Curso de Ciências Contábeis Ética Geral e Profissional 2011/2 SISTEMAS DE MORAL1 A Ética é uma dimensão da Moral que permite o questionamento sobre as práticas, atitudes, regras e ações humanas. Para que este questionamento seja possível, é necessário saber qual critério está sendo utilizado para avaliar a ação humana. O critério é a própria vida humana. Parte-se do princípio de que as sociedades existem para garantir a sobrevivência dos seres humanos e, mais do que isso, uma existência digna, com acesso a tudo que seja necessário ao seu pleno desenvolvimento. E que a função social da moral é exatamente contribuir para com a obtenção desse objetivo, normatizando as relações dos seres humanos entre si, com a comunidade e com a natureza. Sendo assim, a vida deve ser o critério para avaliar as atitudes da sociedade e dos indivíduos. Além desse critério, deve-se considerar que a ética exige mudanças de atitudes. Hoje, mais do que nunca, a humanidade se dá conta de que vivemos em um mundo globalizado, onde as ações de um repercutem diretamente na vida dos outros. Esta constatação é mais visível quando pensamos nos problemas ecológicos, no racismo e na guerra, que são todos problemas que as respostas individuais ou grupais não conseguem resolver. A única possibilidade estaria em uma resposta construída com a participação de todos os grupos envolvidos, o que exigiria a construção de uma ética com princípios e valores aceitos por todos e válidos para todos, apesar de todas as diferenças. Três posturas sobre a moral As duas vertentes mais presentes em nosso comportamento moral são a moral essencialista (também chamada de ética de princípios), que herdamos das tradições grecolatina e judaico-cristã, e a ética subjetivista, fruto da cultura moderna. Além destas duas vertentes, introduziremos uma terceira, a ética da responsabilidade, que se orienta não só pelos princípios, mas também pelo contexto e pelos efeitos das ações. Moral essencialista (Ética dos Princípios) Este é talvez o modelo que temos mais vivamente em nossas mentes quando se fala em moral ou quando chamamos alguém de “moralista”. Trata-se de um conjunto de normas que devem servir de base para o comportamento moral dos indivíduos em toda e qualquer situação. Geralmente, este conjunto de princípios está alicerçado sobre um princípio regulador de fundo filosófico, ou na maioria dos casos, religioso. Esta forma de ética é própria das sociedades tradicionais, onde a força dos costumes e das normas desempenha um papel fundamental na manutenção da coesão da sociedade. As regras de conduta moral, o que é bom e o que é mau para as pessoas, já estariam definidas desde sempre, cabendo ao indivíduo somente aceitar tais regras. A não aceitação destas regras poderia trazer sérias conseqüências ao indivíduo e a toda a comunidade. Este tipo de ética é baseado em princípios essenciais e transcendentes, ou seja, as regras de conduta moral são exteriores ao sujeito ao qual se aplicam. Em geral, acredita-se que elas foram ditadas por Deus; cabe ao ser humano seguir estas regras em sua vida cotidiana, sem poder reformá-las ou mesmo substituí-las por outras, pois não sendo seu autor, também não está em seu poder a possibilidade de mudá-las. O cumprimento de tais regras morais pode ser assegurado por critérios pessoais ou coletivos. Coletivos, quando existe pressão por parte da sociedade para que as regras sejam cumpridas, sob pena de castigo ou punição, com a expulsão da comunidade ou até mesmo com a morte, dependendo da gravidade da falta. Já no caso dos critérios pessoais, o indivíduo segue determinados preceitos por ter a convicção de estar agindo conforme a vontade de Deus e orientado por princípios de justiça. Neste grupo incluímos a ação modelar dos mártires e santos, pessoas que primavam pela vida moral e por colocar seus princípios acima de quaisquer outros. Num outro grupo estariam as pessoas que se guiam por motivos menos elevados, que agem sem convicção, 1 Adaptado de MO SUNG, J.; SILVA, J. C. da. Conversando sobre ética e sociedade. p. 41-52. 