PLANO DE AÇÃO FÓRUM COMUNITÁRIO DE EDUCAÇÃO PROPOSTA DE AÇÃO Organizar um Fórum Comunitário de Educação, como espaço de formação e discussão sobre a educação local, envolvendo escola e comunidade de maneira dialógica e participativa. CONTEXTUALIZAÇÃO Uma escola que se proponha formadora de cidadãos de uma sociedade mais democrática e justa deve buscar novas relações entre os diferentes segmentos que a compõem e com a comunidade que a cerca, proporcionando espaços de reflexão crítica, formação e ações coletivas. A Unidade Escolar dispõe de uma infraestrutura privilegiada e é reconhecida socialmente como espaço de produção e aprendizado de conhecimentos. Disponibilizar tal infraestrutura para a realização de um Fórum Comunitário de Educação é uma maneira de construir uma relação cooperativa com a comunidade, de explorar novas dinâmicas formativas e de reforçar seu papel como bem público. A participação no processo de construção do Fórum desperta entre os membros da comunidade um outro olhar em relação à escola e amplia seu senso de pertencimento. Por outro lado, a escuta atenta e aberta às reflexões, opiniões e sugestões da comunidade, no decorrer do processo organizativo do evento e nas mesas de diálogo e seminários, podem trazer à escola outras perspectivas e possibilidades para a melhoria do ensino e da gestão da instituição. COMO EXECUTAR Escolher a escola onde acontecerá o Fórum, com base em pelo menos três critérios: 1) a existência de um grupo de educadores e funcionários interessados na proposta, 2) uma boa articulação com a comunidade do entorno e 3) infraestrutura adequada para abrigar o evento. Montar uma Comissão Organizadora do Fórum, de preferência com representantes dos diversos segmentos da escola. É interessante que haja um representante da direção que possa responder pelas responsabilidades assumidas. Caso isso não seja possível, será preciso agendar reuniões sistemáticas com a diretoria para garantir que não sejam tomadas decisões que desrespeitem questões internas à escola. Apresentar a proposta para representantes da Secretaria Municipal de Educação e organizações locais que possam vir a ser parceiras (entidades religiosas, associações de moradores, grupos esportivos, associações de trabalhadores, coletivos de cultura etc), convidando-as a participar da Comissão Organizadora. Com a comissão definida, organizar uma reunião na escola para: (a) Apresentação do grupo (b) Reflexão sobre a pertinência e relevância do Fórum (c) Definição do tema central do Fórum (Ex: “Por uma Educação de Qualidade”) e de eixos temáticos (subtemas) a partir dos quais serão estruturadas as atividades (d) Criação de Grupos de Trabalho (GTs) para as diferentes tarefas necessárias à organização do evento Cada membro da comissão deverá ficar responsável por compartilhar as informações e decisões com os grupos que representam e trazer para as reuniões suas opiniões e sugestões. Pesquisar sobre a estrutura e a forma de organização de outros fóruns, para aprender com experiências já realizadas. Uma importante referência é o Guia de Princípios para a Organização de Eventos do Fórum Social Mundial, disponível em: http://www.forumsocialmundial.org.br/noticias_textos.php?cd_news=717 Captar recursos para o evento junto ao poder público, empresas e organizações da sociedade civil. O apoio não precisa necessariamente ser em dinheiro: comerciantes do bairro podem contribuir com materiais, xérox e outros produtos; ONGs podem prestar serviços; a imprensa local pode ceder espaço para divulgação; entre outras formas de parceiras. QUEM PODE EXECUTAR Mobilizadores, agentes-chave, líderes comunitários, representantes do poder local e da comunidade escolar. DESENVOLVIMENTO DA ATIVIDADE Obs: a atividade pode ser adaptada conforme a realidade local e os conhecimentos prévios do mobilizador sobre o assunto. Primeira etapa: Construção da programação O formato do Fórum vai depender muito de cada contexto e da disponibilidade do local e do grupo organizador. Geralmente, para cada dia de trabalho, é organizada uma mesa central (ou conferência), algumas mesas temáticas e um cardápio mais extenso de atividades autogestionadas. Também é importante incluir atividades