REVISTA PORTUGUESA SUPLEMENTO DE CIÊNCIAS VETERINÁRIAS Congresso comemorativo dos 100 anos da Sociedade Portuguesa de Ciências Veterinárias Programa O Congresso foi organizado com a colaboração de todas as Sociedades e Instituições do ramo das Ciências Veterinárias que a seguir se indicam: Associação dos Médicos Veterinários de Equinos (AMVE); Associação Portuguesa de Buiatria (APB); Associação Portuguesa dos Médicos Veterinários Especialistas em Animais de Companhia (APMVEAC); Direcção Geral de Veterinária (DGV); Laboratório Nacional de Investigação Veterinária (LNIV); Ordem dos Médicos Veterinários (OMV); Secção Portuguesa da Associação Mundial de Ciência Avícola (SPAMCA); Sindicato Nacional dos Médicos Veterinários (SNMV); Sociedade Científica de Suinicultura (SCS); Sociedade Portuguesa de Ciências Veterinárias (SPCV); Sociedade Portuguesa de Epidemiologia e Medicina Veterinária Preventiva (SPEMVP); Sociedade Portuguesa de Patologia Animal (SPPA); Sociedade Portuguesa de Recursos Genéticos Animais (SPRGA); Sociedade Portuguesa de Reprodução Animal (SPRA). Cada uma dessas Sociedades/Instituições foi responsável por uma ou mais Sessões e ou Mesas Redondas conforme se pode constatar pelo Programa. Houve ainda a colaboração das Secções de Tecnologia e de Inspecção Sanitária dos produtos de origem animal da Faculdade de Medicina Veterinária, que organizaram uma sessão científica alusiva àquelas áreas. O Programa envolveu 102 participantes convidados, quer como Coordenadores de Sessões (27), Palestrantes ou Participantes de Mesas Redondas, que se organizaram em sessões simultâneas que decorreram em 5 salas diferentes e em 2 edifícios do Tagus Park - Edifício Central (Anfiteatro A e Sala D e E ) e o edifício de aulas do Instituto Superior Técnico (Anfiteatro B e C) - durante 3 dias (10, 11 e 12 de Outubro de 2002). Foi uma agradável surpresa assistir à submissão ao Congresso de 50 posters e 60 comunicações livres que representam contributos de todas as Equipes de Investigação que trabalham nesta área científica. Houve assim trabalhos de todas as Universidades e Laboratórios de Estado onde as Ciências Veterinárias estão representadas, bem como trabalhos vindos de Entidades Públicas ou Privadas com contributos mais do domínio da tecnologia deste ramo da Ciência. No conjunto tanto de autores convidados como dos autores de trabalhos originais apresentados, como comunicações livres, estiveram envolvidas no Congresso 357 autores e co-autores, o que é significativo se considerarmos que este Congresso foi essencialmente uma iniciativa de âmbito nacional. Congressistas O Congresso admitiu a possibilidade de inscrições para 3 dias e para 1 dia, dado o carácter específico de algumas sessões que levaram ao interesse de alguns participantes somente nas actividades de um ou dois dias. Por outro lado houve um preço especial para estudantes e uma redução para Sócios da Sociedade Portuguesa de Ciências Veterinárias. No final há a registar a presença de 477 congressistas, dos quais 114 na qualidade de convidados, tendo a maioria optado pela participação nos três dias do Congresso (três dias 304; dois dias 9; um dia 164 congressistas). Nos 477 congressistas, registámos a presença de 32 estudantes das diferentes Universidades, que ministram Medicina Veterinária. Divulgação Embora ainda sem conteúdo programático definitivo, a realização do congresso foi logo anunciada a mais de um ano de distância da data prevista, na Revista Portuguesa de Ciências Veterinárias. O Congresso começou a ser divulgado de forma interactiva e dinâmica a partir de Maio de 2002 através da criação de um site dedicado na Internet: http://aemhorta.tripod.com/ congresso/. Foi com surpresa que verificámos o impacto que o site teve desde o início, pois através de um programa específico foi possível acompanhar as visitas bem como a sua origem e nacionalidade. Chegámos a ter 170 visitas diárias provenientes de vários países, em particular da União Europeia, Lusófonos, ou Sul Americanos. Obviamente cerca de 70% eram visitas de portugueses, em particular das diferentes Universidades, Laboratórios de Estado e Entidade Públicas ou Privadas. De referir a curiosidade que com grande frequência recebemos visitas a partir do servidor da FCT, denotando o interesse com que esta instituição acompanhou a evolução do evento. Este site foi crescendo com o aproximar do Congresso e no final contemplava o programa completo, a indexação dos autores, quer dos Convidados, quer das Comunicações Livres, dos títulos dos trabalhos e sua forma de apresentação. Aí se forneceram todas as indicações aos autores sobre dimensões dos posters ou 49 SUPLEMENTO RPCV (2002) SUPL. 119: 47-66 Foto: Vasco Pereira* Comissão Executiva deste Congresso acompanhou de muito perto e desde a primeira hora a sua organização. Deu os parabéns à Sociedade pelos 100 anos que agora comemora e desejou aos congressistas e palestrantes um bom trabalho. O orador convidado foi o Prof. Dr. Fernando Bernardo que dissertou sobre a História da Sociedade desde a sua fundação até aos nossos dias. Finalmente, o Presidente da Sociedade encerrou as intervenções dando indicações do que estava programado para o Congresso nomeadamente locais, horas e sessões. O Presidente da Direcção da SPCV, Professor Doutor João Ramalho Ribeiro, na sessão inaugural do Congresso dos resumos das comunicações para o Livro de Comunicações do Congresso. Publicámos um Programa provisório só com as entidades envolvidas e os grandes objectivos do Congresso, procedendo ao seu envio personalizado por correio a cerca de 4000 potenciais interessados. Foi editado um cartaz, o qual foi distribuído por todas as Universidades, Institutos Politécnicos, Direcções Gerais do Ministério da Agricultura, Direcções Regionais de Agricultura, Laboratórios de Estado etc. Já próximo da data do Congresso foi editado o Programa definitivo resumido, que foi distribuído por todas as Instituições/Sociedades que se responsabilizaram pela organização das Sessões e, portanto, do Programa Científico aos seus potenciais sócios/membros/ interessados, comportando o envio por correio de 5000 exemplares a outros tantos potenciais interessados. Após a realização do Congresso estamos a disponibilizar os 158 trabalhos publicados no Livro de Comunicações do Congresso, em regime de livre acesso online (http://rpcv.fmv.utl.pt/). Cerimónia de Abertura À Cerimónia de Abertura assistiram como Convidados os Bastonários ou representantes de várias Ordens ou equiparados, no anfiteatro principal (Anfiteatro A) do Tagus Park às 10:30h do dia 10 de Outubro de 2002. Presidiu a esta Sessão Sua Exª. o Senhor Professor Ramôa Ribeiro, na qualidade de Presidente da Fundação para a Ciência e Tecnologia, tendo estado também na mesa o Bastonário da Ordem dos Médicos Veterinários Dr. Jaime Menezes, o Presidente da Assembleia Geral da Sociedade Portuguesa de Ciências Veterinárias Prof. Dr. Carlos Ferreira, o Administrador do Tagus Park Eng. Nunes Vasconcelos , o vereador da Câmara Municipal de Oeiras José Ferreira de Matos, e o Presidente da Sociedade Portuguesa de Ciências Veterinárias Dr. João M. Carvalho Ramalho Ribeiro. Depois de abertos os trabalhos discursou o Prof. Ramôa Ribeiro que por dificuldade de agenda teria de se ausentar antes de terminar a sessão. Elogiou a Sociedade, congratulou-se com a organização do Congresso e em especial porque na sua qualidade de membro da 50 Cerimónia de Encerramento A cerimónia de encerramento teve lugar no Anfiteatro A (Tagus Park) no dia 12 de Outubro pelas 18:30h e foi presidida por sua excelência o Senhor Ministro da Ciência e do Ensino Superior, Prof. Pedro Lynce. Participaram na mesa o Presidente do Sindicato Nacional dos Médicos Veterinários, Dr. João Alvoeiro, o Presidente do Instituto Nacional de Investigação Agrária, Prof. Dr. José Empis, o Director do Laboratório Nacional de Investigação Veterinária Doutor Alexandre Galo e o Presidente do Instituto Superior Técnico Prof. Dr. Matos Ferreira. Depois da aberta a sessão o Presidente da Sociedade Portuguesa de Ciências Doutor João M.C. Ramalho Ribeiro fez uma breve descrição da forma como tinha decorrido o Congresso e congratulou-se com o êxito da iniciativa que apesar de ambiciosa (5 salas e 2 locais a trabalhar em simultâneo) tinha atingido plenamente os objectivos. Apresentou algumas conclusões de âmbito geral nas áreas do Ensino e Formação contínua, do