Ex.mo Senhor Dr. Mário Soares
Senhores Professores
Caros Estudantes
Minhas Senhoras e Meus Senhores
É com enorme satisfação que, em representação do Senhor Reitor da
Universidade de Coimbra, e na qualidade de Presidente do Conselho
Directivo da Faculdade de Economia desta Universidade, saúdo os
participantes neste Ciclo Integrado de Cinema, Debates e Colóquios na
FEUC
subordinado
ao
tema
“Integração
Mundial,
Desintegração
Nacional: A Crise nos Mercados de Trabalho”, que hoje se inicia, e com
o qual a Faculdade de Economia dá início à celebração dos seus 35
anos.
Agradeço em primeiro lugar ao Sr. Dr. Mário Soares ter aceite dar-nos a
honra de participar neste primeiro debate, através do qual colabora,
uma vez mais, com a Faculdade de Economia, depois da sua
colaboração, há já longos anos, quando, através do Grande Seminário
de Relações Internacionais, que animou ao longo dum ano lectivo, deu
um importantíssimo contributo para o lançamento da licenciatura em
Relações Internacionais.
Agradeço também a todos os intervenientes que virão animar este Ciclo
de Debates.
Quero deixar ainda uma palavra de reconhecimento aos Professores
Júlio Mota, Margarida Antunes e Luís Peres Lopes, bem como ao Núcleo
de Estudantes de Economia da Associação Académica de Coimbra que
planearam
e
organizaram
esta
iniciativa.
Uma
palavra
de
reconhecimento é também devida ao Professor João Sousa Andrade que
acolheu com empenho a iniciativa e fez todas as diligências que
estavam ao seu alcance para que ela fosse levada a cabo.
Os nossos agradecimentos são igualmente devidos à Caixa Geral de
Depósitos, à Fundação Luso-Americana, à Fundação para a Ciência e
Tecnologia e à Fundação Calouste Gulbenkian, cujas contribuições
financeiras foram fundamentais para que esta iniciativa agora tenha
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lugar, e agradeço igualmente a colaboração prestada pelo Teatro
Académico Gil Vicente.
Ao longo dos 35 anos de existência da Faculdade de Economia da
Universidade de Coimbra, várias foram as preocupações que estiveram
no centro da investigação e do debate sobre questões da Economia: a
inflação elevada e a instabilidade cambial dos anos setenta e oitenta; os
choques petrolíferos e os seus efeitos directos sobre o sector real da
economia e indirectos sobre essa mesma inflação e instabilidade
cambial; a integração europeia; a desinflação dos anos noventa e o
processo de convergência para a moeda única. Paralelamente outros
fenómenos importantes iam ocorrendo como a crise financeira das
economias asiáticas de 1997 e a crise financeira da Rússia de 1998, que
embora não tenham contagiado as economias europeias e a economia
americana, não deixaram de causar perdas importantes em algumas
instituições financeiras destes países, e que estiveram na origem do
desenvolvimento dum novo paradigma para assegurar a estabilidade
dos sistemas financeiros que se tem consubstanciado nos acordos de
Basileia. Simultaneamente com o processo de integração económica e
monetária europeia e com estes fenómenos de instabilidade financeira
internacional, assistimos também ao desmantelamento do GATT e à sua
substituição pela OMC, numa sucessão de tentativas para concertar o
que parece cada vez mais dificilmente concertável: o desenvolvimento do
comércio mundial sem criar instabilidade nas economias dos diferentes
países. Enquanto que o mundo desenvolvido atravessou, ao longo das
últimas décadas um período de crescimento económico e de melhoria do
bem-estar, e os países de leste europeu faziam a transição para
sistemas políticos democráticos e para economias de mercado, em
vastas zonas da África as populações têm estado submetidas a
situações de forte sofrimento causado pelas guerras e pela fome. Apesar
da ajuda internacional parece evidente que, no mundo desenvolvido não
existe ainda uma consciência bem clara da gravidade do problema e das
implicações que este tem sobre a sua própria estabilidade. Os colegas
que organizam o ciclo que agora se inicia quiseram alertar para a
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gravidade das crises humanitárias em África, através dum ciclo com
natureza idêntica, que organizaram anteriormente, com a colaboração
do Núcleo de Estudantes de Economia, e que teve por tema “África
começou mal, África está mal: A tragédia africana”.
O tema que está no centro do ciclo que hoje iniciamos reporta-se
a outra causa de incomodidade do mundo actual: o encerramento de
indústrias ou a sua deslocalização para outras zonas geográficas. Este
fenómeno
parece,
à
primeira
vista,
inevitavelmente
ditado
pela
racionalização de custos, motivo pelo qual surge como benéfico para os
consumidores de todo o mundo. No entanto, a este processo de
integração está associado um fenómeno de “dumping” social de tal
forma acentuado, que os benefícios que dele obtêm as populações para
onde as industrias se deslocam, são muito inferiores às perdas sofridas
pelas populações que ficam no desemprego. Desta forma, este processo
de integração da economia mundial, tal como tem vindo a ocorrer,
apresenta um risco elevado de ser mais um factor de instabilidade, do
que uma fonte de bem-estar para toda a humanidade A iniciativa que
hoje abrimos, ao juntar economistas e cidadãos empenhados na busca
de soluções, torna possível a realização dum debate rigoroso em torno
deste problema, em relação ao qual, todos os que aqui participamos
sairemos, seguramente, mais esclarecidos.
José A. Soares da Fonseca
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intervenção escrita - Universidade de Coimbra