13. ed. Petrópolis: Vozes, 2004. UNIESP ÉTICA E LEGISLAÇÃO PROFISSIONAL 2011/2 só pela esperança de receber alguma recompensa divina, como uma vida terrena próspera ou uma vida eterna no céu. Na modernidade, com a formalização do direito na maioria das sociedades, o Estado passou a ter o monopólio da aplicação da justiça, o que enfraqueceu o poder da comunidade de controlar e de punir seus membros. Passou a ser mais comum, portanto, as pessoas seguirem determinados preceitos religiosos ou filosóficos por motivos pessoais, seja por convicção, seja pela esperança de recompensa terrena ou futura. O essencialismo, que ficou enfraquecido na modernidade, ainda permanece como uma forma muito difundida de comportamento. Isso se deve ao fato de a filosofia grega e a cultura judaico-cristã ter-se enraizado e formado a base de nossa cultura ocidental. Apesar de sua longevidade, a moral essencialista apresenta alguns problemas. Um deles é o de ser uma forma de conduta que limita o campo da liberdade humana. Se eu não posso questionar as regras nem transformá-las, minha liberdade está restrita a obedecê-las (ou não). Por não permitir soluções novas, que possam ser tomadas de comum acordo pelos membros da comunidade, ou que atendam a situações concretas bastante particulares, as regras morais essencialistas acabam se tornando uma camisa-de-força, ao invés de contribuírem para a melhoria da convivência social e para a felicidade dos seres humanos. É importante que existam normas sociais que sejam respeitadas por todos, para que a convivência social se torne possível, mas estas normas não podem ser inflexíveis. Daí a sujeição das normas morais a um critério mais elevado: a vida humana. As regras devem ou não ser cumpridas de acordo com este critério. As regras de conduta, por mais bem elaboradas que sejam, sempre correm o risco de se transformarem em instrumentos de poder para oprimir e controlar a vida das pessoas. Além disso, se forem adotadas como um conjunto de regras inflexíveis, elas dificilmente se adaptam às mudanças históricas e culturais da sociedade, e acabam entrando em contradição com as novas formas de vida. O resultado disso é um conflito entre a moral dos princípios e a ética da responsabilidade, isto é, entre seguir os princípios sem estar atento às conseqüências que estes possam trazer, ou estar atento aos efeitos e desrespeitar os princípios. Um exemplo disso é a posição do Vaticano, que apegado à dimensão procriativa do sexo como finalidade natural e intrínseca das relações sexuais, condena os modernos métodos de contracepção. O descompasso entre os princípios morais e as exigências da realidade pode levar as pessoas a caírem no outro extremo, o individualismo. QUADRO RESUMO – Moral essencialista Heteronomia / Transcendência Características Base filosófica e religiosa Convicção Pessoais Critérios Expectativa de sanção positiva ou negativa Coletivos Pressão social / legal Rigidez, que leva à perda de eficácia da regra Resultados negativos Transformação em instrumento de poder Ética individualista Na modernidade, ocorre uma reação aos exageros de uma sociedade baseada na tradição e nos costumes como era a sociedade medieval. O princípio que norteia a modernidade é o de que cada indivíduo deve sair da minoridade, isto é, não deve se guiar pela tradição e por um conjunto de verdades preestabelecidas, mas deve ele mesmo escolher o que é melhor para si e para a sociedade. O critério para este discernimento não precisa ser procurado em nenhum livro, pois está em nós mesmos: a nossa razão. Deus ou a natureza dotou todo homem de razão, portanto basta que façamos bom uso dela para evitar o erro. Na era moderna, a subjetividade ocupa um lugar central na busca de uma maior autonomia e liberdade dos indivíduos frente às instituições. Essa posição, de acordo com a qual cada um encontra em si mesmo o critério para bem julgar, acabou também por produzir os seus excessos, levando ao surgimento de uma ética individualista. Adotou-se a máxima do “cada um por si”, e as pessoas passaram a ter um comportamento egoísta, buscando apenas o próprio interesse. É a famosa lei de querer UNIESP ÉTICA E LEGISLAÇÃO PROFISSIONAL 2011/2 “levar vantagem em tudo”, muito estimulada numa sociedade baseada na concorrência como é a sociedade capitalista, na qual subir na vida implica, muitas vezes, em utilizar os outros como degraus. Neste caso, o ser humano deixa de ser visto como um fim em si mesmo e passa a ser visto como meio. Se a