culturais para garantir momentos prazerosos de integração. A lista de perguntas abaixo pode ajudá-los a desenhar a proposta do evento: ◦ Qual o principal objetivo do Fórum? ◦ Quantos dias irão durar o evento? ◦ Em que dias da semana e horário a participação comunitária tende a ser maior? ◦ Quantas pessoas são esperadas? ◦ Quais os principais públicos que queremos envolver? ◦ Haverá atividades voltadas para as crianças? ◦ Há espaço para grandes conferências? ◦ Quantas salas estão disponíveis para a realização das atividades? ◦ Quantas pessoas estão na Comissão Organizadora? ◦ Qual será o envolvimento do poder público? ◦ Quais entidades locais estarão envolvidas? A principal característica de um Fórum é seu caráter plural e descentralizado. Assim, apenas algumas atividades são organizadas diretamente pela Comissão Organizadora. As demais, chamadas de “autogestionadas”, são inscritas e coordenadas por diferentes grupos como ONGs, coletivos, órgãos públicos e entidades locais. Cada grupo fica responsável pelo material, pela organização do espaço (antes e depois) e por toda a elaboração da atividade que cadastrou. Como veremos na próxima etapa, deve ser criado um Grupo de Trabalho para receber as inscrições das atividades autogestionadas (GT Programação), selecioná-las (se forem muitas para o espaço e tempo disponíveis) e montar uma grade de programação única para ser socializada com os participantes. Para as mesas de diálogo propostas pela Comissão Organizadora, é preciso fazer um levantamento de temas e de nomes para compô-las. Uma forma interessante de fazer isso é convidando os membros da comunidade para definir a pauta das discussões. Dessa forma, demonstrará respeito por seus interesses e questionamentos e irá potencializar o diálogo com seus sujeitos. Com a programação pronta, é preciso divulgá-la o quanto antes, produzindo folhetos e cartazes com a lista de atividades, os locais e horários de cada uma, quem organiza e para que público é direcionada. Segunda etapa: Organização São muitas as tarefas necessárias à realização de um fórum. Uma forma de organizá-las é por meio de Grupos de Trabalho (GTs), instâncias de decisão horizontais e democráticas formadas de acordo com as habilidades e interesses das pessoas. Cada GT deve ter pelo menos um participante da Comissão Organizadora, mas é importante envolver também outras pessoas interessadas em colaborar com tarefas específicas. Listamos abaixo alguns GTs comumente presentes nos Fóruns: ◦ GT Cadastramento: responsável por receber as inscrições dos participantes, preparar e distribuir crachás de identificação. Se o número de participantes esperados for pequeno, o uso de crachás pode ser desnecessário. ◦ GT Programação: este é um grupo chave na estruturação do Fórum, pois é quem tem um panorama geral do evento. É ele que receberá o cadastramento de todas as atividades autogestionadas, distribuirá os espaços e se responsabilizará pelo contato com os expositores/debatedores. ◦ GT Mobilização: grupo responsável por divulgar o Fórum em diversos espaços, incentivar as pessoas e grupos a inscreverem, mobilizar pessoas que não seriam informadas diretamente pela escola e auxiliar o GT de Comunicação nas estratégias de divulgação nas mídias. ◦ GT Comunicação: o grupo que faz a elaboração dos materiais gráficos e apoia o GT de Mobilização. Pode também ficar responsável pelo contato com a imprensa. ◦ GT Sistematização: o grupo que fará a cobertura do evento e ficará responsável pela produção de materiais que garantam a memória do Fórum (fotos, vídeos, relatórios e publicações). É importante que este GT tenha reuniões prévias para definir os produtos esperados e o formato para o registro das discussões. Se o GT não tiver pessoas suficientes para acompanhar todas as atividades, deverá priorizar as mesas centrais e solicitar aos responsáveis pelas autogestionadas e pelas mesas temáticas que eles próprios façam o registro. Para facilitar esse trabalho, o GT pode elaborar um formulário simples a ser preenchido por eles, incluindo informações sobre o número de participantes, nomes dos expositores/debatedores, principais pontos discutidos e propostas apresentadas. ◦ GT Infraestrutura: responsável pela