UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES
DEPARTAMENTO DE LETRAS E ARTES
CURSO DE SECRETARIADO EXECUTIVO TRILÍNGUE
OS CAMINHOS DA INSTITUCIONALIZAÇÃO DOS ESTUDOS
FEMINISTAS NO BRASIL: OS PRINCIPAIS NÚCLEOS BRASILEIROS DE
ESTUDOS DE GÊNERO
GLÁUCIA COSTA DE MORAES
Viçosa – MG
Novembro – 2010
UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES
DEPARTAMENTO DE LETRAS E ARTES
CURSO DE SECRETARIADO EXECUTIVO TRILÍNGUE
OS CAMINHOS DA INSTITUCIONALIZAÇÃO DOS ESTUDOS
FEMINISTAS NO BRASIL: OS PRINCIPAIS NÚCLEOS BRASILEIROS DE
ESTUDOS DE GÊNERO
Monografia apresentada ao Departamento de Letras da
Universidade Federal de Viçosa, como exigência da
disciplina SEC 499 – Monografia – e como um dos
requisitos para conclusão do curso de Secretariado
Executivo Trilíngue, tendo como orientadora a
Professora Daniela Leandro Rezende.
Gláucia Costa de Moraes
Viçosa – MG
2010
ii
A monografia intitulada
OS CAMINHOS DA INSTITUCIONALIZAÇÃO DOS ESTUDOS
FEMINISTAS NO BRASIL: OS PRINCIPAIS NÚCLEOS BRASILEIROS DE
ESTUDOS DE GÊNERO
Elaborada por
Gláucia Costa de Moraes
Como exigência da disciplina SEC 499 – MONOGRAFIA e requisito para conclusão do curso
de Secretariado Executivo Trilíngue foi aprovada por todos os membros da banca
examinadora.
Viçosa, 1º de dezembro de 2010.
Professora Daniela Leandro Rezende (DCS/ UFV)
Orientadora
Professor Marcelo José Oliveira (DCS/ UFV)
Examinador
Professora Nathalia Carvalho Moreira (DLA/ UFV)
Examinadora
Conceito ___
iii
AGRADECIMENTOS
Agradeço a todas as pessoas que foram essenciais para a elaboração dessa
pesquisa, tendo colaborado direta ou indiretamente.
Agradeço à professora, Ms. Daniela Rezende, por aceitar o desafio da
orientação sem me conhecer e contando com um curto prazo para o desenvolvimento
da pesquisa.
À Dr. Katherine Romack que, mesmo à distância, foi solícita e enviou
prontamente as informações de que eu precisava.
Aos meus amigos e familiares pela paciência e apoio durante os meses de
elaboração desse trabalho.
iv
"Que nada nos limite...
Que nada nos defina...
Que nada nos sujeite...
Que a liberdade seja a nossa própria substância."
Simone de Beauvoir
v
RESUMO
MORAES, Gláucia Costa; REZENDE, Daniela Leandro. Os caminhos da
institucionalização dos estudos feministas no Brasil: os principais núcleos brasileiros
de estudos de gênero. 52 páginas. Monografia. (Bacharelado em Secretariado
Executivo Trilíngue). Viçosa: UFV/DLA, 2010.
A pesquisa busca compreender os caminhos da institucionalização dos estudos
feministas no Brasil. Para tanto, foram identificados os principais núcleos de estudos
de gênero brasileiros, bem como suas características quanto às linhas de pesquisa, às
suas pesquisadoras integrantes, à incorporação dos estudos de gênero no meio
acadêmico onde estão inseridos, e ao possível diálogo com movimentos sociais. A
análise dos dados coletados sobre cada núcleo demonstra a quantidade de pesquisas
que têm sido realizadas neste campo, bem como permite verificar que as relações
hierárquicas de gênero não são homogêneas, mesmo dentro de nosso país, o que fica
claro através dos propósitos de cada um dos núcleos.
Palavras-chave: estudos de gênero, núcleos de estudos de gênero, feminismo
acadêmico
vi
ABSTRACT
This research aims to understand the development of the institutionalization of feminist
studies in Brazil. For doing so, the main Brazilian center for gender studies were identified
as well as their characteristics in relation to their research lines, researchers, the
incorporation of gender studies in the academic environment where these center for gender
studies are inserted, and a supposed dialog of these center to social movements. The data
analysis show the amount of researches in gender studies field and it allows verifying that
gender hierarchical relations are not homogeneous, even inside our country, which becomes
clear through the purposes of each center for gender studies.
Key words: gender studies, center for gender studies, academic feminism
vii
SUMÁRIO
1.
INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 9
2.
JUSTIFICATIVA ..................................................................................................... 13
3.
OBJETIVOS ............................................................................................................ 15
3.1. OBJETIVO GERAL…………………………………………………………………..15
3.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS………………………………………………………….15
4.
METODOLOGIA .................................................................................................... 16
4.1.
AMOSTRA .......................................................................................................... 16
4.2.
MÉTODOS E TÉCNICAS DE COLETA DE DADOS ......................................... 17
4.3.
MÉTODO DE ANÁLISE DE DADOS ................................................................. 17
4.4.
LIMITAÇÃO DOS MÉTODOS DE COLETA E ANÁLISE DE DADOS ............ 18
5.
REFERENCIAL TEÓRICO ..................................................................................... 19
5.1.
O CONCEITO DE GÊNERO ............................................................................... 19
5.2. WOMEN'S STUDIES E ESTUDOS DE GÊNERO NO BRASIL................................21
5.3. NÚCLEOS DE ESTUDOS DE GÊNERO....................................................................25
6. DISCUSSÃO.........................................................................................................................28
6.1. DA FUNDAÇÃO, DAS COORDENADORAS E DAS PRINCIPAIS
PESQUISADORAS INTEGRANTES.................................................................................30
6.2. LINHAS DE PESQUISA...............................................................................................33
6.2.1. PESQUISAS REALIZADAS.............................................................................36
6.3. ENSINO.........................................................................................................................39
6.4. DIÁLOGO COM MOVIMENTO FEMINISTA, MOVIMENTO DE MULHERES OU
OUTROS MOVIMENTOS SOCIAIS..................................................................................39
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................... 41
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................. 43
9. APÊNDICE...........................................................................................................................48
viii
1. INTRODUÇÃO
A motivação da monografia parte do questionamento da pesquisadora às estruturas
“falocêntricas” 1 das diferentes instituições sociais – família, escola, igreja, Estado.
Posteriormente, a participação no movimento estudantil e no núcleo de estudos de gênero da
Universidade Federal de Viçosa, bem como a oportunidade de cursar disciplinas de women’s
studies na University of West Florida e desenvolver pesquisa na área nessa universidade,
determinaram o interesse crescente pelo tema, agora tomado por um viés científico.
Há uma equivocada tendência em acreditar que, na contemporaneidade, já existe
paridade entre os homens e mulheres em todas as esferas, uma vez que mulheres de todas as
partes do mundo continuam sofrendo diferentes opressões 2. As relações patriarcais, cujas
origens são incertas, subjugaram a condição feminina por muito tempo. Hartmann (1976, p.
138, tradução nossa), em sua análise histórica do capitalismo, do patriarcalismo e da
segregação do trabalho, define que “patriarcalismo é um conjunto de relações sociais que tem
base material e no qual há relações hierárquicas entre homens e solidariedade entre eles, que
lhes permite controlar as mulheres”. Dessa forma, o patriarcalismo seria um sistema
1
Falocentrismo vem de “falo” e remete à teoria psicanalítica de Freud, a qual tem sido criticada por feministas
que acreditam que tal teoria é organizada em torno do símbolo do pênis (HOLMES, 2007). O termo também é
utilizado largamente por outros autores como Derrida (2005). O falocentrismo implica na hierarquização de
homens e mulheres, tendo como referência a (in)existência do pênis.
2
Segundo Young (2000), opressão refere-se às injustiças que alguns grupos sofrem em vista de pressupostos e
reações das pessoas nas interações quotidianas, através da mídia e estereótipos culturais, das estruturas
hierárquicas burocráticas e dos mecanismos do mercado.
9
masculino de opressão sobre a mulher. Porém, considerando as diferentes identidades
existentes nos variados contextos culturais, o questionamento do patriarcalismo e a luta por
direitos não se constitui como algo uniforme em todas as sociedades.
A distinção biológica motivou a desigualdade entre os sexos durante longo período,
uma vez que a mulher era considera como um homem incompleto (LAQUEUR, 2001). O
conceito de gênero veio ressignificar a desigualdade entre homens e mulheres ressaltando o
caráter social dessas interações. Com o desenvolvimento do conceito de gênero, enfatizou-se
o caráter social das relações entre feminino e masculino. Mais adiante, nessa pesquisa, tratarse-á do conceito de gênero mais amplamente, a fim de se compreender sua relação com o
movimento feminista.
No Brasil, os estudos sobre as mulheres, geralmente denominados estudos de gênero,
tiveram seu início na década de 1970, influenciados por intelectuais brasileiras que tiveram
contatos com ideais feministas nos países capitalistas avançados (HEILBORN; SORJ, 1999),
alinhando-se essencialmente ao feminismo da França e Inglaterra, originado entre feministas
de esquerda – comunistas e socialistas (MORAES, 1996). A incorporação dos estudos de
gênero na universidade brasileira deu-se em áreas já consolidadas academicamente,
concentrando-se nas ciências sociais e educação. Segundo argumentam Heilborn e Sorj
(1999), bem como Céli Pinto (2003), essa incorporação se deu sem embate radical, o que, de
certa forma, restringiu os estudos sobre a mulher à pesquisa social, contrastando com os
moldes dos estudos sobre mulheres dos Estados Unidos, por exemplo. Desse modo, como
Heilborn e Sorj (1999) salientam, teorias “que postulam uma epistemologia feminista e
desqualificam a teoria sociológica como androcêntrica” – posturas que são, segundo as
autoras, radicais – não tiveram êxito na academia brasileira. Algumas autoras defendem que
tal iniciativa foi uma estratégia utilizada pelas feministas brasileiras a fim de se introduzirem
os estudos de gênero nas universidades, sem enfrentamento às organizações científicas então
vigentes (HEILBORN; SORJ, 1999). Por outro lado, à inclusão discreta dos estudos de
mulheres no meio acadêmico, seguiu-se a criação de núcleos de estudos de gênero nas
universidades a fim de se estimular discussões sobre questões relacionadas ao tema e
desenvolver pesquisas nesse campo do conhecimento.
