Súplica aos professores
Resolvi fazer este manifesto em favor da vida, das pessoas, da educação e do
ensino depois de ir acumulando exemplos que têm me angustiado demais.
Ao visitar uma escola estadual, em BH, percebi o quanto temos que fazer pelo
ensino, que é tarefa da escola, mas o buraco que existe na educação, que
deveria vir de casa. Exemplos de jovens que sofrem de tudo: desde abusos
sexuais, a discriminação e fome. Pessoas que se sentem, que são colocadas e
que se colocam à margem da sociedade. Vidas que estão sendo impactadas
por muita coisa ruim. Situações que têm que ser repensadas.
Não adianta abrir escola. É preciso acreditar na escola. Viver a escola, para
que ela, ao menos, realize seu importante papel de ser a referência positiva
que falta a muitos jovens. Muitos meninos e meninas que nos enfrentam
verbalmente (e com o corpo) para assegurarem a sua própria segurança, para
se defenderem de tudo. Muitos que por imaturidade falam demais. Outros
tantos que por falta de limites e exemplos, não têm respeito, não têm amor,
pois parece que isso é algo desconhecido para eles.
Fico olhando os professores, aqueles que acreditam na educação, que se
esforçam todos os dias, que enfrentam alunos que os ameaçam, que são
desacreditados pelos pais, pelos estudantes, pelos colegas, pela sociedade,
mas persistem. Conheço todos os dias educadores que estão cansados, que
se sentem só, que parece que o seu esforço não tem sido validado e
acreditado e o que mais aprece pela frente são pedras, encontradas no
caminho ou atiradas por quem está de fora.
Esse país tem que mudar o sistema de governança para que o impacto em
áreas primordiais, como saúde e educação, se faça sentir. Mas enquanto essas
mudanças não vêm, a prática não pode ser desistir, fazer por fazer, pegar o
dinheiro no fim do mês, torcer para a aposentadoria chegar. Será que o
negócio é desistir dessas pessoas, que nos ameaçam, mas que não têm brilho
nos olhos para vislumbrar dias melhores, que acreditam que a pobreza vem no
DNA e que nada pode ser feito para mudar?
Professores, por favor, não desistam. Não se deixem abater. A cada pedra
atirada, adquiram forças para crescer, para edificar. A solução desse problema
não está próxima, mas se a gente desistir, não veremos um país pela frente. E
isso é sério. Lembro-me da dona Noemi, professora, criadora do Salão do
Encontro em Betim (MG) que fala que temos que tirar afeto do barro. E quanto
barro temos em nossas mãos…
O Brasil já é o terceiro maior país em população carcerária, antecedido pelos
EUA e China. Quanto menos educação e oportunidades, mais instável fica a
sociedade e eu tenho medo do que li e assisti em “Ensaio Sobre a Cegueira”,
do Saramago, se torne realidade: uma sociedade edificada em casquinhas
frágeis, sem valores, pode ruir muito rápido. Não vai adiante.
O meu grande respeito a esses ANJOS da educação, que vão além, que fazem
o seu trabalho árduo suando, chorando, refletindo e acreditando que nada
disso será em vão. Se o sonho for destruído, aí sim não veremos país algum.
Foto: mensagem que me chamou a atenção em um painel de uma escola que
visitei no ano passado.
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