, mesmo, científicos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
GIORDANI, Mario Curtis. História da Grécia: antiguidade clássica 1. 7a ed. Petrópolis:
Vozes, 2001.
MONDIN, Battista. Curso de filosofia: os filósofos do ocidente. 5a ed.. São Paulo: Edições
Paulinas, 1981. v. 1 (Coleção Filosofia).
______. “O problema cosmológico”. In: ______. Introdução à filosofia: problemas,
sistemas, autores, obras. 16a ed.. São Paulo: Paulus, 2006. (Coleção Filosofia).
PLATÃO. Timeu e Crítias ou a Atlântida. Curitiba: Hermus, 2002.
REALE, Giovanni. História da filosofia antiga. São Paulo: Loyola, 1993. v. 1.
______. & ANTÍSERI, Dario. História da filosofia: Antiguidade e idade Média. São Paulo:
Paulus, 1990. v. 1. (Coleção Filosofia).
RUSSELL, Bertrand. História da filosofia ocidental: A Filosofia Antiga. 2a ed.. São Paulo:
companhia editora nacional, 1967. v. 1.
VLASTOS, Gregory. O universo de Platão. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1987.
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O Divino e a Natureza - A Novidade de Platão - Jandir Silva