Atualmente, na Universidade Federal da Bahia, há curso de graduação e cursos de
especialização voltados à temática de estudos de gênero, além de existirem, no país,
periódicos consolidados totalmente dedicados a esse campo (Revista de Estudos Feministas e
10
Cadernos Pagu). Porém, a existência de tais cursos é bastante recente e, conforme declara
Adelman (2003, p. 285), as teorias feministas ainda encontram dificuldades no pleno ingresso
nas ciências sociais, além de haver, nas palavras da autora, “um desconhecimento geral do
trabalho da teoria feminista”. Disseminar os estudos de gênero ainda se constitui como um
desafio para as ciências sociais. Porém, para Costa e Sardenberg (1994), os estudos de gênero
“têm retratado, não raro de forma contundente, as diferentes formas, facetas e níveis em que a
opressão e exploração da mulher se processam e se manifestam em nossa sociedade”. Então,
apesar de os estudos de gênero encontrarem alguns desafios nas organizações científicas e em
seu reconhecimento, esses estudos têm sido fundamentais para denunciar as relações de
opressão ainda existentes.
A institucionalização de que fala esta pesquisa refere-se à consolidação dos estudos de
gênero no meio acadêmico, considerando-se as atividades de ensino e extensão e à sua
autonomia em relação a outros centros de ensino ou faculdades. Nota-se que os núcleos de
estudos de gênero já estão estabelecidos no meio acadêmico, porém o ensino ainda não se
encontra concretizado.
Embora os estudos de gênero ainda encontrem obstáculos na academia, o
financiamento de recursos para pesquisas na área, oferecidos pela Secretaria de Políticas para
Mulheres, indica a projeção que esse tema tem alcançado. Houve editais dedicados a
pesquisas de gênero e, em 2010, um do CNPq, também financiado pela Secretaria de Políticas
para Mulheres, previa um significativo montante (sete milhões de reais) de recursos para
pesquisas sobre gênero, mulheres e feminismos. Tal fato indicaria a projeção que os estudos
feministas vêm ganhando na academia.
Apesar de o enfoque deste estudo ser a institucionalização dos estudos de gênero no
Brasil, através de uma análise de alguns núcleos de estudos de gênero que se destacam no
cenário acadêmico nacional, a pesquisa não faz uma valorização do movimento acadêmico em
detrimento da militância feminista. Evans (1997) expõe que muitas feministas contrapõem-se
à idéia do movimento acadêmico, taxando-o de elitista, parte do sistema "masculino" de
educação superior, o qual perpetuaria estruturas hierárquicas. Porém, a autora argumenta que
os estudos feministas desafiam a hegemonia intelectual masculina, além de enfatizar seu
posicionamento de que não é a teoria em si que causa o elitismo, mas outras razões, como o
acesso restrito de parte da sociedade ao ensino superior. Além disso, muitas vezes a academia
11
incorpora a agenda do movimento feminista, discutindo temas como direitos sexuais e
reprodutivos e violência contra a mulher.
Partindo do que foi discutido, a pesquisa enseja compreender, de forma exploratória,
qual foi a opção encontrada pelas acadêmicas feministas no processo de institucionalização
dos estudos de gênero, já que algumas autoras – tais como Heilborn e Sorj (1999), Céli Pinto
(2003) e Gregori (1999) – dizem que o estabelecimento dos estudos sobre a mulher tiveram
uma entrada sutil, evitando-se um enfrentamento radical na universidade, sem se cogitar a
criação de uma unidade própria de ensino ou de questionar as concepções vigentes de
educação e ensino. Para tanto, um dos objetivos é identificar os principais núcleos de estudos
sobre mulher/ gênero que têm projeção nacional, bem como verificar quais são as principais
linhas de pesquisa de tais núcleos, o que pode indicar os temas mais relevantes nos estudos de
gênero no país.
Ainda, a pesquisa busca averiguar se a agenda de pesquisa dos núcleos projeta-se no
currículo acadêmico das universidades nas quais estão inseridos, seja por programas de
graduação ou pós-graduação a fim de contribuir para a disseminação dos estudos sobre
mulheres 3.
Ademais, considerando a necessidade da inter-relação entre teoria e prática, a pesquisa
procura descobrir, também, se existe um diálogo entre movimento e teoria feministas dentro
das universidades nas quais os núcleos específicos estão inseridos.
3
Neste trabalho foram utilizados “estudos de gênero” e “estudos de mulheres” como termos similares.
12
1. JUSTIFICATIVA
Nota-se que no meio acadêmico, em geral, há um desconhecimento quanto aos estudos
de gênero, bem como se trivializa esse campo de investigação (ADELMAN, 2003;
DERRIDA, 2005), apesar de haver um crescimento na disponibilização de recursos para
pesquisas na área. Assim, fazer um levantamento dos principais núcleos de estudo, das suas
áreas de pesquisa e das contribuições trazidas ao cenário acadêmico brasileiro, fortalece essa
área e dá visibilidade ao tema.
As mulheres ainda têm muito a conquistar. As desigualdades entre homens e mulheres
persistem, e os estudos de gênero têm o papel de denunciar e entender tais disparidades na
busca de soluções – principalmente quando se dialoga com o movimento feminista.
A intenção da presente pesquisa não é fazer um comparativo sugerindo uma
superioridade dos estudos feministas em outros países em relação aos estudos de gênero no
Brasil, ainda que, para melhor contextualização do tema, foi necessário incluir sucinto
histórico sobre os women’s studies nos Estados Unidos e breve referência aos women’s
studies de outros países capitalistas desenvolvidos. Como Derrida (2005) sugere, não existe
uma verdade nos estudos sobre mulheres, portanto não convém exaltar os estudos dos países
desenvolvidos em detrimento dos estudos que se realizam nacionalmente. Se, por um lado, o
pioneirismo dos estudos feministas do "norte" inspirou – e ainda inspira – o movimento
intelectual nos países do "sul", as feministas desses últimos países focalizam-se nas
13
particularidades às quais se inserem para motivar suas próprias pesquisas acadêmicas. Desse
modo, como Mohanty (1988) anuncia, a opressão sofrida pelas mulheres nos países em
desenvolvimento, diferentemente do que acreditam as feministas das nações ocidentais
desenvolvidas, não é homogênea. Consequentemente, o movimento, seja ele político ou
intelectual, observa as peculiaridades de cada contexto ao qual se insere. Desse modo, tornase necessário discutir brevemente, no desenvolvimento do trabalho, a questão do feminismo
pós-colonial que está em voga, uma vez que os estudos de gênero estão intrinsecamente
associados às particularidades de cada região e tempo histórico, trazendo à tona a recuperação
de um movimento acadêmico subversivo e de contestação à situação da mulher.
Em suma, essa pesquisa poderá contribuir para o entendimento da institucionalização
dos estudos de gênero no Brasil – sem questionar se de fato houve opção por uma agenda
menos radical e que evitou o enfrentamento direto de aspectos da sociedade patriarcal. Tal
pesquisa poderá estimular reflexões em núcleos de estudos de gênero e em acadêmicos
interessados na temática, permitindo, ainda, mapear as pesquisadoras envolvidas com o tema,
bem como as questões mais recorrentemente estudadas.
14
2. OBJETIVOS
3.1 OBJETIVO GERAL
A pesquisa tem por objetivo geral descrever os principais núcleos de estudo de gênero
existentes nas universidades brasileiras numa tentativa de explorar como se deu a
institucionalização acadêmica do feminismo no país.
3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
A pesquisa terá como objetivos, ainda:
Identificar as principais pesquisadoras integrantes dos núcleos;
Verificar as linhas de pesquisa às quais se dedicam os núcleos identificados;
Averiguar se a agenda de pesquisa dos núcleos projeta-se no currículo acadêmico das
universidades às quais estão inseridos, seja por programas de graduação ou pós-graduação a
fim de contribuir para a disseminação dos estudos sobre mulheres;
Verificar se existe um diálogo entre o movimento e teoria feministas dentro das
universidades.
15
3. METODOLOGIA
4.1 AMOSTRA
A população pesquisada foi composta por alguns dos principais núcleos de estudos
sobre a mulher e estudos de gênero presentes nas universidades brasileiras. Os núcleos foram
determinados segundo amostragem típica. Segundo Laville e Dione (1999, p. 170) a
amostragem típica é definida a partir das necessidades de estudo do pesquisador, o qual
“seleciona casos julgados exemplares ou típicos da população-alvo ou de uma parte desta”.
Dessa maneira, os núcleos selecionados para essa pesquisa foram escolhidos de acordo com
suas particularidades, interessantes aos propósitos dessa pesquisa, o que será discutido logo
adiante.
Segundo Costa e Sardenberg (1994), em 1994 havia mais de 40 núcleos de estudos de
gênero espalhados pelo país. Porém, dentre esses núcleos, há os que se destacaram pela
dimensão que tomaram no cenário nacional: Núcleo de Estudos de Gênero Pagu, Núcleo de
Estudos e Pesquisas sobre a Mulher (NEPeM), Núcleo de Estudos Interdisciplinares Sobre a
Mulher (NEIM), Núcleo de Identidades de Gênero e Subjetividades (NIGS).
16
4.2 MÉTODOS E TÉCNICAS DE COLETA DE DADOS
Os dados foram coletados por meio de pesquisa bibliográfica, de forma a serem
levantadas informações sobre os estudos feministas no Brasil e no mundo, focalizando o
feminismo acadêmico nacional. A pesquisa bibliográfica, segundo Marconi e Lakatos (2007,
p. 57), “trata-se de levantamento de toda a bibliografia já publicada, em forma de livros,
revistas, publicações avulsas e imprensa escrita” Dessa forma, busou-se informações quanto
ao histórico do feminismo acadêmico no Brasil, conceito de gênero e registro sobre os
principais núcleos de estudos de gênero.
A pesquisa apóia-se em fontes documentais, que, em consonância com Laville e Dione
(1999, p. 166) é:
A coleta da informação resume-se em reunir os documentos, em
descrever ou transcrever eventualmente seu conteúdo e talvez em
efetuar uma primeira ordenação das informações para selecionar
aquelas que parecem pertinentes.
Assim sendo, feito o levantamento bibliográfico, partiu-se para a coleta de
informações e, desse modo, foram consultados os endereços eletrônicos de cada um dos
núcleos de estudo de gênero a fim de se obterem dados que fossem pertinentes para responder
aos objetivos propostos por este trabalho.
4.3 MÉTODO DE ANÁLISE DE DADOS
Os dados obtidos a partir da pesquisa bibliográfica foram tratados de maneira
qualitativa. A coleta das informações foi realizada através dos endereços eletrônicas dos
núcleos de estudo de gênero e, para tanto, elaborou-se um formulário de coleta dos dados
(vide Apêndice). No formulário, propôs-se identificar os seguintes aspectos sobre os núcleos:
nome, instituição, vinculação à alguma faculdade ou centro de ciências, data de criação, linhas
de pesquisa, endereço eletrônico, publicações, programas curriculares, pesquisadoras
associadas, coordenadora, agências financiadoras, últimas pesquisas realizadas, vinculação à
programa de pós-graduação e interlocução com movimento feminista.
