REVISTA PORTUGUESA
SUPLEMENTO
DE
CIÊNCIAS VETERINÁRIAS
Congresso comemorativo dos 100 anos da Sociedade Portuguesa
de Ciências Veterinárias
Programa
O Congresso foi organizado com a colaboração de
todas as Sociedades e Instituições do ramo das Ciências Veterinárias que a seguir se indicam: Associação
dos Médicos Veterinários de Equinos (AMVE); Associação Portuguesa de Buiatria (APB); Associação
Portuguesa dos Médicos Veterinários Especialistas
em Animais de Companhia (APMVEAC); Direcção
Geral de Veterinária (DGV); Laboratório Nacional de
Investigação Veterinária (LNIV); Ordem dos Médicos
Veterinários (OMV); Secção Portuguesa da Associação
Mundial de Ciência Avícola (SPAMCA); Sindicato
Nacional dos Médicos Veterinários (SNMV); Sociedade Científica de Suinicultura (SCS); Sociedade Portuguesa de Ciências Veterinárias (SPCV); Sociedade
Portuguesa de Epidemiologia e Medicina Veterinária
Preventiva (SPEMVP); Sociedade Portuguesa de
Patologia Animal (SPPA); Sociedade Portuguesa de
Recursos Genéticos Animais (SPRGA); Sociedade
Portuguesa de Reprodução Animal (SPRA). Cada
uma dessas Sociedades/Instituições foi responsável
por uma ou mais Sessões e ou Mesas Redondas conforme se pode constatar pelo Programa. Houve ainda a
colaboração das Secções de Tecnologia e de Inspecção
Sanitária dos produtos de origem animal da Faculdade
de Medicina Veterinária, que organizaram uma sessão
científica alusiva àquelas áreas.
O Programa envolveu 102 participantes convidados,
quer como Coordenadores de Sessões (27), Palestrantes ou Participantes de Mesas Redondas, que se organizaram em sessões simultâneas que decorreram em 5
salas diferentes e em 2 edifícios do Tagus Park - Edifício Central (Anfiteatro A e Sala D e E ) e o edifício de
aulas do Instituto Superior Técnico (Anfiteatro B e C)
- durante 3 dias (10, 11 e 12 de Outubro de 2002).
Foi uma agradável surpresa assistir à submissão ao
Congresso de 50 posters e 60 comunicações livres que
representam contributos de todas as Equipes de Investigação que trabalham nesta área científica. Houve assim
trabalhos de todas as Universidades e Laboratórios de
Estado onde as Ciências Veterinárias estão representadas, bem como trabalhos vindos de Entidades Públicas
ou Privadas com contributos mais do domínio da tecnologia deste ramo da Ciência.
No conjunto tanto de autores convidados como dos
autores de trabalhos originais apresentados, como
comunicações livres, estiveram envolvidas no Congresso 357 autores e co-autores, o que é significativo
se considerarmos que este Congresso foi essencialmente uma iniciativa de âmbito nacional.
Congressistas
O Congresso admitiu a possibilidade de inscrições
para 3 dias e para 1 dia, dado o carácter específico de
algumas sessões que levaram ao interesse de alguns
participantes somente nas actividades de um ou dois
dias. Por outro lado houve um preço especial para
estudantes e uma redução para Sócios da Sociedade
Portuguesa de Ciências Veterinárias.
No final há a registar a presença de 477 congressistas, dos quais 114 na qualidade de convidados, tendo a
maioria optado pela participação nos três dias do Congresso (três dias 304; dois dias 9; um dia 164 congressistas). Nos 477 congressistas, registámos a presença
de 32 estudantes das diferentes Universidades, que
ministram Medicina Veterinária.
Divulgação
Embora ainda sem conteúdo programático definitivo,
a realização do congresso foi logo anunciada a mais de
um ano de distância da data prevista, na Revista Portuguesa de Ciências Veterinárias. O Congresso começou a ser divulgado de forma interactiva e dinâmica
a partir de Maio de 2002 através da criação de um
site dedicado na Internet: http://aemhorta.tripod.com/
congresso/.
Foi com surpresa que verificámos o impacto que o
site teve desde o início, pois através de um programa
específico foi possível acompanhar as visitas bem
como a sua origem e nacionalidade. Chegámos a
ter 170 visitas diárias provenientes de vários países,
em particular da União Europeia, Lusófonos, ou Sul
Americanos. Obviamente cerca de 70% eram visitas
de portugueses, em particular das diferentes Universidades, Laboratórios de Estado e Entidade Públicas
ou Privadas. De referir a curiosidade que com grande
frequência recebemos visitas a partir do servidor da
FCT, denotando o interesse com que esta instituição
acompanhou a evolução do evento.
Este site foi crescendo com o aproximar do Congresso e no final contemplava o programa completo,
a indexação dos autores, quer dos Convidados, quer
das Comunicações Livres, dos títulos dos trabalhos e
sua forma de apresentação. Aí se forneceram todas as
indicações aos autores sobre dimensões dos posters ou
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Foto: Vasco Pereira*
Comissão Executiva deste Congresso acompanhou de
muito perto e desde a primeira hora a sua organização.
Deu os parabéns à Sociedade pelos 100 anos que agora
comemora e desejou aos congressistas e palestrantes
um bom trabalho.
O orador convidado foi o Prof. Dr. Fernando Bernardo que dissertou sobre a História da Sociedade
desde a sua fundação até aos nossos dias. Finalmente,
o Presidente da Sociedade encerrou as intervenções
dando indicações do que estava programado para o
Congresso nomeadamente locais, horas e sessões.
O Presidente da Direcção da SPCV, Professor Doutor João Ramalho
Ribeiro, na sessão inaugural do Congresso
dos resumos das comunicações para o Livro de Comunicações do Congresso. Publicámos um Programa
provisório só com as entidades envolvidas e os grandes
objectivos do Congresso, procedendo ao seu envio
personalizado por correio a cerca de 4000 potenciais
interessados. Foi editado um cartaz, o qual foi distribuído por todas as Universidades, Institutos Politécnicos,
Direcções Gerais do Ministério da Agricultura, Direcções Regionais de Agricultura, Laboratórios de Estado
etc. Já próximo da data do Congresso foi editado o
Programa definitivo resumido, que foi distribuído por
todas as Instituições/Sociedades que se responsabilizaram pela organização das Sessões e, portanto, do Programa Científico aos seus potenciais sócios/membros/
interessados, comportando o envio por correio de 5000
exemplares a outros tantos potenciais interessados.
Após a realização do Congresso estamos a disponibilizar os 158 trabalhos publicados no Livro de Comunicações do Congresso, em regime de livre acesso online (http://rpcv.fmv.utl.pt/).
Cerimónia de Abertura
À Cerimónia de Abertura assistiram como Convidados os Bastonários ou representantes de várias Ordens
ou equiparados, no anfiteatro principal (Anfiteatro A)
do Tagus Park às 10:30h do dia 10 de Outubro de 2002.
Presidiu a esta Sessão Sua Exª. o Senhor Professor
Ramôa Ribeiro, na qualidade de Presidente da Fundação para a Ciência e Tecnologia, tendo estado também
na mesa o Bastonário da Ordem dos Médicos Veterinários Dr. Jaime Menezes, o Presidente da Assembleia
Geral da Sociedade Portuguesa de Ciências Veterinárias Prof. Dr. Carlos Ferreira, o Administrador do
Tagus Park Eng. Nunes Vasconcelos , o vereador da
Câmara Municipal de Oeiras José Ferreira de Matos,
e o Presidente da Sociedade Portuguesa de Ciências
Veterinárias Dr. João M. Carvalho Ramalho Ribeiro.
Depois de abertos os trabalhos discursou o Prof.
Ramôa Ribeiro que por dificuldade de agenda teria de
se ausentar antes de terminar a sessão. Elogiou a Sociedade, congratulou-se com a organização do Congresso
e em especial porque na sua qualidade de membro da
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Cerimónia de Encerramento
A cerimónia de encerramento teve lugar no Anfiteatro A (Tagus Park) no dia 12 de Outubro pelas 18:30h
e foi presidida por sua excelência o Senhor Ministro
da Ciência e do Ensino Superior, Prof. Pedro Lynce.
Participaram na mesa o Presidente do Sindicato Nacional dos Médicos Veterinários, Dr. João Alvoeiro, o
Presidente do Instituto Nacional de Investigação Agrária, Prof. Dr. José Empis, o Director do Laboratório
Nacional de Investigação Veterinária Doutor Alexandre
Galo e o Presidente do Instituto Superior Técnico Prof.
Dr. Matos Ferreira.
Depois da aberta a sessão o Presidente da Sociedade
Portuguesa de Ciências Doutor João M.C. Ramalho
Ribeiro fez uma breve descrição da forma como tinha
decorrido o Congresso e congratulou-se com o êxito da
iniciativa que apesar de ambiciosa (5 salas e 2 locais a
trabalhar em simultâneo) tinha atingido plenamente os
objectivos. Apresentou algumas conclusões de âmbito
geral nas áreas do Ensino e Formação contínua, do
Bem Estar Animal e da Segurança e Qualidade Alimentar, que terão de ser consideradas como áreas prioritárias a merecer atenção redobrada da Comunidade
Científico-Técnica.