Bem Estar Animal e da Segurança e Qualidade Alimentar, que terão de ser consideradas como áreas prioritárias a merecer atenção redobrada da Comunidade Científico-Técnica. Por fim encerrou os trabalhos Sua Excelência o Senhor Ministro da Ciência e Ensino Superior, que deu os parabéns à Sociedade pela efeméride destacando a figura do Prof. Vaz Portugal no domínio das Ciências Veterinárias, personalidade que nos deve servir de referência. Por último aproveitou a oportunidade para referir que os tempos são de mudança, alertando para a necessidade de terminar a fase expansionista e de massificação do Ensino Superior apostando na avaliação como instrumento da promoção da qualidade, quer do Ensino, quer da Investigação, ou do desenvolvimento tecnológico. Publicações Para além das já atrás citadas, há a destacar como publicação principal deste Congresso os “Proceedings of the Veterinary Sciences Congress 2002”; Edição: Sociedade Portuguesa de Ciências Veterinárias; composto e impresso: Oficinas Gráficas da Direcção Geral de Veterinária; tiragem: 600 exemplares; ISBN: 972- SUPLEMENTO RPCV (2002) SUPL. 119: 47-66 97376-5-7 Depósito Legal 186073/02; nº páginas: 536. Esta publicação contém os trabalhos integrais dos oradores convidados (cuja recepção ocorreu até 31 de Agosto de 2002) com resumo em Inglês, bem como todas as Comunicações Livres em versão resumida, em Português e em Inglês. Aqui se incluem as apresentadas oralmente e sob a forma de poster. Esta publicação foi entregue aos congressistas e está a ser distribuída por Bibliotecas, Universidades, Associações de Estudantes etc. Paralelamente e, como já atrás se referiu, esta publicação está a ser disponibilizada integralmente on-line e em regime de livre acesso em http:// rpcv.fmv.utl.pt/. Agradecimentos A Organização do Congresso beneficiou do apoio dos Patrocinadores/Anunciantes e de algumas Instituições Públicas ou Privadas que permitiram aliviar os encargos ou alargar a qualidade das condições que se proporcionaram aos congressistas. Contudo é de elementar justiça que aqui se reconheça e agradeça o empenhamento das Instituições/Sociedades que propuseram o Programa das suas Sessões, convidaram os Palestrantes, Coordenadores de sessão e de Mesas Redonda dando assim conteúdo Científico-Técnico ao Congresso. Foi este mesmo conteúdo Científico que conferiu dignidade e interesse ao Congresso. Foto: Vasco Pereira* João Ramalho Ribeiro Presidente da Direcção Abertura do Congresso com a participação do Presidente da Fundação para a Ciência e a Técnologia, Professor Doutor Fernando Ramôa Ribeiro Nota histórica sobre a fundação da Sociedade Portuguesa de Ciências Veterinárias. Fernando Bernardo Palestra proferida na sessão inaugural Exmos. Senhor Presidente da Fundação para a Ciência e a Tecnologia, Senhor Bastonário da Ordem dos Médicos Veterinários, Senhor Vereador da Câmara Municipal de Oeiras em representação da Senhora Presidente, Senhor Engº Nunes Vasconcelos, Gestor do Taguspark, Senhores Presidentes da Mesa da Assembleia e da Direcção da Sociedade Portuguesa de Ciências Veterinárias, Senhores Convidados, Senhores Professores, Minhas Senhoras e meus Senhores, Caros colegas, Gostaria de começar por saudar Vossas Excelências e endereçar as minhas felicitações à Sociedade Portuguesa de Ciências Veterinárias por ocasião do seu centésimo aniversário. Pediu-me o Senhor Presidente da Sociedade que eu proferisse aqui algumas palavras evocativas da fundação. Confesso que, quando aceitei esta incumbência não avaliei bem o peso da solenidade que tal evocação implicava, nem pesei adequadamente a responsabilidade e o alcance que se impõe numa efeméride única como esta, tal é a grandeza que teve, e continua a ter, a obra realizada pela Sociedade ao longo do seu primeiro século de existência. Não posso deixar de reconhecer que, por direito próprio, quem deveria estar aqui a proferir as palavras alusivas à efeméride, deveria ser o Senhor Professor Mário Baptista Braz pelo contributo que tem dado à história da medicina veterinária portuguesa e à própria SPCV. Depois de consultar alguma documentação, verifiquei que sou completamente incapaz de fazer algo que se compare em qualidade ao que foi produzido na comemoração dos 50 e dos 75 anos. Decidi por isso retomar as palavras que a este mesmo propósito, o da fundação, foram proferidas nessas ocasiões, pelos Professores Miranda do Vale e Mário Braz respectivamente, sendo que o meu constrangimento é total. Será portanto com as palavras de um dos fundadores e as de um dos mais prolíficos escritores da História da medicina veterinária que me proponho fazer esta evocação. Como todos as organizações que se criam, também a Sociedade Portuguesa de Medicina Veterinária teve os seus antecedentes: teve um passado, instituiu-se, tem um presente e tudo indica que terá um brilhante futuro, pelo menos a avaliar pelo enorme sucesso deste Congresso do Centenário. Se os fundadores pudessem vislumbrar agora a extensão e a qualidade das realizações científicas dos veterinários actuais, rejubilariam de contentamento por certo, porque a produção científica que hoje aqui vamos começar a apreciar traduz singularmente as motivações que inspiraram os pioneiros e pelas quais se dispuseram a fundar a primeira Sociedade Científica do mundo agrário português. Neste Congresso eles sentir-se-iam certamente compensados. Comecemos pelos antecedentes. Corria o ano de 1894 quando «um grupo bastante numeroso de Veterinários, se consagrou a levar por diante um agremiação [...] para bem cuidarem dos seus interesses morais e materiais...»(3). Tudo se iniciou a 8 de Março. Um grupo de docentes do Instituto de Agronomia e Veterinária, reuniu-se com um grupo de veterinários 51 SUPLEMENTO de Lisboa e redigiu uma circular que endereçaram a todos os veterinários portugueses na semana seguinte. Nessa carta podiam ler-se as seguintes passagens: «...dirigimos um apelo a todos os colegas espalhados pelo País, afim de levar a cabo a realização de um alto pensamento que proposto em diferentes épocas [...] foi considerado como um ideal inatingível [...] mas que hoje inadiavelmente se impõe, em nome do progresso da ciência [...] dos interesses e dignidade da família veterinária portuguesa, tão laboriosa e útil, mas tão retraída e votada ao ingrato esquecimento...». Referindo-se ao inestimável contributo dos Médicos Veterinários para o desenvolvimento da pecuária escreviam: «Portugal pode ufanar-se de possuir hoje uma legislação completa e harmoniosa em matéria de serviços pecuários, como a não tem a Inglaterra, a Espanha, a Itália e nem mesmo a França, [...] os nossos gados foram objecto de importantes investigações [...] em tudo isto foi grande e profícua a colaboração dos Médicos Veterinários Portugueses...» e a carta citava exemplos comprovativos e brilhantes: o recenseamento geral dos gados de 1870, a lei dos vícios redibitórios de 1886, [...] os regulamentos de saúde pecuária e dos serviços zootécnicos de 1889”. Constatavam os signatários que «...apesar dessa larga folha de serviços que assinalam a importância social da nossa classe, há 64 anos que ansiamos por constituir uma associação onde, de viva voz ou por meio da escrita, possamos apresentar em comum as dúvidas que se levantam no nosso labor quotidiano, [...] há 64 anos que, apenas no vago da possibilidade, nos sorri a ideia da posse de um jornal onde se afirme a vitalidade e o saber desta classe quase ignorada [...] mas que, uma vez unida, há-de erguer-se no conceito público, haurida na Ciência [...] e alcançar o lugar a que tem incontestável direito na Sociedade moderna...». A carta terminava solicitando a todos os veterinários uma resposta imediata para «...sem demora, se organizar a lista dos sócios e proceder à elaboração dos estatutos e à fundação do jornal...», entenda-se a futura Revista de Medicina Veterinária. Assinavam a carta nove veterinários: José Maria do Santos, António Brito da Trindade, Paulino de Oliveira, Salvador Gamito de Oliveira, João Ferreira da Silva, José Maria Alves Torgo, Manuel Diogo da Silva, João Sabino de Sousa, João V. Paula Nogueira. Cinco dos signatários eram docentes dos Instituto de Agronomia e Veterinária, na época tutelado pelo Ministério do Fomento, aliás, como todas as actividades agrárias e pecuárias. A resposta dos colegas traduziu o grande êxito da iniciativa, tudo correu bem durante a elaboração dos Estatutos e