moral essencialista era predominante na Idade Média, podemos dizer que a ética individualista é a moral do capitalismo. Os laços comunitários e a solidariedade deram espaço à disputa e à concorrência. Se, por um lado, a modernidade trouxe a vantagem de dar maior liberdade e autonomia aos indivíduos, por outro não colocou nada no lugar dos antigos critérios de moralidade, a não ser a defesa do interesse pessoal e imediato, o egoísmo. Caímos assim na contradição de uma sociedade que, em geral, acredita que falar a verdade é melhor que mentir, que se deve ajudar o próximo, etc., mas que, na prática, não se comporta desta maneira, e sim segundo conveniências pessoais em cada situação. Ou seja, conhecemos muito bem as normas de conduta necessárias para uma boa convivência social, e as aplicamos ou não de acordo com nosso interesse pessoal. Muitos acham que isso é uma falta de valores morais, e se costuma dizer que “há uma crise de valores”, que “na sociedade de hoje já não há respeito como antigamente”... Na verdade, os valores estão todos aí, só perderam a força. Hoje, as pessoas não se guiam mais por estes princípios e valores “antigos”, mas sim por um novo: o interesse pessoal e imediato. A ética individualista realizou uma grande revolução ou inversão na concepção moral tradicional. Antes, a solidariedade e o altruísmo eram incentivados como valores morais importantes, e o egoísmo era controlado ou reprimido. Hoje, o egoísmo (a defesa do interesse próprio) passou a ser um valor central na vida social, enquanto que a solidariedade e o altruísmo perderam sentido numa sociedade de competição. Este tipo de ética é bastante corrosivo porque é simplesmente irresponsável. Nós não vivemos isolados, logo todas as nossas ações interferem, de uma maneira ou de outra, na vida de várias pessoas e vice-versa. Não é possível viver em sociedade sem levar em contra as contradições inerentes à vida social, contradições estas que geram a necessidade de uma ética, até mesmo de uma ética individualista. O problema é que este tipo de ética não responde às necessidades da convivência social, pois não se pode viver em sociedade sem abrir mão de algum interesse pessoal e imediato para que todos os membros da comunidade também possam ter acesso a um mínimo indispensável para uma vida digna. Nunca devemos nos esquecer de que quando a sociedade entra em crise todos os seus membros acabam sentindo os efeitos, mesmo que seja de uma forma indireta e a longo prazo. Há um ditado que diz que o mundo é dos espertos, mas ninguém gostaria de viver num mundo de espertos. Os lemas do “cada um por si” e do “levar vantagem”, na verdade, servem a dois propósitos: de um lado, servem àqueles que têm mais poder e dinheiro e, portanto, maiores condições de fazer prevalecer seus interesses contra aqueles que são mais pobres. Como na sociedade capitalista os interesses individuais dos poderosos acabam prevalecendo sobre os interesses coletivos, esse tipo de comportamento social egoísta acaba por favorecer os ricos. Por outro lado, os valores de uma sociedade de concorrência impedem que as pessoas se solidarizem umas com as outras e que se unam para mudar a orientação da sociedade, buscando o bem comum, o que ajuda a manter as injustiças sociais e a riqueza e o poder de uns poucos que se julgam acima da lei. QUADRO RESUMO – Ética individualista Características Autonomia Critérios Racionalidade humana O conhecimento da lei moral não conduz à prática Resultados negativos Privilegia os poderosos Enfraquece os laços sociais UNIESP ÉTICA E LEGISLAÇÃO PROFISSIONAL 2011/2 Ética da responsabilidade Igualmente distante do individualismo e do essencialismo está a ética da responsabilidade. Nessa perspectiva, cada grupo social determina consensualmente os padrões de conduta que devem ser seguidos pelos indivíduos deste grupo. Estes padrões, porém, não devem ser vistos como universais e imutáveis, mas sim relativos a cada situação determinada e sempre sujeitos a mudanças, caso a comunidade as julgue necessárias. A diferença básica entre a ética da responsabilidade e as outras posturas vistas anteriormente é a de que ela não se orienta somente por princípios, mas principalmente pelo contexto e pelos efeitos que podem causar as ações humanas. Não roubar é um