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GESTÃO DE FRAUDE
CRÓNICA VISÃO ELECTRÓNICA
Nº 274 / 2014-04-17
http://www.gestaodefraude.eu
Óscar Afonso
> > Política Paralela
A realidade dos números mostra-nos que de 1970 para 2013 o peso da Economia
Paralela no Produto Interno Bruto aumentou cerca de 190%. Não há conceito
nem medida para “Política Paralela”, mas a série de exemplos de falta de palavra, mentiras descaradas, ilegalidades, ocultações e informalidades políticas
sugere que aqui o aumento foi ainda mais significativo. Em particular, o pós
2005 foi verdadeiramente destruidor; destruiu as contas públicas e, pior do
que isso, a dignidade da política, de modo que os “nossos queridos” políticos
insistem em tratar-nos como atrasados mentais. Comecemos pelo início e, por
falta de espaço, vejamos apenas alguns exemplos.
Sócrates insiste em insinuar que Portugal podia ter evitado a
troika. Poder podia, como sabemos, mas não no momento do
abismo. Nessa altura, como também sabemos, o seu ministro
das finanças, ter-lhe-á dito que já só havia dinheiro para um mês
de salários. Refere que a dívida pública subiu 30% de 2010 para
2012, insinuando que nada teve a ver com isso. Mas esse aumento não resultou antes do registo do que estava escondido? E os
encargos com as PPPs que nos deixou para pagar, não são bem
superiores ao que sugere? Não foi quem congelou por dois anos
os salários dos funcionários públicos para os poder aumentar
em ano de eleições? Não foi quem nacionalizou o BPN? Não foi
quem iniciou a política de austeridade com os PEC, política que
depois passou a considerar errada? Não assinou o memorando de
entendimento com a troika, condicionou o futuro e humilhou o
orgulho nacional? Não foi criativo na cronologia da crise, fingindo por vezes que nada sabia em 2009 e outras que tudo começou
no início de 2008? E em 2009, não dizia que a dívida não era um
problema e que Ferreira Leite era “bota-abaixista”?
Sócrates enganou efectivamente e continua demagogicamente
a enganar, com toda a naturalidade e, o que me entristece, num
palco (RTP) que nos pertence. Não é que seja relevante, mas é revelador o seu comentário sobre o relato do jogo de futebol Coreia
do Norte-Portugal do Mundial de 1966, em que ficou fã de Eusébio. Não é que ia para a escola na Covilhã, nesse dia 23 de julho,
sábado e em época de férias escolares?
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GESTÃO DE FRAUDE
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Nº 274 / 2014-04-17
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Óscar Afonso
Com Passos Coelho vieram novas promessas. Era um disparate
acabar com o 13º mês, atacar ainda mais a classe média, acabar
com a taxa intermédia de IVA para a restauração, aumentar os
impostos, cortar salários, ... Mas rapidamente passou ao “que se
lixem as eleições”. O argumento foi o usual. Não sabia e não esperava a gravidade observada das contas públicas, mas não era
sua obrigação conhecer o estado das coisas? E as promessas de
Seguro? E o estado das contas do partido que dirige? Acho que
nem merece a pena falar, não venha a incompetência parecer
competente.
Política Paralela
E o episódio recente Barroso versus Constâncio sobre o BPN? Simplesmente admirável! Diz o primeiro que, quando era primeiroministro, disse três vezes ao segundo, quando era governador do
Banco de Portugal, para saber se o que se dizia era verdade. Constâncio afirma que não recorda qualquer convocatória exclusiva
sobre o BPN feita por Barroso, ficando a sensação de que nada de
substantivo se terá falado e que as conversas terão sido casuais.
Não havendo registos e não tendo sido lavradas actas, não haverá ninguém que se lembre de ter vendido cervejas e tremoços
para essas conversas casuais?
Enfim, apetece dizer que, em Portugal, a “Política Paralela” é a
regra, vigorando a ilegalidade, a ocultação, a informalidade, a
ausência de agendas, as reuniões sem actas, as declarações sem
testemunhas, a ausência de sentimentos genuínos, a frieza, a insensibilidade aos sentimentos alheios, as manipulações, o egocentrismo, a falta de remorso e culpa, e o que se lixe. E assim não
me espanta nunca ter ouvido um político no activo falar em corrupção e, no entanto, todos sentimos que está em todo o lado,
que cresce há décadas e que alimenta a elite minoritária, cada
vez mais rica e poderosa, a quem interessa o poder e o dinheiro público. Elite que teve “a lata” para “na nossa cara” montar um
esquema que, com os nossos impostos, suportamos e que lhe
permite contratar especialistas em comunicação e imagem que
a ajuda a enganar-nos.
Chegados a este estado de sociedade doente, divertimo-nos com
a novela mexicana que a elite nos oferece e a escolher clubisticamente entre o meu partido e o dos outros. Como já alguém disse,
não basta mudar de “moscas”, é preciso remover toda a porcaria!
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