constitui-se a associação, faltando apenas a respectiva legalização. No entanto, um episódio, um tanto frívolo, viria precipitar os acontecimentos a refrear o entusiasmo inicial, forçando ao adiamento do funcionamento pleno da agremiação por mais oito anos. O episódio conta-se em poucas palavras. Um dos jovens fundadores, um professor voluntarioso e muito 52 RPCV (2002) SUPL. 119: 47-66 dinâmico, Sabino de Sousa, entusiasmado com os evidentes benefícios que a criação da Sociedade Científica poderia trazer para o desenvolvimento nacional, apresentou ao Director Geral de Agricultura (conselheiro Elvino de Brito) «...uma missiva, na qual lhe são enviados os cumprimentos da Sociedade nascente». O momento sócio-político que se vivia no país era pouco propício a iniciativas associativistas, sobretudo quando tomadas por Republicanos convictos e militantes, como eram os proponentes. No país reinava uma atmosfera taciturna, como consequência do ultimato Inglês de 1891, por causa do “Mapa Cor de rosa”. A revolta republicana do “31 de Janeiro” no Porto tinha feito incendiar as mais revoltadas paixões republicanas. As autoridades administrativas públicas nutriam profundas desconfianças contra os Republicanos, sendo que este tipo de iniciativas, que conduziam ao progresso e sobretudo as que provinham de associações ilegais, fundadas por republicanos, eram vistas pelo poder como uma ameaça, pelo que o diligente conselheiro, chefe burocrático da classe, mandou suspender todas as actividades da agremiação. Sabino de Sousa viria a mostrar-se desgostoso com o processo durante largos anos, anos que também ajudaram a «amortecer a irritação». As razões que moveram o conselheiro Elvino de Brito tinham diversos antecedentes que entroncam directamente nas razões profundas que inspiraram os termos da carta de angariação de sócios enviada a todos os veterinários, onde especificamente se lia «a criação [...] que hoje inadiavelmente se impõe, em nome do progresso da ciência [...] dos interesses e dignidade da família veterinária portuguesa, tão laboriosa e útil, mas tão retraída e votada a um ingrato esquecimento [...] esta classe quase ignorada...» O que se pretenderia significar com esta adjectivação?... quais os factos que justificavam o uso das expressões «...tão retraída e votada a um ingrato esquecimento [...] quase ignorada»?. Quais seriam as razões que levavam os signatários a sentir que os veterinários eram ingratamente esquecidos? e por quem? É mais uma vez Miranda do Vale que nos esclarece. A raiz profunda deste mal-estar estava instalada no Palácio da Cruz do Tabuado, entenda-se no Instituto de Agronomia e Veterinária, e estendia-se às Intendências de Pecuária por diversos pontos do país. O número de estudantes de veterinária era incomensuravelmente inferior ao dos agrónomos e silvicultores. Não se formavam mais de dois ou três veterinários por ano desde a década de 1870. Os Professores de Medicina Veterinária tinham granjeado um enorme prestígio na comunidade científica e académica, e isso inspirava alguns sentimentos menos nobres nos dirigentes monárquicos do Instituto e da Direcção Geral de Agricultura. Isso tê-los-á levado a praticar algumas das injustiças gritantes de que a carta se lamentava. O prestígio exterior era outorgado sobretudo pelas Escolas Médicas e pela Escola Politécnia. Foto: Vasco Pereira* SUPLEMENTO Demonstração da Escola Portuguesa de Arte Equestre, no centro hípico da Quinta da Beloura, ao qual se seguiu um beberete com a participação de Shegundo Galarza A figura central da controvérsia era Joaquim Inácio Ribeiro que em 1882 havia criado o primeiro Laboratório Português de Bacteriologia, no Instituto (Cruz do Tabuado), provisoriamente instalado no Laboratório de Química. Em 1886, como corolário do consulado de Ferreira Lapa, seria instalado autonomamente. Nesse laboratório realizaram-se trabalhos notáveis para a época. Os conceitos Pasteurianos foram introduzidos com grande vanguardismo na formação veterinária, ...sendo o espírito científico dele decorrente rapidamente assimilado. Os veterinários que usufruíram das condições laboratoriais, formados entre 1870 e 1900, ficariam conhecidos como a “geração de ouro” (é Miranda do vale que assim os designa). No Laboratório de Bacteriologia entre 1886 e 1891 prepararam-se as primeiras vacinas contra o carbúnculo (antraz), produziu-se e testou-se a tuberculina, tentou-se produzir maleína, produziram vacinas contra o mal rubro, diagnosticou-se a raiva, estudou-se a actinomicose, diagnosticou-se a triquinelose, ensaiaram-se soroterapias e hiper-imunizações, muito em voga na época. Por exemplo, alguns membros da “geração de ouro” estavam convictos que conseguiriam curar a febre aftosa com soroterápia. Contrastou-se a pureza de vacinas. Para além do trabalho no Laboratório de Bacteriologia, a maior parte dos docentes e dos estudantes de veterinária, tinham o privilégio de usufruir dos recursos do Matadouro da Câmara Municipal de Lisboa (Picoas). Os lentes do curso de veterinária repartiam as suas actividades pelo ensino, pela actividades técnicas de apoio à Direcção Geral de Agricultura, e ao Matadouro de Lisboa, que funcionava a uns escassos 50 metros do Palácio da Cruz do Tabuado. Quase todos os membros da “geração de ouro” iniciaram as suas carreiras fazendo Inspecção Sanitária nessa Matadouro. Esta relação permitia aos lentes de Veterinária tirarem o pulso ao estatuto sanitário dos efectivos pecuários nacionais e realizarem muita investigação aplicada. Nesse espaço, fora da alçada do Instituto de Agronomia e Veterinária, diagnosticaram-se os primeiros casos de triquinelose (José Anastácio Monteiro -1881), estudaram-se carnes tuberculosas (Sabino de Sousa), daurina, carbúnculo hemático (antraz), febre aftosa, 54 RPCV (2002) SUPL. 119: 47-66 difteria, mal rubro, cisticercose; trabalhos rigorosos, cientificamente fundados. A questão da epizootia de febre aftosa que assolava o país era a maior preocupação dos lentes do Instituto. Mas todas as suas tentativas de intervenção para o controlo da Virose esbarravam com a indiferença das autoridades administrativas. O espírito científico e as competências que se desenvolveram eram extremamente avançadas para a época e é por isso que Miranda do Vale, designa os veterinários formados entre 1870 e 1900, a “geração de ouro”; entre eles destacamos, pedindo desculpa por alguma omissão involuntária: Joaquim Inácio Ribeiro, José Antunes Pinto, Miguel Augusto Reis Martins, José Anastácio Monteiro, João V. Paula Nogueira, José Maria Alves Torgo, António Roque da Silveira, Ildefonso Borges, Manuel Diogo da Silva, João Francisco Tierno, João Ferreira da Silva, João Sabino de Sousa, José Miranda do Vale, António de Ávila Horta, António Águeda Ferreira. Os médicos não economizavam nas palavras para enaltecer a obra do lente Joaquim Inácio Ribeiro, cuja escola de bacteriologia antecedeu em uma década a de Medicina, o Instituto Câmara Pestana. Esta instituição, viria aliás a prestar um auxílio decisivo à sobrevivência da Sociedade de Medicina Veterinária nos primeiros anos da sua existência abrindo as portas para reuniões da Direcção e para concorridas sessões científicas. Sousa Martins, o conhecido lente da Escola Médica de Lisboa, comentava a prestação científica dos veterinários num Congresso Nacional de Medicina em Coimbra, a propósito de comunicações científicas sobre tuberculose, carbúnculo e triquinelose, ...nos seguintes termos «...ninguém lhes perguntou de onde vinham, para só lhes perguntarem o que traziam. À primeira questão teriam respondido: do estudo; à segunda responderam: sabedoria. Sabedoria positiva, não fantástica. Da que se firma em factos bem apurados; não da que tenha por alicerce único sonhos ou delírios. Já entre nós era condignamente apreciada essa plêiade de valiosos homens de ciência, que sem favor, ombrearam com os mais valiosos da classe médica propriamente dita. A verdade porém, é que os seus créditos científicos se afirmaram de vez […] não porque se revelassem maiores do que eram, mas porque só aí o país os pôde ver a toda a luz da publicidade» (2). Depois de Ferreira Lapa se ter reformado (1886), os veterinários tinham perdido a pouca influência de que ainda dispunham... “a geração de ouro”, fervorosamente republicana, não era devidamente apreciada e considerada pela tutela monárquica do Instituto de Agronomia e Veterinária. Os Veterinários do