Por fim encerrou os trabalhos Sua Excelência o
Senhor Ministro da Ciência e Ensino Superior, que deu
os parabéns à Sociedade pela efeméride destacando a
figura do Prof. Vaz Portugal no domínio das Ciências
Veterinárias, personalidade que nos deve servir de
referência. Por último aproveitou a oportunidade para
referir que os tempos são de mudança, alertando para a
necessidade de terminar a fase expansionista e de massificação do Ensino Superior apostando na avaliação
como instrumento da promoção da qualidade, quer do
Ensino, quer da Investigação, ou do desenvolvimento
tecnológico.
Publicações
Para além das já atrás citadas, há a destacar como
publicação principal deste Congresso os “Proceedings
of the Veterinary Sciences Congress 2002”; Edição:
Sociedade Portuguesa de Ciências Veterinárias; composto e impresso: Oficinas Gráficas da Direcção Geral
de Veterinária; tiragem: 600 exemplares; ISBN: 972-
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97376-5-7 Depósito Legal 186073/02; nº páginas: 536.
Esta publicação contém os trabalhos integrais dos
oradores convidados (cuja recepção ocorreu até 31 de
Agosto de 2002) com resumo em Inglês, bem como
todas as Comunicações Livres em versão resumida, em
Português e em Inglês. Aqui se incluem as apresentadas oralmente e sob a forma de poster. Esta publicação
foi entregue aos congressistas e está a ser distribuída
por Bibliotecas, Universidades, Associações de Estudantes etc. Paralelamente e, como já atrás se referiu,
esta publicação está a ser disponibilizada integralmente on-line e em regime de livre acesso em http://
rpcv.fmv.utl.pt/.
Agradecimentos
A Organização do Congresso beneficiou do apoio
dos Patrocinadores/Anunciantes e de algumas Instituições Públicas ou Privadas que permitiram aliviar
os encargos ou alargar a qualidade das condições que
se proporcionaram aos congressistas. Contudo é de
elementar justiça que aqui se reconheça e agradeça o
empenhamento das Instituições/Sociedades que propuseram o Programa das suas Sessões, convidaram
os Palestrantes, Coordenadores de sessão e de Mesas
Redonda dando assim conteúdo Científico-Técnico ao
Congresso. Foi este mesmo conteúdo Científico que
conferiu dignidade e interesse ao Congresso.
Foto: Vasco Pereira*
João Ramalho Ribeiro
Presidente da Direcção
Abertura do Congresso com a participação do Presidente da
Fundação para a Ciência e a Técnologia, Professor Doutor Fernando
Ramôa Ribeiro
Nota histórica sobre a fundação
da Sociedade Portuguesa
de Ciências Veterinárias.
Fernando Bernardo
Palestra proferida na sessão inaugural
Exmos. Senhor Presidente da Fundação para a Ciência e a Tecnologia, Senhor Bastonário da Ordem dos
Médicos Veterinários, Senhor Vereador da Câmara
Municipal de Oeiras em representação da Senhora
Presidente, Senhor Engº Nunes Vasconcelos, Gestor
do Taguspark, Senhores Presidentes da Mesa da
Assembleia e da Direcção da Sociedade Portuguesa de
Ciências Veterinárias, Senhores Convidados, Senhores
Professores, Minhas Senhoras e meus Senhores, Caros
colegas,
Gostaria de começar por saudar Vossas Excelências
e endereçar as minhas felicitações à Sociedade Portuguesa de Ciências Veterinárias por ocasião do seu
centésimo aniversário.
Pediu-me o Senhor Presidente da Sociedade que eu
proferisse aqui algumas palavras evocativas da fundação. Confesso que, quando aceitei esta incumbência
não avaliei bem o peso da solenidade que tal evocação
implicava, nem pesei adequadamente a responsabilidade e o alcance que se impõe numa efeméride única
como esta, tal é a grandeza que teve, e continua a ter, a
obra realizada pela Sociedade ao longo do seu primeiro
século de existência.
Não posso deixar de reconhecer que, por direito
próprio, quem deveria estar aqui a proferir as palavras
alusivas à efeméride, deveria ser o Senhor Professor
Mário Baptista Braz pelo contributo que tem dado à
história da medicina veterinária portuguesa e à própria
SPCV. Depois de consultar alguma documentação,
verifiquei que sou completamente incapaz de fazer
algo que se compare em qualidade ao que foi produzido na comemoração dos 50 e dos 75 anos. Decidi por
isso retomar as palavras que a este mesmo propósito,
o da fundação, foram proferidas nessas ocasiões, pelos
Professores Miranda do Vale e Mário Braz respectivamente, sendo que o meu constrangimento é total. Será
portanto com as palavras de um dos fundadores e as de
um dos mais prolíficos escritores da História da medicina veterinária que me proponho fazer esta evocação.
Como todos as organizações que se criam, também a
Sociedade Portuguesa de Medicina Veterinária teve os
seus antecedentes: teve um passado, instituiu-se, tem
um presente e tudo indica que terá um brilhante futuro,
pelo menos a avaliar pelo enorme sucesso deste Congresso do Centenário. Se os fundadores pudessem vislumbrar agora a extensão e a qualidade das realizações
científicas dos veterinários actuais, rejubilariam de
contentamento por certo, porque a produção científica
que hoje aqui vamos começar a apreciar traduz singularmente as motivações que inspiraram os pioneiros e
pelas quais se dispuseram a fundar a primeira Sociedade Científica do mundo agrário português. Neste
Congresso eles sentir-se-iam certamente compensados.
Comecemos pelos antecedentes. Corria o ano de
1894 quando «um grupo bastante numeroso de Veterinários, se consagrou a levar por diante um agremiação
[...] para bem cuidarem dos seus interesses morais
e materiais...»(3). Tudo se iniciou a 8 de Março.
Um grupo de docentes do Instituto de Agronomia e
Veterinária, reuniu-se com um grupo de veterinários
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de Lisboa e redigiu uma circular que endereçaram a
todos os veterinários portugueses na semana seguinte.
Nessa carta podiam ler-se as seguintes passagens:
«...dirigimos um apelo a todos os colegas espalhados
pelo País, afim de levar a cabo a realização de um
alto pensamento que proposto em diferentes épocas
[...] foi considerado como um ideal inatingível [...]
mas que hoje inadiavelmente se impõe, em nome do
progresso da ciência [...] dos interesses e dignidade
da família veterinária portuguesa, tão laboriosa e útil,
mas tão retraída e votada ao ingrato esquecimento...».
Referindo-se ao inestimável contributo dos Médicos
Veterinários para o desenvolvimento da pecuária
escreviam: «Portugal pode ufanar-se de possuir hoje
uma legislação completa e harmoniosa em matéria
de serviços pecuários, como a não tem a Inglaterra, a
Espanha, a Itália e nem mesmo a França, [...] os nossos
gados foram objecto de importantes investigações [...]
em tudo isto foi grande e profícua a colaboração dos
Médicos Veterinários Portugueses...» e a carta citava
exemplos comprovativos e brilhantes: o recenseamento
geral dos gados de 1870, a lei dos vícios redibitórios
de 1886, [...] os regulamentos de saúde pecuária e dos
serviços zootécnicos de 1889”.
Constatavam os signatários que «...apesar dessa larga
folha de serviços que assinalam a importância social
da nossa classe, há 64 anos que ansiamos por constituir uma associação onde, de viva voz ou por meio da
escrita, possamos apresentar em comum as dúvidas
que se levantam no nosso labor quotidiano, [...] há 64
anos que, apenas no vago da possibilidade, nos sorri a
ideia da posse de um jornal onde se afirme a vitalidade
e o saber desta classe quase ignorada [...] mas que,
uma vez unida, há-de erguer-se no conceito público,
haurida na Ciência [...] e alcançar o lugar a que tem
incontestável direito na Sociedade moderna...».
A carta terminava solicitando a todos os veterinários
uma resposta imediata para «...sem demora, se organizar a lista dos sócios e proceder à elaboração dos
estatutos e à fundação do jornal...», entenda-se a futura
Revista de Medicina Veterinária. Assinavam a carta
nove veterinários: José Maria do Santos, António Brito
da Trindade, Paulino de Oliveira, Salvador Gamito
de Oliveira, João Ferreira da Silva, José Maria Alves
Torgo, Manuel Diogo da Silva, João Sabino de Sousa,
João V. Paula Nogueira. Cinco dos signatários eram
docentes dos Instituto de Agronomia e Veterinária,
na época tutelado pelo Ministério do Fomento, aliás,
como todas as actividades agrárias e pecuárias.
