PROBLEMAS DE FRONTEIRA
NA DEFINIÇÃO DA SUBSTÂNCIA EM ARISTÓTELES
ANTÓNIO PEDRO MESQUITA
1.
PARTES DA SUBSTÂNCIA EM ARISTÓTELES
Texto 1
Cael. III 1, 298a27-32:
“Entre as coisas chamadas ‘naturais’, umas são substâncias, outras operações e afecções destas.
Chamo ‘substâncias’ aos corpos simples, como o fogo, a terra e os elementos semelhantes; às coisas
constituídas a partir destes, como o composto celeste e as suas partes; e ainda aos animais, às
plantas e às respectivas partes.”
Texto 2
Metaph. D 8, 1017b10-22:
“‘Substância’ diz-se:
[1] Dos corpos simples, como a terra, o fogo, a água e semelhantes, bem como dos corpos em geral
e dos compostos a partir destes, animais e divinos [zw'/av te kai; daimovnia], e das suas partes [kai; ta;
movria touvtwn]. Todos estes dizem-se ‘substâncias’ porque não se dizem de um sujeito, enquanto
que os outros se dizem deles.
[2] Num outro sentido, daquilo que, estando presente nas coisas que não se dizem de um sujeito, é
a causa do seu ser, como, por exemplo, a alma para o animal.
[3] Ainda noutro sentido, das partes que estão presentes nos entes semelhantes a estes, que os
definem e significam um este algo [tovde ti] e cuja destruição destrói o todo, como alguns dizem
que é o caso da superfície em relação ao corpo e da linha em relação à superfície, bem como, em
geral, do número em relação a todas as coisas.
[4] Finalmente, a essência, cujo enunciado é a definição, também é dita ser a substância de cada
coisa.”
2
Texto 3
Metaph. Z 2, 1028b8-15: 1
“Reputa-se [dokei§] que ‘substância’ [oujsiva] atribui-se de maneira mais evidente aos corpos. Por
isso, afirmamos serem substâncias os animais, as plantas e suas partes, assim como os corpos
naturais, isto é, fogo, água, terra e cada um deste tipo e todo item que é parte destes ou é constituído
deles (ou de partes, ou de todos), por exemplo, o céu e suas partes (estrelas, lua e sol). Devemos
examinar se apenas estas coisas são substâncias, ou também outras, ou se apenas algumas delas, ou
também outras, ou se nenhuma delas, mas, antes, certas outras.”
Texto 4
Metaph. H 1, 1042a6-13: 2
“Algumas substâncias são admitidas por todos [oujsivai de; aiJ me;n oJmologouvmenaiv eijsin uJpo;
pavntwn], mas, a respeito de outras, alguns pronunciaram-se de maneira peculiar [peri; de; ejnivwn ijdiva/
tine;" ajpefhvnanto]. São consensualmente admitidas [oJmologouvmenai me;n] as naturais, como fogo,
terra, água, ar e os demais corpos simples e, em seguida, as plantas e suas partes, bem como os
animais e as partes dos animais, e, enfim, o céu e as partes do céu; por outro lado, alguns, de
maneira peculiar [ijdiva/ de; tine"], afirmam ser substâncias as ideias e os entes matemáticos.”
2.
SUBSTÂNCIAS E HOMEOMERIAS EM ARISTÓTELES
Texto 5
GA I 1, 715a9-11:
“As partes são a matéria dos animais: do próprio animal como um todo, as anomeómeras; das
anomeómeras as homeómeras; e destas os chamados elementos dos corpos.”
1
2
Tradução de Lucas Angioni, adaptada.
Tradução de Lucas Angioni, adaptada.
3
Texto 6
Ph. III 6, 206b33-207a15:
“Sucede que o contrário do que dizem é que é ilimitado. Pois não é aquilo fora do qual não há nada
[ouj ga;r ou| mhde;n e[xw], mas aquilo fora do qual está sempre algo [ajll’ ou| ajeiv ti e[xw ejstiv], que é
ilimitado. (…) O ilimitado é assim aquilo que, por mais que tenhamos já tirado sob o ponto de vista
da quantidade, deixa sempre de fora alguma coisa por tirar [a[peiron me;n ou\n ejstin ou| kata; to;
poso;n lambavnousin aijeiv ti lambavnein e[stin e[xw]. O que não deixa nada de fora é, pelo contrário,
completo, quer dizer, é um todo [ou| de; mhde;n e[xw, tou't’ e[sti tevleion kai; o{lon]. Pois é justamente
deste modo que definimos o todo: aquilo de que nada está ausente [ou| mhde;n a[pestin], a saber,
como um homem ou um cofre são um todo. O mesmo se passa com os casos particulares e bem
assim com o sentido mais preciso: o todo é aquilo de que nada está fora [to; o{lon ou| mhdevn ejstin
e[xw]. Aquilo de que algo está ausente e deixado de fora não é tudo, mas sim algo não-total [ouj pa'n,
o{ ti a]n ajph']/ . Ora todo e completo ou são exactamente o mesmo ou têm uma natureza similar [o{lon
de; kai; tevleion h] to; aujto; pavmpan h] suvneggu" th;n fuvsin]. Mas nada que não tenha um fim é
completo [tevleion d’ oujde;n mh; e[con tevlo"]; e o fim é um limite [to; de; tevlo" pevra"].”
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