Instituto de Agronomia e Veterinária, estavam agora convictos de que a autonomia era a única alternativa possível para a sua sobrevivência, a autonomia tornava-se absolutamente indispensável. Uma série de injustiças tinham agravado ainda mais essa relação em 1891, o ano do ultimato Inglês e das revolta republicanas: o currículo do curso de veteri- SUPLEMENTO nária foi amputado de três disciplina (epizootias); o laboratório de bacteriologia foi desanexado e passou para a alçada da Direcção Geral de Agricultura; Inácio Ribeiro foi desapossado da sua cadeira de “Epizootias e Polícia Sanitária” (retoma em 1897); o hospital Veterinário é desanexado. Entre 1894 e 1902 a sobrevivência foi difícil, compensada certamente pela imersão no trabalho de pesquisa, na caracterização do estatuto sanitário do efectivo pecuário nacional. Ocupando os dias com trabalho meticuloso, registando, investigando, debatendo os casos clínicos entre os pares e mostrando-os aos estudantes. Os indicadores da expansão da epizootia de febre aftosa eram alarmantes. A ideia era ir preparando as soluções para os problemas sanitários da pecuária nacional, ansiando convictamente que a hora de as poder pôr em prática chegaria em breve. Finalmente, chegou o dia em que os membros da “geração de ouro” se reuniram, a 20 de Janeiro de 1902, numa sala da Assembleia Lusitana, no rés do chão do nº 20 da Rua Passos Manuel. Aí aprovaram de novo o estatuto redigido em 1894. Os trinta e três veterinários presentes exortaram de entusiasmo, distribuíram entre eles diversas tarefas e rapidamente agendaram uma nova reunião para o dia 25. A questão da sede, a organização e publicação da Revista, a revisão dos Estatutos, o problema do surto de febre aftosa; os regulamentos de Inspecção de Carnes; da higiene dos leites, a reforma e autonomia do ensino veterinário, fizeram fervilhar de trabalho os primeiros anos de existência da Sociedade. Paula Nogueira assumiu um papel fulcral na edição da Revista e na organização das sessões científica preparatórias das edições. Oficialmente a Sociedade Portuguesa de Medicina Veterinária viria a ser constituída por alvará do Governador Civil de Lisboa, de 10 de Outubro de 1902 (faz hoje precisamente cem anos). O objecto da sua actividade é «...essencialmente científico [...] propondo-se estudar quaisquer assuntos próprios das ciências veterinárias, sob o ponto de vista especulativo e prático, compreendendo nesta designação tudo quanto respeita à medicina, à higiene dos animais domésticos, à zootecnia, e às questões da higiene pública [...] publicar uma Revista que [...] dê conta dos trabalhos associativos e acompanhe o progresso [...] das ciências biológicas». Durante os primeiros anos de agitada existência, a Sociedade entregou-se freneticamente ao trabalho, num contexto político extremamente desfavorável, mas estando os membros da sociedade convictos de que as suas produções científicas e os seus saberes seriam em breve postos ao serviço da pátria. Nos primeiros anos do século XX, os ideais republicanos eram considerados quase criminosos, o parlamento foi dissolvido, João Franco instituiu a ditadura. Todas as tentativas de intervenção da Sociedade de Medicina Veterinária esbarravam com a indiferença das autoridades administrativas. Miranda do Vale descreveu o sentimento da RPCV (2002) SUPL. 119: 47-66 classe veterinária no período que antecedeu a implantação da República, numa carta enviada ao Ministro da Agricultura do primeiro governo provisório republicano, onde denuncia as arbitrariedades a que os Agrónomos Monárquicos, sujeitaram os Veterinários Republicanos. «...No longo consulado do erudito agrónomo Sr. Alfredo Carlos Le Cocq (Director Geral de Agricultura que tutelava o Instituto) nenhum, absolutamente nenhum facto se pode apontar pelo qual a classe veterinária deva ou possa nutrir o mais leve sentimento de gratidão […] Com mágoa, mas com verdade o digo, reconhecendo os primores de carácter do Sr. Le Cocq, em quem os veterinários portugueses viam no trato particular a mais impecável correcção […] mas encontravam no funcionário superior uma, ora surda, ora aberta hostilidade, que nada, absolutamente nada, justificava aos olhos da razão e da justiça» (3). «...Sob o longo consolado do Sr. Le Cocq, a Medicina Veterinária Portuguesa não pôde jamais expandirse, por lhe recusarem todo o incremento, desde as criadoras fontes de ensino até ao vasto campo de trabalho da Direcção Geral de Agricultura». Ao longo de toda a sua história a Sociedade publicou ininterruptamente o tal “Jornal” de cariz científico a que os fundadores se tinham proposto, mesmo durante as duas Grandes Guerras Mundiais. Antes da criação do Sindicato e da Ordem, a Sociedade também desempenhava funções de caris socio-profissional. A Revista, para além dos artigos científicos, dava nota de reuniões, oferecia sinopses de livros técnicos e didácticos, e relatava alguns acontecimentos da vida social e profissional dos médicos veterinários. Por permuta e ou com ofertas, o espólio bibliográfico da Sociedade acumulou um acervo notável. Em 1952 comemorou-se o cinquentenário, com uma cerimónia na Escola Superior de Medecina Veterinária (ESMV). Por despacho ministerial de 20 de Setembro de 1952, a Sociedade Portuguesa de Medecina Veterinária (SPMV) deu origem à Sociedade Portuguesa Ciências Veterinárias (SPCV), cujos estatutos haviam sido aprovados em Assembleia Geral a 16 de Julho de 1951. Também no septuagésimo quinto aniversário da Sociedade, se realizou uma luzida cerimónia no Salão Nobre da ESMV, presidida pelo Ministro da Educação da época, em representação do Presidente da República, sendo atribuída a insígnia de Membro Honorífico da Ordem de Santiago de Espada, pelos relevantes trabalhos desenvolvidos em prol da Ciência e da Cultura. Os CTT, emitiram um selo alusivo à efeméride. O problema da sede, que tanta controvérsia gerou na altura da fundação, iria perpassar praticamente toda a história da Sociedade, só tendo sido resolvido três anos antes do centenário, com a transferência para a casa, que herdou por força do seu nascimento. A verdade é que também foram “os pais” da Sociedade, os membros da “geração de ouro”, que conceberam projec55 SUPLEMENTO taram e coordenaram a construção do edifício onde a Sociedade reside hoje, com a dignidade que merece. Ao longo do seu primeiro Século, a Sociedade teve vinte e nove presidentes de Direcção, apoiados por equipas de gestão relativamente extensas. Dedicaramse laboriosamente à Sociedade com a maior abnegação, sem nunca pedirem nada em troca, contribuíram generosamente com os seu esforço e às vezes até com pecúlios extra, para honrar aqueles compromissos financeiros inadiáveis, que o cofre, geralmente exaurido, nem sempre podia satisfazer. Olhando para os seus nomes reconhecemos imediatamente muitas das figuras maiores da profissão veterinária em Portugal. Bibliografia Foto: Vasco Pereira* 1 - Braz, M.B. (1996). A Medicina Veterinária portuguesa: um Século de notabilidades, licenciaturas de 1830 a 1930. Ed. Ordem Médicos Veterinários, Lisboa, Portugal, pp-365 2 - Braz, M.B. (1977). Competência e Valorização Profissional. Rev. Port. Ciências Veterinárias, LXXII (Outubro/ Dezembro), 217-233. 