disponibilização dos espaços para as atividades, pela organização da equipe de limpeza e pela articulação com a escola e/ou outras entidades locais para negociar o empréstimo de materiais e equipamentos de informática ou som para as mesas e atividades artísticas. ◦ GT Cultura: responsável pelo cadastramento das atividades culturais e pelo andamento das mesmas durante o Fórum. (intervenções teatrais, apresentações de dança, grupos musicais etc) Terceira etapa: Realização do evento Como já foi colocado acima, o formato do Fórum Comunitário de Educação vai variar segundo as decisões do grupo. A programação abaixo é uma sugestão para ser usada como referência: ◦ Cerimônia de abertura: atividade cultural (de preferência realizada por um grupo local) e falas de boas-vindas das principais instituições que organizaram o Fórum. ◦ Mesas centrais (ou conferências): apresentações sobre temas mais gerais, de interesse dos diferentes públicos que participam do Fórum. Para compor esta mesa, é interessante procurar um especialista no assunto, um membro da comunidade para fazer um relato de uma vivência concreta e um representante do poder público para fazer a relação com as políticas educacionais. Planeje cerca de uma hora para esta atividade. ◦ Mesas temáticas: espaços de diálogo sobre temáticas mais específicas dentro da área da educação. Geralmente são oferecidas de duas a quatro mesas simultâneas, para que os participantes escolham aquela que mais lhe interessa. ◦ Atividades auto-gestionadas: podem ter os mais diversos formatos, de acordo com o grupo que a organiza. Desde palestras até oficinas práticas ou atividades culturais. ◦ Oficinas para as crianças: atividades voltadas ao público infantil, para garantir que os estudantes participem das discussões do Fórum por meio de uma linguagem mais lúdica. ◦ Encerramento: atividade cultural e mesa final para o fechamento das questões levantadas durante o Fórum, agradecimento e escuta aos participantes sobre o evento e suas propostas. ◦ Feira de economia solidária: durante todo o Fórum, um espaço pode ser dedicado às barracas de comida e venda de artesanato local, produzidos pelas pessoas do bairro na perspectiva da economia solidária. Quarta etapa: Avaliação e socialização da experiência Ao final do último dia de Fórum, é importante que a Comissão Organizadora e todos os GTs se reúnam para uma reflexão e avaliação coletiva da experiência. O GT Sistematização deverá então organizar os registros e preparar os produtos que haviam sido planejados. Os materiais devem depois ser socializados na escola e em outros espaços comunitários. RECOMENDAÇÕES A realização de atividades simultâneas é uma das características intrínsecas de um Fórum, importante para garantir a pluralidade de interesses. No entanto, é preciso ter bom senso para não exagerar. Muitas opções no mesmo horário acabam por dispersar o público. Um Fórum Comunitário de Educação pode acontecer em vários espaços do bairro, até mesmo para valorizá-los. Em uma primeira experiência, no entanto, é conveniente concentrar as atividades num único local, para facilitar a logística e o deslocamento das pessoas. A escola é o espaço ideal, pela sua infraestrutura e poder mobilizador. • Para que a divisão em GTs funcione, é preciso um número mínimo de pessoas envolvidas. Um GT de uma ou duas pessoas dificilmente será operacional. Se o grupo for pequeno, talvez seja mais interessante ter grupos maiores atuando em mais de uma frente. • Alguns fóruns cobram uma taxa simbólica de inscrição dos participantes, para cobrir os custos de organização. Isso pode, no entanto, acabar afastando alguns participantes. Se a intenção é atingir o maior número de pessoas, sugerimos que ao invés da taxa sejam pedidos alimentos, roupas ou brinquedos para serem doados a uma instituição beneficente. • É possível que algumas atividades autogestionadas cadastradas acabem não acontecendo, por desistência do grupo responsável. Isso é comum num evento como um Fórum, no qual as responsabilidades são compartilhadas. Basta deixar isso claro para as pessoas e orientá-las a buscar uma segunda opção caso isso ocorra. OBSERVAÇÃO A atividade aqui apresentada foi elaborada pelo Instituto Paulo Freire.