17
4.4 LIMITAÇÕES DOS MÉTODOS DE COLETA E ANÁLISE DOS DADOS
A desatualização dos sites dificultou obter certos dados. Além disso, a falta de
padronização das informações disponibilizadas por cada núcleo impediu uma análise dos
dados devidamente adequada. Enquanto alguns dos núcleos dispõem de uma vasta quantidade
de informação em suas páginas eletrônicas, outros possuem dados limitados. Neste último
caso, houve dificuldades na obtenção apurada de informações por parte da pesquisadora.
Entretanto, essa pesquisa possui caráter exploratório, abrindo possibilidades para
futuras pesquisas que possam aprofundar no tema, inclusive com investigações de campo nos
núcleos.
18
5 REFERENCIAL TEÓRICO
5.1 O CONCEITO DE GÊNERO
A diferença biológica foi argumento para legitimar a desigualdade entre homens e
mulheres nas esferas política e social (SCOTT, 2005). O movimento feminista constituiu-se
como sendo um movimento de protesto contra a desigualdade de direito entre os sexos.
A terminologia “gênero” surgiu a partir dos anos 1970 dentro do debate feminista
(SCOTT, 2005). Gênero difere de sexo na medida em que o gênero (masculino/ feminino) é
uma construção social. A título de explicação, vale citar a notória frase da feminista francesa,
Simone de Beauvoir, em seu livro O Segundo Sexo: “Ninguém nasce mulher, torna-se
mulher”. Desse modo, gênero é uma construção que se reforça por meio de símbolos, leis,
normas, valores etc. Ainda, segundo Scott (1986, p. 86), gênero pode ser conceituado em duas
partes (que, segundo a autora, partes que ainda se dividem em subconjuntos):
O gênero é um elemento constitutivo de relações sociais baseadas nas
diferenças percebidas entre os sexos e (2) o gênero é uma forma
primária de dar significado às relações de poder.
Na conceituação de gênero, ressaltam-se os argumentos de Goffman (apud HOLMES,
2007, p. 52), o qual discursa sobre as desigualdades nas relações entre homens e mulheres.
19
Para ele, gênero seria uma ilusão criada na interação com o outro, pois nos comportamos de
acordo com a percepção que o outro tem de nós mesmos (apud HOLMES, 2007, p. 52). O
artigo de West e Zimmerman (2008) também é útil para o entendimento do conceito de
gênero. Os autores descrevem o termo como sendo algo no qual trabalhamos rotineiramente,
através da repetição de atos cotidianos que são encorajados pelas idéias sociais, as quais
determinam que homens e mulheres devam agir de determinadas formas. Para os autores:
“Fazer gênero significa criar diferenças entre garotas e garotos, mulheres e homens,
diferenças que não são naturais, essenciais ou biológicas. Uma vez que as diferenças são
construídas, elas reforçam a ‘essencialidade’ do gênero.” (WEST; ZIMMERMAN, 2008, p.
150, tradução nossa).
Em consonância com esse pensamento de West e Zimmerman (2008), pode-se dizer
que as próprias relações de gênero são construções sociais, porém elas se dão distintamente,
de acordo com tempo e lugar, já que há muitas divergências entre culturas, além de
particularidades em cada momento histórico. Sendo assim, a opressão feminina não é marcada
por uma homogeneidade. Como sinaliza Sônia Alvarez (2009), “devemos estar atentas às
relações sociais e de poder” que marcam cada localidade e cada período histórico.
O construto gênero trouxe para o debate feminista discussões sobre a subordinação
feminina e, como descreve Matos (2008, p. 337), através desse conceito, foi possível avaliar
as relações de dominação e opressão construídas socialmente, além de permitir o
questionamento das “próprias categorias de homem e de masculino, bem como de mulher e de
feminino, que passaram a ser fruto de intenso processo de desconstrução”. O conceito de
gênero amplia o debate acerca das desigualdades de gênero ao questionar outras variáveis
(econômica, política, social, histórica, cultural, sexual). As relações hierárquicas de gênero
estão conectadas à classe, raça 4 e sexualidade.
O movimento feminista inicialmente entendeu que a opressão vivida pelas mulheres
seria universal, imaginando-se, assim, uma irmandade que falasse pelo interesse de todas as
mulheres. No entanto, sabendo-se das diferentes identidades culturais e da diversidade em que
opera o patriarcalismo, atualmente celebra-se o desenvolvimento de um feminismo latinoamericano, feminismo do sul, feminismo dos países de terceiro mundo. Naturalmente, o
desenvolvimento desse feminismo com suas próprias práxis históricas e direcionado às
singularidades regionais ocorre quando se entendem as relações de gênero em cada contexto
4
Entretanto, no Brasil, existe uma carência, ou melhor, uma lacuna, em bibliografia que verse sobre gênero e
raça (CORRÊA, 2001).
20
específico. Mohanty (1991) levanta a questão da construção equivocada feita pelas feministas
ocidentais sobre o fato de mulheres de países subdesenvolvidos constituírem um grupo
oprimido homogêneo. Mohanty analisa algumas idéias de tais feministas a fim de discutir a
importância de se considerar contextos específicos ao invés de generalizar a opressão
feminina. A autora sugere que tal distorção feita pelas feministas ocidentais transforma as
mulheres do terceiro mundo em um culturalmente Outro, reproduzindo uma já existente
dominação do Ocidente sobre o Oriente.
Mohanty (1991 p. 53, tradução nossa) diz que “feministas ocidentais constroem elas
mesmas como sendo o referente normativo em tal binário analítico”. O “self” ideal feminino
criado pelas feministas ocidentais seria “educada, moderna, tendo controle sobre seus corpos
e sexualidade”, o qual se opõe ao que tais acadêmicas entendem por mulheres de terceiro
mundo – “ignorantes, pobres, não educadas tradicionalmente, religiosas, caseiras, familiares,
vitimadas” (MOHANTY, 1991, p. 53, tradução nossa). Entretanto, sendo que cada nação tem
suas próprias singularidades, a subordinação feminina no terceiro mundo não pode ser
simplesmente reduzida a uma opressão homogênea a qual deve buscar soluções no modelo
ocidental. Como Mohanty (1991, p. 67, tradução nossa) afirma:
O discurso feminista ocidental, considerando mulher como um grupo
constituído e coerente [...] define a mulher do terceiro mundo como sujeito
fora das relações sociais, ao invés de considerar que uma mulher é
constituída enquanto tal em decorrência das várias estruturas. Direito,
economia, religião e estruturas familiares são tratados como fenômenos a
serem julgados por padrões ocidentais. É aqui que universalidade
etnocêntrica entra em jogo.
Em acordo com o que Mohanty (1991) discute, pode-se dizer que a universalidade da
opressão feminina é inválida mesmo quando se avalia diferentes pontos geográficos de um
mesmo país, considerando-se as diferenças entre as regiões. No Brasil, observam-se
disparidades nos interesses de acadêmicas e militantes, dadas as condições às quais estão
submetidos esses grupos, o que será mais bem debatido posteriormente na discussão dos
dados coletados.
5.2 WOMEN’S STUDIES E ESTUDOS DE GÊNERO NO BRASIL
Nos Estados Unidos os women’s studies, female studies ou feminist studies tiveram
início a partir do final da década de 1960 e início da década de 1970, quando no país ocorria a
21
chamada segunda onda feminista. Na primeira onda, as norte-americanas lutaram pela
inclusão feminina na vida pública, requerendo o direito ao voto, à entrada nas universidades e
a igualdade nas profissões. Os movimentos sociais e o ativismo dentro das universidades
influenciaram no currículo universitário, sendo imprescindível a institucionalização dos
estudos sobre a mulher na segunda onda feminista. Women’s studies é um campo acadêmico
interdisciplinar que engloba política, história, literatura, filosofia, psicanálise, dentre outras
disciplinas (YEATMAN, 1997). A autora ressalta que a proposta do women’s studies fez parte
do projeto de democratização da universidade norte-americana, permitindo o acesso a grupos
sub-representados academicamente. O primeiro programa na área foi estabelecido em San
Diego, Califórnia, na atual San Diego State University (SDSU), em 1970, sendo este o
departamento mais antigo nos Estados Unidos. Ainda, nessa época, começam a surgir
periódicos que publicam pesquisas nessa área. Segundo consta na discrição programática do
curso, os women’s studies da SDSU alinham-se com o ativismo e a internacionalização dos
estudos feministas do mundo e o foco do curso é a vida das mulheres estudadas através das
“lentes” do gênero, interligando as questões de gênero à raça, classe, nacionalidade/etnia e
sexualidade (San Diego State University 5).
Os Estados Unidos são o país que oferecem o maior número de programas de
graduação e especialização em women’s studies, ainda que, segundo a doutora June Watkins
(2009), diretora do departamento de women’s studies da University of West Florida, este
número tenha diminuído em decorrência da redução dos gastos em algumas áreas acadêmicas.
Segundo ela, existem dois grupos que discutem a situação desse campo de estudo nos Estados
Unidos. Um deles acredita que as mulheres já alcançaram igualdade com os homens, não
sendo mais relevantes pesquisas nessa área; já um segundo grupo argumenta que há
prioridades em áreas científicas e, como a situação econômica passa por um momento crítico,
women’s studies não seria um campo de investigação que contemple essas prioridades.
Independente da suposta crise contemporânea dos estudos feministas nas
universidades norte-americanas, é importante salientar que a teoria feminista estrangeira, seja
dos Estados Unidos, seja de países europeus, teve impacto em áreas científicas ao desafiar,
por exemplo, as teorias psicanalíticas. No caso das teorias psicanalíticas, podem-se citar as
autoras do feminismo europeu que inspiraram o feminismo de outros países, tais como Hélène
Cixous, Luce Irigaray, Julia Kristeva (GALSTER, 2003). Além disso, filósofas feministas
5
Disponível em www-rohan.sdsu.edu/dept/wsweb
22
como Sylviane Agacinski e Françoise Collin trouxeram novas discussões às teorias filosóficas
clássicas. Ainda, há que se considerar o trabalho da norte-americana Betty Friedan, A Mística
Feminina, que disseminou o pensamento feminista entre as mulheres na década 1960 ao
denunciar as condições limitadas nas quais se encontravam as mulheres na sociedade norteamericana (DUARTE, 2006).
Simone de Beauvoir também teve grande influência no
pensamento feminista com sua mais manifesta obra, O segundo sexo. Essas autoras trouxeram
novos pontos de vista, desafiando o conhecimento vigente.