3 - Miranda do Vale, J. (1952). História da Sociedade Portuguesa de Medicina Veterinária. Rev. Port. Medicina Veterinária. XLVII(342-343), 215-441. Sessão de encerramento com a participação do Ministro da Ciência e do Ensino Superior, Professor Doutor Pedro Lynce Discurso de encerramento Professor Doutor João Ramalho Ribeiro, Presidente da Direcção da Sociedade Portuguesa de Ciências Veterinárias Exmos. Senhor Ministro da Ciência e do Ensino Superior, Senhor Presidente do Instituto Nacional de Investigação Agrária do Mar e das Pescas, Senhor Director do Laboratório Nacional de Investigação Veterinária, Senhor Presidente do Instituto Superior Técnico, Senhor Presidente do Sindicato Nacional dos Médicos Veterinários Cabe-me a mim fazer o balanço do que foi este Congresso de Ciências Veterinárias comemorativo dos 100 anos da Sociedade Portuguesa de Ciências Veterinárias. Na cerimónia de abertura dissemos que as nossas 56 RPCV (2002) SUPL. 119: 47-66 expectativas eram elevadas, manifestámos algumas preocupações face à diversidade de temas e à necessidade de trabalhar com cinco salas em simultâneo e em dois polos distintos localizados a uma distância apreciável. Havia algum receio que a gestão de cada sessão da responsabilidade das diferentes Instituições, Associações ou Sociedades pudesse divergir ou mesmo ter algumas falhas de logística. Hoje, terminado o Congresso o nosso sentimento é de grande satisfação na medida em que todas as nossas expectativas foram ultrapassadas. As sessões decorreram como previsto e a adesão dos congressistas chegou hoje ao número mítico de 500, o que sinceramente é para todos nós organização, colegas e participantes motivo de grande orgulho e satisfação. Não escamoteamos que aqui e ali situações houve que correram de forma menos adequada mas não nos podemos esquecer de que a responsabilidade pela gestão de cada sessão era da respectiva Sociedade ou Instituição e como em tudo entre as 12 entidades envolvidas houve formas diferentes de encarar esta missão o que se reflectiu aqui e ali em diferentes formas de funcionamento embora e na grande maioria dos casos tudo tenha decorrido na perfeição. Contudo para os casos em que assim não aconteceu e apesar dessa maleita não ser da responsabilidade da organização gostaríamos de publicamente apresentar as nossas desculpas em nome do Congresso. Houve um caso que no 1º e em parte no 2º dia nos escapou ao controle e que se prendeu com a coordenação dos meios informáticos do anfiteatro B e C e também por isso e pelos inconvenientes que daí resultaram gostaria de apresentar as nossas desculpas. Mas Senhor Ministro, restantes membros de mesa, caros colegas situações destas são fruto da nossa inexperiência e talvez do desejo de ir para além do que eram as nossas reais capacidades. Estou certo que contamos com a Vossa tolerância e compreensão e que no final o que efectivamente se destaca deste congresso é uma positiva afirmação da vitalidade de um sector técnico-científico desejoso de se afirmar cada vez mais numa sociedade exigente, informada e atenta. Foi com esta preocupação que os colegas aqui vieram e julgo que de uma maneira geral foi possível responder positivamente às vossas expectativas. Do que foi este Congresso quero resumidamente apresentar 3 ou 4 referências importantes: Nas áreas científico-técnicas houve oportunidade para ouvir comunicações de grande interesse na actualização de conhecimentos ou de técnicas de diagnóstico e ou tratamento. Refiro-me concretamente a termos como por ex: maneio da vaca leiteira de alta produção; resistências antimicrobianas em avicultura; análises histopatológicas; alimentação de porcas gestantes; o papel de microelementos na alimentação bovina; o problema da BSE em Portugal; a tuberculose bovina no Alentejo; a preservação das raças autóctones; o diagnóstico em patologia; a pesquisa de resíduos em produtos de origem animal; o doping em equinos; etc, etc, etc,. Em segundo lugar quero destacar 3 áreas abrangentes e transversais que cruzam as Ciências Veterinárias e que neste Congresso tiveram uma atenção particular. Refiro-me: ao Ensino e Formação Contínua; ao Bem Estar Animal e à Segurança e Qualidade Alimentar. No que se refere ao Ensino e Formação Contínua foi muito interessante verificar como começam a convergir os interesses e projectos das diferentes Universidades. Foi possível constatar que de facto e apesar de hoje existirem 4 cursos públicos e 1 privado esta é uma realidade que não vale a pena escamotear. O que é preciso é que eles se afirmem pela diversidade, apostem nas suas reais potencialidades, ofereçam nichos de excelência e dialoguem entre si para se complementarem; trabalhando em conjunto e assim avançando de forma abrangente no aprofundamento do ensino destas ciências. Com o envolvimento da Ordem, do Sindicato, da Sociedade ou mesmo de outras Instituições de interesse público ou privado. Aliás as associações de estudantes de medicina veterinária já iniciaram este processo de diálogo e cooperação entre elas e criaram mesmo uma estrutura de coordenação que nasceu cheia de ambição e de projectos para o futuro. O que demonstra a qualidade, profissionalismo e preocupação dos nossos jovens que na sua salutar irreverência desafiaram os mais velhos em geral e as Universidades em particular a seguir-lhes o exemplo. O Bem Estar é um tema recorrente demasiado debatido em termos genéricos e mediáticos e que neste congresso contou com uma forma diversificada de intervenções cobrindo um espectro que ia desde aqueles que valorizam sobretudo o animal ser vivo, que sofre com a dor e tem necessidades próprias de conforto e de ambiente até aqueles que encaram o animal essencialmente como uma máquina biológica transformadora cuja eficácia é sinónimo de rentabilidade e de retorno económico numa empresa que se pretende viável. A questão coloca-se em saber onde se deve posicionar o médico veterinário, comodamente poder-se-à dizer que numa posição de equilíbrio e de bom senso a meio caminho entre essas duas posições extremas. Mas isto é, em parte, fugir ao problema porque esse meio caminho não será o mesmo para todos os profissionais. Em minha opinião este tema exige um debate profundo e reflectido que ainda está por fazer entre os técnicos e profissionais das Ciências Veterinárias essencialmente para que se discutam dados científicos que habilitem o profissional a poder decidir e tomar posições cientificamente fundamentadas. Assim deixamos este alerta para o qual a Sociedade Portuguesa de Ciências Veterinárias também se disponibilizou a colaborar num debate que se pretende urgente. Por último a Segurança e Qualidade Alimentar. A eclosão da BSE, o aparecimento do problema das dioxinas e outros acidentes da cadeia alimentar vieram alterar tudo o que se pensava ser as atitudes e comportamentos mais recomendáveis. Houve doenças RPCV (2002) SUPL. 119: 47-66 Foto: Vasco Pereira* SUPLEMENTO Aspecto de uma das mesas no jantar oferecido pela Câmara Municipal de Oeiras na Quinta do Lagoal em Caxias, animado pela Orquestra de Câmara de Cascais e Oeiras novas com novas realidades que deixaram perplexos e confusos os técnicos e investigadores. Houve políticos que pensaram ser esta uma óptima oportunidade de se afirmarem. Houve uma comunicação social ávida de factos que lançou para a opinião pública notícias alarmantes sem a necessária confirmação. Ficou o consumidor receoso, confuso e cheio de dúvidas. A administração pública tardou em reagir e nem sempre da melhor maneira. Passada a tormenta há que parar para reflectir, identificar o que é efectivamente técnico ou científico, debater e aprofundar estas situações, actualizar conhecimentos e propor às instâncias decisórias medidas cientificamente fundamentadas com coerência, orientadas para estratégias de médio longo prazo. Os profissionais têm de deixar de ser os bodes expiatórios deste processo que a todos envolve mas onde nem todos assumem as suas responsabilidades. Esta foi para nós também uma das grandes conclusões deste congresso. Senhor Ministro, restantes membros de mesa, caros colegas, o Congresso não foi, nem podia ser, um fórum com objectivos conducentes à definição de conclusões e de recomendações. Foi antes um espaço de diálogo, de debate de ideias que deixou em nós o desassossego que nos vai obrigar a pensar na necessidade de aprofundar e discutir temas candentes numa lógica de ciência e de dados experientes resultantes do trabalho de investigação. Cada profissão será aquilo que a sociedade nela reconhece como capacidade de resposta aos seus anseios e preocupações. Assim, na área das Ciências Veterinárias, o consumidor em particular e o público em geral estão cada vez mais atentos e são cada vez mais exigentes, o que obriga a que os profissionais estejam cada vez mais preparados e actualizados. É pois em congressos desta natureza que é possível e desejável fornecer e facultar essa informação e foi o que aconteceu. Por isso estamos satisfeitos e pensamos que os nossos objectivos foram atingidos. O êxito desta iniciativa ficou essencialmente a dever-se a Vós todos que nela participaram, que a animaram, que coordenaram mesas redondas e sessões que apresentaram palestras e comunicações e que 57 SUPLEMENTO Foto: Vasco Pereira* apresentaram posters. Por outro lado tudo seria mais difícil se não tivesse sido possível contar com o apoio inestimável dos nossos patrocinadores e assinantes bem como das instituições públicas ou privadas que de uma forma ou de outra tornaram mais fácil e agradável o ambiente que rodeou este congresso. Por último é de elementar justiça agradecer aos estudantes