A resposta dos colegas traduziu o grande êxito da
iniciativa, tudo correu bem durante a elaboração dos
Estatutos e constitui-se a associação, faltando apenas
a respectiva legalização. No entanto, um episódio,
um tanto frívolo, viria precipitar os acontecimentos
a refrear o entusiasmo inicial, forçando ao adiamento
do funcionamento pleno da agremiação por mais oito
anos. O episódio conta-se em poucas palavras. Um dos
jovens fundadores, um professor voluntarioso e muito
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dinâmico, Sabino de Sousa, entusiasmado com os
evidentes benefícios que a criação da Sociedade Científica poderia trazer para o desenvolvimento nacional,
apresentou ao Director Geral de Agricultura (conselheiro Elvino de Brito) «...uma missiva, na qual lhe são
enviados os cumprimentos da Sociedade nascente».
O momento sócio-político que se vivia no país era
pouco propício a iniciativas associativistas, sobretudo
quando tomadas por Republicanos convictos e militantes, como eram os proponentes. No país reinava uma
atmosfera taciturna, como consequência do ultimato
Inglês de 1891, por causa do “Mapa Cor de rosa”. A
revolta republicana do “31 de Janeiro” no Porto tinha
feito incendiar as mais revoltadas paixões republicanas. As autoridades administrativas públicas nutriam
profundas desconfianças contra os Republicanos,
sendo que este tipo de iniciativas, que conduziam ao
progresso e sobretudo as que provinham de associações ilegais, fundadas por republicanos, eram vistas
pelo poder como uma ameaça, pelo que o diligente
conselheiro, chefe burocrático da classe, mandou suspender todas as actividades da agremiação. Sabino de
Sousa viria a mostrar-se desgostoso com o processo
durante largos anos, anos que também ajudaram a
«amortecer a irritação».
As razões que moveram o conselheiro Elvino de
Brito tinham diversos antecedentes que entroncam
directamente nas razões profundas que inspiraram
os termos da carta de angariação de sócios enviada a
todos os veterinários, onde especificamente se lia «a
criação [...] que hoje inadiavelmente se impõe, em
nome do progresso da ciência [...] dos interesses e dignidade da família veterinária portuguesa, tão laboriosa
e útil, mas tão retraída e votada a um ingrato esquecimento [...] esta classe quase ignorada...»
O que se pretenderia significar com esta adjectivação?... quais os factos que justificavam o uso das
expressões «...tão retraída e votada a um ingrato esquecimento [...] quase ignorada»?. Quais seriam as razões
que levavam os signatários a sentir que os veterinários
eram ingratamente esquecidos? e por quem? É mais
uma vez Miranda do Vale que nos esclarece.
A raiz profunda deste mal-estar estava instalada no
Palácio da Cruz do Tabuado, entenda-se no Instituto de
Agronomia e Veterinária, e estendia-se às Intendências
de Pecuária por diversos pontos do país. O número de
estudantes de veterinária era incomensuravelmente
inferior ao dos agrónomos e silvicultores. Não se formavam mais de dois ou três veterinários por ano desde
a década de 1870. Os Professores de Medicina Veterinária tinham granjeado um enorme prestígio na comunidade científica e académica, e isso inspirava alguns
sentimentos menos nobres nos dirigentes monárquicos
do Instituto e da Direcção Geral de Agricultura. Isso
tê-los-á levado a praticar algumas das injustiças gritantes de que a carta se lamentava. O prestígio exterior
era outorgado sobretudo pelas Escolas Médicas e pela
Escola Politécnia.
Foto: Vasco Pereira*
SUPLEMENTO
Demonstração da Escola Portuguesa de Arte Equestre, no centro
hípico da Quinta da Beloura, ao qual se seguiu um beberete com a
participação de Shegundo Galarza
A figura central da controvérsia era Joaquim Inácio
Ribeiro que em 1882 havia criado o primeiro Laboratório Português de Bacteriologia, no Instituto (Cruz do
Tabuado), provisoriamente instalado no Laboratório de
Química. Em 1886, como corolário do consulado de
Ferreira Lapa, seria instalado autonomamente. Nesse
laboratório realizaram-se trabalhos notáveis para a
época. Os conceitos Pasteurianos foram introduzidos
com grande vanguardismo na formação veterinária,
...sendo o espírito científico dele decorrente rapidamente assimilado. Os veterinários que usufruíram das
condições laboratoriais, formados entre 1870 e 1900,
ficariam conhecidos como a “geração de ouro” (é
Miranda do vale que assim os designa).
No Laboratório de Bacteriologia entre 1886 e 1891
prepararam-se as primeiras vacinas contra o carbúnculo (antraz), produziu-se e testou-se a tuberculina,
tentou-se produzir maleína, produziram vacinas contra
o mal rubro, diagnosticou-se a raiva, estudou-se a actinomicose, diagnosticou-se a triquinelose, ensaiaram-se
soroterapias e hiper-imunizações, muito em voga na
época. Por exemplo, alguns membros da “geração de
ouro” estavam convictos que conseguiriam curar a
febre aftosa com soroterápia. Contrastou-se a pureza
de vacinas.
Para além do trabalho no Laboratório de Bacteriologia, a maior parte dos docentes e dos estudantes de
veterinária, tinham o privilégio de usufruir dos recursos do Matadouro da Câmara Municipal de Lisboa
(Picoas). Os lentes do curso de veterinária repartiam as
suas actividades pelo ensino, pela actividades técnicas
de apoio à Direcção Geral de Agricultura, e ao Matadouro de Lisboa, que funcionava a uns escassos 50
metros do Palácio da Cruz do Tabuado. Quase todos os
membros da “geração de ouro” iniciaram as suas carreiras fazendo Inspecção Sanitária nessa Matadouro.
Esta relação permitia aos lentes de Veterinária tirarem
o pulso ao estatuto sanitário dos efectivos pecuários
nacionais e realizarem muita investigação aplicada.
Nesse espaço, fora da alçada do Instituto de Agronomia e Veterinária, diagnosticaram-se os primeiros
casos de triquinelose (José Anastácio Monteiro -1881),
estudaram-se carnes tuberculosas (Sabino de Sousa),
daurina, carbúnculo hemático (antraz), febre aftosa,
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difteria, mal rubro, cisticercose; trabalhos rigorosos,
cientificamente fundados. A questão da epizootia de
febre aftosa que assolava o país era a maior preocupação dos lentes do Instituto. Mas todas as suas tentativas
de intervenção para o controlo da Virose esbarravam
com a indiferença das autoridades administrativas.
O espírito científico e as competências que se
desenvolveram eram extremamente avançadas para a
época e é por isso que Miranda do Vale, designa os
veterinários formados entre 1870 e 1900, a “geração
de ouro”; entre eles destacamos, pedindo desculpa por
alguma omissão involuntária: Joaquim Inácio Ribeiro,
José Antunes Pinto, Miguel Augusto Reis Martins,
José Anastácio Monteiro, João V. Paula Nogueira, José
Maria Alves Torgo, António Roque da Silveira, Ildefonso Borges, Manuel Diogo da Silva, João Francisco
Tierno, João Ferreira da Silva, João Sabino de Sousa,
José Miranda do Vale, António de Ávila Horta, António
Águeda Ferreira.
Os médicos não economizavam nas palavras para
enaltecer a obra do lente Joaquim Inácio Ribeiro, cuja
escola de bacteriologia antecedeu em uma década a de
Medicina, o Instituto Câmara Pestana. Esta instituição,
viria aliás a prestar um auxílio decisivo à sobrevivência
da Sociedade de Medicina Veterinária nos primeiros
anos da sua existência abrindo as portas para reuniões
da Direcção e para concorridas sessões científicas.
Sousa Martins, o conhecido lente da Escola Médica
de Lisboa, comentava a prestação científica dos veterinários num Congresso Nacional de Medicina em
Coimbra, a propósito de comunicações científicas
sobre tuberculose, carbúnculo e triquinelose, ...nos
seguintes termos «...ninguém lhes perguntou de onde
vinham, para só lhes perguntarem o que traziam. À primeira questão teriam respondido: do estudo; à segunda
responderam: sabedoria. Sabedoria positiva, não fantástica. Da que se firma em factos bem apurados; não
da que tenha por alicerce único sonhos ou delírios. Já
entre nós era condignamente apreciada essa plêiade de
valiosos homens de ciência, que sem favor, ombrearam
com os mais valiosos da classe médica propriamente
dita. A verdade porém, é que os seus créditos científicos se afirmaram de vez […] não porque se revelassem
maiores do que eram, mas porque só aí o país os pôde
ver a toda a luz da publicidade» (2).
Depois de Ferreira Lapa se ter reformado (1886),
os veterinários tinham perdido a pouca influência de
que ainda dispunham... “a geração de ouro”, fervorosamente republicana, não era devidamente apreciada
e considerada pela tutela monárquica do Instituto de
Agronomia e Veterinária. Os Veterinários do Instituto
de Agronomia e Veterinária, estavam agora convictos
de que a autonomia era a única alternativa possível
para a sua sobrevivência, a autonomia tornava-se absolutamente indispensável.