No cenário nacional, segundo Moraes (1996), as feministas tinham como leitura
obrigatória as obras de Karl Marx, Friedrich Engels, Alexandra Kollontai, Simone de
Beauvoir e Juliet Mitchell, pelo caráter socialista que o feminismo brasileiro assumiu.
Os estudos de gênero no Brasil tiveram seu início na década de 1970, influenciados
por intelectuais brasileiras que tiveram contatos com ideais feministas nos países capitalistas
avançados (HEILBORN; SORJ, 1999). Tal contato se deu, em grande parte, devido ao regime
ditatorial no país, que tinha como conseqüência o exílio de grupos de intelectuais. Ao voltar
ao Brasil, essa elite intelectual começou a propor espaços públicos para a reflexão sobre as
questões sobre a mulher, o que veio a influenciar o surgimento de um número significativo de
produções temáticas (CÉLI PINTO, 2003). Céli Pinto (2003) acrescenta que o feminismo no
Brasil não se tratou de um movimento inicialmente popular, tendo atingido o âmbito público
no transcorrer da história em decorrência de uma opção estratégica.
No entanto, segundo Moraes (1996), as intelectuais feministas brasileiras, estiveram
mais alinhadas com o feminismo socialista, aproximando-se de ideais da França e outros
países europeus. Desse modo, a libertação da mulher estaria ligada à emancipação dos
trabalhadores e à luta socialista, diferentemente dos Estados Unidos, onde o movimento tinha
caráter sexista, centrando-se exclusivamente na mulher 6. Aliás, como consta na descrição
programática do curso da San Diego State University, citado anteriormente, e analisando
outros programas oferecidos nas universidades norte-americanas na área de women’s studies
(Syracuse University, University of Massachusetts Boston, Columbia University etc), o foco
nos Estados Unidos continua sendo a questão da mulher. O enfoque do feminismo brasileiro,
6
Para o feminismo radical predominante nos Estados Unidos, o controle masculino sobre a sexualidade feminina
representa a chave para a opressão da mulher. Todas as mulheres seriam oprimidas pelo sistema patriarcal e isso
vai além de uma explicação meramente econômica. As feministas radicais propõem uma revolução no
pensamento e na organização do mundo (HOLMES, 2007).
23
no entanto, foi diferente. No país, as feministas faziam parte de um grupo de esquerda e,
segundo Moraes (1996, p. 8):
No Brasil, o feminismo marxista dos anos setenta nasceu no seio da
esquerda armada (ou da “nova esquerda”), a partir de uma dupla
contingência. Primeiramente, as militantes políticas brasileiras, através do
exílio, puderam travar conhecimento não somente com as lutas feministas
européias, como também com valores e estilos de vida bem mais igualitários
e civilizados do que os valores e costumes pátrios.
Conforme explica Holmes (2007), as feministas marxistas acusam o capitalismo pelas
desigualdades de gênero e, dessa forma, classe e gênero conectam-se. A relação entre marido
e esposa resultou no trabalho não-remunerado da mulher no lar, enquanto o homem é quem
sai para o trabalho. A mulher passa, então, a ser uma mão-de-obra barata e reserva para o
mercado. Assim, existe uma conexão entre capitalismo e patriarcado através do mercado de
trabalho, segundo o feminismo marxista (HOLMES, 2007).
Moraes (1996, p. 9) conta que as feministas marxistas começaram a se organizar na
época em que os brasileiros foram exilados do Chile para a Europa. As exiladas estabeleceram
um fórum para discutir “teoricamente a questão da mulher e estudar a realidade da mulher
brasileira”. E então as feministas começam a elaborar um grupo para tratar da situação
feminina a partir de debates teóricos, utilizando-se dos autores já citados.
Em consonância com o feminismo socialista que inspirou as acadêmicas brasileiras, é
imprescindível citar a produção acadêmica inaugural dos estudos feministas no país: a tese,
defendida em 1967, pela socióloga Heleieth Saffioti, intitulada “A mulher na sociedade de
classes: mito e realidade”. Saffioti foi diferencial por ter inserido a opressão feminista dentro
do debate marxista, conforme descreve Céli Pinto (2003).
Além da socióloga Heleieth Saffioti, o Brasil contou/ conta com outras intelectuais
feministas que marcaram o cenário acadêmico, quais sejam: Neuma Aguiar, Constância Lima
Duarte, Maria Lygia Quartim de Moraes, Eva Blay, Lia Zanotta Machado, Lourdes Bandeira,
Maria Filomena Gregori, Ana Alice Alcântara Costa, Miriam Pillar Grossi, dentre outras.
Diferentemente dos Estados Unidos, França e alguns outros países europeus, no Brasil,
os estudos sobre a mulher, denominados estudos de gênero (e não women’s studies, études des
femmes, estudios de mujeres, como são denominados nos países do “norte”) encontraram
espaço dentro de campos que já estavam consolidados nas universidades, nas áreas de
ciências sociais e de educação (CÉLI PINTO, 2003). Heilborn e Sorj (1999) discutem os
24
caminhos da institucionalização dessa área de pesquisa no país, bem como fazem um
levantamento dos principais campos de investigação em estudos de gênero no Brasil. As
autoras destacam estudos sobre família, educação, violência, trabalho e sexualidade como
sendo os principais tópicos de pesquisa no campo. Do mesmo modo que Céli Pinto (2003)
argumenta, as autoras sugerem que as feministas brasileiras evitaram um confronto radical na
universidade brasileira, optando por estabelecer os estudos de gênero em áreas já constituídas.
Dessa forma, no Brasil buscou-se inserção em vez de autonomia em relação aos estudos
feministas. Segundo as autoras, esse não-enfrentamento impediu que teorias feministas
radicais tivessem êxito na academia brasileira.
Ao mesmo tempo em que os estudos de gênero têm um caráter mais amplo, algumas
feministas brasileiras acreditam que, optando por se estabelecer uma área que é mais
abrangente, pode haver um “desempoderamento” feminino, ainda que os estudos de gênero, a
priori, não tenham um caráter necessariamente feminista (MATOS, 2008, p. 337). Conforme
a autora adverte:
O risco antevisto seria o de se perder de vista a situação política de
opressão vivida pelas mulheres, em prol de uma multiplicação das
diferenças de gênero, o que poderia comprometer uma agenda tida
como propriamente feminista.
Ainda que os estudos de gênero sejam “amplos”, eles desafiaram – e continuam
desafiando – as estruturas vigentes no meio acadêmico, considerando que “a epistemologia
feminista parece ter sido uma das primeiras formas de produção de conhecimento científico
que colocaram em xeque a posição hegemônica do conhecimento produzido na chave
burguesa ocidental” (MATOS, 2008, p. 346). Como citado anteriormente, teóricas feministas
têm desafiado as teorias clássicas e as estruturas acadêmicas.
Ademais, os estudos de gênero têm caráter interdisciplinar. Ainda que haja maior
concentração das pesquisas nas ciências sociais, é inegável a contribuição que as análises de
gênero trazem a outros campos do saber – como o Direito, a Literatura, as ciências exatas,
ciências biológicas – seguindo numa direção multicultural (MATOS, 2008). No entanto,
apesar desse trânsito do gênero em diferentes áreas do conhecimento, conforme enfatiza
Jacques Derrida (2005, p. 142), a universidade ainda preserva um “modelo antigo, o qual é
fundamentalmente falocêntrico”, e então os estudos de mulheres lidam com desafios de
pressupostos já existentes nas diferentes áreas.
25
5.3 NÚCLEOS DE ESTUDO DE GÊNERO
Posteriormente à entrada dos estudos sobre a mulher dentro das universidades
brasileiras, criaram-se núcleos de estudos que permitiram uma concentração de acadêmicos
interessados nesse campo de investigação, embora, como descrevem Heilborn e Sorj (1999),
esses núcleos não tenham adquirido uma autonomia própria como unidade de ensino.
Segundo Costa e Sardenberg (1994), em 1994, havia cerca de mais de quarenta
núcleos de estudos de gênero no Brasil – número que, segundo as autoras, já poderia estar
inexato em vista do acelerado surgimento de novos núcleos. Alguns desses núcleos destacamse pela dimensão que tomaram.
O núcleo “Pagu”, da Universidade Estadual de Campinas, é uma referência entre os
núcleos existentes no Brasil, destacando-se pelo alto nível das pesquisas que realiza e por
possuir um periódico nacionalmente reconhecido, os “Cadernos Pagu” (CÉLI PINTO, 2003).
Na Universidade de Brasília está o Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre a Mulher
(NEPeM), também de importância nacional e com grande produção acadêmica.
A Universidade Federal da Bahia abriga o Núcleo de Estudos Interdisciplinares Sobre
a Mulher (NEIM), o qual chegou a tal nível de institucionalização que resultou na sua
condição de órgão suplementar na Universidade Federal da Bahia. Além disso, o NEIM
oferece curso de graduação e cursos de pós-graduação, bem como oferece especializações
relacionadas à temática.
Finalmente, tem-se o Núcleo de Identidades de Gênero e Subjetividades (NIGS), da
Universidade Federal de Santa Catarina. Esta universidade é singular por conter um Instituto
de Estudos de Gênero que congrega diferentes núcleos e laboratórios interdisciplinares ao
tema gênero. Além disso, a Universidade Federal de Santa Catarina é a organizadora do
seminário internacional “Fazendo Gênero”, que está em sua nona edição e tem grande
repercussão, além de reunir estudiosos de todo o país. Ainda, essa universidade publica o
periódico “Revista de Estudos Feministas – REF”, que dá visibilidade ao que é produzido no
campo de estudos sobre mulheres e estudos de gênero.
26
Detendo-se um pouco à questão da produção acadêmica nacional, o “Cadernos Pagu”,
e o “Revista de Estudos Feministas”, que existe desde 1992, são periódicos que reúnem um
rico conteúdo de pesquisa na área de estudos sobre a mulher. 7
7
Mirian Adelman (2003) conta que, quando ministrou o curso de Teoria Feminista pela primeira vez, ela apoiouse nos artigos da Revista de Estudos Feministas e dos Cadernos Pagu, para constituir bibliografia básica para a
disciplina.
27
6. DISCUSSÃO DOS DADOS
Maria Filomena Gregori (1999, p. 227), ao fazer uma análise crítica do texto de
Heilborn e Sorj (1999) retoma o ponto da institucionalização dos estudos de gênero no Brasil,
ressaltando que:
Da mesma forma que o feminismo aqui [no Brasil] entrou no cenário
político sem enfrentar radicalmente as esquerdas, os estudos de gênero
foram incorporados pelo âmbito acadêmico em meio a um exercício menos
tumultuado e, de certa forma, despolitizado.