que de forma generosa, voluntária e empenhada asseguraram o secretariado deste congresso. Em nome da comissão organizadora eu quero envolver todos num fraterno abraço que expressa o nosso profundo reconhecimento e agradecimento. A todos o nosso muito obrigado, Bem hajam. Lisboa, 12 de Outubro de 2002 Sessão de posteres no átrio superior do edifício do Núcleo Central do Tagus Park O Congresso foi o ponto de partida Uma das grandes vantagens do Congresso de Ciências Veterinárias foi o ter despertado em muitos a vontade de apresentarem trabalhos que tinham em projecto ou mesmo já concluídos. Contudo alguns destes trabalhos não se encontravam preparados para publicação mas dada a sua actualidade ou a relevância dos seus objectivos vamos tomar a iniciativa de propor aos respectivos autores que aprofundem e preparem esses temas por forma a poder publicá-los proximamente na nossa Revista. Pretendemos que no futuro que se aproxima a revista possa ser a expressão do que melhor aconteceu ao longo do Congresso. Esta será para nós uma maneira de prolongar no tempo aquilo que de forma concentrada nem sempre foi possível estar ao alcance de todos tal a densidade e diversidade de temas tratados em simultâneo. O Congresso ao envolver 343 autores de palestras, mesas redondas, comunicações curtas orais ou em posters foi uma afirmação de vitalidade que não se pode perder e que se pretende potencializar e publi* Vasco Pereira - Fotografias e Vídeo Telefone: 96 607 69 54 / 21 851 88 94 (gravador) 58 RPCV (2002) SUPL. 119: 47-66 car no formato de artigos com a qualidade, a exigência e o rigor a que a nossa revista nos habituou. João Ramalho Ribeiro Presidente da Direcção Cartas ao Editor Congresso dos Veterinários da Macaronésia e XI Encontro dos Veterinários dos Açores, Madeira, Canárias e Cabo Verde Decorreu no Funchal, de 20 a 27 de Julho de 2002 o Congresso dos Veterinários da Macaronésia e XI Encontro dos Veterinários dos Açores, Madeira, Canárias e Cabo Verde. Segundo conseguimos averiguar a “Macaronésia” é uma área geológica, fitológica e zoológica, constituída actualmente por um conjunto de ilhas de natureza vulcânica que teriam surgido há cerca de 65 milhões de anos (no início da era terciária), quando apareceram os primeiros mamíferos e as plantas apresentavam já uma certa evolução anatómica. As ilhas dos arquipélagos dos Açores, Madeira, Canárias e Cabo Verde estariam integradas nessa área pois algumas delas apresentam características geológicas afins e uma flora de lauráceas como o til, o vinhático, o dragoeiro e outras. Naturalmente que essa raiz comum aliada ao isolamento insular, sempre presente, fez com que os colegas que trabalham nessas áreas procurassem reunir-se. Inicialmente limitados ao triunvirato, das Regiões Autónomas: Açores, Madeira, Canárias, estendeu-se depois à República de Cabo Verde, ou seja a todos os actuais representantes da Macaronésia. Foi no seu X Encontro realizado em Calleta de Fuste, ilha de Fuerte Ventura (Canárias) que ficou decidida a criação da Associação dos Veterinários da Macaronésia e que os respectivos Estatutos viessem a ser aprovados neste XI Encontro como de facto veio a suceder. Assim, na concretização das recomendações do encontro de Fuerte Ventura, tiveram lugar no Funchal de 20 a 27 de Julho de 2002, as reuniões em epígrafe. Estiveram presentes mais de meia centena de colegas, das três regiões autónomas e da República de Cabo Verde que apresentaram e discutiram temas relacionados com: segurança alimentar, zootecnia, clínica, cirurgia, patologia animal e as novas terapêuticas, havendo igualmente uma manhã destinada à apresentação de temas livres. A sessão de abertura foi presidida pelo Excelentíssimo Presidente do Governo Regional da Madeira, Dr. Alberto João Jardim. À sessão de encerramento presidiu o Excelentíssimo Secretário Regional do Ambiente e dos Recursos Naturais, Dr. Manuel António Rodrigues Correia. O coordenador do Congresso, Dr. Fernando Santos, leu as conclusões dos trabalhos e entregou à colega Anália Olende, representante da República de Cabo Verde, “o testemunho” respectivo, visto ser o seu país o organizador do próximo Congresso, em Outubro de 2003. SUPLEMENTO Eis um extracto das conclusões do I Congresso dos Veterinários da Macaronésia: 1º os Estatutos da “Associação dos Veterinários da Macaronésia” a qual tem como finalidades fundamentais o fomento de conhecimentos e a valorização das actividades veterinárias nestas Regiões, contribuindo para o seu desenvolvimento científico, técnico, económico e social, e promover a realização de trabalhos científicos de interesse comum foram aprovados por unanimidade e aclamação; 2º reafirmam a disposição de continuar a assumir integralmente o seu papel interventor e dinamizador nos processos de salvaguarda da Saúde Pública, pela avaliação e controlo da Segurança dos Alimentos; 3º sublinha-se a inquestionável preparação técnicocientífica dos médicos veterinários para o desenvolvimento e implementação de sistemas de avaliação, gestão e comunicação dos riscos sanitários. Neste domínio os M.V. consagram os princípios da independência e da excelência dos organismos de coordenação na Segurança Alimentar e reafirmam a função decisiva da comunicação em situações de risco potencial, a qual deverá se feita de uma forma clara e pragmática, no sentido da criação de um clima geral de confiança, para que fiquem acauteladas todas as vertentes que envolvem a informação veiculada e, deste modo, evitarem distorsões especulativas; 4º relevam o interesse e a importância do desenvolvimento de estudos e caracterização de produtos regionais, de que é exemplo o “Requeijão Madeirense”, para que haja uma integração tecnológica do saber popular e aproveitamento das matérias primas, e a consequente valorização, enriquecimento e especificidade das comunidades rurais; 5º consideram que a aposta das regiões ultraperiféricas, no âmbito da fabricação de produtos de origem animal, deverá ser direccionada para produtos de reconhecida qualidade; 6º defendem a utilização de produtos alternativos, designadamente os subprodutos da agricultura, na formulação de alimentos compostos para animais, pois assim se contribui para um melhor ambiente, sem alteração da competitividade nutritiva; 7º realçam a importância e a dinâmica actuais da produção biológica com eventual adaptação de estruturas tradicionais e sublinham o seu papel na salvaguarda do ambiente, valorização e sustentabilidade das explorações pecuárias; 8º quanto à bovinicultura na Região Autónoma da Madeira salientam o interesse na criação de animais leiteiros ou mistos, concentrada em nichos territoriais e aproveitamento de alimentos locais, com transformação do leite em produtos de valor acrescentado e uma produção de carne de forte cariz regional. Neste contexto salientam o reforço da colaboração com a Região Autónoma dos Açores e a sua vasta experiência. 9ª quanto à ovinicultura na Região Autónoma da Madeira julgam que a sua intensificação será de reco60 RPCV (2002) SUPL. 119: 47-66 mendar nos bananais, numa interligação entre as produções pecuária e agrícola aproveitando a experiência existente na Comunidade Autónoma das Canárias; 10ª o papel social crescente dos “animais de companhia” traduz-se num aumento da prestação de serviços clínicos, pelo que estes Eventos têm particular importância para uma actualização e formação permanente; 11ª a terapêutica em Medicina Veterinária, tem acompanhado a evolução tecnológica, mas salientam que sejam ultrapassadas constrições regulamentares existentes na União Europeia para que exista no mercado um leque terapêutico que satisfaça as necessidades manifestadas pelos clínicos veterinários; 12ª os representantes de Cabo Verde salientaram o risco permanente que a Peste Suína Africana representa para as ilhas do Arquipélago e a grande atenção que as instâncias internacionais lhe dedicam 13ª a prevenção contra as carraças na ilha do Porto Santo é uma medida fundamental para a prevenção das doenças que elas transmitem ao homem e aos animais. Agradeceram depois a todos os conferencistas, patrocinadores, participantes e colaboradores, congratulando-se com o nível técnico-científico das comunicações, e ao Governo Regional da Madeira o apoio dispensado. a.m.m. 2002 Notas sobre publicações Anatomy of the Dog - An Illustrated Text Budras, K. D. et al. Slütersche & co. KG, Verlag und Drukerei (eds.), 4ª edição, 