Uma série de injustiças tinham agravado ainda mais
essa relação em 1891, o ano do ultimato Inglês e das
revolta republicanas: o currículo do curso de veteri-
SUPLEMENTO
nária foi amputado de três disciplina (epizootias); o
laboratório de bacteriologia foi desanexado e passou
para a alçada da Direcção Geral de Agricultura; Inácio
Ribeiro foi desapossado da sua cadeira de “Epizootias
e Polícia Sanitária” (retoma em 1897); o hospital Veterinário é desanexado.
Entre 1894 e 1902 a sobrevivência foi difícil,
compensada certamente pela imersão no trabalho de
pesquisa, na caracterização do estatuto sanitário do
efectivo pecuário nacional. Ocupando os dias com trabalho meticuloso, registando, investigando, debatendo
os casos clínicos entre os pares e mostrando-os aos
estudantes. Os indicadores da expansão da epizootia de
febre aftosa eram alarmantes. A ideia era ir preparando
as soluções para os problemas sanitários da pecuária
nacional, ansiando convictamente que a hora de as
poder pôr em prática chegaria em breve.
Finalmente, chegou o dia em que os membros da
“geração de ouro” se reuniram, a 20 de Janeiro de
1902, numa sala da Assembleia Lusitana, no rés do
chão do nº 20 da Rua Passos Manuel. Aí aprovaram
de novo o estatuto redigido em 1894. Os trinta e três
veterinários presentes exortaram de entusiasmo, distribuíram entre eles diversas tarefas e rapidamente agendaram uma nova reunião para o dia 25. A questão da
sede, a organização e publicação da Revista, a revisão
dos Estatutos, o problema do surto de febre aftosa; os
regulamentos de Inspecção de Carnes; da higiene dos
leites, a reforma e autonomia do ensino veterinário,
fizeram fervilhar de trabalho os primeiros anos de
existência da Sociedade. Paula Nogueira assumiu um
papel fulcral na edição da Revista e na organização das
sessões científica preparatórias das edições.
Oficialmente a Sociedade Portuguesa de Medicina
Veterinária viria a ser constituída por alvará do Governador Civil de Lisboa, de 10 de Outubro de 1902 (faz
hoje precisamente cem anos). O objecto da sua actividade é «...essencialmente científico [...] propondo-se
estudar quaisquer assuntos próprios das ciências veterinárias, sob o ponto de vista especulativo e prático,
compreendendo nesta designação tudo quanto respeita
à medicina, à higiene dos animais domésticos, à zootecnia, e às questões da higiene pública [...] publicar
uma Revista que [...] dê conta dos trabalhos associativos e acompanhe o progresso [...] das ciências biológicas».
Durante os primeiros anos de agitada existência,
a Sociedade entregou-se freneticamente ao trabalho,
num contexto político extremamente desfavorável, mas
estando os membros da sociedade convictos de que as
suas produções científicas e os seus saberes seriam em
breve postos ao serviço da pátria. Nos primeiros anos
do século XX, os ideais republicanos eram considerados quase criminosos, o parlamento foi dissolvido,
João Franco instituiu a ditadura. Todas as tentativas
de intervenção da Sociedade de Medicina Veterinária
esbarravam com a indiferença das autoridades administrativas. Miranda do Vale descreveu o sentimento da
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classe veterinária no período que antecedeu a implantação da República, numa carta enviada ao Ministro
da Agricultura do primeiro governo provisório republicano, onde denuncia as arbitrariedades a que os
Agrónomos Monárquicos, sujeitaram os Veterinários
Republicanos.
«...No longo consulado do erudito agrónomo Sr.
Alfredo Carlos Le Cocq (Director Geral de Agricultura que tutelava o Instituto) nenhum, absolutamente
nenhum facto se pode apontar pelo qual a classe veterinária deva ou possa nutrir o mais leve sentimento
de gratidão […] Com mágoa, mas com verdade o
digo, reconhecendo os primores de carácter do Sr. Le
Cocq, em quem os veterinários portugueses viam no
trato particular a mais impecável correcção […] mas
encontravam no funcionário superior uma, ora surda,
ora aberta hostilidade, que nada, absolutamente nada,
justificava aos olhos da razão e da justiça» (3).
«...Sob o longo consolado do Sr. Le Cocq, a Medicina Veterinária Portuguesa não pôde jamais expandirse, por lhe recusarem todo o incremento, desde as criadoras fontes de ensino até ao vasto campo de trabalho
da Direcção Geral de Agricultura».
Ao longo de toda a sua história a Sociedade publicou ininterruptamente o tal “Jornal” de cariz científico a que os fundadores se tinham proposto, mesmo
durante as duas Grandes Guerras Mundiais. Antes da
criação do Sindicato e da Ordem, a Sociedade também
desempenhava funções de caris socio-profissional.
A Revista, para além dos artigos científicos, dava
nota de reuniões, oferecia sinopses de livros técnicos
e didácticos, e relatava alguns acontecimentos da vida
social e profissional dos médicos veterinários. Por
permuta e ou com ofertas, o espólio bibliográfico da
Sociedade acumulou um acervo notável.
Em 1952 comemorou-se o cinquentenário, com uma
cerimónia na Escola Superior de Medecina Veterinária
(ESMV). Por despacho ministerial de 20 de Setembro
de 1952, a Sociedade Portuguesa de Medecina Veterinária (SPMV) deu origem à Sociedade Portuguesa
Ciências Veterinárias (SPCV), cujos estatutos haviam
sido aprovados em Assembleia Geral a 16 de Julho de
1951.
Também no septuagésimo quinto aniversário da
Sociedade, se realizou uma luzida cerimónia no Salão
Nobre da ESMV, presidida pelo Ministro da Educação
da época, em representação do Presidente da República, sendo atribuída a insígnia de Membro Honorífico
da Ordem de Santiago de Espada, pelos relevantes trabalhos desenvolvidos em prol da Ciência e da Cultura.
Os CTT, emitiram um selo alusivo à efeméride.
O problema da sede, que tanta controvérsia gerou na
altura da fundação, iria perpassar praticamente toda a
história da Sociedade, só tendo sido resolvido três anos
antes do centenário, com a transferência para a casa,
que herdou por força do seu nascimento. A verdade é
que também foram “os pais” da Sociedade, os membros da “geração de ouro”, que conceberam projec55
SUPLEMENTO
taram e coordenaram a construção do edifício onde a
Sociedade reside hoje, com a dignidade que merece.
Ao longo do seu primeiro Século, a Sociedade teve
vinte e nove presidentes de Direcção, apoiados por
equipas de gestão relativamente extensas. Dedicaramse laboriosamente à Sociedade com a maior abnegação, sem nunca pedirem nada em troca, contribuíram
generosamente com os seu esforço e às vezes até com
pecúlios extra, para honrar aqueles compromissos
financeiros inadiáveis, que o cofre, geralmente exaurido, nem sempre podia satisfazer. Olhando para os
seus nomes reconhecemos imediatamente muitas das
figuras maiores da profissão veterinária em Portugal.
Bibliografia
Foto: Vasco Pereira*
1 - Braz, M.B. (1996). A Medicina Veterinária portuguesa: um
Século de notabilidades, licenciaturas de 1830 a 1930. Ed.
Ordem Médicos Veterinários, Lisboa, Portugal, pp-365
2 - Braz, M.B. (1977). Competência e Valorização Profissional.
Rev. Port. Ciências Veterinárias, LXXII (Outubro/ Dezembro), 217-233.
3 - Miranda do Vale, J. (1952). História da Sociedade Portuguesa
de Medicina Veterinária. Rev. Port. Medicina Veterinária.
XLVII(342-343), 215-441.
Sessão de encerramento com a participação do Ministro da Ciência e
do Ensino Superior, Professor Doutor Pedro Lynce
Discurso de encerramento
Professor Doutor João Ramalho Ribeiro, Presidente
da Direcção da Sociedade Portuguesa de Ciências
Veterinárias
Exmos. Senhor Ministro da Ciência e do Ensino
Superior, Senhor Presidente do Instituto Nacional de
Investigação Agrária do Mar e das Pescas, Senhor
Director do Laboratório Nacional de Investigação
Veterinária, Senhor Presidente do Instituto Superior
Técnico, Senhor Presidente do Sindicato Nacional dos
Médicos Veterinários
Cabe-me a mim fazer o balanço do que foi este Congresso de Ciências Veterinárias comemorativo dos 100
anos da Sociedade Portuguesa de Ciências Veterinárias. Na cerimónia de abertura dissemos que as nossas
56
RPCV (2002) SUPL. 119: 47-66
expectativas eram elevadas, manifestámos algumas
preocupações face à diversidade de temas e à necessidade de trabalhar com cinco salas em simultâneo e
em dois polos distintos localizados a uma distância
apreciável. Havia algum receio que a gestão de cada
sessão da responsabilidade das diferentes Instituições,
Associações ou Sociedades pudesse divergir ou mesmo
ter algumas falhas de logística. Hoje, terminado o
Congresso o nosso sentimento é de grande satisfação
na medida em que todas as nossas expectativas foram
ultrapassadas. As sessões decorreram como previsto
e a adesão dos congressistas chegou hoje ao número
mítico de 500, o que sinceramente é para todos nós
organização, colegas e participantes motivo de grande
orgulho e satisfação.