princípio ético inquestionável, que visa proteger a própria integridade social. Mas, em certos casos, a situação pode exigir que o indivíduo tome uma atitude contrária a seus princípios, e ser, mesmo assim, uma ação moralmente justificável. Roubar os cofres públicos através de corrupção para se tornar milionário não é a mesma coisa que roubar um pão para matar a fome de uma criança. No primeiro caso, trata-se de um crime; o segundo, da defesa da sobrevivência. Portanto, não é apenas o ato de roubar ou de mentir, por exemplo, que determina se uma ação é eticamente correta ou não. Os efeitos, assim como a situação em que a ação se desenvolve, também devem servir de critério para avaliá-la. Há um ditado que diz que “de boas intenções o inferno está cheio”; isto quer dizer que não basta termos uma série de normas e regras e a boa intenção de segui-las, mas que estas devem sempre se adaptar a cada situação específica. Isto não significa que devemos ignorá-las sempre que elas não nos favoreçam, como no individualismo, pois este é irresponsável ao não levar em conta os outros e por descuidar dos efeitos não-intencionais de sua ação. As normas morais, assim como a sociedade, não são fruto de uma ordem transcendente, mas sim uma criação dos próprios seres humanos. O objetivo dessas normas é assegurar a sobrevivência do grupo social e de cada indivíduo, e só de acordo com esse objetivo se justifica o seu cumprimento. QUADRO RESUMO – Ética da responsabilidade Características Autonomia / Relatividade Contextualização do problema Critérios Análise dos possíveis efeitos das decisões Resultados negativos Interferência da subjetividade EXERCÍCIO Nº 4: Loja de Ferragens Holland e Supermercado Wichita2 Matt Holland sentou-se em sua poltrona estofada, de olho fixo no telefone e no número de Bill Harrington, o executivo do Wal-Mart que o havia contatado dois dias antes. O Wal-Mart estava vindo para a cidade e queria que Matt tomasse parte na abertura e na gerência da nova loja local. Por vinte e dois anos, Matt fora proprietário e gerente da Holland Hardware e do Supermercado Wichita, negócios da família iniciados cem anos antes. Ele sabia que se aceitasse a oferta do Wal-Mart, isto seria não apenas o fim de seu negócio familiar, mas também da maioria de outros negócios da cidade. As conseqüências econômicas far-se-iam sentir severamente na comunidade há tanto tempo habituada ao comércio local. No entanto, se a vinda do Wal-Mart fosse adiada, sabia que ele nunca poderia realizar outra tradição familiar dos Holland, mantida também há cem anos: pagar a universidade de seus filhos. Enquanto fitava o telefone, pensava: lutaria para continuar o legado de negócios que seus bisavós tinham iniciado há cem anos, ou chamaria Mr. Harrington para aceitar a oferta? Matt sabia que cada escolha teria sérias conseqüências, tanto para sua família quanto para sua comunidade. 2 Disponível em: http://roger.babson.edu/ethics/_vti_bin/shtml.exe/business.htm/map. Acesso em: 25 abr. 2003. UNIESP ÉTICA E LEGISLAÇÃO PROFISSIONAL 2011/2 Antecedentes Matt Holland, de 48 anos, nasceu e cresceu em Wichita, no Kansas. Como quatro gerações anteriores à dele, levou uma vida simples, tendo morado sempre em Wichita, exceto nos quatro anos de faculdade na Universidade Estadual de Ohio. Ele e sua esposa, Sarah, tinham quatro filhos, com idades entre 14 e 20 anos. Os bisavós de Matt tinham fundado a Wichita General Store em 1896, no cruzamento da rua Maine com a Avenida Kansas, no centro da cidade. A loja foi passando de geração a geração, e Matt a herdara há vinte e dois anos. Embora a loja sempre tivesse sido uma boa fonte de receita para a família Holland, na última década os lucros começaram lentamente a cair, como resultado da economia fraca do meio-oeste. Os Hollands tiveram que trabalhar muito apenas para viver com dificuldades financeiras. No decorrer destes cem anos, o negócio da família foi aumentado para incluir uma loja de ferragens. Mesmo vendo sua equipe cair de 75 funcionários, em 1987, para os atuais 49, ele acreditava fortemente em pequenos negócios e queria continuar a tradição familiar. Com exceção de seu particular interesse em seus empreendimentos, era muito importante para Matt assegurar a educação universitária de seus