2002 Integrando o espólio da biblioteca desta Sociedade encontra-se o livro “Anatomy of the Dog - An Illustrated Text”, editado em versão inglesa e resultado de um trabalho conjunto entre professores de Anatomia das Universidades de Berlim e de Sydney. Trata-se de um bom atlas, soberbamente ilustrado, cuja definição de conteúdos assenta na anatomia regional, sem que seja contudo esquecida a anatomia de superfície e o integumento comum, e onde é dado especial realce às estruturas palpáveis com interesse nas áreas clínicas. Os capítulos que versam a anatomia regional contemplam sumariamente as seguintes regiões: coluna vertebral e tórax, regiões cervical e peitoral, membro SUPLEMENTO torácico, parede abdominal, região mamária e prepucial, região inguinal, coração e áreas cardíacas, cavidade abdominal, cavidade peritoneal, órgãos urogenitais da fêmea e do macho, região anal, membro pélvico, cabeça, cérebro e meninges, órgãos da visão, vestibular, gustativo, olfactivo e vomeronasal. Dentro de cada um destes capítulos é realizada, sempre que oportuno, uma abordagem funcional das estruturas envolvidas, o que torna mais atraente o conteúdo programático, e também clarifica o propósito e importância da aprendizagem anatómica. Um importante capítulo sobre propedêutica anatómica viabiliza a revisão ou aprendizagem de conceitos essenciais sobre osteologia, artrologia e miologia. Este capítulo surge com o objectivo de fixar o leitor na clarificação de ideias sobre as modificações de diversos parâmetros em idades diferenciadas, ainda que dentro de valores homeostáticos. O mais notável dos capítulos concerne à descrição das bases físicas e tecnológicas que viabilizam o uso de técnicas como os raios X e a ultrasonografia como meios de diagnóstico. Este capítulo surge desenhado de forma muito clara e notavelmente documentado do ponto de vista iconográfico, quer com imagens de situações normais quer com outras que consistem em desvios da normalidade. Na nossa opinião, a finalidade (e também a dificuldade) da estruturação do pensamento anatómico traduz-se na capacidade de entender o corpo como uma estrutura tridimensional que permite a descrição de diferentes estruturas em conformidade com o plano segmentar a partir do qual se parte para realizar essa descrição. Quando tal se torna realidade o corpo não é mais encarado como algo misterioso. Se a este conhecimento juntarmos a funcionalidade subjacente então o passo para a anatomia funcional foi realizado. Do nosso ponto de vista, este atlas é um excelente contributo para esse estágio do conhecimento. Graça Alexandre - Pires Professora de Anatomia da Faculdade de Medicina Veterinária de Lisboa Colecção Veterinária XXI, números 1, 2 e 3 Publicações Ciência e Vida, Lda. 1 - Monitorização de Quadros Lesionais em Suínos ao Abate Jurij Sobestiansky, Chediak Matos, Matias de Sousa e Rui Perestrêlo Vieira RPCV (2002) SUPL. 119: 47-66 Na “Colecção Veterinária XXI” de “Publicações Ciência e Vida” acaba de surgir a publicação com o número 1, que tem o título em epígrafe. Trata-se de um conjunto de regras para a detecção/recolha/avaliação/ diagnóstico de doenças com evoluções sub–clínicas que podem colocar em risco económico as explorações suinícolas, por passarem facilmente despercebidas ao proprietário ou ao clínico, mas detectáveis no matadouro no momento do abate. Para atingir a finalidade em vista, na qual a avaliação estatística é fundamental, torna-se necessário aplicar um conjunto de regras que permitam a correcta recolha dos elementos necessários aos fins pretendidos, variáveis de acordo com o problema detectado. Escrevem os autores que o seu objectivo é auxiliar o médico veterinário na identificação e quantificação de doenças por meio de exames macroscópicos das vísceras e de carcaças de suínos abatidos e na interpretação dos resultados. Em nossa opinião os autores conseguiram o fim que pretendiam, pois o volume em questão está repleto de uma documentação iconográfica a cores e a preto e branco que documentam os casos a monitorizar e esclarecem os interessados. São seus autores, além do Doutor Rui Perestrêlo Vieira, os colegas seus colaboradores em outras andanças, docentes na Universidade Federal de Goiás, no Estado de Goiânia, Profrs. Jurij Sobestiansky, Chediak Matos e Matias de Sousa. Para todos vão as nossas mais efusivas saudações por se tratar de uma publicação, tanto quanto sabemos única na nossa língua, que recomendamos. 2 - Importância das Micotoxinas na Alimentação Animal– acção da zearalenona no ciclo reprodutivo dos suínos Miguel Penaforte e Sousa, Luiza Carvalho, Miguel Viegas, Susana Santo Com coordenação do Doutor Rui Perestrêlo Vieira e autoria dos colegas Miguel Penaforte e Sousa, Luiza Carvalho, Miguel Viegas e Susana Santo acaba de surgir nas livrarias o nº 2 da “Colecção Veterinária XXI”, editada por “Publicações Ciência e Vida, Lda.”, que tem por título: “Importância das Micotoxinas na Alimentação Animal” e como sub-título: “Acção da Zearalenona sobre o Ciclo Reprodutivo dos Suínos”. Que nos perdoem os autores, mas atrevemo-nos a dizer que os títulos talvez estejam trocados, pois, quanto a nós o capítulo mais importante é precisamente o que figura em segundo lugar. De facto, das 59 páginas que formam a pequena brochura, 39 são dedicadas à zearalenona e apenas 4 à importância desses metabolitos fúngicos na patologia animal. Longe vai o tempo em que se alimentavam os animais com tudo quanto estaria impróprio para o consumo humano. E foram precisamente as micotoxinas que obrigaram à revisão do problema, quando surgiu a “Turkey X disease” de consequências desastrosas para os avicultores britânicos. A curta introdução que antecede o capítulo da zea61 SUPLEMENTO ralenona está correcta mas é ultra-sintética e refere-se apenas aos animais domésticos. Nada se diz sobre o homem. Porquê? Não será também sensível? Que nos preocupemos com a qualidade dos alimentos destinados aos animais está correcto, mas como biologistas e higienistas, que também somos, não esqueçamos o homem cada vez mais submetido a riscos alimentares de efeitos ainda pouco ou nada conhecidos mas que enchem os bolsos de alguns, tanto mais que a toxina F2, pode desenvolver-se nos cereais em geral e não somente no “Zea mays”. Como a suinicultura e a sua patologia continua sendo a preocupação dominante do coordenador desta colecção, talvez seja essa a justificação da orientação dada a esta pequena mas importante brochura. É certo, contudo que, na segunda parte, na página 45 se escreve “… muito poucas empresas de alimentação humana têm um rigoroso controlo de micotoxinas nos alimentos, particularmente os produtos de origem animal (em especial os suínos e as aves) e os produtos à base de milho e/ou trigo (ex.: comida para bébé) o que torna os consumidores algo receosos relativamente à compra destes géneros alimentícios, afectando portanto a economia em geral”. Ora, esta é que nos parece a grande importância das micotoxinas e a justificação do enorme somatório de estudos que neste capítulo tem sido produzido, inclusivé no nosso país e não vimos referenciado na bibliografia citada o que poderia ser útil a leitores desejosos de completarem os seus conhecimentos sobre o assunto e sejam pouco versados em línguas estrangeiras, ou não se terá publicado NADA que mereça ser citado? Postos estes reparos consideramos o livrinho analisado de uma importância e de uma oportunidade que o recomendam, sem reticências!