No entanto, Gregori (1999) contesta as afirmações quanto à não-entrada radical dos
estudos de gênero no Brasil descrevendo sua própria experiência, nos anos oitenta, dentro de
grupos feministas – os quais concebiam a idéia de conhecimento atrelado à prática do
movimento feminista. Assim, a autora aponta que tal concepção do grupo, em relação a ela e
outras intelectuais foi, nas palavras da autora, um “reconhecimento pela metade”: “lá éramos
tomadas e tratadas como as ‘acadêmicas’, com toda a distância e comedimento que esse rótulo
implica” (GREGORI, 1999, p. 228).
Além dessa resistência oferecida pelos grupos feministas em relação às teorias,
Gregori (1999) também ressalta as críticas que a própria academia oferecia sobre o
conhecimento estar associado a ideologias, o que supostamente tornariam os estudos sobre a
mulher menos científicos. Em vista dos “obstáculos” encontrados, os estudos de gênero,
28
segundo Gregori (1999), não encontraram outra escolha senão a incorporação sutil nas
ciências sociais. Costa e Sardenberg (1994) também apontam a resistência da academia
quanto aos estudos de mulheres explicando que foi mais fácil para a universidade brasileira
aceitar os estudos de gênero em vez do termo feminismo, sendo este último normalmente
atrelado à militância e não à ciência.
Céli Pinto (2003), Costa e Sardenberg (1994) e Gregori (1999) têm discursos
semelhantes sobre a presença dos estudos sobre as mulheres na academia e a resistência
oferecida pela comunidade científica em relação a esse campo. Céli Pinto (2003, p. 88) afirma
que havia um “temor de que o grupo fosse uma militância disfarçada” dentro das
universidades. Segundo a autora, essa dificuldade de entrar na “estrutura mais pesada” (88) da
universidade brasileira resultou no aparecimento dos núcleos de estudo sobre a mulher (CÉLI
PINTO, 2003, p. 88).
Em alguns casos, os núcleos afastaram-se da militância. Conforme Costa e Sardenberg
(1994, p. 396):
A consequencia imediata foi o distanciamento entre os núcleos que se
tornaram essencialmente acadêmicos 8 e a militância, criando assim
barreiras no processo de retro-alimentação dessas duas instâncias.
Houve, inclusive, determinados momentos em que a vinculação com
a militância feminista e até mesmo a manutenção das chamadas
atividades de extensão, isto é, de assessoria, capacitação e articulação
com mulheres de setores populares por parte de alguns núcleos,
passaram a ser motivos de críticas e acusações de pouca seriedade
acadêmica.
A fim de se avaliar os caminhos que levaram à institucionalização dos estudos
feministas no Brasil, buscou-se verificar alguns aspectos dos principais núcleos brasileiros de
estudos de gênero. Para tanto, foram selecionados quatro núcleos de estudos de gênero que
têm destacada projeção no cenário acadêmico brasileiro, pela dimensão que alcançam em
termos de pesquisa, ensino e assessoria, quais sejam: Pagu, da Universidade Federal de
Campinas; Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre a Mulher (NEPeM), da Universidade de
Brasília; Núcleo de Estudos Interdisciplinares Sobre a Mulher (NEIM), da Universidade
8
Grifo das autoras.
29
Federal da Bahia; Núcleo de Identidades de Gênero e Subjetividades (NIGS) 9, da
Universidade Federal de Santa Catarina.
Cada um dos núcleos foi selecionado – conforme mencionado anteriormente – devido
ao grau de institucionalização e outras peculiaridades que possuem (referência na literatura
relacionada a gênero, programas de graduação, pós-graduação e especialização, periódicos
científicos, produção de evento internacional etc.).
Cabe ressaltar que o núcleo da Universidade Federal de Santa Catarina (NIGS)
pertence ao Instituto de Estudos de Gênero, que engloba outros laboratórios e núcleos de
estudos. Ocorre que, nessa universidade, há mais de uma unidade que envolva a temática de
gênero. O Instituto de Estudos de Gênero da referida universidade também agrega núcleos de
outras universidades, como da Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR) e da
Universidade Estadual Paulista (UNESP).
Como discutido anteriormente, a opressão feminina não é homogênea, uma vez que é
atravessada por outras variáveis. Assim, notam-se disparidades nos núcleos de estudos de
gênero de cada universidade. Três deles estão no eixo centro-sul e somente um está no norte.
As peculiaridades de cada região podem indicar as linhas de pesquisa que seguem os núcleos
e os propósitos a que se prestam.
6.1.
DA
FUNDAÇÃO,
DAS
COORDENADORAS
E
DAS
PRINCIPAIS
PESQUISADORAS INTEGRANTES
O Núcleo de Estudos de Gênero Pagu foi criado em 1993 e é coordenado atualmente
por Leila Mezan Algranti, que possui bacharelado e licenciatura em História pela
Universidade de São Paulo (1975), além de mestrado (1983) e doutorado (1992) em História
Social também pela Universidade de São Paulo. Suas áreas de especialização são em
“História Cultural, com ênfase em História do Brasil Colônia, atuando principalmente em
História da Alimentação, Gênero, vida religiosa no Brasil Colônia, História da Cultura.”
O núcleo Pagu foi inicialmente vinculado ao Instituto de Filosofia e Ciências
Humanas. Este núcleo, apesar de não conter a designação “mulher” em sua nomenclatura,
9
Após finalização da pesquisa, conclui-se que seria mais apropriado discutir o IEG (Instituto de Estudos de
Gênero), da Universidade Federal de Santa Catarina, dadas suas características e às atividades realizadas por tal
núcleo. Apesar de o núcleo ser mais jovem que o NIGS, possui significativa projeção nos estudos brasileiros de
gênero.
30
demonstra ter um foco na opressão feminina, apontado por suas linhas de pesquisa e suas
produções científicas, além de também possuir um viés em estudos de diversidade sexual. O
núcleo conta com, dentre outras pesquisadoras, Adriana Piscitelli, Margaret Lopes, Maria
Filomena Gregori, Maria Lygia Quartim de Moraes e Wânia Pasinato.
O NEPeM, Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre a Mulher, é coordenado por Lourdes
Maria Bandeira. A pesquisadora é graduada em Ciências Sociais pela Universidade do Rio
Grande do Sul (1973), mestre em Sociologia pela Universidade de Brasília (1984), doutora
em Antropologia pela Universidade de Paris V René Descartes (1984), pós-doutora em
Sociologia do Conflito na École des Hautes Études en Sciences Sociales-EHESS (2002).
Além de coordenadora do NEPeM, é diretora do Instituto de Ciências Sociais da Universidade
de Brasília e Subsecretária de Planejamento da Secretaria Especial de Políticas para Mulheres.
Suas pesquisas são na área de “violência, conflitualidade e segurança pública.” Ainda, fazem
parte do NEPeM Lia Zanotta, Maria Stela Grossi Porto, Mireya Suarez. O núcleo foi criado
em meados da década de 1980 e não foi possível constatar se esteve (ou está) vinculado a
alguma faculdade ou centro de ciências.
Dos quatro, o núcleo mais antigo é o Núcleo de Estudos Interdisciplinares Sobre a
Mulher (NEIM), da Bahia. Sua institucionalização chegou ao ponto que, tendo sido criado em
1983, tornou-se órgão independente (órgão suplementar) da Universidade Federal da Bahia,
em 1993. Sua fundação se deu, em grande parte, por feministas oriundas do Grupo Feminista
Brasil Mulher 10. Dentre suas fundadoras estão Alda Brito da Motta, socióloga, Ana Alice
Alcântara Costa, socióloga com especialização em estudos sobre a mulher, e Cecília Maria
Bacellar Sardenberg, antropóloga. Todas são professoras da Universidade Federal da Bahia e
integrantes atuais do NEIM.
O NEIM é coordenado por Márcia dos Santos Macedo, doutora em Ciências Sociais
pela Universidade Federal da Bahia (2008), atuando nas áreas de relações de gênero, família,
mulheres chefe de família, teoria feminista, gênero e desenvolvimento. O próprio nome do
núcleo (que prioriza claramente a questão da mulher) aponta o posicionamento feminista
“clássico”, no sentido de estar focado na condição feminina – não ficou claro se há linhas de
pesquisa que contemplem estudos homossexuais, por exemplo. Poder-se-ia inferir que o
próprio momento histórico, o contexto regional e as fundadoras determinaram tal
posicionamento do NEIM em relação aos estudos sobre a mulher a partir de uma perspectiva
10
Grupo de feministas de Salvador, Bahia.
31
propriamente feminista. Ao serem discutidas as linhas de pesquisa, as atividades de ensino e a
interlocução com movimentos sociais, ficarão esclarecidas essas particularidades do NEIM,
bem como dos outros núcleos.
O Núcleo Identidade de Gênero e Subjetividades (NIGS), da Universidade Federal de
Santa Catarina, foi criado em 1991. O núcleo é vinculado à pós-graduação em Antropologia
Social, à linha de gênero do Doutorado Interdisciplinar em Ciências Humanas, e ao Curso de
Graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal de Santa Catarina. Entende-se que
devido à época em que foi criado, este núcleo tem caráter significativamente contemporâneo
no que tange às questões que são tratadas, sobretudo em referência a uma nova organização
social, o que será discutido na análise de suas linhas de pesquisa. A agenda de pesquisa do
NIGS é distinta daquela apresentada pelo NEIM, havendo clara ampliação do debate sobre as
desigualdades de gênero, podendo implicar um “desempoderamento” feminino (MATOS,
2008) neste núcleo.
O núcleo tem um foco em questões referentes às identidades de gênero e
subjetividades. O NIGS é coordenado pela doutora Miriam Pillar Grossi, graduada em
Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1981), com mestrado e
doutorado na França (Antropologie Sociale Et Culturelle – Universite de Paris V, 1981 e 1983
respectivamente) e, ainda, pós-doutorado no Laboratoire d´Anthropologie Sociale do Collège
de France (1996/1998) e na University of California-Berkeley e EHESS (2009/2010). Além
de ser coordenadora do núcleo, é editora da Revista de Estudos Feministas. A antropóloga
atua nas áreas de “gênero, violência contra mulheres, homossexualidades e parentesco, ensino
de antropologia, história da antropologia francesa e da antropologia brasileira.” O NIGS
possui um extenso grupo de pesquisadores. Dentro os que estão atuando no momento podemse citar: Anahi Guedes de Mello, Claudia Regina Nichnig, Fátima Weiss, Paula Pinhal de
Carlos.