Não escamoteamos que aqui e ali situações houve
que correram de forma menos adequada mas não nos
podemos esquecer de que a responsabilidade pela
gestão de cada sessão era da respectiva Sociedade ou
Instituição e como em tudo entre as 12 entidades envolvidas houve formas diferentes de encarar esta missão o
que se reflectiu aqui e ali em diferentes formas de funcionamento embora e na grande maioria dos casos tudo
tenha decorrido na perfeição. Contudo para os casos
em que assim não aconteceu e apesar dessa maleita não
ser da responsabilidade da organização gostaríamos de
publicamente apresentar as nossas desculpas em nome
do Congresso. Houve um caso que no 1º e em parte no
2º dia nos escapou ao controle e que se prendeu com
a coordenação dos meios informáticos do anfiteatro
B e C e também por isso e pelos inconvenientes que
daí resultaram gostaria de apresentar as nossas desculpas. Mas Senhor Ministro, restantes membros de
mesa, caros colegas situações destas são fruto da nossa
inexperiência e talvez do desejo de ir para além do que
eram as nossas reais capacidades. Estou certo que contamos com a Vossa tolerância e compreensão e que no
final o que efectivamente se destaca deste congresso
é uma positiva afirmação da vitalidade de um sector
técnico-científico desejoso de se afirmar cada vez mais
numa sociedade exigente, informada e atenta. Foi com
esta preocupação que os colegas aqui vieram e julgo
que de uma maneira geral foi possível responder positivamente às vossas expectativas.
Do que foi este Congresso quero resumidamente
apresentar 3 ou 4 referências importantes:
Nas áreas científico-técnicas houve oportunidade
para ouvir comunicações de grande interesse na actualização de conhecimentos ou de técnicas de diagnóstico e ou tratamento. Refiro-me concretamente a
termos como por ex: maneio da vaca leiteira de alta
produção; resistências antimicrobianas em avicultura; análises histopatológicas; alimentação de porcas
gestantes; o papel de microelementos na alimentação
bovina; o problema da BSE em Portugal; a tuberculose
bovina no Alentejo; a preservação das raças autóctones; o diagnóstico em patologia; a pesquisa de resíduos
em produtos de origem animal; o doping em equinos;
etc, etc, etc,.
Em segundo lugar quero destacar 3 áreas abrangentes e transversais que cruzam as Ciências Veterinárias
e que neste Congresso tiveram uma atenção particular.
Refiro-me: ao Ensino e Formação Contínua; ao Bem
Estar Animal e à Segurança e Qualidade Alimentar.
No que se refere ao Ensino e Formação Contínua foi
muito interessante verificar como começam a convergir
os interesses e projectos das diferentes Universidades.
Foi possível constatar que de facto e apesar de hoje
existirem 4 cursos públicos e 1 privado esta é uma realidade que não vale a pena escamotear. O que é preciso
é que eles se afirmem pela diversidade, apostem nas
suas reais potencialidades, ofereçam nichos de excelência e dialoguem entre si para se complementarem;
trabalhando em conjunto e assim avançando de forma
abrangente no aprofundamento do ensino destas ciências. Com o envolvimento da Ordem, do Sindicato, da
Sociedade ou mesmo de outras Instituições de interesse
público ou privado. Aliás as associações de estudantes
de medicina veterinária já iniciaram este processo de
diálogo e cooperação entre elas e criaram mesmo uma
estrutura de coordenação que nasceu cheia de ambição e de projectos para o futuro. O que demonstra a
qualidade, profissionalismo e preocupação dos nossos
jovens que na sua salutar irreverência desafiaram os
mais velhos em geral e as Universidades em particular
a seguir-lhes o exemplo.
O Bem Estar é um tema recorrente demasiado debatido em termos genéricos e mediáticos e que neste congresso contou com uma forma diversificada de intervenções cobrindo um espectro que ia desde aqueles
que valorizam sobretudo o animal ser vivo, que sofre
com a dor e tem necessidades próprias de conforto e de
ambiente até aqueles que encaram o animal essencialmente como uma máquina biológica transformadora
cuja eficácia é sinónimo de rentabilidade e de retorno
económico numa empresa que se pretende viável. A
questão coloca-se em saber onde se deve posicionar
o médico veterinário, comodamente poder-se-à dizer
que numa posição de equilíbrio e de bom senso a meio
caminho entre essas duas posições extremas. Mas isto
é, em parte, fugir ao problema porque esse meio caminho não será o mesmo para todos os profissionais. Em
minha opinião este tema exige um debate profundo e
reflectido que ainda está por fazer entre os técnicos e
profissionais das Ciências Veterinárias essencialmente
para que se discutam dados científicos que habilitem o
profissional a poder decidir e tomar posições cientificamente fundamentadas. Assim deixamos este alerta para
o qual a Sociedade Portuguesa de Ciências Veterinárias
também se disponibilizou a colaborar num debate que
se pretende urgente.
Por último a Segurança e Qualidade Alimentar.
A eclosão da BSE, o aparecimento do problema
das dioxinas e outros acidentes da cadeia alimentar
vieram alterar tudo o que se pensava ser as atitudes e
comportamentos mais recomendáveis. Houve doenças
RPCV (2002) SUPL. 119: 47-66
Foto: Vasco Pereira*
SUPLEMENTO
Aspecto de uma das mesas no jantar oferecido pela Câmara
Municipal de Oeiras na Quinta do Lagoal em Caxias, animado pela
Orquestra de Câmara de Cascais e Oeiras
novas com novas realidades que deixaram perplexos e
confusos os técnicos e investigadores. Houve políticos
que pensaram ser esta uma óptima oportunidade de
se afirmarem. Houve uma comunicação social ávida
de factos que lançou para a opinião pública notícias
alarmantes sem a necessária confirmação. Ficou o
consumidor receoso, confuso e cheio de dúvidas. A
administração pública tardou em reagir e nem sempre
da melhor maneira. Passada a tormenta há que parar
para reflectir, identificar o que é efectivamente técnico
ou científico, debater e aprofundar estas situações,
actualizar conhecimentos e propor às instâncias decisórias medidas cientificamente fundamentadas com
coerência, orientadas para estratégias de médio longo
prazo. Os profissionais têm de deixar de ser os bodes
expiatórios deste processo que a todos envolve mas
onde nem todos assumem as suas responsabilidades.
Esta foi para nós também uma das grandes conclusões
deste congresso.
Senhor Ministro, restantes membros de mesa,
caros colegas, o Congresso não foi, nem podia ser,
um fórum com objectivos conducentes à definição de
conclusões e de recomendações. Foi antes um espaço
de diálogo, de debate de ideias que deixou em nós o
desassossego que nos vai obrigar a pensar na necessidade de aprofundar e discutir temas candentes numa
lógica de ciência e de dados experientes resultantes
do trabalho de investigação. Cada profissão será aquilo
que a sociedade nela reconhece como capacidade de
resposta aos seus anseios e preocupações. Assim,
na área das Ciências Veterinárias, o consumidor em
particular e o público em geral estão cada vez mais
atentos e são cada vez mais exigentes, o que obriga a
que os profissionais estejam cada vez mais preparados
e actualizados. É pois em congressos desta natureza
que é possível e desejável fornecer e facultar essa
informação e foi o que aconteceu. Por isso estamos
satisfeitos e pensamos que os nossos objectivos foram
atingidos. O êxito desta iniciativa ficou essencialmente
a dever-se a Vós todos que nela participaram, que a
animaram, que coordenaram mesas redondas e sessões que apresentaram palestras e comunicações e que
57
SUPLEMENTO
Foto: Vasco Pereira*
apresentaram posters. Por outro lado tudo seria mais
difícil se não tivesse sido possível contar com o apoio
inestimável dos nossos patrocinadores e assinantes
bem como das instituições públicas ou privadas que de
uma forma ou de outra tornaram mais fácil e agradável
o ambiente que rodeou este congresso. Por último é
de elementar justiça agradecer aos estudantes que de
forma generosa, voluntária e empenhada asseguraram
o secretariado deste congresso. Em nome da comissão
organizadora eu quero envolver todos num fraterno
abraço que expressa o nosso profundo reconhecimento
e agradecimento.
A todos o nosso muito obrigado, Bem hajam.