… 3 - Maneio em suinicultura Rui Perestrelo É o título do terceiro volume da “Colecção Veterinária XXI” que “Publicações Ciência e Vida Lda.”, a mesma editora que há já alguns anos, sob a direcção do colega Doutor Rui Perestrêlo Vieira vem dando à estampa, trimestralmente, a “Revista Técnica de Suinicultura”. Agora surge-nos, no correio, por amável deferência do seu autor, um pequeno/grande volume no qual aborda o “Maneio em Suinicultura”. De facto, quanto a nós, ninguém melhor do que Perestrêlo Vieira poderia mostrar–nos numa centena de páginas as várias facetas desse tema e a sua importância para o bemestar suinícola, sinónimo de bons resultados económicos em qualquer exploração. De facto somente um especialista poderia resumir e apresentar de forma tão atractiva, em linguagem simples, ajudada por numerosos desenhos, esquemas e gravuras originais, na sua imensa maioria, um tema extremamente complexo como o abordado. Atrevemo-nos a considerar esta pequena obra como de consulta e estudo, obrigatórios para todos que se interessem pela produção de suínos: 62 RPCV (2002) SUPL. 119: 47-66 estudantes, médicos-veterinários, zootecnistas, suinicultores. Eis alguns dos capítulos em que a obrazinha se divide: “Defesa Sanitária, Quarentena e Adaptação”, “Organização do Trabalho”, “Maneio dos Animais e Cuidados a Ter com o Meio Ambiente”, “Reprodução”, “Maternidade”, “Parto”, “Desmame”, “Engorda”, “Higiene e Vazio Sanitário”. Apenas um senão, se me é permitido, nos cuidados a ter com o meio ambiente, são abordados apenas os relativos às explorações e nada é dito sobre as relações entre elas e o ambiente onde se inserem. Sabendo-se que as explorações porcinas são poluidoras ambientais por excelência apenas se aconselha e salienta, logo na página 11 e a abrir: “respeite a legislação”! Poderá argumentar-se que com isso ficaria tudo dito mas não se esqueça de que vivemos em Portugal, um País onde o respeito pelo ambiente é ignorado e desprezado… António Martins Mendes no Alto da Ajuda em Setembro de 2002. Notas sobre sites na internet A internet constitui na actualidade não só um instrumento de trabalho mas também uma fonte de divulgação e conhecimento, incluíndo a nossa área de formação, a medicina veterinária. Assim, iniciamos esta rúbrica onde o objectivo é a divulgação de alguns sites que possam ser úteis nas diferentes áreas das ciências veterinárias, com a apresentação do site da European School for Advanced Veterinary Studies, www.vetcontact.com Esta página permite a consulta de espaços do foro estritamente profissional, a divulgação de cursos e eventos (VetAgenda), apresentação de posters e ainda a consulta de um espaço de classificados. Reuniões científicas e cursos, agenda VI Jornadas Internacionais de Medicina Veterinária: decorrerão na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, de 25 a 27 de Outubro de 2002. Os estudantes do curso de Medicina Veterinária da UTAD dedicam este ano as suas jornadas ao desenvolvimento crescente em meios técnicos e científicos colocados ao dispor do Médico Veterinário e ao interesse destes pela clínica e cirurgia de animais de companhia. Entre os palestrantes convidados contam-se nomes de reco- SUPLEMENTO nhecido prestígio nas respectivas áreas de trabalho, os colegas J. H. Duarte Correia, Maria Manuela Niza, Rita Payean Carreira e ainda, Stephen J. Ettinger, John D. Bonagura entre outros. Informações: +351919119154,; +351963830192; +351966883140; +351966115336; e-mail: [email protected] XII Congresso de Zootecnia: sob o lema “As Novas Tecnologias da Informação e a Biotecnologia em Ciência Animal”, terá lugar em Vila Real, de 21 a 23 de Novembro de 2002, na Universidade de Trás-osMontes e Alto Douro. Trata-se de um congresso organizado pela Associção Portuguesa dos Engenheiros Zootécnicos e que pretende ser abrangente e representativo de todos quantos desenvolvem a sua actividade em conexão com a Zootecnia. O programa inclui sessões subordinadas aos temas: A Zootecnia Actual; A Biotecnologia em Ciência Animal; A Globalização da Informação; Nutrição e Alimentação e ainda sessões dedicadas à Produção Animal. Informações: Associação Portuguesa dos Engenheiros Zootécnicos. Direcção Regional Norte. Apartado 60. 5001-909 Vila Real. Portugal. Tel/Fax: 259325261. E-mail: [email protected]; website: http://www.utad.pt/apez A 2ª Conferência Medicamentos na Alimentação Animal terá lugar em Lisboa, no hotel Metropolitan, no dia 23 de Janeiro de 2003. O objectivo desta conferência é proporcionar uma visão sobre a realidade actual e perspectivas futuras dos medicamentos incorporados na alimentação animal, bem como alertar para o enquadramento das Pré-Misturas Medicamentosas e Aditivos no actual quadro regulamentar nacional e internacional. Informações: Bio Consulting, consultadoria e serviços Lda., Rua Adelaide Cabete, nº 2, 6º C, 1500-024, Lisboa, Apartado 50179 1700 Lisboa. Tel: 218540670, Fax: 218540677. E-mail: [email protected] Expozoo’ 03, 5º Salão Internacional de Zootecnia; Inernutri’ 03, 2ª Feira Internacional de Produção e Nutrição Animal; Veterinária’ 03, 1º Salão de Produtos e Equipamentos para Veterinária, decorrerão em simultâneo na Feira Internacional do Porto (EXPONOR), de 6 a 9 de Fevereiro de 2003. A Expozoo e a Internutri serão, este ano reforçadas com uma valência extra, o Veterinária’ 03 que, pelo facto de ocorrerem em simultâneo, provoca sinergias entre as empresas representativas dos produtos, serviços e equipamentos para os animais domésticos e de companhia. Paralelamente a esta iniciativa, serão promovidas reflexões, debates e seminários, cujo objectivo é torná-la um ponto de encontro de todos os profissionais do sector. Informações: Exponor, Feira Internacional do Porto 4450-617 Leça da Palmeira. Portugal. Tel: +351229981012, Fax: +351229981482. E-mail: [email protected]; website: www.exponor.pt 64 RPCV (2002) SUPL. 119: 47-66 O 9th FECAVA CONGRESS Federation of European Companion Animal Veterinary Associations e o 12th APMVEAC NATIONAL CONGRESS Associação Portuguesa de Médicos Veterinários Especialistas em Animais de Companhia decorrerá no próxino ano, de 22 a 25 de Maio no Estoril, Portugal. Informações: http://www.apmveac.pt/FECAVA ou no Secretariado da APMVEAC: Rua Américo Durão, Nº 18 - D (às Olaias)1900-064 Lisboa – Portugal. Tel: + 351 21 840 41 79 ;Fax- + 351 21 840 41 80 e-mail: [email protected] European Multicolloquium of Parasitology: terá lugar em Valencia, Espanha, de 19 a 23 de Julho de 2004. Sob os auspícios da Asociación de Parasitólogos Españoles, o evento decorrerá na Faculdade de Farmácia da Universidade de Valencia. Das várias propostas para colóquios, simpósios, workshops e reuniões satélites, referimos entre muitas, paleoparasitology, malaria vaccines, leishmaniasis, immunopathology in concomitant infections. Novas propostas deverão ser enviadas para o comité organizador até 20 de Dezembro de 2003. Está ainda prevista a organização de cursos de parasitologia durante o congresso. Informações: EMOP IX. Departamento de Parasitología. Facultad de Farmacia. Universidad de Valencia. Av. Vicent Andrés Estellés s/n. 46100 Burjassot-Valencia, Spain. Fax: +34963864769. E-mail: [email protected]; website: http://www.uv.es/emop9 Informação associativa Estórias com gatos…e outros animais, A. Martins Mendes. O Professor António Martins Mendes doou à Sociedade Portuguesa de Ciências Veterinárias 50 exemplares do seu livro “Estórias com gatos…e outros animais” que se destinam a ser vendidos em benefício da Sociedade. Citando o Jornal de Letras, Artes e Ideias de 5 de Maio de 1999, por altura do seu lançamento: «…A. Martins Mendes estreia-se, aos 77 anos, na ficção com dezoito estórias de gatos (e não só de gatos). Todas elas inspiradas em casos clínicos que se lhe iam deparando e sobre os quais foi escrevendo, até que reveladas a um amigo, este aconselhou a publicação. Felizmente – dir-se-ia.». Preço 6€ para não sócios, e 5€, para sócios. Pedidos à Sociedade Portuguesa de Ciências Veterinárias. SUPLEMENTO Movimento de sócios: sócios admitidos e readmitidos de 1 de Julho a 30 de Setembro de 2002. Sócios efectivos: 1666 António Rosário Oliveira; 1778 António José Raimundo; 1794 Filomena Mendes Pires Afonso; 2097 Maria do Carmo Cabral; 2098 Catarina Payne da Costa; 2099 Mariana Filipa Pereira de Melo; 2100 Luís Ricardo Pereira da Silva; 2101 Andreia Filipa de Campos; 2102 Teresa Maria Candeiro; 2103 Carlos Eduardo Correia dos Santos; 2104 Maria Elisabete Lima Tavares; 2105 José Andrade de Carvalho; 2106 Cristina Maria Lopes de Almeida; 2107 Rui Alberto Gomes de Almeida; 2108 Carsten Luís Walter Dammert Hasler; 2109 Vanessa Catarina Plantier Touraes Abreu e Silva; 2110 João José Simões Correia; 2111 Célia Maria Dias da Costa; 2112 Mário Rui RPCV (2002) SUPL. 119: 47-66 Teixeira Gomes; 2113 Dinora Maria Sequeira Xavier; 2114 Carlos Eduardo da Silva Morbey; 2115 João Pedro Simas; 2116 Paula Campos R. da Costa; 2117 Ludovina Neto Padre; 2118 Maria do Carmo da Silva Feliciano; 2119 Maria Virgínia da Silva Castelão; 2120 Patrícia Maria Tavares Santos. Necrologia: faleceu no dia 15 de Abril do corrente ano o Dr. João Luís Machado Toste, sócio nº 842 da nossa Sociedade. Faleceu no dia 25 de Setembro do corrente ano o Dr. Manuel Elias Trigo Pereira, sócio nº 738 da nossa Sociedade. A suas famílias apresentamos as nossas sentidas condolências. 65