Nota-se que as coordenadoras dos quatro núcleos possuem formações acadêmicas
semelhantes, com uma majoritária concentração nas Ciências Sociais. Ambas coordenadoras
do NIGS e do NEPeM, Miriam Pillar Grossi e Lourdes Maria Bandeira, têm especializações
semelhantes, sendo que as duas pesquisadoras freqüentaram a mesma instituição francesa. As
pesquisadoras tiveram contatos com as mesmas escolas teóricas, o que pode influenciar nas
pesquisas realizadas nos núcleos que coordenam.
32
Os núcleos mais jovens, NIGS e Pagu, têm a palavra gênero em sua designação,
enquanto os dois núcleos criados antes da década de 1990, NEIM e NEpEM, não têm tal
termo em sua nomenclatura. O período em que os núcleos foram criados influencia, não só em
seus nomes, mas, também, nas linhas de pesquisa. Essas diferenças remetem ao próprio
feminismo e aos debates feministas de cada época.
6.2. LINHAS DE PESQUISA
Há mais diferenças que semelhanças entre os núcleos, considerando as suas linhas de
pesquisa. Porém, essa diversidade de temas é bastante abrangente, uma vez que as pesquisas
acabam sendo complementares. A tabela a seguir mostra uma breve descrição dessas linhas.
Tabela 1. Relação das linhas de pesquisa de cada núcleo
Instituição
Universidade Estadual de
Campinas (UNICAMP)
Universidade de Brasília (UnB)
Universidade Federal da Bahia
(UFBA)
Universidade Federal de Santa
Catarina (UFSC)
Núcleo
PAGU (Núcleo de Estudos
de Gênero Pagu)
Linhas de pesquisa
• Sexualidade
• História das ciências
• Curso da vida
• Educação
• Distribuição de justiça
• Mídia
• Teorias feministas e
perspectivas
disciplinares
NEPeM (Núcleo de Estudos • Fronteiras: Espaços
e Pesquisas sobre a Mulher)
Imaginados e Lugares
Concretos
• Violência, Cidadania e
Segurança
• Violência, Gênero,
Alteridades e Cidadania
• Política Social, Gênero e
Serviços Sociais
NEIM (Núcleo de Estudos
• Gênero, Identidade e
Interdisciplinares Sobre a
Cultura
Mulher)
• Gênero, Saúde e
Trabalho
• Gênero, Poder e
Políticas Públicas
NIGS (Núcleo de
• Homofobia
Identidades de Gênero e
• Educação e ensino de
Subjetividades)
gênero
33
•
•
•
•
•
•
•
•
•
•
•
Estudos de
Masculinidades
Gênero e Política
História das Ciências
sob a ótica de gênero
Homoparentalidades e
conjugalidades
homossexuais
Movimentos Feministas
e LGBTTT
Novas Tecnologias
Reprodutivas
Conceptivas
Novas organizações
familiares
Parto e Nascimento
Pensamento Social e
Teorias de Gênero
Trabalho de Campo e
Subjetividade
Violências contra
mulheres e
homossexuais
Fonte: Resultados da pesquisa
Como discutido anteriormente, as desigualdades de gênero não podem ser dissociadas
de aspectos tais como raça 11, sexualidade e classe. Curiosamente – dadas as características da
população brasileira e os aspectos históricos do país (como a escravidão e suas conseqüências
sociais) – não foi constatada entre os núcleos estudados, uma linha de pesquisa que contemple
especificamente a temática raça, embora o NEIM tenha publicado pesquisas nessa área,
apoiadas por órgãos governamentais. Nos demais núcleos não se constataram investigações
ligadas à raça.
Somente o NEIM tem uma linha de pesquisa que contempla a temática trabalho.
Quanto à temática de sexualidade, somente o Pagu e o NIGS possuem linhas de pesquisa
nessa área.
A diversidade sexual e os novos arranjos familiares só são claramente expressos pelas
pesquisas do NIGS. No entanto, o núcleo Pagu, apoiado pela coordenação Geral de Promoção
dos Direitos de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais – LGBTT – da Secretaria
de Direitos Humanos da Presidência da República, possui um grupo de discussão
11
Em Antropologia o termo etnia substituiu o termo raça.
34
(Diversidade Sexual, Poder e Diferença) voltado ao tema de sexualidade, relacionados à
violência. Também, o Pagu possui investigações na área da diversidade sexual, como será
visto adiante no tópico sobre pesquisas realizadas.
Apesar de o NEIM não possuir uma clara linha de pesquisa em violência, este núcleo
está envolvido na discussão da Lei Maria da Penha, através do “Observatório Lei Maria da
Penha” – página que traz notícias relacionadas a essa legislação. Os demais núcleos têm
pesquisas dedicadas à violência, sendo que o NIGS e o Pagu (no grupo de diversidade)
incluem violência contra homossexuais em suas investigações. O NEPeM é, entre os quatro
núcleos, o que mais se dedica às pesquisas de violência e segurança pública, possuindo uma
produção de pesquisas quase que exclusivamente nessa área.
Lembrando o que Céli Pinto afirma sobre a semelhança do Pagu com o modelo de
Women’s Studies dos Estados Unidos, Pagu é o único núcleo que tem linha de pesquisa em
teorias feministas, apesar de o NIGS se dedicar a teorias de gênero, o que o aproxima da
mesma linha do Pagu. Além disso, ambos os grupos dedicam-se a pesquisas em educação e
em história das ciências.
Nenhuma das universidades tem uma linha de pesquisa em cultura, exceto o NEIM.
Saúde é um tema recorrente nos núcleos da Bahia e de Santa Catarina, através de pesquisas
que versam sobre reprodução, contracepção e parto. Pesquisas em políticas públicas ou
políticas sociais – que poderiam ser consideradas como áreas afins – são fomentadas pelo
NEIM e pelo NEPeM . Porém, nota-se entre as pesquisas do NIGS, que há desenvolvimento
de investigações nessas mesmas áreas, embora o núcleo não as tenha descrito nas suas linhas
de pesquisa.
Ainda, é interessante notar que, apesar de o NEPeM e o NEIM possuírem em sua
designação a palavra mulher em vez de gênero, este último termo é utilizado na descrição de
suas linhas de pesquisa. Infere-se que os próprios núcleos sofreram uma inflexão teórica que
indica a predominância do conceito gênero sobre o conceito mulher. Por outro lado, a
concentração de pesquisas em gênero desloca o foco da opressão feminina (SAFFIOTTI,
2004).
35
6.2.1. PESQUISAS REALIZADAS
Como há uma diferença no volume de pesquisas disponíveis em cada uma das páginas
dos núcleos, optou-se por citar dois projetos de cada instituição, a fim de se manter uma
padronização na descrição das informações. O critério para a citação dos projetos foi
descrever as pesquisas mais recentes. Faz necessário salientar que tais pesquisas não traduzem
a institucionalização dos estudos de gênero no Brasil, apenas demonstram uma tendência
recente nas investigações de cada um dos núcleos.
Foram identificadas duas pesquisas do Pagu, quatro do NEPeM, quatro do NEIM e
sete do NIGS (vide anexos).
Primeiramente, segue-se quadro com as agências financiadoras de pesquisas dos
núcleos. No caso do NEPeM, não constam todas as agências de fomento porque não foi
possível identificá-las.
Tabela 2. Relação das agências financiadoras dos núcleos
Núcleo
Pagu (Núcleo de Estudos de Gênero Pagu)
Agências Financiadoras
Fapesp, CNPq, Caixa Econômica Federal,
Petrobrás
NEPeM (Núcleo de Estudos e Pesquisas CNPq, SENASP, Ministério da Justiça
sobre a Mulher)
NEIM (Núcleo de Estudos Interdisciplinares CNPq,
Sobre a Mulher)
Capes,
SENESU/MEC,
DFID,
FAPESB, Conselho Britânico, Departamento
de Qualificação do Ministério do Trabalho,
PETROBRÁS,
Secretaria
Nacional
de
Políticas para Mulheres, Ministério de Saúde,
Fundação Ford, Conselho Britânico, Caritas
Suíça, Heks – Suíça, Terre des HommesSuíça, Associação de Mulheres Católicas da
Suíça, Fundação Heinrich Boll – Alemanha
NIGS (Núcleo de Identidades de Gênero e
Subjetividades)
CNPq,
CAPES,
Développement
et
Paix,Concursos
Fundação
Carlos
Chagas/Ford,
Fundação
MacArthur,
Fundação
Ford,
Funextensão/UFSC,
Ministério da Educação, Secretaria Especial
36
de Políticas para as Mulheres e concursos de
Dotações para Pesquisa (Mulher e Gênero da
Fundação Carlos Chagas/ Fundação Ford,
Apoio a Teses Ford/ANPOCS, Metodologia
de
Pesquisa
em
Sexualidade
IMS/UERJ/FORD)
Fonte: Resultados da Pesquisa
As duas pesquisas finalizadas disponíveis na página do Pagu tiveram focos distintos.
A primeira delas, intitulada “Ousadias no grande Ecran”, cujo período de realização não foi
citado, foi financiada pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. O
propósito da pesquisa foi avaliar o Festival LGBT de filmes de Lisboa (Queer Lisboa),
analisando o impacto causado sobre as concepções de família, que são pautadas na
heteronormatividade da sexualidade e da conjugalidade. A pesquisa pautou-se numa
abordagem ampla das mudanças nos padrões tradicionais da sociedade.
A outra pesquisa do Pagu, “Gênero, corporalidades”, também com ano não constatado,
foi um projeto temático fomentado pela Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado
de São Paulo). O projeto visou compreender como práticas sociais e culturais imprimem
convenções aos corpos, a partir de características tidas como femininas e masculinas. Para o
desenvolvimento da pesquisa tomaram-se três eixos: Práticas corporais, sexualidade e
erotismo (relações entre envelhecimento e sexualidade; entre raça, nacionalidade e
sexualidade; entre sexualidade e erotismo); Plasticidade corporal, sexo e gênero (intervenções
médicas em caso de dimorfismo sexual e na construção de um novo corpo); Corpo, nome e
marcas de distinção.
Sobre o Núcleo de Estudos e Pesquisas Sobre a Mulher – NEPeM – não foi possível
localizar pesquisas concluídas. Embora os projetos encontrados tenham um prazo de
realização com data de início e fim, a situação deles encontra-se “em andamento”. O projeto
“Ação do Serviço Social na Área de Saúde e a Promoção da igualdade de Gênero”, cuja
agência de fomento não foi constatada, propõe reduzir a desigualdade de gênero, buscando
identificar, através do trabalho de agentes da Assistência Social, os programas e ações sociais
e de saúde que assistem homens e mulheres em dada região do Distrito Federal.