Lisboa, 12 de Outubro de 2002
Sessão de posteres no átrio superior do edifício do Núcleo Central
do Tagus Park
O Congresso foi o ponto de partida
Uma das grandes vantagens do Congresso de Ciências Veterinárias foi o ter despertado em muitos a
vontade de apresentarem trabalhos que tinham em projecto ou mesmo já concluídos. Contudo alguns destes
trabalhos não se encontravam preparados para publicação mas dada a sua actualidade ou a relevância dos
seus objectivos vamos tomar a iniciativa de propor aos
respectivos autores que aprofundem e preparem esses
temas por forma a poder publicá-los proximamente na
nossa Revista.
Pretendemos que no futuro que se aproxima a revista
possa ser a expressão do que melhor aconteceu ao
longo do Congresso. Esta será para nós uma maneira
de prolongar no tempo aquilo que de forma concentrada nem sempre foi possível estar ao alcance de todos
tal a densidade e diversidade de temas tratados em
simultâneo. O Congresso ao envolver 343 autores de
palestras, mesas redondas, comunicações curtas orais
ou em posters foi uma afirmação de vitalidade que não
se pode perder e que se pretende potencializar e publi* Vasco Pereira - Fotografias e Vídeo
Telefone: 96 607 69 54 / 21 851 88 94 (gravador)
58
RPCV (2002) SUPL. 119: 47-66
car no formato de artigos com a qualidade, a exigência
e o rigor a que a nossa revista nos habituou.
João Ramalho Ribeiro
Presidente da Direcção
Cartas ao Editor
Congresso dos Veterinários da Macaronésia
e XI Encontro dos Veterinários dos Açores,
Madeira, Canárias e Cabo Verde
Decorreu no Funchal, de 20 a 27 de Julho de 2002
o Congresso dos Veterinários da Macaronésia e XI
Encontro dos Veterinários dos Açores, Madeira, Canárias e Cabo Verde. Segundo conseguimos averiguar
a “Macaronésia” é uma área geológica, fitológica e
zoológica, constituída actualmente por um conjunto
de ilhas de natureza vulcânica que teriam surgido há
cerca de 65 milhões de anos (no início da era terciária), quando apareceram os primeiros mamíferos e as
plantas apresentavam já uma certa evolução anatómica.
As ilhas dos arquipélagos dos Açores, Madeira, Canárias e Cabo Verde estariam integradas nessa área pois
algumas delas apresentam características geológicas
afins e uma flora de lauráceas como o til, o vinhático, o
dragoeiro e outras. Naturalmente que essa raiz comum
aliada ao isolamento insular, sempre presente, fez com
que os colegas que trabalham nessas áreas procurassem reunir-se. Inicialmente limitados ao triunvirato,
das Regiões Autónomas: Açores, Madeira, Canárias,
estendeu-se depois à República de Cabo Verde, ou
seja a todos os actuais representantes da Macaronésia.
Foi no seu X Encontro realizado em Calleta de Fuste,
ilha de Fuerte Ventura (Canárias) que ficou decidida a
criação da Associação dos Veterinários da Macaronésia
e que os respectivos Estatutos viessem a ser aprovados neste XI Encontro como de facto veio a suceder.
Assim, na concretização das recomendações do encontro de Fuerte Ventura, tiveram lugar no Funchal de 20
a 27 de Julho de 2002, as reuniões em epígrafe. Estiveram presentes mais de meia centena de colegas, das
três regiões autónomas e da República de Cabo Verde
que apresentaram e discutiram temas relacionados
com: segurança alimentar, zootecnia, clínica, cirurgia,
patologia animal e as novas terapêuticas, havendo
igualmente uma manhã destinada à apresentação de
temas livres.
A sessão de abertura foi presidida pelo Excelentíssimo Presidente do Governo Regional da Madeira,
Dr. Alberto João Jardim. À sessão de encerramento
presidiu o Excelentíssimo Secretário Regional do
Ambiente e dos Recursos Naturais, Dr. Manuel António Rodrigues Correia. O coordenador do Congresso,
Dr. Fernando Santos, leu as conclusões dos trabalhos
e entregou à colega Anália Olende, representante da
República de Cabo Verde, “o testemunho” respectivo,
visto ser o seu país o organizador do próximo Congresso, em Outubro de 2003.
SUPLEMENTO
Eis um extracto das conclusões do I Congresso dos
Veterinários da Macaronésia:
1º os Estatutos da “Associação dos Veterinários da
Macaronésia” a qual tem como finalidades fundamentais o fomento de conhecimentos e a valorização das
actividades veterinárias nestas Regiões, contribuindo
para o seu desenvolvimento científico, técnico, económico e social, e promover a realização de trabalhos
científicos de interesse comum foram aprovados por
unanimidade e aclamação;
2º reafirmam a disposição de continuar a assumir
integralmente o seu papel interventor e dinamizador
nos processos de salvaguarda da Saúde Pública, pela
avaliação e controlo da Segurança dos Alimentos;
3º sublinha-se a inquestionável preparação técnicocientífica dos médicos veterinários para o desenvolvimento e implementação de sistemas de avaliação,
gestão e comunicação dos riscos sanitários. Neste
domínio os M.V. consagram os princípios da independência e da excelência dos organismos de coordenação
na Segurança Alimentar e reafirmam a função decisiva
da comunicação em situações de risco potencial, a
qual deverá se feita de uma forma clara e pragmática,
no sentido da criação de um clima geral de confiança,
para que fiquem acauteladas todas as vertentes que
envolvem a informação veiculada e, deste modo, evitarem distorsões especulativas;
4º relevam o interesse e a importância do desenvolvimento de estudos e caracterização de produtos regionais, de que é exemplo o “Requeijão Madeirense”,
para que haja uma integração tecnológica do saber
popular e aproveitamento das matérias primas, e a consequente valorização, enriquecimento e especificidade
das comunidades rurais;
5º consideram que a aposta das regiões ultraperiféricas, no âmbito da fabricação de produtos de origem
animal, deverá ser direccionada para produtos de reconhecida qualidade;
6º defendem a utilização de produtos alternativos,
designadamente os subprodutos da agricultura, na
formulação de alimentos compostos para animais, pois
assim se contribui para um melhor ambiente, sem alteração da competitividade nutritiva;
7º realçam a importância e a dinâmica actuais da
produção biológica com eventual adaptação de estruturas tradicionais e sublinham o seu papel na salvaguarda
do ambiente, valorização e sustentabilidade das explorações pecuárias;
8º quanto à bovinicultura na Região Autónoma da
Madeira salientam o interesse na criação de animais
leiteiros ou mistos, concentrada em nichos territoriais
e aproveitamento de alimentos locais, com transformação do leite em produtos de valor acrescentado e uma
produção de carne de forte cariz regional. Neste contexto salientam o reforço da colaboração com a Região
Autónoma dos Açores e a sua vasta experiência.
9ª quanto à ovinicultura na Região Autónoma da
Madeira julgam que a sua intensificação será de reco60
RPCV (2002) SUPL. 119: 47-66
mendar nos bananais, numa interligação entre as produções pecuária e agrícola aproveitando a experiência
existente na Comunidade Autónoma das Canárias;
10ª o papel social crescente dos “animais de companhia” traduz-se num aumento da prestação de serviços
clínicos, pelo que estes Eventos têm particular importância para uma actualização e formação permanente;
11ª a terapêutica em Medicina Veterinária, tem
acompanhado a evolução tecnológica, mas salientam
que sejam ultrapassadas constrições regulamentares
existentes na União Europeia para que exista no mercado um leque terapêutico que satisfaça as necessidades manifestadas pelos clínicos veterinários;
12ª os representantes de Cabo Verde salientaram o
risco permanente que a Peste Suína Africana representa para as ilhas do Arquipélago e a grande atenção
que as instâncias internacionais lhe dedicam
13ª a prevenção contra as carraças na ilha do Porto
Santo é uma medida fundamental para a prevenção das
doenças que elas transmitem ao homem e aos animais.
Agradeceram depois a todos os conferencistas,
patrocinadores, participantes e colaboradores, congratulando-se com o nível técnico-científico das comunicações, e ao Governo Regional da Madeira o apoio
dispensado.
a.m.m. 2002
Notas sobre publicações
Anatomy of the Dog - An Illustrated Text
Budras, K. D. et al.
Slütersche & co. KG, Verlag und Drukerei (eds.), 4ª edição, 2002
Integrando o espólio da biblioteca desta Sociedade
encontra-se o livro “Anatomy of the Dog - An Illustrated Text”, editado em versão inglesa e resultado de
um trabalho conjunto entre professores de Anatomia
das Universidades de Berlim e de Sydney. Trata-se de
um bom atlas, soberbamente ilustrado, cuja definição
de conteúdos assenta na anatomia regional, sem que
seja contudo esquecida a anatomia de superfície e o
integumento comum, e onde é dado especial realce às
estruturas palpáveis com interesse nas áreas clínicas.