filhos; todavia, ultimamente a incerteza do negócio fazia com que sua meta parecesse menos atingível. Como todos os pais, os Holland queriam prover um futuro brilhante para seus filhos, e eles haviam prometido educação universitária para cada um deles. O mais velho, James, tinha ingressado em seu segundo ano da Universidade de Boston. Os outros filhos tinham também demonstrado interesse em deixar Wichita para estudar, e tinham conversado sobre mudar-se para outro lugar. O chamado da Wal-Mart Dois dias antes, Matt recebera um chamado da Wal-Mart. A comunidade não costumava receber atenção por parte de companhias nacionais. Era muito mais uma comunidade onde cada um conhecia a todos e gostavam de fazer compras em lojas locais. Bill Harrington, o executivo responsável pelo desenvolvimento da Wal-Mart na região do meio-oeste, tinha telefonado. Ele explicara a Matt que a Wal-Mart ainda estava em fase de planejamento para instalar-se na área de Wichita. Harrington declarara que sua companhia estava familiarizada com Wichita e com a região para determinar qual seria a melhor maneira da Wal-Mart “penetrar” na área. “Nós queremos estimular o futuro de Wichita,” dissera Bill. Então, ele tinha ido direto à questão: queria recrutar Matt para ajudálo nos planos da loja quando ela fosse aberta. A Wal-Mart percebia que a utilização de um empresário local em sua estrutura poderia ajudar a estabelecer a nova loja sem grandes problemas. O salário oferecido pela Wal-Mart para gerenciar a nova loja poderia ser duas vezes o que Matt estava obtendo com seus negócios. Estes pensamentos passavam pela cabeça de Matt enquanto o executivo da Wal-Mart falava. Uma grande corporação americana esta vindo para Wichita, ele pensava, e isto mudaria radicalmente tanto o ambiente de negócios quanto a identidade da cidade. Por duas vezes presidente da Associação Comercial local, Matt sabia como os negócios locais eram importantes para Wichita e como eles haviam criado uma comunidade forte. Ao invés dos lucros serem reinvestidos na comunidade, eles terminariam agora em algum estado a duas mil milhas de distância. Matt também pensou sobre as conseqüências do desemprego se o Wal-Mart fosse para lá. Ele, juntamente com numerosos outros negociantes, seria inevitavelmente posto fora do mundo dos negócios. Ainda que Matt soubesse que muitos podiam esperar encontrar emprego na nova loja, também conhecia a norma aritmética: nem todos os demitidos poderiam ser absorvidos pela Wal-Mart; muitos seriam deixados sem trabalho. Matt também pensou sobre como sua decisão afetaria sua atual posição na cidade. Muitos o responsabilizariam pela falência de vários negócios antigos e por ter ajudado a criar tanta insegurança na comunidade. Todos esses pensamentos passaram pela cabeça de Matt enquanto Harrington falava sobre os grandes planos da Wal-Mart. “Você deve saber que eu tenho um negócio de família que tem cerca de 100 anos”, Matt disse a Harrington; “eu não estou realmente em posição de simplesmente abandonálo.” Matt rapidamente vislumbrou a possibilidade de organizar uma frente unida para impedir a vinda da Wal-Mart. Ele conhecia vários membros do conselho de cidadãos e era amigo íntimo do prefeito. Como líder da comunidade comercial, talvez ele pudesse reunir a UNIESP ÉTICA E LEGISLAÇÃO PROFISSIONAL 2011/2 cidade e o conselho de cidadãos para promulgar uma lei que impedisse a vinda da WalMart. Mas neste ponto, Matt percebeu a urgência da situação. Ele sabia que se não aceitasse a gerência geral, alguém o faria. Ou a Wal-Mart mandaria alguém do seu próprio staff para abrir e gerenciar a nova loja. De qualquer forma, a interdição da vinda da WalMart certamente criaria mais questionamentos que soluções. Matt desligou o telefone e dirigiu-se ao bar local. Ele precisava de uma bebida qualquer para digerir o que havia sido dito e resolver o que deveria fazer. O encontro Bill havia perguntado a Matt se eles poderiam se encontrar. Queria uma reunião próxima a Wichita, mas não na cidade, assim evitaria qualquer revelação dos planos da Wal-Mart para a comunidade local. Matt ficou de ligar, de forma que pudessem marcar uma reunião para discutir sua decisão. Enquanto ele pensava em telefonar, seu futuro, o de sua família e o da comunidade pesavam em sua consciência.