Quanto à outra pesquisa do NEPeM, “A violência no DF: da realidade e de suas
representações, lugares e ações”, não se pôde coletar muitas informações. Sabe-se apenas que
37
foi financiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Ambas as pesquisas referem-se à agenda proposta por esse núcleo de estudos.
O NEIM realizou duas pesquisas concernentes ao tema de raça, embora não haja
linhas de pesquisas que contemplem especificamente essa área. O primeiro deles, “O
Combate ao Racismo e Sexismo Institucional no Brasil: experiências dos Conselhos na
Bahia”, realizado no período de outubro de 2005 a março de 2006, foi executado em parceria
com a Rede Regional Norte e Nordeste de Estudos e Pesquisas Sobre a Mulher e Relações de
Gênero (REDOR), financiado pelo Programa de Combate ao Racismo Institucional (PCRI),
através do Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (PNUD). A pesquisa objetivou
conhecer o funcionamento dos fóruns de controle social a fim de fortalecer a participação da
sociedade civil nessas instâncias.
Já o “Projeto Gênero, Raça e Cidadania no Combate à Violência”, desenvolvido entre
o segundo semestre de 2004 e o primeiro semestre de 2005, apoiado pela Secretaria Especial
de Políticas para Mulheres, objetivou diminuir o índice de violência em escolas públicas do
ensino fundamental de Salvador, e conscientizar sobre as problemáticas de gênero e raça, bem
como da importância social da mulher. Trabalhou-se com professores e alunos de escolas de
Salvador cujo índice de violência era elevado, e, também, com população majoritariamente
composta por afro-descendentes de baixa renda. As pesquisas do NEIM, muitas vezes, são
realizadas conjuntamente a atividades de extensão.
As duas últimas pesquisas mais recentes do NIGS relacionam-se às linhas de pesquisa
desse núcleo. A primeira delas, “Transmissão, formação e constituição do campo das
Antropologias Contemporâneas em uma perspectiva de gênero”, realizada entre 2007 e 2009,
de órgão financiador não constatado, buscou verificar como se dá o ensino da Antropologia na
contemporaneidade, seja no ensino médio ou superior, tomando como referencial o tema
gênero.
A outra pesquisa do NIGS, “Representações de Iniciação Sexual e Homossexualidade em
Escolas do Ensino Público de Santa Catarina/SC”, entre 2007 e 2009, financiada pelo
Ministério da Saúde, teve o propósito de compreender as representações sociais sobre
iniciação sexual e homossexualidade, a partir da perspectiva de professores e professoras, em
escolas estaduais de ensino básico de Santa Catarina.
38
6.3. ENSINO
Em referência aos programas curriculares, averiguou-se que a Universidade Federal da
Bahia oferece o maior número de programas, sendo um de graduação (Graduação em Gênero
e Diversidade), pós-graduação (mestrado e doutorado em Estudos Interdisciplinares sobre
Mulheres, Gênero e Feminismo), além de cursos especiais, cursos de capacitação e cursos de
especialização. O grande número de programas de ensino oferecidos pelo NEIM é em
decorrência do seu grau de institucionalização. Diferentemente dos outros núcleos, este é o
único que tem uma existência independente, devido à sua condição de órgão suplementar na
Universidade Federal da Bahia.
Os demais três núcleos não possuem programas curriculares tão expressivos, sendo
que as atividades oferecidas se constituem de palestras, seminários, conferências, debates. A
coordenadora do NIGS, Miriam Pillar Grossi, é responsável pelo oferecimento da disciplina
“Seminário Temático sobre Gênero” e a professora Joana Maria Pedro ministra “Laboratório
de Estudos de Gênero e História: Oficina de Ensino”, na Universidade Estadual de Campinas.
Entretanto, apesar de os núcleos não possuírem programas curriculares densos tais
como os oferecidos pela Universidade Federal da Bahia, todos os quatro núcleos analisados
destacam-se pelo material bibliográfico que produzem, sejam vídeos, livros, artigos,
periódicos, dossiês etc.
6.4. DIÁLOGO COM MOVIMENTO FEMINISTA, MOVIMENTO DE MULHERES OU
OUTROS MOVIMENTOS SOCIAIS
De acordo com o que foi obtido sobre o núcleo da Universidade Federal da Bahia,
existe um forte envolvimento das participantes dos núcleos em programas de assessoria e
assistência aos grupos de mulheres da região. As atividades da instituição ultrapassam a
pesquisa e o ensino, sendo também desenvolvidas ações junto a organizações de mulheres de
setores populares, bem como há uma participação junto a sindicatos, associações de
moradores, grupos de mulheres, redes e organizações governamentais e não governamentais.
No caso do núcleo da Universidade de Brasília, constatou-se que há entre os objetivos
do grupo propor soluções às desigualdades de gênero – tais como políticas públicas para os
39
problemas identificados em decorrência de suas pesquisas – porém, não foi possível verificar
se ações têm sido tomadas.
Segundo informações prestadas pelo NIGS, este núcleo mantém parceria com
Organizações Não-Governamentais e movimentos sociais, entretanto, do mesmo modo que o
núcleo de Brasília, não foi possível encontrar material que confirme essas informações.
Sobre o núcleo Pagu, não foi constatada nenhuma informação que verse sobre uma
possível interlocução entre esse núcleo e o movimento feminista ou qualquer outro
movimento social. Dentre os quatro núcleos, o Pagu parece ser o que mais tem a essência
exclusivamente acadêmica de que falam Costa e Sardenberg (1994), como mencionado
anteriormente.
Torna-se importante ressaltar, entretanto, que os estudos de gênero remetem, de certa
forma, à relação com movimentos sociais, uma vez que a teoria não é deslocada da prática.
As atividades que os núcleos promovem são claramente importantes para a
disseminação de discussões e resultados sobre os estudos de gênero. Nota-se que há eventos
dedicados à temática em todas as instituições estudadas, o que contribui para a disseminação
dos estudos sobre a mulher e estudos de gênero no meio cientifico.
40
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A análise dos dados permitiu visualizar que há muitas discrepâncias de ênfases entre
os núcleos, embora haja semelhanças de propósitos em algumas pesquisas, sendo que os
quatro núcleos avaliados contestam as relações hierárquicas de gênero – uns com foco na
opressão feminina, outros com foco em um discurso amplo, que envolve outras subjetividades
de gênero. As pesquisas dos núcleos ainda abordam os temas levantados por Heilborn e Sorj
(1999), quais sejam: família, educação, violência e sexualidade.
Constatou-se que, embora os estudos de gênero no Brasil, em geral, ainda não se
encontrem num ambiente acadêmico consolidado (não há grandes institutos de gênero ou
faculdades de gênero, além de se verificar que as pesquisas concentram-se dentro dos
núcleos) – existem diversas agências de fomento às pesquisas nessa temática, inclusive
financiamentos de órgãos internacionais.
Há que se ter a consciência de que, mesmo dentro do Brasil, a categoria mulher não é
algo homogêneo, não sendo possível criar uma categoria que represente todas as necessidades
das mulheres brasileiras. Mulheres do Norte e Nordeste não experimentam relações
patriarcais como o fazem as mulheres do Sul e Sudeste, tendo em vista que essas regiões são
econômica e culturalmente diferentes, além de terem aspectos de fundo histórico distintos.
Então, mesmo entre os núcleos, as pesquisas sobre as mulheres brasileiras apresentam
divergências em função do contexto onde se inserem.
41
Além disso, entende-se que o desenvolvimento das pesquisas deve estar atrelado aos
movimentos sociais, sejam movimentos de mulheres, movimentos feministas e movimentos
LGBTT a fim de que o conhecimento gerado nos núcleos contribua para a eliminação das
desigualdades de gênero.
Os dados que foram coletados sobre os núcleos, possuem um viés de acordo com o
que foi possível angariar, representando apenas um retrato dos núcleos em dado momento.
Portanto, tais dados apresentados não traduzem fielmente a realidade. Entretanto, apesar dessa
limitação em recolher informações, torna-se necessário questionar se realmente há limitações
nos núcleos ou se há limitações na disponibilização de dados.
A partir do que foi coletado, torna-se interessante realizar futuras investigações que
identifiquem quais aspectos motivam as pesquisas realizadas pelos núcleos. Por exemplo, é
pertinente compreender o porquê da inexistência de linhas de pesquisa que contemplem a
relação específica de gênero e raça. Ou, ainda, a razão de haver tantos projetos sobre a
diversidade sexual e a moderna configuração social no Núcleo de Identidades de Gênero e
Subjetividades (NIGS) e a ausência sobre assuntos que contemplem a diversidade no Núcleo
de Estudos Interdisciplinares Sobre a Mulher (NEIM), ainda que as investigações nessa última
instituição contemplassem a homossexualidade feminina. Ainda, cabe descobrir quais são os
aspectos motivadores para que o Núcleo de Estudos e Pesquisas Sobre a Mulher (NEPeM)
desenvolver tantos projetos sobre violência. Sobre o núcleo Pagu, por outro lado, resta
investigar a falta de indícios de projetos junto a movimentos sociais.
42
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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acadêmica. Revista de Estudos Feministas, Florianópolis, v.11, n. 1, p. 284-288, 2003.
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43
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YOUNG, I. M. Five faces of oppression. In: ADAMS, M. (Ed.), Readings for Diversity and
Social Justice. New York: Routledge, 2000. p. 35-49.
47
9. APÊNDICE
DADOS SOBRE NÚCLEOS
Nome
Instituição
Vinculado a qual
faculdade ou centro de
ciências?
Data de criação
Linhas de Pesquisa
Endereço eletrônico
Publicações
Programas curriculares
Pesquisadoras
associadas
Núcleo de Estudos de Gênero Pagu
Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP
Inicialmente vinculado ao Instituto de Filosofia e Ciências
Humanas
1993
Sexualidade
História das ciências
Curso da vida
Educação
Distribuição de justiça
Mídia
Teorias feministas e perspectivas disciplinares
http://www.pagu.unicamp.br/
Cadernos Pagu, Coleção Encontros, Clássicos do Gênero,
Série Pesquisa
Conferências, Seminários, Debates
Adriana Piscitelli
Angela Araújo
Guita Debert
Heloísa Pontes
Heloísa Buarque de Almeida
Iara Beleli
Júlio Simões
Karla Bessa
Larissa Pelucio
48
Coordenação
Agências Financiadoras
Últimas Pesquisas
realizadas (título da
pesquisa, ano de
realização, agência de
fomento)
Vinculado a programa
de pós-graduação? Sim/
Não. Qual?
Interlocução com
movimento feminista, de
mulheres ou outros
movimentos sociais?
Sim/ Não. Tipo de
Movimento. Tipo de
Interlocução. Ação
Realizada.