Os capítulos que versam a anatomia regional contemplam sumariamente as seguintes regiões: coluna
vertebral e tórax, regiões cervical e peitoral, membro
SUPLEMENTO
torácico, parede abdominal, região mamária e prepucial, região inguinal, coração e áreas cardíacas,
cavidade abdominal, cavidade peritoneal, órgãos urogenitais da fêmea e do macho, região anal, membro
pélvico, cabeça, cérebro e meninges, órgãos da visão,
vestibular, gustativo, olfactivo e vomeronasal. Dentro
de cada um destes capítulos é realizada, sempre que
oportuno, uma abordagem funcional das estruturas
envolvidas, o que torna mais atraente o conteúdo programático, e também clarifica o propósito e importância da aprendizagem anatómica.
Um importante capítulo sobre propedêutica anatómica viabiliza a revisão ou aprendizagem de conceitos
essenciais sobre osteologia, artrologia e miologia. Este
capítulo surge com o objectivo de fixar o leitor na clarificação de ideias sobre as modificações de diversos
parâmetros em idades diferenciadas, ainda que dentro
de valores homeostáticos.
O mais notável dos capítulos concerne à descrição
das bases físicas e tecnológicas que viabilizam o uso
de técnicas como os raios X e a ultrasonografia como
meios de diagnóstico. Este capítulo surge desenhado
de forma muito clara e notavelmente documentado
do ponto de vista iconográfico, quer com imagens de
situações normais quer com outras que consistem em
desvios da normalidade.
Na nossa opinião, a finalidade (e também a dificuldade) da estruturação do pensamento anatómico
traduz-se na capacidade de entender o corpo como
uma estrutura tridimensional que permite a descrição
de diferentes estruturas em conformidade com o plano
segmentar a partir do qual se parte para realizar essa
descrição. Quando tal se torna realidade o corpo não é
mais encarado como algo misterioso. Se a este conhecimento juntarmos a funcionalidade subjacente então
o passo para a anatomia funcional foi realizado. Do
nosso ponto de vista, este atlas é um excelente contributo para esse estágio do conhecimento.
Graça Alexandre - Pires
Professora de Anatomia da Faculdade de Medicina
Veterinária de Lisboa
Colecção Veterinária XXI, números 1, 2 e 3
Publicações Ciência e Vida, Lda.
1 - Monitorização de Quadros Lesionais em Suínos ao Abate
Jurij Sobestiansky, Chediak Matos, Matias de Sousa e Rui Perestrêlo Vieira
RPCV (2002) SUPL. 119: 47-66
Na “Colecção Veterinária XXI” de “Publicações
Ciência e Vida” acaba de surgir a publicação com o
número 1, que tem o título em epígrafe. Trata-se de um
conjunto de regras para a detecção/recolha/avaliação/
diagnóstico de doenças com evoluções sub–clínicas
que podem colocar em risco económico as explorações
suinícolas, por passarem facilmente despercebidas ao
proprietário ou ao clínico, mas detectáveis no matadouro no momento do abate. Para atingir a finalidade
em vista, na qual a avaliação estatística é fundamental,
torna-se necessário aplicar um conjunto de regras que
permitam a correcta recolha dos elementos necessários
aos fins pretendidos, variáveis de acordo com o problema detectado.
Escrevem os autores que o seu objectivo é auxiliar o
médico veterinário na identificação e quantificação de
doenças por meio de exames macroscópicos das vísceras e de carcaças de suínos abatidos e na interpretação
dos resultados. Em nossa opinião os autores conseguiram o fim que pretendiam, pois o volume em questão
está repleto de uma documentação iconográfica a cores
e a preto e branco que documentam os casos a monitorizar e esclarecem os interessados.
São seus autores, além do Doutor Rui Perestrêlo
Vieira, os colegas seus colaboradores em outras andanças, docentes na Universidade Federal de Goiás, no
Estado de Goiânia, Profrs. Jurij Sobestiansky, Chediak
Matos e Matias de Sousa. Para todos vão as nossas
mais efusivas saudações por se tratar de uma publicação, tanto quanto sabemos única na nossa língua, que
recomendamos.
2 - Importância das Micotoxinas na Alimentação Animal–
acção da zearalenona no ciclo reprodutivo dos suínos
Miguel Penaforte e Sousa, Luiza Carvalho, Miguel Viegas,
Susana Santo
Com coordenação do Doutor Rui Perestrêlo Vieira
e autoria dos colegas Miguel Penaforte e Sousa, Luiza
Carvalho, Miguel Viegas e Susana Santo acaba de
surgir nas livrarias o nº 2 da “Colecção Veterinária
XXI”, editada por “Publicações Ciência e Vida, Lda.”,
que tem por título: “Importância das Micotoxinas na
Alimentação Animal” e como sub-título: “Acção da
Zearalenona sobre o Ciclo Reprodutivo dos Suínos”.
Que nos perdoem os autores, mas atrevemo-nos a dizer
que os títulos talvez estejam trocados, pois, quanto a
nós o capítulo mais importante é precisamente o que
figura em segundo lugar. De facto, das 59 páginas que
formam a pequena brochura, 39 são dedicadas à zearalenona e apenas 4 à importância desses metabolitos
fúngicos na patologia animal. Longe vai o tempo em
que se alimentavam os animais com tudo quanto estaria impróprio para o consumo humano. E foram precisamente as micotoxinas que obrigaram à revisão do
problema, quando surgiu a “Turkey X disease” de consequências desastrosas para os avicultores britânicos.
A curta introdução que antecede o capítulo da zea61
SUPLEMENTO
ralenona está correcta mas é ultra-sintética e refere-se
apenas aos animais domésticos. Nada se diz sobre o
homem. Porquê? Não será também sensível? Que nos
preocupemos com a qualidade dos alimentos destinados aos animais está correcto, mas como biologistas
e higienistas, que também somos, não esqueçamos o
homem cada vez mais submetido a riscos alimentares
de efeitos ainda pouco ou nada conhecidos mas que
enchem os bolsos de alguns, tanto mais que a toxina
F2, pode desenvolver-se nos cereais em geral e não
somente no “Zea mays”.
Como a suinicultura e a sua patologia continua
sendo a preocupação dominante do coordenador desta
colecção, talvez seja essa a justificação da orientação
dada a esta pequena mas importante brochura. É certo,
contudo que, na segunda parte, na página 45 se escreve
“… muito poucas empresas de alimentação humana
têm um rigoroso controlo de micotoxinas nos alimentos, particularmente os produtos de origem animal (em
especial os suínos e as aves) e os produtos à base de
milho e/ou trigo (ex.: comida para bébé) o que torna
os consumidores algo receosos relativamente à compra
destes géneros alimentícios, afectando portanto a
economia em geral”. Ora, esta é que nos parece a
grande importância das micotoxinas e a justificação do
enorme somatório de estudos que neste capítulo tem
sido produzido, inclusivé no nosso país e não vimos
referenciado na bibliografia citada o que poderia ser
útil a leitores desejosos de completarem os seus conhecimentos sobre o assunto e sejam pouco versados em
línguas estrangeiras, ou não se terá publicado NADA
que mereça ser citado? Postos estes reparos consideramos o livrinho analisado de uma importância e de uma
oportunidade que o recomendam, sem reticências!…
3 - Maneio em suinicultura
Rui Perestrelo
É o título do terceiro volume da “Colecção Veterinária XXI” que “Publicações Ciência e Vida Lda.”, a
mesma editora que há já alguns anos, sob a direcção
do colega Doutor Rui Perestrêlo Vieira vem dando à
estampa, trimestralmente, a “Revista Técnica de Suinicultura”. Agora surge-nos, no correio, por amável
deferência do seu autor, um pequeno/grande volume
no qual aborda o “Maneio em Suinicultura”. De facto,
quanto a nós, ninguém melhor do que Perestrêlo Vieira
poderia mostrar–nos numa centena de páginas as várias
facetas desse tema e a sua importância para o bemestar suinícola, sinónimo de bons resultados económicos em qualquer exploração. De facto somente um
especialista poderia resumir e apresentar de forma tão
atractiva, em linguagem simples, ajudada por numerosos desenhos, esquemas e gravuras originais, na sua
imensa maioria, um tema extremamente complexo
como o abordado. Atrevemo-nos a considerar esta
pequena obra como de consulta e estudo, obrigatórios
para todos que se interessem pela produção de suínos:
62
RPCV (2002) SUPL. 119: 47-66
estudantes, médicos-veterinários, zootecnistas, suinicultores. Eis alguns dos capítulos em que a obrazinha
se divide: “Defesa Sanitária, Quarentena e Adaptação”,
“Organização do Trabalho”, “Maneio dos Animais e
Cuidados a Ter com o Meio Ambiente”, “Reprodução”, “Maternidade”, “Parto”, “Desmame”, “Engorda”,
“Higiene e Vazio Sanitário”. Apenas um senão, se me é
permitido, nos cuidados a ter com o meio ambiente,
são abordados apenas os relativos às explorações e
nada é dito sobre as relações entre elas e o ambiente
onde se inserem. Sabendo-se que as explorações porcinas são poluidoras ambientais por excelência apenas se
aconselha e salienta, logo na página 11 e a abrir: “respeite a legislação”! Poderá argumentar-se que com isso
ficaria tudo dito mas não se esqueça de que vivemos
em Portugal, um País onde o respeito pelo ambiente é
ignorado e desprezado…
António Martins Mendes no Alto da Ajuda
em Setembro de 2002.
Notas sobre sites na internet
A internet constitui na actualidade não só um
instrumento de trabalho mas também uma fonte de
divulgação e conhecimento, incluíndo a nossa área
de formação, a medicina veterinária. Assim, iniciamos esta rúbrica onde o objectivo é a divulgação de
alguns sites que possam ser úteis nas diferentes áreas
das ciências veterinárias, com a apresentação do site
da European School for Advanced Veterinary Studies,
www.vetcontact.com Esta página permite a consulta de
espaços do foro estritamente profissional, a divulgação
de cursos e eventos (VetAgenda), apresentação de posters e ainda a consulta de um espaço de classificados.
Reuniões científicas e cursos, agenda
VI Jornadas Internacionais de Medicina Veterinária: decorrerão na Universidade de Trás-os-Montes
e Alto Douro, de 25 a 27 de Outubro de 2002. Os
estudantes do curso de Medicina Veterinária da UTAD
dedicam este ano as suas jornadas ao desenvolvimento
crescente em meios técnicos e científicos colocados
ao dispor do Médico Veterinário e ao interesse destes
pela clínica e cirurgia de animais de companhia. Entre
os palestrantes convidados contam-se nomes de reco-
SUPLEMENTO
nhecido prestígio nas respectivas áreas de trabalho, os
colegas J. H. Duarte Correia, Maria Manuela Niza, Rita
Payean Carreira e ainda, Stephen J. Ettinger, John D.
Bonagura entre outros. Informações: +351919119154,;
+351963830192; +351966883140; +351966115336;
e-mail: [email protected]
XII Congresso de Zootecnia: sob o lema “As
Novas Tecnologias da Informação e a Biotecnologia
em Ciência Animal”, terá lugar em Vila Real, de 21 a
23 de Novembro de 2002, na Universidade de Trás-osMontes e Alto Douro. Trata-se de um congresso organizado pela Associção Portuguesa dos Engenheiros
Zootécnicos e que pretende ser abrangente e representativo de todos quantos desenvolvem a sua actividade
em conexão com a Zootecnia. O programa inclui sessões subordinadas aos temas: A Zootecnia Actual; A
Biotecnologia em Ciência Animal; A Globalização da
Informação; Nutrição e Alimentação e ainda sessões
dedicadas à Produção Animal. Informações: Associação Portuguesa dos Engenheiros Zootécnicos. Direcção Regional Norte. Apartado 60. 5001-909 Vila Real.
Portugal. Tel/Fax: 259325261. E-mail: [email protected];
website: http://www.utad.pt/apez
A 2ª Conferência Medicamentos na Alimentação
Animal terá lugar em Lisboa, no hotel Metropolitan,
no dia 23 de Janeiro de 2003. O objectivo desta conferência é proporcionar uma visão sobre a realidade
actual e perspectivas futuras dos medicamentos incorporados na alimentação animal, bem como alertar para
o enquadramento das Pré-Misturas Medicamentosas
e Aditivos no actual quadro regulamentar nacional
e internacional. Informações: Bio Consulting, consultadoria e serviços Lda., Rua Adelaide Cabete, nº
2, 6º C, 1500-024, Lisboa, Apartado 50179 1700
Lisboa. Tel: 218540670, Fax: 218540677. E-mail:
[email protected]
Expozoo’ 03, 5º Salão Internacional de Zootecnia;
Inernutri’ 03, 2ª Feira Internacional de Produção e
Nutrição Animal; Veterinária’ 03, 1º Salão de Produtos e Equipamentos para Veterinária, decorrerão
em simultâneo na Feira Internacional do Porto (EXPONOR), de 6 a 9 de Fevereiro de 2003. A Expozoo e a
Internutri serão, este ano reforçadas com uma valência
extra, o Veterinária’ 03 que, pelo facto de ocorrerem em
simultâneo, provoca sinergias entre as empresas representativas dos produtos, serviços e equipamentos para
os animais domésticos e de companhia. Paralelamente
a esta iniciativa, serão promovidas reflexões, debates
e seminários, cujo objectivo é torná-la um ponto de
encontro de todos os profissionais do sector. Informações: Exponor, Feira Internacional do Porto 4450-617
Leça da Palmeira. Portugal. Tel: +351229981012, Fax:
+351229981482. E-mail: [email protected]; website:
www.exponor.pt
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O 9th FECAVA CONGRESS Federation of European Companion Animal Veterinary Associations e
o 12th APMVEAC NATIONAL CONGRESS Associação Portuguesa de Médicos Veterinários Especialistas em Animais de Companhia decorrerá no
próxino ano, de 22 a 25 de Maio no Estoril, Portugal.
Informações: http://www.apmveac.pt/FECAVA ou no
Secretariado da APMVEAC: Rua Américo Durão, Nº
18 - D (às Olaias)1900-064 Lisboa – Portugal. Tel: +
351 21 840 41 79 ;Fax- + 351 21 840 41 80
e-mail: [email protected]
European Multicolloquium of Parasitology: terá
lugar em Valencia, Espanha, de 19 a 23 de Julho de
2004. Sob os auspícios da Asociación de Parasitólogos
Españoles, o evento decorrerá na Faculdade de Farmácia da Universidade de Valencia. Das várias propostas
para colóquios, simpósios, workshops e reuniões
satélites, referimos entre muitas, paleoparasitology,
malaria vaccines, leishmaniasis, immunopathology
in concomitant infections. Novas propostas deverão
ser enviadas para o comité organizador até 20 de
Dezembro de 2003. Está ainda prevista a organização
de cursos de parasitologia durante o congresso. Informações: EMOP IX. Departamento de Parasitología.
Facultad de Farmacia. Universidad de Valencia. Av.
Vicent Andrés Estellés s/n. 46100 Burjassot-Valencia,
Spain. Fax: +34963864769. E-mail: [email protected];
website: http://www.uv.es/emop9
Informação associativa
Estórias com gatos…e outros animais, A. Martins
Mendes. O Professor António Martins Mendes doou
à Sociedade Portuguesa de Ciências Veterinárias 50
exemplares do seu livro “Estórias com gatos…e outros
animais” que se destinam a ser vendidos em benefício da Sociedade. Citando o Jornal de Letras, Artes e
Ideias de 5 de Maio de 1999, por altura do seu lançamento: «…A. Martins Mendes estreia-se, aos 77 anos,
na ficção com dezoito estórias de gatos (e não só de
gatos). Todas elas inspiradas em casos clínicos que se
lhe iam deparando e sobre os quais foi escrevendo, até
que reveladas a um amigo, este aconselhou a publicação. Felizmente – dir-se-ia.». Preço 6€ para não sócios,
e 5€, para sócios. Pedidos à Sociedade Portuguesa de
Ciências Veterinárias.
SUPLEMENTO
Movimento de sócios: sócios admitidos e readmitidos de 1 de Julho a 30 de Setembro de 2002. Sócios
efectivos: 1666 António Rosário Oliveira; 1778 António José Raimundo; 1794 Filomena Mendes Pires
Afonso; 2097 Maria do Carmo Cabral; 2098 Catarina
Payne da Costa; 2099 Mariana Filipa Pereira de Melo;
2100 Luís Ricardo Pereira da Silva; 2101 Andreia
Filipa de Campos; 2102 Teresa Maria Candeiro; 2103
Carlos Eduardo Correia dos Santos; 2104 Maria Elisabete Lima Tavares; 2105 José Andrade de Carvalho;
2106 Cristina Maria Lopes de Almeida; 2107 Rui
Alberto Gomes de Almeida; 2108 Carsten Luís Walter
Dammert Hasler; 2109 Vanessa Catarina Plantier Touraes Abreu e Silva; 2110 João José Simões Correia;
2111 Célia Maria Dias da Costa; 2112 Mário Rui
RPCV (2002) SUPL. 119: 47-66
Teixeira Gomes; 2113 Dinora Maria Sequeira Xavier;
2114 Carlos Eduardo da Silva Morbey; 2115 João
Pedro Simas; 2116 Paula Campos R. da Costa; 2117
Ludovina Neto Padre; 2118 Maria do Carmo da Silva
Feliciano; 2119 Maria Virgínia da Silva Castelão; 2120
Patrícia Maria Tavares Santos.
Necrologia: faleceu no dia 15 de Abril do corrente
ano o Dr. João Luís Machado Toste, sócio nº 842 da
nossa Sociedade.
Faleceu no dia 25 de Setembro do corrente ano o
Dr. Manuel Elias Trigo Pereira, sócio nº 738 da nossa
Sociedade.
A suas famílias apresentamos as nossas sentidas
condolências.
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Congresso comemorativo dos 100 anos da Sociedade