Leila Algranti
Margaret Lopes
Maria Conceição da Costa
Maria Elvira Diaz Benitez
Maria Filomena Gregori
Maria Lygia Quartim de Moraes
Mariza Corrêa
Monica Raisa Schpun
Regina Facchini
Richard Miskolci
Wânia Pasinato
Leila Mezan Algranti
Fapesp, CNPq, Caixa Econômica Federal, Petrobrás
• Ousadias no grande Ecran. Ano não constatado.
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior – Bolsa
• Gênero, corporalidades. Ano não constatado. Projeto
Temático - Fapesp
49
Nome
Instituição
Vinculado a qual
faculdade ou centro de
ciências?
Data de criação
Linhas de Pesquisa
Endereço eletrônico
Publicações
Programas curriculares
Pesquisadoras
associadas
Coordenação
Agências Financiadoras
Últimas Pesquisas
realizadas (título da
pesquisa, ano de
realização, agência de
fomento)
Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre a Mulher - NEPeM
Universidade de Brasília
Meados de 1980
Fronteiras: Espaços Imaginados e Lugares Concretos
Violência, Cidadania e Segurança
Violência, Gênero, Alteridades e Cidadania
Política Social, Gênero e Serviços Sociais
http://vsites.unb.br/ceam/nepem/index.php
Artigos, Indicadores, Livros, Teses e Dissertações
Seminários e Palestras
Analia Soria
Arthur Trindade Maranhão Costa
Berlindes Astrid Kuchemann
Lia Zanotta
Lourdes Bandeira
Maria Stela Grossi Porto
Marlene Teixeira
Mireya Suárez
Tânia Montoro
Wivian Weller
Lourdes Bandeira
Não constatado
(Somente encontradas pesquisas em situação de andamento,
apesar de constar um período de realização de tais pesquisas)
• Ação do Serviço Social na Área de Saúde e a Promoção
da igualdade de Gênero. Em andamento. Não constatado.
• A violência no DF: da realidade e de suas representações,
lugares e ações. Em andamento. CNPq.
• Condutas Policiais e Códigos de Deontologia: um estudo
comparativo sobre as relações entre polícia e sociedade.
Em andamento. SENASP/ Ministério da Justiça.
• Perfis Profissionais dos Agentes Penitenciários do
Distrito Federal e Goiás. Em andamento. SENASP/
Ministério da Justiça.
Vinculado a programa
de pós-graduação? Sim/
Não. Qual?
Interlocução com
movimento feminista, de
mulheres ou outros
movimentos sociais?
Sim/ Não. Tipo de
Movimento. Tipo de
50
Interlocução. Ação
Realizada.
51
Nome
Instituição
Vinculado a qual
faculdade ou centro de
ciências?
Data de criação
Linhas de Pesquisa
Endereço eletrônico
Publicações
Programas curriculares
Pesquisadoras
associadas
Coordenação
Núcleo de Estudos Interdisciplinares Sobre a Mulher - NEIM
Universidade Federal da Bahia – UFBA
Órgão independente (órgão suplementar) desde 1993
Maio de 1983
Gênero, Identidade e Cultura
Gênero, Saúde e Trabalho
Gênero, Poder e Políticas Públicas
http://www.neim.ufba.br/
Coleção Bahianas, Material Educativo, Catálogo de
Pesquisas sobre mulheres e relações de gênero, Outros
Graduação em Gênero e Diversidade
Programa de Pós-Graduação em Estudos Interdisciplinares
sobre Mulheres, Gênero e Feminismo (Mestrado e
Doutorado)
Cursos Especiais (Programa de Sensibilização Gênero e Raça
no combate a Violência nas Escolas; Programa de
Capacitação em Gênero e Políticas Públicas para Gestores;
Curso de Capacitação em Gênero e Políticas de Atendimento
as Mulheres Vítimas de Violência para Gestores e Agentes
Sociais; Curso de Multiplicadores na Formação de Gênero e
Desenvolvimento etc.)
Cursos de Especialização (Metodologias e Práticas de Ensino
em Gênero; Gênero e Desenvolvimento Regional, com
concentração em Políticas Públicas)
Alda Britto da Motta
Alexnaldo Teixeira Rodrigues
Alinne Bonetti
Ana Alice Alcântara Costa
Ângela Maria Freire de Lima e Souza
Antonia dos Santos Garcia
Cecília Maria Bacellar Sardenberg
Enilda Rosendo do Nascimento
Eulália Lima Azevedo
Iole Macedo Vanin
Ívia Iracema Alves
Márcia Queiroz de Carvalho Gomes
Maria de Lourdes Novaes Schefler
Márcia dos Santos Macedo
Martha Susana Diaz
Petilda Serva Vazquez
Silvia de Aquino
Sílvia Lucia Ferreira
Sonia Wright
Terezinha Gonçalves
Márcia dos Santos Macedo
52
Agências Financiadoras
Últimas Pesquisas
realizadas (título da
pesquisa, ano de
realização, agência de
fomento)
Vinculado a programa
de pós-graduação? Sim/
Não. Qual?
Interlocução com
movimento feminista, de
mulheres ou outros
movimentos sociais?
Sim/ Não. Tipo de
Movimento. Tipo de
Interlocução. Ação
Realizada.
CNPq, Capes, SENESU/MEC, DFID, FAPESB, Conselho
Britânico, Departamento de Qualificação do Ministério do
Trabalho, PETROBRÁS, Secretaria Nacional de Políticas
para Mulheres, Ministério de Saúde, Fundação Ford
Conselho Britânico, Caritas Suíça, Heks – Suíça, Terre des
Hommes- Suíça, Associação de Mulheres Católicas da Suíça,
Fundação Heinrich Boll – Alemanha
• O Combate ao Racismo e Sexismo Institucional no
Brasil: experiências dos Conselhos na Bahia – PCRI.
(2005/2006). Programa de Combate ao Racismo
Institucional.
• Projeto Gênero, Raça e Cidadania no Combate à
Violência. (2004-2005). Secretaria Especial de Políticas
para Mulheres.
• Strengthening Gender and Development Studies in
Northeastern Brazil. (2002-2005). Conselho Britânico e
FAPESB.
• Programa de Valorização da Mulher do Projeto Ponto
Novo. (2001). Governo do Estado e Banco Mundial.
Programas de pós-graduação autônomos.
Sim. “Além da pesquisa e do ensino, a equipe do NEIM
desenvolve ações de formação, conscientização e organização
de mulheres de setores populares, atua junto a sindicatos,
associações de moradores, grupos de mulheres, redes e
organizações governamentais e não governamentais”
53
Nome
Instituição
Vinculado a qual
faculdade ou centro de
ciências?
Data de criação
Linhas de Pesquisa
Endereço eletrônico
Publicações
Núcleo de Identidades de Gênero e Subjetividades - NIGS
Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFSC
Vinculado à pós-graduação em Antropologia Social, à linha
de gênero do Doutorado Interdisciplinar em Ciências
Humanas e ao Curso de Graduação em Ciências Sociais da
UFSC
1991
Homofobia
Educação e ensino de gênero
Estudos de Masculinidades
Gênero e Política
História das Ciências sob a ótica de gênero
Homoparentalidades e conjugalidades homossexuais
Movimentos Feministas e LGBTTT
Novas Tecnologias Reprodutivas Conceptivas
Novas organizações familiares
Parto e Nascimento
Pensamento Social e Teorias de Gênero
Trabalho de Campo e Subjetividade
Violências contra mulheres e homossexuais
http://www.nigs.ufsc.br/
Livros; vídeos; dossiês Revista de Estudos Feministas;
Cadernos NIGS; Artigos da Equipe; Entrevistas;
Antropologia, política e cotidiano.
Programas curriculares
Pesquisadores associados Ana Paula Boscatti
(inclui estudantes de
Anahi Guedes de Mello
graduação e pósAnelise Fróes da Silva
graduação)
Camila Bianca dos Reis
Claudia Regina Nichnig
Cláudio Leite Leandro
Eduardo Frigério Emília Juliana Ferreira
Fátima Weiss
Felipe Fernandes
Fernanda Moraes Azeredo
Francine Pereira Rebelo
Gabriella Figueiredo dos Santos
Giovanna Lícia Triñanes
Heloisa Regina Souza
Isadora Vier Machado
Kathilça Lopes de Souza
Maria Laura Gómez
Patrícia Rosalba Salvador Moura Costa
Paula Pinhal de Carlos
Raruilquer Santos Oliveira
Rosa Maria Blanca Cedillo
54
Coordenação
Agências Financiadoras
Últimas Pesquisas
realizadas (título da
pesquisa, ano de
realização, agência de
fomento)
Vinculado a programa
de pós-graduação? Sim/
Não. Qual?
Interlocução com
movimento feminista, de
mulheres ou outros
movimentos sociais?
Sim/ Não. Tipo de
Movimento. Tipo de
Interlocução. Ação
Realizada.
Simone Nunes Ávila
Vinicius Kauê Ferreira
Miriam Pillar Grossi
CNPq, CAPES, Développement et Paix,Concursos Fundação
Carlos Chagas/Ford, Fundação MacArthur, Fundação Ford,
Funextensão/UFSC, Ministério da Educação, Secretaria
Especial de Políticas para as Mulheres e concursos de
Dotações para Pesquisa (Mulher e Gênero da Fundação
Carlos Chagas/ Fundação Ford, Apoio a Teses
Ford/ANPOCS, Metodologia de Pesquisa em Sexualidade
IMS/UERJ/FORD)
• Transmissão, formação e constituição do campo das
Antropologias Contemporâneas em uma perspectiva de
gênero (2007-2009). Não consta
• Representações de Iniciação Sexual e Homossexualidade
em Escolas do Ensino Público de Santa Catarina/SC
(2007-2009). Ministério da Saúde.
• Ensino Religioso e Gênero em Santa Catarina (20072008). PROSARE (Comissão de Cidadania e Reprodução
e Centro Brasileiro de Análise e Planejamento).
• Parceria Civil, Conjugalidades e Homoparentalidade no
Brasil (2005-2007). CNPq.
• Mapeamento Nacional de Pesquisas e Publicações sobre
Violências contra Mulheres (2003-2005). Não consta.
• Contracepção e Planejamento Reprodutivo na Percepção
das Usuárias do Sistema Único de Saúde (2005-2006).
Fundo das Nações Unidas para Atividades em Matéria de
População (FNUAP), Ministério da Saúde e SOS Corpo.
• Projeto Rizoma (2000-2003). CNPq, Funcitec/SC
Sim. Vinculado à Pós-graduação em Antropologia Social e à
linha de gênero do Doutorado Interdisciplinar em Ciências
Humanas
55
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Gláucia Costa de Moraes - Secretariado Executivo Trilíngue